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Português- 3º teste

Farsa de Inês Pereira (122, 123, 124, 172, 173, 126, 165, 166, 167, 168)

“Mais quero asno que me leve que cavalo que me derrube”


“ridendo castigat mores”
Farsa- motivo quotidiano
Auto- motivo exclusivamente religioso

Representação do quotidiano

A mulher:
 Vida doméstica
 Liberdade restringida pela mãe e pelo marido
 Casamento como meio de emancipação
 Adultério
Costumes: ( vai se criticar)
 Casamentos arranjados- casamenteiros
 Cerimónia de casamento com festa- canto e dança
 Prática religiosa- a missa
Classes sociais:
 Decadência da nobreza- Brás da Mata
 Desconsideração da vida popular- Pero Marques
 Devassidão do clero- clérigo e Ermitão

Tipo de cómico
 De caráter- associado às características da personagem
 De situação- produzido por uma circunstância que causa o riso
 De linguagem- relacionado com o discurso da personagem

Objetivos da sátira:
 Refletir sobre a realidade social portuguesa da época de Gil Vicente
 Analisar criticamente os grupos e as instituições de uma sociedade
 Denunciar os vícios e os erros em tom humorístico
 Corrigir os comportamentos condenáveis (função edificante)

Temas da farsa:
 A decadência de costumes
 A duplicidade e a falsidade
 O casamento
 A condição da mulher

Alvos da crítica:
 As jovens casadoiras
 Os alcoviteiros
 Os religiosos
 Os rústicos
 Os escudeiros

Estratégias da sátira:
 Personagens-tipo
 Caricatura
 Comicidade
 Ironia e sarcasmo
 Diálogo

Personangens:

Inês:
 Ínicio- descontente; sonhadora, inolente
 1º casamento- inexperiente; iludida, desencantada
 2º casamento- experiente; astuta; emancipada; adúltera
 é a personagem principal da peça;
 surge, no início, como rapariga solteira;
 manifesta desagrado pelas tarefas domésticas;
o anseia pela liberdade;
 procura um marido que a encante com galanteios.
 Inês Pereira aceita receber e conhecer Pero Marques, antevendo que se
trata de um campónio ignorante. Perante o seu pretendente, revela uma
atitude mesquinha, pois humilha e ridiculariza o lavrador, nomeadamente
por este ter modos rudes, um comportamento desajeitado e um discurso
ridículo. Perante a admiração da mãe pelo facto de esta já não encontrar
Pero Marques quando chega a casa, Inês manifesta o seu desinteresse e
insiste no seu sonho de um dia casar com um homem «discreto» e que saiba
cantar e «tanger» viola.
o humilha e ridiculariza Pero Marques;
 mostra-se altiva e indiferente para com o seu pretendente campónio;
 rejeita Pero Marques, pois sonha casar com um homem «discreto» e que
saiba «tanger» viola.
 Sonhadora, teimosa e fantasiosa, Inês recebe em sua casa dois Judeus
casamenteiros, aos quais tinha confiado a missão de lhe arranjarem o marido
ideal. Deslumbrada com as qualidades do Escudeiro, que os dois matreiros
lhe enumeram, aceita conhecê-lo, mesmo contra os conselhos e alertas da
Mãe, facto que revela a sua inexperiência e o seu imenso desejo de casar
para finalmente fugir do jugo materno. Se as palavras dos Judeus já lhe
tinham provocado encantamento, o discurso galanteador e sedutor do novo
pretendente acaba por conquistá-la, aceitando, assim, casar com ele.
o revela-se sonhadora, teimosa e inexperiente;
 mostra-se deslumbrada pelo Escudeiro e deixa-se conquistar, apesar dos
avisos maternos.
 Inês aceita casar com o Escudeiro. Finalmente, os seus sonhos estavam,
aparentemente, a concretizar-se. No entanto, a jovem fantasiosa vê-se
novamente num ambiente de cativeiro. Brás da Mata proíbe-a de cantar ou
de mostrar qualquer sinal de felicidade, não permitindo, ainda, qualquer
saída de casa. Nesta parte, observa-se uma Inês pereira frustrada,
enclausurada, desencantada e arrependida. De sonhadora, passa, pois, a uma
mulher desejosa de vingança e de liberdade. Quando recebe a missiva a
anunciar da morte do marido, manifesta satisfação e avidez por se livrar
daquela prisão.

 apresenta-se desiludida e frustrada com o casamento – falta de
liberdade e estado de solidão;

o manifesta desejo de vingança;


o sente-se livre e satisfeita com a notícia da morte do marido.
 Inês acaba por casar com Pero Marques. Se inicialmente, mostrou resistência
perante a proposta de Lianor Vaz, rapidamente revela uma transformação
radical. A atitude desumana e desleal do Escudeiro potenciou uma evolução
drástica na jovem, pois esta torna-se vingativa, leviana e cruel, aproveitando-
se da ingenuidade e do amor de Pero Marques. Com efeito, além de se
mostrar exigente com o marido, revela-se adúltera ao aceitar a proposta de
um encontro amoroso com o Ermitão. O momento mais flagrante da sua
maldade evidencia-se na última cena, ao utilizar de forma humilhante o
lavrador para a levar ao encontro que tinha combinado com o amante.

o revela uma tristeza fingida pelo facto de estar viúva;

 aceita casar com Pero Marques por conveniência;
 mostra-se exigente e caprichosa com o marido;
 torna-se vingativa e adúltera.

Latão e Vidal
 Estas duas personagens aparecem em cena com o propósito de, a troco de
dinheiro, apresentarem um pretendente a Inês Pereira. Matreiros e
folgazões, conseguem convencer a jovem de que o Escudeiro será o marido
ideal. Quando o casamento se realiza, pedem o pagamento combinado.
Mostram-se sempre alegres, divertidos e eufóricos por terem concretizado
um excelente negócio.
 surgem em cena bastante entusiasmados, comunicando a Inês
que encontraram, tal como ela pediu, o seu marido ideal
 descrevem as inúmeras qualidades do Escudeiro;
 revelam-se interesseiros e materialistas, solicitando o pagamento pelo
casamento arranjado.

Pero Marques
 Honesto; rude; puro; determinado
 Pero Marques representa a inocência, a ignorância e a simplicidade do
mundo rural. Este «lavrador abastado» representa o camponês generoso,
honesto, obediente, desconhecedor das regras de convívio social da cidade,
características evidentes na carta que envia a Inês e na maneira como se
apresenta e comporta quando chega a casa da protagonista. Além disso, não
se apercebe do desdém da jovem, que troça dele, revelando, pois, o seu
desinteresse pelo pretendente.
 revela-se inocente, ingénuo e desconhecedor das regras sociais da cidade ;
o é o primeiro pretendente de Inês;
 mostra-se interessado em Inês, com quem é bastante atencioso.
o é um lavrador rico;
 Quando rejeitado por Inês, Pero Marques promete-lhe que vai esperar por
ela, facto que se concretiza, pois, na verdade, o lavrador não desistiu e
esperou, com sucesso, pela sua oportunidade, que surge quando a jovem
enviúva. Efetivamente, Pero Marques aceita casar-se com Inês e sujeita-se a
todos os seus caprichos. A sua ingenuidade e inocência potenciam a sua
condição de marido traído e humilhado.

o aceita casar com Inês;
 submete-se aos caprichos e às exigências da mulher;
 a sua ingenuidade e simplicidade não o deixam ver o adultério e a
humilhação a que Inês o sujeita.

Escudeiro/ Brás da Mata
 Mentiroso; fanfarrão; prepotente; cobarde
 O Escudeiro, segundo pretendente de Inês Pereira em cena, revela, desde
logo, ser um hipócrita e pelintra. Com efeito, antes de se apresentar à jovem,
pede ao seu fiel criado, o Moço, que pactue consigo, pois irá dizer que é um
fidalgo de posses, pleno de qualidades morais e socialmente bem-sucedido.
Inês Pereira acaba por se deixar conquistar por aquele que considera o
homem que idealizou nos seus sonhos – gentil, discreto, bem-falante, que
sabe tocar viola e cantar. Porém, a verdade é só uma: Brás da Mata não
passa de um nobre falido, vaidoso, interessado somente no dote de Inês,
fazendo-lhe crer que será um marido ideal.

o revela ser hipócrita e fingido, pedindo que o Moço confirme as
mentiras que dirá a Inês;
 não passa de um fidalgo falido, que aparenta ter posses e estatuto social;
 é interesseiro e quer conquistar Inês pelo seu dote;
 é vaidoso, presunçoso e convencido;
 para conquistar Inês, revela-se bem-falante e bajulador.
 O Escudeiro galanteador, bem-falante e educado revela o seu verdadeiro
caráter após o casamento. Na verdade, manifesta-se autoritário e cruel ao
não permitir que Inês saia de casa ou que manifeste qualquer sinal de
alegria. De referir que, na sua ausência, pede ao Moço que a vigie para evitar
qualquer contacto da mulher com o mundo exterior. As palavras que lhe
dirige são ásperas e desprovidas do amor e do carinho que outrora lhe
prometera. É, de facto, um nobre pelintra, desleal, mentiroso e egoísta. A
sua morte, ao tentar fugir da guerra, reflete a sua covardia e falta de honra.

o revela-se autoritário, cruel e desumano com Inês;
 é um nobre pelintra, desleal e mentiroso;
 mostra a sua covardia, pois morre ao tentar fugir da guerra.

Moço
 O Moço é o pajem do Escudeiro. Através dos seus apartes, denuncia as más
condições de vida por que passa, pois, na verdade, o seu amo é um nobre
decadente e falido. Funciona, assim, como voz da verdadeira situação
económica de Brás da Mata, bem como do caráter desonesto do mesmo. No
entanto, acaba por satisfazer as vontades do Escudeiro e cumprir tudo o que
este lhe exige.

 queixa-se das suas más condições de vida, denunciando
a situação económica decadente do Escudeiro;

 O Moço continua a representar a voz da verdade no que ao caráter do


Escudeiro diz respeito, denunciando a sua verdadeira condição
socioeconómica e a sua total inexistência de valores/qualidades morais.
Embora não concorde com a atitude do amo, vigia Inês para que esta não
saia de casa na ausência do Escudeiro na guerra, funcionando, assim, como
seu confidente e cúmplice. É dispensado por Inês quando esta descobre que
Brás da Mata morreu.

 denuncia o caráter desonesto e pelintra do Escudeiro ;

 cumpre a exigência do amo de vigiar Inês na sua ausência, potenciando o
cativeiro da jovem;
 após a morte do amo, é dispensado por Inês.
Mãe
 Amiga; conselheira; pragmática; voz da experiência
 mulher simples, experiente e perspicaz;
 a ingenuidade de Inês contrasta com o sentido prático da Mãe, que tenta
chamar a filha à realidade;
 revela preocupação com o comportamento da filha e tece-
lhe elogios perante Lianor Vaz.
 A mãe de Inês revela ser a voz da experiência. Com efeito, mostra-se
preocupada com o facto de a filha ter desprezado Pero Marques, pois este
certamente lhe proporcionaria uma vida de bem-estar e conforto económico.
Os devaneios de Inês, de casar com um homem discreto e que saiba tocar e
cantar, independentemente do seu caráter e dos seus bens, levam a Mãe a
sensibilizar a protagonista para a importância de um bom casamento, que
não a deixe passar necessidades.
 enquanto voz da experiência, mostra-se preocupada com os devaneios da
filha e alerta-a para as prioridades da vida e para a importância de um bom
casamento.
 A Mãe revela-se, desde o início, opositora à relação da filha com o segundo
pretendente. A sua experiência e astúcia permitem-lhe perceber que os
Judeus casamenteiros não passam de uns manipuladores e interesseiros.
Embora contrariada, acaba por ser condescendente e permitir a vinda do
Escudeiro, aconselhando a filha a ficar recatada na sua presença. Para a Mãe,
o Escudeiro não passa de um pelintra e de um falso galanteador. No entanto,
a sua sensatez não é suficiente para convencer a filha a desprezar este
segundo pretendente. No final da cena, o amor que sente por Inês e o desejo
de a ver feliz fazem-na aceitar essa união, mas o seu pedido ao Escudeiro
(que trate bem da filha) pressagia um casamento infeliz.

o revela-se opositora à relação da filha com o Escudeiro;
o
 acaba por aceitar a vinda do segundo pretendente e aconselha a filha a ficar
recatada;
 manifesta astúcia e perspicácia, pois percebe que os Judeus são
interesseiros e que o Escudeiro não é quem aparenta ser;
 por amor à filha e aspirando apenas a felicidade desta, resigna-se e concede
o casamento
 A Mãe, embora não convencida do verdadeiro caráter do Escudeiro, autoriza
que o casamento se concretize. Além de aceitar a escolha da filha, organiza a
festa da boda. Contudo, depois do casamento, revela de imediato a sua
intenção de ir embora e de se afastar: chegara a hora de Inês se
responsabilizar pela sua escolha e de resolver sozinha os seus problemas. Na
hora da despedida, abençoa Inês e comunica-lhe que aquela será agora a sua
casa; ao Escudeiro, pede-lhe que cuide da sua filha e que lhe tenha muito
amor.

o autoriza o casamento de Inês com o Escudeiro;
 organiza a festa da boda;
 afasta-se logo a seguir ao casamento, de modo a deixar Inês assumir a sua
nova vida.

Lianor Vaz:
 personagem-tipo, que representa as alcoviteiras, cujo ofício consistia
em facilitar os casamentos;
 partilha da visão realista da Mãe de Inês em relação ao casamento;
 denuncia a degradação moral do clero.
 Aproveitando o estado de viuvez de Inês Pereira, Lianor volta a falar-lhe em
Pero Marques, insistindo na ideia de que ele é o marido ideal. A alcoviteira
percebe a falsa tristeza de Inês e facilmente persuade a jovem com o argumento
de que Pero Marques é um homem rico e que, por isso, lhe irá proporcionar
uma boa vida. Consegue, deste modo, concretizar o seu “negócio”.

 insiste com Inês de que Pero Marques é o pretendente ideal, pois é um
homem abastado;
 mostra-se perspicaz e matreira, pois percebe facilmente que a tristeza de Inês é
uma farsa;
 convence Inês a casar com Pero Marques.

Lúzia e Fernando:
 Luzia e Fernando são elementos do povo, bondosos, amigos e simpáticos.
Simbolizam a autenticidade e a ternura; no fundo, os sentimentos genuínos
ausentes nas restantes personagens. A sua presença potencia um momento
de alegria na peça – cantam, dançam e desejam felicidade aos noivos,
entregando-lhes, ainda, um presente humilde, mas genuíno.

 são elementos do povo – simbolizam a amizade e a lealdade;
 são alegres, cantam e dançam;
 desejam felicidade aos noivos e oferecem-lhes um presente humilde,
mas genuíno;

 servem de contraponto na peça, pois representam um ideal de vida
sem ambições, nem maldades.

Tempo: indefinido
Referência temporal: o escudeiro partira três meses antes para a guerra

Espaço: casa da inês; ermida (onde a inês vai em “peregrinação”)

Na época de Gil Vicente, o casamento era, frequentemente, uma união que se


regia por interesses e conveniências; era uma forma de sobrevivência, na visão da
Mãe e, também, o modo de alcançar a liberdade, na perspetiva de Inês Pereira.

No final da Idade Média, a religião desempenhava um papel central na existência


dos indivíduos e era vivida com fervor. A vida era vista como uma passagem para o
outro mundo e importava garantir a Salvação, evitando o pecado. A religião tinha
também uma função social: a valorização da virtude e a ameaça dos castigos
(deste mundo e do outro) encorajavam o crente a levar uma vida virtuosa. Além
disso, a fé e a devoção eram também fonte de amparo e de conforto.
Curiosamente, no início desta peça, apenas a mãe, mulher simples e do povo, vai à
missa, enquanto Inês fica em casa.
Nesta parte da Farsa, casamento é um dos temas centrais, nomeadamente o
casamento visto como oportunidade e não como união de duas pessoas que se
amam. Com efeito, a mãe de Inês pretende que a filha case com Pero Marques,
uma vez que este lhe garantirá segurança económica. Antes do encontro com o
lavrador, aconselha a filha a arranjar-se para o receber. Além disso, mostra-se
desiludida quando percebe que Inês não pretende casar com Pero, alertando-a
para o facto de os seus sonhos não garantirem o seu sustento nem um matrimónio
feliz: o conselho da Mãe funciona, na verdade, como um presságio do casamento
infeliz de Inês com o Escudeiro.
desejo da Mãe em ver Inês casada com Pero Marques, por este ser abastado e lhe
garantir segurança económica;
a Mãe aconselha Inês a fazer um bom casamento, deste modo, nunca lhe faltará
nada;
A ridicularização das figuras rústicas e a ingenuidade dos lavradores e pastores são
encarnadas na personagem de Pero Marques, que representa a inocência,
ignorância e rudeza. Era assim que os indivíduos da cidade viam aqueles que
viviam no mundo rural. Este «lavrador abastado» é um camponês simples, bem-
intencionado e desconhecedor das regras de convívio social da cidade,
características que potenciam o seu papel de vítima nas mãos de Inês. Pero
Marques funciona como veículo de denúncia das desigualdades e de preconceitos
sociais da época.
Pero Marques representa o homem do campo, ignorante e rude, e, por
isso, inferiorizado pelo mundo da cidade.
Depois de desprezar Pero Marques, Inês recebe em sua casa Latão e Vidal, que se
apresentam com o objetivo de lhe arranjar um bom casamento para a jovem. Na
verdade, os dois judeus casamenteiros comunicam-lhe que, após um árduo
caminho percorrido em busca do pretendente ideal, finalmente o encontraram.
Trata-se de um Escudeiro, sobre o qual as duas cómicas personagens tecem os
maiores elogios e que responde na íntegra às exigências solicitadas por Inês.
Perante o interesse da jovem, e com a devida autorização da Mãe, Brás da Mata
surge em cena, acompanhado do seu fiel Moço. Galanteador e bem-falante, o
Escudeiro consegue conquistar Inês.
 Nesta parte da Farsa, é focado o tópico do casamento, que era visto como
uma oportunidade, uma vez que constituía uma libertação, uma fuga à
opressão parental, facto bem visível no desejo extremo de casar por parte de
Inês. Há, igualmente, toda uma crítica aos casamentos arranjados a troco de
dinheiro, nomeadamente através das personagens dos Judeus casamenteiros,
que apenas estão interessados no seu negócio e não na felicidade de Inês. No
fundo, denuncia-se e critica-se a falta de valores e de princípios da época,
que desonravam o compromisso do matrimónio.

 o casamento era visto como uma oportunidade: fuga ao jugo
parental;
 crítica aos casamentos arranjados a troco de dinheiro.
 Latão e Vidal mostram a forma como os Judeus eram vistos pela sociedade
da época – figuras avaras e interesseiras. Na verdade, juntamente com a
alcoviteira Lianor Vaz, representam a hipocrisia dos casamentos arranjados e
os recursos estratégicos e indignos para os conseguirem concretizar, de
modo a obter lucro. São, por isso, caracterizados como oportunistas, falsos,
materialistas e aldrabões.

 Judeus: na sociedade quinhentista, vistos como avarentos,
interesseiros e materialistas;

 Latão e Vidal: simbolizam os casamenteiros, que usam o matrimónio
como um meio de ganhar dinheiro.

 A nova mentalidade renascentista conduziu ao enfraquecimento da classe
nobre, desprovendo-a do seu brilho e do seu estatuto de outrora. Com a
figura do Escudeiro, um homem que vive das aparências, mas que é um
autêntico pelintra, e que procura no casamento um meio de sobrevivência
económica, expõe-se uma nobreza endividada, sem valor e sem prestígio.

 classe nobre – decadente, sem recursos financeiros, vive de
aparências;
 Escudeiro - símbolo do fidalgo fanfarrão, desprovido de valores, que usa
o casamento como forma de sobreviver economicamente.
 Completamente rendida aos encantos de Brás da Mata, Inês aceita casar com
ele. Num ambiente de festa, mas, simultaneamente, de mau presságio, o
casamento concretiza-se. De facto, o pior acontece. Inês percebe que tudo
não passou de uma ilusão, pois o seu marido revela-se autoritário, cruel e
egoísta. Com efeito, a jovem vê-se novamente em cativeiro, uma vez que o
Escudeiro não permite que ela saia de casa, nem que seja feliz, sendo ainda
vigiada pelo Moço quando o marido se ausenta para a guerra. O casamento
de sonho passa a significar desilusão e frustração. No final desta parte, Inês
recebe, através de uma carta, a notícia do seu estado de viuvez, vendo-se, de
novo, livre.
 Inês Pereira simboliza a mulher portuguesa do século XVI, uma mulher
“prisioneira”, cujas ocupações se restringem às tarefas domésticas (como
bordar e coser), submissa à mãe (o que provoca nela o desejo de casar para
se libertar desse jugo materno) e, depois, a um marido autoritário, que não
permite a sua saída de casa. O estatuto da mulher resumia-se, pois, neste
século, a um sufocante ambiente doméstico, à censura de pensamento e de
opinião e às leis impostas pela sociedade e pela religião.

 casamento: sinónimo de clausura;

 mulher do século XVI, simbolizada por Inês:
condição oprimida e angustiada, submissa ao marido e restringida ao
ambiente doméstico.
 A cerimónia religiosa do matrimónio entre Inês e o Escudeiro é marcada,
como era costume na época, pela dança e pelo canto. Entram para o efeito
em ação duas novas personagens pertencentes ao povo, Luzia e Fernando,
que desejam muita sorte e felicidade ao recém-casal, oferecendo-lhes ainda
um presente humilde, mas genuíno. O seu comportamento sincero e bondoso
contrasta, pois, com a verdadeira índole deste casamento “arranjado”. De
salientar, a primeira cantiga entoada pelas referidas figuras que, além de
resumir os acontecimentos, faz prever um futuro infeliz para Inês,
simbolizada na figura da “garça enamorada”.

 tradição da cerimónia do casamento, seguida de festa, com canto e
dança;

 presença de Luzia e de Fernando – simbolizam a verdadeira essência
do matrimónio.

 Na figura do Escudeiro, é denunciada e criticada a classe nobre decadente da
época, que perdera o seu brilho e estatuto. Além do culto da aparência, Brás
da Mata simboliza também o fidalgo covarde, pois morre ao fugir da guerra
às mãos de um mouro. Destaca-se, assim, a figura do fidalgo pobre,
presunçoso e ambicioso.

 nobreza decadente, que cultiva a ostentação de qualidades morais,
sociais e económicas inexistentes;

 ridicularização do nobre covarde e sem honra.
 Livre novamente, Inês recebe, em sua casa, Lianor Vaz, que lhe traz uma nova
proposta de casamento com Pero Marques, que lhe tinha prometido esperar
por ela. Inicialmente, finge-se triste por ter perdido o marido, mas
rapidamente mostra o seu verdadeiro estado de espírito – alegre, aliviada e
pronta para casar outra vez.
 O casamento com o lavrador abastado concretiza-se, porém, agora,
observamos uma Inês emancipada e leviana, personalidade originada pela
experiência negativa que a vida lhe proporcionou.
 Com efeito, além de se mostrar caprichosa e exigente, Inês revela-se
vingativa, infiel e fingida, pois, além da relação adúltera com o Ermitão que
vai aparecer em cena, serve-se dos sentimentos genuínos que o marido nutre
por ela, tendo comportamentos e atitudes trocistas e humilhantes.
 Depois de um casamento falhado e oprimido, Inês opta, agora, por um
casamento de conveniência, que lhe proporcione a liberdade económica e
comportamental que até ao momento lhe fora censurada. Critica-se, pois, e
mais uma vez, o casamento arranjado e visto como uma oportunidade de
ascensão económica e de bem-estar, e não como uma união por amor e fruto
de sentimentos genuínos e desinteressados.

 casamento por conveniência de Inês com Pero Marques –
oportunidade de ascensão económica e de libertação.
 Depois de um primeiro casamento fracassado, Inês resigna-se e acaba por
casar com o lavrador Pero Marques, uma união por conveniência, uma vez
que apenas simboliza a liberdade que a jovem ambiciosa viu censurada pelo
Escudeiro. Aproveitando-se de um marido ignorante e que nutre por ela um
verdadeiro amor, Inês impõe-se e torna-se a figura de autoridade em casa.
Tal facto abre-lhe caminho para o adultério, nomeadamente com o Ermitão,
que a seduz e que lhe propõe um encontro amoroso. Nesta relação
extraconjugal, Inês acaba por atingir a liberdade a que sempre aspirara. Gil
Vicente denuncia, assim, toda uma conjuntura de dissolução de costumes da
época, em específico, a falsa moralidade de muitas mulheres, que se diziam
honradas e devotas esposas.

 casamento por conveniência de Inês com Pero Marques;

 prática de adultério: Inês com o Ermitão;

 adultério: meio de libertação da mulher reprimida;
 crítica à dissolução de costumes da época e à aparente moral da mulher
casada.
 Os comportamentos devassos realizados por alguns membros do clero, bem
como daqueles que aparentemente se entregavam à vida espiritual, são duas
realidades satirizadas e condenadas na «Farsa de Inês Pereira». Na figura do
Clérigo (que se envolve com Lianor Vaz) e do Ermitão (que se envolve com
Inês Pereira, levando-a a cometer adultério), denuncia-se o incumprimento
dos deveres celibatários e dos valores morais da classe religiosa.

 denúncia do incumprimento dos deveres celibatários e
da hipocrisia por parte de alguns elementos dedicados à vida religiosa
e espiritual.

Respostas de aula

Marido ideal de Inês- bonito, rico, eloquente, intelectual, “avisado”, “discreto”


e que saiba tanger viola

Pero- lavrador rico, saloio, pouco inteligente, ingénuo, simplório e rústico

Os judeus afiguram-se personagens com um só objetivo: o de fazer casar o seu


pretendente com Inês Pereira. Agem em cena como duas pessoas mal
educadas, que se interrompem e se desrespeitam constantemente, o que se
repercute nos vários tipos de cómico. A sua linguagem é disto reveladora como
se comprova pelos versos 433-435.

Todos os apartes do moço dão para ver a real situação do escudeiro

A lição que Inês Pereira aprende é atinente à escolha acertada do matrimónio: à


custa da violência doméstica, a jovem, conclui que o verdadeiro bom marido
não é um nobre galanteador e dissimulado, ao invés, é lhe favorável um marido
honesto e educado

Este ermitão não corresponde ao arquétipo de um clérigo, no respeitante ao


celibato e conduta moral, pois que assedia uma mulher na volta de um
caminho. Ainda mais: a sua atitude cantante e dançante não é concomitante
com o recanto de um homem de oração

Inês troça de Pero Marques e considera-o antiquado


Lianor faz uma crítica social ao clero, os votos de celibato, a castidade, adultério
e a degradação moral do clero

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