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EXCELENTÍSSIMO DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL DE

JUSTIÇA DE xxxxxxxxxxxx
URGENTE - Lei 13.769/18
PROCESSO Nº xxxxxxxxxxx
PACIENTE: xxxxxxxxxxxxxxxxxx
ADVOGADA, brasileira, solteira, advogada regularmente inscrita na Ordem dos
Advogados do Brasil sob o nº OAB/XX XXXXXX, com escritório profissional à
XXXXXXXXXXXXXXXXXXXX, no uso de suas atribuiçõ es legais, com fundamento no artigo
5º, LXV e LXVIII, da CR/88 e artigo 648, II, do CPP, vem, por meio desta, impetrar ordem de
HABEAS CORPUSCOM PEDIDO LIMINAR
em favor de XXXXXXXXXXXX, brasileira, solteira, autônoma, inscrito no CPF sob o n.
XXXXXXX, documento de identidade nº MG XXXXXXXXXX residente e domiciliada na
XXXXXXXXXXXXXXXXXXX, apontando como autoridade coatora o JUÍZO DA VARA
CRIMINAL DA COMARCA DE XXXXXXXX, nos autos do processo nº XXXXXXXXXXXXX,
pelos fatos e fundamentos que passa a expor.:
1. BREVE ANÁLISE DOS FATOS
A Paciente foi presa em suposto flagrante delito na data do dia 15 de dezembro de 2019,
como incurso nas sançõ es do art. 33 daLei 11.343/06 sob a alegaçã o de tentativa de
incurso em presídio com drogas.
A Paciente teve sua prisã o em flagrante convertida em prisã o preventiva na data do dia 17
de dezembro de 2019, em audiência de custó dia sob o fundamento do art. 312 do CPP,
garantia da ordem pú blica.
Acontece que, a Paciente é mã e e ú nica responsá vel pelos 3 filhos, todos menores, com 4, 8
e 14 anos (certidõ es de nascimento anexas). O pai dos menores encontra-se recluso
atualmente na Penitenciá ria xxxxxxx, conforme atestado carcerá rio acostados aos autos.
Atualmente, os menores encontram-se em companhia da vó materna que reside na cidade
de Matozinhos e se deslocou até a cidade de Belo Horizonte para nã o deixar as crianças
desamparadas. Todavia, é idosa, faz uso de medicamentos, além de que possui residência
em comarca diversa, nã o podendo se ausentar por tanto tempo.
Apesar de ter sido demonstrado em audiência de custó dia, através de juntada de
documentos probató rios, a necessidade e dever de substituiçã o da prisã o cautelar da
Paciente em prisã o domiciliar, com base na Lei 13.769/18, o juiz custodiante entendeu por
nã o aplicar a substituiçã o da pena privativa de liberdade pela prisã o domiciliar e/ou
medidas cautelares diversas da prisã o, com a fundamentaçã o na garantia da ordem pú blica.
Ainda, a Paciente tem residência fixa, ocupaçã o lícita, pois, conforme relatado em audiência,
vende lanches na porta de casa e, diferente do que fora exposto pelo juízo custodiante, esta
nã o possui maus antecedentes, conforme se demonstrará a seguir.
A Paciente é a ú nica responsá vel pelo sustento dos filhos, sendo que, para isto,trabalha na
porta de casa com uma chapa, produzindo alimentos para a comercializaçã o, e conforme
relatado pela mesma em audiência, percebe um valor diá rio em média de R$40,00
(quarenta reais) a R$60,00 (sessenta reais).
Portanto, diante da evidente ilegalidade da prisã o preventiva por ter a Paciente
resguardado em lei o direito de ter sua prisã o preventiva substituída por medidas
cautelares diversas da prisã o, seu acautelamento configura constrangimento ilegal. Requer,
assim, a soltura da Paciente, com a imediata expediçã o de alvará de soltura, pelos direitos
que passa a expor:
1. DO DIREITO
A Constituiçã o da Republica Federativa do Brasil de 1988 prescreve em seu art. 5º, inciso
LXVIII, que será concedido “habeas corpus” sempre que alguém sofrer ou se achar
ameaçado de sofrer violência ou coaçã o em sua liberdade de locomoçã o, por ilegalidade ou
abuso de poder.
Em igual substrato, o Có digo de Processo Penal contempla em seus artigos 647 e 648:
"Art. 647. Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar na iminência de
sofrer violência ou coação ilegal na sua liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punição
disciplinar;"
1. LIBERDADE PROVISÓRIA – MULHER COM FILHOS MENORES DE 12 (DOZE) ANOS.
De acordo com o que manda a Constituiçã o Federal art. 5º. Inc. LXVI, que ninguém poderá
ser mantido preso nos casos em que a Lei admitir a hipó tese em que possa aguardar o
tramite processual em liberdade.
A Lei 13.769 de 2018 acrescentou os artigos 318A e 318B ao Có digo de Processo Penal, o
qual estabelece a substituiçã o da prisã o preventiva por prisã o domiciliar da mulher
gestante ou que for mã e ou responsá vel por crianças ou pessoas com deficiência:
Art. 318-A. A prisã o preventiva imposta à mulher gestante ou que for mã e ou responsá vel
por crianças ou pessoas com deficiência será substituída por prisã o domiciliar, desde que:
I - nã o tenha cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa;
II - nã o tenha cometido o crime contra seu filho ou dependente.
Art. 318-B. A substituiçã o de que tratam os arts. 318 e 318-A poderá ser efetuada sem
prejuízo da aplicaçã o concomitante das medidas alternativas previstas no art. 319 deste
Có digo.
A Lei é clara em estabelecer que a prisã o preventiva será substituída por prisã o domiciliar
em casos em que a mulher presa for mã e de crianças e que nã o tenha incorrido nos
pará grafos acima mencionados.
Conforme demonstrado, a Paciente supostamente cometeu crime sem violência ou grave
ameaça e este nã o fora contra os filhos.
Em audiência de custó dia, foram juntadas as comprovaçõ es de que a Paciente faz jus ao
direito de substituiçã o de sua prisã o preventiva por medidas cautelares, tendo em vista ser
mã e e Ú NICA RESPONSÁ VEL pelos menores, tendo em vista que o genitor encontra-se
recluso:
• xxxxxxxx, nascido em xxxxx, atualmente com xx anos de idade;
• xxxxxxxxxxxx, nascida em xxxxxx, atualmente com xx anos de idade;
• xxxxxxxxxxxxxx, nascida em xxxxxx, atualmente com xx anos de idade;
Apesar da comprovaçã o, o juiz coator converteu a prisã o em flagrante da Paciente em
preventiva sob argumento de que seria necessá rio para a garantia da ordem pú blica,
fundamentando para isto, somente nos processos criminais em tramite em que a Paciente
configura como ré, ignorando completamente os preceitos da referida lei e os direitos da
Paciente.
Não pode a Paciente permanecer presa, sendo que esta é a provedora do sustento de
seus filhos e os mesmos residem com ela. Sendo que na falta da mãe a prole da
Paciente não contará mais com o amparo de sua genitora, ficando as crianças
abandonadas, sem sustento e educação.
Está claro hoje para a Doutrina Pá tria, que em situaçõ es onde uma mulher com filhos
menores de 12 (doze) anos seja presa, deve prevalecer o entendimento firmado pelo
Superior Tribunal Federal que proferiu no HC 143641-SP a seguinte decisã o:
“Ementa: HABEAS CORPUS COLETIVO. ADMISSIBILIDADE. DOUTRINA BRASILEIRA DO
HABEAS CORPUS. MÁ XIMA EFETIVIDADE DO WRIT. MÃES E GESTANTES PRESAS.
RELAÇÕ ES SOCIAIS MASSIFICADAS E BUROCRATIZADAS. GRUPOS SOCIAIS VULNERÁ VEIS.
ACESSO À JUSTIÇA. FACILITAÇÃ O. EMPREGO DE REMÉDIOS PROCESSUAIS ADEQUADOS.
LEGITIMIDADE ATIVA. APLICAÇÃ O ANALÓ GICA DA LEI 13.300/2016. MULHERES
GRÁ VIDAS OU COM CRIANÇAS SOB SUA GUARDA. PRISÕES PREVENTIVAS CUMPRIDAS
EM CONDIÇÕES DEGRADANTES. INADMISSIBILIDADE. PRIVAÇÃ O DE CUIDADOS MÉ DICOS
PRÉ -NATAL E PÓ S-PARTO. FALTA DE BERÇARIOS E CRECHES. ADPF 347 MC/DF. SISTEMA
PRISIONAL BRASILEIRO. ESTADO DE COISAS INCONSTITUCIONAL. CULTURA DO
ENCARCERAMENTO. NECESSIDADE DE SUPERAÇÃO. DETENÇÕES CAUTELARES
DECRETADAS DE FORMA ABUSIVA E IRRAZOÁVEL. INCAPACIDADE DO ESTADO DE
ASSEGURAR DIREITOS FUNDAMENTAIS ÀS ENCARCERADAS. OBJETIVOS DE
DESENVOLVIMENTO DO MILÊ NIO E DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁ VEL DA
ORGANIZAÇÃ O DAS NAÇÕ ES UNIDAS. REGRAS DE BANGKOK. ESTATUTO DA PRIMEIRA
INFÂNCIA. APLICAÇÃO À ESPÉCIE. ORDEM CONCEDIDA. EXTENSÃ O DE OFÍCIO. I –
Existência de relaçõ es sociais massificadas e burocratizadas, cujos problemas estã o a exigir
soluçõ es a partir de remédios processuais coletivos, especialmente para coibir ou prevenir
lesõ es a direitos de grupos vulnerá veis. II – Conhecimento do writ coletivo homenageia
nossa tradiçã o jurídica de conferir a maior amplitude possível ao remédio heroico,
conhecida como doutrina brasileira do habeas corpus. III – Entendimento que se amolda ao
disposto no art. 654, § 2º, do Có digo de Processo Penal - CPP, o qual outorga aos juízes e
tribunais competência para expedir, de ofício, ordem de habeas corpus, quando no curso de
processo, verificarem que alguém sofre ou está na iminência de sofrer coaçã o ilegal. IV –
Compreensã o que se harmoniza também com o previsto no art. 580 do CPP, que faculta a
extensã o da ordem a todos que se encontram na mesma situaçã o processual. V -
Tramitaçã o de mais de 100 milhõ es de processos no Poder Judiciá rio, a cargo de pouco
mais de 16 mil juízes, a qual exige que o STF prestigie remédios processuais de
natureza coletiva para emprestar a máxima eficácia ao mandamento constitucional
da razoável duração do processo e ao princípio universal da efetividade da prestação
jurisdicional VI - A legitimidade ativa do habeas corpus coletivo, a princípio, deve ser
reservada à queles listados no art. 12 da Lei 13.300/2016, por analogia ao que dispõ e a
legislaçã o referente ao mandado de injunçã o coletivo. VII – Comprovaçã o nos autos de
existência de situaçã o estrutural em que mulheres grá vidas e mães de crianças
(entendido o vocábulo aqui em seu sentido legal, como a pessoa de até doze anos de
idade incompletos, nos termos do art. 2º do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA)
estão, de fato, cumprindo prisão preventiva em situação degradante, privadas de
cuidados médicos pré-natais e pós-parto, inexistindo, outrossim berçários e creches
para seus filhos. VIII – “Cultura do encarceramento” que se evidencia pela exagerada e
irrazoável imposição de prisões provisórias a mulheres pobres e vulneráveis, em
decorrência de excessos na interpretação e aplicação da lei penal, bem assim da
processual penal, mesmo diante da existência de outras soluções, de caráter
humanitário, abrigadas no ordenamento jurídico vigente. IX – Quadro fá tico
especialmente inquietante que se revela pela incapacidade de o Estado brasileiro
garantir cuidados mínimos relativos à maternidade, até mesmo às mulheres que não
estão em situação prisional, como comprova o “caso Alyne Pimentel”, julgado pelo
Comitê para a Eliminaçã o de todas as Formas de Discriminaçã o contra a Mulher das Naçõ es
Unidas. X – Tanto o Objetivo de Desenvolvimento do Milênio nº 5 (melhorar a saú de
materna) quanto o Objetivo de Desenvolvimento Sustentá vel nº 5 (alcançar a igualdade de
gênero e empoderar todas as mulheres e meninas), ambos da Organizaçã o das Naçõ es
Unidades, ao tutelarem a saú de reprodutiva das pessoas do gênero feminino, corroboram o
pleito formulado na impetraçã o. X – Incidência de amplo regramento internacional relativo
a Direitos Humanos, em especial das Regras de Bangkok, segundo as quais deve ser
priorizada soluçã o judicial que facilite a utilizaçã o de alternativas penais ao
encarceramento, principalmente para as hipó teses em que ainda nã o haja decisã o
condenató ria transitada em julgado. XI – Cuidados com a mulher presa que se
direcionam não só a ela, mas igualmente aos seus filhos, os quais sofrem
injustamente as consequências da prisão, em flagrante contrariedade ao art. 227 da
Constituição, cujo teor determina que se dê prioridade absoluta à concretização dos
direitos destes. XII – Quadro descrito nos autos que exige o estrito cumprimento do
Estatuto da Primeira Infância, em especial da nova redação por ele conferida ao art.
318, IV e V, do Código de Processo Penal. XIII – Acolhimento do writ que se impõ e de
modo a superar tanto a arbitrariedade judicial quanto a sistemá tica exclusã o de direitos de
grupos hipossuficientes, típica de sistemas jurídicos que nã o dispõ em de soluçõ es coletivas
para problemas estruturais. XIV – Ordem concedida para determinar a substituição da
prisão preventiva pela domiciliar - sem prejuízo da aplicação concomitante das
medidas alternativas previstas no art. 319 do CPP - de todas as mulheres presas,
gestantes, puérperas ou mães de crianças e deficientes, nos termos do art. 2º do ECA e da
Convençã o sobre Direitos das Pessoas com Deficiências (Decreto Legislativo 186/2008 e
Lei 13.146/2015), relacionadas neste processo pelo DEPEN e outras autoridades estaduais,
enquanto perdurar tal condiçã o, excetuados os casos de crimes praticados por elas
mediante violência ou grave ameaça, contra seus descendentes ou, ainda, em situaçõ es
excepcionalíssimas, as quais deverã o ser devidamente fundamentadas pelos juízes que
denegarem o benefício. XV – Extensão da ordem de ofício a todas as demais mulheres
presas, gestantes, puérperas ou mães de crianças e de pessoas com deficiência, bem
assim às adolescentes sujeitas a medidas socioeducativas em idêntica situação no
território nacional, observadas as restrições acima. (HC 143641, Relator (a): Min.
RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado em 20/02/2018, PROCESSO
ELETRÔ NICO DJe-215 DIVULG 08-10-2018 PUBLIC 09-10-2018).
A Defesa se socorre do referido julgado, prolatado em 2018 pelo Supremo Tribunal
Federal, tendo em vista que a Paciente é quem sustenta seu lar e evidentemente as
crianças precisam da mãe delas presente em casa, tendo em vista que já possuem o
genitor acautelado.
Neste mesmo sentido é o entendimento do nosso Egrégio Tribunal de Justiça, senã o
vejamos:
EMENTA: "HABEAS CORPUS" - TRÁFICO DE DROGAS - PRISÃO PREVENTIVA -
SUBSTITUIÇÃO POR PRISÃO DOMICILIAR - PACIENTE QUE POSSUI FILHO MENOR DE
12 ANOS - POSSIBILIDADE. Considerando-se que a paciente possui uma criança de
um (01) ano de idade e o delito supostamente cometido por ela se enquadra no
disposto no art. 318-A do Código de Processo Penal, acrescentado pela Lei
13.769/18, a substituição da prisão cautelar por "prisão domiciliar" é medida que se
impõe. (TJMG - Habeas Corpus Criminal 1.0000.19.112065-8/000, Relator (a): Des.
(a) Maria Luíza de Marilac , 3ª CÂMARA CRIMINAL, julgamento em 15/10/2019,
publicação da sumula em 17/10/2019)
EMENTA: HABEAS CORPUS - TRÁ FICO DE DROGAS E ASSOCIAÇÃ O PARA O MESMO FIM -
SUBSTITUIÇÃ O DA PRISÃ O PREVENTIVA PELA PRISÃ O DOMICILIAR (ART. 318, V, E 318-A,
DO CPP)- FILHO MENOR DE 12 ANOS DE IDADE - HC COLETIVO (143.641/SP) DA 2ª
TURMA DO STF - CRIME PRATICADO SEM VIOLÊ NCIA OU GRAVE AMEAÇA À PESSOA OU
CONTRA DESCENDENTE - POSSIBILIDADE - NECESSIDADE DE IMPOSIÇÃ O
CONCOMITANTE DE MEDIDAS CAUTELARES ALTERNATIVAS À PRISÃ O (ART. 318-B, DO
CPP)- CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO - ORDEM CONCEDIDA EM PARTE.
- Dispõe o art. 318, V, do Código de Processo Penal que o juiz poderá substituir a
prisão preventiva pela domiciliar quando o agente for mulher com filho de até 12
(doze) anos de idade incompletos. Mais recentemente, na esteira do que decidido
pelo e. STF, no julgamento do Habeas Corpus Coletivo n. 143641, a Lei Federal n.
13.769, de 2018, incluiu os artigos 318-A e 318-B, ao Código de Processo Penal,
regrando a matéria de forma mais impositiva (pois no lugar de "poderá substituir" a
expressão, usada foi "será substituída"), admitindo a substituição apenas
ressalvando os crimes cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa ou
cometidos contra filho ou dependente. (TJMG - Habeas Corpus Criminal
1.0000.19.147457-6/000, Relator (a): Des.(a) Corrêa Camargo , 4ª CÂMARA
CRIMINAL, julgamento em 27/11/2019, publicação da sumula em 29/11/2019)
Desta feita, evidente o constrangimento ilegal sofrido pela Paciente na manutençã o da sua
prisã o, sendo certo de que a prisã o domiciliar é medida que se impõ e.
Devem ser sempre preservados pelos Juízos que decidem a prisã o de mulheres com filhos
menores de 12 (doze) anos a dignidade da pessoa humana e os direitos e garantias
fundamentais das mulheres e da criança e adolescente.
Sã o 3 (três) filhos menores, sendo dois menores de 12 (doze) anos que irã o ter que sofrer
de forma degradante (se conseguirem visitar a mã e) os males que os estabelecimentos
prisionais oferecem. Sendo que fatalmente tal fato irá prejudicar imensamente a vida
dessas crianças.
Ainda, conforme consta em no auto de prisã o em flagrante em anexo, o suposto crime
cometido pela Paciente trata-se de crime previsto no art. 33 da Lei de Drogas, o que
evidencia que nã o fora cometido com violência ou grave ameaça e que nã o configura crime
contra sua prole. Além disto, a apreensã o se deu em momento em que a Paciente fora
visitar o companheiro na prisã o, o que demonstra a impossiblidade de insurgir de alguma
maneira sobre seus filhos, ficando evidente a INEXSTÊNCIA DE QUALQUER
EXCEPCIONALIDADE NO CASO CONCRETO.
Diante de todo exposto e pelas provas apresentadas, requer a soltura da Paciente,
com a imediata expedição de alvará de soltura.
1. DA AUSÊNCIA DOS REQUISITOS AUTORIZADORES DA PRISÃO PREVENTIVA -
Coação ilegal pela falta da justa causa – (art. 648, inc. I)
É sabido que, para se decretar a custó dia preventiva, devem concorrer duas ordens de
pressupostos: os denominados pressupostos proibitó rios (o fumus commisi delicti
representado no nosso direito processual pela prova da materialidade do delito e pelos
indícios suficientes da autoria) e os pressupostos cautelares (o periculum libertatis,
representado na legislaçã o brasileira pelas nominadas finalidades da prisã o preventiva,
trazidas na parte inicial do art. 312, do Có digo de Processo Penal).
A Paciente permanece detida sob o argumento do juízo coator de que há necessidade de
manutençã o da garantia da ordem pú blica, convertendo a prisã o em flagrante em
preventiva, fundamentando para isto, somente nos processos criminais em tramite em que
a Paciente configura como ré, tratando isto como excepcionalidade da Lei 13.769/18.
Todavia, data má xima vênia, equivocou-se o r. magistrado, tendo em vista que, as
expecionalidades que poderiam ser invocadas para manutençã o da prisã o estã o elencadas
no pró pria lei mencionada, o que, conforme já demonstrado NÃO ESTÃO PRESENTES NO
CASO.
Ainda, em que pese a argumentaçã o do juízo coator baseada nos processos criminais da
Paciente, esta nã o deve prosperar, tendo em vista que, como se pode constatar em aná lise a
sua folha de antecedentes criminais, os processos mencionados na decisã o de prisã o nã o
possuem características de configurar maus antecedentes.
A garantia da ordem pú blica, fundamento da custó dia, tem que residir, de maneira
indispensá vel, nas razõ es pelas quais o juiz invoca tal fundamento, indicando os fatos que
serviriam de arrimo para decretar a prisã o preventiva. (RT 252/355). Neste aspecto, data
vênia, falece motivo para a custó dia preventiva do paciente.
No presente caso, o juízo coator manifesta como fundamento da prisã o preventiva: “a
prisão cautelar se faz necessária para garantia da ordem pública, evitando-se novos
crimes” sem apontar a real excepcionalidade e necessidade do caso baseado na lei em
comento, para se mantera prisã o da custodiada. (conforme termo de audiência de custó dia
anexo)
Neste sentido, entende JULIO FABBRINI MIRABETE:
“Como, em princípio, ninguém deve ser recolhido à prisão senão após a sentença condenatória
transitada em julgado, procura-se estabelecer institutos e medidas que assegurem o
desenvolvimento regular do processo com a presença do acusado sem sacrifício de sua
liberdade, deixando a custódia provisória apenas para as hipóteses de absoluta
necessidade”.
É evidente o constrangimento ilegal sofrido pelo Paciente, tendo em vista que a decisã o que
decretou sua prisã o preventiva carece de fundamentaçã o vá lida, e utilizada, de forma
equivocada e errô nea para afastar o direito da Paciente de ter sua prisã o substituída.
Esse tem sido o pacífico entendimento da jurisprudência:
TJMS – ROUBO – INDEFERIMENTO LIBERDADE PROVISÓRIA – SEGREGAÇÃO CAUTELAR
FUNDAMENTADA NA ORDEM PÚBLICA E CONVENIÊNCIA DA INSTRUÇÃO CRIMINAL –
AUSÊNCIA DE ELEMENTOS CONCRETOS A ENSEJAR A CUSTÓDIA CAUTELAR- CONDIÇÕES
PESSOAIS FAVORÁVEIS - ORDEM CONCEDIDA.
A segregação cautelar é medida excepcional e somente se justifica quando presentes os
requisitos do art. 312 do CPP, desde que fundados em elementos concretos que
evidenciem a real necessidade da prisão. A gravidade abstrata do delito, o clamor
público e a invocação de resposta enérgica do Poder Judiciário, sem qualquer motivo
concretamente apontado nos autos, não são elementos idôneos a justificar a prisão
cautelar do paciente, ainda mais quando o mesmo possui condições pessoais
favoráveis. (HC 34489 MS. Rel. Juiz Manoel Mendes Carli. 2ª Turma. Publicação em
05.02.2010).
Afastar a aplicaçã o da lei favorá vel à Paciente sob a argumentaçã o de excepcionalidade,
mas fundamentando em hipó teses totalmente alheias as exceçõ es trazidas pela lei,
demonstra de forma cristalina que a decisã o carece de fundamentaçã o concreta e legal,
caracterizando, assim, evidente coaçã o ilegal contra a Paciente. Ainda, por nã o estarem
preenchidos os requisitos exigidos pelo art. 312, do Có digo de Processo Penal, como
entendeu a autoridade coatora.
Parte superior do formulá rio
Desta forma, pela ausência de motivaçã o da decisã o do juízo coator e na ausência de razõ es
concretas trazidas na Lei 13.769/18 para embasar a medida extrema, deve a mesma ser
revogada, mormente face aos direitos da Paciente.
1. DAS MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DE PRISÃO
O entendimento moderno e acertado, é que o acusado nã o precisa ter sua liberdade privada
pelo simples fato ter um processo criminal em seu desfavor, ou ainda, pelo fato ter sido
preso em flagrante.
A lei 13.769/18 traz em seu bojo o seguinte entendimento:
Art. 318-B. A substituiçã o de que tratam os arts. 318 e 318-A poderá ser efetuada sem
prejuízo da aplicaçã o concomitante das medidas alternativas previstas no art. 319 deste
Có digo.
Com base nisso, o art. 319 do CPP traz situaçõ es em que o Juiz pode decretar algumas
medidas alternativas, como forma de evitar que o acusado venha a permanecer preso,
vejamos:
Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão:
I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para
informar e justificar atividades;
II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias
relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para
evitar o risco de novas infrações;
III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias
relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante;
IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente ou
necessária para a investigação ou instrução;
V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado ou
acusado tenha residência e trabalho fixos;
VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou
financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais;
VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou
grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do
Código Penal) e houver risco de reiteração;
VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do
processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à
ordem judicial;
IX - monitoração eletrônica.
Portanto, a prisã o nã o deve ser medida principal a ser aplicada, além de que nã o cumpre os
requisitos legais necessá rios.
No caso em apreço, o juiz coator converteu a prisã o em flagrante da Paciente em preventiva
sob argumento de que seria necessá rio para a garantia da ordem pú blica, fundamentando
para isto, somente nos processos criminais em tramite em que a Paciente configura como
ré, processos estes pela mesma conduta: tentativa de adentrar em presídio com drogas.
Sendo assim, se a intençã o do juízo coator é somente evitar que a Paciente venha cometer
outros crimes, melhor saída seria a imposiçã o de medida cautelar que assegure que esta
nã o irá utilizar dos mesmos meios para delinquir, como, por exemplo, proibiçã o temporá ria
de frequentar a unidade prisional.
Isto por ser as medidas cautelares o meio mais acertado e eficaz no momento, tendo em
vista que, nã o só por ser a prisã o medida excepcional a se impor mas, também, para
cumprir tanto o direito da mã e de ter sua prisã o substituída por prisã o domiciliar com ou
sem medidas cautelares, conforme a Lei 13.769/18, quanto para o melhor bem estar dos
menores.
Desta feita, tendo em vista o entendimento acima mencionado a Paciente fará jus a prisã o
domiciliar ou medida cautelar prevista no art. 319 do CPP. Sendo que, desde já , manifesta o
interesse de cumprir qualquer exigência que seja decretada pelos Julgadores e a
comparecer em todos os atos para os quais for intimada.
Ante o exposto, requer seja cassada a decisã o que decretou a prisã o preventiva, aplicando a
Paciente a prisã o domiciliar, expedindo-se alvará de soltura, ou que seja revogada a prisã o
preventiva, impondo-se ao paciente as medidas cautelares que se fizerem necessá ria,
manifestando desde já que qualquer outra medida poderá ser imposta para a
Paciente.
III - DOS PRESSUPOSTOS DA MEDIDA LIMINAR
Diante da flagrante ilegalidade na manutençã o da medida cautelar do Paciente, nã o pairam
dú vidas para que, num gesto de estrita justiça, seja concedida liminarmente o direito à
liberdade da Paciente.
A liminar é o meio usado para assegurar celeridade aos remédios constitucionais, evitando
coaçã o ilegal ou impedindo a ocorrência desta. O “fumus boni iuris” está presente na
medida em que a existência de opçõ es diversas de medida cautelar pode ser aplicada a esse
caso em concreto. Presente também está o “periculum in mora”, onde certamente a
manutençã o da medida cautelar, além de perpetuar a coaçã o ilegal trará enormes prejuízos
ao paciente,sejam eles de ordem moral ou psicoló gica.
Cabe citar os ensinamentos do jurista Alberto Silva Franco, veja-se:
“É evidente, assim, que apesar da tramitação mais acelerada do remédio constitucional, em
confronto com as ações previstas no ordenamento processual penal, o direito de liberdade do
cidadão é passível de sofrer flagrante coarctação ilegal e abusiva. Para obviar tal situação é
que, numa linha lógica inafastável, foi sendo construído, pretoriamente, em nível de habeas
corpus, o instituto da liminar, tomando de empréstimo do mandado de segurança, que é dele
irmão gêmeo. A liminar, em habeas corpus, tem o mesmo caráter de medida de cautela, que
lhe é atribuída do mandado de segurança”.
Desta feita, conforme efetivamente comprovado, a Paciente faz jus ao evidente o
constrangimento ilegal sofrido pela Paciente na manutençã o da sua prisã o, sendo certo de
que a prisã o domiciliar é medida que se impõ e,.
Sendo que a permanência da Paciente no cá rcere somente irá leva-la a uma degradaçã o
imensa de sua personalidade e vida. Sendo que seus FILHOS irã o ficar a míngua, sem os
devidos cuidados que possuem hoje.
Devem ser sempre preservados pelos Juízos que decidem a prisã o de mulheres com filhos
menores de 12 (doze) anos a dignidade da pessoa humana e os direitos e garantias
fundamentais das mulheres e da criança e adolescente.
Sã o 3 (três) filhos menores, sendo dois menores de 12 (doze) anos que irã o ter que sofrer
de forma degradante (se conseguirem visitar a mã e) os males que os estabelecimentos
prisionais oferecem. Sendo que fatalmente tal fato irá prejudicar imensamente a vida
dessas crianças.
Ainda, conforme consta em no auto de prisã o em flagrante em anexo, o suposto crime
cometido pela Paciente trata-se de crime previsto no art. 33 da Lei de Drogas, o que
evidencia que nã o fora cometido com violência ou grave ameaça e que nã o configura crime
contra sua prole, ficando evidente a INEXISTÊNCIA DE QUALQUER EXCEPCIONALIDADE
NO CASO CONCRETO.
O “fumus boni iuris”, como ficou devidamente demostrado nas alegaçõ es perfiladas acima é
evidente no que diz respeito ao direito da Paciente de ter sua prisã o preventiva substituída
pela prisã o domiciliar.
Por sua vez, no que concerne o “periculum libertatis”, conforme demonstrado
minuciosamente, nã o se vislumbra qualquer justificativa plausível para a prisã o cautelar da
Paciente. Sendo que a mesma poderá se amoldar a qualquer uma das medidas previstas no
art. 319 CPP e que fatalmente irã o atender os anseios do Magistrado a quo que quer ver a
Paciente no cá rcere, como se tal atitude fosse motivo de justiça. Ainda, que a manutençã o
da prisã o desta poderá acarretar aos menores prejuízos irrepará veis.
Cabe citar os ensinamentos do jurista Alberto Silva Franco, veja-se:
“É evidente, assim, que apesar da tramitaçã o mais acelerada do remédio constitucional, em
confronto com as açõ es previstas no ordenamento processual penal, o direito de liberdade
do cidadã o é passível de sofrer flagrante coarctaçã o ilegal e abusiva. Para obviar tal
situaçã o é que, numa linha ló gica inafastá vel, foi sendo construído, pretoriamente, em nível
de habeas corpus, o instituto da liminar, tomando de empréstimo do mandado de
segurança, que é dele irmã o gêmeo. A liminar, em habeas corpus, tem o mesmo cará ter de
medida de cautela, que lhe é atribuída do mandado de segurança”.
Frente ao exposto, a presente ordem de habeas corpus deve ser concedida liminarmente
com o fim de revogar a prisã o cautelar da Paciente, expedindo desde logo o competente
alvará de soltura.
DOS PEDIDOS
Diante do exposto, resta induvidoso que a Paciente sofre constrangimento ilegal por ato da
autoridade coatora, Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da Vara Criminal da comarca de
Igarapé - MG, circunstâ ncia “Contra Legem”, que deve ser remediada por esse Colendo
Tribunal. Isto posto, com base no Art. 5º, LXVIII, da CF, c|c artigos 647 e 648 do CPP e Lei
13.769/18, requer:
a) conhecer o pedido LIMINAR para ante a existência de fumus boni iuris e periculum in
mora, determinando a imediata REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA, em favor da
Paciente, com base na Lei 13.769/18 e expedir o competente alvará de soltura;
b) oficializar a autoridade coatora para prestar as informaçõ es de praxe, no caso o MM. Juiz
de Direito da 3ª Vara Criminal da Comarca de Contagem/MG;
c) conhecer o pedido de HABEAS CORPUS, para conceder o pedido de julgado do feito,
tornando definitivos os efeitos da liminar concedida.
d) Subsidiariamente, requer seja aplicada qualquer das medidas cautelares previstas no
artigo 319 do Có digo de Processo Penal, de forma preferencial, aquela consistente no
comparecimento perió dico em Juízo, de forma a privilegiar a ulimaratio da Lei
12.403/2011. Caso nã o entenda por bem, que seja aplicada a medida mais gravosa de
proibiçã o de frequentar estabelecimento prisional.
Termos em que,
Pede deferimento.
Belo Horizonte, 19 de dezembro de 2019.
ADVOGADO
OAB/XX

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