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18/07/2023, 19:03 Art.

280 - Comentário

Comentário
    O processo administrativo de trânsito, previsto no Capítulo XVIII do CTB e inaugurado pelo procedimento previsto no
artigo 280, encontra-se complementado, de maneira mais detalhada, na Resolução do CONTRAN n. 619/16.

A elaboração do auto de infração (ou autuação) é o registro formal de um fato típico, devidamente comprovado pela
autoridade de trânsito, agente ou equipamento previamente regulamentado pelo CONTRAN, para a correspondente
imposição da sanção administrativa cabível (em especial a penalidade de multa).
Trata-se de um ato administrativo vinculado, pois está restrito aos limites da lei, que determina a sua lavratura em toda
ocorrência de infração (não há, portanto, liberdade de escolha, situação em que o Direito denomina de ato discricionário;
com o advento do CTB e a extinção da penalidade de advertência verbal, a autuação sempre será compulsória diante da
infração de trânsito constatada, ainda que, posteriormente, a autoridade de trânsito entenda oportuna a aplicação da
penalidade de advertência por escrito). Em outras palavras, não cabe ao agente de trânsito escolher se quer (ou não) autuar
determinado infrator de trânsito; tal providência é exigência legal. 
Vale lembrar que, à luz do princípio da eficiência, obviamente, cabe ao agente de trânsito, ao operar o trânsito, empenhar-se
em, sempre que possível, antecipar-se à prática infracional, evitando, por exemplo, que se estacione em local proibido pela
sinalização.
O CONTRAN delegou, por meio da Resolução n. 217/06, competência ao órgão máximo executivo de trânsito da União
para estabelecer os campos de preenchimento das informações do auto de infração. Desta forma, além dos incisos I a VI do
artigo 280, há que se observar o disposto na Portaria do DENATRAN n. 59/07 (e suas alterações, em especial a Portaria n.
03/16), que padroniza os campos que devem existir no impresso do auto de infração, discriminando, ainda, os de
preenchimento obrigatório. Quanto às características do veículo, por exemplo, a regulamentação em vigor exige apenas a
placa, marca e espécie, não havendo obrigatoriedade de consignar outros elementos de identificação, como modelo e cor.
Merece destaque o inciso VI do artigo 280, que prevê a validade da assinatura do infrator como notificação do cometimento
da infração. A assinatura, frise-se, não é obrigatória (nem tampouco admissão de culpa), mas, toda vez que se fizer presente
no auto de infração, desobriga o órgão ou entidade de trânsito a expedir a notificação da autuação no prazo de trinta dias,
como prevê o artigo 281, parágrafo único, inciso II, do CTB (ainda que inexigível o prazo, o documento deve ser enviado ao
proprietário do veículo, para sua ciência) – de acordo com o artigo 3º, §§ 5º e 6º da Resolução n. 619/16, a assinatura do
infrator só valerá como notificação da autuação, se o condutor também for proprietário do veículo e, ainda, se constar, do
auto de infração, o prazo para apresentação da defesa da autuação.
Existem, conforme § 2º, três formas de comprovação de uma infração de trânsito:
1ª – declaração da autoridade de trânsito (dirigente máximo de órgão ou entidade executivo de trânsito ou rodoviário, ou
pessoa por ele expressamente credenciada);
2ª – declaração do agente de trânsito (pessoa, civil ou policial militar, credenciada pela autoridade para tal função); ou
3ª – equipamentos previamente regulamentados pelo CONTRAN, que podem ser metrológicos (realizam medição), como é
o caso dos equipamentos medidores de velocidade (conhecidos como radares) ou decibelímetros ou etilômetros, ou, ainda,
não metrológicos (que tão somente constatam a conduta infracional, como ocorre com os sistemas detectores de avanço de
sinal vermelho do semáforo ou utilização de faixa exclusiva).
Nas duas primeiras hipóteses acima, a autoridade de trânsito e os agentes de trânsito não podem presumir a ocorrência de
prática infracional. Por exemplo, não é possível, ao se constatar um veículo já estacionado na contramão de direção (infração
do artigo 181, XV), autuá-lo também por transitar pela contramão de direção (infração do artigo 186, I ou II), presumindo-se
a prática desta última infração.
Por outro lado, o fato de a prática infracional ter cessado não impossibilita a lavratura do AIT. Por exemplo, o condutor
inabilitado que, ao ser observado pelo agente de trânsito, troca de lugar no veículo com passageiro devidamente habilitado.
Ao ser abordado, o condutor inabilitado deverá ser autuado, pois a infração (artigo 162, I), momentos antes, foi regularmente
constatada.
O § 3º admite a possibilidade de que a autuação de uma infração de trânsito ocorra sem a abordagem do veículo infrator
(sem o flagrante), exigindo, para tanto, que o agente de trânsito informe o fato à autoridade no próprio auto de infração. O
CONTRAN, contudo, complementou tal disposição, estabelecendo quais são as infrações em que a abordagem é (ou não)
imprescindível, conforme as fichas de enquadramento constantes do Manual Brasileiro de Fiscalização de Trânsito
(Resoluções n. 371/10 e 561/15). 
De acordo com o § 4º, o agente de trânsito poderá ser servidor civil que trabalhe no órgão ou entidade de trânsito e seja
credenciado pela autoridade de trânsito (conforme definição do Anexo I do CTB).
É possível, mediante convênio (artigo 25), que a autoridade de trânsito se utilize do conjunto de agentes de trânsito de outro
órgão ou entidade do SNT, credenciando-o para atuar como seu próprio corpo de agentes. 
Contudo, carece de lastro legal convênio firmado por órgão ou entidade de trânsito que transfira a órgão não pertencente ao
SNT competências afetas aos agentes de trânsito. Assim, por exemplo, não pode o órgão ou entidade executivo de trânsito
municipal, mediante convênio, credenciar os professores ou os médicos da rede pública municipal como agentes de trânsito,
ainda que passem a ter dedicação exclusiva às atribuições inerentes ao cargo de agente de trânsito. Nesse sentido, é o
enunciado da Súmula do STF nº 685: “É inconstitucional toda modalidade de provimento que propicie ao servidor investir-
se, sem prévia aprovação em concurso público destinado ao seu provimento, em cargo que não integra a carreira na qual
anteriormente investido”.

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Já as guardas municipais apresentam outro cenário: originariamente não pertenciam ao SNT (nos termos do art. 7º do CTB),
porém a Lei nº 13.022, de 08 de agosto de 2014, dispõe sobre a possibilidade de que possam exercer as competências de
trânsito que lhes forem conferidas, nas vias e logradouros municipais, nos termos do CTB, ou de forma concorrente,
mediante convênio celebrado com órgão de trânsito estadual ou municipal.
Em relação à PM, basta que, mediante convênio (artigo 23, III), os policiais militares sejam designados pela autoridade de
trânsito. Quanto a convênios com a Polícia Militar, o exemplo mais rico é o da PM/MG que fiscaliza infrações de trânsito de
competência do DETRAN/MG; da BHTrans; do DER/MG; e da PRF e da ANTT (em algumas rodovias federais que cortam
aquele Estado).

JULYVER MODESTO DE ARAUJO, Capitão da Polícia Militar de São Paulo, com atuação no policiamento de trânsito
urbano desde 1996; Mestre em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública pelo Centro de Altos Estudos de Segurança
da PMESP; Mestre em Direito do Estado pela Pontifícia Universidade Católica - PUC/SP; Especialista em Direito Público
pela Escola Superior do Ministério Público de SP; Coordenador de Cursos, Professor, Palestrante e Autor de livros e artigos
sobre trânsito.

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