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ALUSÕES

LITERÁRIAS NA
REDAÇÃO
DOZE LIVROS RESUMIDOS

CONTEXTUALIZAÇÃO EM POSSÍVEIS
TEMÁTICAS + ANÁLISE
POR BÁRBARA GARBINATO
AS ALUSÕES LITERÁRIAS SÃO IMPORTANTES E EXTREMAMENTE BENÉFICAS PARA O TEXTO
DISSERTATIVO, POIS AGREGAM INFORMAÇÕES QUE COMPROVAM A ARGUMENTAÇÃO, ALÉM DE
MOSTRAR AO CORRETOR QUE O ALUNO POSSUI BAGAGEM CULTURAL.
NO ENTANTO, É NECESSÁRIO TER ALGUNS CUIDADOS NO QUE TANGE AO USO DESSAS
ALUSÕES POIS, SE USADAS DE MANEIRA INADEQUADA NO TEXTO, PODEM TORNÁ-LO
CANSATIVO OU INVEROSSÍMIL.
OS LIVROS E AUTORES QUE FOREM CITADOS NA DISSERTAÇÃO DEVEM FAZER UMA BOA
ALUSÃO COM O TEMA PROPOSTO. OU SEJA, NÃO SE DEVE USAR UM LIVRO QUE TRABALHA
"X" SENDO QUE A PROBLEMÁTICA PEDIDA ABORDA "Y". É PRECISO EVITAR A
INCONGRUÊNCIA.

Segue a lista de obras literárias:

A obra “Quarto de Despejo”, de Carolina Maria de


Jesus, aborda o cotidiano caótico de quem vive nas
periferias do Brasil. O livro que, na realidade, é
um diário da própria autora, narra as diversas
dificuldades de quem não possui nenhum privilégio.
Carolina nos leva para uma realidade, até então,
pouco contada. A autora relata que a fome "tem a cor
amarela", ou seja, quem não se alimenta direito,
possui dificuldade de enxergar a vida de maneira
colorida. Triste, não? O livro pode ser usado para
comprovar argumentos acerca da fome, da falta de
recursos, da invisibilidade e do descaso por parte
do governo para com moradores das favelas
brasileiras.

Ainda sob o mesmo prisma, a obra “O Cortiço”, de


Aluísio Azevedo, também aborda as problemáticas
sociais da vida dos menos privilegiados. No entanto,
Aluísio leva o romance a outro patamar quando trata
o Cortiço como um personagem, tornando-o vivo.
Relata o rebuliço dos moradores do morro, das
traições e do jeito "brasileiro" de ser, de maneira
nua e crua, quase selvagem. Mostra que o brasileiro
corrompe até os mais puros (como por exemplo, a
personagem "Pombinha") e principalmente, comprova a
teoria de que o meio influencia as pessoas. Somos o
resultado de onde estamos e com quem dividimos o
espaço.
E por falar na teoria do meio, o livro "O Ateneu"
aborda essa mesma perspectiva. Raul Pompéia debate o
tópico acerca da educação rígida, trazendo o
personagem principal, Sérgio, para o meio escolar
aristocrático. O diretor, Aristarco, extremamente
rude, garante aos pais que seus filhos sairiam do
colégio sendo devidamente educados e com princípios
ideais. No entanto, o que Sérgio presencia na
escola, é totalmente diferente. A instituição, que
era só para meninos, era dividida entre os líderes e
os submissos. Confirmando, então, a teoria
anteriormente citada; Sérgio se vê em um impasse,
teria que ceder ao novo meio? Se tornaria
subordinado?  Essa obra vale a pena ser citada em
temas que abordem a submissão de indivíduos perante
aos líderes, mesmo aqueles que não sejam os ideais.

É
TEORIA DO MEIO
uma tese determinista que
expressa a suscetibilidade e
fragilidade do homem diante
de certos fatores como: seu
meio social, sua raça, sua
época e seu poder aquisitivo.
Essa teoria esteve presente
na maioria dos livros
Naturalistas, sendo "O
Cortiço" a obra prima desse
movimento literário.

O grande romance de Graciliano Ramos, "Vidas Secas"


trás um assunto importante a ser debatido: o descaso
social e a exploração humana. A obra aborda a vida
de uma família de retirantes do sertão brasileiro;
Fabiano, Sinhá Vitória, a cachorra Baleia e os
filhos: Menino mais novo e Menino mais velho. Os
integrantes caminham no sol escaldante do nordeste
em busca de novas oportunidades e se acomodam em uma
casa abandonada, com a esperança de que a seca
passasse. No entanto, Fabiano é roubado através das
contas pelo patrão, e a família vive em miséria. O
triste livro pode ser análogo a temáticas que
abordam a pobreza, a exploração e a falta de
humanidade, visto que o próprio animal de estimação
possui um nome na narrativa (Baleia), enquanto os
filhos não.
Falando em grandes obras, o romance "Memórias
Póstumas de Brás Cubas" de Machado de Assis, merece
ser citado. Machado conta a história de Brás Cubas,
porém ele próprio narra a obra, mesmo já tendo
falecido de acordo com a narrativa. Portanto ele
seria um defunto autor, ou um autor defunto. Fica
aí o questionamento! Mas o que se pode tirar dessa
grande história é uma passagem importante: Brás
Cubas se interessou por uma moça, Eugênia, a qual
ele descreve ter um doce olhar e uma postura
singela. No entanto, Brás repara que a menina
possuía uma deficiência na perna: ela era coxa.
Depois disso, o seu interesse pela criatura se
dissipou, devido ao fato dela ser coxa. Nas suas
próprias palavras: "Por que bonita, se coxa? por
que coxa, se bonita?". Esse capítulo pode ser
análogo a temáticas que abordam indivíduos que
possuem deficiência e o descaso social com os
mesmos.

Já que falei de romance, o livro de Jane Austen


"Orgulho e Preconceito", trás de forma graciosa e
leve a história de uma mulher com um pensamento um
tanto progressista para o século XIX. Elizabeth
vive com suas quatro irmãs, todas elas ensinadas,
desde cedo, que deveriam se casar jovens e com
homens de posse. No entanto, Eliza sai do padrão
quando percebe que quer se casar por amor, e não de
maneira arranjada como seus pais desejavam. Em meio
a tragédias e viagens, a personagem encontra o amor
verdadeiro em um homem que ela havia odiado em
primeira vista: o Sr. Darcy. A obra pode ser
análoga a temáticas feministas e progressistas,
mostrando que "estar fora da estatística" pode ser
benéfico, e que as mulheres têm poder de ação e de
voz.

Na mesma temática, Charlotte Brontë trouxe uma


heroína para a literatura mundial: Jane Eyre.
Sinônimo de superação e de liberdade, a personagem
tem uma história de vida trágica; devido a morte
dos pais, morou com uma malvada tia, até que acabou
parando em um orfanato rígido até completar dezoito
anos e, então, se tornou uma governanta. Ao chegar
na casa que iria trabalhar, Jane se envolveu em uma
romântica história de amor com o patrão. A
narrativa em si não possui nexo com os problemas
típicos de uma redação, no entanto, a complexidade
da personagem sim. A autora inseriu no mundo
literário um novo tipo de protagonista feminino:
não estereotipado, complexado, com necessidades
artísticas e intelectuais, a qual não se contenta
com possibilidades limitadoras  impostas a sua
vida. Por esse prisma, Jane Eyre é uma obra que
pode ser citada em redações que abordem a força da
mulher e seus princípios, além da questão da
liberdade, que a personagem tanto buscou.
“A Metamorfose” de Franz Kafka é uma obra
internacionalmente reconhecida e de extrema
importância devido ao tema abordado: as
complexidades da mente humana. Gregor Samsa, o
personagem principal, acordou, certa manhã,
metamorfoseado num inseto monstruoso. O livro
relata a dificuldade que o personagem teve em viver
como um inseto; mas, o texto trabalha com
metáforas: Greg se tornou um animal, algo que não
conhecia, ficou infeliz e sozinho. No entanto, ele
já tinha essas mesmas sensações, pois trabalhava em
um emprego no qual ele não era feliz, mas a família
dependia de seu salário. Ele tinha muitos amigos,
porém era solitário mesmo assim. Nessa temática, 
Kafka discute assuntos polêmicos e importantes: a
solidão, o conformismo e principalmente a
humilhação de se tornar algo que não gostaria de
ser. O inseto pode ser facilmente interpretado como
o último estágio da depressão humana, e Gregor se
rende a ela. O livro pode ser citado em um texto
dissertativo que aborde qualquer um dos temas
supracitados, porém a analogia deve ser bem feita
para que enriqueça o texto.

O livro do jornalista e romancista George Orwell,


“1984”, denuncia as mazelas do totalitarismo e se
tornou um dos romances mais influentes do século
20. Tendo a cidade de Londres como panorama, a
história gira em torno do “Big Brother” (em
português, Grande Irmão), o líder supremo. Um
indivíduo de 45 anos, com bigode preto e feições
rudemente agradáveis. Se instalou no poder depois
de uma guerra de escala global (análoga à Segunda
Guerra Mundial), que eliminou as nações e criou
três grandes estados. O Big Brother controlava tudo
e todos por meio das “teletelas” espalhadas pelas
cidades. O livro foi publicado em 1948, e o título
da obra inverteu os últimos dois números em uma
tentativa de dizer que a distopia descrita não era
uma ameaça tão distante e impossível. Sendo assim,
a obra pode ser citada em dissertações que trazem o
tema controle de estado, das grandes massas, além
da mídia e dos “algoritmos” (tema de redação do
Enem em 2018). Além disso, o livro pode fazer
relação com o programa de televisão brasileiro “Big
Brother Brasil”, em que todos os participantes são
monitorados.
Na mesma linha de governos totalitários, “Laranja
Mecânica” de Anthony Burgess, retrata a história do
protagonista Alex, inserido em uma sociedade
futurista em que a violência atinge proporções
gigantescas e provoca uma resposta igualmente
agressiva de um governo opressor. A linguagem do
livro é marcado por gírias adolescentes, com
palavras inventadas, resultado da mistura do
francês, gaélico e do inglês. É um dos ícones
literários da alienação pós-industrial que
caracterizou o século XX. Tal obra pode ser
abordada em redações que trabalhem o tema de
violência, juventude alienada e feroz,
aprisionamento de ideais e de Estados ditatoriais.

Vencedor do Prêmio Nobel de Literatura, “Senhor das


Moscas” de William Golding, explora o lado escuro
da humanidade, a selvageria que está presente até
nos seres humanos mais civilizados. No meio de uma
guerra nuclear, um grupo de meninos sobrevive a uma
queda de avião em uma ilha totalmente desabitada. O
avião caiu e foi arrastado para o mar, deixando-os
encalhados em uma ilha desconhecida. Por causa da
devastação da bomba atômica, é provável que ninguém
saiba das crianças. Ralph, Piggy (apelido que, por
sinal, ele odiava), e Jack são os meninos que dão
vida a narrativa. Ralph foi eleito líder devido a
sua beleza e simpatia, e isso se mostrou incoerente
ao longo do livro, o qual Jack acabou se tornando
mais apto para o cargo. A história é tensa mas
marcada por alegorias infantis e, ao final, revela
que em situações de sobrevivência o lado selvagem é
predominante. É uma boa obra para ser citada em
redações que trabalhem situações de luta pelo
poder, além do lado animalesco da alma humana.

Para quem é mais “Geek” e que gostaria de


incorporar um pouco dessa cultura na redação,
Tolkien é um autor internacionalmente reconhecido,
e suas obras ficcionais e fantásticas podem ser
facilmente análogas à dissertações com sua trilogia
“O Senhor dos Anéis”. A história se passa em um
mundo inteiramente ficcional, com criaturas mágicas
e algumas (várias) malignas. A busca pelo Anel do
Poder e, posteriormente, sua destruição, é o
panorama principal da narrativa. No entanto, o que
se pode tirar dessa ficção, é a visão que Tolkien
pôs em seu livro acerca dos homens: Isildur, ao
pegar o Anel, deveria tê-lo queimado, porém, com
sede pelo poder, não o fez. Dessa forma, a história
seguiu. Esse fato pode ser citado em dissertações
que abordam a fome pelo dinheiro e pela soberania,
mostrando que o mundo humano é constante na
desigualdade e no ódio.

"Criatividade é a arte de conectar ideias" - Steve Jobs


Boa leitura!

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