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DEFENSORIA PÚBLICA
ESTADO DO RIO DE JANEIRO

EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA VARA úNICA DA COMARCA DE SÃO


FRANCISCO DE ITABAPOANAIRJ

ROBERTO DE SOUSA, brasileiro, casado, lavrador, portador da cédula de identidade

. n° 12478200, expedida pela SSP/SP, inscrito no CPF/MF sob o n° 569.777.867-87,


residente e domiciliado na Rua Projetada 4, n° 28, Floresta, São Francisco de Itabapoana,
RJ, telefone: 22 27891530, vem, por intermédio da Defensoria Pública do Estado do Rio de
Janeiro, propor a presente

AÇÃO DE ANULAÇÃO DE ATO ADMINISTRATIVO

COM PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA

em face do DEPARTAMENTO DE ESTRADAS DE RODAGEM DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, DER-


RJ, fundação pública estadual, e do DETRAN - DEPARTAMENTO DE TRÂNSITO DO ESTADO DO
RIO DE JANEIRO, autarquia estadual, pelos motivos de fato e de direito que passa a expor.

(1) DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA:

Inicialmente, afirma sob as penas da Lei e de acordo com o artigo 4 0 e seu § 1° da


Lei 1.060150, com a redação introduzida pela Lei 7.510186, ser juridicamente necessitada,
sem condições de arcar com as custas judiciais e com os honorários advocatícios sem
prejuízo do próprio sustento e de sua família, razão pela qual faz jus aos benefícios da
GRATUIDADE DE JUSTIÇA e indica a Defensoria Pública para o patrocínio de seus
interesses.

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(2) DOS FATOS:

0 Autor é proprietário da motocicleta Honda/CG 150 Titan Ex, placa LLV 4680 1
2013, chassi n° 9C2KC1660DR521889, jamais tendo utilizado o veículo fora dos limites
territoriais do Município de São Francisco de Itabapoana.

Ocorre que, agosto de 2013, recebeu em sua residência uma notificação de


infração de trânsito consistente na conduta de transitar em velocidade superior a máxima
• permitida para o local, conforme-se extrai dos autos de infração n° Y31633847,
supostamente praticada no Município de Itaboraí, em 06.07.2013.

Diante da impossibilidade de a referida infração ter sido cometida com o veículo do


autor, este recorreu administrativamente alegando uma possível clonagem da sua placa.
Com efeito, consoante se depreende das inclusas fotografias da motocicleta do autor
contrastadas com a imagem capturada no momento da infração de trânsito, percebe-
se claramente que a placa desta última não condiz com a do autor. Em verdade, a
imagem da infração indica a placa LLV 4580, e não LLV 4680, placa do autor.

Apesar do recurso interposto administrativamente, a autoridade competente não


acolheu as razões expostas pelo autor, intimando-o para pagamento do valor
• correspondente à multa, com vencimento em 2810112014. Ressalte-se que o autor é pessoa
humilde e não foi assistido por profissional técnico durante a elaboração do procedimento
administrativo. De todo o modo, a divergência entre as placas é gritante, sendo manifesta a
procedência da pretensão autoral.

Contudo, o DETRAN-RJ recusou-se a marcar data para a realização da vistoria no


veículo do autor, condicionando o mesmo ao pagamento da multa correspondente. Assim,
sem realizar a vistoria anual, o autor não pôde receber o CLRI - Certificado de
Licenciamento e Registro de Veículo, ingressando em situação irregular, bem como sofreu
indevidamente a perda de pontos em sua carteira de motorista.

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Conforme já ressaltado, o demandante nunca esteve no local mencionado na


aludida notificarão, visto que o veículo que consta na imagem fornecida não
corresponde ao do autor.

Diante do descaso em relação às razões expostas pelo autor em seu recurso


administrativo bem como do inegável prejuízo que o referido ato administrativo vem
causando em sua esfera jurídica, é a presente a fim de ver anulado o ato e, por conseguinte,
ser providenciada a vistoria anual da motocicleta.

a (3) DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS:

Dispõe o artigo 37, caput, da Constituição da República Federativa do Brasil que "a
administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência", sendo nosso o grifo.

Vê-se que se trata de um princípio, o "alicerce da ciência", que garante aos


cidadãos a qualidade dos serviços públicos.

Ensina-nos a Profa. Maria Sylvia Zanella Di Pietro que o referido princípio


• apresenta dois aspectos, sendo um deles o "modo de atuação do agente público, do qual
se espera o melhor desempenho possível de suas atribuições, para lograr os melhores
resultados" (Direito Administrativo, Ed. Atlas, 14a ed., 2002, pág. 83, grifo no original).

0 que se percebe nos autos é que o primeiro Réu não desempenhou suas funções
satisfatoriamente, o que infelizmente é notório na sociedade. 0 DER-RJ é conhecido pelos
péssimos serviços prestados, e essa qualidade sofrível atingiu o autor, que teve seu veículo
confundido com outro e, mesmo provando tal fato, não obteve êxito na anulação da infração
de trânsito, que foi expedida equivocadamente.

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São condutas como essa que fazem com que os cidadãos tenham que procurar o
Judiciário, comprometendo a rapidez da tutela jurisdicional, para questionar atos
administrativos que, numa perfunctória análise, não se sustentam.

Muito embora os atos administrativos gozem de presunção de legitimidade,


veracidade e legalidade, é certo que a presunção, por ser relativa, sucumbe diante da
presença de provas em sentido contrário. Na espécie, a parte autora logrou demonstrar a
existência de clonagem do seu veículo, tornando-se indevida, por consequência, a
imputação de infrações ao veículo clonado.

De fato, o proprietário de veículo, vítima de fraude, não pode ser compelido a


permanecer eternamente vinculado a infrações de trânsito ou a eventuais infrações criminais
perpetradas com a utilização do bem clonado, obrigando-se a se defender, indefinidamente,
de imputações irregulares.

A respeito do tema, confira-se os seguintes arrestos:

0111323-61.2007.8.19.0001 - APELACAO

DES. DENISE LEVY TREDLER - Julgamento: 27/08/2013 - DECIMA NONA


CAMARA CIVEL

AGRAVO INOMINADO EM APELAÇÃO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE


FAZER, COM PEDIDO CUMULADO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS. CLONAGEM DE PLACA DE VEÍCULO. INFRAÇÕES DE
TRÂNSITO NÃO COMETIDAS PELA LEGÍTIMA PROPRIETÁRIA DO BEM.
CANCELAMENTO DAS MULTAS A ESTA APLICADAS E DA PONTUAÇÃO
COMPUTADA NA SUA CARTEIRA DE HABILITAÇÃO. SUBSTITUIÇÃO
DA PLACA CLONADA. Pretensão de modificação do decisum, sob reiterados
argumentos de precedente recurso. Conjunto probatório, que demonstra a
clonagem da placa do veículo de propriedade da autora, e afasta, por

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consequência, a relativa presunção de legitimidade e veracidade dos


autos de infração emitidos pelo órgão público. Divergência entre as
características do automóvel da autora e aquele utilizado no
cometimento das infrações de trânsito. Multas indevidamente anotadas no
cadastro do veículo da demandante, no DETRAN, assim como os pontos
para esta computados. Manutenção da placa clonada, que implica
permanente risco de a autora sofrer autuação por infração não cometida.
Substituição da placa, que é de responsabilidade exclusiva da autarquia
primeira ré. Agravo inominado que nada acrescenta para que se modifique a
decisão anterior, que manteve a sentença. Desprovimento do recurso. (grifos
nossos)

0159157-26.2008.8.19.0001 - APELACAO

DES: MARCIA ALVARENGA - Julgamento: 1510812012 - DECIMA SETIMA


CAMARA CIVEL

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C


INDENIZATÓRIA. AUTOR PROPRIETÁRIO DE VEICULO
CUJA PLACA FOICLONADA. PEDIDO DE CANCELAMENTO
DAS MULTAS E DOS PONTOS ATRIBUIDOS EM SUA CARTEIRA DE
HABILITAÇÃO, BEM COMO DANOS MORAIS. SENTENÇA DE PARCIAL
PROCEDÊNCIA, AFASTANDO-SE 0 PLEITO INDENIZATbRIO. APELO DO
MUNICIPIO REQUERENDO A ISENÇÃO DO PAGAMENTO DAS CUSTAS E
• ADUZINDO QUE NÃO F0I DEMONSTRADA A CLONAGEM, PELO
PRINCÍPIO DA EVENTUALIDADE, AFIRMA 0 ENTE PÚBLICO QUE AINDA
ASSIM PERMANECE 0 DEVER DE PAGAMENTO
DAS MULTAS, DEVENDO 0 PROPRIETÁRIO DO VEICULO AJUIZAR
AÇÃO DE REGRESSO EM FACE DO AGENTE RESPONSÁVEL. Tendo o
autor logrado comprovar o fato constitutivo de seu direito, nos termos
do art. 333, I, do CPC, deverão ser canceladas as multas aplicadas,
conforme determinado na sentença. Ao contrário do que pretende o
apelante para eximir a sua responsabilidade, não há como se falar em ação
de regresso a ser ajuizada pelo apelado, tendo em vista que o recorrente é o
ente incumbido de fiscalizar os veículos automotores e seus condutores, bem
como é o responsável pela aplicação indevida das multas. PEQUENA
REFORMA NA SENTENÇA A FIM DE RECONHECER A ISENÇÃO DE
CUSTAS, CONFORME PREVISTO NO INCISO IX DO ART. 17 DA LEI N°
3350199. RECURSO A QUE SE DÁ PARCIAL PROVIMENTO, COM
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FULCRO NO ART. 557, §1 1-A, DO CPC. (grifos nossos)

(4) DA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA:

0 artigo 273 do Código de Processo Civil prevê a possibilidade de antecipação


liminar dos efeitos da tutela jurisdicional pretendida, desde que verossimilhantes os fatos
alegados e existente o perigo de ineficácia da medida, ao final.

Inicialmente, o direito do autor decorre de fatos comprovados de plano, através dos


documentos acostados à petição inicial, consistentes nas fotografias da motocicleta do autor
e na imagem capturada no momento da infração de trânsito. É nitidamente visível que
veículo automotor do autor possui placa diferente do referido veículo utilizado no
cometimento das infrações que constam no cadastro do autor junto ao Detran-RJ.

Da mesma forma, encontra-se estreme de dúvidas o perigo da demora, uma vez


que sem a realização da vistoria, o Certificado de Licenciamento e Registro do Veículo não
será expedido, e, por via de conseqüência, o autor estará impedido de legitimamente
circular com sua motocicleta.

Demais disso, a concessão da tutela antecipada em face da Fazenda Pública não é


restringida na hipótese em exame, uma vez que, conforme jurisprudência assentada nos
tribunais, a vedação à concessão de tutela antecipada contra a Fazenda Pública, nos
termos da Lei 9494195, limita-se aos casos enunciados nas Leis n° 4384164, 5021166 e
8437192.

(5) DO PEDIDO:

Em face do exposto, requer a V. Exa.:

1) o deferimento da Gratuidade de Justiça;

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2) a antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional para determinar a realização de


vistoria obrigatória do veículo do autor, independentemente do pagamento da multa, sob
pena de multa diária de R$ 500,00, bem como a suspensão da cobrança da multa até a
decisão final da lide;

3) a citação dos réus para, querendo, contestar a presente ação, sob pena de revelia; _

4) a intimação do membro do Ministério Público na qualidade de custos legis;

5) o julgamento, ao final, pela procedência do pedido, para determinar que o primeiro


réu anule a multa bem como os pontos da carteira de habilitação e, ainda, para determinar
ao segundo réu a realização da vistoria no veículo do autor, confirmando a liminar deferida;

6) a condenação dos réus ao pagamento de honorários advocatícios, fixados em 20%


(vinte por cento) sobre o valor da causa, em favor do Centro de Estudos Jurídicos da
Defensoria Pública Geral do Estado do Rio de Janeiro, na forma da lei.

(6) DAS PROVAS:

Protesta pela produção de todos os meios de provas em Direito admitidos,


especialmente documental, testemunhal e prova pericial, caso necessária.
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(7) DO VALOR DA CAUSA:

Dá-se à causa o valor de R$ 127,69 (cento e vinte e sete reais e sessenta e nove
centavos).

Nestes termos, pede deferimento.

São Francisco de Itabapoana, 26 de fevereiro de 2014.


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JULIA VIEIRA OLIVEIRA

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