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Teste de avaliação escrita 1

Farsa de Inês Pereira e Crónica de D. João I

Nome N.o 10.o Data / /

Avaliação E. Educação Professor

Grupo I
PARTE A

Lê o seguinte excerto da Farsa de Inês Pereira, de Gil Vicente. Se necessário, consulta as notas.

Lianor Em nome do anjo bento 25 Lê Inês Pereira a carta, a qual diz assi:
eu vos trago um casamento
filha nam sei se vos praz1. Senhora amiga Inês Pereira:
Inês E quando Lianor Vaz? Pero Marques vosso amigo
5 Lianor Já vos trago aviamento2. que ora estou na nossa aldea
mesmo na vossa mercea9
Inês Porém nam hei de casar 30 me encomendo10 e mais digo:
senam com homem avisado3 digo que benza-vos Deos
inda que pobre e pelado4 que vos fez de tam bom jeito11
seja discreto em falar bom prazer e bom proveito
10 que assi o tenho assentado. veja vossa mãe de vós.
Lianor Eu vos trago um bom marido
rico, honrado, conhecido. 35 E de mi também assi
Diz que em camisa vos quer5. ainda que eu vos vi
Inês Primeiro eu hei de saber estoutro dia de folgar12
15 se é parvo se é sabido. e nam quisestes bailar
nem cantar presente mi.
Lianor Nesta carta que aqui vem 40 Inês Na voda13 de seu avô
pera vós filha d'amores ou donde me viu ora ele?
veredes vós minhas flores6 Lianor Vaz este é ele?
a discrição7 que ele tem.
Gil Vicente, As obras de Gil Vicente,
20 Inês Mostrai-ma cá quero ver. José Camões (coord.), vol. II, Lisboa,
Lianor Tomai. E sabeis vós ler? IN-CM, 2001, pp. 565-566.
Mãe Ui e ela sabe latim
e gramáteca e alfaqui8
e sabe quanto ela quer.

1
praz: agrada; 2 aviamento: pretendente pronto a casar; 8
alfaqui: sacerdote ou legista muçulmano (a Mãe toma,
3
avisado: sabido; 4 pelado: sem dinheiro; 5 em camisa: sem dote; erradamente, o alfaqui pelo nome de uma língua);
6 9
minhas flores: palavras galantes e lisonjeiras; vossa mercea: forma de tratamento cerimonioso;
7 10
discrição: qualidade de quem é discreto, inteligente e sensato; me encomendo: me recomendo; 11 de tam bom jeito: tão jeitosa,
tão bonita; 12 folgar: divertir-se; 13 voda: boda.

1. Caracteriza Pero Marques, tendo em conta, por um lado, as falas de Lianor Vaz e de Inês Pereira
e, por outro, o conteúdo da carta.

2. Explica a relevância das falas da mãe entre os versos 21 e 23, no contexto em que ocorrem.

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3. Completa as afirmações abaixo apresentadas, selecionando a opção adequada a cada espaço.
Na folha de respostas, regista apenas as letras – a), b) e c) – e, para cada uma delas, o número
que corresponde à opção selecionada em cada um dos casos.

Neste excerto da farsa, Inês Pereira reitera as qualidades que privilegia num marido, ficando
bem evidentes a) __________ da personagem feminina. Para além disso, na última fala de Inês
está presente o b) __________, uma vez que, através c) __________, a personagem feminina
demonstra o seu desagrado em relação a Pero Marques, pretendente que se afasta do seu ideal
de marido.

a) b) c)

1. o oportunismo e a perspicácia 1. cómico de caráter 1. da ironia

2. a inteligência e a sensatez 2. cómico de situação 2. do calão

3. a imaturidade e o desprendimento 3. cómico de linguagem 3. de repetições

PARTE B

Lê o excerto do capítulo 115 da Crónica de D. João I de Fernão Lopes. Se necessário, consulta as notas.

Per que guisa estava a cidade, corregida pera se defender, quando el-Rei de
Castela pôs cerco sobr’ela.
Nom leixavom os da cidade, por seerem assi cercados, de fazer a barvacãa1 d’arredor do muro
da parte do arreal, des a porta de Santa Caterina, ataa torre d’Alvoro Paaez, que nom era ainda feita,
que seeriam dous tiros de beesta; e as moças sem neuũ medo, apanhando pedra pelas herdades,
cantavom altas vozes dizendo:
5 Esta é Lixboa prezada,
mirá-la e leixá-la.
Se quiserdes carneiro,
qual derom ao Andeiro;
se quiserdes cabrito,
10 qual derom ao Bispo,
e outras razões semelhantes. E quando os ẽmigos os torvar2 queriam, eram postos em aquel cuidado
em que forom os filhos de Israel, quando Rei Serges3, filho de Rei Dario, deu lecença ao profeta
Neemias que refezesse os muros de Jerusalem; que guerreados pelos vezinhos d’arredor, que os nom
alçassem4, com ua mão poinham a pedra, e na outra tiinham a espada pera se defender; e os
15 Portugueeses fazendo tal obra, tiinham as armas junto consigo, com que se defendiam dos emigos
quando se trabalhavom5 de os embargar, que a nom fezessem. (…)
Ó que fremosa cousa era de veer! Uũ tam alto e poderoso senhor como el-Rei de Castela, com
tanta multidom de gentes assi per mar come per terra, postas em tam grande e boa ordenança, teer
cercada tam nobre cidade! E ela assi guarnecida contra ele de gentes e d’armas com taes avisamentos6
20 por sua guarda e defensom! Em tanto que diziam os que o virom, que tam fremoso cerco da cidade
nom era em memoria d´homeẽs que fosse visto de mui longos anos atá aquel tempo.

Fernão Lopes, Crónica de D. João I, Teresa Amado (ed.), Lisboa, Comunicação, 1980, pp. 174-176.

4
1
barvacãa: muro exterior da fortaleza; alçassem: para que não erguessem a muralha;
5
2
torvar: perturbar; 3 Rei Serges: rei da Pérsia; trabalhavom: se esforçavam; 6 avisamentos: defesas.

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4. Clarifica a contribuição das raparigas para a proteção e resistência da capital. Ilustra a resposta
com transcrições pertinentes.

5. Explicita a comparação que é desenvolvida entre as linhas 11 e 16.

6. Completa as afirmações abaixo apresentadas, selecionando a opção adequada a cada espaço.


Na folha de respostas, regista apenas as letras – a), b) e c) – e, para cada uma delas, o número
que corresponde à opção selecionada em cada um dos casos.

No prólogo da Crónica de D João I, Fernão Lopes afirma «Nem entendaes que certeficamos
cousa, salvo de muitos aprovada, e per escrituras vestidas de fé», preocupação reiterada no
último parágrafo do excerto, no segmento a) __________: No entanto, a presença
b) __________ entre as linhas 17 e 21 constitui um relato emotivo dos factos relatados,
revelando marcas de c) __________.

a) b) c)
1. «Ó que fremosa cousa era 1. da interjeição e de frases exclamativas 1. coloquialidade
de veer!» (linha 17)
2. «E ela assi guarnecida contra 2. da adjetivação e de vocabulário arcaizante 2. subjetividade
ele de gentes» (linha 19)
3. «Em tanto que diziam os que 3. da frase interrogativa e da hipérbole 3. visualismo
o virom» (linha 20)

PARTE C

7. Lê o excerto seguinte sobre a Farsa de Inês Pereira de Gil Vicente.

Inês Pereira, sua mãe e Lianor Vaz são três personagens da farsa. São cómicas. Fazem-nos
rir. Mas o riso não é o único intento de Gil Vicente. (…) Por intermédio destas três mulheres,
quer apresentar-nos um ambiente, um meio social, uma mentalidade, um modo de viver.
Pierre Blasco, «O Auto de Inês Pereira: a análise do texto ao serviço da história das mentalidades»,
in Temas Vicentinos – Atas do Colóquio em torno da Obra de Gil Vicente,
Teatro da Cornucópia, Lisboa, 1988 / Lisboa, 1992.

Escreve uma breve exposição sobre o modo como Gil Vicente concretiza a crítica às figuras
femininas na farsa.
A tua exposição deve respeitar as orientações seguintes:
• uma introdução ao tema;
• um desenvolvimento no qual refiras a crítica de Gil Vicente às figuras femininas da Farsa de
Inês Pereira, explicando o modo como essa crítica é construída em cada um dos casos;
• uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.

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Grupo II
Lê o texto. Se necessário, consulta as notas.

Hortênsia de Castro
Terá sido das primeiras portuguesas, e das primeiras europeias, a doutorar-se, e a primeira mulher
a dar uma conferência pública. Todavia, a sua vida é quase um mistério. E nada se saberia se não
fosse uma carta do humanista André de Resende, a falar sobre «uma menina de 17 anos, instruída
além do vulgar nos estudos aristotélicos». Agora, tem um busto na terra natal, diversas ruas com o
5 seu nome e até um coro com a sua graça.
Hortênsia de Castro, filha de Tomás de Castro e de Branca Alves, nasceu em Vila Viçosa no ano
de 1548, quando despontava o Renascimento, numa família bem relacionada e sem dificuldades
económicas. Foi uma daquelas «mulheres latinas», como se chamava na altura às damas consideradas
cultas e difusoras do saber, e pela sua eloquência1 ter-lhe-ão acrescentado o nome Públia.
10 Públia Hortênsia, como acabou por ficar conhecida a fidalga filósofa, aprendeu o principal com o
pai e o irmão Jerónimo de Castro, sobretudo, mas outros mestres lhe emprestaram o saber. Se tudo se
processou conforme os usos e costumes da época, antes dos seis anos já saberia ler e escrever, em
português e latim. E rapidamente deu o salto para estudos superiores. Conta-se que se disfarçava de
homem para frequentar as aulas de Humanidades, Filosofia e Teologia às quais o seu irmão assistia na
15 Universidade de Coimbra. Na verdade, nunca terá ido para a cidade dos estudantes, reservada aos
homens até ao final do século XIX. Além dos ensinamentos tidos em casa, o mais provável é que tenha
podido assistir a algumas lições na então recém-inaugurada universidade de Évora, cidade onde a
família tinha influência. André de Resende, que além de humanista foi pioneiro da arqueologia em
Portugal, assistiu às provas de doutoramento da jovem calipolense2, em 1565, e considerou o exame
20 um espetáculo único. Na sua opinião, ela desfez «com suma perícia e graça os arguciosos3 argumentos
que lhe opunham muitos homens doutos4» que se «esforçaram por combater as teses d’ela».
Pouco tempo depois, Públia foi viver para o paço real de Évora, para os aposentos da duquesa
Isabel de Bragança, uma mulher culta que gostava de se rodear de eruditos e eruditas, pertencente ao
círculo de damas literatas5 que incluía Leonor de Noronha, Joana Vaz, Paula Vicente (filha do
25 dramaturgo Gil Vicente), a infanta Maria e a sua prima Maria, futura duquesa de Parma.
Quem pediu a tença6 para a douta de 33 anos foi o vice-rei, o príncipe-cardeal Alberto de Áustria.
Filipe II, interessado em agradar aos portugueses, assinou a «carta de padrão» oito meses depois,
com efeitos retroativos. Portanto, em dezembro de 1581, Públia Hortência tinha direito a receber
135 mil réis, quantia que serviria para «pagar» a sua entrada no convento. Na carta de atribuição da
30 tença, o rei justifica ser «em respeito às suas letras e suficiências» e para a erudita «se melhor poder
sustentar e recolher». Públia passava assim a receber o mesmo vencimento mensal que o poeta Luís
de Camões recebera a partir de 1572, quando foram impressos os primeiros 150 exemplares de
Os Lusíadas e porque o jovem monarca Sebastião lhe reconhecia «engenho e habilidade» e a
«suficiência que mostrou no livro que fez das coisas da Índia».

3
1
eloquência: arte de bem falar; doutos: eruditos, sábios;
5
2
calipolense: natural de Vila Viçosa; literatas: letradas, cultas;
6
3
arguciosos: que encerra argúcia, subtileza; tença: pensão dada em remuneração de serviços.

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35 Coincidência ou não, escolheu o ano em que o rei de Castela juntou aos seus domínios ao reino
de Portugal para se recolher no Convento de Évora. Tinha 33 anos. Morrerá 14 anos depois, no dia
10 de outubro de 1595, depois de ter construído uma obra que o descuido e o tempo foram
apagando. Escreveu salmos, cartas e poesias, em latim e português, que estiveram em posse do
irmão Jerónimo pelo menos até 1614. Tudo se esfumou.
Anabela Natário, «Públia Hortência, a Menina que espantou Literatos»,
in https://expresso.pt/sociedade/2018-06-25-Publia-Hortensia-a-menina-que-espantou-literatos
(texto consultado em 20.12.2020, com supressões).

1. A característica em destaque na afirmação «e pela sua eloquência ter-lhe-ão acrescentado o


nome Públia» (linha 9) pode justificar o facto de a fidalga filósofa
A. ter «sido das primeiras portuguesas, e das primeiras europeias, a doutorar-se» (linha 1).
B. ter sido «a primeira mulher a dar uma conferência pública.» (linhas 1-2).
ser «uma menina de 17 anos, instruída além do vulgar nos estudos aristotélicos»
C.
(linhas 3-4).

D. ser oriunda de uma «família bem relacionada e sem dificuldades económicas»


(linhas 7-8).

2. Algumas informações relativas à vida de Públia, nomeadamente que «se disfarçava de homem
para frequentar as aulas de Humanidades, Filosofia e Teologia às quais o seu irmão assistia na
Universidade de Coimbra» (linhas 13-15) são
A. infundadas. B. curiosas. C. fidedignas. D. prováveis.

3. Com a referência ao poeta Luís de Camões, no penúltimo parágrafo, a autora pretende destacar

A. a dimensão da obra e do talento do épico.


B. o reconhecimento do valor da jovem literata.
C. o gesto do príncipe-cardeal Alberto de Áustria.
D. a generosidade do jovem rei D. Sebastião.

4. A afirmação final «Tudo se esfumou» (linha 39)

A. sublinha a dispersão da vasta obra da jovem escritora.


B. realça a dimensão da herança de Públia deixada ao irmão.
C. destaca o desaparecimento de todo o espólio de Públia.
D. salienta a dissipação dos textos da fidalga pelos castelhanos.

5. Todas as orações transcritas são subordinadas substantivas, exceto a oração

A. «que se disfarçava de homem» (linhas 13-14).


B. «que tenha podido assistir a algumas lições» (linhas 16-17).
C. «que gostava de se rodear de eruditos e eruditas» (linha 23).
D. «Quem pediu a tença para a douta de 33 anos» (linha 26).

6. Identifica as funções sintáticas desempenhadas pelas expressões:


a) «às provas de doutoramento» (linha 19); b) «muitos homens doutos» (linha 21).

7. Indique a modalidade e o valor modal expressos em «Morrerá 14 anos depois» (linha 36).

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Grupo III
Num texto bem estruturado, com um mínimo de 200 e um máximo de 350 palavras, faz a aprecia-
ção crítica do cartoon «Liberdade de Expressão» abaixo apresentado, da autoria de Marilena Nardi.

http://www.cartoongallery.eu/englishversion/gallery/italy/marilena-nardi/
(consultado em 12.01.2021).

O teu texto deve incluir:


• a descrição da imagem apresentada, destacando elementos significativos da sua composição;
• um comentário crítico, fundamentando a tua apreciação e utilizando um discurso valorativo;
• uma conclusão adequada aos pontos de vista desenvolvidos.

Observações:

1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo quando esta
integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra, independentemente do
número de algarismos que o constituam (ex.: /2021/).
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados – entre 200 e 350 palavras –, há que atender ao seguinte:
− um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto produzido;
− um texto com extensão inferior a 80 palavras é classificado com 0 pontos.

FIM

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