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jusbrasil.com.br
5 de Janeiro de 2018

Modelo Recurso Suspensão do Direito de Dirigir

Não deixe de recorrer. Baixe o modelo aqui!

A suspensão do direito de dirigir é uma penalidade que pode deixar o condutor de


6 a 12 meses sem dirigir. Não exite em contratar um advogado para elaborar o
Recurso. Apesar de parecer simples, quando elaborado por um profissional, terá
em seu teor, detalhes e peculiaridades do caso, que certamente farão a diferença
na sua apreciação, atendendo as pretensões fundamentais do caso, com maiores
chances de êxito.

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ILUSTRÍSSIMA SENHORA GERENTE GERAL


DA JUNTA ADMINISTRATIVA DE RECURSOS
DE INFRAÇÕES DO ESTADO DE SANTA
CATARINA
Processo administrativo .../2017

RECORRENTE, brasileiro, casado, advogado, RG nº..., CPF nº..., e CNH nº...,


categoria “AB”, com endereço na Rua..., nº..., Bairro..., Florianópolis/SC, endereço
eletrônico..., telefone fixo (48)..., vem, respeitosamente à presença de Vossa
Excelência interpor RECURSO CONTRA SUSPENSÃO DO DIREITO DE
DIRIGIR POR EXCESSO DE PONTOS com fundamento nos artigos 265 e
seguintes do Código de Trânsito Brasileiro, pelas razões de fato e direito a seguir
expostas.

1. TEMPESTIVIDADE
Considerando que o recorrente recebeu o Termo de Instauração e Notificação de
suspensão do direito de dirigir nº .../2017 na data de 10 de setembro de 2017,
interpõe-se o presente recurso administrativo dentro do prazo recursal que é de 45
dias contados a partir do recebimento da notificação, e portanto, deve ser
considerado tempestivo.

2. DOS FATOS
No dia 10/09/2017, o recorrente recebeu notificação de procedimento para
suspensão de sua CNH, instaurado pela Gerente Geral das JARIS e Imposição de
Penalidades do DETRAN/SC (doc. 1), por ter anotado em seu prontuário a soma de
20 pontos, atingidos em consequência de 04 autos de infração, todos detalhados
abaixo.

Conforme extrai-se do prontuário, na época das infrações o recorrente possuía na


época, a propriedade do veículo placa..., e recebeu dois autos de infração de
trânsito por excesso de velocidade (doc. 2 e 3) na BR-101, aplicados pela Polícia
Rodoviária Federal.

[Aqui elaborar os fatos de acordo com o seu caso e definir as estratégias. Para
montar as estratégias é preciso que os fatos que deram origem ao recurso estejam
bem especificados e nenhum detalhe pode ser esquecido. Aliás, dê valor aos
detalhes. Por vezes, os pequenos fatos é que desencadeiam consequências maiores.
Ser minucioso e determinado para obter com afinco informações precisas sobre o
assunto é a chave para um bom começo de processo.]

Diante disso, faz-se necessário a fundamentação legal, e pairando dúvida sobre as


infrações, estas devem ser analisadas da forma mais favorável ao recorrente.

3. DO DIREITO
3.1. Do descumprimento do prazo de 30
(trinta dias) e o princípio da legalidade
A penalidade aplicada ao recorrente em consequência do AIT nº... é nula, por ter a
JARI (autoridade de trânsito de Florianópolis) excedido o prazo determinado no
artigo 285 do Código de Trânsito Brasileiro de 30 (trinta) dias, in verbis:

Art. 285. O recurso previsto no art. 283 será interposto perante a autoridade que
impôs a penalidade, a qual remetê-lo-á à JARI, que deverá julgá-lo em até trinta
dias.

§ 1º O recurso não terá efeito suspensivo.

§ 2º A autoridade que impôs a penalidade remeterá o recurso ao órgão julgador,


dentro dos dez dias úteis subseqüentes à sua apresentação, e, se o entender
intempestivo, assinalará o fato no despacho de encaminhamento.

§ 3º Se, por motivo de força maior, o recurso não for julgado dentro
do prazo previsto neste artigo, a autoridade que impôs a penalidade,
de ofício, ou por solicitação do recorrente, poderá conceder-lhe efeito
suspensivo.

Basta a mera análise do dispositivo acima transcrito para constatar que a lei é clara
e inequívoca, levando a única conclusão forçosamente: (i) A JARI tem, como
EXPRESSAMENTE assim prevê oCTBB, o prazo de 30 (trinta) dias para julgar o
recurso; (ii) Salvo por foça maior (§ 3º), o recurso poderá não ser julgado no prazo
de 30 (trinta) dias, cabendo então à autoridade competente, conceder-lhe efeito
suspensivo. O termo “poderá” não impõe obrigação, mas caso a autoridade não o
faça, deverá fundamentar porque deixou de aplicar.

Extrai-se da decisão administrativa proferida pela autoridade de trânsito, que o


recurso extrapolou de maneira espantosa o prazo previsto no § 3º, do art. 285 CTB,
quando demorou 16 meses para apreciá-lo, ou seja, o recurso foi protocolado em
22 de maio de 2014 e o julgamento ocorreu em 28 de setembro de 2015.

Na esteira, deste raciocínio que não destoa, em nenhum momento da margem


legal, cumpre apresentar a Jurisprudência do Egrégio Tribunal de Justiça do Rio
Grande do Sul:

INFRAÇÃO DE TRÂNSITO. RECURSO ADMINISTRATIVO. ATRIBUIÇÃO DE


EFEITO SUSPENSIVO. ART. 285, § 3º, CTB. Conforme entendimento
firmado pelo Superior Tribunal de Justiça, cabível à concessão de
efeito suspensivo a recurso administrativo interposto em face de
penalidade de trânsito não julgado no prazo de trinta dias, nos
termos do art. 285, § 3º, CTB. (TJ-RS - AC: 70053472064 RS, Relator:
Armínio José Abreu Lima da Rosa, Data de Julgamento: 30/10/2013, Vigésima
Primeira Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia
04/11/2013)
E ainda,

REEXAME NECESSÁRIO. DIREITO PÚBLICO NÃO ESPECIFICADO. TRÂNSITO.


PROCEDIMENTO DE SUSPENSÃO DO DIREITO DE DIRIGIR. PRESCRIÇÃO.
INOCORRÊNCIA. NECESSIDADE DE ATRIBUIÇÃO DE EFEITO
SUSPENSIVO AO RECURSO ADMINISTRATIVO NÃO JULGADO NO
PRAZO DE 30 DIAS. ART. 285 DO CTB. PRECEDENTES. SENTENÇA
CONFIRMADA. DECISÃO MONOCRÁTICA. (Apelação e Reexame Necessário Nº
70042920504, Vigésima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Denise Oliveira Cezar, Julgado em 25/05/2011). (TJ-RS - REEX:
70042920504 RS, Relator: Denise Oliveira Cezar, Data de Julgamento:
25/05/2011, Vigésima Segunda Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da
Justiça do dia 31/05/2011)

O Ínclito Tribunal de Justiça de Santa Catarina segue no mesmo traço:

ADMINISTRATIVO - CONSTITUCIONAL - MANDADO DE SEGURANÇA -


PRETENSÃO DE ALTERAÇÃO DE CATEGORIA DE CARTEIRA NACIONAL DE
HABILITAÇÃO OBSTADA PELA EXISTÊNCIA DE REGISTROS DE INFRAÇÕES
DE TRÂNSITO - RECURSOS ADMINISTRATIVOS PENDENTES DE
JULGAMENTO - DIREITO LÍQUIDO E CERTO CARACTERIZADO APÓS
ULTRAPASSADO PRAZO LEGAL DENTRO DO QUAL DEVERIA DECIDIR A
AUTORIDADE DE TRÂNSITO - ART. 285 DO CÓDIGO DE TRÂNSITO
BRASILEIRO. A desídia da autoridade de trânsito na análise de decisão sobre
recursos administrativos que discutem registros de pontos no prontuário do
condutor, decorrentes de infrações de trânsito a ele atribuídas, caracterizada
pelo desrespeito do prazo legal (30 dias), não pode obstar o direito do impetrante
de alterar a categoria de sua habilitação para dirigir, sob pena de ofensa a
direito líquido e certo passível de proteção mediante mandado de segurança.
"MUDANÇA DE CATEGORIA DA CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO.
NEGATIVA DA AUTORIDADE DE TRÂNSITO, SOB O FUNDAMENTO DE
MULTAS NO PRONTUÁRIO. PENDÊNCIA DE RECURSOS ADMINISTRATIVOS.
WRIT DEFERIDO. SENTENÇA CONFIRMADA. REEXAME DESPROVIDO" (TJSC
- RNMS n. 2010.026475-3, de Caçador, Rel. Des. Subst. Paulo Henrique Moritz
Martins da Silva, j. 17/8/2010). (TJSC, Reexame Necessário em Mandado de
Segurança n. 2012.059266-5, de Chapecó, rel. Des. Jaime Ramos, j. 08-11-2012).

O administrador está adstrito a obedecer o comando legal. In casu, o que dispõe o


artigo 285 do CTB, é cristalino, pois não deixa margem de dúvida quanto ao
procedimento administrativo a ser adotado, ou seja, se o recurso não for julgado
dentro do prazo previsto no artigo 285 do CTB, a autoridade que impôs a
penalidade, de ofício, ou por solicitação do recorrente, poderá conceder-lhe efeito
suspensivo. No recurso apresentado pelo recorrente, havia pedido específico para
aplicação do art. 285, § 3º, CTB, a qual não foi apreciada pela autoridade de
trânsito julgadora.
Pois bem, o princípio constitucional da legalidade reza que as condutas da
Administração Pública devem estrita observância ao contido na lei ou no ato
normativo administrativo. Esse é, inclusive, o instrumento pelo qual se permite ao
Poder Público praticar atos que possam ferir interesses dos administrados, pois,
sempre que a lei respaldar haverá presunção absoluta do interesse público, e, por
outro lado, sempre que não houver lei permitindo determinado ato deverá
prevalecer o direito individual.

Neste sentido leciona Maria Sylvia Zanella Di Pietro:

Este princípio, juntamente com o de controle da Administração pelo Poder


Judiciário, nasceu com o Estado de Direito e constitui uma das principais
garantias de respeito aos direitos individuais. Isto porque a lei, ao mesmo tempo
em que os define, estabelece também os limites da atuação administrativa que
tenha por objeto a restrição ao exercício de tais direitos em benefício da
coletividade. É aqui que melhor se enquadra aquela ideia de que, na relação
administrativa, a vontade da Administração Pública é a que decorre da lei.
(Direito Administrativo. 21. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 62-63).

Assim, a administração pública, ao impor sanção ao recorrente atenta contra o


princípio constitucional da legalidade administrativa, disposta no artigo 37, caput,
da Constituição Federal[1], fazendo por merecer a reprimenda de nulidade.

Como decorrência do princípio da legalidade, deve ser observado o princípio do


devido processo legal, visto que, para se impor uma sanção ao administrado será
imprescindível que a Administração Pública não apenas cumpra a lei, mas,
principalmente, observe o devido processo por ela estabelecido.

Salienta-se ainda, que a JARI, observando que o prazo iria esgotar,


deveria ter utilizado o § 3º do artigo 285 do CTB, pois deveria, lembrar
que a multa é uma penalidade, e, neste contexto, deve ser interpretada
restritivamente em relação ao recorrente. Logo, não se pode admitir que o
prazo para julgamento de recurso administrativo seja deixado ao alvedrio da JARI,
diante da inexistência de previsão legal expressa deste prazo, especialmente nos
casos em que a suspensão da penalidade em virtude do excesso de prazo sequer foi
cogitada pela administração, que poderia fazê-lo de ofício (Código de Trânsito, art.
285, § 3º).

Sublinha-se, que havia pedido insofismável e cristalino no Recurso


Administrativo apresentado pelo recorrente, especificamente no item
b, que caso o recurso não fosse julgado no prazo legal, deveria ser aplicado pela
autoridade trânsito julgadora, o disposto no art. 285, § 3º do CTB, que aliás,
sequer foi analisado na decisão administrativa que aplicou a penalidade.

Destarte, a partir do momento em que esse processo foi estabelecido,


independentemente de sua origem remontar a uma faculdade ou opção do ente
político, é imperioso que ele seja cumprido, pois essa é a esperança embutida no
espírito dos administrados, e principalmente, do recorrente, ou seja, todos os
motoristas esperam francamente que o Poder Público cumpra o devido processo
legal estabelecido.

Ressalta-se ainda, que alguns entendimentos na seara administrativa vêm


equivocadamente caminhando para uma interpretação falha, sustentando que o
não cumprimento do prazo previsto no artigo 285 não prejudicaria o julgamento
do recurso de trânsito administrativo, induzindo a acreditar que o preceito legal
traduz-se em esmera. Contudo, numa análise mais acurada, percebe-se que não
prospera esta argumentação, pois o Administrador está estritamente vinculado aos
preceitos legais. Descabe a ele questionar o preceito normativo, pois deverá partir-
se do pressuposto que a norma vigente possui plena legitimidade e coercitividade.

É aqui que melhor se enquadra aquela ideia de que, na relação administrativa, a


vontade da Administração Pública é a que decorre da lei. Ademais, o princípio da
legalidade reza que a Administração Pública só pode fazer o que a lei permite.

Mas mesmo assim, caso houvesse alguma dúvida, a interpretação deveria ser
também favorável ao recorrente. A multa, como forma penal de punir o agente
infrator deve ser interpretada e analisada favoravelmente a este, quando há,
alguma dúvida a sanar. Este princípio fundamental tem aplicação em qualquer lei
nacional, seja a lei penal stricto sensu, seja a lei tributária, seja a lei administrativa,
como se assemelha o CTB.

É imperioso consignar, que o prazo de 30 (trinta) dias determinado expressamente


pelo Código de Trânsito Brasileiro, constitui prazo decadencial como procedimento
administrativo que representa. A lei, como exposto alhures, não confere ao
administrador outra alternativa senão o julgamento naquele prazo, comportando
inclusive apenas uma exceção: quando comprovada força maior. Quando não há
força maior, não poderá a Administração perpetuar sua ineficiência em total
detrimento ao administrado.

Ante o todo demonstrado, percebe-se com nitidez a obrigatoriedade das


autoridades administrativas cumprirem o disposto rigorosamente na Lei de
Trânsito. O descumprimento do artigo 285 do CTB enseja o cancelamento da
multa e suas consequências, pelos motivos fartamente expostos.

3.2. Da falta de fundamentação da


decisão de indeferimento
Se a lei assegura o direito ao recurso administrativo e cria um órgão para julgá-lo, é
de rigor que ao recorrente seja dado o motivo pelo qual seu recurso fora indeferido.

Assim, nula é a decisão administrativa que limita-se a dizer laconicamente, que o


recurso fora indeferido, tecendo apenas um excerto genérico utilizado em todas as
decisões frente às múltiplas teses aviadas contra a aplicação de penalidade imposta
ao recorrente.
É cediço e notório que nas infrações de trânsito, é essencial as fundamentações das
decisões administrativas, notadamente as de cunho punitivo, devem conter em sua
motivação a exposição das razões que levaram a adoção da medida.

Na decisão referida, cuja cópia se encontra acosta (doc. 6), a Autoridade de


Trânsito limitou-se a dizer que o recurso apresentado pelo infrator não apontou
vícios que possam desqualificar o auto de infração aplicado, o qual se encontra
em conformidade com os requisitos previstos no art. 280 do CTB.

Evidentemente, motivação desse gênero não se amolda à exigência legal e fere o


direito constitucional do devido processo legal[2], do contraditório e da ampla
defesa[3] (art. 5º, incisos LVI e LV, respectivamente).

Nessa esteira, a jurisprudência pátria, trazida à colação pelo recorrente, firma-se


no sentido de que a decisão administrativa como a ora debatida não pode
prosperar.

DIREITO ADMINISTRATIVO. INFRAÇÃO DE TRÂNSITO. APLICAÇÃO DE


PENALIDADE. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO E MOTIVAÇÃO.
AMPLA DEFESA E DEVIDO PROCESSO LEGAL. INOBSERVÂNCIA.
NULIDADE DO ATO ADMINISTRATIVO. 1. O ATO ADMINISTRATIVO
EMPREENDIDO PELO DETRAN, ESPECIALMENTE QUANDO DISSER
RESPEITO À RESTRIÇÃO DE DIREITOS, DEVE, SOB PENA DE NULIDADE, SER
MOTIVADO. SENDO NULA, PORTANTO, A DECISÃO QUE IMPÕE AO
CONDUTOR A SUSPENSÃO DO DIREITO DE DIRIGIR E PARTICIPAÇÃO
OBRIGATÓRIA EM CURSO DE RECICLAGEM, SEM LEVAR EM
CONSIDERAÇÃO AS RAZÕES VEICULADAS NA DEFESA E NÃO
FUNDAMENTAR A DECISÃO E, AINDA, DEIXAR DE PROCEDER À INTIMAÇÃO
PRÉVIA DO CONDUTOR. 2. SENTENÇA ESCORREITA. REMESSA A QUE SE
NEGA PROVIMENTO (TJ-DF - REMESSA DE OFÍCIO: 20040110178002 DF,
Relator: MARIO-ZAM BELMIRO, Data de Julgamento: 19/09/2005, 3ª Turma
Cível, Data de Publicação: DJU 03/11/2005 Pág: 84)

E ainda,

CONSTITUCIONAL, ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE


SEGURANÇA. REMESSA NECESSÁRIA E APELAÇÃO. PRELIMINAR DE NÃO
CONHECIMENTO DO RECURSO OFICIAL LEVANTADA PELO RELATOR.
ACOLHIMENTO. APLICAÇÃO DO PARÁGRAFO 2º DO ART. 475 DO CPC, COM A
REDAÇÃO DADA PELA LEI Nº 10.352/2001. INFRAÇÃO DE TRÂNSITO.
SUSPENSÃO DO DIREITO DE DIRIGIR. CURSO DE RECICLAGEM.
INOBSERVÂNCIA DOS PRINCÍPIOS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA
DEFESA. AUSÊNCIA DE FUNDAMENTAÇÃO. NULIDADE DO ATO
ADMINISTRATIVO EMANADO DA AUTORIDADE DE TRÂNSITO.
VIOLAÇÃO A DIREITO LÍQUIDO E CERTO. SENTENÇA QUE CONCEDEU A
SEGURANÇA CONFIRMADA. PRECEDENTES. (TJ-RN - AC: 29303 RN
2001.002930-3, Relator: Des. João Rebouças, Data de Julgamento: 22/09/2005,
3ª Câmara Cível, Data de Publicação: 09/11/2005)
Diante de tais concretudes, há que entender, que faltou o Princípio da Motivação
dos Atos Administrativos, onde trata-se, evidentemente de um ato administrativo
VINCULADO, que segundo a melhor doutrina, de Hely Lopes Meirelles:

São aqueles para os quais a lei estabelece os requisitos e condições de sua


realização. Nessa categoria de atos, as imposições legais absorvem, quase por
completo, a liberdade do administrador, uma vez que a sua ação fica adstrita aos
pressupostos estabelecidos pela norma legal para a validade da atividade
administrativa (LOPES MEIRELLES, Hely, Direito Administrativo Brasileiro, p.
170).

Mesmo ante o contrassenso apresentado, a JARI se omitiu em julgar de forma


coerente, embasando com fundamentos quase vazios e com a devida vênia, está à
baila um modelo padrão utilizado para todos os recursos que ali estão sub
examine. O julgador fundamentou de forma genérica, não tendo assim zelo em
apreciar o caso concreto, que é salutar do Ordenamento Jurídico. Sendo assim,
absolutamente descabida é a aplicação de pena à suposta infração.

É de notório conhecimento que a autoridade de trânsito, deveria, na esfera de sua


competência estabelecida no Código de Trânsito Brasileiro, e dentro de sua
circunscrição, julgar de forma fundamentada e motivada os recursos ali
interpostos, a fim de que se apliquem as penalidades estatuídas no CTB de forma
justa. Cabe dizer que, julgar é gênero da qual é espécie fundamentar.

Pela Teoria dos Motivos Determinantes[4], a validade do ato administrativo está


vinculada à existência e veracidade dos motivos apontados como fundamentos
para a decisão adotada, sujeitando o ente público aos seus termos. Verificando que
os fundamentos que culminaram no indeferimento do pedido administrativo não
ocorreram, o ato é nulo à luz da Teoria dos Motivos Determinantes.

O dever de fundamentação alcança todas as esferas de expressão do poder público,


não excluindo, daí, a JARI, por hora, decisão administrativa em recurso de
infração de trânsito. Há necessidade de motivação dos atos administrativos
decisórios, em decorrência direta dos princípios da administração, elencados no
caput do artigo 37 da Constituição Federal, de modo que seja possível aferir a
obediência aos princípios que regem a administração pública.

No presente caso, a autoridade julgadora, limitou-se a dizer (indeferido), o que por


evidente não é razoável, o que dá azo à fragilidade em que goza a presunção de
legitimidade e veracidade dos atos administrativos. Deste modo, é crível concluir
pela ausência das condições do procedimento administrativo. E, por consequência,
requer-se com supedâneo no que acima se delineou, a anulação do ato
administrativo, que está eivado de vícios.

3.3. Da falta de notificação da autuação


A Constituição da República consagra em seu artigo 5º, incisos LIV e LV o
princípio do devido processo legal e do contraditório e ampla defesa, supra citados.
Trata-se, indubitavelmente, de garantia contra eventuais abusos e arbitrariedades
por parte da máquina estatal, em favor de todo e qualquer cidadão.

Note Excelência, que tamanha é a relevância do devido processo legal que nosso
ordenamento o elegeu com “PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL”, o que
denota toda sua carga axiológica, pois se tem, atualmente, o entendimento
uníssono de que princípio constitucional possui normatividade e efetividade
“supra legal”. Nesse sentido, os princípios são verdades jurídicas universais, e,
assim sendo, são consideradas normas primárias, pois são o fundamento da ordem
jurídica, enquanto que as normas que dele derivam possuem caráter secundário.

Já com relação à legislação infraconstitucional, são claríssimos os mandamentos


relativos ao processo administrativo necessário para a aplicação de penalidades em
caso de cometimento de infração de trânsito.

O capítulo XVIII, artigos 280 – 290 da Lei 9.503/97 que instituiu o Código de
Trânsito Brasileiro – CTB e a Resolução 363/2010 do CONTRAN estabelecem
detalhadamente o procedimento a ser observado com vistas a aplicação das
penalidades previstas no CTB. Tudo isso, evidentemente, em atenção ao supra
invocado PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL, em seus principais
desdobramentos, quais sejam, o contraditório e a ampla defesa.

Com base em todo o ordenamento jurídico, especialmente nas normas retro


invocadas, é que forçosamente concluímos que a falta de notificação da autuação
de infração de trânsito, necessariamente, invalida todo o processo administrativo
daí decorrente, senão vejamos:

O artigo 3º da Resolução 363/2010 expressamente determina a expedição de


notificação da autuação ao proprietário do veículo, que deverá ocorrer em no
máximo 30 dias do cometimento da infração, apresentando apenas uma exceção
referente aos casos em que o infrator é abordado no ato da infração e coincide com
o proprietário. Abaixo, é o texto in verbis:

Art. 3º À exceção do disposto no § 5º do artigo anterior, após a verificação da


regularidade e da consistência do Auto de Infração, a autoridade de trânsito
expedirá, no prazo máximo de 30 (trinta) dias contados da data do cometimento
da infração, a Notificação da Autuação dirigida ao proprietário do veículo, na
qual deverão constar os dados mínimos definidos no art. 280 do CTB e em
regulamentação específica.

O § 2º do mesmo artigo, em consonância com o parágrafo único, inciso II do artigo


281 do CTB, traz:

§ 2º A não expedição da Notificação da Autuação no prazo previsto no caput


deste artigo ensejará o arquivamento do auto de infração.
Desta forma, claro se mostra a contrariedade ao texto de lei disposto no Código de
Trânsito Brasileiro, sendo que não resta outra alternativa senão a anulação dos
autos de infrações números... (doc. 4).

3.4. Do cerceamento de defesa


Como demonstrado anteriormente um dos principais desdobramentos do
PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL é externado pela ampla defesa, que
importa no direito do processado a todos os meios de defesa em direito
autorizados, bem como ao questionamento mesmo das decisões administrativas ou
judiciais ao caso inerente por meio de DEFESAS E RECURSOS previamente
estabelecidas pela lei. Assim, é inegável que a supressão de qualquer meio de
defesa ou grau de recurso afronta diametralmente o PRINCÍPIO DO DEVIDO
PROCESSO LEGAL e, consequentemente, todo o ordenamento jurídico pátrio.

Em se tratando de processo administrativo destinado a aplicação de penalidade em


decorrência de infração de trânsito, temos, sinteticamente, o seguinte
procedimento:

I. Lavratura do auto de infração de trânsito (artigo 280 do CTB);

II. Notificação da autuação (artigo 3º da Resolução 363/2010 do CONTRAN);

III. Defesa preliminar ou da autuação (§ 3º, do artigo 3º da Resolução 363/2010


do CONTRAN);

IV. Julgamento do AIT, verificação de regularidade e consistência (artigo 281);

V. Notificação da penalidade de multa (artigo 282, caput, do CTB);

VI. Recurso direcionado à JARI do órgão autuador (artigos 286 e 287 do CTB);

VII. Recurso direcionado ao CETRAN contra decisão da JARI do órgão autuador


(artigos 288 – 290 do CTB).

Com o julgamento deste último recurso encerra-se o processo administrativo, pois


que da decisão do CETRAN não cabe recurso em esfera administrativa.

Delineadas as etapas do processo administrativo para imposição da penalidade de


multa de trânsito, basta, agora, verificar a observância de todos os preceitos legais.

No caso em tela, a falta da notificação da autuação do auto número... (doc. 4)


impediu a apresentação da defesa prevista no § 3º do artigo 3º da Resolução
363/2010 do CONTRAN e, portanto, é irrefutável que houve cerceamento da
defesa do Autor, motivo pelo qual deve ser anulado in totum o processo de
aplicação da penalidade de multa com todas as suas consequências, sob pena de se
ratificar ato administrativo arbitrário e contaminado pelo monstro da ilegalidade,
por nítida ofensa ao PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL.

Ao ensejo é imperioso destacar que a violação de princípios é mais grave que violar
uma regra infraconstitucional, ou seja, é desrespeitar todo ordenamento pátrio,
esse e entendimento do Ilustríssimo doutrinado Celso Antônio Bandeira, in verbis:

“Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma qualquer. A
desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específico mandamento
obrigatório, mas a todo sistema de comandos. É a mais grave forma de
ilegalidade ou inconstitucionalidade...” (Celso Antônio Bandeira de Melo - Curso
de Direito Administrativo).

Não há como referendar tamanha afronta a direito garantido constitucionalmente,


posto que a falta do devido processo legal torna este processo nulo de pleno direito
e já trouxe demasiados problemas ao recorrente. Por isso, deve-se declarar a
nulidade do AIT número... (doc. 4).

3.5. Da aplicação da suspensão


De acordo com o artigo 261 do CTB, alterado pela Redação dada pela Lei nº 13.281,
de 2016, a pena de suspensão será de 6 meses a 12 meses, sempre que o condutor
atingir 20 em um período de 12 meses e não seja reincidente.

Entretanto, o processo administrativo instaurado pela Gerente Geral das JARI


refere-se ao excesso de pontos atingidos no período de 12 meses, entre 12/06/2013
a 11/06/2014, logo, caso Vossa Excelência não acolha os argumentados retro
aduzidos e não arquive o processo administrativo de suspensão do direito de
dirigir por excesso de pontos, requer que a pena de suspensão seja aplicada no seu
mínimo, conforme o artigo 261 do CTB, vigente à época das infrações, in verbis:

Art. 261. A penalidade de suspensão do direito de dirigir será aplicada, nos casos
previstos neste Código, pelo prazo mínimo de um mês até o máximo de
um ano e, no caso de reincidência no período de doze meses, pelo prazo mínimo
de seis meses até o máximo de dois anos, segundo critérios estabelecidos pelo
CONTRAN.

Art. 261. A penalidade de suspensão do direito de dirigir será imposta nos


seguintes casos: (Redação dada pela Lei nº 13.281, de 2016) (Vigência)

I - sempre que o infrator atingir a contagem de 20 (vinte) pontos, no período de


12 (doze) meses, conforme a pontuação prevista no art. 259; (Incluído pela Lei nº
13.281, de 2016) (Vigência)

[...]
Isso porque, a lei não retroage, salvo se for para beneficiar. Logo, a lei
que deve ser aplicada é aquela vigente à época das infrações.

Observa-se no prontuário do recorrente que possui 4 infrações imputadas a sua


autoria, sendo que destas apenas 2 foram efetivamente provocadas pelo recorrente,
quais sejam, excesso de velocidade (doc. 2 e doc. 3) em que em ambas, ultrapassou
o limite em apenas 8km/h.

Já as outras duas infrações, são postas em dúvida, uma vez que, naquela debatida
exaustivamente em recurso administrativo enviado a JARI de Florianópolis (doc.
6), prova-se que o recorrente não a cometeu. E quanto aquela por ultrapassar sinal
vermelho (doc 4), também é estranha ao recorrente, uma vez que houve a falta de
expedição de notificação dentro do prazo legal, e ainda, os escândalos envolvendo a
empresa responsável pelos radares.

4. DO PEDIDO
a) Diante do exposto requer como medida de inteira e pura justiça, que o presente
recurso seja recebido, conhecido e julgado procedente para arquivar o processo
administrativo nº .../2017 instaurado pela Gerente Geral das JARI e Imposição de
Penalidades do DETRAN/SC, sem a imposição de penalidade de suspensão do
direito de dirigir ao recorrente;

b) Requer ainda, que o auto de infração número... (doc. 4) seja arquivado por falta
de notificação dentro do prazo legal, o que impossibilitou o pleno exercício da
ampla defesa e contraditório;

c) Requer quanto ao auto nº... (doc. 5), que também seja arquivado, pois a multa,
como forma penal de punir o agente infrator deve ser interpretada e analisada
favoravelmente ao recorrente/infrator, quando há alguma dúvida a sanar, tendo
sido o recorrente injustiçado na decisão que culminou na aplicação de sanção
diante do recurso administrativo (doc. 6);

d) Caso Vossa Senhoria assim não entenda, requer que a suspensão do direito de
dirigir seja aplicada no seu mínimo legal, conforme a legislação vigente à época das
infrações, posto que, a lei nova não pode ser aplicada às situações constituídas
sobre a vigência da lei revogada ou modificada, conforme aduz o princípio da
irretroatividade legal;

Termos em que,

Pede deferimento.

Florianópolis, 20 de novembro de 2017

Recorrente
Assinatura

[1] Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios
de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao
seguinte [...] (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

[2] LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido
processo legal;

[3] LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em


geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela
inerentes;

[4] A Teoria dos Motivos Determinantes está relacionada a prática de atos


administrativos e impõe que, uma vez declarado o motivo do ato, este deve ser
respeitado. Esta teoria vincula o administrador ao motivo declarado. Para que haja
obediência ao que prescreve a teoria, no entanto, o motivo há de ser legal,
verdadeiro e compatível com o resultado. Vale dizer, a teoria dos motivos
determinantes não condiciona a existência do ato, mas sim sua validade.

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