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AO JUIZO DA 2ª VARA DA COMARCA DE BLUMENAU – ESTADO DE SANTA

CATARINA

Autos n. 99999.2020.8.24.0008

CARLOS DE JESUS, devidamente qualificado nos autos da ação


indenizatória em epígrafe, movida por LUANA DOS SANTOS, devidamente
qualificada, vem a juízo, por meio de seu advogado com procuração em anexo,
apresentar CONTESTAÇÃO C/C RECONVENÇÃO, pelos motivos e fatos a seguir
descritos:

I – DA TEMPESTIVIDADE

A presente peça processual e tempestiva. O prazo para a apresentação


da contestação é o de 15 (quinze) dias a partir da juntada do AR relativa à carta de
citação, ou seja, o prazo final para a prática do ato seria do dia 11/05/2023.

II – SÍNTESE DOS FATOS

No dia 05 de fevereiro de 2023, o Requerente alega que estava


transitando na rua 2 de setembro, na cidade de Blumenau – SC, quando se
envolveu em um acidente de transito, com o veículo da Requerida.

Consta na inicial que, o Requerente teria sido o responsável pelo


acidente, pois estaria acima do limite de velocidade permitida para aquela via. No
entanto a versão da Requerida não condiz com o que realmente teria acontecido de
fato, conforme exposto abaixo:

Como consta no boletim de ocorrência, a Requerida avançou o sinal


vermelho, estando ainda acima da velocidade permitida naquela via, encontrando-
se totalmente embriagada no momento da colisão entre os veículos. Em decorrência

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do acidente, o Requerente sofreu danos materiais no valor de R$ 10.000,00 (dez mil
reais), valor que foi utilizado para consertar o seu automóvel.

Portanto percebe-se que o Requerente não tem responsabilidade


nenhuma sobre o acontecimento, mesmo que o Requerente esteja envolvido no
acidente de transito, não foi sua conduta que teria ocasionado a colisão dos
veículos, e sim a conduta da Requerida, influenciando assim, o resultado do
ocorrido.

A Requerida teria dado causa a ação, no valor de R$ 1.000,00 (mil reais),


e requereu ainda, os benefícios da justiça gratuita, sendo que, possui condições
financeiras por ser considerada uma empresária de sucesso, nas redes de
supermercados. A Requerida não desejou audiência mediante a conciliação, por ter
tentando o acordo extrajudicial, sendo infrutífero.

Conforme se verá, inexiste qualquer direito a ser reparado a parte


requerida. Percebe-se que se passaram 2 meses da data do ocorrido e o
ajuizamento da ação, o que demonstra que apenas possui a intenção de enriquecer-
se ilicitamente com a presente demanda.

III – PRELIMINARMENTE

III.I – INCORREÇÃO AO VALOR DA CAUSA

Aponta a Requerida o valor de R$ 1.000,00 (mil reais) como valor da


causa. Acontece que este valor não respeita dos ditames legais. Conforme o art.
292, CPC, as ações indenizatórias devem ter por valor da causa o importe que se
pretende.

Portanto, o montante pleiteado pela Requerida é o de R$ 20.000,00 (vinte


mil reais), valor este que, segundo afirma, foi utilizado para o conserto do seu
veículo. Assim o valor da causa indicado pela parte deveria ser de R$ 20.000,00
(vinte mil reais), devendo o juiz decidir a respeito, impondo, a complementação de
custas, nos termos do art. 337, III, CPC.

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III.II – DA INÉPCIA DA PETIÇÃO INICIAL

O Código de Processo Civil, claramente dispõe que os fatos que


conduzem à inépcia da inicial são:

Art. 330. A petição inicial será indeferida quando:


I - for inepta;
II - a parte for manifestamente ilegítima;
III - o autor carecer de interesse processual;
IV - não atendidas as prescrições dos arts. 106 e 321.
§ 1° Considera-se inepta a petição inicial quando:
I - lhe faltar pedido ou causa de pedir;
II - o pedido for indeterminado, ressalvadas as hipóteses legais em
que se permite o pedido genérico;
III - da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão;
IV - contiver pedidos incompatíveis entre si.
§ 2° Nas ações que tenham por objeto a revisão de obrigação
decorrente de empréstimo, de financiamento ou de alienação de
bens, o autor terá de, sob pena de inépcia, discriminar na petição
inicial, dentre as obrigações contratuais, aquelas que pretende
controverter, além de quantificar o valor incontroverso do débito.
§ 3° Na hipótese do § 2°, o valor incontroverso deverá continuar a
ser pago no tempo e modo contratados.

Conforme leciona doutrina especializada sobre o tema:

"O autor tem de apresentar a sua fundamentação de modelo


analítico, tal como ela é exigida para a decisão judicial (art. 489, §1º,
CPC), sob pena de inépcia. A parte não pode expor as suas razões
de modo genérico; não pode valer-se de meras paráfrases da lei
(art. 489, §1º, I, CPC), não pode alegar a incidência de conceito
jurídico indeterminado, sem demonstrar as razões de sua aplicação
ao caso (art. 489, §1º, II, CPC) etc." (DIDIER JR, Fredie. Curso
Processual Civil. Vol. 1. 19ª ed. Editora JusPodivm, 2017. p. 635)

No mesmo sentido, o CPC exige que a petição inicial apresente os


documentos necessários para a compreensão do litígio.

Art. 320. A petição inicial será instruída com os documentos


indispensáveis à propositura da ação.

No entanto, no presente caso, a Requerida não juntou documentos que


comprovam o motivo de requerer a pensão mensal, tampouco a conciliação logica
que, ao menos em tese, levassem aos elementos da pensão mensal, evidenciando
assim a sua inépcia.
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III.III – INDEFERIMENTO DA JUSTIÇA GRATUITA

Diante do exposto, a Requerida alegou hipossuficiência, para não arcar


com taxas e custas processuais exigidas para a tramitação do processo, mas não
comprovou as alegações com documentos, ou declaração de imposto de renda
(IRPF).

Conforme o Código de Processo Civil, em seu art. 337, XIII, vejamos:

Art. 337. Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar:


[...]
XIII – indevida concessão do benefício de gratuidade de justiça.

Deste modo, a Requerida, proprietária de uma rede de supermercados


pelo estado de Santa Catarina, reconhecida com uma empresaria de sucesso,
possui uma quantia muito superior, do que o mínimo previsto em lei. Sendo assim a
Requerida não possui, nenhuma dificuldade financeira, podendo certamente arcar
com as custas e taxas processuais.

IV – DA CONTESTAÇÃO

Sem ato ilícito não há responsabilidade civil. O requerente em nenhum


momento praticou ação voluntária com negligência ou imprudência que causasse
danos a Requerida e, consequentemente, gerasse o dever indenizatório. Por tanto
não houve afronta aos arts.186 e 925 do Código Civil.

Sendo assim, toda responsabilidade cabe a Requerida que, conforme


documentos apresentados, estava completamente embriagada no momento do
acidente, pondo pedestres e outros motoristas em risco, avançando os sinais
vermelhos.

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Deste modo o Requerente não pode ser culpado por um ato
responsabilizado pela a Requerida, conforme a clara disposição do Código Civil:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito

Ou seja, o ato ilícito indenizável só pode ser em decorrência de um ato de


omissão, voluntária, negligência ou imperícia, o que neste caso são atribuídos a
Requerida.

Caso assim não se entenda, é necessário levantar a responsabilidade


concorrente entre as partes. A culpa é um fato determinante no momento de se
determinar o valor indenizatório.

O Código Civil permite ''reduzir, equitativamente, a indenização'' quando


houver excessiva desproporção entre a culpa e o dano (art. 944, parágrafo único,
CC). Sendo estabelecido ainda que: ''se a vítima tiver concorrido culposamente para
o evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de
sua culpa em confronto com o do autor do dano'' (art. 945, CC).

Ora, apesar do Requerente exceder o limite de velocidade em 3%, esse


valor é ínfimo, não sendo o motivo preponderante para o acontecimento do
acidente. Pelos motivos aduzidos, improcedentes os pleitos autorais. Caso reste
configurado a responsabilidade civil, imperioso implicar que a mesma seja
concorrente, conforme precedentes sobre o tema

APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS


MATERIAIS, MORAIS E ESTÉTICOS C/C PENSIONAMENTO
MENSAL. ACIDENTE DE TRÂNSITO. PARCIAL PROCEDÊNCIA
NA ORIGEM.
RESPONSABILIDADE PELO ACIDENTE. RÉU QUE
PROMOVEU MANOBRA DE ULTRAPASSAGEM EM LOCAL
SINALIZADO COM FAIXA CONTÍNUA, DE MODO QUE
PROVOCOU A COLISÃO FRONTAL COM A MOTOCICLETA
CONDUZIDA PELO AUTOR. ELEMENTOS PROBATÓRIOS
SUFICIENTES PARA EVIDENCIAR A CULPA DO REQUERIDO
PELO ACIDENTE. MANOBRA EM LOCAL PROIBIDO ADMITIDA
PELO PRÓPRIO RÉU EM DEPOIMENTO PESSOAL.

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EMBRIAGUEZ DO REQUERIDO NÃO COMPROVADA.
SOBRIEDADE DO CONDUTOR QUE NÃO AFASTARIA A SUA
CULPA POR REALIZAR A MANOBRA SEM A DEVIDA ATENÇÃO E
PRUDÊNCIA. RESPONSABILIDADE CIVIL CARACTERIZADA.
DANOS MORAIS. ACIDENTE QUE CAUSOU A AMPUTAÇÃO DO
MEMBRO INFERIOR ESQUERDO DO AUTOR, A RESTRIÇÃO DA
FLEXO-EXTENSÃO DO COTOVELO ESQUERDO E MÚLTIPLAS
CICATRIZES NA REGIÃO ABDOMINAL. DANOS IRREVERSÍVEIS.
INCAPACIDADE LABORATIVA TOTAL E
PERMANENTE. SITUAÇÃO VIVENCIADA QUE CAUSOU
EVIDENTE DESEQUILÍBRIO EMOCIONAL. DANOS
EXTRAPATRIMONIAIS CARACTERIZADOS. QUANTUM
INDENIZATÓRIO. INSURGÊNCIA DE AMBAS AS PARTES. RÉUS
QUE NÃO APRESENTAM CONDIÇÃO FINANCEIRA ABASTADA.
JUROS MORATÓRIOS QUE DEVEM INCIDIR DESDE NOVEMBRO
DE 2016. CONDENAÇÃO QUE DEVE SER REDUZIDA DE R$
20.000,00 PARA R$ 15.000,00. RAZOABILIDADE E
PROPORCIONALIDADE.
DANOS ESTÉTICOS. POSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO COM OS
DANOS MORAIS. SÚMULA 387 DO STJ. AMPUTAÇÃO DE
MEMBRO E CICATRIZES. MODIFICAÇÃO DA ESTRUTURA
CORPORAL DO AUTOR COMPROVADA. CONDENAÇÃO
ARBITRADA EM R$ 15.000,00 QUE SE MOSTRA ADEQUADA.
PENSÃO MENSAL VITALÍCIA. ART. 950 DO CÓDIGO
CIVIL. INCAPACIDADE DO AUTOR COMPROVADA PELO LAUDO
PERICIAL. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA. DANOS
IRREVERSÍVEIS. INCAPACIDADE TOTAL E PERMANENTE DA
VÍTIMA. AUTOR QUE TRABALHAVA COM SUA FAMÍLIA NA
PRODUÇÃO DE LEITE. PROVA TESTEMUNHAL E NOTAS
FISCAIS QUE EVIDENCIAM RENDA MENSAL DE
APROXIMADAMENTE R$ 2.000,00. RENDIMENTOS
CONDIZENTES COM O LABOR EXERCIDO. AUTOR QUE
RECEBE, A TÍTULO DE BENEFÍCIO DE PREVIDENCIÁRIO,
VALOR DE UM SALARIO MÍNIMO. NECESSÁRIA
COMPENSAÇÃO. CORRETA A SENTENÇA AO FIXAR O
PENSIONAMENTO MENSAL EM 107% DO SALÁRIO MÍNIMO,
COMO FORMA DE COMPENSAR O DEMANDANTE PELA PERDA
DE SUA CAPACIDADE LABORATIVA, EM RAZÃO DO ATO
ILÍCITO PRATICO PELO RÉU.
SENTENÇA REFORMA EM PARTE.
HONORÁRIO RECURSAIS INCABÍVEIS NA ESPÉCIE.
RECURSO DO AUTOR CONHECIDO E DESPROVIDO.
RECURSO DO RÉU CONHECIDO E PROVIDO EM PARTE.
(TJSC, Apelação n. 0302134-42.2017.8.24.0080, do Tribunal de
Justiça de Santa Catarina, rel. Flavio Andre Paz de Brum, Primeira
Câmara de Direito Civil, j. 05-04-2023).

Portanto, comprovada a concorrência de culpa entre as partes, há de se


reconhecer a proporcionalidade de cada parte.

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V – DA RECOVENÇÃO

Ao Requerente é licito propor reconvenção, manifestando pretensão


própria, se conexa com a ação principal ou com fundamento da defesa, nos termos
do art. 343, CPC.

Decorrente do mesmo fato, pleiteia o Requerente, ora reconvinte,


indenização pelos danos materiais sofridos no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais),
importe utilizado para o conserto do veículo ocasionado pelo acidente.

Restando claro o dever indenizatório do reconvindo, ante a prática do ato


ilícito pela sua negligência ao dirigir embriagada, atravessando sinais vermelhos, e
estar muito acima da velocidade permitida, tudo nos termos do art. 944 do Código
Civil.

Atribui-se ao valor da causa o importe de R$ 10.000,00 (dez mil reais).

VI – DOS PEDIDOS

Diante de todo o exposto, em sede de CONTESTAÇÃO, requer:

a) O acolhimento da preliminar arguida, intimando a Requerida à complementar


as custas;
b) No mérito, requer a total improcedência dos pleitos autorais;
c) Subsidiariamente, requer procedência parcial em razão da responsabilidade
concorrente;
d) Quanto a reconvenção, requer procedência do pedido reconvencional, para a
condenação da Requerida – Reconvinda ao pagamento da indenização no
valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais);

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e) No final, requer a condenação da Requerida em custas e honorários
advocatícios;
f) Pleiteia provar o Requerente por todos os meios em direito admitido, em
especial com a juntada das notas fiscais e comprovantes de pagamento dos
R$ 10.000,00 (dez mil reais) e juntada do boletim de ocorrência.

Dá-se a causa o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), para os devidos fins de
Direito.

Nestes termos,
Pede deferimento.
Xxxxx, xx de xxx de xxx.
Advogado xxxx, OAB/XX xx.

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