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CATARINA – DETRAN/SC
O Defendente foi autuado enquanto trafegava no XXXXXX – SC, quando foi autuado pela
autoridade competente à alegaçã o de dirigir sob a influência de substâ ncias que alterem a
capacidade psicomotora, o que, consoante será provado adiante, nã o foi o ocorrido.
Foi lavrado o Auto de Infraçã o nº XXXXXXX, com enquadramento no art. 165, do CTB,
contendo a seguinte redaçã o:
Art. 165. Dirigir sob a influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência:
Infração - gravíssima;
Penalidade - multa (dez vezes) e suspensão do direito de dirigir por 12 (doze) meses.
Medida administrativa - recolhimento do documento de habilitação e retenção do veículo, observado o disposto
no § 4º do art. 270 da Lei nº 9.503, de 23 de setembro de 1997 - do Código de Trânsito Brasileiro.
No entanto, em que pese o enquadramento da conduta, serã o demonstrados
veementemente que houve, de fato, inú meros equívocos na lavratura da presente
notificaçã o, os quais prejudicam a sua validade e culminam em sua nulidade total.
III. DO DIREITO
a. DA IRREGULARIDADE E INCONSISTÊ NCIA DO AUTO DE INFRAÇÃ O
O Có digo de Trâ nsito Brasileiro elenca os casos em que o auto de infraçã o será arquivado
por ser nulo de pleno direito, nos termos seguintes:
Art. 281. A autoridade de trânsito, na esfera da competência estabelecida neste Código e dentro de sua
circunscrição, julgará a consistência do auto de infração e aplicará a penalidade cabível.
Parágrafo único. O auto de infração será arquivado e seu registro julgado insubsistente:
I - se considerado inconsistente ou irregular;
II - se, no prazo máximo de trinta dias, não for expedida a notificação da autuação.
Em primeiro lugar, para configurar a infraçã o de Trâ nsito do Art. 165 do CTB, o condutor
precisa estar necessariamente “influenciado” pela ingestã o de bebida alcó olica ou de
qualquer outra substâ ncia que determine dependência.
Em outras palavras, nã o basta o condutor ter ingerido bebida alcoó lica, mas, precisa
demostrar que o ato de dirigir seja seguido de alguma alteraçã o na sua capacidade
psicomotora para que a infraçã o realmente ocorra.
Há de se destacar que o requisito essencial para aplicaçã o da penalidade é dirigir sob a
INFLUÊ NCIA de á lcool ou outra substâ ncia psicoativa, ou seja, o motorista deve apresentar
claros sinais desta influência.
A alteraçã o da capacidade psicomotora é um destes requisitos e sinais que devem ser
levados em consideraçã o no momento da autuaçã o, caso contrário não pode o condutor
ser penalizado, uma vez que esta alteração é essencial para que o agente de trânsito
possa autuar o cidadão.
Foram elencadas no teor do “Auto de Constataçã o de Sinais de Alteraçã o da Capacidade
Psicomotora” as seguintes respostas aos quesitos pertinentes, concluindo o agente pú blico
pela NÃO CONSTATAÇÃO DE ALTERAÇÃO NA CAPACIDADE PSICOMOTORA DO
CONDUTOR:
1. Aparência do condutor: olhos vermelhos;
2. Atitude do condutor: não informado;
3. Orientação: Sabe onde está, sabe data e hora,
4. Memória: sabe seu endereço, lembra-se dos atos que cometeu;
5. Capacidade Motora Verbal: Sem dificuldades no equilíbrio, sem fala alterada;
CONCLUSÃO: “de acordo com as características acima descritas, constatei que o condutor acima qualificado, do
veículo já descrito, não está com a capacidade psicomotora alterada (art. 165, c/c 306, do CTB).
Nã o fosse o suficiente para anular o respectivo auto de infraçã o, veja-se que nã o há mençã o
ao aparelho utilizado, tampouco de sua condiçã o de uso. Ora, como é possível instituir
puniçã o a alguém por meio de instrumentos inadequados e irregulares, à guisa de ilaçõ es e
de maneira desenfreada? Inexiste qualquer divergência exegética no art. 280, § 2º, quando
tal dispositivo expressamente assinala que a infração deverá ser comprovada pelos
meios adequados. Trata-se, pois, de um dever, e nã o de mera discricionariedade.
Outro fator descumprido pela autoridade autuante é no que tange ao procedimento
previsto na Instruçã o Normativa nº 03/2009 e Manual de Procedimentos Operacionais nº
007, Anexo II (p. 01-15), que exige, para a subscriçã o do Termo de Constataçã o de Sinais de
Alteraçõ es Psicomotoras, no mínimo 02 (duas) testemunhas. No caso em comento, vê-se
que somente uma delas de fato o fez, culminando na nulidade destes autos.
De mais a mais, cabe discorrer acerca da suposta infraçã o, bem como de sua etiologia e
teleologia legal.
A norma extraída do artigo em debate visa proteger o cidadã o e o pró prio motorista contra
acidentes que gerem transtornos e/ou acidentes. Para tanto, é necessá rio que haja
combinaçã o de determinados elementos para que seja configurada a infraçã o.
Nã o é razoá vel punir o condutor/recorrente se, apó s a verificaçã o pessoal do agente de
trâ nsito, restar comprovado que o condutor nã o apresenta sinais de ter utilizado bebida
alcoó lica.
É cediço que a interpretaçã o literal, aplicada isoladamente, é insuficiente para atingir o
“espírito da Lei”.
Pelo princípio da universalidade do direito ao trâ nsito seguro, previsto no art. 1º, § 2º, CTB
c/c art. 144, § 10, I, II, da Constituiçã o Federal, o agente autuador, através da fiscalizaçã o,
um dos tripés que norteiam este ramo do Direito (educaçã o – engenharia – fiscalizaçã o),
deve trabalhar para que haja a preservaçã o da ordem pú blica e da incolumidade das
pessoas e do seu patrimô nio. Todavia, nã o se pode chegar ao exagero de punir quem nã o
oferece nenhum risco, como no caso em tela.
Apesar de a autuaçã o constituir um ato administrativo vinculado, é necessá rio que seja
observado o caso concreto para determinar a presença ou nã o do risco que o condutor
ofereça naquele determinado momento.
A jurisprudência já se pronunciou no sentido de que o uso de substâ ncia entorpecente
quando incapaz de atingir a capacidade psicomotora do indivíduo nã o devem ser punidas.
Neste sentido:
[...] Desse modo, nã o sendo constatado formalmente que o cidadã o conduzia veículo
automotor sob sinais externos de á lcool ou substâ ncia psicoativa, nã o há infraçã o de
trâ nsito.
[...]
A propó sito, trago à baila trechos do Parecer nº 328/2017 do CETRAN - SC, exarado em
24/01/2017, por meio de Consulta formulada pelo Delegado da Polícia Civil de
Caçador – SC, a respeito da aplicaçã o do artigo 165-A do CTB:
“No âmbito deste Cetran, há muito impera o consenso de que a mera recusa do condutor em se submeter aos
exames de alcoolemia, sem que haja suspeita pautada em elementos plausíveis para desconstituir a presunção
de inocência de que milita a seu favor, não é suficiente para sustentar a punição prevista no art. 165 do CTB,
mesmo com fulcro no § 3º do art. 277 do mesmo diploma legal (Parecer nº 120/2011/ CETRAN/SC). Desde então,
a legislação ordinária sofreu várias modificações, notadamente, no que afeta o tema em pauta, com as Leis
12.760/12 e 13.281/16, estimulando opositores da linha de raciocínio acima externada a defenderem a lisura da
autuação baseada na mera recusa ao teste. Todavia, nenhuma dessas alterações logrou êxito em elucidar as
controvéis que o assunto fomenta, especialmente quando se realiza uma análise sistemática do CTB, levando em
conta pressupostos de ordem Constitucional e os princípios gerais do Direito envolvidos no problema, fatores que
permanecem incólumes e inalterados, justificando a persistência desta Casa em defender os mesmos valores
consagrados nos pareces pretéritos que, apesar do tempo, permanecem atuais.
Nã o obstante, mesmo examinando apenas as disposiçõ es dos artigos 277 e 165-A do CTB,
fica evidente que o objetivo da reprimenda nã o é punir quem, sem externar nenhuma sinal
ou sintoma de que esteja sob a influência de á lcool ou outra substâ ncia psicoativa, se recuse
a se submeter aos testes e exames para apuraçã o da alcoolemia. O pró prio tipo infracional
descrito no art. 165-A evidencia isso, senã o vejamos. [...]
Se nã o há suspeita, nã o há o que ser certificado, tornando-se arbitrá ria a submissã o do
condutor ao teste e, portanto, incabível a imputaçã o pela infraçã o do art. 165-A do CTB.
[...]
Por essa razão, quando optar por fazê-lo é imperioso que se esclareça o porquê da medida, sob pena dessa
providência se tornar arbitrária, discriminatória, parcial, tendenciosa e ilegal.
[...]
Conclusão:
Sob essa perspectiva, mesmo sob a égide da Lei nº 13.281/2016, ratifica-se o entendimento sedimentado neste
Conselho de que a mera recusa do condutor em se submeter aos exames de alcoolemia, sem que haja suspeita
pautada em elementos plausíveis para desconstituir a presunção de inocência que milita a seu favor, não é
suficiente para sustentar a punição prevista no art. 165-A do CTB”.
(TJ-RS - Recurso Cível: 71007695166 RS, Relator: Thais Coutinho de Oliveira, Data de Julgamento: 30/07/2018,
Turma Recursal da Fazenda Pública, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 17/08/2018)
Nã o fosse o bastante, a Polícia Militar somente poderia realizar a fiscalizaçã o de trâ nsito
quando demonstrada irretocavelmente a existência de convênio firmado entre a instituiçã o
e os respectivos ó rgã os competentes, nos termos do art. 23, III, do CTB.
Art. 23. Compete às Polícias Militares dos Estados e do Distrito Federal
III - executar a fiscalização de trânsito, quando e conforme convênio firmado, como agente do órgão ou entidade
executivos de trânsito ou executivos rodoviários, concomitantemente com os demais agentes credenciados.
Assim sendo, por violar a legislaçã o de trâ nsito, suas resoluçõ es e decretos, requer seja
ARQUIVADO o auto, por ser irregular, nos termos do art. 281, deste mesmo có dex regente.
Nesta senda, preconiza o Có digo de Trâ nsito Brasileiro, em seu art. 284, § 3º que não
incidirá cobrança moratória e não poderá ser aplicada qualquer restrição, inclusive
para fins de licenciamento e transferência, enquanto não for encerrada a instância
administrativa de julgamento de infraçõ es e penalidades.
Apregoa o art. 24, da Resoluçã o CONTRAN nº 182/05, no mesmo sentido acima perquirido
que:
Art. 24. No curso do processo administrativo de que trata esta Resolução não incidirá nenhuma restrição no
prontuário do infrator, inclusive para fins de mudança de categoria da CNH, renovação e transferência para outra
unidade da Federação, até a notificação para a entrega da CNH, de que trata o art. 19.