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AO JUÍZO DA 

VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE SALVADOR/BA

(nome do assistido), (qualificação), sob o patrocínio da Defensoria Pública do


Estado, por um dos seus membros, constituído na forma do art. 148, I, da Lei Complementar
Estadual nº 26/06, devendo ser intimado pessoalmente na Rua Arquimedes Gonçalves, nº 331,
Jardim Baiano, Salvador – BA, vem, perante V. Exa., ajuizar

AÇÃO ANULATÓRIA DE AUTO DE INFRAÇÃO CUMULADA COM INDENIZAÇÃO


POR DANOS MORAIS E PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DA TUTELA

em face da AGÊNCIA ESTADUAL DE REGULAÇÃO DE SERVIÇOS PÚBLICOS DE


ENERGIA, TRANSPORTES E COMUNICAÇÕES DA BAHIA – AGERBA, autarquia
estadual em regime especial, vinculada à  Secretaria de Infra-Estrutura do Estado da Bahia, com
endereço à 4ª Avenida, nº 435, 1º andar, Centro Administrativo da Bahia, Salvador-BA, CEP:
41.745-002, pelos fatos e fundamentos jurídicos expostos a seguir, para ao final requerer o que
adiante segue.

1. DA GRATUIDADE JUDICIÁRIA

Inicialmente, pede que sejam deferidos os benefícios da Justiça Gratuita, com fulcro na
Lei nº 1.060/50, vez que o Autor não possui condições de arcar com as custas processuais e
honorários advocatícios, sem prejuízo do próprio sustento e de sua família, razão pela qual é
assistida pela Defensoria Pública do Estado da Bahia.

2. DOS FATOS
Rua Arquimedes Gonçalves, 331, Jardim Baiano, Salvador/BA. 1
CEP: 40110-050
O Autor era proprietário de um veículo Volkswagen/Kombi, de placa policial (placa do
carro). Ocorre que, no dia 25 de junho de 2010, às 08h50min, estava retornando do município de
Mata de São João, onde havia ido passar o São João juntamente com os seus parentes, quando
teve seu veículo abordado por agentes da Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de
Energia, Transporte e Comunicações da Bahia – AGERBA, por supostamente estar infringindo o
art. 40, caput, da Lei Estadual nº 11.378/2009, qual seja, prestar serviço de transporte rodoviário
intermunicipal de passageiros no Estado da Bahia em linhas não abrangidas pelo objeto da
concessão ou permissão.

A verdade dos fatos é que o Autor estava retornando de Mata de São João com um grupo
de pessoas e foi confundido pelos agentes da AGERBA como motorista que estava realizando
transporte irregular de passageiros por conta do tipo de veículo do Autor, uma Kombi, que tem
capacidade para transportar até 10 (dez) passageiros.

No momento da abordagem, o Autor encontrava-se com 08 (oito) pessoas no interior do


seu veículo, onde todos eram seus familiares, e estavam retornando do município de Mata de São
João após ter ido passar o São João com parentes que residem nesta localidade.

Vale ressaltar que o Autor não cobrou qualquer quantia para que fosse realizado o
transporte, tendo em vista que todos eram seus familiares, e dar carona para amigos ou familiares
consiste em uma prática normal na vida social das pessoas. Ademais, tal fato será comprovado
através de prova testemunhal em audiência a ser designada pelo MM Juízo.

Visando resolver administrativamente a questão, sem mover a máquina judiciária para tal,
o Autor apresentou defesa na Comissão de Julgamento de Auto de Infração da AGERBA, nos
autos do processo administrativo nº (número do processo), pedindo o arquivamento do auto de
infração (número), lavrado com base no art. 40 da Lei Estadual nº 11.378/09. A defesa foi
indeferida no dia 03 de janeiro de 2011, permanecendo o auto de infração intocável bem como a
multa que havia sido aplicada.

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Inconformado com a decisão, o Autor interpôs recurso na Câmara Superior de Julgamento
de Recurso de Infração da AGEBA em face da decisão primária que confirmou o auto de infração
(número). Porém, no dia 15 de outubro de 2013, o seu recurso não foi provido e a decisão do
auto de infração foi mantida, onde, por conta disso, o Autor deveria recolher aos cofres do Estado
a quantia de R$ 2.802,80 (dois mil, oitocentos e dois reais e oitenta centavos) a título de multa
por infração ao art. 40 da Lei Estadual nº 11.378/09 com as devidas correções e, como se não
bastasse a ilegalidade dessa cobrança, ainda foi condenado a cumprir a penalidade cumulativa de
30 dias de apreensão do veículo.

Convém ainda pontuar que a documentação do veículo estava em perfeita ordem, não
tendo sido constatada qualquer infração que pudesse justificar a aplicação de multa ou qualquer
outro tipo de sanção.

Como não cometeu a infração aplicada pela AGERBA, o Autor não deve efetuar o
pagamento, pois não há que pagar por uma infração que não cometeu.

3. DO DIREITO
3.1. DA ILEGALIDADE DA COBRANÇA DA MULTA

O cerne da controvérsia cinge-se a examinar a validade do Auto de Infração (número),


lavrado em 25 de junho de 2010, em face da suposta ocorrência de transporte irregular de
passageiros.

O ato administrativo reveste-se do atributo de presunção de legitimidade e veracidade, o


que faz presumir, até que se prove o contrário, a legalidade com que foi praticado.

Tal presunção, no entanto, não se revela absoluta, na medida em que permite ao


administrado a oportunidade de verificar a regularidade dos atos emanados da Administração.
Nesse viés, tal prerrogativa de presunção de legitimidade não exime a Administração de
comprovar a lisura do ato perpetrado.

Nesse sentido, ensina Di Pietro:


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Na realidade, não falta parcela de razão a esses autores; inverte-se, sem dúvida
nenhuma, o ônus de agir, já que a parte interessada é que deverá provar, perante
o Judiciário, a alegação de ilegalidade do ato; inverte-se, também, o ônus da
prova, porém não de modo absoluto: a parte que propôs a ação deverá, em
princípio, provar que os fatos em que se fundamenta a sua pretensão são
verdadeiros; porém isto não libera a Administração de provar a sua
verdade, tanto assim que a própria lei prevê, em várias circunstâncias, a
possibilidade de o juiz ou o promotor público requisitar da Administração
documentos que comprovem as alegações necessárias à instrução do processo e
à formação da convicção do juiz.

O Autor pode comprovar, mediante a apresentação de declarações dos parentes que o


acompanhavam quando da autuação, não estar aliciando passageiros, e sim lhes oferecendo
carona.

No dia em que foi autuado, 25 de junho de 2010, o Autor estava retornando de Mata de
São João, onde havia ido comemorar os festejos juninos com seus familiares e foi confundido
pelos agentes da AGERBA como um motorista que estava realizando transporte irregular de
passageiros.

Ora excelência, não restam dúvidas que o Autor estava retornando com a sua família de
um evento tradicional na Bahia, onde várias pessoas viajam, juntas para o interior para
comemorar, qual seja, o São João e, como tinha um veículo grande, foi o responsável por dar
carona para os seus parentes. Logo, não estava efetuando transporte clandestino de passageiros.

Assim, pela dinâmica apresentada, observa-se a ocorrência de nada mais do que mera
carona, oferecida pelo Autor aos seus parentes restando descaracterizada a infração ao art. 40,
caput, da Lei Estadual nº 11.378/2009, qual seja, prestar serviço de transporte rodoviário
intermunicipal de passageiros no Estado da Bahia em linhas não abrangidas pelo objeto da
concessão ou permissão. O que está configurado no caso em análise é a hipótese de Transporte
Solidário.

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Diante dos argumentos aduzidos infere-se haver o Autor praticado mero transporte
solidário de passageiros, não evidenciando a prática de qualquer infração.

Nesse sentido, o entendimento de nossos tribunais afirma:

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. EMBARGOS


INFRINGENTES. NULIDADE DO AUTO DE INFRAÇÃO. COMPETÊNCIA
CONCORRENTE DFTRANS (EXTINTO DMTU) E DETRAN PARA A
LAVRATURA DO AUTO. REVISÃO DA PENALIDADE APLICADA. ART.
28, § 5º, DA LEI DISTRITAL Nº 239/92, ALTERADA PELA LEI Nº 953/95.
AFASTAMENTO DA PRESUNÇÃO DE LEGALIDADE DO ATO
ADMINISTRATIVO. TRANSPORTE IRREGULAR DE PASSAGEIROS.
INEXISTÊNCIA DE FINALIDADE REMUNERATÓRIA (CARONA).
RECURSO PROVIDO. - SÃO COMPETENTES PARA LAVRAR O AUTO
DE INFRAÇÃO, NOS CASOS DE PRÁTICA DE INFRAÇÕES PREVISTAS
NA LEI DISTRITAL Nº 239/92, ALTERADA PELA LEI Nº 953/95, OS
FISCAIS DO ATUAL DFTRANS (EXTINTO DEP ARTAMENTO
METROPOLITANO DE TRANSPORTES URBANOS - DMTU), OS
AGENTES DO DEP ARTAMENTO DE TRÂNSITO DO DISTRITO
FEDERAL - DETRAN E OS DA POLÍCIA MILITAR DO DISTRITO
FEDERAL, SOB A COORDENAÇÃO DO PRIMEIRO, À LUZ DO QUE
DISPÕE O ART. 28, § 5º, DESSA NORMA. - NÃO OBSTANTE TENHA O
ATO IMPUGNADO SIDO LAVRADO POR AGENTES DO DETRAN,
DETÉM O DFTRANS COMPETÊNCIA PARA REVER A PUNIÇÃO
COMINADA À EMBARGANTE. - A DESPEITO DA PRESUNÇÃO DE
LEGALIDADE INTRÍNSECA AO ATO ADMINISTRATIVO,
CONSEGUIU A RECORRENTE AFASTÁ-LA, UMA VEZ QUE
COMPROVOU, POR MEIO DAS DECLARAÇÕES PRESTADAS PELAS
PESSOAS PRESENTES NO INTERIOR DO VEÍCULO NO MOMENTO
DA APLICAÇÃO DA MULTA, NÃO SER RESPONSÁVEL PELA
PRÁTICA DE TRANSPORTE IRREGULAR DE PASSAGEIROS,
PORQUANTO AUSENTE QUALQUER FINALIDADE
REMUNERATÓRIA NESSA CONDUTA - A PRÁTICA DO
TRANSPORTE SOLIDÁRIO (CARONA) NÃO CONSUBSTANCIA
CRIME OU ATO ILÍCITO PREVISTO EM NENHUMA NORMA LEGAL. -
DEMONSTRADO QUE A EMBARGANTE NÃO COMETEU A INFRAÇÃO
ALUDIDA, MOSTRA-SE ILEGAL A SUA EXCLUSÃO DO CERTAME
LICITATÓRIO, COM SUPEDÂNEO NESSE FUNDAMENTO. -
EMBARGOS PROVIDOS. MAIORIA. (TJ-DF - EIC: 34167519988070001 DF
0003416-75.1998.807.0001, Relator: JAIR SOARES, Data de Julgamento:
10/03/2008, 1ª Câmara Cível, Data de Publicação: 07/05/2008, DJ-e Pág. 17)
(grifo nosso)

CIVIL. AÇÃO ANULATÓRIA. DFTRANS. AUTO DE INFRAÇÃO.


TRANSPORTE IRREGULAR DE PASSAGEIROS. CONJUNTO
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PROBATÓRIO INSUFICIENTE. INOCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE
NOTIFICAÇÃO. OFENSA AO PRINCÍPIO DE AMPLA DEFESA E
CONTRADITÓRIO. 1. A PRESUNÇÃO DE LEGITIMIDADE E
VERACIDADE DO ATO ADMINISTRATIVO NÃO É ABSOLUTA,
TAMPOUCO EXIME A ADMINISTRAÇÃO DE COMPROVAR A
LISURA DO ATO PERPETRADO. 2. NO PRESENTE CASO, O
APELADO CONSEGUIU COMPROVAR, MEDIANTE A
APRESENTAÇÃO DE DECLARAÇÕES DE SUA ESPOSA E COLEGAS
QUE O ACOMPANHAVAM QUANDO DAS AUTUAÇÕES, NÃO ESTAR
ALICIANDO PASSAGEIROS E SIM, OFERECENDO-LHES CARONA.
3. ALÉM DAS PROVAS ADUZIDAS PELO APELADO, O PRÓPRIO
DFTRANS, EM PARECER PRÉVIO, ENTENDEU COMO SUFICIENTE A
DEFESA ADUZIDA PELO AUTOR NO PROCESSO ADMINISTRATIVO. 4.
A EXISTÊNCIA DE PEQUENAS CONTRADIÇÕES EM RELAÇÃO AOS
HORÁRIOS NOS QUAIS O APELADO DEIXOU O TRABALHO NÃO SE
REVELA SUFICIENTE PARA REFUTAR OS ARGUMENTOS DO
REQUERENTE TAMPOUCO OS DE SUAS TESTEMUNHAS. 5. A
AUSÊNCIA DE NOTIFICAÇÃO PRÉVIA AO INFRATOR SOBRE AS
AUTUAÇÕES DEMONSTRA FLAGRANTE OFENSA AOS PRINCÍPIOS DO
CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA, POR NÃO PERMITIR-SE AO
AUTUADO A OPORTUNIDADE DE APRESENTAR DEFESA PRÉVIA À
APLICAÇÃO DAS MULTAS. PRECEDENTES DESTA CORTE. 6. O DOUTO
JUIZ A QUO, AO CONDENAR O RÉU AO PAGAMENTO DAS CUSTAS
PROCESSUAIS E VERBAS HONORÁRIAS, ATENTOU-SE PARA O
DISPOSTO NO ARTIGO 20, § 4º, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL, POIS
SE TRATA DE CONDENAÇÃO DA FAZENDA PÚBLICA. 7. O VALOR DA
CONDENAÇÃO ARBITRADO PELO DOUTO JUIZ A QUO REVELOU-SE
SUFICIENTE PARA REMUNERAR O ESFORÇO DESPENDIDO PELO
CAUSÍDICO DO AUTOR. 8. APELO NÃO PROVIDO. (TJ-DF - APL:
1075069020058070001 DF 0107506-90.2005.807.0001, Relator: NATANAEL
CAETANO, Data de Julgamento: 04/02/2009, 1ª Turma Cível, Data de
Publicação: 16/02/2009, DJ-e Pág. 77) (grifo nosso)

De tal sorte, inexistentes nos autos provas irrefutáveis de haver o Autor incorrido na
prática de prestar serviço de transporte rodoviário intermunicipal de passageiros no Estado da
Bahia em linhas não abrangidas pelo objeto da concessão pó permissão, imperativa a anulação do
auto de infração (número), lavrado em 25 de junho de 2010.

3.2. DA INCONSTITUCIONALIDADE DA PENALIDADE DE APREENSÃO


DO VEÍCULO

Flagrantemente arbitrária a norma contida no art. 40, II, b, da Lei 11.378/09 e art. 84 do
Decreto 11.832/09 por ofensa à competência privativa da União prevista no art. 22, XI, da CF/88

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e ao direito fundamental consagrado no art. 5º, LIV, também do texto constitucional, de que
ninguém será privado de seus bens sem o devido processo legal.

Para tanto, essencial a leitura dos dispositivos legais e sua confrontação com a norma
constitucional, verbis:

Art. 40 - A prestação do serviço de transporte rodoviário intermunicipal de


passageiros no Estado da Bahia em linhas não abrangidas pelo objeto da
concessão ou permissão acarretará a incidência de:
(...)
II - penalidades cumulativas:
a) multa no valor equivalente, em reais, a 20.000 (vinte mil) vezes o valor
absoluto do coeficiente tarifário quilométrico (R$/km) vigente para o veículo
tipo ônibus rodoviário convencional, ou majoração em 100% (cem por cento) da
penalidade imediatamente anterior, se reincidente num prazo de 12 (doze)
meses;
b) apreensão do veículo por um período de 10 (dez) a 90 (noventa) dias.

Dispõe o art. 231 do CTB, disciplinando a mesma conduta prevista no dispositivo


anteriormente citado, que nestes casos, as penalidades a serem aplicadas serão de multa e
retenção do veículo.

Art. 231. Transitar com o veículo:


(...)
VIII - efetuando transporte remunerado de pessoas ou bens, quando não for
licenciado para esse fim, salvo casos de força maior ou com permissão da
autoridade competente:
Infração - média;
Penalidade - multa;
Medida administrativa - retenção do veículo; (destaque nosso)

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Evidente no caso, que a norma contida no Código de Trânsito Brasileiro tem prevalência
sobre a lei e o decreto aplicado pela Autarquia Ré. Assim, a ação da Administração Pública
estaria adstrita a reter o bem, apenas e tão somente, para a lavratura do auto de infração e
correção de irregularidades sanáveis, restituindo-o ao seu proprietário, logo depois de tomadas as
providências legais cabíveis.

Ademais, a norma contida no dispositivo de lei estadual agrava a situação do Autor e das
demais pessoas que se enquadram na mesma situação, ante a visível diferença entre os atos de
apreensão e retenção, pois o primeiro é por tempo infinitamente acima dos limites da
razoabilidade, e a retenção é exclusivamente no momento da lavratura do auto de infração.

É certo que a legislação local dirige-se aos permissionários de transporte coletivo de


passageiros, o que não é o caso dos autos.

Assim o entendimento dos tribunais:

ARGUIÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE - TRANSPORTE


IRREGULAR DE PASSAGEIROS - APREENSÃO DE VEÍCULO - LEI
DISTRITAL - INVASÃO DE COMPETÊNCIA LEGISLATIVA DA UNIÃO -
APREENSÃO DE VEÍCULO - LIBERAÇÃO CONDICIONADA AO
PAGAMENTO DE MULTAS E ENCARGOS - IMPOSSIBILIDADE -
PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL - ARGUIÇÃO ACOLHIDA 1.
A Constituição Federal fixa a competência da União para legislar sobre trânsito e
transporte, nos termos do artigo 22, inciso XI. O artigo 30, incisos I, II e V, e o
artigo 175, ambos da C.F., devem ser interpretados em conjunto. A competência
do município, estendida, no caso, ao DF, limita-se à regulamentação da atividade
econômica desempenhada pelo ente estatal. 2. A liberação do veículo retido sem
licença para transporte remunerado não pode estar condicionada ao pagamento
de multas e encargos, porquanto esta medida administrativa não se confunde
com a penalidade apreensão, sob pena de se violar o princípio constitucional do
devido processo legal (CF, artigo 5º, inciso LIV; artigo 231, inciso VIII, da Lei
9.503/1997 - Código de Trânsito Brasileiro). 3. Argüição de
inconstitucionalidade acolhida. Maioria. (20090020069227ARI, Relator JOÃO
MARIOSA, Conselho Especial, julgado em 6/10/2009, DJ 12/1/2010, p. 92).

Com efeito, a apreensão do veículo é indevida, ante a inconstitucionalidade do art. 40, II,
b, da Lei 11.378/09 e art. 84 do Decreto 11.832/09.

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Frente à inconstitucionalidade do dispositivo legal em apreço, a exemplo do que foi dito
alhures, impõe-se a declaração de nulidade do auto de infração impugnado e de suas respectivas
consequências, bem como a suspensão imediata de sua exequibilidade.

Não bastasse, ainda que o citado preceptivo legal fosse considerado constitucional, este
tem como destinatários os permissionários de transporte público de passageiros, que não se aplica
ao Autor, pois restará evidente na instrução processual que o veículo em questão é de passeio.

O Código de Trânsito Brasileiro prevê que o transporte irregular de passageiros sujeita o


seu infrator à multa e à pena administrativa de retenção do veículo, o que impede que seja este
apreendido e a sua liberação condicionada ao pagamento das diárias de depósito e de demais
encargos.

Eis o entendimento dos tribunais:

ADMINISTRATIVO. AÇÃO ANULATÓRIA DE AUTO DE INFRAÇÃO.


APREENSÃO DO VEÍCULO. TRANSPORTE IRREGULAR DE
PASSAGEIROS. LEI DISTRITAL Nº 953/95. DECLARAÇÃO DE
INCONSTITUCIONALIDADE PELO CONSELHO ESPECIAL DO
TJDFT DOS DISPOSITIVOS QUE PREVIAM A APREENSÃO DO
VEÍCULO. INCIDÊNCIA DO ART. 231 VIII DO CTB. HIPÓTESE DE MERA
RETENÇÃO DO AUTOMÓVEL. RECENTEMENTE, O C. CONSELHO
ESPECIAL DESTE EG. TRIBUNAL DE JUSTIÇA JULGOU PROCEDENTES
OS PEDIDOS FORMULADOS NA ARGÜIÇÃO DE
INCONSTITUCIONALIDADE Nº. 2009.00.2.006922-7, CUJO OBJETO ERA
OS ARTIGOS DA LEI DISTRITAL Nº 239/92 QUE FUNDAMENTAM A
APLICAÇÃO DA PENA DE APREENSÃO DE VEÍCULOS PARA O CASO
DE TRANSPORTE ILEGAL DE PASSAGEIRO. ASSIM, NÃO MAIS
INCIDINDO AS MENCIONADAS DISPOSIÇÕES NORMATIVAS EM
CASOS COMO O ORA ANALISADO, RESTA INEVITÁVEL A
DECLARAÇÃO DE NULIDADE DO AUTO DE INFRAÇÃO INDICADOS
NA INICIAL, BEM COMO A RESTITUIÇÃO DO VALOR PAGO PELAS
DIÁRIAS DO DEPÓSITO DO AUTOMÓVEL, EIS QUE ILEGALMENTE
APREENDIDO. (TJ-DF - APL: 543188020088070001 DF 0054318-
80.2008.807.0001, Relator: CARMELITA BRASIL, Data de Julgamento:
04/11/2009, 2ª Turma Cível, Data de Publicação: 01/12/2009, DJ-e Pág. 79)

AGRAVO REGIMENTAL EM APELAÇÃO CÍVEL E REMESSA OFICIAL.


TRANSPORTE IRREGULAR DE PASSAGEIROS. CARRO DE PASSEIO.
AUTO LAVRADO COM BASE NA LEI DISTRITAL 239/92. FRAUDE AO
TRANSPORTE PÚBLICO. CARACTERIZAÇÃO IMPOSSÍVEL. VEÍCULO
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COMPACTO DE PASSEIO. ABSOLUTA IMPROPRIEDADE PARA
LUDIBRIAR O USUÁRIO. 1. Reputando-se as razões do apelo improcedentes e
encontrando-se estas em confronto com jurisprudência dominante do Tribunal de
Justiça e do Superior Tribunal de Justiça, aplica-se o disposto no art. 557 do
Código de Processo Civil, negando-se provimento de plano ao recurso. 2.
Aplica-se o Código de Trânsito Brasileiro ao particular, condutor de veículo de
passeio, autuado pela prática de transporte clandestino e não a Lei distrital
239/92, que possui aplicação restrita aos permissionários de serviço público. 3.
Se o veículo utilizado na pretensa infração é carro de passeio compacto,
reconhece-se ser incapaz de constituir fraude à operacionalização de
transporte coletivo, porquanto não incute nos passageiros a aparência de
autorização para a realização de transporte remunerado, afinal, quem entra
em automóvel de passeio o faz indene de dúvidas quanto ao caráter
particular deste. 4. Acaso configurado o transporte remunerado não autorizado
de passageiros, a questão deveria ser sanada no local da infração, conforme
parágrafos 1º e 2º do art. 270 do CTB, mediante o mero desembarque dos
passageiros transportados, sendo ilegal a apreensão do veículo. 5. Agravo
regimental conhecido e improvido. (20100110192305APO, Relator J.J. COSTA
CARVALHO, 2ª Turma Cível, julgado em 26/10/2011, DJ 4/11/2011, p. 68)
(grifo nosso)

DIREITO ADMINISTRATIVO. TRANSPORTE IRREGULAR DE


PASSAGEIROS EM VEÍCULO PARTICULAR. NÃO MERECE CENSURA A
SENTENÇA QUE PRESTIGIA A DECLARAÇÃO DE
INCONSTITUCIONALIDADE DE ATO NORMATIVO DECLARADA PELO
TRIBUNAL, A QUAL AUTORIZARIA A APREENSÃO DO VEÍCULO QUE
PRATICAVA O ALEGADO TRANSPORTE IRREGULAR DE
PASSAGEIROS. ADEMAIS, SOB A ÓTICA DO CTB (ART. 231, VIII), ESSA
INFRAÇÃO SERIA PASSÍVEL DE MULTA E MEDIDA ADMINISTRATIVA
DE RETENÇÃO, NÃO APREENSÃO. RECURSO CONHECIDO E NÃO
PROVIDO. UNÂNIME. (TJ-DF - APL: 298960720098070001 DF 0029896-
07.2009.807.0001, Relator: WALDIR LEÔNCIO LOPES JÚNIOR, Data de
Julgamento: 21/03/2012, 2ª Turma Cível, Data de Publicação: 30/03/2012, DJ-e
Pág. 116)

Assim, se infração houve, não foi à luz da legislação local, mas sim do Código de
Trânsito Brasileiro (art. 231, VIII), que prevê que o transporte irregular de passageiros sujeita o
seu infrator à multa e à pena administrativa de retenção do veículo, o que impede que seja este
apreendido.

3.3. DO DANO MORAL

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Por tudo já apresentado, é medida de justiça que o Réu seja condenado ao pagamento de
indenização por danos morais.

Não há dúvida de que os fatos descritos no processo geram direito a indenização, uma vez
que a falha por parte do órgão autuador submeteu o Autor a constrangimento, desconforto, e
transtornos que, à toda evidência, não se resumem a mero dissabor, aborrecimento ou irritação
cotidianos.

Não bastassem, tais danos experimentados pelo Autor poderiam ter sido evitados se o Réu
tivesse agido com mais diligência em sua atividade, buscando meios aptos a evitar cobranças
equivocadas, e, sobretudo, providenciando com rapidez e eficiência a correção da cobrança
indevida.

Os nossos tribunais vêm entendendo desta forma. Vejamos:

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL - INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS


E MORAIS - EMPRESA MUNICIPAL DE TRANSPORTES URBANOS -
APREENSÃO IRREGULAR DE MOTOCICLETA SOB SUSPEITA DE
TRANSPORTE IRREGULAR DE PESSOAS. 1) Restando cabalmente
provado nos autos que a apreensão do veículo, tipo motocicleta, foi
indevidamente apreendido por agente de fiscalização de trânsito da
empresa pública ré, sob suspeita infundada de transporte remunerado de
pessoas, correta é a decisão monocrática que julga procedente os pedidos de
indenização por danos materiais e morais formulados na peça de ingresso.
2) Apelo improvido. (TJ-AP - AC: 194105 AP , Relator: Desembargador
AGOSTINO SILVÉRIO, Data de Julgamento: 19/09/2006, Câmara Única, Data
de Publicação: DOE 3869, página (s) 19 de 17/10/2006)

Assim, como medida de justiça, faz-se necessário a indenização do Autor por danos
morais no valor de R$ 40.000,00 (quarenta mil reais), tendo em vista o constrangimento sofrido
pelo Autor em ter o seu nome classificado como infrator, além de se ver impedido de transitar
com o seu veículo, quando proprietário, violando o seu direito de usufruir do seu patrimônio,
tudo isso causado pela falta de cautela do Poder Público.

4. DA ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA

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Na esteira da melhor doutrina sobre tutela antecipatória, a citar Luiz Guilherme Marinoni,
conclui-se que determinados pedidos dentro de uma demanda ensejam a antecipação do seu
julgamento, eis que evidenciados no seu aspecto legal fático.

Verifica-se, in casu, que o pedido consubstanciado na anulação do auto de infração por


vício quanto ao motivo e pela inconstitucionalidade da apreensão do veículo pela Autarquia Ré,
impõe a suspensão imediata da sua exequibilidade até o julgamento final do pedido, inclusive é
uma solução que se impõe no presente caso, eis que se aguardar uma deliberação final dentro do
procedimento ordinário, configurar-se-á, indubitavelmente, dano irreparável ao Autor, tendo em
vista estarmos tratando do direito de usufruir de um patrimônio de forma livre e desimpedida.

Como é cediço, o artigo 273 do Código de Processo Civil, com nova redação determinada
pela Lei nº. 8.952/94, autoriza seja concedida liminarmente e inaudita altera pars medida
antecipatória dos efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, verossímil a alegação e
baseada em provas fundadas, haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação
(tutela antecipada da urgência).

A verossimilhança do alegado está presente na fundamentação e documentação acostada,


especialmente na prova testemunhal que será produzida em Juízo e na inconstitucionalidade da
apreensão de veículo automotor quando o Código de Trânsito Brasileiro impõe uma retenção
administrativa apenas para a lavratura do auto de infração.

Quanto ao periculum in mora, esse consiste nas gravíssimas consequências decorrentes


dos efeitos negativos para fruir livremente de seu patrimônio por lapso de tempo superior ao
necessário, além de poder ter seu nome inscrito em Dívida Ativa.

Não se pode olvidar que a hipótese fática trazida aos autos pelo Autor evidencia a
URGÊNCIA na concessão da medida antecipatória dos efeitos da tutela pretendida, tendo em
vista que, conforme já anteriormente destacado, poderá acarretar danos irreversíveis.

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CEP: 40110-050
5. DO PEDIDO

Diante do exposto, requer a V.Exª: 

a) Que seja concedido o benefício da Assistência Jurídica Gratuita, conforme fundamentação


supra; 
b) Que seja determinada a citação da Autarquia Ré, na pessoa de um dos seus Procuradores,
para, querendo, contestar a presente ação, ciente de que os fatos aqui alegados, se não
contestados, serão tidos como verdadeiros;
c) A antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional, nos moldes do art. 273 do Código de
Processo Civil, a fim de determinar a Autarquia Ré que suspenda os efeitos do auto de infração
nº (número), notadamente a exigibilidade da multa no valor de R$2.802,80 (dois mil, oitocentos
e dois reais e oitenta centavos), inclusive impedindo a apreensão do veículo de placa policial
(placa), até o julgamento do presente feito, na forma e nos termos acima declinados, sob pena de
cominação de multa diária, não inferior à R$ 1.000,00 (hum mil reais) em hipótese de
descumprimento;
d) Que seja julgado procedente o pedido, confirmando a antecipação dos efeitos da tutela,
a fim de anular o auto de infração (número), lavrado em 25 de junho de 2010 pela Autarquia
Ré, que gerou a multa aplicada em desfavor do Autor, eliminando seus consectários legais,
determinando o seu arquivamento, bem como declarando a inexigibilidade da cobrança da
multa atualmente no valor de R$2.802,80 (dois mil, oitocentos e dois reais e oitenta centavos), e
sustando definitivamente a apreensão do veículo de placa policial (placa), sob pena de
cominação de multa diária, não inferior à R$ 1.000,00 (hum mil reais) em hipótese de
descumprimento;
e) Que seja declarada incidentalmente a inconstitucionalidade da alínea b, do inciso II,
do artigo 40, da Lei Estadual nº 11.378/09 frente à Constituição Federal, ante a usurpação
indevida pelo Estado da Bahia de competência privativa da União para legislar sobre matéria de
trânsito, já que indispensável a resolução do litígio;
f) Que seja julgado procedente o presente pleito, para que a Ré seja condenada ao
pagamento de uma indenização por danos morais ao Autor no importe de R$ 40.000,00

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CEP: 40110-050
(quarenta mil reais), tendo em vista o constrangimento sofrido pelo Autor em ter o seu nome
classificado como infrator, além de ter sido impedido de transitar com o seu veículo, violando o
seu direito de usufruir do seu patrimônio, tudo isso causado pela falta de cautela do Poder
Público;
g) A intimação do membro do Ministério Público para atuar no feito como custus legis; 
h) A condenação da parte ré ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios,
estes fixados em 20% (vinte por cento) sobre o valor da condenação, a serem revertidos à Escola
Superior da Defensoria Pública do Estado da Bahia – ESDEP;
i) Sejam observados os ditames relativos à intimação pessoal dos membros da Defensoria
Pública e a contagem em dobro de todos os prazos, nos moldes da Lei Complementar Estadual nº
26/2006 e Lei nº 1.060/50
j) Protesta provar o alegado por todos os meios de provas em direito admitidos, sem
exceção, especialmente a documental acostada aos autos do processo, inclusive com o
depoimento pessoal do Autor, juntada de novos documentos, prova pericial e testemunhal, cujo
rol segue em anexo à presente inicial, e que deverão ser intimadas.

Dá-se a causa o valor de R$ 42.802,80 (quarenta e dois mil, oitocentos e dois reais e
oitenta centavos). 

Nestes termos, pede e espera deferimento

Salvador/BA, 7 de May de 2023.

(nome dx defensorx púlicx)


DEFENSORX PÚBLICO

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ROL DE TESTEMUNHAS

1 – (NOME), residente à (ENDEREÇO);


2 – (NOME), residente à (ENDEREÇO);
3 – (NOME), residente à (ENDEREÇO);

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