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Relatório do livro

O fio das missangas

Equipe: Aline Cordeiro, Jose Erlon, Maria de Fatima e Neyle Rafaela

Umirim, 05 de novembro de 2021.

Introdução
O livro “O fio das missangas”, escrito por Mia Couto no ano de 2003, é uma obra de
ficção, composta por contos curtos, sendo em sua maioria sobre mulheres que sofrem pela
perda de alguém ou pela perda do seu tempo que fora dedicado a algo ou alguém por tanto
tempo que quando elas pararam para viver a própria vida, o tempo já tinha passado. Essas
histórias referem-se a narrativas ficcionais que tratam da supremacia e opressão machista que
as mulheres sofreram e sofrem.
Antônio Emílio Leite Couto, que tem por pseudônimo Mia Couto, é um escritor, poeta
e jornalista que nasceu na cidade de Beira em Moçambique na África no dia 05 de julho de
1955. Mia Couto é filho de Fernando Couto que é emigrante português e também é jornalista
e poeta. Aos 14 anos, Mia Couto publicou seus primeiros poemas no Jornal noticias da Beira,
tentou cursar medicina mas após 3 anos desistiu. No ano de 1983, ele publicou seu primeiro
livro de poemas intitulado de “Raízes de Orvalho”, após 3 anos, deixou a profissão de
jornalista para se dedicar ao curso de Biologia para se especializar em Ecologia. Em 1992,
Mia Couto publicou seu primeiro livro de romance “Terra sonâmbula” escrito em prosa
poética. Mia Couto ganhou diversos prêmios internacionais e nacionais, dentre eles o “Prêmio
União Latina de Literaturas Românticas” (2007) e “Prêmios Camões”(2013).
A respeito do livro “o fio das missangas” dá voz as mulheres que estão condenadas ao
esquecimento, tratando de situações que aconteceram com elas, em que elas são protagonistas
ou narradoras dos contos ou ambas as coisas, ou seja, veremos personagens centrais com
profundas reflexões humanas. Nos contos, temos a presença de personagens que estão de luto
sofrendo por amores que perderam e também temos mulheres abandonadas e que sofrem
violência domestica, é de fato, um livro ficcional, mas que contem narrativas com veracidade,
pois alguns casos presentes nos contos acontecem todos os dias no mundo em que vivemos.
A capa do livro tem a imagem do que parece ser um cordão com alguns enfeites, que
visto sem contexto não parece ter significado nenhum. Na verdade, esse cordão é um fio e os
enfeites são as missangas, que no caso, o fio é o livro e as missangas são os 29 contos. A
escolha da obra se deu porque a nossa equipe ainda não tinha lido nenhuma obra do Mia
Couto, apesar de conhece-lo. Durante a escolha do livro, foi necessário a leitura apenas do
primeiro conto “As três irmãs” para despertar o nosso interesse para continuar a leitura,
porque sabíamos que o livro não iria nos desapontar e realmente fizemos uma leitura fluida
que durou algumas semanas, devido ao nosso pouco tempo, mas que realmente nos
surpreendeu.

O espaço
Em relação ao espaço, percebe-se que o espaço tem particularidades que fazem com
que o espaço ficcional seja moçambicano, não tão somente, nos referimos ao espaço físico
mas também ao lugar social dos personagens que são subjetivos à eles. Em cada conto, vemos
que o autor insere o espaço moçambicano de formas diferentes, podendo ser de forma real ou

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fantástica e através disso, é possível perceber a sensibilidade do autor. Os contos são todos
diferentes com personagens variados, mas alguns deles têm fatos em comum, como a mulher
como personagem central que sofre por conta do machismo, por acreditar que precisa de uma
figura masculina para lhe dizer o que faze e viver em função dele.

A imagem retratada acima traz a figura de dois homens e uma mulher, onde os homens
aparecem favorecidos porque eles têm a sua disposição os degraus para chegarem aonde
querem e a mulher aparece desfavorecida e abaixo deles. Escolhemos essa imagem por ela
representar a desigualdade existente entre homens e mulheres, não somente no trabalho, mas
também em outras esferas da sociedade. No caso do livro, a todo momento a mulher aparece
dependente de homem, onde ela precisa dele para não se sentir sozinha ou para ser sustentada
por ele. Essa imagem de que mulher é sexo frágil precisa ser desconstruída, visto que já é um
situação cultural, desde pequeno aprendemos que a mulher dona de casa só serve para arrumar
a casa, esse serviço domestico, não é considerado trabalho porque é feito em casa, só é
considerado emprego aquele feito fora de casa e que gere lucro. Essa desconstrução tem que
começar dentro de casa, cada um fazendo sua parte de forma cooperativa, pode ser que um
dia, o nosso descontentamento sobre esse assunto não passe de uma memória ruim que
aconteceu há muito tempo atrás e que hoje não passa de uma mera lembrança.

Os personagens
“As três irmãs” é o conto de abertura do livro “O Fio das Missangas” (2004), do escritor
moçambicano Mia Couto. Trata-se de uma obra composta de 29 narrativas breves. Contudo,
na presente análise, enfatizemos apenas as primeiras cinco, visto que, ao considerar a riqueza
do exemplar, teríamos conteúdo para escrever outro livro.
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Iniciando a leitura de “As três irmãs”, deparamo-nos com um conto de fadas pelo avesso, pois
há uma quebra de expectativa quando prosseguimos com a leitura. O texto é narrado em 3ª
pessoa por um narrador onisciente, mas este não invade a mente das personagens. Nessa
narrativa, conhecemos Gilda, Flornela e Evelina, três irmãs que mudam-se com o pai,
Rosaldo, para um lugar isolado logo após a morte da mãe. Sem contato social, as jovens
ocupam seu tempo fazendo o que sabem: Gilda sabia rimar, Flornela, sabia cozinhar e criar
variados pratos e Evelina sabia bordar. Rosaldo encontrava na filhas a resposta para todos as
suas perguntas, tinha-as em seu mundo sem contato com outras pessoas. Entretanto, surge um
jovem e belo rapaz, que passa por ali e tira o foco das moças. Até esse momento, parece que
está para começar um romance proibido entre o rapaz e uma das moças, mas o romance
acontece entre o rapaz e Rosaldo, espanto para as moças e para o leitor.
O segundo conto é “O homem cadente”, narrado em 1ª pessoa. O primeiro personagem é o
próprio narrador, que participa ativamente da história, destacando-se, porém, não é
protagonista. Zuzé (José Antunes Marques Neto) é o homem que cai do prédio. Também
podemos ver uma terceira personagem, uma moça que chorava. Ao fim, o narrador-
personagem revela que tudo, a queda, o corpo flutuante e o alvoroço, não passou de um
sonho.
“O cesto” é o terceiro conto do livro. Nele, o narrador é uma mulher que vive a rotina de
atentar para o marido em coma no hospital. Tendo seus pés, seus olhos e suas palavras presas
ao marido, a mulher deixará cair sobre a escrita o que não conseguiu realizar por outros
meios. Ao interessar-se pela escrita, olhar-se no espelho e largar o cesto da visita, a
personagem deseja a morte do marido. Porém, quando isso acontece realmente, ela sente-se
presa ao costume de ser submissa. Trata-se de estar tão presa a ponto de estranhar e até
rejeitar a liberdade outrora tão desejada.
Em “Inundação”, quarto conto do livro analisado, vemos uma mulher em prantos, um marido
cujo abandono é o motivo das lágrimas da mulher e crianças que assistem toda a dor da mãe,
que, depois do abandono, não vê mais sentido na vida. Nessa narrativa o narrador é também
personagem: um dos filhos, que acompanha a dor da mãe após a partida do pai.
Como no terceiro conto do livro, o narrador de “A saia almarrotada” também é uma mulher,
criada pelo pai e pelo tio, era educada como “As três irmãs”, treinada para servir aos
caprichos dos homens de suas famílias e para cuidar destes em sua velhice. A personagem
tenta suicídio ao incendiar-se, mas os irmãos a impedem de tal. Trata-se de uma moça
oprimida, de vida dedicada apenas a vontades alheias.

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Há muitas coisas para falar, personagens dignos de análise, mas, como já afirmado, esse
assunto formaria facilmente outro livro. Por isso, destacamos os cinco primeiros contos de “O
Fio das Missangas”.

Narrativa
Em “O Fio das missangas” Mia Couto aborda de forma magistral, isto é, com certo
lirismo e simbolismo, sobre diversos problemas pertinentes em nossa sociedade, causados,
principalmente, pelo modo de pensar a sua estrutura ao logo do tempo. Aliás, o uso do

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pronome pessoal “nosso” faz jus à herança colonial deixada, tanto em terras moçambicanas
como brasileiras, pelo colonizador português, do modelo judaico-cristão de sociedade. O
conto que abre o livro chama-se “As três Marias”. Trata-se de uma história que se passa num
ambiente familiar constituído por um pai extremamente protecionista que cria suas três filhas
num estado completo de isolamento, de um modo que lhes são exclusivas. Essas três Marias,
definidas pelas atribuições que servem ao próprio pai: rimeira, receitista e bordadeira, não
conhecem em suas vidas algum sentimento, além do tédio e da monotonia familiar, até que
certo “rapaz formoso” chega para agitar aquela habitação e os corações de seus habitantes. O
desenrolar da história move-se sorrateiramente, preparando o terreno para uma resolução que
o leitor não está preparado.
A partir deste conto, outros vinte e oitos se desenrolam numa espécie de mostruário de
experiências e discussões implícitas, onde a realidade se funde ao imaginário. Dentro dos
limites entre real e imaginário está o segundo conto “O homem cadente” onde é construída a
imagem de um homem caindo, mas que nunca chega a terra, como numa espécie de câmera
lenta constante. Neste conto, ao desafiar as leis gravitacionais o autor desperta no leitor o
interesse em saber como aquele fenômeno se dá. Outro exemplo que testifica a abordagem
entre o fantástico e a realidade, utilizada por Mia Couto, é o conto que encerra o compêndio
dessa obra, chamado de “Peixe para Eulália”. Nele são contados os desvarios de um sujeito
chamado Senhorito, que prevê em uma época de profunda estiagem uma grande chuva para
sua comunidade. Desacreditado por seus conterrâneos, suas profecias só encontram lugar na
mente de uma moça chamada Eulália, mesmo após sua morte. Quando em um belo dia uma
forte chuva assola o vilarejo, Eulália passa a ratificar que aquela ação era fruto das profecias
de Senhorito.
Além dessas discussões, outras surgem ao passo que o leitor vai saboreando as histórias
em “O Fio das Missangas”. Muitas vezes o maná oferecido ao leitor é bem temperado com
pintadas de sarcasmos e alivio cômico, mas em outros momentos o tom empregado pelo autor
coloca diante de quem está lendo algo menos apetitoso, mas extremamente necessário. Entre
os exemplos mais provocadores está à história de “Os Olhos dos Mortos”, nela uma mulher
conta em primeira pessoa, sobre a sua vida matrimonial caracterizada pela submissão, rejeição
e violência, tanto física como psicológica. O ponto de virada acontece quando num dia ao
quebrar o porta-retratos do marido acidentalmente, e sendo mais uma vez alva dos
espancamentos, ela resolve se libertar matando-o com os cacos de vidro. Aliás, o tema da
violência doméstica é abordado também em “A saia amarrotada”, onde a violência
psicológica e a hierarquia de poder familiar amedrontam a vida da personagem principal.

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Percebe-se até aqui uma constante abordagem relacionada às questões da mulher
perante a sociedade, pois mesmo quando elas não estão à frente da história, sua presença é
colocada a provocar no leitor a imagem de deslocamento e submissão, mas também sem
deixar o olhar da superação. Como deve-se imaginar muitas outras narrativas permeiam “O
Fio das Missangas” que não poderão ser abordadas com total profundidade, como lhes são
requeridas. Entretanto vale mencionar ainda alguns assuntos que compõem a obra, como os
valores morais em “Mana Celulina, a esferográvida” e “O nome gordo de Isadorangela”,
aspectos dogmáticos da religião colonizadora em “Entrada no Céu”, a cultura da
desvalorização à arte em “A infinita fiadeira”, a vida marginalizada e a ação policial sobre
quem vive na rua em “O mendigo Sexta-Feira jogando no Mundial...” e outras histórias e
discussões que o autor vai fiando e tecendo, ou melhor, acrescendo às missangas desse
brilhante fio.

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Conclusão

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Referências

FRAZÃO, Dilva. Ebiografia. Biografia de Mia Couto. Disponivel em:


ebiografia.com/mia_couto/. Acesso em: 24 out. 2021.

SOBRINHO, Marcelo. PLANO CRÍTICO. A prosa moderna e enxuta de Mia Couto em


seu melhor libro de contos. Disponivel em: planocritico.com/critica-o-fio-das-missangas-
mia-couto/. Acesso em: 24 out. 2021.

LIMA, Lilian. O FIO E AS MISSANGAS: UM ESPAÇO INSÓLITO EM MIA COUTO.


Disponivel em:
www.ileel.ufu.br/anaisdosiliafro/wp-content/uploads/2014/03/artigo_SILIAFRO_37. Acesso
em: 24 out. 2021.

COUTO, Mia. O fio das missangas. 2003.

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