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ILUSTRÍSSIMO SENHOR DIRETOR-GERAL DO DEPARTAMENTO DE

ESTRADAS DE RODAGENS DO DISTRITO FEDERAL – DER/DF

Auto de Infração nº xxxxx

MARIAZINHA DE TAL, brasileira, casada, empresária,


portadora da cédula de identidade RG 1.234.567.890 SSP/RR, inscrita
no CPF/MF sob o nº 123.456.789-00, CNH nº 987654321/BA, residente
e domiciliada na Casa Dela, Cidade de Deus/MG, CEP 01.234-567,
endereço eletrônico bolinhadegude@gmail.com, telefone 31-9999-9999,
por seu advogado, conforme procuração anexa, vem, à presença de
Vossa Senhoria, apresentar

DEFESA PRÉVIA

em relação à notificação sob referência, o que faz nos termos das razões
que se seguem:
2. DA TEMPESTIVIDADE

O Código de Trânsito Brasileiro não prevê expressamente


essa modalidade de defesa, tampouco seu prazo, todavia, a Notificação
de Autuação da Infração estabeleceu como data limite para interposição
da defesa prévia o dia 01/01/2017.

3. DAS INTIMAÇÕES

Requer que as intimações referentes ao presente recurso


sejam remetidas para o endereço assinalado no rodapé das páginas,
dirigidas ao advogado signatário.

4. DO EFEITO SUSPENSIVO

O Código de Trânsito Brasileiro, faz alusão


a penas restritivas de direito em seu capítulo de Penalidades, e algumas
dessas penas são extremamente severas.
Deste modo, há que ser observado que a não concessão do
efeito suspensivo ao presente recurso pode gerar danos irreparáveis,
bem como injustiças imutáveis à Peticionária.
Cumpre ainda ressaltar que a concessão de efeito
suspensivo prestigia as garantias Constitucionais do devido processo
legal, da ampla defesa e contraditório e ainda o princípio da não
culpabilidade.
Mesmo diante de evidências que, em princípio, apontem
para a prática de infração de trânsito por parte da Peticionária, a
inobservância de seu estado de inocência será deveras traumática, uma
vez que é certo que ao final o presente recurso será acolhido.
Requer, pois, seja atribuído efeito suspensivo ao presente
recurso.

5. DOS FATOS

A Autuada dirigia normalmente o veículo de propriedade


da família, com o costumeiro cuidado e zelo, quando foi abordada em
uma fiscalização rotineira na rodovia DF 051 – EPGU.
Durante a abordagem um agente verificou o seu
documento pessoal e também o documento do veículo.
Em seguida, o Agente de Trânsito indagou à requerente
se havia oposição em se submeter a teste de alcoolemia no aparelho
etilômetro, popularmente denominado de bafômetro, ao tempo em que
a Recorrente se recusou, sob o fundamento de que não havia ingerido
bebida alcoólica e – em consequência lógica – não apresentava qualquer
sintoma que justificasse tal teste, tornando assim um ato de violência
contra o estado de inocência constitucionalmente assegurado.
De modo açodado o agente reteve a CNH da requerente,
e a notificou por conduzir sob efeito de álcool, fundamentando o ato no
art. 165-A do CTB.
Não foi tomada, por parte do Agente de Trânsito,
nenhuma providência diversa da oferta do teste do etilômetro, a fim de
efetivamente identificar a suposta embriaguez na direção de veículo
automotor.
O veículo, que já se encontrava devidamente estacionado,
ficou retido até que o esposo da Autuada o Sr. José compareceu e retirou
o veículo, que consta registrado em seu nome junto ao DETRAN/AM.

6. DA INSUBSISTÊNCIA DO AUTO DE INFRAÇÃO

O Art. 280 do Código de Trânsito Brasileiro regula a


lavratura do auto de infração de trânsito e o eventual reconhecimento
de sua insubsistência, vejamos:
Art. 280. Ocorrendo infração prevista na legislação de trânsito,
lavrar-se-á auto de infração, do qual constará:
I - tipificação da infração;
II - local, data e hora do cometimento da infração;
III - caracteres da placa de identificação do veículo, sua marca e
espécie, e outros elementos julgados necessários à sua identificação;
IV - o prontuário do condutor, sempre que possível;
V - identificação do órgão ou entidade e da autoridade ou agente
autuador ou equipamento que comprovar a infração;
VI - assinatura do infrator, sempre que possível, valendo esta como
notificação do cometimento da infração.
[...]
Art. 281. A autoridade de trânsito, na esfera da competência
estabelecida neste Código e dentro de sua circunscrição, julgará a
consistência do auto de infração e aplicará a penalidade cabível.
Parágrafo único. O auto de infração será arquivado e seu registro
julgado insubsistente:
I - se considerado inconsistente ou irregular;
II - se, no prazo máximo de sessenta dias, não for expedida a
notificação da autuação.
II - se, no prazo máximo de trinta dias, não for expedida a
notificação da autuação.

Deste modo, nos termos do art. 281 CTB, após a lavratura


do auto de infração a autoridade de trânsito verificará se o auto de
infração gerado atende por completo aos comandos do art. 280 ou se há
alguma observação que justifique o seu não atendimento.
Caso haja alguma inconsistência o auto de infração deverá
ser arquivado.
O agente de trânsito deve fazer constar obrigatoriamente
na autuação as informações relacionadas nos incisos I a VI do art. 280
ou justificar a impossibilidade de fazê-lo.
No auto em tela temos que o agente de trânsito deixou de
atender ao comando do art. 280, VI CTB. Deixou de colher a assinatura
na autuada no campo próprio do formulário do auto de infração e não
justificou a sua impossibilidade ou a recusa dela em assinar.
É possível verificar que o agente colheu a assinatura do
Sr. José, esposo da autuada no campo específico para observações,
abaixo da informação de que ele teria comparecido como condutor
habilitado e retirado o veículo que ficou retido após a lavratura do auto
de infração, entretanto não faz menção à assinatura da Autuada ou a
recusa desta em assinar.
Não fosse isso suficiente, há uma assinatura de pessoa até
o momento não identificada no campo nº 8 do auto de infração, onde
deveria constar a assinatura da Autuada.
A assinatura não corresponde à da Autuada, a do sr. José
ou mesmo a do agente de trânsito que lavrou o auto, deste modo, resta
claro que o auto não observou atende ao art. 280 e deve ser arquivado
conforme prevê art. 281.
No mesmo sentido dos arts. 280 e 281 CTB são os arts. 2º
e 3º da Resolução nº 404/2012 do CONTRAN:
Art. 2° Constatada a infração pela autoridade de trânsito ou por seu
agente, ou ainda comprovada sua ocorrência por aparelho
eletrônico ou por equipamento audiovisual, reações químicas ou
qualquer outro meio tecnologicamente disponível, previamente
regulamentado pelo CONTRAN, será lavrado o Auto de Infração
que deverá conter os dados mínimos definidos pelo art. 280 do
CTB e em regulamentação específica.
Art. 3º À exceção do disposto no § 5º do artigo anterior, após a
verificação da regularidade e da consistência do Auto de Infração,
a autoridade de trânsito expedirá, no prazo máximo de 30 (trinta)
dias contados da data do cometimento da infração, a Notificação
da Autuação dirigida ao proprietário do veículo, na qual deverão
constar os dados mínimos definidos no art. 280 do CTB e em
regulamentação específica.
§ 5º Os dados do condutor identificado no Auto de Infração
deverão constar na Notificação da Autuação, observada a
regulamentação específica.

Além de não atender especificamente aos artigos 280 e 281


do CTB o auto de infração lavrado e a notificação expedida não atendem
ainda aos artigos 2º e 3º da Resolução 404/12 CONTRAN.
Os dados da Autuada não constam da notificação
expedida, e aqueles que constam estão apresentados em desacordo com
a realidade e também com o auto de infração.
Há um desencontro entre os dados apresentados.
O número de registro da CNH da autuada é tal e a
Unidade da Federação de Origem é o Distrito Federal, entretanto no
campo específico dos dados do condutor identificado a notificação traz
a Unidade da Federação como sendo o Rio Grande do Sul.
Outro erro é o número do CPF apresentado na
notificação, aquele número não é da Autuada, nem do seu esposo, em
nome de quem o veículo se encontra registrado.
Tais falhas, contaminam e, consequentemente, invalidam
o auto de infração e a notificação expedida, devendo ser promovido o
seu arquivamento.
As inconsistências apresentadas impedem o exercício do
direito constitucionalmente garantido à ampla defesa em sua plenitude.

7. DA NÃO CONSTATAÇÃO DE EMBRIAGUEZ

Conforme relatado nos fatos, o agente de trânsito buscou


diretamente a realização do teste do etilômetro, sem qualquer
justificativa plausível.
Não há qualquer menção no auto de infração que a
Autuada teria apresentado algum indício de embriaguez.
Observa-se ainda que não fora requerido ou questionado
qualquer se a condutora se encontrava ou não em estado de
embriaguez.
Não se pode concluir que a condutora apresentava estado
de embriaguez sem qualquer meio comprobatório, baseando-se apenas
na recusa do teste do etilômetro, sendo esta autuação injusta.
Tendo a condutora se negado a realizar o exame
etilômetro, caberia a autoridade constatar eventuais sinais que
denotassem possível estado de embriaguez da motorista, conforme
determina do parágrafo 2º, do artigo 277, do Código de Trânsito
Brasileiro.
Deste modo, o exame etilômetro, não é o único meio hábil
para constatar se o condutor autuado está sob efeito de álcool ou outra
substância.
Lado outro, não consta do auto de infração que a
Condutora tenha se negado a realizar os demais procedimentos
previstos no artigo 277.
A Constituição da República desobriga o condutor de se
submeter contra a sua vontade ao teste do etilômetro, não podendo esse
fato ser entendido em seu desfavor sem que haja um conjunto
probatório mínimo.
Deveria o agente ter feito constar no campo de
observações se a Condutora apresentava qualquer indício de influência
alcóolica, uma vez que a Resolução nº 432/2013 do CONTRAN, que
regulamenta os procedimentos e abordagens em casos de fiscalização
por consumo de álcool ou de outra substância, preceitua em seu artigo
3º procedimentos capazes de confirmar se o condutor se encontra sob
influência de álcool ou de outra substância psicoativa, deixando claro
que o fiscal de trânsito tem a seu dispor outros meios de prova e não
podendo se valer exclusivamente do teste do etilômetro.
Nesse mesmo sentido, o art. 5º da mesma resolução
oriente como devem ser observados os sinais de alteração da
capacidade psicomotora:
Art. 5º Os sinais de alteração da capacidade psicomotora poderão
ser verificados por:
I – exame clínico com laudo conclusivo e firmado por médico
perito; ou
II – constatação, pelo agente da Autoridade de Trânsito, dos sinais
de alteração da capacidade psicomotora nos termos do Anexo II.
§ 1º Para confirmação da alteração da capacidade psicomotora pelo
agente da Autoridade de Trânsito, deverá ser considerado não
somente um sinal, mas um conjunto de sinais que comprovem a
situação do condutor.
§ 2º Os sinais de alteração da capacidade psicomotora de que trata
o inciso II deverão ser descritos no auto de infração ou em termo
específico que contenha as informações mínimas indicadas no
Anexo II, o qual deverá acompanhar o auto de infração.

Poderia o ilustre agente de trânsito ter aferido a


capacidade psicomotora da Autuada de outro modo que não o
etilômetro, colhendo no campo de observação do auto de infração caso
houvesse alguma irregularidade, não o fazendo atesta que não havia
qualquer elemento que corroborasse com eventual necessidade de
realização de citado teste.
Finalmente, diante da presunção de legitimidade e
legalidade de que gozam as autuações, e considerando, conforme citado
anteriormente, o princípio constitucional da ampla defesa e do
contraditório que se estendem também a processos administrativos,
requer, desde logo, o deferimento de produção de prova testemunhal a
fim de provar o que aqui se alega.

8. DOS PEDIDOS

Ante ao exposto, invocando os doutos suprimentos de V.


Sª. para que:
a) seja conhecido o presente recurso, sendo
emprestado efeito suspensivo, a fim de sustar a
aplicação de quaisquer das penalidades cominadas em
lei antes do seu julgamento final;
b) sejam acolhidas as razões recursais, sendo, ao
final seja julgado procedente a fim de anular o Auto
de Infração nº tal;
c) entendendo V. Sª. De modo diverso, que seja
deferida a produção de prova testemunhal com a
oitiva de c.1) José, residente e domiciliado na ........,
porquanto compareceu ao local para realizar a
liberação do veículo retido; e c.2) do agente de trânsito
matricula nº xxx.xxx, que foi o signatário do auto de
infração ora combatido; e c.3) depoimento pessoal da
Recorrente.
Termos em que pede e aguarda deferimento

Brasília-DF, 08 de agosto de 2017.

ADVOGADO AUTUADA
OAB/DF 1010 CPF: 123.456.789-00

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