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TESTE DE

AVALIAÇÃO I ESCOLA:______________________________________________ DATA: _____/_____/______

NOME:_______________________________________________ N.o: ______ TURMA: ______

GRUPO I

PARTE A
Leia o texto e, se necessário, consulte as notas de vocabulário.

Aqui vem Lianor Vaz, e finge Inês Pereira estar chorando, e diz Lianor Vaz:
Lia. Como estais, Inês Pereira?
Inês Muito triste, Lianor Vaz.
Lia. Que fareis ao que Deos faz?
Inês Casei por minha canseira.
5 Lia. Se ficastes prenhe basta.
Inês Bem quisera eu dele casta,
mas não quis minha ventura.
Lia. Filha, não tomeis tristura,
que a morte a todos gasta.

10 O que havedes de fazer?...


Casade-vos, filha minha.
Inês Jesu, Jesu! Tão asinha1?
Isso me haveis de dizer?
Quem perdeo um tal marido,
15 tão discreto e tão sabido,
e tão amigo de minha vida?
Lia. Dai isso por esquecido,
e buscai outra guarida2.

Pero Marques tem, que herdou,


20 fazenda de mil cruzados.
Mas vós quereis avisados...
Inês Não! Já esse tempo passou.
Sobre quantos mestres são
experiência dá lição.
25 Lia. Pois tendes esse saber,
querei ora a quem vos quer,
dai ò demo a opinião3.

Vai Lianor Vaz por Pero Marques, e fica Inês Pereira só, dizendo:

Andar! Pero Marques seja.


Quero tomar por esposo
30 quem se tenha por ditoso
de cada vez que me veja.
Por usar de siso mero4,
asno que me leve quero,
e não cavalo folão5.
35 Antes lebre que leão,
antes lavrador que Nero.
António José Saraiva (apresentação e leitura), Teatro de Gil Vicente,
Lisboa, Dinalivro, pp. 200-202.
1
cedo; rapidamente; 2 abrigo, proteção, amparo, adiante!; 3 esquecei o passado; 4 para proceder com todo o juízo; 5 fogoso.

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TESTE DE AVALIAÇÃO I

1 Apresente uma justificação para a atitude de fingimento que Inês adota no início do
texto, quando é interpelada por Lianor Vaz, relacionando-a com a caracterização que faz
do marido.

2 Relacione o conteúdo do monólogo de Inês Pereira com a frase que esteve na base do
argumento da peça, “Mais quero asno que me leve que cavalo que me derrube”.

3 Complete as afirmações abaixo apresentadas, selecionando a opção adequada a cada


espaço.

A expressão a. ___________ demonstra que por vezes só aprendemos com a vida, com as
experiências que ela nos vai proporcionando. Foi o que aconteceu com Inês Pereira, que
mudou de opinião sobre b. __________, depois da c. ___________ que viveu durante o
casamento com o Escudeiro.

a. b. c.

1. “experiência dá lição” (v. 24) 1. o caráter do escudeiro 1. clausura

2. “Andar!” (v. 28) 2. a idiotice de Pero Marques 2. felicidade

3. “Por usar de siso” (v. 32) 3. o conceito de bom marido 3. liberdade

PARTE B
Leia o texto e, se necessário, consulte as notas de vocabulário.
Fui hoj'eu, madre, veer meu amigo,
que envio[u] muito rogar por en,
porque sei eu ca1 mi quer mui gram bem;
mais vedes, madre, pois m'el vio consigo,
5 foi el tam ledo2 que, des que3 naci,
nunca tam led'home4 com molher vi.

Quand'eu cheguei, estava el chorando


e nom folgava5 o seu coraçom,
cuidand'em mi, se iria, se nom,
10 mais, pois m'el viu, u6 m'el estava asperando,
foi el tam ledo que, des que naci,
nunca tam led'home com molher vi.

E, pois Deus quis que eu fosse u m'el visse,


diss'el, mia madre, como vos direi:
15 "Vej'eu viir quanto bem no mund'hei";
e vedes, madre, quand'el esto disse,
foi tam ledo que, des que eu naci,
nunca tam led'home com molher vi.
União Bolseiro (in https://cantigas.fcsh.unl.pt).

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TESTE DE AVALIAÇÃO I

1
porque; 2 alegre; 3 desde que; 4 homem; 5 descansava; 6 onde.

4 Identifique o interlocutor da donzela, destacando a sua importância para a relação


amorosa.

5 Explicite as mudanças no estado de espírito do amigo, fundamentando com citações


textuais pertinentes.

6 Complete as afirmações abaixo apresentadas, selecionando a opção adequada a cada


espaço.
Nesta cantiga, opostamente ao que acontece na generalidade das composições deste
género é o amigo que exprime o seu a. ___________ face à b. __________ da amada. A
sua dor, que lhe provoca o choro, é fruto da dúvida sobre a visita da donzela, como prova o
verso c. ___________.

a. b. c.
1. medo 1. visita 1. "Vej'eu viir quanto bem no mund'hei," (v. 15)
2. sofrimento 2. rejeição 2. “mais, pois m'el viu, u m'el estava asperando,” (v. 10)
3. desejo 3. ausência 3. “cuidand'em mi, se iria, se nom,” (v. 9)

PARTE C

7 Escreva uma breve exposição sobre a dimensão crítica que se perceciona na Farsa de
Inês Pereira, no que se refere a costumes e tradições da sociedade quinhentista.
Planifique previamente o seu texto, considerando as seguintes orientações.
• Estrutura tripartida (introdução, desenvolvimento e conclusão).
• Seleção vocabular criteriosa, articulação coerente, correção linguística, sintática e
ortográfica.

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TESTE DE AVALIAÇÃO I

GRUPO II
Catarina Lucas
Em consulta, alguém me disse: “não sei se queria casar, mas gostava que ele tivesse
querido casar comigo”. É sobre isto que reflito num dos capítulos do meu mais recente livro
“Vida a Dois”. Parece que o casamento está em crise. Todos ouvimos múltiplas referências
ao casamento como algo que “não faz sentido”, que “não muda nada”, que “um papel não
5 acrescenta valor”, que “não é importante”, que “nunca foi um sonho” … poderíamos
continuar com os exemplos… […] Mas, um olhar mais atento e perspicaz, misturado com
alguma sensibilidade e experiência, faz-nos entender que talvez as coisas não sejam “tanto
assim” e que este é ainda o sonho de muita gente. […]
Talvez o casamento seja hoje olhado como um sinal de fraqueza ou de dependência.
10 Assumir que queremos casar pode colocar-nos num papel de fragilidade e até inferioridade.
Não que isto tenha algum fundo de verdade, mas parece ecoar no seio de uma sociedade
que se quer independente, que não precisa do outro, que rejeita veemente qualquer ideia
que se assemelhe a conservadorismo (nada mais conservador do que casar, diriam alguns).
Contudo, assistimos com alguma frequência a situações onde a mágoa pelo não
15 casamento parece ficar encoberta. Por alguma razão, parece que queremos esconder de
nós mesmos esse desejo mais íntimo do casamento, negando-o para nós e para os outros.
O “não quero casar” soa em muitos casos a um mecanismo de proteção e a uma
estratégia de manutenção do amor-próprio ou orgulho. Nada pior do que assumir que
queremos casar e ouvirmos do lado de lá algo como, “mas eu não quero casar”.
20 Independentemente dos motivos da outra pessoa, esse “não quero casar” soará sempre a
rejeição, a um “ele/a não quer casar comigo”. […] Anos mais tarde, parecem começar a
surgir as mágoas.
Por vezes, para compreendermos a evolução dos tempos e das sociedades é preciso dar
alguns passos atrás. Numa sociedade que se vangloria de ser independente, parecem
25 continuar a emergir necessidades antigas. […]
A sociedade está em mudança, disso ninguém duvida. O homem já não procura uma
mulher que cuide dele, do mesmo modo que a mulher não procura um homem que garanta
a subsistência da família. Se quisermos colocar as coisas numa ótica mais prática, as pessoas
não estabelecem relações por necessidades que outrora motivaram casamentos. Se retirar-
mos estas motivações, o foco incide sobre as necessidades emocionais.
https://visao.sapo.pt/(consultado em 28/02/2021).

1 Para completar cada um dos itens de 1.1 a 1.6, selecione a opção correta.

1.1 De acordo com o conteúdo do texto,


A. a relutância em querer casar, poderá ser influenciada pela vontade de se mostrar
livre e independente.
B. embora o casamento esteja em crise, essa não é a verdadeira razão para não
querer casar.
C. o conhecimento da autora sobre esta matéria prende-se com o facto de ela
nunca ter estado casada.
D. o livro “Vida a Dois” só tem um capítulo sobre a temática “Casamento em crise”.

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TESTE DE AVALIAÇÃO I

1.2 Segundo a autora, a renúncia à ligação matrimonial pode resultar


A. da recusa de liberdade e desejo de emancipação das mulheres.
B. de um mecanismo de autodefesa, como forma de evitar o sofrimento pela
rejeição.
C. da certeza de que o casamento além de revelar conservadorismo trará
sofrimento.
D. da ausência de sensibilidade e da falta de experiência.

1.3 Na atualidade, o casamento continua a ter lugar porque


A. pode trazer bem-estar emocional.
B. conduz à estabilidade financeira.
C. o homem precisa de quem cuide dele.
D. a sociedade mantém traços de conservadorismo.

1.4 A utilização das aspas nas linhas 1-2 justifica-se porque

A. se trata de uma frase em discurso indireto.


B. a autora do texto pretende reforçar uma ideia.
C. se reproduz ou faz uma citação.
D. se trata de uma frase em discurso indireto.

1.5 A conjunção “mas” (l. 1) introduz uma oração

A. subordinada adverbial concessiva. B. coordenada adversativa.


C. coordenada disjuntiva. D. coordenada explicativa.

1.6 No segundo parágrafo, para expressar a ideia de dúvida, é usada a palavra

A. dependência (l. 9). B. talvez (l. 9).


C. inferioridade (l. 10). D. seio (l. 11).

2 Indique a função sintática dos segmentos


2.1“em mudança” (l. 25);
2.2“sobre as necessidades emocionais” (l. 29).

GRUPO III
Num texto bem estruturado, entre 200 a 300 palavras, faça a apreciação crítica da situação
retratada na imagem apresentada.
O seu texto deve incluir:
• a descrição da imagem, destacando ele-
mentos significativos da sua composição;
• um comentário crítico, fundamentando
devidamente a sua apreciação e utilizan-
do um discurso valorativo;
• uma conclusão adequada aos pontos de
vista desenvolvidos.
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