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DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA
I – DOS FATOS
Alega o órgão atuador que foi praticado o ato de recusar-se a ser submetido a
qualquer dos procedimentos previstos no artigo 277, infração tipificada no artigo
165-A do Código de Trânsito Brasileiro (Lei nº 9.503/97), no dia 25/11/2021, às
21:43, no veículo de placa OON5749.
Neste momento, foi abordado pela autoridade policial e lhe foi exigido a aferição
etílica.
Não bastasse isso, o que se destaca é que o resultado em momento algum foi
mostrado à parte, que conta apenas com a palavra do agente.
Diante do suposto resultado, com o qual a parte não concorda, a mesma optou
por deixar de efetuar o teste de etilômetro com o equipamento homologado pelo
INMETRO, que supostamente estaria disponível, o que também não se pode
assegurar, uma vez que o condutor responsável pela retirada do veículo não
passou pelo teste válido.
A referida instrução define o auto de infração como uma peça informativa que
subsidia a Autoridade de Trânsito na aplicação das penalidades, devendo o seu
preenchimento obedecer às disposições contidas no artigo 280 do CTB e demais
normas regulamentares, sendo que não poderá, de forma alguma, conter rasuras,
emendas, uso de corretivos, ou qualquer tipo de adulteração.
Portanto, no caso em análise, resta manifesto que o auto de infração não atendeu
aos pressupostos de validade, visto que há tanto rasuras, como partes do texto
borradas, devendo ser declarado nulo, julgado insubsistente e devidamente
arquivado, nos termos do que estipula o artigo 281 do CTB.
Deste fato, seria lógico concluir que, ou o agente de trânsito realmente não
verificou nenhum sintoma que pudesse comprovar ou levantar suspeita quanto à
suposta embriaguez da parte Requerente, ou este é apenas outro erro formal do
auto de infração, mais uma vez ensejando o cancelamento da infração como um
todo, em decorrência dos inúmeros erros que afrontam a lei do processo
administrativo. Sob tal análise, não pode prosperar o presente auto de infração,
já que não restou descrito pelo agente público uma clara situação de infração de
trânsito, não indicando sequer quais os sintomas que demonstraram a suposta
alteração na capacidade psicomotora da pessoa, Requerente, limitando-se a
narrar um fato que possui mera tipicidade formal, porém totalmente desprovido
de tipicidade material.
O auto de infração não merece subsistir, visto que eivado de nulidade, carecendo
de forma legal, requisito essencial a todo ato administrativo.
No ponto, imperioso que se esclareça que o tipo legal imputado prevê como
penalidade, além da multa, o recolhimento do documento de habilitação e
retenção
A aplicação das penas de forma isolada não pode ser adotada com base em
nenhum entendimento jurídico, visto que isso significaria contrariar
manifestamente o texto da lei. Ademais, a conduta praticada pelo agente público
fere expressamente o Princípio da Legalidade, uma vez que os atos praticados
pela Administração Pública devem estar totalmente subordinados à expressa
previsão legal, sendo que qualquer afastamento aos mandamentos da lei importa
na total invalidade do ato praticado.
Não merece prosperar a pretensão estatal, tendo em vista que a recusa está
totalmente amparada pela Constituição Federal. O Princípio "nemo tenetur se
detegere”, também conhecido como o direito de não produzir prova contra si
mesmo, está consagrado pela Carta Magna, assim como pela legislação
internacional, como um direito mínimo e fundamental a qualquer cidadão
acusado, sendo de suma importância seu cumprimento.
entendimento judicial. Caso o Nobre Julgador entenda de outra forma, o que nem
de longe se cogita, espera-se que justifique minuciosamente sua visão, em
conformidade para com a Lei nº 9.784/99 e, consequentemente, para com o
princípio da legalidade.
A Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso LVII, prevê que "ninguém será
considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória".
Desta forma, o artigo 165-A é flagrantemente inconstitucional, posto que
presume a culpabilidade diante da mera recusa do condutor em realizar o teste
do etilômetro.
Ou seja, temos aqui não somente o apelo da parte autora, mas também
argumentação amparada em doutrina e estudo jurídico. O que vemos, a partir da
decisão do referido Tribunal, é a representação clara e lúcida de juristas notórios
manifestando o conflito de constitucionalidade entre a norma de trânsito e o
restante do ordenamento pátrio.
Neste caso específico, sendo evidente o conflito entre o artigo 165-A combinado
com o artigo 277, §3º, do Código de Trânsito Brasileiro - CTB e o artigo 186 do
Código de Processo Penal - CPP, há de se fazer valer a norma mais benéfica e
garantir à parte Requerente a apresentação das provas, por parte do Estado, de
que a conduta punida gerou, objetivamente, algum risco à ordem e/ou à
integridade física de alguém.
A conclusão a que se chega, e de forma lógica, é que a lacuna na lei formal impede
por óbvio, a automática presunção de culpa do condutor do veículo apenas com
base na negativa de realização do teste do etilômetro. Logo, a conduta do agente
público apresenta-se irregular, extrapolando os limites do exercício do poder de
polícia, o que invalida, por si só, as penalidades que foram impostas à pessoa
Requerente.
Ademais, a desconfiança de que o aparelho apresentado para a realização do
exame não preencha todos os requisitos de segurança exigidos, pode sim, gerar o
comportamento negativo por parte dos motoristas.
Cumpre destacar que o autor utiliza o seu veículo para deslocamento ao trabalho,
sendo que a privação do seu direito de locomoção por meio próprio acarretaria
prejuízos insanáveis para si e para sua família.
Como é sabido, ninguém pode ser privado de exercer sua atividade profissional,
desde que esta não seja contrária à lei. No caso em comento, ter sua CNH
restringida, além de dificultar, ou até mesmo impossibilitar, tarefas diárias da
rotina da pessoa Requerente e de sua família, irá provocar sérios riscos ao bom
desempenho de suas atividades, trazendo prejuízos de difícil previsão e
proporção. Este fato feriria um dos mais relevantes princípios do direito
brasileiro – o da proporcionalidade.
DA RESPONSABILIDADE
Ocorre que não há qualquer notícia acerca do teor alcoólico no sangue do autor,
tão pouco consta a informação de que o mesmo recusou-se à aferição da
dosagem etílica (bafômetro). Assim, a conclusão óbvia é que a verificação ficou
ao bel prazer do agente de trânsito, sem qualquer respaldo legal que o ampare.
Logo o Art. 280 do Código de Trânsito Brasileiro – CTB in verbis, trás a lume
requisitos para aplicação do auto de infração:
Art. 280 Ocorrendo infração prevista na legislação de trânsito,
lavrar-se-á auto de infração, do qual constará:
I- tipificação da infração;
Quando este ônus de provar que estava agindo de forma correta no momento da
aplicação da penalidade se torna muito mais oneroso para o condutor do que
seria para o ente administrativo provar, o que se verifica é que o mesmo estaria
agindo de forma errada.
Seguindo o entendimento:
Cabe salientar que, das infrações lançadas por agente de trânsito, quando
questionado tal conduta pelo cidadão, tem o Estado o ônus de demonstrar a
ocorrência de tal infração.
Assim, ao proprietário que simplesmente negar ter sido o autor da infração, isto
não bastará. Por força deste inciso lhe é repassado um ônus que deveria
pertencer integralmente à Administração: o de identificar o infrator.
Pois, insta consigna que não houve a devida abordagem, sequer há provas de
filmagem ou fotos que comprovem tais infrações, bem como o lugar se trata de
lugar inexistente, ademais, os artigos que penalizam a Requerente tratam-se de
condutas que no caso fático tinha plena condição de abordagem pelo ente
autuador, que se não o fez foi por negligência, ou por acreditar ser mais prático
autuar e deixar que o cidadão prove a negativa da conduta.
Quando de uma análise mais aprofundada ao fato acima relatado, o que se pode
observar é que a aplicação do direito penal harmonizado ao direito de trânsito
dá origem a uma figura atípica na legislação, pois o que de fato ocorre é que esta
sendo aplicado uma interpretação ampliativa em matéria penal, o que é vedado
por nossa legislação.
Porém, o fato que mais salta aos olhos, é o inobservância dos direitos
fundamentais, a referida norma não está em consonância com a interpretação
constitucional positiva. Sim, porque, o condenado ‘motorista profissional’ - não
pode ter seu direito de dirigir suspenso ou proibido, pois assim não teria
condições de trabalhar, ferindo, por conseguinte, de morte seus direitos
fundamentais.
O núcleo dos direitos fundamentais está na dignidade da pessoa humana
elencada no Art. 1.º, III da CF, e, no direito ao livre exercício profissional
contemplado no Art. 6.ºda CF, constituindo, portanto, direitos substanciais do
ser humano.
Ressalte-se que mesmo que não existisse o supracitado dispositivo legal, por si
só a situação do requerente preenche os requisitos da tutela de urgência, uma
vez que labora como motorista profissional e pode lhe causar danos irreparáveis
caso perdure a decisão administrativa lavrada sem respeito ao devido processo
legal, ficando o mesmo impedido de trabalhar e prover seu sustento e de sua
família.
AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO
Nos termos do Art. 334, § 5º do Código de Processo Civil, in verbis o autor desde
já manifesta, pela natureza do litígio, desinteresse em autocomposição.
III – DO PEDIDO
Ante o exposto requer:
(Assinado digitalmente)
DANIELE LUIZARI STÁBILE GOMES RODRIGUES
OAB/MT 10.420 e OAB/SP 390.419