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ILMO SENHOR PRESIDENTE DA JUNTA ADMINISTRATIVA DE RECURSO DE

INFRAÇÃO DO DETRAN DO RIO DE JANEIRO.

Processo administrativo: E-15/061/030174/2023

______________________________________________________________
_______peitosamente através do presente, em conformidade com os arts. 280, 281 e
285 do CTB, Lei Federal 9.784/1999, e CF/1988, para interpor o presente

RECURSO ADMINISTRATIVO

contra autuação, por legítimo direito de ampla defesa e do exercício pleno do


contraditório.
DA INFRAÇÃO

Infração: ________ Auto de Infração nº ________ Órgão Autuador: ________

DO VEÍCULO

MARCA: ________ , MODELO: ________ , PLACA: ________ , RENAVAM: ________ .

DOS FATOS

O Auto de Infração indica que a ocorrência teria ocorrido às ________ ,


em ________ . Aplicando a penalidade de multa no valor de R$ ________ e perda de
________ pontos na CNH.

O condutor recebeu a Notificação de Infração em ________ , com data de


expedição em ________ . Ocorre que a multa merece ser revista, conforme passa a
dispor.
DA SUSPENSÃO DO DIREITO DE DIRIGIR

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O CTB ao dispor dos casos que culminam com a suspensão do direito de
dirigir prevê:
Art. 261. A penalidade de suspensão do direito de dirigir
será imposta nos seguintes casos:
I - sempre que, conforme a pontuação prevista no art. 259
deste Código, o infrator atingir, no período de 12 (doze)
meses, a seguinte contagem de pontos:
a) 20 (vinte) pontos, caso constem 2 (duas) ou mais
infrações gravíssimas na pontuação;
b) 30 (trinta) pontos, caso conste 1 (uma) infração
gravíssima na pontuação;
c) 40 (quarenta) pontos, caso não conste nenhuma
infração gravíssima na pontuação;
II - por transgressão às normas estabelecidas neste
Código, cujas infrações preveem, de forma específica, a
penalidade de suspensão do direito de dirigir.

Com a notificação de suspensão de dirigir, ao verificar o relatório de


pontuação, o Recorrente constatou-se a seguinte pontuação:

Infração nº ________ - ________ - ________


Infração nº ________ - ________ - ________
Infração nº ________ - ________ - ________

Ocorre que tal suspensão deve ser revista, pois não observou o devido
processo legal, conforme passa a demonstrar.

AUSÊNCIA DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA

Todo procedimento assim como qualquer ato administrativo deve ser


conduzido com estrita observância aos princípios constitucionais, sob pena de nulidade.

No entanto, a suspensão de dirigir foi aplicada sem que o processo


administrativo fosse instaurado.
Ao instaurar um processo administrativo de repercussão direta ao
recorrente, deveria de imediato ser garantido o direito ao contraditório e à ampla defesa,
como dispõe claramente a Resolução nº 723/2018 do CONTRAN, que dispõe sobre a

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uniformização do procedimento administrativo para imposição das penalidades de
suspensão do direito de dirigir e de cassação do documento de habilitação:

Art. 5º As penalidades de que trata esta Resolução


serão aplicadas pela autoridade de trânsito do órgão
de registro do documento de habilitação, em processo
administrativo, assegurados a ampla defesa, o
contraditório e o devido processo legal.

O artigo seguinte da referida Resolução é claro ao dispor que a suspensão do


direito de dirigir só pode ser aplicada após esgotadas todas as fases recursais:

Art. 6º Esgotados todos os meios de defesa da infração


na esfera administrativa, a pontuação prevista no art.
259 do CTB será considerada para fins de instauração
de processo administrativo para aplicação da
penalidade de suspensão do direito de dirigir.

Dessa forma, a suspensão do direito de dirigir aplicada sem o direito ao


contraditório e à ampla defesa é nula, conforme esclarece a Lei 9.784 que dispõe sobre
todo e qualquer processo administrativo:

Art. 3º O administrado tem os seguintes direitos


perante a Administração, sem prejuízo de outros que
lhe sejam assegurados: (...)
II - ter ciência da tramitação dos processos
administrativos em que tenha a condição de
interessado, ter vista dos autos, obter cópias de
documentos neles contidos e conhecer as decisões
proferidas;
(...)
Art. 38. O interessado poderá, na fase instrutória e
antes da tomada da decisão, juntar documentos e
pareceres, requerer diligências e perícias, bem como
aduzir alegações referentes à matéria objeto do
processo.
§ 1º Os elementos probatórios deverão ser

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considerados na motivação do relatório e da decisão.
§ 2º Somente poderão ser recusadas, mediante decisão
fundamentada, as provas propostas pelos interessados
quando sejam ilícitas, impertinentes, desnecessárias ou
protelatórias.
(...)
Art. 68. As sanções, a serem aplicadas por autoridade
competente, terão natureza pecuniária ou consistirão
em obrigação de fazer ou de não fazer, assegurado
sempre o direito de defesa.

A ausência de oportunidade prévia ao recorrente, trata-se de manifesta


quebra do direito constitucional à ampla defesa, especialmente por ser a principal
afetada na decisão em análise, conforme análise bem disciplinada pelo Ministro Celso de
Mello:

"(..) mesmo em se tratando de procedimento administrativo, que ninguém pode ser


privado de sua liberdade, de seus bens ou de seus direitos sem o devido processo legal,
notadamente naqueles casos em que se estabelece uma relação de polaridade
conflitante entre o Estado, de um lado, e o indivíduo, de outro. Cumpre ter presente,
bem por isso, na linha dessa orientação, que o Estado, em tema de restrição à esfera
jurídica de qualquer cidadão, não pode exercer a sua autoridade de maneira abusiva ou
arbitrária (...). Isso significa, portanto, que assiste ao cidadão (e ao administrado),
mesmo em procedimentos de índole administrativa, a prerrogativa indisponível do
contraditório e da plenitude de defesa, com os meios e recursos a ela inerentes,
consoante prescreve a Constituição da República em seu art. 5º, LV. O respeito efetivo
à garantia constitucional do 'due process of law', ainda que se trate de procedimento
administrativo (como o instaurado, no caso ora em exame, perante o E. Tribunal de
Contas da União), condiciona, de modo estrito, o exercício dos poderes de que se acha
investida a Pública Administração, sob pena de descaracterizar-se, com grave ofensa
aos postulados que informam a própria concepção do Estado Democrático de Direito, a
legitimidade jurídica dos atos e resoluções emanados do Estado, especialmente quando
tais deliberações, como sucede na espécie, importarem em invalidação, por anulação,
de típicas situações subjetivas de vantagem." (STF MS 27422 AgR)

Não se questiona a autoexecutoriedade das sanções. Contudo, a imposição


de penalidade sem a ampla defesa - que é o caso, transborda o devido processo legal,

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passível de nulidade, conforme assevera a doutrina:

"Caráter prévio da defesa - Consiste na anterioridade da defesa em relação ao ato


decisório. A garantia da ampla defesa supõe, em princípio, o caráter prévio das atuações
pertinentes. A anterioridade da defesa recebe forte matiz nos processos administrativos
punitivos, pois os mesmos podem culminar em sanções impostas aos implicados."
(MEDAUAR, Odete. Direito Administrativo Moderno. 20ª edt. Editora RT, 2016. pg. 205)
"(...) processo administrativo punitivo é todo aquele promovido pela Administração para
a imposição de penalidade por infração à lei regulamento ou contrato. Esses processos
devem ser [i] necessariamente contraditórios, com oportunidade de defesa, [ii] que deve
ser prévia, e estrita observância do devido processo legal, sob pena de nulidade da
sanção imposta." (MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 34. ed. São
Paulo: Malheiros. 2008. P. 702.)

O direito ao questionamento da decisão, albergado na fase de defesa é


garantia obrigatória não apenas nos processos judiciais, como também nos processos
administrativos, conforme reitera a doutrina:

"É sabido que a ampla defesa e o contraditório não


alcançam apenas o processo penal, mas também o
administrativo, nos termos do art. 5º, LV da CF/88.
É que a Constituição estende essas garantias a
todos os processos, punitivos ou não, bastando
haver litígios." (Harrison Leite, Manual de Direito
Financeiro, Editora jus podivum, 3ª edição, 2014,
p. 349)

Portanto, tem-se nitidamente a quebra do contraditório e da ampla defesa


em processo administrativo em trâmite sem qualquer notificação ao condutor. Razão
pela qual, merece provimento o presente pedido.

DA NÃO OBSERVÂNCIA DO PRAZO LEGAL DE NOTIFICAÇÃO

A Legislação aplicável à matéria, de forma muito objetiva, estabelece que o


lapso de tempo entre a lavratura do Auto de Infração e a expedição da notificação via
postal deve ser de trinta (30) dias, nos termos do Art. 281 do CTB:

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Art. 281. A autoridade de trânsito, na esfera da competência
estabelecida neste Código e dentro de sua circunscrição,
julgará a consistência do auto de infração e aplicará a
penalidade cabível.
§ 1º O auto de infração será arquivado e seu registro
julgado insubsistente:
I - se considerado inconsistente ou irregular;
II - se, no prazo máximo de trinta dias, não for
expedida a notificação da autuação.

Ocorre que, contrariando tais dispositivos legais, a notificação foi expedida


somente em ________ , ou seja, com mais de 30 dias do cometimento da infração
( ________ ), conduzindo à sua nulidade, nos termos da Resolução nº918 do CONTRAN:

DA NOTIFICAÇÃO DA AUTUAÇÃO

Art. 4º Com exceção do disposto no § 5º do art. 3º, após a


verificação da regularidade e da consistência do AIT, o órgão
autuador expedirá, no prazo máximo de 30 (trinta) dias
contados da data do cometimento da infração, a NA
dirigida ao proprietário do veículo, na qual deverão constar
os dados mínimos definidos no art. 280 do CTB.

§ 1º A não expedição da NA no prazo previsto no caput


ensejará o arquivamento do auto.

Desta forma, completamente nulo o auto de infração de trânsito, pela notória


inobservância do prazo legal estabelecido, conforme precedentes sobre o tema:

ADMINISTRATIVO. TRÂNSITO. AUTO DE INFRAÇÃO.


NOTIFICAÇÃO DA AUTUAÇÃO. DECADÊNCIA. ART. 281,
PARÁGRAFO ÚNICO, II, CTB. OCORRÊNCIA. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. 1. Consoante prevê o disposto no art. 281,
parágrafo único, II, CTB, a autoridade de trânsito julgará a
consistência do auto de infração e aplicará a penalidade
cabível. O auto de infração será arquivado e seu registro
julgado insubsistente se, no prazo de 30 dias, não for

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expedida a notificação da autuação (redação dada pela Lei
nº 9.602/98). 2. O regramento aplicável à época do
cometimento da infração - Resolução CONTRAN nº
404/2012 - prevê o prazo de 30 dias para que a autoridade
de trânsito expeça a notificação da autuação dirigirida ao
proprietário do veículo, contados da data do cometimento
da infração. 3. No caso, a notificação da autuação não
expedida após o decurso do prazo previsto no art. 281,
parágrafo único, II, CTB, razão pela qual deve ser
reconhecida a decadência do direito de punir do Estado. 4.
A Terceira Turma deste Regional possui entendimento no
sentido de que os honorários advocatícios devem ser fixados
em 10% sobre o valor da causa/condenação, desde que não
configure valor exorbitante ou irrisório. (TRF-4 - AC:
50000897220184047108 RS 5000089-72.2018.4.04.7108,
Relator: VÂNIA HACK DE ALMEIDA, Data de Julgamento:
04/04/2019, TERCEIRA TURMA, #63219364) #
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AGRAVO. TRÂNSITO. NOTIFICAÇÃO PARA DEFESA PRÉVIA.
PRAZO DE TRINTA DIAS. "O art. 281, parágrafo único, II,
do CTB prevê que será arquivado o auto de infração e
julgado insubsistente o respectivo registro se não for
expedida a notificação da autuação dentro de 30 dias. Por
isso, não havendo a notificação do infrator para defesa no
prazo de trinta dias, opera-se a decadência do direito de
punir do Estado, não havendo que se falar em reinício do
procedimento administrativo." (REsp 1.092.154 12-8-2009)
Não provimento do agravo interno.(TJ-SP - AGR:
22484079220188260000 SP 2248407-92.2018.8.26.0000,
Relator: Ricardo Dip, Data de Julgamento: 13/03/2019, 11ª
Câmara de Direito Público, Data de Publicação: 13/03/2019,
#03219364)

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE ANULAÇÃO DE MULTA DE


TRÂNSITO - SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA DO PEDIDO -
APELO DO ESTADO - AUSÊNCIA DE NOTIFICAÇÃO PRÉVIA
DO AUTOR, PELO DETRAN, QUANTO À INFRAÇÃO

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COMETIDA - IMPOSSIBILIDADE DE DEFESA DO CONDUTOR
- NOTIFICAÇÃO IMPRESCINDÍVEL PARA VALIDAÇÃO DO
AUTOR DE INFRAÇÃO - ART. 281, II, CTB - SÚMULA 312,
STJ - ÔNUS DO DETRAN - ART. 373, II, CPC - DETRAN NÃO
COMPROVA A NOTIFICAÇÃO - DECADÊNCIA DO DIREITO DE
PUNIR - RECURSO CONHECIDO E IMPROVIDO. DECISÃO
UNÂNIME. 1 - Observa-se que no presente caso cumpre-se
ressaltar que a notificação é imprescindível para validação
do auto de infração. Não há prova nos autos da existência
das notificações de multas pelo Detran, nos termos
consignados no art. 281, parágrafo único, inciso II, do
Código de Trânsito Brasileiro, o qual prevê o prazo
decadencial de 30 (trinta) dias para a expedição da
notificação da autuação, sob pena de arquivamento do auto
de infração e seu registro, insubsistente. 2 - Destarte, o
CONTRAN - Conselho Nacional de Trânsito - dispõe no artigo
3º, da Resolução nº. 404, que a notificação prevista no
artigo acima apontado deve ser dirigida ao proprietário do
veículo, fato que não foi feito a contento nos autos. 3 - A
Súmula 312, do STJ, por sua vez, prevê: \"Nos processos
administrativos para imposição de multa de trânsito, são
necessárias as notificações da autuação e da aplicação da
pena decorrente da infração\". 4 - Deveria o
Estado/Apelante comprovar que, seguindo a legislação
supramencionada, procedeu à notificação do proprietário do
veículo autuado, nos termos do disposto no art. 373, II, do
CPC. Assim, resta caracterizada a nulidade do procedimento
administrativo, que deixou de ser notificado de forma
devida, ou seja, razão pela qual não lhe fora oportunizado o
direito de defesa quanto à cominação da penalidade de
trânsito. 5 - Conclui-se pela decadência do direito de punir
do Estado, ante a ausência de notificação quanto às
infrações supostamente cometidas pelo autor, ora Apelado,
sendo de rigor a mantença do julgado. 6 - Recurso
conhecido e improvido. Decisão unânime. (TJ-TO - APL:
00076761120198270000, Relator: JACQUELINE ADORNO
DE LA CRUZ BARBOSA)

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Trata-se da indispensável aplicação do princípio da Legalidade, o qual a
Administração Pública é estritamente vinculada.

Por ser patente a irregularidade que norteia o AIT em tela, em grave afronta
ao Art. 281 do CTB, deve ser arquivado e consequentemente, seu registro julgado
insubsistente, por manifesta quebra do princípio da legalidade.

DOS PEDIDOS

Diante de todo o exposto REQUER:

1 - Seja recebido o presente Recurso, pois atende a todos os requisitos de sua


admissibilidade de acordo com as Resoluções do CONTRAN;

2 - Seja julgado PROCEDENTE o presente recurso, e por via de consequência o


cancelamento da penalidade imposta, conforme preceitua o art. 281, inciso I do CTB,
sendo anulada a pontuação;

3 - Seja a decisão devidamente motivada, nos termos do Art. 37 da Constituição Federal


e Lei 9.784/00;

4 - Caso o presente recurso não seja julgado em 30 dias, requer desde já, o efeito
suspensivo nos termos do Art. 285, §3º do CTB.

Nestes termos,
Pede e espera deferimento.

Rio de janeiro, 23 de maio de 2023.

ANEXOS:

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1. Cópia do comprovante de expedição da notificação
2. Cópia do documento de Infração
3. Cópia da CNH
4. Cópia do do documento do veículo - CRLV
5. Procuração ou prova da representação, quando for o caso

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