Você está na página 1de 7

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ___ VARA CÍVEL DA

COMARCA DE XXXXXXXXX/XX

AÇÃO DE ADOÇÃO

MARIA, brasileira, divorciada, aposentada, inscrita no RG sob o nº xxxxxxxxx, CPF nº


xxxxxxxxx, residente e domiciliada na Rua xxxxxxxx, s/n, Localidade de xxxxxxxxx, Distrito
de xxxxxxxx, xxxxxxx/xx, sem endereço eletrô nico, vem, respeitosamente, perante Vossa
Excelência, por intermédio de seu advogado com procuraçã o anexa, propor a presente
AÇÃO DE ADOÇÃO da menor FRANCISCA, pelos motivos de fato e de direito a seguir
expostos.

1. DA JUSTIÇA GRATUITA
Inicialmente a parte autora declara-se pobre na forma da lei, tendo em vista nã o ter
condiçõ es de arcar com as custas e demais despesas processuais sem prejuízo do sustento
pró prio ou de sua família.
Assim, requer preliminarmente os benefícios da gratuidade judiciá ria, tendo em vista
enquadrar-se na situaçã o legal prevista para sua concessã o (artigo 98 caput e § 1º,§ 5º do
NCPC).

2. DOS FATOS
Logo apó s o nascimento de Francisca, por volta de 12 de Janeiro de 2003, a criança foi
deixada na casa da autora pela mã e bioló gica, afirmando que nã o tinha certeza de quem
seria o pai da criança, que já tinha um filho para criar e que nã o tinha condiçõ es financeiras
de sustentá -la, oferecendo a criança sem qualquer tipo de registro realizado.
Apó s a entrega da criança à autora, esta, que à época era casada, mudou de domicílio,
passando a residir em CIDADE /XX, em razã o de proposta de emprego de seu entã o cô njuge
Manoel.
Sem muita instruçã o, a autora sabia que pelo menos o registro de nascimento era
documento imprescindivel para qualquer necessidade de Francisca, portanto, prontificou-
se, junto ao seu cõ njuge na época, o Sr. Manoel, em ir até o Cartó rio de 1º Ofício de Notas e
de Registros de CIDADE (Cartó rio CIDADE) no intento de fazer a certidã o de nascimento da
adotanda.
Segundo a tabeliã , em razã o da autora nã o ser a mã e bioló gica e nã o haver a presença desta,
a ú nica opçã o que poderia constar na certidã o de nascimento era consignar no registro
como “criança exposta”, sendo orientada a, posteriormente, retificar o registro de
nascimento, de forma que pudesse constar o nome dos pais no registro.
Em razã o disso, a autora permanceu cuidando da criança, dando educaçã o, saú de, afeto,
lazer, alimentaçã o e todos os cuidados mínimos necessá rios, criando a menor Francisca
como sua filha, como assim sempre considerou e foi considerada pela adolescente.
Apó s um tempo, a autora retornou ao seu endereço em CIDADE, explicando à menor a
situaçã o em questã o, que havia sido entregue logo apó s o seu nascimento, questionando se
Francisca tinha interesse em procurar a mã e bioló gica, no entanto, nã o houve interesse da
adolescente em procurar qualquer tipo de contato, tendo permanecido com a Sra Maria a
guarda da adotanda.
Visando registrá -la como sua filha, levando em conta o fato de já estarem convivendo há
mais de 15 (quinze) anos como mã e e filha, observando os fortes laços afetivos
desenvolvidos entre elas, o caso em comento nã o comporta outro desfecho que nã o a
concessã o da regularizaçã o da adoçã o, confome melhor fundamentado a seguir.
3. DO DIREITO
3.1. DA INCIDÊNCIA NORMATIVA
Na espécie, visto tratar-se de adoçã o de adolescente, a incidência normativa material deve
encontrar fundamento nas normas jurídicas contidas no Estatuto da Criança e do
Adolescente, como determinam os arts. 28 e 39 do ECA, vejamos:
Art. 28. A colocaçã o em família substituta far-se-á mediante guarda, tutela ou adoçã o,
independentemente da situaçã o jurídica da criança ou adolescente, nos termos desta Lei.
Art. 39. A adoçã o de criança e de adolescente reger-se-á segundo o disposto nesta Lei.
Portanto, no caso em comento serã o cabíveis as regulamentaçõ es do que dispõ e o Estatuto
da Criança e do Adolescente.
3.2. DOS FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS E LEGAIS
A Constituiçã o Federal de 1988, em seu art. 227, § 5º, faz referência ao instituto da adoçã o,
atribuindo ao legislador ordiná rio a funçã o de estabelecer os requisitos necessá rios para
sua concessã o, ex vi:
Art. 227:
(…)
§ 5º - A adoçã o será assistida pelo Poder Pú blico, na forma da lei, que estabelecerá casos e
condiçõ es de sua efetivaçã o por parte de estrangeiros.
A Carta Magna, agora no art. 227, § 6º, equiparou os filhos bioló gicos aos filhos adotados,
além de proibir quaisquer designaçõ es discriminató rias relativas à filiaçã o, vejamos:
Art. 227
(...)
§ 6º - Os filhos, havidos ou nã o da relaçã o do casamento, ou por adoçã o, terã o os mesmos
direitos e qualificaçõ es, proibidas quaisquer designaçõ es discriminató rias relativas à
filiaçã o.
A adoçã o, na seara infraconstitucional, foi regulamentada tanto pelo Estatuto da Criança e
do Adolescente quanto pelo Có digo Civil.
No caso sub judici, como já demonstrado, deve-se aplicar as normas jurídicas previstas no
Estatuto da Criança e do Adolescente, haja vista tratar-se de adoçã o de adolescente,
conforme disposto no art. 2º do ECA.
O Estatuto da Criança e do Adolescente, por sua vez, disciplinou a adoçã o, assim dispondo:
Art. 41. A adoçã o atribui a condiçã o de filho ao adotado, com os mesmos direitos e deveres,
inclusive sucessó rios, desligando-o de qualquer vínculo com pais e parentes, salvo os
impedimentos matrimoniais.
3.3. DA FILIAÇÃO SÓCIOAFETIVA
Na doutrina e na jurisprudência é cada vez mais freqü ente a aceitaçã o da filiaçã o afetiva. A
filiaçã o afetiva estabelece-se naqueles casos em que, apesar de inexistir vínculo bioló gico,
os pais, por uma opçã o de amor, criam uma criança, dedicando-lhe afeto e suprindo suas
necessidades materiais e emocionais.
A filiaçã o só cio-afetiva tem por base o princípio constitucional de proteçã o à criança e ao
adolescente, e manifesta-se, inclusive, pela posse do estado de filho, que, muitas vezes, gera
efeitos jurídicos capazes de definir a filiaçã o.
Hoje nã o pode a verdade bioló gica transformar-se na verdade real da filiaçã o. O estado de
filiaçã o afastou-se da origem meramente bioló gica para alcançar sentido muito mais
significativo, constituindo gênero, do qual sã o espécies: a filiaçã o bioló gica e a filiaçã o
só cioafetiva.
O certo é que, em decorrência dos princípios constitucionais da igualdade, da proibiçã o de
discriminaçã o entre a filiaçã o, da supremacia dos interesses dos filhos e da dignidade da
pessoa humana, a filiaçã o só cioafetiva passou a ser o novo caminho capaz que ultrapassar a
filiaçã o decorrente do mero vínculo genético.
Assim, por esse caminho, nenhuma dú vida de que a demandante é a mã e afetiva da criança,
já que esta convive com a adotanda desde o seu nascimento, fato que merece amparo
jurídico.
4. DOS REQUISITOS PARA CONCESSÃO DA ADOÇÃO
4.1. DA COMPROVAÇÃO DOS LAPSOS TEMPORAIS EXIGIDOS EM LEI
A idade é fator determinante para aferiçã o da viabilidade da adoçã o, conforme se
depreende dos arts. 40 e 42, ambos do Estatuto da Criança e do Adolescente, in verbis:
Art. 40. O adotando deve contar com, no má ximo, dezoito anos à data do pedido, salvo se já
estiver sob a guarda ou tutela dos adotantes.
Art. 42. Podem adotar os maiores de 18 (dezoito) anos, independentemente do estado civil.
(...)
§ 3º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos mais velho do que o adotando.
Na espécie, a adotanda tem 15 (quinze) anos de nascido. A demandante, por outro lado, é
maiore de 18 (dezoito) anos, estando atualmente com 58 (cinquenta e oito) anos, conforme
atestam os documentos de identidade anexados aos autos.
4.2. DAS VANTAGENS E DOS MOTIVOS
O art. 43 do ECA exige a comprovaçã o de vantagens para o adotando, além da legitimidade
dos motivos determinantes da adoçã o, ex vi:
Art. 43. A adoçã o será deferida quando apresentar reais vantagens para o adotando e
fundar-se em motivos legítimos.
No caso proposto, as vantagens e a legitimidade dos motivos serã o demonstradas na
instruçã o processual, através de prova testemunhal.
A priori, a entrega espontâ nea da criança pela mã e bioló gica serve como início de prova
material para comprovar as vantagens para o adotando e a legitimidade dos motivos
determinantes da adoçã o.
4.3. DO CONSENTIMENTO DOS PAIS
O art. 45 do Estatuto da Criança e do Adolescente prevê a necessidade de consentimento
dos pais para a concretizaçã o da adoçã o.
Art. 45. A adoçã o depende do consentimento dos pais ou do representante legal do
adotando.
§ 1º. O consentimento será dispensado em relaçã o à criança ou adolescente cujos pais
sejam desconhecidos ou tenham sido destituídos do pá trio poder.
Na espécie, os pais bioló gicos da adotanda sã o desconhecidos, tendo a adotante apenas sido
procurada pela mã e bioló gica no ato da entrega da criança, nã o havendo qualquer interesse
da genitora em procurar a autora ou a Francisca novamente.
4.4. DO ESTÁGIO DE CONVIVÊNCIA
O art. 46 do Estatuto da Criança e do Adolescente exige está gio de convivência entre os
adotantes e a criança, sendo este dispensado se o adotando já estiver na companhia do
adotante durante tempo suficiente para se poder avaliar a conveniência da constituiçã o do
vínculo:
Art. 46. A adoçã o será precedida de está gio de convivência com a criança ou adolescente,
pelo prazo que a autoridade judiciá ria fixar, observadas as peculiaridades do caso.
§ 1º O está gio de convivência poderá ser dispensado se o adotando já estiver sob a tutela
ou guarda legal do adotante durante tempo suficiente para que seja possível avaliar a
conveniência da constituiçã o do vínculo.
Na espécie, o está gio de convivência é dispensado, haja vista o adotando estar na
companhia dos adotante durante mais de 15 (quinze anos), tempo suficiente para se poder
avaliar a conveniência da constituiçã o do vínculo.
4.5. DO NOME DO ADOTANDO
O art. 47, § 5º, do Estatuto da Criança e do Adolescente faculta ao adotante mudar o
prenome do adotado, vejamos:
Art. 47. O vínculo da adoçã o constitui-se por sentença judicial, que será inscrita no registro
civil mediante mandado do qual nã o se fornecerá certidã o.
(...)
§ 5º A sentença conferirá ao adotado o nome do adotante e, a pedido de qualquer deles,
poderá determinar a modificaçã o do prenome.
Na espécie, a autora deseja que a adotanda permaneça a chamar-se FRANCISCA,
acrescendo o seu nome e de seus ascendentes como sendo, respectivamente, mã e e avó s do
menor.
4.6. DOS DEMAIS REQUISITOS PARA A CONCESSÃO DE PEDIDOS DE COLOCAÇÃO EM
FAMÍLIA SUBSTITUTA
O art. 165 do Estatuto da Criança e do Adolescente exige nos pedidos de colocaçã o em
família substituta, dentre outros, os seguintes requisitos:
Art. 165. Sã o requisitos para a concessã o de pedidos de colocaçã o em família substituta:
I - qualificaçã o completa do requerente e de seu eventual cô njuge, ou companheiro, com
expressa anuência deste;
II - indicaçã o de eventual parentesco do requerente e de seu cô njuge, ou companheiro, com
a criança ou adolescente, especificando se tem ou nã o parente vivo;
III - qualificaçã o completa da criança ou adolescente e de seus pais, se conhecidos;
IV - indicaçã o do cartó rio onde foi inscrito nascimento, anexando, se possível, uma có pia da
respectiva certidã o;
V - declaraçã o sobre a existência de bens, direitos ou rendimentos relativos à criança ou ao
adolescente.
Por ser a adoçã o forma de colocaçã o do menor em família substituta, nos termos do art. 28
do Estatuto da Criança e do Adolescente, devem-se observar os requisitos necessá rios
previstos no art. 165 do Estatuto citado.
4.7. DAS QUALIFICAÇÕES
As qualificaçõ es completas da requerente encontra-se no cabeçalho da inicial.
A qualificaçã o da criança é a que segue: Francisca, brasileira, nascida em 12 de Janeiro de
2003 , com domicílio na Rua X, s/n. Localidade de XXXXX, Distrito de XXXXX, CIDADE/XX.
4.8. DA EXISTÊNCIA DE PARENTESCO ENTRE A CRIANÇA E A REQUERENTE
Inexiste parentesco direto entre a criança e a requerente, motivo pelo qual nã o há
impedimento para a presente adoçã o.
4.9. DO CARTÓRIO ONDE A CRIANÇA FOI REGISTRADA
A adotanda foi registrada no Cartó rio XXXXX, em CIDADE/XX, conforme có pia da certidã o
de nascimento que segue anexa.
4.9.1. DOS BENS DO MENOR
Registra-se que a adotanda nã o é proprietá ria de qualquer bem ou rendimentos.
4. Dos Pedidos
Ante o exposto, requer:
I - A concessã o dos benefícios da ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA nos termos das
Leis 1.060/50, visto que o requerente nã o possui condiçõ es de arcar com as custas
processuais e honorá rios advocatícios, sem prejuízo do seu sustento pró prio e de sua
família, nos termos legais supra mencionados.
II - A intimaçã o do representante do Ministério Pú blico Estadual;
III - A dispensa do cumprimento do está gio de convivência;
IV - A oportunidade, se necessá rio prova pó s-constituída, para demonstrar a verdade dos
fatos alegados em que se funda a açã o, por todos os meios legais, bem como os moralmente
legítimos, ainda que nã o especificados no Có digo de Processo Civil. Requer-se, desde já , se
necessá rio, produçã o de prova testemunhal, sendo as testemunhas:
MÁ RCIA, residente na Rua Y, bairro Z, CIDADE-XX.
MARIA JOSÉ , residente na Rua Y, bairro Z, CIDADE-XX.
V - Ao final, seja julgado procedente o pedido de ADOÇÃ O da menor Francisca pela
demandante Maria Lú cia, nos termos do art. 1.635, inciso IV, do Có digo Civil;
VI - Transitada em julgado a sentença, expeça-se mandado ao Cartó rio de Registro Civil
desta Comarca para que promova a devida inscriçã o no registro civil de nascimento da
adotada, com fornecimento de certidã o gratuita, na forma do art. 47 do ECA, e faça constar
do registro o nome da adotada como sendo Francisca, consignando, ainda, o nome da
adotante e seus ascendentes como sendo, respectivamente, mã e e avó s do menor;
Dá à causa o valor de R$ 100,00 (cem reais).
Termos em que,
Pede e espera deferimento.
Sobral – Estado do Ceará , aos 02 de Junho de 2018.

Andrine Rodrigues Lopes


Acadêmica de Direito

Você também pode gostar