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Português – Ensino Profissional

Ficha de avaliação escrita


Ensino Profissional

5 Módulo 5 – Camilo Castelo Branco | Eça de Queirós

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Utiliza apenas caneta ou esferográfica de tinta azul ou preta.
Não é permitida a consulta de dicionário.
Não é permitido o uso de corretor. Risca aquilo que pretendes que não seja
classificado.
15Para cada resposta, identifica o grupo e o item.
Apresenta as tuas respostas de forma legível.
Ao responder, diferencia corretamente as maiúsculas das minúsculas.
Apresenta apenas uma resposta para cada item.
As cotações dos itens encontram-se no final do enunciado da prova.
20

25

30

35

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Grupo I

Apresenta as tuas respostas de forma bem estruturada.


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PARTE A

45Lê atentamente o excerto apresentado da obra Os Maias, de Eça de Queirós.

1 Nessa madrugada, às quatro horas, em plena escuridão, Carlos cerrara de


manso o portão da Rua de S. Francisco. E, mais pungente, apoderava-se dele, na
frialdade da rua, o medo que já o roçara, ao vestir-se na penumbra do quarto, ao lado
de Maria adormecida – o medo de voltar ao Ramalhete! Era esse medo que já na
véspera o trouxera todo o dia por fora no dog-cart, findando por jantar lugubremente
5 com o Cruges, escondido num gabinete do Augusto. Era medo do avô, medo do Ega,
medo do Vilaça; medo daquela sineta do jantar que os chamava, os juntava; medo do
seu quarto, onde a cada momento qualquer deles podia erguer o reposteiro, entrar,
cravar os olhos na sua alma e no seu segredo... Tinha agora a certeza que eles
10 sabiam tudo. E mesmo que nessa noite fugisse para Santa Olávia, pondo entre si e
Maria uma separação tão alta como o muro de um claustro, nunca mais do espírito
daqueles homens, que eram os seus amigos melhores, sairia a memória e a dor da
infâmia em que ele se despenhara. A sua vida moral estava estragada... Então, para
que partiria – abandonando a paixão, sem que por isso encontrasse a paz? Não seria
15 mais lógico calcar desesperadamente todas as leis humanas e divinas, arrebatar para
longe Maria na sua inocência, e para todo o sempre abismar-se nesse crime que se
tornara a sua sombria partilha na Terra?
Já assim pensara na véspera. Já assim pensara... Mas antevira então um outro
horror, um supremo castigo, a esperá-lo na solidão onde se sepultasse. Já lhe
percebera mesmo a aproximação; já noutra noite recebera dele um arrepio; já nessa
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noite, deitado junto de Maria, que adormecera cansada, o pressentira, apoderando-se
dele, com um primeiro frio de agonia.
Era, surgindo do fundo do seu ser, ainda ténue mas já percetível, uma
saciedade, uma repugnância por ela, desde que a sabia do seu sangue!... Uma
25 repugnância material, carnal, à flor da pele, que passava como um arrepio. Fora
primeiramente aquele aroma que a envolvia, flutuava entre os cortinados, lhe ficava a
ele na pele e no fato, o excitava tanto outrora, o impacientava tanto agora – que ainda
na véspera se encharcara em água-de-colónia, para o dissipar. Fora depois aquele
corpo dela, adorado sempre como um mármore ideal, que de repente lhe aparecera,
como era na sua realidade, forte de mais, musculoso, de grossos membros de
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amazona bárbara, com todas as belezas copiosas do animal de prazer. Nos seus
cabelos de um lustre tão macio, sentia agora inesperadamente uma rudeza de juba. Os
seus movimentos na cama, ainda nessa noite, o tinham assustado como se fossem os
de uma fera, lenta e ciosa, que se estirava para o devorar... [...] Mas, apenas o último
35 suspiro lhe morria nos lábios, aí começava insensivelmente a recuar para a borda do
colchão, com um susto estranho: e imóvel, encolhido na roupa, perdido no fundo de
uma infinita tristeza, esquecia-se pensando numa outra vida que podia ter, longe dali,

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numa casa simples, toda aberta ao sol, com sua mulher, legitimamente sua, flor de
graça doméstica, pequenina, tímida [...]. E desgraçadamente agora já não duvidava...
Se partisse com ela, seria para bem cedo se debater no indizível horror de um nojo
físico. E que lhe restaria então, morta a paixão que fora a desculpa do crime, ligado
40 para sempre a uma mulher que o enojava – e que era... Só lhe restava matar-se!
Mas, tendo por um só dia dormido com ela, na plena consciência da
consanguinidade que os separava, poderia recomeçar a vida tranquilamente? Ainda
que possuísse frieza e força para apagar dentro de si essa memória – ela não morreria
45 no coração do avô, e do seu amigo. Aquele ascoroso segredo ficaria entre eles,
estragando, maculando tudo. A existência doravante só lhe oferecia intolerável
amargor... Que fazer, santo Deus, que fazer! Ah, se alguém o pudesse aconselhar, o
pudesse consolar! Quando chegou à porta de casa, o seu desejo único era atirar-se
aos pés de um padre, aos pés de um santo, abrir-lhe as misérias do seu coração,
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implorar-lhe a doçura da sua misericórdia! Mas ai! onde havia um santo?

QUEIRÓS, Eça de, 2016. Os Maias (Cap. XVII, pp. 681-683). Porto: Porto Editora

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1. Integra o excerto na estrutura global da obra, destacando a sua
importância no desenrolar da ação.

552. Ao longo do primeiro parágrafo há uma constante repetição do vocábulo


“medo”.

2.1. Explicita a sua utilização.

603. Identifica as soluções apresentadas por Carlos para resolver a sua atual
situação.

4. O excerto apresentado mostra-nos o estado emocional de Carlos neste


ponto da narrativa.
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4.1. Explicita os sentimentos que dominam a personagem.

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PARTE B
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Lê o texto apresentado.

1 Descera o académico ao pátio, depois de abraçar a mãe e irmãs, e


beijar a mão do pai, que para esta hora reservara uma admoestação severa, a
ponto de lhe asseverar que de todo o abandonaria se ele caísse em novas
extravagâncias. Quando metia o pé no estribo, viu a seu lado uma velha
5 mendiga, estendendo-lhe a mão aberta [...] e, na palma da mão, um pequeno
papel. [...]

“Meu pai diz que me vai encerrar num convento, por tua causa. Sofrerei
tudo por amor de ti. Não me esqueças tu, e achar-me-ás no convento, ou no
céu, sempre tua do coração, e sempre leal. Parte para Coimbra. Lá irão dar as
10 minhas cartas; e na primeira te direi em que nome hás de responder à tua
pobre Teresa.”

A mudança do estudante maravilhou a academia. Se não o viam nas


aulas, em parte nenhuma o viam. Das antigas relações restavam-lhe apenas as
dos condiscípulos sensatos que o aconselhavam para bem [...]. Estudava com
fervor, como quem já dali formava as bases do futuro renome e da posição por
15
ele merecida, bastante a sustentar dignamente a esposa.

BRANCO, Camilo Castelo, 2016. Amor de Perdição (Cap. II, p. 30). Porto: Porto Editora
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5. Explicita a função do bilhete escrito por Teresa.

6. Com base no excerto, descreve em que consistiu a “mudança” de Simão.


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7. Faz uma caracterização de Teresa, com base no texto apresentado.

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PARTE C

8. Lê o excerto seguinte, retirado de Amor de Perdição.

1 O académico, chegando ao período das ameaças, já não tinha clara luz


nos olhos para decifrar o restante da carta. Tremia sezões, e as artérias frontais
arfavam-lhe entumecidas. […] Já preparado, a cada minuto de espera
assomava-se em frenesis. […] Nenhuma daquelas páginas tinha ele lido, sem
5 que a imagem de Teresa lhe aparecesse a fortalecê-lo para vencer os tédios da
continuada aplicação e os ímpetos dum natural inquieto e ansioso de emoções
desusadas. “E há de tudo acabar assim? – pensava ele, com a face entre as
mãos, encostado à sua banca de estudo. – Ainda há pouco eu era tão feliz!... –
Feliz! – repetiu ele, erguendo-se de golpe. – Quem pode ser feliz com a
desonra de uma ameaça impune.?!... Mas eu perco-a! Nunca mais hei de vê-
10 la!... Fugirei como um assassino, e meu pai será o meu primeiro inimigo, e ela

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mesma há de horrorizar-se da minha vingança… A ameaça só ela a ouviu; e,


se eu tivesse sido aviltado no conceito de Teresa pelos insultos do miserável,
talvez que ela os não repetisse…”

90 BRANCO, Camilo Castelo, 2016. Amor de Perdição (Cap. IV, pp. 46-47). Porto: Porto Editora

De acordo com o excerto apresentado e o teu estudo da obra Amor de


Perdição, redige uma pequena exposição em que comproves a
caracterização de Simão como um herói romântico.
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100 Grupo II

Nas respostas aos itens de escolha múltipla, seleciona a opção correta.


Escreve, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção
escolhida.
105

Lê o seguinte artigo.

Violência no namoro: jovens acham normal perseguir,


110 proibir e abusar

natural um comportamento violento nas


Um inquérito nacional sobre violência 140relações, enquanto 56% garantem ter
115no namoro, cujos resultados são sofrido atos de vitimação. A UMAR
divulgados esta quarta-feira, revela que considera estes resultados
mais de metade dos jovens num “preocupantes”.
relacionamento amoroso já foi alvo de
pelo menos um ato de violência. Desde 145O inquérito revela que 18% dos jovens
120proibir certas roupas a entrar em redes foram vítimas de violência psicológica,
sociais sem autorização do próprio, 16% de perseguições, 12% de violência
grande parte dos jovens portugueses através das redes sociais, 11% de
aceita comportamentos violentos na situações de controlo, 7% de violência
intimidade. 150sexual e 6% de violência física por parte
125 de um companheiro ou companheira.
De acordo com o estudo da União de
Mulheres Alternativa e Resposta Relativamente à violência psicológica,
(UMAR), mais de dois terços dos jovens os insultos são os atos com maior
inquiridos aceitam como normais 155prevalência (29%), seguido de humilhar
130comportamentos violentos na e rebaixar a vítima (15%) e de ameaças
intimidade. Estiveram envolvidos no (11%).
inquérito cerca de 4600 jovens, com
uma média de idade de 15 anos. Nas redes sociais, o comportamento
160violento mais frequente é entrar no
135Os resultados do inquérito alertam para Facebook ou noutra rede social sem
as “elevadas taxas de vitimação e, autorização da vítima (20%). Também
sobretudo, de legitimação da violência”. situações de partilha online de
68,5% dos jovens (3186) consideram

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conteúdos íntimos sem autorização 6% dos jovens a contarem que foram


165foram relatadas (4%). vítimas de comportamentos físicos
abusivos.
“Estes comportamentos abusivos online
são inquietantes na medida em que 200De acordo com o estudo, o tipo de
estes atos podem tornar-se públicos e, violência mais legitimado é o controlo
170eventualmente, virais”, referiram os (29%), seguido de perseguição (26%),
autores do estudo divulgado no Dia dos de violência sexual (25%), da violência
Namorados. através das redes sociais (24%), da
205violência psicológica (16%) e da
“Esta forma de violência tem um violência física (8%).
175potencial de dano muito alto” a que é
preciso estar atento, já que se trata de Em todos os comportamentos “os
“uma população muito jovem que estará rapazes legitimam mais a violência do
a iniciar a sua vida íntima e sexual”. 210que as raparigas”, sendo ainda “mais
frequente nos/as jovens” que sofreram
180No controlo nas relações de intimidade, “atos de vitimação (76,9%)”. A diferença
a questão com mais prevalência foi a “é significativa” na violência sexual, com
proibição imposta à vítima de estar ou 34% dos rapazes a legitimar estes
falar com amigos (21%). 215comportamentos, contra 16% das
raparigas.
185O comportamento mais relatado na
violência sexual foi o de pressionar a Em comparação aos dados do inquérito
vítima para beijar o/a companheiro/a à do ano anterior, a UMAR verificou uma
frente de outras pessoas (8%). O 220“ligeira subida” da legitimação e da
estudo considera “preocupante” a vitimação da violência. Este aumento
190percentagem de jovens (5%) que indica a “urgência de uma intervenção
disseram ter sido pressionados pelo com os/as jovens, o mais precoce e
companheiro para ter relações sexuais. continuadamente possível”, para
225prevenir “a violência sob todas as
Também a violência física “continua a formas”.
195ter uma prevalência preocupante”, com
230 BRANCO, Mariana. “Violência no namoro: jovens
acham normal perseguir, proibir e abusar”.
Sábado, 14 de fevereiro de 2018

235

1. O tema do texto é

(A) a dificuldade dos meios de combate à violência no namoro.


240(B) o papel da UMAR no combate à violência no namoro.
(C) a importância dos estudos no combate à violência no namoro.
(D) a normalidade da violência no namoro.

2. De acordo com o texto,


245
(A) há uma maior incidência de comportamentos violentos sobre os rapazes.
(B) o comportamento mais comum é o de rebaixar a vítima.
(C) na sua maioria, os jovens aceitam como normal a violência no namoro.
(D) as raparigas legitimam mais a violência.
250
3. A expressão “normal” (l. 1) refere-se a

(A) comportamentos inaceitáveis.


(B) algo que acontece com muita frequência.
255(C) uma aceitação sem questionamento.

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(D) comportamentos socialmente criticados.

4. No excerto “A UMAR considera estes resultados ‘preocupantes’” (ll. 29-


260 30), UMAR é

(A) uma sigla.


(B) um acrónimo.
(C) uma amálgama.
265(D) uma truncação.

5. No terceiro parágrafo, o uso das aspas refere-se a

(A) uma reprodução do discurso direto.


270(B) discurso indireto.
(C) uma citação.
(D) discurso indireto livre.

6. Identifica o processo de formação da palavra “controlo” (l. 89).


275
7. Identifica a oração iniciada pela locução “já que...” (l. 64).

280
GRUPO III

A maioria dos jovens estabelece relações de namoro saudáveis e positivas.


285No entanto, algumas rapidamente evoluem para situações em que o desejo
de controlar todos os movimentos do outro pode dar lugar à violência física e
psicológica.

290Num texto de opinião bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um


máximo de trezentas e cinquenta palavras, explicita a tua perspetiva sobre
esta problemática na sociedade atual.

295Observações:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco,
mesmo quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única
palavra, independentemente dos algarismos que o constituam (ex.: /2019/).
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados – entre duzentas e trezentas e cinquenta palavras –,
300há que atender ao seguinte:
− um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto produzido;
− um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.

305

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310
Cotações
Grupo Item
Cotação (em pontos)
1. 2.1. 3. 4.1. 5. 6. 7. 8.
I 16 8 8 16 8 16 16 16* 104
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.
II 8 8 8 8 8 8 8 56

III Item único 40


TOTAL 200

* conteúdo - 9 pontos; aspetos de estruturação do discurso e correção linguística - 7 pontos (4+3)

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