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Teste de avaliação escrita 2

Farsa de Inês Pereira e Crónica de D. João I

Nome N.o 10.o Data / /

Avaliação E. Educação Professor

Grupo I
PARTE A

Lê o seguinte excerto da Farsa de Inês Pereira, de Gil Vicente. Se necessário, consulta as notas.
O Escudeiro vendo cantar a Inês Que pecado foi o meu?
Inês Pereira, mui agastado lhe diz: Por que me dais tal prisão?
30 Escudeiro Vós buscais discrição
Vós cantais Inês Pereira que culpa vos tenho eu?
em bodas1 me andáveis vós? Pode ser maior aviso
Juro ao corpo de Deos maior discrição e siso
que esta seja a derradeira. que guardar o meu tisouro?
5 Se vos eu vejo cantar 35 Nam sois vós molher meu ouro?
eu vos farei assoviar. Que mal faço em guardar isso?
Inês Bofé senhor meu marido
se vós disso sois servido Vós não haveis de mandar
bem o posso eu escusar2. em casa somente um pêlo
se eu disser isto é novelo
10 Escudeiro Mas é bem que o escuseis 40 havei-lo de confirmar.
e outras cousas que não digo. E mais quando eu vier
Inês Por que bradais vós comigo? de fora haveis de tremer
Escudeiro Será bem que vos caleis. e cousa que vós digais
E mais sereis avisada nam vos há de valer mais
15 que não me respondais nada 45 que aquilo que eu quiser.
em que3 ponha fogo a tudo
porque o homem sesudo Moço às partes dalém5
traz a molher sopeada4. me vou fazer cavaleiro.
Moço Se vós tivésseis dinheiro,
Vós não haveis de falar nam seria senam bem.
20 com homem nem molher que seja
nem somente ir à igreja 50 Escudeiro Tu hás de ficar aqui
nam vos quero eu leixar. olha por amor de mi
Já vos preguei as janelas o que faz tua senhora
por que não vos ponhais nelas fechá-la-ás sempre de fora.
25 estareis aqui encerrada Vós lavrai ficai per i6.
nesta casa tam fechada, Gil Vicente, As obras de Gil Vicente, José Camões (coord.),
como freira d’Oudivelas. vol. II, Lisboa, IN-CM, 2001, pp. 583-585.

1 4
bodas: festas de casamento; sopeada: subjugada;
2 5
escusar: evitar; às partes dalém: Marrocos;
3 6
em que: mesmo que; per i: em casa.

Editável e fotocopiável © Texto | Mensagens • 10.o ano 253


1. Transcreve as expressões que, entre os versos 3 e 29, se referem às regras impostas a Inês,
indicando as exigências do Escudeiro em cada uma delas.

2. Explicita a reação de Inês Pereira à atitude de Brás da Mata.

3. Completa as afirmações abaixo apresentadas, selecionando a opção adequada a cada espaço.


Na folha de respostas, regista apenas as letras – a), b) e c) – e, para cada uma delas, o número
que corresponde à opção selecionada em cada um dos casos.

Neste excerto, o comportamento despótico do Escudeiro coloca em evidência o seu


verdadeiro caráter. Nos versos 32 a 36, recorrendo à a) __________, Brás da Mata procura
justificar a sua atitude, valorizando Inês ao referir-se a ela como «meu tisouro» e «meu ouro».
Para além disso, ironicamente, desdenha de Inês, responsabilizando-a pelas consequências da
sua escolha, em b) __________. Também no diálogo com o Moço se destaca o seu caráter
dissimulado, na medida em que se desmascara c) __________.

a) b) c)
1. antítese 1. «Vós buscais discrição, / que culpa vos tenho 1. a miséria dos escudeiros
eu?» (versos 30-31) presumidos
2. hipérbole 2. «Vós não haveis de mandar / em casa 2. o desafogo da classe social
somente um pêlo.» (versos 37-38) a que pertence
3. metáfora 3. «E mais quando eu vier / de fora haveis de 3. a discrição típica
tremer» (versos 41-42) de escudeiro

PARTE B

Lê o excerto do capítulo 115 da Crónica de D. João I de Fernão Lopes e as notas.

Per guisa1 estava a cidade corregida2 pera se defender, quando El-Rei de


Castelo pôs cerco sobr’ela.
Nem uũ falamento deve mais vizinho seer deste capitulo que havees ouvido, que poermos logo
aqui brevemente de que guisa estava a cidade, jazendo el-Rei de Castela sobr'ela; e per que modo
poinha em si guarda o Meestre, e as gentes que dentro eram, por nom receber dano de seus ẽmigos;
e o esforço e fouteza3 que contra eles mostravom, em quanto assi esteve cercada.
5 Onde sabee que como4 o Meestre e os da cidade souberom a viinda del-Rei de Castela, e
esperarom seu grande e poderoso cerco, logo foi ordenado de recolherem pera a cidade os mais
mantiimentos que haver podessem, assi de pam e carnes, come quaes quer outras cousas. (…)
Os muros todos da cidade nom haviam mingua de boom repairamento5; e em setenta e sete
torres que ela teem a redor de si, forom feitos fortes caramanchões6 de madeira, os quaes eram bem
10 fornecidos d’escudos e lanças e dardos e beestas de torno, e doutras maneiras com grande avondança
de muitos viratões7. (…)
E ordenou o Meestre com as gentes da cidade, que fosse repartida a guarda dos muros pelos
fidalgos e cidadãos honrados; aos quaes derom certas quadrilhas e beesteiros8 e homẽes d’armas pera
ajuda de cada uũ guardar bem a sua. Em cada quadrilha havia uũ sino pera repicar quando tal cousa
15 vissem; e como cada uũ ouvia o sino da sua quadrilha, logo todos rijamente corriam pera ela; por
quanto aas vezes, os que tiinham cárrego das torres, viinham espaçar 9 pela cidade, e leixavom-nas
encomendadas a homeẽs de que muito fiavom; outras vezes nom ficavom em elas senom as atalaias;
mas como davom aa campãa10, logo os muros eram cheos, e muita gente fora.
254 Editável e fotocopiável © Texto | Mensagens • 10.o ano

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