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ILUSTRÍSSIMO SR.

DIRETOR DA JUNTA ADMINISTRATIVA DE RECURSOS E INFRAÇÕ ES –


JARI.
Fulano de tal, brasileiro, solteiro, motorista, Inscrito no CPF Nº, Portador da CNH Nº,
Residente e domiciliado na Rua tendo sido autuado por Infraçã o de Trâ nsito, Ait , vem, mui
respeitosamente, pela via do hodierno recurso, apresentar sua
DEFESA CONTRA A AUTUAÇÃ O,
nos termos a seguir expostos:
I) DA TEMPESTIVIDADE
Preclaro julgador, a data limite para interposiçã o do hodierno recurso é 12 de julho de
2019, deste modo, resta cristalina a tempestividade do presente.
II) DOS FATOS
Informa o Condutor que foi autuado por ter cometido uma suposta infraçã o de trâ nsito no
dia 24 de fevereiro de 2019, à s 02h44m25s, na XXXXXXXXXX, em XXXXXXXXXXXXXXXX, ao
ser abordado pela guarniçã o da Polícia Militar.
Consta na notificaçã o e no auto de infraçã o que o condutor cometeu a infraçã o disposta no
artigo 165 do Có digo de Trâ nsito Brasileiro, afirmando que o motorista fora autuado por
dirigir sob influência de á lcool de acordo com a resoluçã o 432 - DENATRAN.
Afirma o condutor que ao ser abordado por uma guarniçã o da Polícia Militar de Santa de
Catarina, a qual realizava rondas pró ximo ao local, foi requerido ao mesmo que realizasse o
teste do etilô metro, popularmente conhecido como “bafô metro”, sendo que o condutor se
negou a realizar o teste.
Informa que ao ser indagado sobre a recusa, o agente de trâ nsito requereu a apresentaçã o
dos documentos do condutor e do veículo. No momento apresentou a documentaçã o
requerida, bem como colaborou com a fiscalizaçã o e que em nenhum momento apresentou
qualquer resistência ao que lhe era solicitado, com exceçã o do referido teste.
Desta forma, seu veículo foi apreendido pela guarniçã o, bem como sua habilitaçã o e ato
contínuo o condutor foi conduzido para a Central de Polícia.
Inconformado, apresenta recurso versus à infraçã o que lhe foi imposta, elucidando os
argumentos de fato e direito que serã o expostos a seguir.
III) DO DIREITO
a) das Preliminares
Aduz de forma clara o Có digo de Trâ nsito Brasileiro:
Art. 280. Ocorrendo infraçã o prevista na legislaçã o de trâ nsito, lavrar-se-á auto de infraçã o,
do qual constará :
(...) II - local, data e hora do cometimento da infração;
(...) Art. 281. A autoridade de trâ nsito, na esfera da competência estabelecida neste Có digo
e dentro de sua circunscriçã o, julgará a consistência do auto de infraçã o e aplicará a
penalidade cabível.
Pará grafo ú nico. O auto de infração será arquivado e seu registro julgado
insubsistente:
I - se considerado inconsistente ou irregular
Como explicitado na legislaçã o vigente sobre o tema, nobre julgador, o auto de infraçã o de
trâ nsito tem de ser lavrado com o horá rio do cometimento da infraçã o, sob pena de ser
considerado inconsistente ou irregular.
In casu, conforme Boletim de Ocorrência registrado sob o nú mero xxx (anexo), a
abordagem ao infrator ocorreu à s 02h01 da data de 24 de fevereiro de 2019.
É sabido que o sistema de registro de ocorrências da Polícia Militar de Santa Catarina,
SADE, gera as ocorrências em tempo real, ou seja, o momento do início da abordagem ficará
registrado como início da ocorrência.
Causa estranheza, preclaro julgador, que o auto de infraçã o de trâ nsito em tela foi
registrado quase uma hora apó s a abordagem, sendo que o fato é pretérito a mesma.
O horá rio aduzido no auto de infraçã o é 02h44m25s.
Deste modo, resta evidente o erro de preenchimento do auto de infraçã o. Por razõ es
ló gicas, o veículo só seria abordado apó s a atitude suspeita, que se deu antes do horá rio da
abordagem, registrado no Boletim de Ocorrência, porém, in casu, temos o horá rio da
infraçã o quase uma hora apó s a interpelaçã o.
No horá rio explicitado no auto de infraçã o o condutor já nã o estava conduzindo o veículo,
pois já havia sido abordado pela guarniçã o.
Repisa-se que a redaçã o do CTB é clara, o auto de infraçã o tem de ser lavrado com o
horá rio de cometimento da infração.
Cometimento é o momento da açã o, momento do ato de execuçã o da infraçã o.
Ainda que o momento de cometimento nã o seja registrado com exatidã o, deve obedecer a
um lapso temporal razoá vel, o que nã o aconteceu no caso em tela. O registro se deu quase
uma hora apó s a abordagem. Sendo que a abordagem ocorreu posteriormente ao momento
da açã o.
A jurisprudência catarinense adota o silogismo de que o preenchimento errô neo da
infraçã o enseja causa de anulaçã o da infraçã o:
REEXAME NECESSÁ RIO EM MANDADO DE SEGU- RANÇA. ATO ADMINISTRATIVO DE
CASSAÇÃ O DE CAR- TEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃ O, COM FULCRO NO ART. 263 DO
CÓ DIGO DE TRÂ NSITO BRASILEIRO. NÃ OCOMPROVAÇÃ O DE REINCIDÊ NCIA NO ATO
INFRACIO- NAL, CONDIÇÃ O SINE QUA NON PARA A INFLIÇÃ O DE TAL PENALIDADE.
ERRONIA NO PREENCHIMENTO DO AUTO DE INFRAÇÃO. LAVRATURA DE DOIS AUTOS
DE- RIVADOS DO MESMO FATO. ATO ÍRRITO. SENTENÇA DE CONCESSÃ O DA ORDEM
MANTIDA. REMESSA DES- PROVIDA.(TJ-SC - REEX: 03031848020178240023 Capital
0303184-80.2017.8.24.0023, Relator: Joã o Henrique Blasi, Data de Julgamento:
07/11/2017, Segunda Câ mara de Direito Pú blico)
Do mesmo julgado extrai-se os seguintes trechos:
(...) por estar evidenciado o direito líquido e certo do autor de ver nulificada a decisã o que
cassou sua CNH, haja vista o erro cometido pelo agente de trâ nsito na elaboraçã o do
segundo auto infracional (n. E006001191)
A jurisprudência paulista adota o mesmo silogismo:
Anulató ria de Auto de infraçã o de trâ nsito – Erro no enquadramento da infraçã o -
Inobservância dos requisitos essenciais exigidos pelo artigo 280 do CTB – Erro
formal constatado – Sentença de procedência mantida – Recurso nã o provido. (TJ-SP -
APL: 10080874720148260127 SP 1008087-47.2014.8.26.0127, Relator: Marrey Uint, Data
de Julgamento: 09/05/2017, 3ª Câ mara de Direito Pú blico, Data de Publicaçã o:
15/05/2017)
O Ten. Cel. QOPM Irineu Ozires Cunha, Comandante do BPTran da Polícia Militar do Paraná ,
em artigo disponível no sítio eletrô nico
http://www.pmpr.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=687, alega que
É de conclusã o inequívoca que a consistência ou a inconsistência do auto de infração de
trânsito tem intimidade com o nascimento do fato jurídico da infração, sendo, por
isso, imperiosa a tipificação correta da conduta, sob pena de arquivamento.
(...) na maioria dos casos há a infraçã o, mas a desobediência aos requisitos legais torna
ineficaz o auto de infração de trânsito, se houver a impugnação ou recurso, posto que
se estes nã o existirem o auto será convalidado e as imputaçõ es da multa e da pontuaçã o
serã o justas.
O ponto nevrá lgico do presente recurso reside na importâ ncia da nã o convalidaçã o do ato
impugnado, pois este apresenta claro vício formal.
O condutor, em consonâ ncia com a redaçã o legal vigente, demonstra inconformidade com o
auto de infraçã o viciado, restando como medida imperiosa seu arquivamento.
b) Do mérito
O Recorrente foi autuado por dirigir sob suposta influência de á lcool, conforme transcrito
no Auto de Infraçã o supradito. Porém, segundo a legislaçã o vigente, nos termos do artigo
165 do CTB, é necessá rio que o motorista esteja realmente sob influência de á lcool.
Deste modo, nã o basta que o condutor tenha ingerido bebida alcó olica, mas precisa
demonstrar, através de prova inequívoca, que estava dirigindo com alteraçõ es na sua
capacidade psicomotora para que reste caracterizada a infraçã o. Caso contrá rio, o fato será
atípico.
O requisito basilar para aplicaçã o da penalidade é dirigir sob a influência de á lcool, ou seja,
o motorista deve apresentar incontestá veis sinais desta influência.
No momento da autuaçã o, a alteraçã o da capacidade psicomotora é um dos requisitos e
sinais que devem ser levados em conta, caso contrá rio nã o pode o condutor ser penalizado,
uma vez que esta alteraçã o é a pedra de toque para que o agente de trâ nsito possa autuar o
cidadã o. Este é o texto descrito na Resoluçã o nº. 432/13 do CONTRAN, que dispõ e sobre os
procedimentos a serem adotados pelas autoridades de trâ nsito e seus agentes na
fiscalizaçã o do consumo de á lcool ou de outra substâ ncia psicoativa que determine
dependência, para aplicaçã o do disposto nos arts. 165, 276, 277 e 306 do Có digo de
Trâ nsito Brasileiro.
Aduz a resoluçã o 432/13 do CONTRAN:
Art. 5º Os sinais de alteraçã o da capacidade psicomotora poderã o ser verificados por:
I – exame clínico com laudo conclusivo e firmado por médico perito; ou
II – constataçã o, pelo agente da Autoridade de Trâ nsito, dos sinais de alteraçã o da
capacidade psicomotora nos termos do Anexo II.
§ 1º Para confirmaçã o da alteraçã o da capacidade psicomotora pelo agente da Autoridade
de Trâ nsito, deverá ser considerado não somente um sinal, mas um conjunto de sinais
que comprovem a situação do condutor.
§ 2º Os sinais de alteração da capacidade psicomotora de que trata o inciso II deverão
ser descritos no auto de infração ou em termo específico que contenha as
informações mínimas indicadas no Anexo II, o qual deverá acompanhar o auto de
infração.
Preclaro julgador, os sinais de alteraçã o da capacidade psicomotora expostos no § 2º
supramencionado, nã o vieram anexados ao auto de infraçã o, estando o mesmo irregular
por descumprir a redaçã o legal.
Caso tenha sido lavrado o aludido termo específico, tal documento nã o foi entregue ao
condutor, caracterizando evidente cerceamento de defesa.
Ainda a mesma Resoluçã o 432/13 do CONTRAN ensina os requisitos para que seja
caracterizada a infraçã o, e para que o condutor possa ser autuado pelo art. 165:
Art. 6º A infraçã o prevista no art. 165 do CTB será caracterizada por:
I – exame de sangue que apresente qualquer concentraçã o de á lcool por litro de sangue;
II – teste de etilô metro com mediçã o realizada igual ou superior a 0,05 miligrama de á lcool
por litro de ar alveolar expirado (0,05 mg/L), descontado o erro má ximo admissível nos
termos da “Tabela de Valores Referenciais para Etilô metro” constante no Anexo I;
III – sinais de alteraçã o da capacidade psicomotora obtidos na forma do art. 5º.
Em consonâ ncia com a legislaçã o, percebe-se que nã o basta apenas um dos requisitos para
a subsunçã o do fato à norma. Em consonâ ncia aos requisitos legais a caracterizaçã o dar-se-
á com a cumulaçã o de fatores trazidos nos incisos I, II e III. O caput do artigo
supramencionado, é cristalino, afirmando que a penalidade do art. 165 “será
caracterizada por…”.
Nesta celeuma, o agente de trâ nsito declarou no Boletim de Ocorrência registrado sob o
nú mero xxxxxx,
“O sr. Fulano de tal estava visivelmente embriagado, com os olhos avermelhados, há lito
alcoó lico, e desordem nas vestes.”
Os argumentos trazidos pelo agente no momento da autuaçã o sã o frá geis, nã o caracterizam
a “embriaguez evidente” conforme afirmado.
O agente tem por dever legal cumprir os outros dispositivos descritos no artigo 6º da
resoluçã o 432/13 do CONTRAN para a caracterizaçã o da penalidade de dirigir sob a
influência de á lcool. Nã o se deve ter por base apenas três sinais de alteraçã o da capacidade
psicomotora como ú nica prova para condenar o motorista, como foi feito no presente caso.
Em um rol de 19 fatores de evidência, trazidos no anexo II da resoluçã o 432/13 do
CONTRAN, utilizar-se apenas de argumentos como olhos vermelhos, há lito alcoó lico e
desordem nas vestes nã o é razoá vel para caracterizar a infraçã o.
Em rá pida e singela pesquisa no internet (sítio: https://www.tuasaude.com/olho-
vermelho) encontram-se mais de 10 fatores exó genos à embriaguez que possam causar
vermelhidã o ocular, citamos alguns a título de exemplificaçã o: Cisco ou corpo estranho no
olho; síndrome do olho seco; alergias; conjuntivite; arranhã o na có rnea; pancada no olho;
glaucoma; blefarite; uveíte; ceratite.
Ao que toca ao há lito alcoó lico, também denominado por há lito cetô nico, é sabido que ele
pode ser oriundo de causas diversas do consumo de bebidas alcoó licas. Uma das razõ es
ensejadoras é a disfunçã o de glicose no organismo. Deste modo, é rú ptil o argumento de
que o há lito alcoó lico é fator preponderante para a caracterizaçã o da autuaçã o.
Ilustre julgador, vejamos o quesito desordem nas vestes. Entre 19 fatores de evidência,
trazidos no anexo II da resoluçã o 432/13 do CONTRAN, argumentar com “desordem nas
vestes” é sinal de conduta desmazelada do agente de trâ nsito ou entã o que o condutor nã o
apresentava provas robustas de embriaguez.
Dos 19 fatores, dentre eles agressividade; infrator falante; dispersã o; apresentar-se
desorientado; nã o saber seu endereço nem a localidade que está ; o argumento de
desordem nas vestes é muito vulnerá vel.
É cristalina a falta de evidência vigorosa que sustente a embriaguez do condutor!
Como se vê, o pará grafo 2º do Art. 5º da Res. 432 do CONTRAN acima transcrito, nos ensina
que estes sinais devem ser descritos no auto de infração, ou em termo específico,
contudo, nã o foi isso que ocorreu in casu, sendo o condutor autuado de forma injusta e
restando imperioso o arquivamento da infraçã o. Além do descumprimento de norma legal
por parte deste ó rgã o, ocorrerá indubitavelmente, uma grande injustiça contra o condutor,
o qual no momento da abordagem, nã o apresentava nenhum sinal de embriaguez.
O Art. 5º da resoluçã o afirma que os sinais de alteraçã o da capacidade psicomotora
poderã o ser verificados por exame clínico com laudo conclusivo e firmado por médico
perito. Ante o exposto, é justo que o condutor seja submetido ao exame médico para
comprovar sua embriaguez, nã o dependendo da subjetividade e do bel prazer condenató rio
do Agente de trâ nsito.
Destarte, tendo em vista a obrigatoriedade do preenchimento do termo previsto no Art. 5º
desta resoluçã o, haja vista o agente ter por dever descrever os sinais da alteraçã o
psicomotora do condutor abordado, e, tendo em vista que esta formalidade nã o foi
observada, ao passo que o condutor nã o teve acesso a essa informaçõ es pelos meios
condizentes, extraindo a informaçã o pela via de boletim de ocorrência, rigor se faz a
anulaçã o do referido AIT para que nã o haja descumprimento legal e nã o ser cometida
qualquer injustiça.
Ademais, o artigo 8º da mesma Resoluçã o, nos fala sobre o que deverá conter no auto de
infraçã o:
Art. 8º Além das exigências estabelecidas em regulamentaçã o específica, o auto de infraçã o
lavrado em decorrência da infraçã o prevista no art. 165 do CTB deverá conter:
(...) II – no caso do art. 5º, os sinais de alteraçã o da capacidade psicomotora de que trata o
Anexo II ou a referência ao preenchimento do termo específico de que trata o § 2º do art.
5º;
(...) § 1º Os documentos gerados e o resultado dos exames de que trata o inciso I deverã o
ser anexados ao auto de infraçã o.
Repisando, que caso estes requisitos foram preenchidos em documentaçã o, a mesma nã o
foi disponibilizada ao condutor, caracterizando cerceamento de defesa.
Deste mote, a norma nã o foi observada corretamente, devendo ser a penalidade em
comento ANULADA como forma de justiça.
IV) DO PEDIDO
Ante os argumentos expostos e a melhor aná lise da conjunçã o fá tica, nã o se pode concluir
que o condutor estava estado de embriaguez no momento da abordagem pela fiscalizaçã o,
haja vista que nã o temos qualquer meio comprovató rio apenas pela recusa do teste do
etilô metro, sendo a autuaçã o injusta.
Caso o nobre julgador entenda pela embriaguez do condutor, o Auto de Infraçã o deverá ser
anulado por conter vício formal insaná vel, haja vista apresentar horá rio destoante do fato.
Deste modo, requer, por entender ser medida de lídima justiça, a anulaçã o do auto de
infraçã o e o arquivamento do referido processo administrativo. Ainda, nã o entendo pelo
arquivamento, preclara autoridade, pugna-se pela aplicaçã o de penalidade mínima.
Cidade, data.
Fulano de tal

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