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EXMO.

SENHOR JULGADOR
SISTEMA DE CONTROLE DE MULTAS – SISCOM
POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL

Ref. Auto de Infração nº T112280811


Defesa Administrativa

LUIZ DE CASTRO MONTEIRO NETO, brasileiro, portador


de CNH Nº 04276834244, inconformado com a infração que lhe
é atribuída, vem apresentar Defesa Administrativa perante
Vossa Excelência, o que faz na forma dos seguintes fatos e
fundamentos:

I – Dos fatos.

O Defendente foi autuado por, supostamente, “dirigir sob a


influência de álcool ou outra substância entorpecente”, infração tipificada no art. 165 do
Código de Trânsito Brasileiro, no dia 21 de maio de 2017, às 17 horas e 25 minutos, de
placas FAG9989.
Contudo, a situação acima mencionada não ocorreu conforme o
descrito no auto de infração ora atacado, motivo pelo qual o Defendente interpõe a
presente defesa, cuja procedência se impõe.

II – Nulidade. Ausência de Tiras de Etilômetro.

De início, cumpre ressaltar a necessidade de diversos requisitos


para a devida validade do Auto de Infração de Trânsito, estando estes elencados junto ao
artigo 280 do Código de Trânsito Brasileiro. Entretanto, tais requisitos são elementares,
sendo essenciais para validação da ocorrência de qualquer infração.
Em casos específicos e que demandem outros requisitos, até
mesmo por sua natureza ou adversidades encontradas na aplicação das normas de
trânsito, o CONTRAN encontra a liberdade para elaboração de resoluções que
determinem as exigências mínimas, de acordo com os poderes atribuídos à si pelo artigo
12, I, do CTB.
Justamente nesse contexto, o referido órgão emitiu a Resolução
nº 432, de 23 de janeiro de 2013, a qual versa sobre os procedimentos a serem adotados
pelas autoridades de trânsito e seus agentes na fiscalização do consumo de álcool ou de
outra substância psicoativa que determine dependência.
Nesse sentido, verifica-se que o auto de infração ora atacado se
apresenta eivado de irregularidades, principalmente, tendo em vista o que determina o
artigo 8, §1º, da resolução supra mencionada, a qual determina a imprescindibilidade de
anexar os resultados e documentos gerados pelos procedimentos que visam determinar o
nível de substâncias psicoativas.
Como se pode depreender da análise do presente Auto de
Infração, não houve o anexo dos referidos documentos, declarados essenciais à validade
do documento comprobatório da suposta infração de trânsito. Tal é essencial, entre
outras razões, pois nele estariam contidos todos os dados do aparelho Etilômetro, bem
como sua verificação e certificação do INMETRO, elementos indispensáveis para que o
teste pudesse ser exigível.
Logo, não há que se falar em conduzir o veículo em estado de
embriaguez, porquanto a própria autoridade de trânsito deixou de anexar as tiras de
etilômetro a fim de comprovar os resultados que alega.

III – Nulidade. Ausência de Aferição pelo INMETRO.

Além das demais irregularidades apontadas acima, compulsando


o auto de infração, verifica-se a ausência de informação acerca da última aferição do
inmetro realizada no aparelho de etilômetro utilizado para a imputação da
presente infração, item imprescindível para a validade do ato, tornando-se, assim, o
auto de infração totalmente nulo em razão da ausência de tal informação obrigatória.
Nesse sentido, colaciona-se o dispositivo da Resolução n.º
432/2013 do CONTRAN, que regulamenta o assunto:

“Art. 4º O etilômetro deve atender aos seguintes requisitos:

I – ter seu modelo aprovado pelo INMETRO;


II – ser aprovado na verificação metrológica inicial, eventual, em
serviço e anual realizadas pelo Instituto Nacional de Metrologia,
Qualidade e Tecnologia - INMETRO ou por órgão da Rede Brasileira
de Metrologia Legal e Qualidade - RBMLQ;

Parágrafo único. Do resultado do etilômetro (medição realizada)


deverá ser descontada margem de tolerância, que será o erro máximo
admissível, conforme legislação metrológica, de acordo com a
“Tabela de Valores Referenciais para Etilômetro” constante no Anexo
I.” – grifei.

Ademais, é cediço nos diversos Tribunais de Justiça que, em


casos específicos de “bafômetros” e “barreiras ou lombadas eletrônicas”, por exemplo, o
Certificado de Conformidade do Inmetro é indispensável para determinar a
aplicação da penalidade correspondente. Isso porque a penalidade aplicada aos casos
é demasiadamente onerosa e somente pode ser imposta mediante prova inequívoca.
Assim, toda a aferição da medida de álcool por litro de ar
alveolar advinda de aparelho viciado – assim entendidos os não verificados pelo
INMETRO - não é hábil para comprovar a embriaguez nem para penalizar qualquer
condutor.
Desse modo, resta imperativa a medida de suspensão de todas
as penalidades impostas em razão da infração de trânsito aqui questionada,
porquanto inexistente em razão das nulidades exaustivamente expostas.
Todo o conteúdo fático-probatório comprova a inexistência de
embriaguez e a jurisprudência dominante nos mais diversos Tribunais de nosso país se
manifesta favoravelmente à total fragilidade do “bafômetro” sem verificação
metrológica.
IV – Nulidade. Não realização de procedimento essencial.

Da leitura do auto de infração, verifica-se a ocorrência de ato


contrário à Lei praticado pela autoridade fiscalizadora, uma vez que não foi possibilitado
ao Condutor a realização de contraprova no aparelho de etilômetro, tendo sido feito
apenas uma medição, elemento que causou a total ilegalidade da presente autuação.
Sabe-se que o aparelho é sujeito a erros e variações em suas
medições, justamente por isso que há determinação para que o exame seja repetido,
fato que é corroborado pelo próprio CONTRAN, em sua Resolução n.º 432/2013,
que estabelece uma margem de tolerância para os aparelhos de etilômetro,
justamente por reconhecer sua suscetibilidade em cometer erros.
O procedimento de contraprova deve ocorrer dentro de alguns
minutos após a primeira verificação, momento em que o condutor renova o teste e será
considerado o menor valor encontrado para os fins de penalização. A não realização da
contraprova é causa de nulidade absoluta, já que não supre a incontestável
característica de ser o etilômetro um sistema falho de análise.
Isto posto, desde logo requer seja reconhecida a nulidade do auto
de infração e, assim, o arquivamento da autuação imputada.

V – Da Defesa.

Por primeiro, de se ressaltar que o Defendente foi abordado


enquanto trafegava normalmente pela via, quando foi acercada por um agente, que, após
dialogo para explicar a razão da abordagem, solicitou que conduzisse o veículo até o
local em que se realizava fiscalização de trânsito, o que foi de pronto atendido pelo
Condutor.
Note-se que o agente autuador não registrou ter identificado
“quaisquer” sinais de embriaguez no Condutor, especialmente por ter solicitado que este
conduzisse o veículo até o ponto da fiscalização.
Com efeito, compreendemos tratar-se de esfera administrativa,
contudo não se faz coerente a autuação de um condutor por “dirigir sob influência de
álcool”, quando este trafegou por via pública por solicitação da própria autoridade
fiscalizadora que, após abordagem, não identificou sinais de embriaguez ou que o
Condutor estivesse incapacitado para conduzir o veículo.
Ademais, além de não perfectibilizar o tipo trazido pelo CTB, o
Condutor não expôs ninguém a riscos, porque, ressalte-se, dirigiu a pedido da própria
autoridade fiscalizadora e sob sua constante vigilância, sem que houvesse qualquer
registro de irregularidade.
Afora tudo isso, não é razoável que uma pessoa esclarecida e
trabalhadora, como é o caso do Defendente, conhecedor da norma, tendo a plena
consciência de que não era obrigada a se submeter ao teste do etilômetro - justamente
por saber que a autoridade fiscalizadora dispõe de outros meios que não o “bafômetro”
para comprovar a embriaguez - o tenha feito se realmente houvesse ingerido qualquer
quantidade de bebida alcoólica.
O bom senso, por si só, demonstra que se o fez, estava convicta
de que o resultado seria negativo, o que só foi diferente em razão de falha no aparelho de
etilômetro, o que, decerto, teria sido elucidado caso a autoridade fiscalizadora tivesse
agido de acordo com a Legislação de Trânsito, oportunizando a realização de
contraprova, fato que não ocorreu, de modo que a anulação da presente autuação é
medida impositiva.

VI – Do pedido.

Diante de tudo exposto, requer seja recebida e conhecida a


presente Defesa Administrativa, vez que tempestivamente apresentada, bem como seja
ela julgada procedente, para o fim de se proceder ao cancelamento do Auto de
Infração, pelos motivos acima expostos, não gerando qualquer penalidade ao
Defendente.

Itaquaquecetuba/SP, 08 de agosto de 2017

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Luiz de Castro Monteiro Neto

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