Você está na página 1de 3

A FARSA DE INÊS PEREIRA

Época que foi escrito: 1523

Personagens:

Inês Pereira
Mãe de Inês
Lianor Vaz, alcoviteira
Pero Marques - 1º pretendente
Judeus - Latão e Vidal
Escudeiro - 2º pretendente
Moço ajudante do Escudeiro
Ermitão

Argumento: "Mais quero asno que me leve, que cavalo que me derrube

Resumo:

A mãe de Inês chega da missa e Inês está fazendo a tarefa doméstica que a mãe havia lhe
dado. Inês reclama e a mãe lhe pergunta como ela quer se casar, sendo tão preguiçosa.

Lianor chega na cada da mãe de Inês, e conta que foi agarrada por um Cardeal e lhe dizia
que a absolveria, quando ele viu que ela não cedia, ele a esfarrapou, mas ela conseguiu
fugir. Ela disse que irá dar queixas. A mãe de Inês diz que isso já aconteceu com ela no
passado, mas de tanto ela rir o homem lhe deixou fugir.

Lianor conta que um homem rico, honrado, conhecido, quer conhecer Inês e casar-se com
ela, e lhe entrega uma carta do rapaz. Inês a lê, e na carta ele conta sobre sua mágoa por ela
não ter dançado com ele e a pede em casamento. Seu nome é Pero. Inês diz que quer
conhecê-lo.

Pero Marques chega vestido como filho de lavrador rico, com um gibão azul deitado no
ombro. Ele diz a mãe de Inês que tem herança deixada pelo pai, muito gado, e deseja casar-
se com Inês por ser uma moça de bem. Inês conversa com Pero sozinha, e diz que não quer
casar-se com ele. Sentindo-se ofendido, ele vai embora.

Inês diz a mãe que não quer casar-se com Pero, ela quer um homem discreto e que saiba
tocar viola, diz que os judeus casamenteiros passaram por lá e logo voltarão com
novidades.

Chegam os judeus casamenteiros Vidal e Latão e dizem que o marido com as


características que ela quer só serão encontrados na corte, não há por aquela região.
Souberam de um escudeiro com jeito de proprietário de moinho que irá conhecê-la.
O escudeiro chamado Brás da Mota chega à casa de Inês, acompanhado de seu ajudante.
Toca violão e conquista Inês, que aceita casar-se com ele. Os judeus pedem a mãe de Inês
dinheiro pelo sucesso de seu trabalho.

Já casada, Inês em sua casa está cantando e seu marido lhe proibe de cantar, e lhe diz que se
não se calar colocará fogo em tudo. Disse-lhe que ela não deve falar com nenhuma pessoa
homem ou mulher, que não deve sair de casa nem para ir à igreja e que já pregou as janelas
para evitar que ela olhe para fora, pois ficará trancada como uma freira. Disse-lhe que ela é
sua mulher e seu ouro, e que um homem de discrição como ela buscou, deve guardar seu
tesouro.

Ele irá para a guerra, e pede para seu ajudante cuidar de Inês e quando sair trancar Inês na
casa.

Sozinha, Inês diz que renega a discrição, que escolheu mal. Cuidou em escolher cavalheiros
fidalgos e escudeiros, e eles matam mouros e maltratam suas mulheres. Se ficasse solteira
novamente, como deseja, escolheria um marido pacífico, de boa fé.

O ajudante traz uma carta a Inês de seu irmão, que diz que um mouro matou seu marido.
Inês imediatamente pega do ajudante a chave de casa, e lhe diz para ir cuidar de sua vida.
Sozinha, Inês diz que com ela, seu marido era tão valente, e na guerra um mouro o matou.
Agora, quer boa vida e um marido manso.

Lianor vai ver Inês (que finge estar muito triste), e sugere que se case com Pero Marques,
seu primeiro pretendente. Inês aceita a idéia.

Pero e Inês casam-se.

Inês está passeando na rua com Pero, quando ela vê um Ermitão pedindo esmola. Ela
dirige-se sozinha até o Ermitão, e ele lhe diz ser o homem que lhe mandava frutas quando
ela ainda era solteira, ela diz que irá se encontrar com ele um dia desses.

Inês continua caminhando com seu marido e lhe pede para ir a romaria, para passar pelo
rio, para que ele a leve no ombro, para que lhe compre louças, para que cante com ela. E ele
atende seus pedidos.

Comentários:

A obra foi escrita para ilustrar o refrão popular: "Mais quero asno que me carregue, que
cavalo que me derrube. A farsa, conforme a estudiosa Edna Taraboni Calobrezi é
considerada a criação artística mais perfeita de Gil Vicente, dentre suas obras profanas. A
relação entre o argumento da peça e o provérbio é muito evidente: o cavalo é o primeiro
marido, que a derruba, decepciona; e o asno seu segundo marido que a carrega, satisfaz
todas as suas vontades.
Houve a apresentação de várias fases da vida de Inês:

 No primeiro momento, uma moça sonhadora, a procura de um marido discreto e que


tocasse viola, pois em seu entender era o perfil do homem ideal. Rejeitou Pero
Marques, que embora rico, não tinha as características que desejava em um homem.
 Em seguida, Inês estava casada com Brás da Mota, que aliás casou-se com ele, sem nem
ao menos conhecê-lo melhor, apenas por atender o perfil sonhado. Mas, devido aos
maus tratos, ela se arrepende do casamento.
 No último momento, mostrou uma Inês viúva (nem um pouco triste pela morte), e
casando-se com Pero Marques por conveniência.

A peça apresentou diversos tipos sociais: Inês, uma moça de vila; Lianor, uma alcoviteira
("serve como intermediária nas relações amorosas"); a mãe que vai a missa, Pero Marques,
um lavrador rico, grosseiro; os casamenteiros por profissão; os cardeiais; o ermitão.

A cena narrada por Lianor, onde o Cardeal lhe agarrou dizendo que a absolveria, colocou
em dúvida a abstenção sexual da classe clerical tão defendida pela igreja, apresentando um
padre sem escrúpulos, sem pudor, demonstrando a insatisfação de Gil perante a Igreja
dominante

Os judeus casamenteiros, trouxe a existência de profissionais charlatões, interesseiros, que


queriam casar Inês e Brás da Mota pelo dinheiro que receberiam, demonstrando a visão que
se tinha dos judeus.

O ermitão trouxe a classe que pertencia pessoas que se isolavam do mundo para se dedicar
a oração, mas entre eles havia os mal intencionados que usavam hábito, confundiam
pessoas e viviam de esmolas.

A transformação de Inês, de moça sonhadora e sincera em outra, prática e fingida, pode


refletir a própria mudança pela qual passa a sociedade, onde os espertos esmagam os
honestos e puros.

Você também pode gostar