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Avaliação: O professor:
Chega o Escudeiro onde está Inês Pereira e Moço, que estás lá olhando?
diz: Moço Que manda Vossa Mercê?
Escudeiro Que venhas cá.
Escudeiro Antes que mais diga agora, Moço Pera quê?
Deus vos salve, fresca rosa, 40 Escudeiro Por que faças o que eu mando!
e vos dê por minha esposa, Moço Logo vou.
por mulher e por senhora. (O Diabo me tomou:
5 Que bem vejo sair-me de João Montês
nesse ar, nesse despejo1, por servir um tavanês3,
mui graciosa donzela, 45 mor doudo que Deus criou!)
que vós sois, minha alma, aquela
que eu busco e que desejo. Escudeiro Fui despedir um rapaz,
por tomar este ladrão,
10 Obrou bem a natureza que valia Perpinhão4.
em vos dar tal condição, Moço!
que amais a discrição
muito mais que a riqueza. Moço Que vos praz?
Bem parece 50 Escudeiro A viola.
15 que a discrição merece Moço (Oh! Como ficará tola,
gozar vossa fermosura, se não fosse5 casar ante
que é tal que, de ventura, co mais sáfio6 bargante7
outra tal não s’acontece. que coma pão e cebola!)
2. Caracteriza o Escudeiro a partir do excerto. Ilustra a tua resposta com exemplos do texto.
1. O Escudeiro elogia a beleza e juventude de Inês («fresca rosa», v. 2), a sua naturalidade («nesse despejo», v. 6),
elegância («graciosa donzela», v. 7), o seu recato («que a discrição merece/gozar vossa fermosura», vv. 15-16), as
suas prioridades e gostos («amais a discrição/muito mais que a riqueza», vv. 12-13).
2. Antes de chegar perto de Inês, o Escudeiro havia feito algumas considerações acerca da aparência da moça,
estranhando que fosse ainda donzela. Quando a conhece, dirige-lhe um discurso cheio de elogios, que, por ser tão
exagerado e artificioso, soa a falsidade (vv. 1-23). Ainda no seu discurso inicial, o Escudeiro apresenta-se, valorizando-
se e sublinhando o seu estatuto social (vv. 28-36). Podemos assim caracterizá-lo como hipócrita, falso e gabarola.
A partir do diálogo com o Moço, podemos perceber que o Escudeiro é leviano («por servir um tavanês/mor doudo
que Deus criou!», vv. 44-45); pelintra («vós não dais governo/pera vos ninguém servir.», vv. 66-67; «E se ela é
emprestada,/quem na havia de pagar?», vv. 59-60; «No chão, e o telhado por manta,/e cerra-se-m’a garganta/com
fome.»,
vv. 69-71); rude («Faria bem de t’a quebrar/na cabeça, bem migada.», vv. 57-58) e gozão («Vós sempre zombais assi.»,
v. 72).
3. Conhecendo bem a sua filha, a Mãe sabe que Inês gosta do que está a ouvir («Agora vos digo eu/que Inês está no
Paraíso!», vv. 77-78). Inês está, de facto, encantada e pede à Mãe que a deixe aproveitar o momento, ouvindo as
mesuras do Escudeiro (vv. 82-84). Ao contrário da Mãe, que valoriza a simplicidade («é melhor boa simpreza», v. 88), a
rapariga deixa-se deslumbrar pelos contornos falsamente requintados da linguagem do Escudeiro (vv. 85-86);
argumenta que será ela a casar, será ela a escolher o marido e a viver com as consequências das suas escolhas (vv.
79-80).