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Universidade Federal de Goiás

Cinema e Literatura, Turma A


Docente: Sônia Maria Rodrigues
Beatriz Castro Miranda
Goiânia, Goiás, 2021

Orgulho e Preconceito é uma obra literária escrita pela autora britânica Jane
Austen e publicado pela primeira vez em 1813. O romance, que tem como plano de
fundo o cenário da burguesia inglesa no início do século XIX, gira em torno da família
Bennet e de suas cinco filhas. Quando um jovem rico e solteiro se muda para a região, a
matriarca Bennet o vê como oportunidade para resolver os problemas financeiros da
família e se torna determinada a casá-lo com uma de suas filhas. A trama principal, que
é narrada em terceira pessoa, acompanha Elizabeth, segunda filha mais velha da família
Bennet, dotada de uma personalidade sagaz e extremamente crítica. Ao cruzar caminhos
com o Sr. Darcy, homem rico, orgulhoso e arrogante, ambos iniciam uma relação
marcada pelo misto de raiva, julgamento, curiosidade, atração e preconceito.

Sem dúvida alguma, Orgulho e Preconceito é uma das mais famosas e


importantes obras de literatura da humanidade. À primeira vista, o livro pode parecer
somente um romance despretensioso, mas através de sua narrativa, Jane Austen tece
diversas críticas à sociedade da época, mais especificamente à burguesia britânica, que
era regida pela ganância econômica e casamentos por interesse. Este último, em
especial, é um tema constante na história. A trama retrata com precisão a forma com
que a lei do morgadio afetava e controlava a vida das mulheres da época. Nesse tipo de
sociedade, as noções familiares eram baseadas na ideia de uma linhagem. Assim, as
propriedades e todos os bens econômicos eram sempre passados para o primogênito
descendente homem de uma família. Na obra, apesar de o Sr. Bennet possuir cinco
filhas, nenhuma era considerada apta como descendente e, por isso, o patrimônio da
família seria herdado por um primo.

Elizabeth também não se encaixa perfeitamente no padrão das mulheres da


época. Durante a história, a protagonista rebela contra a noção do casamento por
conveniência e da ideia de que precisa de um homem para solucionar seus problemas.
Elizabeth não tem escrúpulos ao expressar suas opiniões e pensamentos, mesmo que
muitas vezes sejam desaprovados tanto por sua condição social, quanto por ser mulher.
“Seu plano é bom — replicou Elizabeth — quando está em jogo apenas o desejo
de se casar bem; e, se eu estivesse decidida a arranjar um marido rico, ou um marido
qualquer, seria este o plano que adotaria. Mas estes não são os sentimentos (...).”
(AUSTEN, Jane. 2010, p. 30)

Por esses motivos, Orgulho e Preconceito é uma das minhas obras favoritas e a
escolha para esta análise.

Apesar de existirem diversas adaptações de Orgulho e Preconceito, escolhi


analisar a versão de 2005, do diretor Joe Wright. Em A Narrativa na Literatura e no
Cinema (2012), Rosemari Sarmento aponta a interseccionalidade entre a literatura e o
cinema. No primeiro, o leitor utiliza as palavras para transformá-las em imagens em sua
imaginação; no segundo, as palavras são convertidas em imagens através de uma tela.
Dessa forma, as duas artes, apesar de possuírem linguagens distintas, estão conectadas.

O filme de Joe Wright, através de sua belíssima fotografia, saturação de cores,


cenários e figurinos estonteantes, consegue trazer para a tela a atmosfera descrita nas
páginas de Jane Austen. A adaptação também faz um bom trabalho ao manter
fidelidade aos personagens principais. A personalidade e os modos de agir dos
personagens na adaptação se assemelham muito a dos livros, e é uma experiência
fascinante poder ver ações que antes eram somente imaginadas, acontecendo diante dos
seus olhos. A direção do filme é bela e ao analisarmos a filmografia do diretor, podemos
ver que grande parte de seus trabalhos futuros também são obras de época. Orgulho e
Preconceito foi seu primeiro filme, que foi nomeado a diversos prêmios.

A maioria das cenas principais do livro estão presentes na adaptação. O filme


faz um ótimo trabalho em trazer os típicos diálogos rápidos e frenéticos do romance,
inclusive sendo possível perceber a presença ocasional de diálogos idênticos. No
entanto, como em qualquer adaptação, existem algumas discrepâncias da obra original.
Vários personagens secundários foram excluídos do filme, como as irmãs do Sr.
Bingley, que se tornaram somente uma, e a família Luca. No livro, a autora dá a
entender que a família Bennet vive uma vida confortável, apesar de não serem de
nenhuma forma ricos. A adaptação mostra uma família mais rural, vivendo em uma
fazenda e tendo modos menos abastados.

Enquanto no livro temos a presença de uma narradora onisciente, o filme não


tem nenhum tipo de narrador. A passagem de tempo na adaptação não é muito clara. No
romance, a autora dá a entender que semanas se passam entre um acontecimento e
outro. No filme, a situação temporal é muito mais ambígua. Normalmente, durante uma
passagem de tempo, a câmera muda o foco para um cômodo diferente ou um novo
ambiente, e às vezes há uma mudança de iluminação, mas nada que mostre
explicitamente que o tempo passou.

Definitivamente, minha cena favorita do filme é o pedido de casamento final,


por vários motivos. A cena começa com Elizabeth andando pelo campo ao amanhecer.
A trilha sonora é linda e é possível ouvir pássaros cantando no fundo. De repente, a
personagem para e é possível ver o Sr. Darcy caminhando em sua direção, ao mesmo
tempo que a música se torna mais frenética. O diálogo é bem escrito e emocionante,
sendo difícil não suspirar ao ouvir o Sr. Darcy declarando seu amor eterno por
Elizabeth. A cena começa escura, com o nascer do sol ao fundo, mas conforme os
personagens se aproximam, a iluminação começa a surgir, até que, no final, quando os
personagens finalmente se tocam, um raio de sol os atravessa. Tudo na cena, desde o
diálogo, à trilha sonora, à iluminação e fotografia é de tirar o fôlego.

Por último, acredito que tanto o livro, quanto o filme Orgulho e Preconceito são
belas obras e devem ser apreciadas individualmente. A adaptação consegue manter a
essência da história original e trazê-la à vida com emoção e respeito.

Entre as páginas e as telas há laços estreitos: nas páginas, são as palavras que acionam
os sentidos e se transformam, na mente do leitor, em imagens; a tela abriga imagens em
movimento que serão decodificadas pelo espectador por meio de palavras. Ambas propiciam
indagações e reflexões sobre esses diálogos nos mais diversos âmbitos, entre elas destacam-se
as observações de Godard: Os escritores sempre tiveram a ambição de fazer cinema sobre a
página em branco: de dispor os elementos e deixando que o pensamento circule de um a
outro. (JEAN LUC GODARD, Cahiers du Cinema, 171, out. 1965). A arte cinematográfica tem
como segunda natureza a vertente literária. Traz, a princípio, embutido o processo narrativo
da literatura, mesmo que no sentido oposto, numa lógica contrária, posto que aquilo que na
literatura é visado como efeito (a imagem); no cinema é dado como matéria narrativa.
Relações, aproximações e influências são historicamente comprovadas.

1° etapa: apresentar o livro (ano, autor, enredo) ok


2° etapa: motivo da escolha do livro ok
3°etapa: Observações sobre o livro (narrador, opinião, experiência de leitura) ok
4° etapa: análise do filme: abordar diferenças e semelhanças com o livro. Trazer o
texto A narrativa na literatura e no cinema como base ok
5° etapa: Adaptação ou recriação? ok
6° etapa: foco no diretor: a importância do filme em sua carreira,  ok
7° etapa: analisar o método da passagem de tempo ok
8°etapa: descrever cena mais fascinante
9°etapa: analisar efeito estético
10° etapa: conclusão

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