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Português – Ensino Profissional

Ficha de avaliação escrita

Ensino Profissional

Módulo 2 – Gil Vicente | Luís de Camões, Rimas

Utiliza apenas caneta ou esferográfica de tinta azul ou preta.

Não é permitida a consulta de dicionário.

Não é permitido o uso de corretor. Risca aquilo que pretendes que não seja
classificado.

Para cada resposta, identifica o grupo e o item.

Apresenta as tuas respostas de forma legível.

Ao responder, diferencia corretamente as maiúsculas das minúsculas.

Apresenta apenas uma resposta para cada item.

As cotações dos itens encontram-se no final do enunciado da prova.

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Grupo I

Apresenta as tuas respostas de forma bem estruturada.

PARTE A

Lê o poema.

Eu cantei já, e agora vou chorando


o tempo que cantei tão confiado;
parece que no canto já passado
se estavam minhas lágrimas criando. 
5 Cantei; mas se me alguém pergunta: – Quando?
– Não sei; que também fui nisso enganado.
É tão triste este meu presente estado
que o passado, por ledo1, estou julgando. 
Fizeram-me cantar, manhosamente2,
10 contentamentos não, mas confianças;
cantava, mas já era ao som dos ferros. 
De quem me queixarei, que tudo mente?
Mas eu que culpa ponho às esperanças
onde a Fortuna injusta é mais que os erros?

CAMÕES, Luís de, 1994. Rimas. Coimbra: Almedina (p. 71)


Vocabulário:
1. ledo – feliz; 2. manhosamente – ao engano.

1. O sujeito poético analisa o percurso da sua vida e opõe o passado ao


presente.
1.1. Explica o estado de espírito do sujeito poético em cada um dos tempos por
ele referidos.
2. Justifica a idealização do passado por parte do sujeito poético.
3. Explica o sentido da última estrofe do poema.

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PARTE B

Lê o excerto da peça de Gil Vicente que estudaste:


Texto A – A Farsa de Inês Pereira; Texto B – Auto da Feira.

Texto A
Vem Pêro Marques e diz:

Pêro Homem que vai aonde eu vou


não se deve de correr;
260 ria embora quem quiser,
que eu em meu siso estou.
Não sei onde mora aqui:
olhai que m’ esquece a mi!
Eu creio que nesta rua,
265 e esta parreira é sua;
já conheço que é aqui.

Chega a casa de Inês Pereira:

Digo que esteis1 muito embora.


Folguei ora de vir cá.
Eu vos escrevi de lá
270 uma cartinha, senhora:
E assi que de maneira...
Mãe Tomai aquela cadeira.
Pêro E que val2 aqui uma destas?
Inês (Oh, Jesu! Que João das bestas3!
275 Olhai aquela canseira4!)

Assentou-se com as costas pera elas e diz:

Pêro Eu cuido que não estou bem...


Mãe Como vos chamais, amigo?
Pêro Eu Pêro Marques me digo,
como meu pai que Deus tem.
280 Faleceu (perdoe-lhe Deus,
que fora bem escusado)
e ficamos dous ereos5;
porém, meu é o mor gado6.
Mãe De morgado7 é vosso estado?
285 Isso viria dos céus!

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Pêro Mais gado tenho eu já quanto8,


e o maior de todo o gado,
digo maior algum tanto.
E desejo ser casado,
290 prouguesse9 ao Espírito Santo,
com Inês; que eu m’ espanto
quem me fez seu namorado.
Parece moça de bem,
e eu de bem er10 também.
295 Ora vós er ide vendo
se lhe vem melhor alguém,
a segundo o que eu entendo.

Cuido que lhe trago aqui


peras da minha pereira;
300 hão de estar na derradeira11.
Tende12 ora, Inês per i.
Inês E isso hei de ter na mão?
Pêro Deitai as peas13 no chão.
Inês As perlas14 pera enfiar,
305 três chocalhos e um novelo,
e as peas no capelo15…
E as peras onde estão?

Pêro Nunca tal me aconteceu!


Algum rapaz m’ as comeu;
310 que as meti no capelo,
e ficou aqui o novelo,
e o pentem16 não se perdeu.
Pois trazia-as de boa mente.
Inês Fresco vinha aí o presente
315 com folhinhas borrifadas.

VICENTE, Gil, 2014. Farsa de Inês Pereira. Porto: Porto Editora (p. 24)

Vocabulário:
1. estejais; 2. que val: quanto vale; 3. João das bestas: João Palerma; 4. referência ao
esforço de Pêro Marques para se sentar na cadeira; 5. herdeiros; 6. mor gado: a maior
parte do gado; 7. filho mais velho, herdeiro de todos os bens dos progenitores; 8. Mais
gado tenho eu já quanto: Tenho muito gado; 9. quisesse; 10. além disso, por outro
lado; 11. na derradeira: no fundo (do capelo); 12. Segurai; 13. cordas com que se
prendem os animais;14. contas de vidro; 15. capuz; 16. pente.

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Texto B

Serafim Venderás muito perigo,


que tens nas trevas escuras.
Diabo Eu vendo perfumaduras1,
que, pondo-as no embigo,
315 se salvam as criaturas.

Às vezes vendo virotes2,


e trago d’ Andaluzia
naipes3 com que os sacerdotes
arreneguem4 cada dia,
320 e joguem até os pelotes5.
Serafim Não venderás tu aqui isso,
que esta feira é dos céus:
vai lá vender ao abisso6,
logo, da parte de Deus!
325 Diabo Senhor, apelo eu disso7.

S’ eu fosse tão mau rapaz


que fizesse força a alguém,
era isso muito bem;
mas cada um veja o que faz,
330 porque eu não forço ninguém.
Se me vem comprar qualquer
clérigo, ou leigo, ou frade
falsas manhas de viver,
muito por sua vontade;
335 senhor, que lh’ hei de fazer?

E se o que quer bispar8


há mister hipocrisia,
e com ela quer caçar,
tendo eu tanta em perfia9,
340 porque lh’ a hei de negar?
E se uma doce freira
vem à feira
por comprar um inguento10
com que voe do convento,
345 senhor, inda que eu não queira,
lh’ hei de dar aviamento11.

VICENTE, Gil, 2014. Auto da Feira. Porto: Porto Editora (p. 22)

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Vocabulário:
1. mezinhas; 2. setas curtas; 3. baralhos de cartas; 4. blasfemem, injuriem; 5.
vestimentas de pele fina e macia, casacos compridos e antigos; 6. abismo, inferno; 7.
apelo eu disso: protesto contra o que dizeis; 8. ser bispo; 9. grande quantidade; 10.
pomada (artimanha, em sentido figurado); 11. despacho.

Apresenta, de forma bem estruturada, as tuas respostas aos itens que se


seguem, de acordo com a obra vicentina que estudaste.

4. Caracteriza as personagens intervenientes na ação, fundamentando a tua


resposta com expressões textuais.
5. Explica, exemplificando, de que forma a presença do cómico contribui para a
caracterização das personagens.
6. Identifica um recurso expressivo utilizado no diálogo e destaca o seu valor.

PARTE C

7. Partindo da tua experiência de leitura do texto dramático de Gil Vicente que


estudaste, redige uma exposição bem estruturada, de cem a cento e vinte
palavras, na qual reflitas, de forma fundamentada, sobre a citação abaixo
transcrita.

O teatro vicentino […] não é um teatro de caracteres e de contradições entre (ou


dentro de) eles, mas um teatro de sátira social ou um teatro de ideias. No palco
vicentino não perpassam caracteres individualizados, mas tipos sociais agindo
segundo a lógica da sua condição, fixada de uma vez para sempre; e outros entes
personificados.
SARAIVA, António José e LOPES, Óscar, 2005.
História da Literatura Portuguesa. 17.ª ed. Porto Editora (p. 198)

O teu texto deve incluir:


 uma introdução ao tema;
 um desenvolvimento no qual apresentes as principais características do
teatro vicentino;
 uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.

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Grupo II

Nas respostas aos itens de escolha múltipla, seleciona a opção correta.


Escreve, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção
escolhida.

Lê atentamente o texto.

1 “É preciso rever a forma como Gil Vicente é mostrado aos alunos”


[…]
É frequente ouvirmos dizer que um autor clássico mantém por norma a
sua atualidade intacta. No caso da obra de Gil Vicente […] faz
particular sentido?
5 […] Só em parte se pode dizer que a atualidade transita de umas épocas
para as outras. O maior desafio que um artista enfrenta é o de corresponder
aos desafios do seu próprio tempo. Perscrutar o mundo, identificando as
grandes questões que o habitam em cada circunstância, não é coisa pouca.
Dou um exemplo aplicável a Gil Vicente. Um dos temas mais recorrentes
10 nos seus autos é o da Justiça. Significa isso que Gil Vicente antecipou a
importância que a Justiça viria a ter nas sociedades democráticas do século
XXI? Claro que não. A Ordem defendida e proclamada por Gil Vicente no
tempo de D. Manuel e de D. João III requeria uma Justiça forte e impoluta
e, por isso, o dramaturgo se empenhou tanto em denunciar a venalidade
15 dos magistrados (na sua última peça – Floresta de enganos – existe ainda
um juiz corrompido). […]
Sendo Gil Vicente um homem tão firmemente enraizado no seu tempo,
como demonstra o que escreveu, de que forma se explica o grau de
interesse que a sua obra suscita, tantos séculos depois?
20 É preciso dizer, antes de mais, que devemos alimentar a curiosidade por
épocas diferentes daquela em que vivemos. Desde logo porque o passado
nunca está verdadeiramente passado. Pelo contrário: cada época cria a
necessidade de uma memória que vamos mantendo e renovando. No caso
de Gil Vicente, contudo, é preciso mencionar um fator especial. A sua voz
25 vem do século XVI e os portugueses gostam (e precisam) da ampla e
minuciosa “reportagem” que ele lhes oferece desse tempo mítico. […]

Porque sabemos tão pouco sobre a vida de Gil Vicente (e mesmo


alguns desses conhecimentos serão certamente inexatos)?
Em minha opinião, o desconhecimento sobre a vida de Gil Vicente significa,
30 antes de mais, que o dramaturgo não era uma pessoa especialmente
35 importante. Sabemos que servia o Rei e sabemos que o fazia com uma

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independência que ainda hoje nos surpreende. Mas o seu estatuto social
não seria muito elevado. O século XIX não se conformou com esse
desconhecimento e procurou supri-lo, recorrendo a especulações e
fantasias. A mais conhecida dessas especulações é decerto aquela que faz
coincidir numa só pessoa o dramaturgo que compôs e encenou cerca de 50
peças (em 35 anos) e o ourives que concebeu a célebre Custódia de
Belém, entre outras peças de execução particularmente exigente. Não
existe nenhum indicador seguro de que essa tese seja verdadeira. Hoje,
parece ter diminuído bastante o interesse pela biografia de Gil Vicente. Até
porque muito provavelmente ele teve uma vida comezinha. Não foi, pelo
menos, um amador arrebatado e aventuroso como Camões. […]

in https://www.jn.pt/artes/especial/interior/gil-vicente-9047493.html
(consult. 2019-08-08, com supressões)

1. Identificar as grandes questões que caracterizam uma época exige a


qualquer artista
(A) desafiar o seu próprio tempo.
(B) criticar minuciosamente o mundo.
(C) examinar minuciosamente o mundo.
(D) ser capaz de transitar de umas épocas para as outras.

2. Comparativamente a Camões, Gil Vicente


(A) teve um olhar mais atento à sociedade do seu tempo.
(B) teve uma vida mais calma.
(C) tinha um estatuto social mais baixo.
(D) realizou uma obra mais completa.

3. O uso dos parênteses em “e os portugueses gostam (e precisam) da


ampla e minuciosa ‘reportagem’” (ll. 25-26) delimitam graficamente
(A) uma citação.
(B) uma conclusão.
(C) um exemplo.
(D) um comentário.

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4. Na frase “Mas o seu estatuto social não seria muito elevado.” (ll. 32-33) a
conjunção “mas” introduz
(A) uma dúvida.
(B) uma consequência.
(C) uma alternativa.
(D) uma oposição.

5. A expressão sublinhada na passagem “A Ordem defendida e proclamada


por Gil Vicente no tempo de D. Manuel e de D. João III requeria uma
Justiça forte e impoluta […]” (ll. 12-13) desempenha a função sintática de
(A) complemento oblíquo.
(B) complemento do nome.
(C) complemento agente da passiva.
(D) modificador apositivo do nome.

6. Refere a função sintática dos constituintes:


a) “isso” (l. 10)
b) “por Gil Vicente” (l. 12)

7. Classifica a oração subordinada introduzida por “que” na linha 20.

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Grupo III

Gil Vicente, recorrendo à sua veia satírica, foi um perspicaz observador do seu
tempo.

Recorda o estudo efetuado nas aulas sobre A Farsa de Inês Pereira ou Auto
da Feira e, num texto bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um
máximo de trezentas e cinquenta palavras, redige uma apreciação crítica à
obra estudada.

No teu texto:
– descreve sucintamente o objeto que suscita a tua apreciação;
– comenta criticamente, com apreciações pessoais sobre o texto estudado
(juízos de valor favoráveis ou desfavoráveis), com argumentos objetivos e
sólidos e fundamentações das opiniões formuladas.

Cotações
Grupo Item
Cotação (em pontos)
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
I 16 16 16 16 16 8 16* 104
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
II 8 8 8 8 8 8 8 56

III Item único 40


TOTAL 200

* conteúdo - 9 pontos; aspetos de estruturação do discurso e correção linguística - 7 pontos (4+3)

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