Você está na página 1de 3

Ficha de

Ficha trabalho
5 Domínio Educação Literária
Domínio Educação Literária

Ficha 5 · Farsa de Inês Pereira de Gil Vicente


Lê atentamente o excerto da Farsa de Inês Pereira de Gil Vicente.

Entra o Moço com uma carta e diz: vosso marido fugindo


da batalha pera a vila,
Moço Esta carta vem d’ Além, 3 a meia légua de Arzila,
creio que é de meu senhor. 0 o matou um mouro pastor.”
Inês Mostrai cá, meu guarda-mor, Moço Oh, meu amo e meu senhor!
e veremos o que i vem.
Inês Dai-me vós cá essa chave,
Sobrescrito: e i buscar vossa vida.
3 Moço Oh, que triste despedida!
5
5 “À senhora mui prezada Inês Oh, que nova tão suave!
Inês Pereira da Grã, Desatado é o nó4!
à senhora minha irmã, S’ eu por ele ponho dó5,
em Tomar lhe seja dada.” o Diabo m’ arrebente!
4 Pera mim era valente,
0
De meu irmão… Venha embora! e matou-o um mouro só.
1 Moço Vosso irmão está em Arzila?
0
Eu apostarei que i vem Guardar de cavaleirão6,
nova de meu senhor também. barbudo, repetenado7,
Inês Já ele partiu de Tavila1? que em figura d’ avisado
Moço Há três meses que é passado2. 4 é malino8 e sotrancão9.
5
1 Inês Aqui virá logo recado, Agora quero tomar,
5
se lhe vai bem, ou que faz. pera boa vida gozar,
Moço Bem pequena é a carta assaz. um muito manso marido.
Inês Carta de homem avisado. Não no quero já sabido,
5 pois tão caro há de custar.
Lê a carta. 0

Vem Lianor Vaz visitá-la e ela finge-se


“Muito honrada irmã, muito anojada.
2 esforçai o coração3
0
e tomai por devação Lianor Como estais, Inês Pereira?
de querer o que Deus quer.” Inês Muito triste, Lianor Vaz.
E isto que quer dizer? Lianor Que fareis ao que Deus faz?
Inês Casei por minha canseira10.
Prossegue: 5 Lianor Se ficastes prenhe11, basta 12.
5
Inês Bem quisera eu dele casta13,
“E não vos maravilheis mas não quis minha ventura.
2 de cousa que o mundo faça, Lianor Filha, não tomeis tristura,
5
que sempre nos embaraça que a morte a todos gasta.
com cousas. Sabei que indo

OEXP10 © Porto Editora 1


Ficha 5 Domínio Educação Literária

6 O que havedes de fazer? 7 Lianor Pois tendes esse saber,


0 5
Casade-vos, filha minha. querei ora a quem vos quer,
Inês Jesu! Jesu! Tão asinha! dai ao demo a opinião15.
Isso me haveis de dizer?
Quem perdeu um tal marido, Vai-se Lianor Vaz por Pêro Marques.
6 tão discreto e tão sabido,
5 e tão amigo de minha vida? Inês Andar! Pêro Marques seja.
Lianor Dai isso por esquecido, Quero tomar por esposo
buscai outra guarida14. 8 quem se tenha por ditoso16
0
de cada vez que me veja.
Pêro Marques tem que herdou Por usar de siso mero17,
7 fazenda de mil cruzados, asno que me leve quero,
0
mas vós quereis avisados… e não cavalo folão18.
Inês Não! Já esse tempo passou. 8 Antes lebre que leão,
5
Sobre quantos mestres são antes lavrador que Nero.
experiência dá lição.

VICENTE, Gil, 2014. Farsa de Inês Pereira. Porto: Porto Editora (pp. 59-66) (1.ª ed.: 1562)

1. Tavira (um dos portos de embarque para 10. desgraça;


o Norte de África); 11. grávida;
2. é passado: passou; 12. um filho garantiria à mãe a administração
3. esforçai o coração: tende coragem; dos bens herdados;
4. Desatado é o nó: Está desfeito o casamento; 13. descendência;
5. luto; 14. amparo, refúgio;
6. homem orgulhoso e valente; 15. ideia (anterior);
7. emproado, insolente; 16. afortunado, feliz;
8. maldoso; 17. siso mero: senso comum;
9. hipócrita, velhaco; 18. fogoso.

OEXP10 © Porto Editora 2


Apresenta, de forma bem estruturada, as tuas respostas ao questionário.
1. Considera o desenvolvimento da ação da Farsa de Inês Pereira até ao momento representado
no excerto.
1.1. Justifica o vocativo utilizado por Inês para se dirigir ao Moço no verso 3.
1.2. Interpreta a pergunta da esposa de Brás da Mata colocada no verso 13 e a resposta do
Moço apresentada no verso seguinte.
2. Refere três dos traços de carácter de Inês evidentes no texto, confirmando as tuas afirmações
com passagens ilustrativas.
3. Comenta, a partir do excerto, as palavras de Inês: “Sobre quantos mestres são / experiência
dá lição” (vv. 73-74).
4. Esclarece o valor metonímico dos provérbios citados por Inês nos versos 83 a 86.

Você também pode gostar