Você está na página 1de 8

ILUSTRÍSSIMO(A) SENHOR(A) DIRETOR DO DEPARTAMENTO ESTADUAL DE TRÂNSITO DO

ESTADO DE SANTA CATARINA

Auto de Infração P07U9000ZX


Órgão autuador: 283570 (Prefeitura Municipal de Timbó – DEMUTRAN)
Infração: Art. 174 do CTB / Código 526-63
Placa do veículo: MBX2E10
Renavam: 689.347.855

WILHAN GABRIEL DE SOUZA DOS SANTOS, brasileiro, solteiro,


inscrito no CPF sob o n° 108.906.419-51 e RG nº 7084932 – SSP/SC, portador da carteira
nacional de habilitação n. 7601472458, residente e domiciliado à Rua Paraguay, 677 -
Imigrantes, Timbo – SC, endereço eletrônico wilhangabriel222@gmail.com, telefone
(47)98818-6728, vem, por meio de sua procuradora abaixo assinada, para apresentar:

DEFESA PRÉVIA

em desfavor ao auto de infração nº P07U9000ZX, promovido pelo


órgão nº 283570 (Prefeitura de Timbó - Demutran), pelas razões de fato e de direito a seguir
aduzidas:

1. DA TEMPESTIVIDADE DA PRESENTE DEFESA

Cumpre asseverar a tempestividade da presente Defesa Prévia.


Conforme consta na notificação de autuação, o prazo para apresentação da defesa prévia é
até o dia 12/01/2023. Sendo assim, a presente defesa é tempestiva.
2. DA SÍNTESE FÁTICA – AUSÊNCIA DE NOTIFICAÇÃO

O notificado, em consulta à sua habilitação junto ao sítio eletrônico


do Senatran, teve ciência do Auto de Infração P07U9000ZX, dando conta do suposto
cometimento da infração prevista no art. 174 do CTB:

“Promover, na via, competição, eventos organizados, exibição e


demonstração de perícia em manobra de veículo, ou deles participar,
como condutor, sem permissão da autoridade de trânsito com
circunscrição sobre a via.”

Preliminarmente, é necessário que sejam esclarecidas algumas


situações particulares ao presente caso, as quais, sem dúvidas, servirão para um mais justo e
melhor julgamento.

De início, importa esclarecer que o Requerente somente tomou


conhecimento da autuação quando consultou o dossiê de sua habilitação junto ao sítio
eletrônico do Senatran.

NUNCA chegou às mãos do Requerente a NOTIFICAÇÃO DE


AUTUAÇÃO, na qual lhe é concedido o prazo para indicação de condutor, bem como, prazo
para apresentação da defesa administrativa.

Embora conste no processo administrativo digital que a notificação de


autuação supostamente teria sido entregue em 28/11/2023, não existe nos autos eletrônicos
qualquer comprovante de recebimento pelo Requerente ou terceiro.

Verifica-se, portanto, que se está diante de evidente CERCEAMENTO


DE DEFESA, eis que foi tolhido do Requerente o direito de apresentar defesa administrativa
perante o órgão de trânsito. Por sorte, o Requerente possui por hábito acessar o Senatran
para consulta de eventuais irregularidades, a exemplo desta que se discute.

Na infração emitida pela Autoridade de Trânsito, fica claro que a


notificação de autuação foi expedida sem que o condutor fosse abordado. Logo, nem mesmo
no dia dos fatos o Requerente teve ciência da autuação.

Assim sendo, tem-se por evidente que o Requerente não foi


comunicado acerca da existência do processo administrativo. O processo administrativo que
objetiva aplicar sanção por violação do Código de Trânsito Brasileiro – CTB, deve obedecer a
uma série de procedimentos legais, respeitando, ainda, os princípios constitucionais exigidos
para que possa a Administração Pública validamente imputar a alguém as sanções previstas
na lei.

E é obrigatória e imperiosa a existência de uma primeira notificação,


referente à autuação, e de uma segunda notificação acerca da imposição da penalidade, a
fim de possibilitar a ampla defesa do suposto infrator, com observância dos princípios do
contraditório e da ampla defesa, assegurados no art. 5º da Constituição Federal e do Devido
Processo Legal.

Para assegurar a cientificação dos condutores o CONTRAN editou a


Resolução nº 723/2018 onde estabelece em seu artigo 23:

“Art. 23. Esgotadas as tentativas para notificar o condutor por meio


postal ou pessoal, as notificações de que trata esta Resolução serão
realizadas por edital, na forma disciplinada pela Resolução CONTRAN
nº 619, de 06 de setembro de 2016, e suas sucedâneas”.

Por sua vez a Resolução 619/2016 é claro ao determinar que


esgotadas as tentativas de notificação postal e pessoal somente então deve se proceder a
notificação por edital (CONTRAN/ART. 13 Resolução 619/2016) :

“Art.13. Esgotados as tentativas para notificar o infrator ou o


proprietário do veículo por meio postal ou pessoal, as notificações de
que trata esta resolução serão por edital publicado no diário oficial,
na forma da lei, respeitados o disposto no § 1º do artigo 282 do CTB e
os prazos prescricionais na Lei 9.873, de 23 de novembro de 1999, que
estabelece o prazo de prescrição para o exercício de ação punitiva”

No caso, o Requerente possui o endereço atualizado no cadastro


junto ao Detran, não havendo razão justificável para que não tenha recebido a notificação de
autuação.

Embora no processo digital conste como “recebido” o AR de


notificação, não há em nenhum lugar a assinatura do Requerente ou eventualmente de um
terceiro que tenha recebido a carta de notificação. Nada comprova que a carta foi realmente
entregue. Não há nenhum documento do correio que possa demonstrar a entrega.

Diante disso, não se pode atribuir ao Notificado a responsabilidade


pela multa decorrentes de infração da qual não foi cientificado.

3. DAS INSUBSISTÊNCIAS DO AUTO DE INFRAÇÃO – ERRO DE


TIPIFICAÇÃO E CÓDIGO DA INFRAÇÃO – PREJUÍZO AO EXERCÍCIO DO
CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA

O Auto de Infração de Trânsito P07U9000ZX foi lavrado na data de


04/11/2023, às 01:00:03, ocasião em que o veículo de placas MBX2E10 teria infringido o
disposto no art. 174 do Código de Trânsito Brasileiro:

“Promover, na via, competição, eventos organizados, exibição e


demonstração de perícia em manobra de veículo, ou deles
participar, como condutor, sem permissão da autoridade de trânsito
com circunscrição sobre a via.”

Como se sabe, o Auto de Infração de Trânsito é uma peça acusatória


por excelência, e por assim ser, não deve conter nenhuma mácula, omissão, erros ou rasuras.

Assim, o AIT é lavrado pela autoridade de trânsito para efeito de


caracterizar ou materializar a infração, nele se indicando minuciosamente a transgressão
praticada contra o preceito da legislação de trânsito.

Logo, constatada a infração pela autoridade de trânsito ou seus


agentes, será lavrado o AIT, que deverá conter os dados mínimos e com exatidão definidos
pelo art. 280 do CTB e em regulamentação específica, prevista na Resolução 619/16,
notadamente em seu art. 3º.

Do Auto de Infração constará (Art. 280 CTB):

a) A tipificação da infração;

b) O local, a data e a hora do cometimento da infração;

c) Os caracteres da placa de identificação do veículo, .

[…]

Portanto, a correta tipificação da infração é condição obrigatória


para a validade do AIT.

In casu, o agente que lavrou o AIT indicou que o Requerente teria


infringido o Art. 174 do CTB.

O art. 174 do CTB prevê mais de uma conduta:

1) Promover, na via, sem permissão da autoridade de trânsito:

1.1) Competição

1.2) Eventos organizados

1.3) Exibição e demonstração de perícia em manobra de


veículo

2) Participar, na via, sem permissão da autoridade de trânsito:

2.1) Competição

2.2) Eventos organizados

3.3) Exibição e demonstração de perícia em manobra de


veículo

O fato de prever mais de uma conduta, faz com que exista mais de
um código de infração para o mesmo artigo legal.
No caso, o Requerente foi autuado pelo art. 174 do CTB, tendo sido
indicado no auto de infração o código 526-63.

Referido código prevê a conduta única de PARTICIPAR COMO


CONDUTOR EM EXIBIÇÃO E DEMONSTRAÇÃO DE PERÍCIA EM MANOBRA DE VEÍCULO, SEM
PERMISSÃO.

Ocorre que, em análise das informações constantes no campo


“observação” do AIT, verifica-se a seguinte anotação: MOTOCICLETA DISPUTANDO CORRIDA
PREVIAMENTE AGENDADA COM OUTRAS MOTOCICLETAS.

Ora, certamente houve equívoco da autoridade de trânsito ao


preencher o AIT. Há grande diferença entre o ato de demonstrar perícia em manobra e o ato
de disputar corrida. São condutas completamente diversas e que não se confundem entre si.

É nítido que o código da infração não se coaduna com a observação


lançada pela autoridade no AIT. Veja-se:
Neste sentido, retira-se do Manual Brasileiro de Fiscalização de
Trânsito – MBFT, que para o código de infração descrito no AIT do Requerente (526-63), é
necessário que se caracterize o ato de participar de exibição/demonstração de perícia em
manobra de veículo, sem permissão, ou em desarcordo com a permissão da autoridade de
trânsito.

O ato de disputar corrida certamente não cabe no conceito de


exibição e demonstração de perícia em manobra. O Requerente não praticou manobra
alguma!

Ora, tal fato prejudica imensamente o direito de ampla defesa do


Requerente, eis que o AIT é eivado de obscuridade e causa dupla interpretação. Da análise
do AIT, não se sabe se o Requerente disputou corrida ou exibiu manobra.

Indubitavelmente, para que a configuração das infrações


administrativas de trânsito seja válida, o AIT há de ser feito de maneira suficientemente
clara, a fim de que não restem dúvidas sobre a tipificação da infração.

O fato só será considerado infração se houver perfeita


correspondência entre ele e a norma que o descreve.

A Lei delimita uma conduta lesiva, apta a pôr em perigo um bem


jurídico relevante, e prescreve-lhe uma consequência punitiva. Ao fazê-lo, não permite que o
tratamento punitivo cominado possa ser estendido à uma conduta que se mostre
aproximada ou assemelhada.

No caso, o Agente procurou na norma de trânsito elastecer os


conceitos definidos e previstos na cominação legal a fim de abranger um número maior de
condutas. Essa posição é completamente ilegal, uma vez que fere o princípio da legalidade e
da vedação de aplicação de analogia a fim de ampliar o rol das infrações.
Dessa forma, por absoluta atipicidade da conduta descrita no Auto,
deve este ser tido por inconsistente. Logo, o Auto de Infração de Trânsito é plenamente nulo
e não deve ser convalidado pela administração pública. Por consequência, o AIT há de ser
arquivado.

4. DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer seja declarado NULO o Auto de Infração


P07U9000ZX, visto que o Requerente não recebeu a Notificação de Autuação, bem como,
que o campo relacionado à tipificação e código da infração foi preenchido de forma
equivocada, restando, portanto, insusbistente o AIT.

Destarte, que a resposta, devidamente fundamentada, seja entregue


por escrito diretamente ao Requerente no endereço acima citado, no prazo de 05 dias, com a
devida MOTIVAÇÃO do julgador, sob pena de nulidade, a fim de instruir a medida judicial
cabível, por ser medida da mais LÍDIMA JUSTIÇA.

Nestes termos, pede deferimento.

ROL DE DOCUMENTOS:
- Procuração;
- Carteira de habilitação;
- Comprovante de residência;
- Infração;
- CRLV;

Blumenau, 19 de dezembro de 2023.

Aline Heusser
OAB/SC 56.272

Você também pode gostar