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EXCELENTÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE DA JARI DO DETRAN DE XXXX

Auto de Infração nº. XXXXX


NOME, nacionalidade, estado civil, profissã o, inscrito no CPF/MF sob nº. XXXXXXX,
portador do RG nº. XXXXXXX/XX, e da Permissã o para Dirigir nº. XXXXXXX, residente e
domiciliado na Rua XX, nº. XX, XX, apto XX, bairro XX, em XX, CEP XX, vem em face do auto
de infraçã o de nº. XXXXX, de XX/XX/20XX, respeitosamente, à presença de Vossa Senhoria,
apresentar RECURSO, no prazo legal, pelas seguintes razõ es de fato e de direito:
1. DOS FATOS
O pai do requerente comprou o veículo XXXX, placa XXX, ano XX, Chassi XXXXXXXXXXXX, na
data de XX/XX/XX, conforme documentos em anexo. A “Autorizaçã o para transferência de
Propriedade de Veículo – ATPV” foi assinada pela vendedora e pelo requerente, com firma
reconhecida em cartó rio, na data de XX/XX/XX.
O carro foi comprado no estado de XXX, e levado pelo requerente até XX, cidade na qual
reside. Lá , foi realizado o reconhecimento de firma da assinatura do requerente, bem como
a efetiva transferência do veículo, por meio do sistema de agendamento do Detran de XX,
com a contrataçã o de despachante.
Algum tempo depois, o requerente recebeu via correspondência uma Notificaçã o de
Autuaçã o, pela suposta infraçã o do art. 233 do CTB, consistente em “Deixar de efetuar
registro de veículo no prazo de trinta dias”, datada de XX/XX/XX, à s XX horas. Tal infraçã o é
de natureza grave, com a imposiçã o de 05 pontos na habilitaçã o.
Apó s, o requerente fez a DEFESA PRÉ VIA junto ao DETRAN SP, em sede administrativa,
alegando causas de nulidade da notificaçã o prévia, mas o pedido foi julgado improcedente
(em anexo). Alguns dias depois, o requerente recebeu a notificaçã o de penalidade – multa.
Optou por pagar a multa com desconto (o que nã o impede a continuidade de sua defesa em
sede administrativa – comprovante do pagamento em anexo), e entã o vem recorrer
novamente em sede administrativa.
Entretanto, o requerente está no período de 01 ano da permissão para dirigir, até
XX/XX/XX (có pia em anexo), e a multa vence em XX/XX/XX, quando provavelmente
ocorrerá a imposiçã o de seus efeitos (pontuaçã o). Assim, o autor se viu obrigado a recorrer
da imposiçã o da penalidade, quanto à sua pontuaçã o, a fim de garantir o seu direito de
receber a CNH definitiva.
2. DAS CAUSAS DE NULIDADE
A autuaçã o em questã o está inconsistente e irregular e, de acordo com o artigo 281, § ú nico,
inciso I, do CTB deve de ser arquivada, pelos seguintes motivos:
a) O local e a data constantes na infraçã o sã o: XX CIR (XXª Ciretran), em XX/XX/XX, à s XX
horas. Entretanto, tal data foi um domingo, e a XX Ciretran nã o funciona aos domingos,
razã o pela qual o local e a data sã o inconsistentes entre si, além de serem inconsistentes
com a natureza da multa (prazo para efetuar o registro do veículo). Assim, a autuaçã o nã o
cumpre com o requisito previsto no art. 280, inciso II, do CTB.
b) Ausência de apontamento da data de emissã o da Notificaçã o de Autuaçã o, nos termos do
art. 6º, Pará grafo ú nico, inciso I, da Resoluçã o nº. 248, de XX/XX/XX, que determina:
Art. 6º Na impossibilidade da notificação nos termos do § 1º do artigo anterior, será expedida a Notificação da
Autuação ao infrator no prazo máximo de 30 (trinta) dias da data da constatação da infração.
Parágrafo único. Da Notificação da Autuação deverá constar, além das informações constantes do Auto de
Infração:
I - data de sua emissão

Essas irregularidades tornam a notificaçã o de autuaçã o inconsistente e irregular, com a


necessidade de seu arquivamento, nos termos do art. 281, § ú nico, inciso I, do CTB.
3. DA BOA FÉ DO REQUERENTE
O veículo em questã o foi comprado pelo pai do requerente, no estado de XX. Entretanto, ele
seria utilizado no estado de YY. Assim, o requerente agiu de boa-fé ao realizar a
transferência, sem prejudicar o estado de YY.
Ainda, passaram-se poucos dias, além do prazo estipulado (30 dias), entre a data da
compra e a data da transferência, a qual foi realizada voluntariamente. O pequeno atraso se
deu em virtude do período de férias da universidade, no mês de julho, somado ao fato de o
requerente ter levado o carro de XX a YY dirigindo, com paradas em algumas cidades no
caminho.
Por fim, a boa-fé também é demonstrada pelo contrato de compra e venda do veículo, com
pagamento na data da compra; documentaçã o com reconhecimento de firma em cartó rio; e
todas as contas do veículo, até o corrente ano, quitadas (licenciamento, IPVA, etc).

4. DA NÃO APLICAÇÃO DE PONTUAÇÃO NA CNH EM CASO DE INFRAÇÃO


ADMINISTRATIVA
Subsidiariamente, caso nã o seja reconhecida a nulidade da autuaçã o, o requerente pugna
pela nã o aplicaçã o da pontuaçã o correspondente, pelas razõ es a seguir expostas.
A infraçã o relativa à multa aplicada está disposta no art. 233 do CTB, o qual dispõ e:
Art. 233. Deixar de efetuar o registro de veículo no prazo de trinta dias, junto ao órgão executivo de trânsito,
ocorridas as hipóteses previstas no art. 123:
Infração - grave;
Penalidade - multa;
Medida administrativa - retenção do veículo para regularização.

Entretanto, tal infraçã o é meramente administrativa, ou seja, nã o se trata de infraçã o de


trâ nsito. Note-se que a pontuaçã o serve para inibir e sancionar infraçõ es de trâ nsito,
quando da conduçã o em si.
O bem jurídico tutelado com a imposiçã o de pontuaçã o na CNH é a segurança do trâ nsito, a
defesa da coletividade, e a educaçã o para o trâ nsito. Entretanto, no caso em apreço o
condutor nã o representa perigo algum quando da conduçã o do veículo. Ressalte-se que o
requerente está a poucos meses de retirar sua habilitaçã o definitiva, e nã o cometeu
nenhuma infraçã o de trâ nsito, enquanto na conduçã o do veículo.
Ademais, nã o existe funçã o social na penalidade de pontuaçã o desta multa, que já conta
com pena pecuniá ria. Portanto, nã o deve ser impedido de retirar a habilitaçã o definitiva
por mera infraçã o administrativa. Nesse sentido tem decidido o Judiciá rio (STJ e TJSP):
Superior Tribunal de Justiça
ADMINISTRATIVO. CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO (CNH). COMETIMENTO DE INFRAÇÃO ADMINISTRATIVA.
EXPEDIÇÃO. POSSIBILIDADE. 1. Discute-se a possibilidade de expedição de carteira nacional de habilitação
definitiva a motorista que comete infração do art. 230, V, do CTB, tipificada como grave, mas de natureza
administrativa. 2. O STJ entende ser possível a expedição de carteira nacional de habilitação definitiva a
motorista que cometa infração administrativa. Precedentes: AgRg no AREsp 339.714/RS, Rel. Ministro HERMAN
BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 20/08/2013, DJe 12/09/2013; AgRg no AREsp 267.624/RS, Rel. Ministro
NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, DJe 25/04/2013. Agravo regimental improvido.
(STJ - AgRg no AREsp: 407221 RS 2013/0338655-2, Relator: Ministro HUMBERTO MARTINS, Data de Julgamento:
20/02/2014, T2 - SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJe 27/02/2014).
Superior Tribunal de Justiça
ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. CONCESSÃO DA CARTEIRA NACIONAL DE
HABILITAÇÃO DEFINITIVA. INFRAÇÕES DE NATUREZA ADMINISTRATIVA. EXPEDIÇÃO. POSSIBILIDADE. DECLARAÇÃO
DE INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 148, § 3º, do CTB. INEXISTÊNCIA. 1. De acordo com a jurisprudência desta
Corte, a falta de registro de veículo no prazo legal, embora configure infração de natureza grave prevista no art.
233 do CTB, não é motivo suficiente para impedir a expedição da Carteira Nacional de Habilitação ao condutor
que detém permissão para dirigir, porquanto não constitui direta violação dos objetivos básicos do Sistema
Nacional de Trânsito, quais sejam, a segurança e educação para o trânsito, nos termos do inciso I do art. 6º do CTB.
2. A decisão impugnada, ao contrário do que alega a agravante, não declarou a inconstitucionalidade do art. 148, §
3º, do CTB, tendo tão somente indicado a adequada exegese do referido dispositivo legal. 3. Agravo regimental a
que se nega provimento.
(STJ - AgRg no AREsp: 527227 RS 2014/0136463-1, Relator: Ministro SÉRGIO KUKINA, Data de Julgamento:
02/10/2014, T1 - PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 20/10/2014).
Tribunal de Justiça de São Paulo – TJSP
Mandado de segurança. Permissão para dirigir. Obtenção de Carteira Nacional de Habilitação definitiva. Prática de
infração de natureza grave consistente na abstenção de registro do veículo no prazo de 30 dias (art. 233, CTB).
Infração de natureza administrativa, sem repercussão na segurança do trânsito ou na formação do condutor.
Precedentes deste Tribunal e do STJ. Sentença concessiva da segurança. Recurso oficial não provido.
(Relator (a): Carlos Violante; Comarca: São Carlos; Órgão julgador: 2ª Câmara de Direito Público; Data do
julgamento: 28/11/2016; Data de registro: 28/11/2016).
Tribunal de Justiça de São Paulo – TJSP
ANTECIPAÇÃO DA TUTELA. Negada. CNH definitiva. Negada por prática de infração de natureza grave, do artigo
233 do Código de Trânsito Brasileiro, de deixar de registrar o veículo no prazo de trinta dias, no período de
permissão para dirigir. Infração de natureza administrativa, do proprietário do veículo, sem repercussão na
capacidade técnica do condutor, que não pode impedir a habilitação definitiva. Precedentes. Recurso provido
para conceder a medida.
(Relator (a): Edson Ferreira; Comarca: Itápolis; Órgão julgador: 12ª Câmara de Direito Público; Data do julgamento:
30/11/2016; Data de registro: 30/11/2016).

Assim, pela interpretação finalística do art. 148, § 3º, do CTB, a pontuaçã o


correspondente à infraçã o nã o deve ser computada, ainda que a multa seja considerada
devida, com a imposiçã o da penalidade pecuniá ria.
Entendimento diverso é mesmo inconstitucional, visto que lesa o direito do requerente de
dirigir, sem uma justificativa coerente.

5. A LEI GERAL DO PROCESSO ADMINISTRATIVO


A Lei n. 9.784, de 29 de janeiro de 1999, veio dispor sobre as normas bá sicas para o
processo administrativo no â mbito da Administraçã o Federal direta e indireta, com vistas à
proteçã o dos direitos dos administradores e o melhor cumprimento dos fins da
Administraçã o. Sua vigência foi imediata, seguindo-se à publicaçã o em 1º de fevereiro de
1999.
Traz esse diploma federal, entã o, particular interesse, por quanto terá influência nos
diversos procedimentos administrativos hoje regulados em legislaçõ es especiais de
aplicaçã o mais ou menos restrita, a exemplo do Regime Jurídico Ú nico (RJU), em suas
disposiçõ es relativas ao procedimento administrativo disciplinar; dos dispositivos sobre
recursos administrativos previstos pela Lei de licitaçõ es; do Có digo Nacional de Trâ nsito,
quando trata de sançõ es e penalidades administrativas a que estã o sujeitos os condutores
de veículos automotores, além de outros diplomas reguladores de procedimentos
administrativos para postulaçã o, obtençã o, garantia e defesa de direitos e interesses de
particulares, junto aos ó rgã os da administraçã o.
Essa lei contém a previsã o de sua aplicaçã o no â mbito dos poderes Legislativo e Judiciá rio
da Uniã o, quando desempenhem a funçã o administrativa. Desde logo se antevê a notá vel
importâ ncia e repercussã o que terá o diploma legal, que consiste, verdadeiramente, em lei
geral de processo administrativo.

6. DEVER DE DECIDIR E CONSEQUENTE MOTIVAÇÃO


A lei federal do processo administrativo instituiu expressamente a regra do dever de
decidir a que está submetida à Administraçã o Pú blica, quando dispõ e, no artigo 48, que:
“A administração tem o dever de explicitamente emitir decisão nos processos administrativos e sobre solicitações
ou reclamações, em matéria de sua competência”.
Os atos administrativos deverã o ser motivados, com indicaçã o dos fatos e dos fundamentos
jurídicos (artigo 50), quando:
- Neguem, limitem ou aferem direito ou interesses;
- Imponham ou agravem deveres, encargos ou sançõ es;
- Decidam processos administrativos de concurso ou seleçã o pú blica;
- Dispensem ou declarem a inexigibilidade de processo licitató rio;
- Decidam recursos administrativos;
- Decorram de reexame de ofício;
- Deixem de aplicar jurisprudência firmada sobe a questã o;
- Importem anulaçã o, revogaçã o, suspensã o ou convalidaçã o de ato administrativo.
Como podemos perceber, o ó rgã o nã o observou esses preceitos, visto que há
inconsistências na notificaçã o de autuaçã o, além de a imposiçã o de pontuaçã o contrariar
entendimento jurisprudencial firmado sobre a questã o.
Assim, a soluçã o justa, jurídica e socialmente correta é arquivar o auto de infraçã o e
declarar a invalidade da imposiçã o de penalidade.
*DEVE PREVALECER PRINCÍPIO “IN DUBIO PRO REU”
Em virtude do auto de infraçã o estar com irregularidades, conforme já demonstrado, deve
ser aplicado o princípio “in dúbio pro réu”, o que, por consequência, gera a nulidade da
presente autuaçã o.
Pode-se chegar à conclusã o, portanto, de que o auto de infraçã o em apreço deve ser
arquivado.

7. DO PEDIDO
Requer o cancelamento e arquivamento do auto de infraçã o, em conformidade a regra do
artigo 281 do CTB, pelas seguintes falhas:
a) O local e a data constantes na infraçã o sã o: XX CIR (XX Ciretran), em XX/XX/XX, à s XX
horas. Entretanto, tal data foi um domingo, e a XX Ciretran nã o funciona aos domingos,
razã o pela qual o local e a data sã o inconsistentes entre si, além de serem inconsistentes
com a natureza da multa (prazo para efetuar o registro do veículo). Assim, a autuaçã o nã o
cumpre com o requisito previsto no art. 280, inciso II, do CTB;
b) Ausência de apontamento da data de emissã o da Notificaçã o de Autuaçã o, nos termos do
art. 6º, Pará grafo ú nico, inciso I, da Resoluçã o nº. 248, de 27/08/2007.
c) Boa-fé do requerente, visto que fez voluntariamente, e com poucos dias de atraso, a
transferência do veículo, devidamente registrado no estado de Sã o Paulo. Assim, o estado
nã o restou prejudicado.
Subsidiariamente, caso nã o seja reconhecida a nulidade da autuaçã o, requer não seja
efetuada a aplicação da pontuação relativa à multa, para fins de expedição da CNH
definitiva, visto que se trata de infraçã o meramente administrativa, sem importar perigo
na conduçã o do veículo. Ademais, o requerente se propô s a pagar a pena pecuniá ria, a título
de boa-fé (comprovante em anexo).
Requer o real julgamento deste Recurso, averiguando-se todos os aspectos aqui
apresentados.

Nestes termos,
Pede deferimento.
Cidade/Estado, XX de XX de XX (data).
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NOME
CPF/MF nº. XXXXXX

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