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EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA

DA COMARCA DE COMÓPOLIS/SP.

ROBINSON SILVA DOS SANTOS, já qualificados nos autos


da presente ação, vem, respeitosamente perante Vossa
Excelência, representado por seus procuradores (documento
em anexo) com escritório no rodapé desta pagina, propor:
PEDIDO DE LIBERDADE PROVISÓRIA
nos termos do artigo 310, inciso III do Código de Processo
Penal, pelos fatos e fundamentos que passa a expor.

DOS FATOS
O autuado foi preso em flagrante delito, pela suposta prática dos crimes
de porte de ilegal de arma de fogo, (art. 14 da Lei 10.826/03), tráfico de drogas
(art. 33 da Le 11.343/06) e associação para prática do tráfico(Art.35 da
Lei 11343/06).
Não foi arbitrada fiança pela autoridade policial no momento da prisão.
Após interrogatório a prisão em flagrante foi convertida em preventiva,
sendo mantida após realização de Audiência de Custódia, de forma que o
autuado permanece recolhido no Centro de Detenção Provisória de
Hortolândia/ SP.
A prisão preventiva é medida exacerbada e errônea ao considerar a
realidade dos fatos, bem como o histórico do noticiado, como se demonstrará
adiante.
Embora a prisão preventiva seja justificada pelo suposto grau de
periculosidade dos acusados, na própria decisão reconheceu o que segue:
“No mais, consigno que o flagranteado (...) é reincidente,
sendo o outro primário. ”
A prisão preventiva também se baseou pela suposta materialidade
delitiva e por supostos indícios suficientes de autoria, contudo, em nenhum
momento fora atestado que os objetos encontrados permaneciam sob a posse
ou guarda do autuado.
Salienta-se que junto aos objetos foram encontrados dentro de “cofre”
contido dentro do painel do veiculo, o qual foi assumida a propriedade por parte
do co-réu.
Nos depoimentos tomados com os autuados, em nenhum momento
ocorreu confissão ou constatação de autoria por parte do réu Robinson, de
forma que afirmou veemente não ter sequer conhecimento dos materiais
apreendidos.
Para ilustrar a necessidade da revogação da prisão preventiva colaciona
os seguintes trechos:
“Foram encontrados na posse dos averiguados Maconha
(84– oitenta e quatro – porções, pesando cerca de 396,0
g), Cocaína (1240 – mil, duzentos e quarenta –
microtubos, pesando cerca de 1432,0 g) e Crack (04 –
quatro – pedras, pesando cerca de 150,0 g)
estavametiquetadas com as siglas AR, ENG e LM, dando
a entender que se destinavam às cidades de
ArturNogueira, Engenheiro Coelho e Limeira. A arma,
marca Taurus, de calibre 38, tinha numeração(KC84243)
e estava com cinco munições intactas de igual calibre em
seu tambor. A quantia era R$ 160,00(cento e sessenta
reais). A história contada pelos averiguados é pouco
crível. Tudo isso recomenda oresguardo da ordem
pública, da instrução processual e do cumprimento da lei
penal. Considerando ascondições pessoais dos
averiguados, a natureza do delito e as circunstâncias do
fato, a liberdade provisóriae as medidas cautelares
diversas da prisão (previstas no artigo 319 do CPP) são,
ao menos por ora,absolutamente inadequadas e
insuficientes para o caso concreto aqui analisado, razão
pela qual, nos termosdo artigo 282, c.c. artigo 310, II, do
CPP, a conversão da prisão em flagrante em prisão
preventiva mostra-se de rigor. Dessa forma, nos termos
do art.310, II, do CPP, CONVERTO EM PRISÃO
PREVENTIVAas prisões em flagrante aqui comunicadas e
determino a expedição do necessário à manutenção
dasegregação cautelar, mandados de prisão preventiva,
em desfavor de DANIEL SILVÉRIO RAMOS,WESLLEY
SHEIJI ROSSI e ROBINSON SILVA DOS SANTOS”
No que se refere as imputações, atesta que foram detidos após uma
averiguação de rotina o qual o motorista (co-réu Wesley) demonstrou
nervosismo, sendo dado a ordem de parada, e por estarem todos dentro do
veículo, presumem serem autores do crime, porém, o veículo que
supostamente foi utilizado para o crime e os objetos encontrados aponta posse
e propriedade ao co-réu Wesley, já indiciado confesso desde a abordagem.

DO DIREITO
De acordo com o Artigo 5º, em seu inciso LXVI da nossa Constituição
Federal, ninguém poderá ser levado a prisão ou mantido nela, quando a lei
admitir a liberdade provisória.
Dispõe o art. 5º, LXVI da Constituição Federal de 1988 que:
Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[...]
LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei
admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança (Brasil, 1988).
O referido Artigo da nossa Carta Maior, legisla, no sentido de que não
existe a possibilidade de deixar alguém preso, quando, a lei permite
liberdade provisória.
No caso em tela, o réu, teve a sua prisão em flagrante decreta, porém,
conforme o Artigo 310, Inciso III do Código de Processo Penal, o juiz possuía a
opção de relaxar a prisão ilegal, converter a prisão em flagrante para
preventiva, e o que nos importa, conceder a liberdade provisória.
Art. 310. Ao receber o auto de prisão em flagrante, o juiz
deverá fundamentadamente:
[...]
III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança. (Brasil,
1941)
De acordo com os ensinamentos de Luiz Flávio Gomes:
“O eixo, a base, os fundamentos de todas as prisões
cautelares no Brasil residem naqueles requisitos da prisão
preventiva. Quando presentes, pode o Juiz
fundamentadamente decretar qualquer prisão cautelar;
quando ausentes, ainda que se trate de reincidente ou
de quem não tem bons antecedentes, ou de crime
hediondo ou de tráfico, não pode ser decretada a prisão
antes do trânsito em julgado da decisão. [3] (Grifou-se)
Conforme o entendimento do doutrinador supracitado, quando inexiste,
os requisitos para prisão preventiva, não pode ser decretada a prisão antes do
trânsito em julgado da decisão.
Salienta-se, portanto, que o réu não cumpre os requisitos que se
encontram no Artigo 312 do Código de Processo Penal.
Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da
ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução
criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver
prova da existência do crime e indício suficiente de autoria. (Brasil,
1941)
O réu da presente ação, não oferece risco para a ordem pública e
econômica. Tais fundamentos não se encontram presentes no caso, portanto
não existe vedação Legal para que não seja concedida a Liberdade Provisória,
visto que, a garantia da ordem pública não será abalada, pois o delito imputado
ao requerente não foi de repercussão social de grande impacto.
Não há o que se falar em maus perigo À ordem pública e econômica
tendo em vista que a ultima data de fato que embasou a condenação do
indiciado em questão ocorreu no ano de 2011, sendo julgado em 2015.
É de suma importância instar que a propriedade do respectivo
entorpecente foi assumida em delegacia por um dos co-réus, Sr. Wesley,
inclusive o proprietário do veiculo no qual o entorpecente e o armamento eram
trasportados.
No que se refere à prisão por conveniência da instrução criminal, esta
também não merece acolhimento. De acordo com Eugenio Pacelli de Oliveira
(2004, p. 518):
Por fim, a liberdade provisória é a regra, devendo ser a prisão
preventiva, em qualquer uma de suas formas, uma exceção
dentro da sistemática processual penal brasileira.
É importante ainda, adentrarmos no Artigo 313 também do Código de
Processo Penal.
Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a
decretação da prisão preventiva
I - Nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade
máxima superior a 4 (quatro) anos;
II - Se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença
transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput do
art.64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código
Penal;
III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a
mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com
deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de
urgência; (Brasil, 1941).

Conforme se restará demonstrado ao longo da presente peça, no caso


em comento restaram ausentes os requisitos autorizadores da prisão
preventiva, aplicando-se assim a regra insculpida no artigo 321 Código de
Processo Penal, senão vejamos:
Art. 321. Ausentes os requisitos que autorizam a decretação da prisão
preventiva, o juiz deverá conceder liberdade provisória, impondo, se for o caso,
as medidas cautelares previstas no art. 319 deste Código e observados os
critérios constantes do art. 282 deste Código.
O artigo 282 por seu turno nos informa que só será cabível da prisão
preventiva quando não for possível a sua substituição.
Extrai-se, portanto, que a prisão preventiva tem natureza subsidiária da
prisão em relação às medidas cautelares diversas da prisão (art. 319, do CPP),
sensivelmente menos onerosas para o investigado ou acusado.
Os critérios previstos no art. 282, a que se refere o art. 321, do CPP,
são, em primeiro lugar, a proporcionalidade, traduzida em adequação (aptidão
para a produção dos efeitos desejados) e necessidade (impossibilidade de
obtenção de tais efeitos por outro meio).
Assim nos termos do art. 282, I, do CPP, as medidas cautelares devem
ser aplicadas quando forem necessárias “para aplicação da lei penal, para a
investigação ou a instrução criminal e, nos casos expressamente previstos,
para evitar a prática de infrações penais”. Além disso, como dispõe o
art. 282, II, do CPP, devem ser aplicadas tendo em conta “a adequação da
medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições
pessoais do indiciado ou acusado”.
A regra, Excelência é portanto a liberdade provisória sem fiança,
tornando a prisão preventiva, dada a sua gravidade, medida muito extrema.
Em face da situação danosa que o acusado se encontra, justifica-se a
presente medida. Vale pontuar que o acusado cumpre todos os requisitos para
obtenção da revogação da prisão, eis que possui residência fixa, a ultima
infração foi cometida tem mais de 10 (dez) anos, bem como é pessoa
trabalhadora e reabilitada na sociedade. Comprometendo-se a comparecer
em todos os atos processuais solicitados.
Nas palavras de Cezar Roberto Bitencourt, ( Código penal comentado 7.
Ed. — São Paulo: Saraiva, 2012):
“Em outros termos, o limite do lícito termina necessariamente
onde começa o abuso, pois aí o dever deixa de ser cumprido
estritamente no âmbito da legalidade, para mostrar-se abusivo,
excessivo e impróprio, caracterizando sua ilicitude. Exatamente
assim configura-se o excesso, pois, embora o “cumprimento do
dever” se tenha iniciado dentro dos limites do estritamente
legal, o agente, pelo seu procedimento ou condução
inadequada, acaba indo além do estritamente permitido,
excedendo-se, por conseguinte.”
Ainda sobre o tema JULIO FABRINI MIRABETE informa que:
Como, em princípio, ninguém dever ser recolhido à prisão
senão após a sentença condenatória transitada em julgado,
procura-se estabelecer institutos e medidas que assegurem o
desenvolvimento regular do processo com a presença do
acusado sem sacrifício de sua liberdade, deixando a custódia
provisória apenas para as hipóteses de absoluta necessidade.
No caso em tela, patente é a inexistência do periculum in libertatis,
cabendo ressaltar que a medida cautelar só deve prosperar diante da
existência de absoluta necessidade de sua manutenção e caso subsista os
dois pressupostos basilares de todo provimento cautelar, ou seja, o fumus boni
iuris e o periculum in mora, devendo haver a presença simultânea dos dois
requisitos, de modo que, ausente um, é ela incabível.
Ainda, deve-se ressaltar, que não ficou comprovada pela autoridade
policial que havia conhecimento do indiciado Robinson e Daniel no
referido conteúdo ilícito trasportado pelo co-indiciado Wesley, tendo em
vista que nada de ilícito fora encontrado com estes.
Ademais impor ao acusado o cumprimento antecipado de uma pena é o
mesmo que fechar os olhos aos princípios que norteiam o ordenamento
jurídico, em especial, no que pertine ao princípio da inocência e a dignidade da
pessoa humana.
Conforme se extraí dos autos o indiciado apenas em estava em local
errado na hora errada, as declarações tidas em delegacia demonstram
exatamente isso!
O indiciado, conforme trazido pelo interrogatório e depoimento dos
policiais, resta claro e inequívoco que o material apreendido não pertence ao
indiciado Robinson.

DOS PEDIDOS
Ante o exposto, requer a Vossa Excelência, nos termos do art. 316 do
CPP, a concessão imediata da Liberdade Provisória sem Fiança em favor do
requerente, para que este seja imediatamente reintegrado ao convívio social,
visto que não estão presentes os requisitos elencados no art. 312 do Código de
Processo Penal, mediante termo de comparecimento a todos os atos do
processo para os quais for intimado.
Requer, ainda, a expedição do competente alvará de soltura para o
cumprimento imediato pela autoridade policial que mantém sua custódia.
Requer-se por fim, que sejam todas as intimações feitas unica e
exclusivamente no nome deste defensor, excluindo-se quaisquer outro
defensor cadastrado no sistema e-Saj, sob pena de nulidade absoluta dos atos.
Nestes termos,
Pede Deferimento.

De Mogi Guaçu, para Cosmópolis, data da assinatura digital.


Felipe Bernardes de Oliveira
OAB/SP 431.856

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