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leitura I Educação literária I

Escrita

L7.2. Fazer inferências, fundamen-


tando.

El16.1. Reconhecer a contextualiza-


ção histórico-literária nos casos pre-
vistos no Programa.

Joaquim Martins Correia


(1910-1999)

· Artista plástico português (escultu-


ra, desenho, ilustração, pintura)

· Representado em várias coleções


(Museu do Chiado, Museu Soares dos
Reis, Museu José Malhoa, etc.)

· Algumas esculturas: Camões (Goa),


Garcia de Orta (Lisboa), D. Pedro V
(Lisboa)

Estátua de Fernão Lopes (1969)

· Escultura em granito

· Faz parte de um conjunto de figuras


da literatura portuguesa especial-
mente esculpidas para o jardim da
Biblioteca Nacional

112

Leitura I Educação Literária I Escrita

corou

1. Lê o texto abaixo, em que se apresenta a vida e a obra do autor que vais estudar nesta
unidade - Fernão Lopes.

Vida e obra de Fernão Lopes


Era oriundo de família vilã. Em 1418 era
guarda-mor das escrituras da Torre do
Tombo, cargo que ocupou até 1454. Foi desig-
nado por D. Duarte para ser cronista do

5Reino, certamente a partir de 1434, mas pos-


sivelmente já desde 1419, função que desem-
penhou escrevendo as Crónicas de D. Pedra I,
D. Pernando e D. João I, e talvez o que chegou
até nós sob a forma do que parece ser um ras-

10cunho das Crónicas dos reis anteriores. Escri-


vão dos livros de D. João I e do infante
D. Duarte, secretário do infante D. Fernando
e tabelião de ofício, a sua obra como historia-
dor beneficiou da experiência obtida em tais

15atividades e das facilidades de acesso a docu-


mentos que elas lhe proporcionavam. Uma
cultura - que hoje chamaríamos "literária" -
considerável ajudou-o a tirar o melhor par-
tido dessas circunstâncias. Três das suas ca-

20 racterísticas mais notáveis e inovadoras são: a


o
(.

Joaquim Martins Correia, Estátua de Fernão topes. 1969


noção da responsabilidade do historiador no

estabelecimento da verdade e o consequente método de consulta exaustiva e aproveita-


mento crítico de documentos e outras fontes, procurando manter-se isento de favoritis-
mos; a preocupação de esclarecer as diversas inter-relações existentes entre os elernen-

25tos que formam a realidade; e a compreensão da 'importância dos fatores psicológicos


nos fenómenos históricos, que o leva a analisar com minúcia tanto os caracteres do
mestre de Avis e de Leonor Teles como os comportamentos populares em grandes e pe-
quenos conjuntos. O autor da Crónica de D. João 1 consegue destacar, conscientes ou
fortuitos, motivos, reações e intenções que são preciosos indícios do quadro social, eco-

nómico e cultural que podemos ter da época, para a qual a obra de Fernão Lopes per-
30
manece como a principal fonte de conhecimento.

Se, em Fernão Lopes, importa assinalar o valor insigne do historiador num período
particularmente rico em acontecimentos dramáticos e intensamente visuais, não im-
porta menos sublinhar a originalidade e grandeza do escritor: herdeiro de uma rica tra-

35dição medieval de romances e crónicas, Fernão Lopes, de modo nenhum desprezando


o passado, introduz na nossa literatura uma escrita inovadora, fortemente audaz e me-
tafórica, capaz, a um tempo, de nos fazer convir a movimentação cinematográfica de
multidões em transe de modificar os destinos de um país ameaçado e de nos pintar,

ENCI
3. Fernão Lopes, Crónica de D. João I

com uma minúcia reveladora, os traços individuais dos comparsas de gabarito mais
40 variado.

Obras principais: Crónica de D. Pedra I (l.a ed., Lisboa, 1735); Crónica de D. Fernando
(l.a ed., Lisboa, 1816); Crónica de D. João I (terminada depois de 1441,l.a ed., Lisboa,
1644).

Instituto Português do Livro (orq.), Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, Voi. I,


Lisboa, Europa-América, 1985 [pp. 116-117]

1.1. Seleciona a opção correta.

1.1.1. De acordo com o autor do texto, Fernão Lopes é proveniente de uma família

2. pertencente à nobreza.
3. não pertencente à nobreza.
4. abastada.
5. de cronistas.

1.1.2. A cultura de Fernão Lopes deve-se essencialmente

6. à influência familiar.
7. à educação que teve.
8. à atividade profissional.
9. à curiosidade intelectual.

1.1.3. As crónicas de Fernão Lopes não se caracterizam

10. por uma metodologia de consulta documental pautada pela exaustividade.


11. pela análise do comportamento humano.
12. pela articulação de diferentes aspetos da realidade.
13. pela valorização dos relatos orais em detrimento das fontes escritas.

1.1.4. A referência à valorização da análise dos caracteres do mestre de Avis e de


LeonorTeles tem um intuito

14. exemplificativo.
15. contra-argumentativo.
16. refutatório.
17. crítico.

1.1.5. A comparação presente em "que o leva a analisar com minúcia tanto os caracte-
res do mestre de Avis e de Leonor Teles como os comportamentos populares em
grandes e pequenos conjuntos." (11. 26-28)

18. sugere a preponderância que os atores individuais (mestre de Avis, Leonor


Teles) assumem relativamente aos coletivos (povo).
19. realça a preponderância que os atores coletivos assumem relativamente
aos individuais.
20. remete para a valorização quer dos atores coletivos quer dos individuais.
21. acentua a oposição entre a importância atribuída aos atores individuais e
aos atores coletivos.

1.1.6.

No último parágrafo do texto, realça-se o valor de Fernão Lopes enquanto

22. historiador. c. crítico literário.


23. guarda-moro d. escrivão.

1.1.1. b.
1.1.2. c.
1.1.3.d.
1.1.4. a.
1.1.5. c.
1.1.6. a.

113
Contextualização

Leitura 1 Escrita 1 Educação


Literária

L8.1. Selecionar criteriosamente in-


formação relevante.

E11.1. Escrever textos variados, res-


peitando as marcas do género: smte-
se I ... l.

E12.3. Redigir um texto estruturado,


que refiita uma planificação, eviden-
ciando um bom dominio dos meca-
nismos de coesão textual com marca-
ção correta de parágrafos e utilização
adequada de conectores.

E12.4. Mobilizar adequadamente re-


cursos da língua: uso correto do regis-
to de língua, vocabulário adequado
ao tema, correção na acentuação, na
ortografia, na sintaxe e na pontuação.
E13.1. Pautar a escrita do texto por
gestos recorrentes de revisão e aper-
feiçoamento, tendo em vista a quali-
dade do produto final.

EL16.1. Reconhecer a contextualiza-


çào histórico-literária nos casos pre-
vistos no Programa.

2. Crónica medieval

· Inicialmente: "registava acontecimen-


tos tvuonco: por ordem aonotoqico"
(11. 3-4);

· Alta Idade Média: "começa a ser con-


formada por uma perspetiva indivi-
dual que lhe confere uma dimensao
interpretouva e, eventualmente, esté-
tica, como acontece com as obras de
Femáo topes. (11. 6-8).

A critica documental e histórica


em Fernão Lopes

· Obra de Fernão Lopes: "faz a compi-


laçáo de memórias anteriores" (I. 2);
"resulta de uma investigaçáo original
e cntica" (I. 3);

· Fontes: "a correspondência diplomá-


tica, os diplornos legais, os capítulos
das Cortes (. .. l. os cartórios das igre-
jas e lápides de sepulturas" (11. 8-10);

· Metodologia: "submeter a uma revi-


soo metodica todos os relatos (. .. /
notando as suas contradições e inve-
rosimilhanças, e decidindo-se, à falta
de documento, pela versão que julga
'man chegada á razão' (11. 14-16);

· Conclusão: Fernão Lopes - "primeiro


(. .. / dos nistotiooores portugueses"
(11. 17-18).

114

2. Lê os dois textos abaixo, selecionando criticamente a informação mais relevante.

Crónica medieval
Derivado do lato Chronica e do gr. Khrónos, consagra o conceito de tempo, infor- ~
mando com ele o discurso dos textos que designa.

Inicialmente, a crónica, mais geral ou mais particular, registava acontecimentos~


históricos por ordem cronológica. Fonte mais direta e imediata do conhecimento.
histórico, comportava também factos menos relevantes, informação secundária que
a História moderna tenderá a elidir. Na alta Idade Média, a crónica começa a ser con-
formada por uma perspetiva individual que lhe confere uma dimensão interpretativa
e, eventualmente, estética, como acontece com as obras de Fernão Lopes.

Annabela Rita, in http://www.edtl.com.pt/index.php?option=corn_rntree&task=


viewlink&link_id=866&ltemid=2 [Consult, 24-10-2014]

Crítica documental e histórica


em Fernão Lopes
Fernão Lopes excede a crave ira de um cronista à maneira medieval. Se é verdade
que parte da sua obra faz a compilação de memórias anteriores, também é verdade
que outra parte já resulta de uma investigação original e crítica. Isto representa um
grande avanço sobre a historiografia medieval, nomeadamente sobre a francesa, que

5não passa de uma reportagem baseada em recordações pessoais ou relatos de teste-


munhas. Como guarda-mor da Torre do Tombo, Fernão Lopes tinha ao seu alcance
os arquivos do Estado, circunstância de que soube fazer uso, transcrevendo, resu-
mindo e aproveitando a correspondência diplomática, os diplomas legais, os capítu-
los das Cortes, e outra documentação, que ainda enriqueceu examinando, fora da

10Torre do Tombo, os cartórios das igrejas e lápides de sepulturas. Com este material
foi-lhe possível fazer a crítica e a correção das memórias existentes, segundo um mé-
todo que antecipa o de dois a três séculos mais tarde. Sempre que uma tradição ou
uma memória é desmentida pelos documentos, Fernão Lopes rejeita-a; e, avançando
neste caminho, declara submeter a uma revisão metódica todos os relatos que lhe

15chegavam às mãos, notando as suas contradições e inverosimilhanças, e decidindo-


-se, à falta de documento, pela versão que julga "mais chegada à razão': [ ... ]

O primeiro cronista português pode, assim, ser chamado também com justiça o
primeiro, em data, dos historiadores portugueses, isto é, o primeiro que, não se limi-
tando a compilar, se informa nas fontes documentais e submete a tradição a uma
20 análise crítica.

António José Saraiva, Oscar l.opes, "Fernão l.opes" in História da Literatura Portuguesa
(6 a ed. corrigida e atualizada), Porto, Porto Editora, s/d [p. 122, com supressões]
3. Fernão Lopes, Crónica de D. Joõo I

2.1. Sintetiza os dois textos num único texto que contenha entre oitenta e cento e vinte
palavras, seguindo as etapas abaixo.

Apresentação, por tópicos, das ideias-chave dos textos:


Etapa 1 • noção de crónica;
• características da atividade cronística de Fernão Lopes.
Etapa 2 Redação de uma síntese, integrando e articulando as ideias-chave selecionadas.

Revisão e aperfeiçoamento da síntese, tendo em vista a qualidade do produto

final e incidindo nos seguintes aspetos:


Etapa 3
• clareza das ideias transmitidas; • adequação do vocabulário ao tema;

• adequação do registo de língua; • adequação dos conectores.

Ver Síntese, p. 46

24. Lê O texto seguinte, em que se especifica a forma como a realidade histórica é perspeti-
vada por Fernão Lopes.

Visão da realidade histórica em Fernão Lopes


Mas não basta saber criticar as fontes para ser um historiador. O melhor historiador,
conforme hoje o concebemos, será aquele que compreender os mais complexos fatores
de uma dada sociedade em transformação, determinar a cada passo a importância rela-
tiva de cada um deles, de maneira a poder dar-nos dessa sociedade, não uma faceta,

5 mas uma visão de conjunto.

Nuno Gonçalves, Painéis de São Vicente, c. 1470

Também sob este aspeto a literatura medieval não nos oferece verdadeiros historia-
dores. Normalmente, os cronistas medievos estão ligados a uma corte real ou senhorial,
a um convento, a um grupo social aristocrático ou governante, e apenas relatam os
acontecimentos que interessam a esse restrito meio em que parece resumir-se para eles

10uma nação inteira ou até todo o universo. Trabalhando geralmente para cortes de cava-
leiros, a história aparece através deles como uma série de feitos de cavalaria, torneios,
aventuras de reis ou grandes senhores, intrigas palacianas. A grande massa da nação, os
interesses e os ideais que impelem os conjuntos de homens são por estes cronistas ou

desconhecidos ou incompreendidos. [oo.] »

2.1. Annabela Rita define a crónica


enquanto conceito suscetível de evo-
lução ao longo da Idade Média; se,
no início, remetia para o registo de
acontecimentos históricos por or-
dem cronológica, na alta Idade Me-
dia, a crónica é já caracterizada por
uma dimensão interpretativa e rnes-
mo estética (como é o caso das crorn-
cas de Fernão Lopes).

O texto de António José Saraiva e Ós-


car Lopes corrobora a mesma ideia.
Para estes autores, a obra de Fernão
Lopes resulta não da mera compila-
ção de materiais, mas de uma investi-
gação original e crítica, fundamenta-
da em fontes documentais variadas e
pautada pela análise e revisão cntica
de todos os materiais consultados.
Por esta razão, Fernão Lopes é consi-
derado o primeiro historiador portu-
guês.

\ 116 palavras)

~PDF

Guião de produção de síntese escrita


disponível nos Recursos do Projeto e
no Caderno do Professor - Materiais
de Apoio (versão impressa).

leitura I Educação literária


L7.2. Fazer inferências, fundamentan
do.

L8.1. Selecionar criteriosamente in


formação relevante.

EL16.1. Reconhecer a contextualiza-


ção histórico-literária nos casos previs-
tos no Programa.

Nuno Gonçalves (séc. XV)

· Pintor português

· Provavelmente, pintor régio de


D. Afonso V

· Possível autor dos Painéis de


São Vicente

Painéis de São Vicente (c. 1470)

· Obra-prima da pintura portuguesa


do seculo XV, e composta por seis
painéis

· De estilo poderosamente realista, faz


uma representação de toda a socie-
dade, atravessando a nobreza, o de-
ro e o povo

115
Contextualização

3.L

a. Feitos de cavalaria, torneios, aven-


turas de reis/grandes senhores, intri-
gas palacianas.

b. Corte real/senhorial, convento, gru-


po social aristocrático/governante.

c. Bodas, amores, intrigas, conspira-


ções palacianas.

25. Mesteirais.

26. Camponeses.

27. Influência dos populares na vitória


contra os castelhanos.

g. Revolução popular que eleva ao


trono D. João I.

116

15 Em contraste com esta visão unilateral e fragmentária de outros cronistas medievais,

Fernão Lopes dá-nos da sociedade portuguesa dos séculos XIV e XV um amplo pano-
rama em que entram múltiplos e contraditórios fatores, e em que, combinada com as
ações individuais, desempenha um papel preponderante a movimentação de grandes
forças coletivas e anónimas.

20 Lendo Fernão Lopes, não perdemos de vista a corte e a sua vida íntima, bodas e

amores, intrigas e conjuras palacianas. Mas vemos também, e com um relevo propor-
cionado, a cidade de Lisboa e os seus mesteirais, que largam o trabalho para organizar
"uniões" na rua, participar em comícios populares, pegar em armas quando é a ocasião;
vemos alfaiates, tanoeiros, camponeses erigidos em heróis e falando em nome de gran-

25des agrupamentos dotados de vontade própria; vemos gente de trabalho arrebanhada à


força nas aldeias, para as galés que o rei D. Fernando envia contra a esquadra caste-
lhana; vemos IIpOVOS do reino" assediando os castelos, derrubando-lhes as muralhas,
que uma longa opressão tornara odiosas. Perante os desígnios da corte, manifesta-se
constantemente uma determinação massiva, como quando pela voz do alfaiate Fernão

30Vasques a arraia-miúda se opõe ao casamento de D. Fernando com Leonor Teles. À ci-


dade de Lisboa, que se comove, anima, ou canta pela boca de raparigas anónimas, se
deve, na versão de Fernão Lopes, a principal contribuição para a vitória contra os Caste-
lhanos e os "portugueses desnaturados"; e a revolução popular, que levou ao trono o
mestre de Avis, derrubou a velha aristocracia, fiel na sua maioria ao partido castelhano,

35e derrotou o poderio do rei de Castela, é-nos descrita como um movimento social irre-
sistível que faz cair todos os planos urdidos, quer pelas grandes personagens que inten-
tam manejá-lo, quer pelos que dele desdenham como um alvoroço de "dois sapateiros e
dois alfaiates': As intrigas destas personagens boiam à deriva na torrente da insurreição
social, que as empurra irresistivelmente ou as despedaça nos escolhos. E o sentido épico

40do cronista não se detém em comentários moralistas sobre os atos da multidão, cujos
motivos encara com uma objetividade de pormenor, que não desmente, mas antes con-
firma a sua adesão global.

António José Saraiva, Oscar Lopes, Op. cito [pp. 122-124, com supressões]

_ "3.1. Copia o esquema abaixo e completa-o, de acordo com o sentido do texto.

(~ __ c_ro_n_i_st_a_s_m_e_d_ie_v_a_is __ J ~ [
Fernão Lopes

J
Acontecimentos relatados: a.

Acontecimentos que interessam


apenas ao meio restrito em que
os cronistas se integram:
b.

,~
Visão unilateral e fragmentária

Acontecimentos relatados

Vida da • Cidade de Lisboa: d.

corte: c. -e.
• "povos do reino"

Movimentos sociais e/ou políticos

• Oposição do povo ao casamento

de D. Fernando com LeonorTeles

.f.,g.

'11 ..v
Visão global e integradora de várias perspetivas
Texto analisado
Observa um excerto da Crónica de D. João 1 analisado, em que se apresentam algumas das
características da escrita cronística de Fernão Lopes.

Na cidade nom havia triigo


Visualismo
(apresentação
de pormenores):

Na cidade nom havia triigo pera vender,


e se o havia, era mui pouco e tam caro que
as pobres gentes nom podiam chegar a ele;
cal valia o alqueire quatro livras; e o al-
queire do milho quareenta soldos; e a ca-
nada do vinho tres e quatro livras; e pade-
ciam mui apertadamente, ca dia havia i que,
ainda que dessem por uü pam üa dobra,
que o nom achariam a vender; e começa-
rom de comer pam de bagaço d'azeitona, e
dos queijos das malvas e raizes d'ervas, e
doutras desacostumadas cousas, pouco
amigas da natureza; e taes i havia que se
mantiinham em alféloa". o logar u costu-
mavom vender o triigo, andavom homeês e
moços esgaravatando a terra; e se achavom
alguüs grãos de tríígo, metiam-nos na boca
sem teendo outro mantiimento; outros se
fartavom d'ervas, e beviam tanta agua, que
achavom mortos homeês e cachopos jazer
inchados nas praças e em outros logares.

Assunto: descrição de
uma situação relativa
às privações por que
a cidade de Lisboa
passou por falta de
mantimentos
Intervenientes
na ação:

ator coletivo
(povo anónimo)

Visualismo
(linguagem
expressiva)

o excerto apresentado ilustra algumas das características da Crónica de D. João I, de Fernão


Lopes:

• Preço/valor do trigo

Compreensão da
importãncia dos
fatores psicológicos
nos fenómenos
históricos:

· Comportamentos
humanos
motivados pela
fome

· Consequências
da fome extrema

Fernão Lopes, Crónica de D. João I (textos escolhidos),


apreso critica de Teresa Amado,
Seara Nova/Comunicação, 1980 [pp. 195-196]

1. ca: porque. 2. alféloa: melaço.

· relato de acontecimentos históricos (descrição de uma situação relativa às privações por


que a cidade de Lisboa passou por falta de mantimentos);
· incidência na descrição pormenorizada e minuciosa (preço/valor do trigo, comportamen-
tos humanos motivados pela fome, consequências da fome), que reflete a compreensão da
importância dos fatores psicológicos nos fenómenos históricos;
· utilização de recursos que conferem visualismo à prosa:

- enumeração ("ca valia o alqueire quatro livras; e o alqueire do milho quareenta soldos; e a
canada do vinho tres e quatro livras");

c, - vocabulário expressivo ("esgaravatando a terra", "metiam-nos na boca", "se fartavam

d'ervas", "beviarn tanta aqua", "homeés e cachopos jazer inchados").

Educação literária

El14.2. Ler textos literários portu-


gueses de diferentes géneros, per-
tencentes aos séculos XII a XVI.
El14.4. Fazer inferências, fundamen-
tando.

El14.3.ldentificar [ ... ] ideias princi-


pais, [ ... ] e universos de referência,
justificando.

El14.9.ldentificar e explicitar o valor


dos recursos expressivos menciona-
dos no Programa.

rmI PPT
Fernão Lopes, Crónica de D. João f -
Texto analisado

117
Afirmação da consciência coletiva I Atores (individuais e coletivos)

1.1. Crise de 1383·1385:

· Crise dinástica provocada pela mor-


te de D. Fernando (sem filho varão
legítimo, tem apenas uma filha legí-
tima, D. Beatriz, casada com o rei de
Castela - perda da independência,
caso o trono lhe fosse concedido);

· Aclamação do Mestre de Avis, filho


ilegítimo de D. Pedra, como rei de
Portugal.

Educação Literária I Leitura

El14.2. Ler textos literários portu-


gueses de diferentes géneros, per-
tencentes aos séculos XII a XVI.
El14.3.ldentificar temas, ideias prin-
cipais, pontos de vista e universos de
referência, justificando.

EL 14.4. Fazer inferências, fundamen-


tando.

EL 14.6. Explicitar a estrutura do tex-


to: organização interna.

El14.9. Identificar e explícita r o valor


dos recursos expressivos menciona-
dos no Programa.

EL 15.2. Valorizar uma obra enquan-


to objeto simbólico, no plano do ima-
ginário individual e coletivo.

L7.2. Fazer inferências, fundamen-


tando.

L8.1. Selecionar criteriosamente in-


formação relevante.

118

Educação Literária I Leitura

28. Na primeira parte da Crónica de D. João l, relatam-se os acontecimentos ocorridos entre a


morte de D. Fernando e a subida ao trono de D. João I.

1.1. Com base no esquema abaixo, explicita o contexto que deu origem à crise da suces-
são de 1383-1385 e à aclamação do Mestre de Avis como rei de Portugal.

r
D. Pedro I
(ti 1357-1367)

D. (onstança

D.lnês
de Castro

D. Teresa
Lourenço

s~

.'

29. Leonor Ci Lo. D. Fernando

Teles '~@.!I (ti 1367-1383)


(O) Casamento

O Pretendente ao trono
Ligação ilegítima

'6 Período de reinado

João I
de Castela

30. Faz a leitura do capítulo 11 da Crónica de D. João /, em que o povo defende o Mestre de
Avis.

Aclamação do Mestre (capítulo 11)


Do alvoroço que foi na cidade cuidando que matavam o Meestre, e como aló foi
Alvaro Paaez e muitas gentes com ele.

o Page do Meestre que estava aa porta, como lhe disseram que fosse pela vila se-
gundo já era percebido', começou d'ir rijamente a galope em cima do cavalo em que
5 estava, dizendo altas vozes, braadando pela rua:

- Matom o Meestre! matom o Meestre nos Paaços da Rainha! Acorree ao Meestre


que matam!

E assi chegou a casa d'Alvora Paaez que era dali grande espaço".

As gentes que esto ouviam, saiam aa rua veer que cousa era; e começando de falar

10uüs com os outras, alvoroçavom-se nas voontades", e começavom de tomar armas cada
uú como melhor e mais asinha" podia. Alvoro Paaez que estava prestes e armado com üa
coifa" na cabeça segundo usança daquel tempo, cavalgou logo a pressa em cima duü
cavalo que anos havia que nom cavalgara; e todos seus aliados com ele, braadando a
quaes quer que achava dizendo:

15 - Acorramos ao Meestre, amigos, acorramos ao Meestre, ca" filho é dei-Rei dom

Pedra.

I. percebido: preparado. 2. espaço: distância. 3. voontades: disposições de espírito. 4. asinha: depressa. 5. coifa: parte da arma-
dura que defendia a cabeça. 6. ca: porque.
3. Fernãa l.opes, Crónica de D. João I

-
E assi braadavorn el e o Page indo pela rua.

Soarom as vozes do arroido pela cidade ouvindo todos braadar que matavam o
Meestre; e assi como viuva que rei nom tiinha, e como se lhe este ficara em logo de" ma-
20 rido, se moverom todos com mão armada, correndo a pressa pera u" deziam que se esta
fazia, par lhe darem vida e escusar" morte. Alvaro Paaez nom quedava d'ir pera alá 10,
braadando a todos:

- Acorramos ao Meestre, amigos, acorramos ao Meestre que matam sem por quê!':

A gente começou de se juntar a ele, e era tanta que era estranha causa de veer. Nom
25 cabiam pelas ruas principaes, e atrevessavom lagares escuses", desejando cada uü de
seer o primeiro; e preguntando uüs aos outros quem matava o Meestre, nom minguava"
quem responder que o matava o Conde Ioam Fernandez, per mandado da Rainha.

E per voontade de Deos todos feitos duü coraçom 14 com talente" de o vingar, como
forem" aas portas do Paaço que eram carradas", ante que chegassem, com espantosas
30 palavras começaram de dizer:

- U matam o Meestre? que é do Meestre? quem çarrou estas portas?

Ali eram ouvidos braados de desvairadas 18 maneiras. Taes i havia que certeficavom
que o Meestre era morto, pois as portas estavam çarradas, dizendo que as britassem
pera entrar dentro, e veeriam que era do Meestre, ou que causa era aquela.

35 Deles" braadavom por lenha, e que veesse lume pera poerem fogo aos Paaços, e

queimar o treedor'" e a aleivosa". Outros se afícavorrr" pedindo escaadas pera sobir


acima, pera veerem que era do Meestre; e em todo isto era o arroido atam grande que se
nom entendiam uüs com os outros, nem determinavam neüa" causa. E nom soomente
era isto aa porta dos Paaços, mas ainda arredar deles per u horneês e molheres podiam

40 estar.
Üas viinham com feixes de lenha, outras tragiam carqueija" pera acender o fogo
cuidando queimar o muro dos Paaços com ela, dizendo muitos doestos" contra a
Rainha.

De cima nom minguava quem braadar" que o Meestre era vivo, e o Conde Ioam
Fernandez morto; mas isto nom queria neuü creer, dizendo:

45 - Pois se vivo é, mostrae-no-lo e vee-lo-emos.

Entom os do Meestre veendo tam grande alvoroço como este, e que cada vez se
acendia mais, disserom que fosse sua mercee de se mostrar aaquelas gentes, doutra
guisa" poderiam quebrar as portas, ou lhe poer o fogo, e entrando assi dentro per força,
nom lhe poderiam depois tolher" de fazer o que quisessem.

50 Ali se mostrou o Meestre a üa grande janela que viinha sobre a rua onde estava Al-

varo Paaez e a mais força de gente, e disse:

- Amigos, apacificae vos, ca eu vivo e são som a Deos graças.

E tanta era a torvaçam deles, e assi tiinham já em creença que o Meestre era marta,
que taes havia i que aperfiavom'" que nom era aquele; porem conhecendo-o todos ela-
55 ramente, houverom gram prazer quando o virom, e deziam uús contra os outros:

- Ó que mal fez! pois que matou o treedor do Conde, que nom matou logo a aleivosa
com ele! Creedes em Deos30, ainda lhe há de viinr alguü mal per ela. Oolhae e veede que

119

7. logo de: em lugar de. 8. u: onde. 9. escusar: evitar. 10. alá: lá. 11. por quê: razão. 12. escusos: evitados. 13. nom minguava: não
faltava. 14. coraçom: desejo. 15. talente: propósito. 16. como forom: logo que chegaram. 17. çarradas: fechadas. 18. desvairadas:
contraditórias. 19. Deles: alguns deles. 20. treedor: traidor (alusão ao Conde Andeiro). 21. aleivosa: adúltera (alusão a D. Leonor

_ Teles). 22. aficauom: teimavam. 23. neüa: nenhuma. 24. carqueija: planta comum, que serve para atear fogo. 25. does/os: injú-
~rias. 26. braadar: bradasse; gritasse. 27. guisa: modo; maneira. 28. tolher: impedir. 29. aperfiauom: juravam. 30. Creedes em
~ Deos: Tão certo como Deus existir.

Afirmação da consciência coletiva I Atores (individuais e coletivos)

maldade tam grande, mandaram-no chamar onde ia já de seu caminho, pera o matarem

aqui per traiçom. Ó aleivosa! já nos matou uú senhor", e agora nos queria matar outra; 100

60 leixae-a, ca ainda há mal d'acabar por estas cousas que faz.

E sem duvida se eles entraram dentro", nom se escusara a Rainha de morte, e fora
maravilha quantos eram da sua parte e do Conde poderem escapar. O Meestre estava aa
janela, e todos oolhavom contra ele dizendo:

- Ó Senhor! como vos quiseram

65matar per treiçorn, beento'" seja Deos


que vos guardou desse treedor! Viinde-
-vos, dae ao demo esses Paaços, nom
sejaes lá mais.

E em dizendo esto, muitos chora-

70vom com prazer de o veer vivo. Veendo


el estonce que neüa duvida tiinha em
sua segurança, deceo afundo e caval-
gou com os seus acompanhado de to-
dolos outras que era maravilha de veer.

Os quaes mui ledos arredo r dele, braa-


75
davom dizendo:

- Que nos mandaes fazer, Senhor?


que querees que façamos?

E el lhe respondia, aadur" po-

80dendo seer ouvido, que lho gradecia


muito, mas que por estonce nom havia
deles mais mester". E assi encaminhou
pera os Paaços do Almirante u pousava
o Conde dom Ioam Afonso irmão da

85Rainha com que havia de comer. As


donas da cidade, pela rua per u el ia,
saiam todas aas janelas com prazer di-
zendo altas vozes:

- Mantenha-vos Deos, Senhor. Beento seja Deos que vos guardou de tamanha trai-
90 çom, qual vos tiinham bastecida"!

Ca neuú por estonce podia outra cousa cuidar.

E indo assi ata a entrada do Ressio, e o Conde viinha com todolos seus, e outras
bOÕS37 da cidade que o aguardavom, assi como Afons'Eanes Nogueira, e Martim Afonso
Valente, e Estevam Vaasquez Filipe, e Alvora do Rego, e outros fidalgos; e quando vio o
95 Meestre ir daquela guisa, foi-o abraçar com prazer e disse:

- Mantenha-vos Deos, Senhor. Sei que nos tirastes de grande cuidado, mas vós me-
reciees esta honra melhor que nós. Andae, vamos logo" comer.

E assi forom pera os Paaços u pousava o Conde.


Retrato de D. João I, autor anónimo, século XV

31. já nos matou uu senhor: alusão à morte de D. Fernando. 32. entrarom dentro: tivessem entrado. 33. beento: bendito. 34.
aadur: abaixo. 35. nom havia deles mais mester: não tinha mais necessidade deles. 36. bastecida: preparada. 37. boõs: homens
que participavam na administração municipal. 38. logo: imediatamente.

120

105

3'

3
3. Fernão Lopes, Crónica de D. João I


E estando eles por se asseentar aa mesa, disseram ao Meestre como os da cidade
100 queriam matar o Bisp039, e que faria bem de lhe ir acorrer; e o Meestre quisera alá ir".

Disse estonce o Conde:

om curees disso, Senhor, se o matarem, quer o matem quer norn": ca posto que
ele moira, nom minguará outro Bispo portuguees que vos serva melhor que ele.

Ao dito do Conde cessou" o Meestre de sua boa voontade, e o Bispo foi morto desta
105 guisa que se segue.

Fernão Lopes, Crónica de D. João I (textos escolhidos),


apreso crítica de Teresa Amado, Seara Nova/Comunicação, 1980 [pp. 95-100]

39. Bispo: bispo de Castela. 40. alo ir. lá ir. 41. quer o matem quer nome tanto faz que o matem como não matem. 42. cessou: acedeu.

3. Neste capítulo, relata-se um acontecimento com princípio, meio e fim.

3.1. Copia o esquema abaixo para o teu caderno e completa-o, resumindo numa frase
cada um dos momentos do relato.

Convocação
O pajem do Mestre grita pela cidade que mataram o Mestre;
o povo acode; chegam a casa de Álvaro Pais.
J,
Movimentação

Álvaro Pais ...

J,
Concentração

O povo junta-se a Álvaro Pais ...

J,
Manifestação

O povo chega ao paço ...

.J,
Aclamação

Convencido pelos que o rodeiam, o Mestre ...

J,
Dispersão
O Mestre sai do paço e ...
O Mestre atravessa a cidade e ...

3.1.1. Com base no esquema, explica de que forma se constrói o ritmo (crescente e/
ou decrescente) da narrativa.

3.2. Identifica e caracteriza os atores individuais e coletivos que se destacam em cada

::

momento. A informação da página seguinte pode ajudar-te.

to 3.3. Relaciona os espaços físicos em que decorre a ação com as personagens que neles se

3 movimentam.

3.1. Sequência:

· Movimentação: Álvaro Pais sai com


os seus homens e grita pela cidade
que é necessário acudir ao Mestre,
por ele ser filho de D. Pedro;

· Concentração: O povo junta-se a


Álvaro Pais e avança em direção ao
paço;

· Manifestação: O povo chega ao paço


e prepara-se para entrar no edificio;

· Aclamação: Convencido pelos que o


rodeiam, o Mestre dirige-se à janela
e mostra-se ao povo, sendo por ele
aclamado;

· Dispersão: O Mestre sai do paço e


convence o povo a dispersar. O Mes-
tre atravessa a cidade e diriqe-se ao
Paço do Almirante.

3.1.1, Construção da narrativa com


base em dois ritmos distintos:

· Movimentação -7 Concentração -7
Manifestação -7 Aclamação: ritmo
crescente até ao momento da acla-
mação (em que se atinge o clímax),
marcado simultaneamente pelo au·
mento da dramaticidade (curiosida-
de e solidariedade iniciais -7 emoção
e efusividade finais) e pela concentra-
ção espacial (ruas -7 paço -7 Janela).

· Dispersão: ritmo decrescente, no

momento da dispersão (anticlímax).


3.2. Identificação dos atores indivi-
duais e coletivos:

· Movimentação: Pajem do Mestre,


Álvaro Pais (atores individuais), povo
(ato r coletivo);

· Concentração: Alvaro Pais, pajem


do Mestre (atores individuais). alia-
dos de Alvaro Pais, povo (atores co-
letivos);

· Manifestação: povo (ator coletivo),


Alvaro Pais (ato r individual);

· Aclamação: povo (ator coletivo),


Mestre, Alvaro Pais (atores indivi-
duais);

· Dispersão: Mestre (ator individual),


povo (ator coletivo).

Caracterização dos atores:

· Povo: atitudes progressivamente


mais efusivas/emocionadas; com-
portamentos precipitados (concen-
tração) e carecentes de reflexão/mo-
deração (manifestação) - mesmo
após combinação prévia, há mo-
mentos de descontrolo; empenho na
defesa do Mestre;

· Alvaro Pais, seus aliados e pajem


do Mestre: empenhamento na de-
fesa do Mestre;

· Mestre: comportamento pondera-


do/refletido; atitude dialogante; ca-
pacidade de liderança (dispersão).

3.3. Relação espaços físicos/atores:

· ruas da cidade de Lisboa - espaços


abertos, públicos, frequentados pelo
povo e pelos atores individuais que
interagem com o povo (Alvaro Pais,
Mestre);

121
Afirmação da consciência coletiva I Atores (individuais e coletivos)

· palacio - espaço fechado, privado,


de acesso condicionado frequenta-
do pelos nobres/detentores do po-
der e do governo (Mestre, Alvaro
Pais);

· janela do palácio espaço integra-


do no palácio, em que o Mestre se
mostra e é aclamado pelo povo.
4.1.

a.4.

b.l

31. 2.
32. s.
e.3.
f.7.
9.6.

5. a. Posição subtil do narrador: cum-


primento do papel de historiador:

· registo de acontecimentos históri-


cos/factuais (objetividade):

· análise critica / interpretativa dos


acontecimentos narrados / com-
preensão da importância dos fato-
res psicológicos nos fenómenos
históricos (subjetividade) - cf. sen-
timento de crise nacional gerado
pela iminência da perda da inde-
pendência (subjacente à pretensa
morte do Mestre de Avis);

b. Carga política do episódio (par-


cialidade): criação de uma atmosfera
favorável à aclamação do Mestre de
Avis como rei de Portugal; legitima-
ção de uma dinastia nacional, embo-
ra por via bastarda.

Gramática

G18.1. Identificar funçóes sintáticas


mdicadas no Programa.

1. a. O povo - sujeito; percorreu a ci-


dade precipitadamente - predicado;
a cidade - complemento direto; pre-
cipitadamente - modificador (do gru-
poverbal).

b. Senhar - vocativo; permanecere-


mos aqui - predicado; aqui - predica-
tivo do sujeito.

33. Anoiteceu - predicado.


34. Dizem que o Mestre entrou no palá-
cio ao anoitecer - predicado; que o
Mestre entrou no palácio ao anoitecer

122

Informação

Atores individuais e atores coletivos

Na Crónica de O. João I a narrativa apeia-se em dois tipos de personagens: os grupos e os


indivíduos. Entre os primeiros, encontramos: as populações civis, em que se avantaja a de
Lisboa, seguidas das de várias outras cidades e vilas, e faz sentir a sua presença constante a
"arraia meúdo" não necessariamente localizada; e os grupos militares, seja os exércitos por-
tugueses (nas quatro grandes batalhas) e castelhanos (sempre numerosíssimos). seja os pe-
quenos contingentes que saem a tomar um castelo, pôr cerco a uma vila, realizar uma pilha-
gem para reabastecimento, ou simplesmente fazer negaças ao inimigo do outro lado da
fronteira. Entre os segundos, destacam-se [ ... ] D. João I, Nun' Álvares e D. Leonor.

As cenas em que são protagonistas os populares caracterizam-se em geral pelo movi-


mento, rápido, precipitado mesmo, como precipitados são os seus atos, não gastando muito
tempo a ponderar razões. Nos poucos casos em que há diálogo, é sob a forma de vozes, nem
sempre identificadas, que se isolam da multidão, representando-a face a um interlocutor
externo, ou dirigindo-se aos próprios companheiros.

r:
Teresa Amado, "O texto da Crónica de D. João in Crónica de D. João I
(textos escolhidos), Seara Nova/Comunicação, 1980 [pp. 38-39, com supressões]

Coluna A

35. A expressão "e assi cama viuva


que rei nom tiintia, e como se lhe
este ficara em logo de marido"
(11.19-20)

36. A expressão «: U matam o


Meestre? que é do Meestre? quem
çarrou estas portas?" (I. 31)
37. A personagem coletiva povo
38. A expressão "Nom cabiam pelas
ruas principaes, e atrevessavom
lagares escusas, desejando cada
uú de seer o primeiro" (11. 24-26)
39. O carácter subjetivo e analítico do
cronista
40. Para imprimir diferentes ritmos
à narrativa, o narrador
41. O recurso ao diálogo
42. Foca a tua atenção no estilo da escrita cronística de Fernão Lopes.

4.1. Faz corresponder a cada segmento textual da coluna A um único segmento textual
da coluna B, de modo a obteres uma informação adequada ao sentido do texto.

Coluna B

43. corresponde a um curto momento de diálogo, em


que uma voz não identificada representa a
multidão.
44. é apresentada de forma anónima, com recurso
a nomes comuns coletivos e a pronomes que
remetem para a ideia de indeterminação

("a gente", "outros";

45. reflete-se no comentário "e era tanta que era


estranha causa de veer" (I. 24).
46. integra uma comparação que remete para a crise
de sucessão.
47. remete para a movimentação rápida e precipitada
do povo, aliada à ausência de ponderação.
48. cria um efeito de representação direta dos
acontecimentos, funcionando como princípio
legitimado r de historiografia.
49. recorre à alternância entre momentos de narração
(ritmo rápido) e de diálogo (ritmo lento).
sugerindo o carácter quase "cinematográfico" da
escrita.
50. Mostra como os seguintes tópicos se encontram presentes neste capítulo da Crónica:
51. posição subtil do narrador (objetividade / subjetividade);
52. carga política do episódio (parcialidade).
3. Fernão Lopes, Crónica de D. João I

Gramática

53. Analisa sintaticamente as frases abaixo.


54. O povo percorreu a cidade precipitadamente.
55. - Senhor, permaneceremos aqui?
56. Anoiteceu.
57. Dizem que o Mestre entrou no palácio ao anoitecer.

1.1. Identifica o(s) tipo(s) de sujeito presente(s) em cada frase.

58. Escreve frases relacionadas com o texto que apresentem as seguintes estruturas sintáticas.
59. Sujeito composto + predicado (verbo acorrer + complemento indireto + modificador)
60. Vocativo + sujeito nulo subentendido + predicado (verbo vir + complemento oblíquo)
61. Sujeito simples + predicado (verbo defender + complemento agente da passiva + mo-
dificador)

Ver Síntese Informativa, p. 373

Oralidade I Escrita

62. Visiona um excerto do documentário "Grandes Batalhas de Portugal - Batalha de


Aljubarrota" (RTPl, em que se apresenta informação sobre o contexto político inerente à
Crise de 1383-1385 e à aclamação do Mestre de Avis como novo rei de Portugal.

Ao longo do documentário, são ilustradas várias perspetivas sobre o mesmo assunto.

- complemento direto; o Mestre - su-


jeito; entrou no palácio ao anoitecer -
predicado; no palácio - complemen-
to oblíquo; ao anoitecer - modificador
(do grupo verbal).

1.1. a. Sujeito simples.

63. Sujeito nulo subentendido.

64. Sujeito nulo expletivo.

d. Sujeito nulo indeterminado (su-


bordinante); sujeito simples (subor-
dinada).

2. Exemplos:

a. Alvaro Pais e o povo acorreram ao


Mestre durante o dia.

65. - Mestre, vinde à janela!

66. O Mestre foi defendido pelo povo


naquela época.

António Castro Henriques

Francisco García Fitz

João Gouveia Monteiro

Oralidade I Escrita

01.3. Distinguir informação subjeti-


va de informação objetiva.

02.1. Tomar notas, organizando-as.


Ell.l. Escrever textos variados, res-
peitando as marcas do género: [ ... ]
exposição sobre um tema [ ... J.
E12.2. Mobilizar informação adequa-
da ao tema.

E12.5. Observar os princípios do tra-


balho intelectual: identificação das
fontes utilizadas [ ... J.

rEI Vídeo
Documentário "Batalha de Aljubarro-
ta" [6 min 58 s]
rElPOF
Grelha de análise de documentá rio e
Guião de produção de exposição so-
bre um tema disponiveis nos Recursos
do Projeto e no Caderno do Professor
- Materiais de Apoio (versão impressa).

1.1. a. Preocupação com a perda da


independência e de influência políti-
ca face ao favorecimento de várias
famílias exiladas oriundas de Castela
e da Galiza. b. Domínio das casas
reais peninsulares por parte da Casa
Real de Trastâmara (Castela), através
de relações matrimoniais (Juan I de
Castela precipita este plano ao casar-
-se com D. Beatriz, ligação interpreta-
da, em Portugal, como uma tentativa
de anexação). c. Pretendentes ao tro-
no: D. Beatriz - partido de D. Leonor
Teles e dos que defendem a manu-
tenção do statu quo; D. João, Mestre
de Avis - partido dos filhos segundos
e dos filhos bastardos, sem possibili-
dade de afirmação na cena política
portuguesa; D. João de Castro - parti-
do dos que não se reveem em ne-
nhum dos partidos anteriores.

Sugestão:

Encontra-se disponível, no Caderno


de Atividades (pp. 48-50), uma ficha
de Leitura I Gramática com base na
apreciação crítica intitulada "Aljubar-
rota':

1.1. Toma notas que te permitam responder às questões seguintes, associadas à crise di-
nástica vivida em Portugal aquando da morte de D. Fernando I.

67. Quais as principais preocupações da nobreza portuguesa, de acordo com António


Castro Henriques?
68. Qual a intenção política da Casa Real de Castela, na perspetiva de Francisco García
Fitz?
69. Quais os pretendentes ao trono de Portugal e que partidos representavam, se-
gundo João Gouveia Monteiro?
70. Com base na informação exposta no documentá rio, redige uma exposição escrita em
que apresentes os dados mais relevantes da Crise de 1383-1385 e em que sintetizes as
várias perspetivas apresentadas quanto ao assunto.

O teu texto deve apresentar as seguintes características:

· carácter demonstrativo;
· elucidação evidente do tema (fundamentação das ideias);

s; • concisão e objetividade;

lei

~ • identificação das fontes util izadas. Ver Exposição sobre um tema, p. 52

123
Informação e Aplicação

Predicativo do complemento direto


Gramática

G18.1. Identificar funções sintáticas


indicadas no Programa.

124

Observação

Observa as frases abaixo, focando a tua atenção nos constituintes destacados.

Todos consideram Fernão Lopes um cronista excecional.


Os leitores acham Fernão Lopes um bom cronista.

A Crónica de D. João I tornou Fernão Lopes um cronista bastante apreciado.

Os constituintes destacados:

· são indispensáveis às frases, completando o sentido dos verbos (consideram, acham, tornou);
· ligam-se a outro constituinte das frases (Fernão Lopes).

Informação e exemplos

Os constituintes destacados nas frases abaixo desempenham a função sintática de predi-


cativo do complemento direto.

Ex.: Todos consideram Fernão Lopes um cronista excecional.

Os leitores acham Fernão Lopes um bom cronista.

2 O predicativo do complemento direto é uma função sintática desempenhada por consti-


tuintes selecionados por verbos transitivos-predicativos, que se relaciona diretamente
com o complemento direto. Trata-se de uma função sintática indispensável à frase, que
qualifica e completa o complemento ao qual se junta, por exigência do verbo.

Ex.: Todos consideram Fernão Lopes um cronista excecional.

Os leitores acham Fernão Lopes um bom cronista.

Os leitores classificam Rui de Pina como um bom cronista.

A sua sensibilidade torna os cronistas bastante apreciados.

O rei nomeou Fernão Lopes cronista do reino.

~ ~ ~

[ Verbo transitivo-predicativo) [complemento direto) [predicativo do complemento direto )

3 Quando pronominalizamos o complemento direto, o predicativo do complemento direto


permanece inalterável.

Ex.: Os leitores acham Fernão Lopes um bom cronista.

Os leitores acham-no um bom cronista.

4 Em alguns casos, o constituinte que desempenha a função sintática de predicativo do


complemento direto pode ocorrer junto ao verbo que o seleciona.

Ex.: O rei nomeou cronista do reino Fernão Lopes.

5 Quando o predicativo do complemento direto é um adjetivo, concorda em género e em


número com o complemento direto.

Ex.: Todos consideram Fernão Lopes excecional.

Todos consideram os cronistas medievais excecionais.

Os leitores acham as crónicas de Fernão Lopes interessantes e bem escritas.


Predicativo do complemento direto

6 Entre os verbos que, geralmente, selecionam predicativo do complemento direto, podem


destacar-se os seguintes: apelidar, cognominar, considerar (como), denominar, eleger,
nomear, proclamar, reputar, saqrar, aceitar por, dar por, ter por, haver por, tomar por.

Ex.: Cognominaram D. João I o da Boa Memória.

7 Há verbos que só selecionam predicativo do complemento direto em determinados con-


textos. É o caso de achar, aclamar, chamar, constituir, coroar, crer, declarar, descrever,
encontrar, estimar, fazer, instituir, julgar (por, como), jurar, pintar, representar, supor, tornar,
ungir.

Ex.: O povo aclamou o Mestre de Avis defensor de Portugal.

8 As relações entre os dois constituintes - complemento direto I predicativo do comple-


mento direto - mantêm-se na voz passiva - sujeito I predicativo do sujeito.

Ex.: O rei nomeou Fernão Lopes cronista do reino. (predicativo do complemento direto)
Fernão Lopes foi nomeado cronista do reino pelo rei. (predicativo do sujeito)

Exercícios

71. Seleciona, em cada um dos itens, a única opção que permite obter uma afirmação verda-
deira.

1.1. A frase em que o constituinte destacado desempenha a função sintática de predica-


tivo do complemento direto é

72. Algumas crónicas medievais são belíssimas.


73. Já li algumas crónicas medievais belíssimas.
74. Considero algumas crónicas medievais belíssimas.
75. Há crónicas medievais belíssimas.

1.2. A coloquialidade e o dinamismo são características que tornam extraordinárias as cróni-


cas de Fernão Lopes.

Na frase acima, o constituinte que desempenha a função sintática de predicativo do


complemento direto é

76. tornam extraordinárias as crónicas de Fernão Lopes. c. as crónicas.


77. extraordinárias. d. que.

1.3. O povo julgou o Mestre de A vis morto.

O verbo presente na frase acima classifica-se como

78. copulativo.
79. transitivo direto e indireto.
80. transitivo-predicativo.
81. intransitivo.
82. Atenta na frase abaixo.

O povo considerou o Conde Andeiro traidor.

2.1. Faz a análise sintática da frase.

2.2. Reescreve a frase na passiva.

2.2.1. Analisa sintaticamente a frase passiva.

Exercícios
1.1. c.

1.2. b.

1.3. c.

2.1. O povo - sujeito simples; const-


derou o Conde Andeiro traidor - predi-
cada; o conde Andeiro - complernen-
to direto; traidor - predicativo do
complemento direto.

2.2. O conde Andeiro foi considerado


traidor pelo povo.

2.2.1. O Conde Andetro - sujeito sim-


ples; foi considerado traidor pelo povo
- predicado; traidor - predicativo do
sujeito; pelo povo complemento
agente da passiva.

No Caderno de Atividades, apresen


tam-se mais exercicios sobre este con-
teúdo.

125
Afirmação da consciência coletiva I Atores (individuais e coletivos)

Educação literária I Oral idade

El14.2. Ler textos literários portu-


gueses de diferentes géneros, perten-
centes aos séculos XII a XVI.

E114.3. Identificar [ ... ] ideias princi-


pais [ ... ], justificando.

EL 14.4. Fazer inferências, fundamen-


tando.

EL 14.5. Analisar o ponto de vista das


diferentes personagens.

EL 14.6. Explicitar a estrutura do tex-


to: organização interna.

EL 14.9. Identificar e explicitar o valor


dos recursos expressivos menciona-
dos no Programa.

01.4. Fazer inferências.

1.1. a. V; b. V; c. F -Lisboa tem impor-


tância para D. João de Avis por moti-
vos económicos. Ou Lisboa tem im-
portância para Juan I por motivos
políticos; d. V; e. F - O rei inglês mos-
tra-se renitente em ajudar, mas acaba
por fazê-lo. f. V.

3) "O Cerco de Lisboa"


Transcrição do texto

Numa tentativa de normalizar a si-


tuação e assegurar o trono da sua
mulher, Juan I de Castela entra em
Portugal e ocupa a cidade de Santa-
rérn, obrigando a rainha de Portugal,
D. Leonor Teles Menezes, pouco ca-
paz de travar a resistência, a abdicar
da regência do reino, exilando-a para
um convento.

A resistência portuguesa e o exér-


cito castelhano encontram-se pela
primeira vez a 6 de abril de 1384, na
Batalha dos Atoleiros. Nuno Álvares
Pereira soma mais uma vitória para a
fação de Avis, mas o confronto nada
resolve. Depois da derrota na Batalha
dos Atoleiros, Juan I de Castela retira
para Lisboa, cerca a capital e com o
auxílio da sua marinha bloqueia o
porto da cidade e controla o Tejo. O
cerco era uma séria ameaça à causa
de D. João de Avis, uma vez que sem
Lisboa, sem o seu comércio e o di-
nheiro dele afluente, pouco poderia
ser feito contra Castela. Por seu turno,
Juan I precisava de Lisboa por moti-
vos de ordem política, uma vez que
nem ele, nem a sua mulher haviam
sido coroados e, sem esta importante
cerimónia, eram apenas pretenden-
tes à coroa.

O passo seguinte do futuro rei de


Portugal foi ver a sua posição reco-
nhecida além-fronteiras. D. João de
Avis pede auxílio militar ao rei Ricardo
11 de Inglaterra, um rapaz de 17 anos,
controlado pelo seu regente e tio,
João de Gaunt, Duque de Lencastre,
que inicialmente se mostra reticente
em aceder ao pedido de ajuda, mas
por fim envia para Portugal cerca de
600 archeiros, homens com experiên-
cia de combate.

126

1.Nem uú falamento deve mais vizinho seer deste capitulo que havees ouvido: referência ao capítulo anterior, em que se descre-
veu o acampamento castelhano. 2.fouteza: afoiteza, coragem. 3. como: logo que. 4.lizirias: lezírias; terras que se encontram nas
margens dos rios. 5. açalmamento: abastecimento. 6. prougue: agradou. 7. deles: alguns. 8. contra: em direção a. 9. voz: partido.
10. repairamento: fortificação. 11. caramanchões: coberturas. 12. viratões: setas grandes.

ra
.
25 de
de
os

m
30
te
i
h
qu

hf
j
35 CO
Educação Literária I Oralidade

83. Ouve um texto expositivo, em que se apresenta o contexto que deu origem ao cerco de~

Lisboa. ~

1.1. Indica a veracidade/falsidade das afirmações abaixo, de acordo com o sentido do


texto, e corrige as afirmações falsas.

84. Sem força para resistir a Juan I, D. LeonorTeles abdica da regência do reino.
85. O cerco de Lisboa surge na sequência do resultado da Batalha dos Atoleiros.
86. Lisboa tem importância para D. João de Avis por motivos políticos.
87. D. João de Avis pede ajuda ao rei de Inglaterra.
88. D. João de Avis é prontamente ajudado por Ricardo 11.
89. O cerco de Lisboa dura vários meses.

1.2. Lê o texto em que Fernão Lopes relata acontecimentos relativos a este momento da
História de Portugal.

Tribulações do cerco (capítulo 115)


Per que guisa estava a cidade corregida pera se defender, quando el-Reí de Cas-
tela pôs cerco sobr'ela.

Nem uü falamento deve mais vizinho seer deste capitulo que havees ouvido', que
poermos logo aqui brevemente de que guisa estava a cidade, jazendo el-Rei de Castela
5 sobr'ela; e per que modo poinha em si guarda o Meestre, e as gentes que dentro eram,
por nom receber dano de seus êmigos; e o esforço e fouteza" que contra eles mostravorn,
em quanto assi esteve cercada.

Onde sabee que corno" o Meestre e os da cidade souberam a viinda del-Rei de Cas-
tela, e esperaram seu grande e poderoso cerco, logo foi ordenado de recolherem pera a

10cidade os mais mantiimentos que haver podessem, as si de pam e carnes, come quaes
quer outras cousas. E iam-se muitos aas Iizirias" em barcas e batees, depois que Santa-
rem esteve por Castela, e dali tragiam muitos gaados mortos que salgavam em tinas, e
outras cousas que fezeram grande açalmarnento": e colheram-se dentra aa cidade mui-
tos lavradores com as molheres e filhos, e causas que tiinham; e doutras pessoas da co-

'5marca d'arredor, aqueles a que prougue" de o fazer; e deles' passaram o Tejo com seus
gaados e bestas e o que levar poderem, e se foram contra" Setuval, e pera Palmela; ou-
tras ficaram na cidade e nom quiseram dali partir; e taes i houve que poseram todo o
seu, e ficaram nas vilas que por Castela tomaram voz9•

Os muras todos da cidade nom haviam mingua de boom repairamento": e em se-


20 teenta e sete torres que ela teem a redor de si, forom feitos fortes caramanchões" de
madeira, os quaes eram bem fornecidos d'escudos e lanças e dardos e beestas de torno,
e doutras maneiras com grande avondança de muitos víratões",

40 ne

te
o

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d

va

22
25
3. Fernão Lopes, Crónica de D. João I

Iluminura do Cerco de Brest, in Jean de Wavrin, Chronique d'Angleterre, século XV

Havia mais em estas torres muitas lanças d'arrnas e bacinetes", e doutras armadu-
ras, que reluziam tantas que bem mostrava cada üa torre per si que abastante era pera se
25 defender. Em muitas delas estavam troõs" bem acompanhados de pedras, e bandeiras
de sam Jorge, e das armas do reino e da cidade, e doutros alguüs senhores e capitães que
os poinham nas torres que lhes eram encomendadas".

E ordenou o Meestre com as gentes da cidade que fosse repartida a guarda dos
muros pelos fidalgos e cidadãos honrados": aos quaes derom certas quadrilhas" e bees-

e hornêes d'arrnas pera ajuda de cada uü guardar bem a sua. Em cada quadrilha
lO teiros
havia uü sino pera repicar quando tal causa vissem, e como 18 cada uú ouvia o sino da sua
quadrilha, logo todos rijamente corriam pera ela; por quanto aas vezes os que tiinham
cárrego das torres viinham espaçar" pela cidade, e leixavom-nas encomendadas a
horneês de que muito fiavam; outras vezes nom ficavam em elas senom as atalaias; mas

15 como davam aa campãa", logo os muros eram cheos, e muita gente fora. [ ... ]

E nom embargando" todo isto, o Meestre que sobre todos tiinha especial cuidado da
guarda e governança da cidade, dando seu corpo a mui breve sono, requeria" per mui-
tas vezes de noite os muros e torres com tachas acesas ante si, bem acompanhado de
muitos que sempre consigo levava. Nom havia i neuüs revees" dos que haviam de velar,

40 nem tal a que esqueecesse causa do que lhe fosse encomendado; mas todos muito pres-
tes a fazer o que lhe mandavam, de guisa que, a todo boom regimento que o Meestre
ordenava, nom minguava avondança de trigosos" executores.

De triinta e oito portas que há na cidade, as doze eram todo o dia abertas, encomen-
dadas a boõs hornêes d'armas que tiinham cuidado de as guardar; pelas quaes neüa

45 pessoa,que muito conhecida nom fosse, havia d'entrar nem sair, sem primeiro saber em
certo por que razom ia ou viinha; e ali atrevessavom paos com tavoado pera dormir os
que tal cuidado tiinharn, por de noite seerem deles acompanhadas, e neuü malicioso
seer atrevido de cometer neuü erro.

E dalgüas portas tiinham certas pessoas de noite as chaves, por razom dos batees
\O que taes horas iam e viinham d'aalem com trigo e outros mantiimentos, segundo leedes
em seu logar; outras chaves apanhava" uü homem cada noite de que o Meestre muito

13. bacinetes: peças de armadura para proteger a cabeça. 14. troõs: peças de artilharia que arremessavam pedras. 15. encomen-
dadas: confiadas à sua guarda. 16. honrados: de boa categoria social; burgueses. 17. quadrilhas: locais da muralha onde esta-
vam os vigias. 18. como: logo que. 19. espaçar: espairecer; folgar. 20. campãa: sino. 21. nom embargando: não obstante.
22. requeria: visitava. 23. revees: rebeldes; soldados que faltavam à chamada. desobedientes. 24. trigosos: diligentes; rápidos.
25. apanhava: recolhia.

Bloqueada por terra e pelo rio, a


cidade perde as esperanças de ser li-
bertada pelo exército de D. João de
Avis, demasiado pequeno para arris-
car um confronto direto com os caste-
lhanos. Cercada e passando fome,
Lisboa passa um mau bocado, mas
não se rende, resistindo sempre, com
uma bravura que espanta, liderada
por D. João de Avis. Cerca de quatro
meses depois do inicio do cerco, uma
epidemia de peste negra surge no
exército castelhano, forçando Juan I a
retirar para Castela a 3 de setembro.
Lisboa pode finalmente respirar de
alívio.

http.órn.dnoncas.pt/irnpressa/
revista/1936241194399-historia [Consult.
20-10-2014, adapt. e com supressôes]

127
Afirmação da consciência coletiva I Atares (individuais e coletivos)

fiava, e veendo primeiro como as portas ficavam fechadas, lhas levava todas aos Paaçosj

onde pousava. [ ... ] ª


Na ribeira havia feitas duas grandes e fortes estacadas" de grossos e valentes paos,

55que o Meestre mandara fazer ante que el-Rei de Castela veesse, por defender o combato
da ribeira; e eram feitas des" onde o mar mais longe espraia ataa terra junto com a ci-
dade. E üa foi caminho de Santos, a fundo" da torre da atalaia contra aquela parte, onde
entendeo que el-Rei poeria seu arreal'": outra fezerom no outro cabo da cidade junto
com o muro dos fornos da cal contra o moesteiro de Santa Clara; as quaes eram

60d'estacadas dobradas e assi bastas, que neuü de cavalo podia passar per elas, e tam
pouco os horneês de pee sem primeiro sobindo per cima da altura dos paos, que lhe
seeria grave causa de fazer; e antre as ordeês" das dobradas estacas havia espaço sem
pedra deitada, em que uü batel podesse caber sem remos, postos através, se comprisse"
de se ali colher.

65 Nom leixavom os da cidade, por seerem assi cercados, de fazer a barvacãa" d'arredor

do muro da parte do arreal, des a porta de Santa Caterina, ataa torre d'Alvoro Paaez, que
nom era ainda feita, que seeriam dous tiros de beesta; e as moças sem neuü medo, apa-
nhado pedra pelas herdades, cantavam altas vozes dizendo:

70

Esta é Lixboa prezada,


mirá -la e leixá -Ia.

Se quiserdes carneiro,
qual derom ao Andeiro;
se quiserdes cabrito,
qual derom ao Bispo,

75 e
outras razões semelhantes. E quando os êmigos os torvar" queriam, eram postos em
aquel cuidado em que forom os filhos de Israel, quando Rei Serges", filho de Rei Daria,
deu lecença ao profeta Neemias que refezesse os muros de Jerusalem; que guerreados
pelos vezinhos d'arredor, que os nom alçassem, com üa mão poinham a pedra, e na
outra tiinham a espada pera se defender; e os Portugueeses fazendo tal obra, tiinham as

armas junto consigo, com que se defendiam dos êmigos quando se trabalhavorn" de os
80
embargar, que a nom fezessem.

As outras causas que perteenciam ao regimento da cidade, todas eram postas em


boa e igual ordenança; i nom havia nêuü que com outro levantasse arroido nem lhe em-
peecesse per talentosos" excessos, mas todos usavam d'amigavel concordia, acornpa-
85 nhada de proveito comuü.

Ó que fremosa causa era de veer! UÜ tam alto e poderoso senhor como el-Rei de
Castela, com tanta multidom de gentes assi per mar come per terra, postas em tam
grande e boa ordenança, teer cercada tam nobre cidade! E ela assi guarnecida contra ele
de gentes e d'arrnas com taes avísamentos" por sua guarda e defensom! Em tanto que

90diziam os que o virom, que tam fremoso cerco de cidade nom era em memoria d'horneês
que fosse visto de mui longos anos atá aquel tempo.

Fernão Lopes, Op. cito [pp. 170-176, com supressões]

26. estacadas: cercas feitas de estacas. 27. des: perto; junto. 28. afunda: por baixo. 29. arreal: arraial; acampamento. 30. ordeês:
fileiras. 31. se comprisse: se fosse necessário. 32. baruacãa: muro exterior da fortaleza. 33. toruar: estorvar. 34. Rei Serges: Xerxes,
rei da Pérsia. 35. trabalhavam: procuravam; se esforçavam. 36. talentosos: provocados pelo desejo imoderado. 37. auisamentos:
preparativos; defesas.

128
3. Fernão Lopes, Crónica de D. João I

90. Este capítulo encontra-se estruturado em três partes.


2.1. Delimita-as, fundamentando.
91. Neste capítulo, focam-se os preparativos a que a cidade de Lisboa é submetida antes de
ser cercada pelos castelhanos.

3.1. Reproduz o esquema abaixo no teu caderno e completa-o, dando conta dos prepa-
rativos em causa.

Preparativos face à iminência do cerco

.J, .J,
Alimentação Defesa

Muros ) Portas da cidade Ribeira

J, J, .J,
a. b. c. d.

92. Atenta nos vários atores - individuais e coletivos - que intervêm nos acontecimentos
relatados.

4.1. Identifica o ator individual que se destaca, explicitando os traços do seu perfil que se
evidenciam neste capítulo.

4.2. Analisa o comportamento dos atores coletivos:

93. lavradores;
94. fidalgos e cidadãos honrados, besteiras e homens de armas;
95. moças.
96. A prosa cronística de Fernão Lopes caracteriza-se pelo coloquialismo, pela vivacidade e
pelo dinamismo com que os acontecimentos são relatados.

5.1. Transcreve do texto expressões que exemplifiquem os aspetos a seguir referidos.

a. Interpelação do interlocutor (narratário), recorrendo à 2.a pessoa do


plural

b. Utilização do verbo ouvir, sugerindo a interação oral


Coloquialismo
(apesar de se tratar de um texto escrito)

c. Reprodução de cantigas populares


d. Emprego da frase exclamativa

e. Pormenorização dos factos

Visualismo f. Utilização de vocabulário relacionado com os sentidos


e dinamismo (com destaque para a visão)
g. Recurso à enumeração gradativa
h. Emprego da comparação com função de concretização

2.1. Estrutura do texto (organização


interna):

· Introdução (11.1-7) - ccnrextuallza-


ção do episódio a narrar na estrutu-
ra global da obra (cf. referência ao
episódio anteriormente relatado e
síntese do assunto desenvolvido no
capítulo); preparativos face à imi-
nência do cerco, atitudes dos inter-
venientes);

· Desenvolvimento (11. 8-85) - relato


pormenorizado dos acontecimen-
tos relativos à preparação do cerco;

· Conclusão (11. 86-91) - comentário


apreciativo dos acontecimentos re-
latados, com destaque para a atitu-
de de solidariedade e para a cora-
gem dos intervenientes.

3.1. a. Abastecimento de pão, carne


(recolhida das lezírias e preservada
em sal) e outros mantimentos.

b. Fortificação dos muros; construção


de caramanchões de madeira nas
torres; apetrechamento das torres
com armas; distribuição da guarda
dos muros pelos nobres e burgueses.
c. Manutenção de 12 portas abertas
durante o dia, guardadas por solda-
dos; distribuição da guarda noturna
de algumas portas.

d. Construção de duas cercas de esta-


cas; montagem do acampamento
junto a uma das cercas; construção de
um muro exterior ao acampamento.
4.1. Mestre de Avis: diligente relati-
vamente à organização da defesa da
cidade, com capacidade tática (ante-
cipação dos movimentos do adversá-
rio), de liderança e de motivação (re-
partição da guarda dos muros e das
portas por homens de valor e de
confiança).
4.2. a. Lavradores - classe social ca-
racterizada por diferentes pontos de
vista (a favor dos portugueses vs. a
favor dos castelhanos) e atitudes (co-
ragem I empenho na defesa da cida-
de VS. cobardia I fuga).

b. Nobres, burgueses e soldados


(besteiros e homens de armas) - ca-
racterizados pelo empenho ativo na
defesa da cidade (responsabilidade
pela guarda de muros e de portas da
cidade).

c. Raparigas do povo - contribuição


na preparação da defesa (recolha de
pedras), articulada com a alegria do
canto, sugerindo um clima de solida-
riedade, confiança e bem-estar.

5.1. a., b. "que bovees ouvido" (I. 3);


"sabee" (I. 8); "leedes" (I. 50).

e. "Esta é Lixboa prezada (. .. ) qual de-


ram ao Bispo," (11. 69-74).

d., f. "O que fremosa cousa era de


veer!" (I. 86).

e. "De triinta e oito partas (. .. ) cometer


neuü erro." (11. 43-48).

9. "lanças e dardos e beestas de torno, e


doutras maneiras com grande avon-
dança de muitos viratões" (11. 21 -22).
h. comparação entre os portugueses
e os filhos de Israel da época do pro-
feta Neemias (11. 76-79).

129
Afirmação da consciência coletiva I Atores (individuais e coletivos)

leitura

l7.4. Explicitar o sentido global do


texto, fundamentando.

l7.6. Explicitar, em textos apresenta-


dos em diversos suportes, marcas dos
seguintes géneros: [ ... ] apreciação
crítica.

1.1. a. Monografia (obra acerca de


um só assunto) sobre o cerco de Lis-
boa de 1384:

· análise bem documentada;

· título que alude à peste;

· seleção iconográfica profusa e de


qualidade;

· inclusão de plantas da autoria de A.

Vieira da Silva, mapas e esquemas


interpretativos do autor.

b. Comentário crítico de carácter apre-


ciativo: qualidade do autor (encarado
como grande especialista da "medie-
validade da capital portuguesa; I. 9) e
da obra:

· "uma esmerada análise da documen-


tação conhecida; 11. 9-10 (cf. adjetivo
anteposto);

· 'uma narrativo rigoroso mos muito


acessível';11. 11-12 (d. adjetivo no
grau superlativo absoluto analitico);

· "O título do obra é muito sugestivo';


I. 15 (cf. adjetivo no grau superlativo
absoluto analítico);

· "Uma cuidado e profuso seleção ico-


noqrática" I. 19 (d. dupla adjetivação,
anteposta ao nome);

· elemento não verbal: apreciação da

obra como muito boa (4 estrelas).


1.2. a. e b. Estrutura característica
do género textual apreciação crítica
constituída por:

· título da obra sobre a qual incide a


apreciação;

· identificação do autor e do ano em

que a obra foi publicada;

· identificação do recenseador/crítico;

· atribuição de classificação (estrelas);

· corpo da crítica:

- apresentação da obra, por meio de


uma breve contextualização do te-
ma (11. 1-7);

- explicitação das características do


livro, em articulação com comen-
tários criticos, partindo de aspetos
de ordem temátíca para aspetos
de ordem icónica e icónico-verba/
(imagens, plantas, mapas, esque-
mas interpreta ti vos).

Sugestão:

Esta atividade poderá ser com ple-


mentada com um trabalho de análise
comparativa sobre apreciações críti-
cas de outras obras relacionadas com
o mesmo tema.

Ex.: Júlia Nery, Crónico de Brites, Sex-


tante, 2010; José Saramago, História
do Cerco de Lisboa, Porto Editora, 2014
(obra referente ao cerco de 1147)

130

Leitura

97. Lê a apreciação crítica do livro A vitória do quarto cavaleiro, uma obra sobre o cerco de
Lisboa.

A vitória do quarto cavaleiro:


o cerco de Lisboa de 1384
de MARTINS, Miguel Gomes
recenseador: José Manuel Garcia, 2009

Apreciação: ****
Entre os episódios que marcaram de forma
mais dramática a história de Lisboa encontra-se
o cerco de que a cidade foi alvo em 1384. Este
acontecimento insere-se nessa conjuntura tão

5conturbada que denominamos crise revolucio-


nária de 1383-1385 e que, até agora, não havia
ainda sido alvo da monografia que merecia. Mí-
guel Gomes Martins, que conhece como nin-
guém a medievalidade da capital portuguesa, faz uma esmerada análise da do-

lO cumentação conhecida, com destaque para a notável primeira parte da Crónica


de D, João 1, de Fernão Lopes, a qual permitiu ao autor uma narrativa rigorosa
mas muito acessível do processo da preparação e do decorrer da ofensiva de
mais de 20 000 castelhanos contra a capital portuguesa e da forma como foi pa-
rada.

15 O título da obra é muito sugestivo pois alude à peste (o quarto cavaleiro) que

então vitimou os castelhanos e os levou a abandonar o cerco, que durava há


quase quatro meses, numa altura em que os lisboetas, que seriam cerca de uns
25 000, estavam quase no ponto de rotura, devido à fome.

Uma cuidada e profusa seleção iconográfica ajuda o leitor a situar os eventos

20no espaço de Lisboa medieval, então envolvida pela forte e extensa cerca fernan-
dina construída em grande parte entre 1373 e 1375, traçada em esmeradas plan-
tas por A. Vieira da Silva, a que o autor juntou mapas e esquemas interpretativos
das forças em confronto.

http://www.leitura.gu/benkian.pt/index.php?area=ro/&task=view&id=30368
[Consult. 21-10-2014J

1.1. Explicita o sentido global da crítica, tendo em conta os seguintes aspetos:

98. características do livro em apreciação;


99. comentário crítico do recenseador relativamente ao livro.

1.2. Analisa a estrutura interna da crítica apresentada:

100. dividindo o texto em partes;


101. sintetizando o assunto de cada parte,

10
Afirmação da consciência coletiva I Atares (individuais e coletivos)

logo por lhe acorrerem". Os da cidade como ouviam o repico, leixavam o sono, e tomavom as armas
e saía muita gente, e defendiam-nos aas beestas se compría", ferindo-se aas vezes düa parte e dou-

15tra; porem nunca foi vez que tomassem alguü, salvo üa" que certos batees estavom em Ribatejo com
triigo, e forom descubertos per uü homem natural d'Almadãa, e tomados per os Castelãos; e el foi
depois tomado e preso e arrastado, e decepado e enforcado. E posto que tal triigo algüa ajuda fe-
zesse, era tam pouco e tam raramente, que houvera mester de o multiplicar como fez Iesu Cristo aos
pães, com que fartou os cinco mil horneês.

20 Em esto gastou-se" a cidade as si apertadamente", que as pubricas esmolas começarom desfale-

cer", e neüa geeraçom" de pobres achava quem lhe dar pam; de guisa que a perda comum ven-
cendo de todo a piedade, e veendo a gram mingua dos mantiimentos, estabelecerom deitar fora as
gentes minguadas" e nom perteencentes pera defensom; e esto foi feito duas ou tres vezes, ataa lan-
çarem fora as mancebas mundaíras" e Judeus e outras semelhantes, dizendo que pois taes pessoas

25nom eram pera pelejar, que nom gastassem os mantiimentos aos defensores; mas isto nom aprovei-
tava cousa que muito prestasse.

Os Castelãos aa primeíra'" prazía-lhe com eles, e davom-lhe de comer e acolhimento; depois


veendo que esto era com fame", por gastar mais a cidade, fez el-Rei tal ordenança que nêuü de den-
tro fosse recebido em seu arreal, mas que todos fossem lançados fora; e os que se ir nom quisessem,

30que os açoutassem e fezessem tornar pera a cidade; e esto lhes era grave de fazer, tornarem per força
pera tal logar, onde chorando nom esperavom de seer recebidos; e taes i havia que de seu grado se
saíam da cidade, e se iam pera o arreal, querendo ante de todo seer cativos, que assi perecerem mor-
rendo de fame.

Como nom lançariam fora a gente minguada e sem proveito, que" o Meestre mandou saber em
35 certo pela cidade que pam havia per todo em ela, assi em covas" come per outra maneira, e acharom
que era tam pouco que bem havia mester sobr'elo" conselho?

Na cidade nom havia triigo pera vender, e se o havia, era mui pouco e tam caro que as pobres
gentes nom podiam chegar a ele; ca valia o alqueire quatro livras; e o alqueire do milho quareenta
soldos; e a canada do vinho tres e quatro livras; e padeciam mui apertadamente, ca dia havia i que,

ainda que dessem por uü pam üa dobra, que o nom achariam a vender; e começaram de comer pam
40

de bagaço d'azeitona, e dos queijos" das malvas e raizes d'ervas, e doutras desacostumadas causas,
pouco amigas da natureza; e taes i havia que se mantiinham em alféloa". No lagar u costumavam
vender o triígo, andavam homeês e moços esgaravatando a terra; e se achavam alguüs grãos de triigo,
metiam-nos na boca sem teendo outro mantiimento; outros se fartavam d'ervas, e beviam tanta

45 agua, que achavam mortos homeês e cachopos jazer inchados nas praças e em outros lagares.

Das carnes, isso rneesmo, havia em ela grande mingua; e se alguüs criavam porcos, mantiinharn-
-se em eles": e pequena posta de porco, valia cinco e seis livras que era üa dobra castelãa; e a galinha,
quareenta soldos; e a duzia dos ovos, doze soldos; e se almogávares" tragiam alguüs bois, valia cada
uü sateenta livras, que eram catorze dobras cruzadas, valendo entom a dobra cinco e seis livras; e a

50cabeça e as tripas, üa dobra; as si que os pobres per mingua de dinheiro, nom comiam carne e pade-
ciam mal; e começarom de comer as carnes das bestas, e nom soomente os pobres e minguados, mas
grandes pessoas da cidade, lazerando", nom sabiam que fazer; e os geestos mudados com fame,
bem mostravam seus encubertos padecimentos. Andavam os moços de tres e de quatro anos

10. repicauom logo por lhe acorrerem: tocavam os sinos para os socorrerem. 11. aas beestas se compria: com tiros de besta, se fosse necessário.
12. saluoüa: com exceção de uma vez. 13. gastou-se: consumiu-se. 14. apertadamente: com dificuldade. 15. desfalecer: faltar. 16. geeraçom: família.
17. minguadas: miseráveis. 18. mundairas: prostitutas. 19. aa primeira: a princípio. 20.fame: fome. 21. que: se. 22. covas: silos ou celeiros subter-
râneos. 23. sobr'elo: acerca disso. 24. queijos: bolbos. 25. alféloa: melaço cristalizado. 26. mantiinham-se em eles: viviam disso. 27. almogávares:
negociantes de gado. 28. lazerando: passando fome.

132

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35.
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3. Fernão Lopes, Crónica de D. João I


pedindo pam pela cidade por amor de Deos, como lhes ensinavam suas madres, e muitos nom tiinham

55 outra
cousa que lhe dar senom lagrimas que com eles choravom que era triste cousa de veer; e se lhes
davom tamànho pam come üa noz, haviam-no por grande bem. Desfalecia o leite aaquelas que tiinham
crianças a seus peitos per mingua de mantiimento; e veendo lazerar seus filhos a que acorrer nom po-
diam, choravom ameúde sobr'eles a morte ante que os a morte privasse da vida. Muitos esguardavom as
prezes alheas" com chorosos olhos, por comprir o que a piedade manda, e nom teendo de que lhes

60 acorrer, caíam em dobrada tristeza.

Toda a cidade era dada a nojo", chea de mezquinhas querelas, sem neuü prazer que i houvesse: uüs
com gram mingua do que padeciam; outros havendo doo dos atribulados; e isto nom sem razorn, ca se
é triste e mezquinho o coraçom cuidoso nas cousas contrairas que lhe aviinr podem, veede que fariam
aqueles que as continuadamente tam presentes tiinham? Pero com todo esto, quando repicavom, neuü

65 nom mostrava que era faminto, mas forte e rijo contra seus érnigos. Esforçavom-se uüs por consolar os
outros, por dar remedio a seu grande nojo, mas nom prestava conforto de palavras, nem podia tal door
seer amansada com neüas doces razões; e assi como é natural cousa a mão ir ameúde onde see31 a door,
assi uüs homées falando com outros, nom podiam em ai departir" senom em na mingua que cada uü
padecia.

70 Ó quantas vezes encomendavom nas missas e preegações que rogassem a Deos devotamente por o

estado da cidade! E ficados os geolhos, beijando a terra, braadavom a Deos que lhes acorresse, e suas
prezes nom eram compridas! [ ... ]

Sabia porem isto o Meestre e os de seu Conselho, e eram-lhe doorosas d'ouvir taes novas; e veendo
estes males a que acorrer nom podiam, çarravom suas orelhas do rumor do poboo.

75 Como nom querees que maldissessem sa vida e desejassem morrer alguüs hornêes e molheres, que

tanta deferença há d'ouvir estas cousas aaqueles que as entom passarom, como há da vida aa morte? Os
padres e madres viiam estalar de fame os filhos que muito amavom, rompiam" as faces e peitos sobr'eles,
nom teendo com que lhe acorrer, senom planto e espargimento de lagrimas; e sobre todo isto, medo
grande da cruel vingança que entendiam que el-Rei de Castela deles havia de tomar; assi que eles pade-

ciam duas grandes guerras, üa dos êmigos que os cercados tiinham, e outra dos mantiimentos que lhes
80
minguavom, de guisa que eram postos em cuidado de se defender da morte per duas guisas.

Pera que é dizer mais de taes falecimentos"? Foi tamanho o gasto das cousas que mester haviam
que soou uü dia pela cidade que o Meestre mandava deitar fora todolos que nom tevessem pam que
comer, e que somente os que o tevessem ficassem em ela; mas quem poderia ouvir sem gemidos e sem

85choro tal ordenança de mandado aaqueles que o nom tiinham? Porem sabendo que nom era assi, foi-
-lhe já quanto" de conforto. Onde sabee que esta fame e falecimento que as gentes as si padeciam, nom
era por seer o cerco perlongado, ca" nom havia tanto tempo que Lixboa era cercada; mas era per aazo
das muitas gentes que se a ela colherom de todo o termo; e isso meesmo da frota do Porto quando veo,
e os mantiimentos seerem muito poucos.

90 Ora esguardae" como se fossees presente, üa tal cidade assi desconfortada e sem neüa certa feúza

de seu livramento", como veviriam em desvairados cuidados quem sofria ondas de taes aflições? Ó gee-
raçom que depois veo, poboo bem aventuirado, que nom soube parte de tantos males, nem foi qui-
nhoeiro" de taes padecimentos! Os quaes a Deos por Sua mercee prougue de cedo abreviar doutra
guisa, como acerca" ouvirees.

133

Fernão Lopes, Op. cit. [pp. 193-199, com supressões]

_ 29. prezes alheas: súplicas dos outros. 30. nojo: tristeza. 31. see: está. 32. departir: discutir outra coisa. 33. rompiam: feriam. 34.jalecimentos: misérias.
: 35. quanto: um pouco. 36. ca: porque. 37. esguardae: olhai. 38. sem neúa certajeúza de seu livramento: sem confiança na libertação. 39.joi quinhoeiro:
iÉ participou. 40. acerca: em breve.
Afirmação da consciência coletiva I Atores (individuais e coletivos)

2. Introdução (11. 2-10) - apresenta-


ção do contexto histórico em que se
situam os acontecimentos relatados;
articulação com a informação apre-
sentada no capítulo anterior.
Desenvolvimento (11. 11·81) - apre-
sentação, de forma rigorosa e porme-
norizada, dos acontecimentos relati-
vos à falta de alimentos na cidade,
durante o cerco.

Conclusão (11. 82-94) - comentário


final do cronísta, focando a situação
trágica da cidade durante o cerco.
3.1. e.lI. 1·19; c.11. 20-36; a.11. 37-60;
b.11. 61-69; d.11. 70-72; f.11. 78-81.

4. Povo - comportamentos diversifi-


cados, que evidenciam o agravamen-
to da miséria e do estado anímico:

· procura empenhada de alimentos,


colocando a vida em risco;

· defesa da cidade, ultrapassando a


fraqueza humana e revelando um
esforço sobrenatural;

-Iuta pela sobrevivência, procurando


comida de forma degradante e be-
bendo água até à morte, e pedindo
esmola pela cidade;

· pedido de ajuda a Deus, face à situa-


ção de desespero reinante;

· choro (de pais e mães) - constata-

ção do sofrimento dos filhos.

Mestre - dificuldade em gerir a difícil


situação vivida dentro da cidade:

· sofrimento pela incapacidade de


socorrer a população;

· comportamento de emergência, face


à situação extrema em que a cidade
se encontra - expulsão dos que não
têm mantimentos para se alimentar
(forma de atenuar o sofrimento da
restante população).

5. a. Objetividade presente no rigor


da pormenorização, com valor des-
critivo e informativo (ex.: pormenores
de carácter económico - 11. 37-39;
realismo descritivo relativo à luta pe-
la sobrevivência -11. 46-53).

b. Subjetividade presente na aprecia-


ção crítica e emotiva dos factos rela-
tados (ex.: interrogações retóricas -
11. 34-36, 90-91; frase exclamativa na
interpelação final às gerações vin-
douras -11. 91-93).

c. Planos gerais: focalização da cidade


e dos atores coletivos que nela inter-
vêm (11. 1-5,61).

d. Planos de pormenor: incidência em


grupos de personagens e/ou em si-
tuações particulares - ex.: procura de
grãos de trigo, por "homeês e moços"
(11. 42-45).

e. Recursos expressivos:

· comparação: "mester de o multiplicar


como fez Jesu Cristo aos pães" (11. 18-
-19) - concretização e exemplifica-
ção, em tom hipérbólico;

· enumeração: "Das carnes, [ .. .] ua


dobro" (11. 46-50) - pormenorização,
de forma gradativa (gradação des-
cendente);

134

2. Divide o texto em três partes lógicas, fundamentando a tua opção.

102. Os tópicos abaixo sintetizam os acontecimentos relatados no capítulo.

3.1. Organiza-os de acordo com a ordem por que são apresentados no texto, identifi-
cando os segmentos textuais a que dizem respeito.

103. Carência de alimentos


104. Desespero da população
105. Expulsão da cidade de gente incapaz e pobre
106. Preces a Deus
107. Procura ineficiente de trigo
108. Receio da vingança do rei castelhano
109. Analisa os comportamentos da população e do Mestre de Avis face à situação que expe-
rienciam.
110. Faz uma análise do estilo de Fernão Lopes neste capítulo, seguindo os tópicos e subtópi-
cos abaixo:
Tópicos Subtópicos
Objetividade a. Marcas de objetividade

vs. subjetividade b. Marcas de subjetividade

Conjugação c. Planos gerais


de planos d. Planos de pormenor
Visualismo e. Recursos que conferem visualismo ao relato: comparação, personificação,
enumeração, hipérbole
f. Vocábulos que marcam o sensorialismo da linguagem (atos de ver e ouvir)
Coloquialismo g. Recursos expressivos que marcam o coloquialismo: interrogação retórica,
apóstrofe
h. Outros recursos que marcam o coloquialismo

5.1. Comenta a adequação e a expressividade do título atribuído por Fernão Lopes a este
capítulo: "Das tribulações que Lixboa padecia per mingua de mantiimentos".

Gramática

111. Analisa sintaticamente as frases abaixo, considerando apenas as funções sintáticas ao


nível da frase.
112. Fernão Lopes é a figura mais importante da literatura portuguesa medieval.
113. Fernão topes, sois considerado pelos críticos literários o mais importante cronista medie-

val.

114. Fernão Lopes é, certamente, o maior cronista da literatura portuguesa medieval.


115. Todos têm Fernão Lopes como o maior cronista medieval.
116. Fernão Lopes é conhecido de todos.

1.1. Identifica, nas mesmas frases, as funções sintáticas internas ao grupo verbal.
Escrita I Educação Literária

3. Fernão Lopes, Crónica de D. João I

117. Escreve frases em que os seguintes verbos selecionem predicativo do complemento


direto.
118. apelidar.
119. sagrar.

C. constituir.
d. aclamar.

Ver Predicativo do complemento direto, p. 124

120. Lê um excerto do romance histórico Ivanhoe, de Walter Scott, publicado pela primeira vez
em 1820. Repara que, à semelhança do que acontece no capítulo 148 da Crónica de
D. João I, também aqui se descrevem as condições de vida do povo na época medieval.

Condições de vida difíceis .


Ajoujados pelas muitas cargas deste mise-
rável estado de coisas, as gentes de Inglaterra
sofriam terrivelmente o presente e ainda mais
temiam pelo seu futuro. Aumentando-lhes a

5miséria, uma contagiosa epidemia espalhava-


-se por todo o lado. Tornada mais virulenta
ainda pelo lixo, alimentação pouco higiénica e
habitações absolutamente impróprias das
classes inferiores, a doença ia-as varrendo vo-

IOrazmente, num destino que os que lhe resis-


tiam quase chegavam a invejar, quando pen-
savam em desgraças maiores ainda por virem.

Todavia, no meio de todas estas tragédias,


pobres e ricos, plebeus e nobres, sempre que

um torneio, o grande espetáculo daqueles


15
anos, ocorria, ferviam com tanto interesse pelo acontecimento como qualquer
madrileno meio faminto e sem forma de atender às necessidades dos familiares
vibra com a realização duma tourada. Nem obrigações nem doenças conse-
guiam afastar jovens e adultos de tais exibições. A Passagem de Armas, como o

20denominavam, efetuar-se-ia em Ashby, no condado de Leicester, e, como cam-


peões da melhor água estariam em campo, na presença do próprio príncipe
João, que honraria as liças, atraíam a atenção geral, fazendo com que uma
imensa quantidade de gente de todos os estratos afluísse, apressando-se, du-
rante a manhã marcada, para o sítio do prélio.

Walter Scott, Ivanhoe (trad. Ricardo Coelho Iglésiasl, Mem Martins, Europa-América [p. 92]

1.1. Escreve um pequeno texto em que apresentes o teu ponto de vista relativamente
aos valores culturais e éticos apresentados no excerto.

· personificação: "Toda a Cidade era


dada a nojo" (I. 61) - intensificação
do estado anímico predominante.

f. Vocabulário relacionado com os


atos de ver ("veede'; I. 63) e ouvir ("ou-
vistes", I. 2, "ouvirees", I. 94).

g. Recursos expressivos (interpelação


do leitor):

· interrogação retórica: 'Pera que é di-


zer mais de toes falecimentos?" (I. 82)
- incitação do leitor à reflexão;

· apóstrofe: "6 geeraçom que depois


veo {. .. , de taes padecimentos i" (11. 91-
-93).

h. Outros recursos (interpelação do


leitor):

· frase imperativa: "Ora esguardae co-

mo se Iossees presente" (I. 90);

· interjeição: "6" (I. 91).


5.1. Título:

· adequado, com função de síntese


do conteúdo temático do capítulo;

· expressivo, contemplando quer os


factos objetivos ocorridos durante o
cerco (falta de mantimentos), quer as
consequências psicológicas e sociais
que decorrem desse facto (sofrimen-
to da população).

Gramática

G18.1. Identificar funções sintáticas


indicadas no Programa.

1. a. Fernão Lopes - sujeito; é a figura


mais importante da literatura portu-
guesa medieval - predicado. b, Fer-
não Lopes - vocativo; sois considera-
do pelos críticos hteranos o mais
importante cronista medieval- predi-
cado. c. Fernão Lopes - sujeito; é o
maior cronista da literotura portuque-
sa medieval - predicado; certamente
- modificador (da frase). d. Todos -
sujeito; têm Fernão Lopes como o
maior cronista medieval - predicado.
e. Fernão Lopes - sujeito; é conhecido
de todos - predicado.

1.1. a. a figura mais importante da li-


teratura portuguesa medieval - pre-
dicativo do sujeito. b. pelos críticos li·
terátios - complemento agente da
passiva; o mais importante cronista
medieval - predicativo do sujeito.
c. o maior cronista da literatura portu-
guesa medieval - predicativo do su-
jeito. d. Fernão Lopes - complemen-
to direto; como o maior cronista
medieval - predicativo do comple-
mento direto. e. de todos - comple-
mento agente da passiva.

2. Exemplos: a. Há quem apelide Fer-


não Lopes de primeiro historiador por-
tuguês. b. Sagraram Fernão topes um
grande cronista. c. O rei constituiu Fer-
não topes cronista-mor do reino. d. O
povo aclamou o Mestre de Avis rei de
Portugal.

135
121.

Afirmação da consciência coletiva I Atores (individuais e coletivos)

1.1. Possíveis tópicos a abordar:

Causas do desperdício alimentar:

· aspeto exterior (cf. informação apre-


sentada por Isabel Soares);

· deterioração (cf. prazo de validade);

· confeção em quantidades exagera-


das;

· ausência de recurso a formas de

confeção de sobras.

Consequências do desperdício ali-


mentar:

· sobrecarga do processo de recolha


de lixo; insalubridade; doenças;

· sobrecarga financeira (gastos des-


necessários).

Medidas concretas, em casa:

· aquisição de produtos de forma ra-


cional (tendo em conta os hábitos de
consumo e os prazos de validade);

· conservação adequada dos produ-


tos (frigorifico, despensa ... );

· confeção de produtos em quantida-


des adequadas;

· invenção de novas receitas a partir


de produtos já confecionados;

· compostagem.

[:

Escrita I Educação Literária

E12.1. Respeitar o tema.

E12.2. Mobilizar informação adequa-


da ao tema.

EL 15.1. Reconhecer valores culturais,


éticos [ ... ] manifestados nos textos.
EL 15.3. Expressar pontos de vista
suscitados pelos textos lidos, funda-
mentando.

EL15.6. Ler uma ou duas obras do


Projeto de Leitura relacionando-a(s)
com conteúdos programáticos de di-
ferentes domínios.

1.1. Valores culturais e éticos apre-


sentados no texto:

· valor ético: denúncia das condições


de vida do povo (miséria, epidemia,
insalubridade);

· valor cultural: valorização da fun-


ção recreativa e social dos torneios
(promoção das relações sociais -
convivência e união entre pobres e
ricos; reforço da identidade cultural
de Inglaterra na época medieval).

leitura I Oral idade

19.1. Exprimir pontos de vista suscita-


dos por leituras diversas, fundamen-
tando.

04.1. Respeitar o princípio de corte-


sia: formas de tratamento e registos
de língua.

04.2. Utilizar adequadamente recur-


sos verbais e não verbais: postura,
tom de voz, articulação, ritmo, entoa-
ção, expressividade.

136

Leitura I Oralidade

122. Apesar de 842 milhões de pessoas ainda passarem fome em todo o mundo, o desperdício
de alimentos acontece desde a produção até ao consumo.

1.1. Reflete com os teus colegas sobre a questão do desperdício alimentar. Alguns dos
tópicos a abordar poderão ser os seguintes:

· Quais são as causas e as consequências do desperdício de alimentos?


· Que medidas podem ser tomadas para evitar o desperdício alimentar, em casa?
· De que forma se poderão converter os desperdícios alimentares em subprodutos
ou matérias-primas?
Ao longo da reflexão, deves:

· respeitar o princípio de cortesia (formas de tratamento e registos de língua);


· utilizar adequadamente recursos verbais e não verbais (postura, tom de voz, articu-
lação, ritmo, entoação, expressividade).

o excerto da reportagem abaixo poderá constituir o ponto de partida para a reflexão.

Apetitoso? Mas vai tudo para o lixo ...


Todos os dias, são desperdiçadas 50 mil refeições nos restaurantes nacionais. Um
número impressionante que é apenas uma parcela do milhão de toneladas de ali-
mentos que anualmente são deitados fora. Mas há cada vez mais portugueses em-
penhados em resgatar esta comida para o prato de quem precisa.

lufsA OLIVEIRA (com SÓNIA CALHEIROS)

Abre-se o frigorífico da família Neves e saltam de lá algumas caixas com restos de refei-
ções que não foram comidas até ao fim. Há arroz branco, massa, umas bifanas, arroz de pato
e 14 claras que sobraram de um bolo. Destas pequenas doses só as bifanas e as claras iriam
parar ao lixo, uns dias depois. O restante foi aproveitado para a marmita de Maria João, 48
anos, diretora numa gestora de seguros de saúde. Em casa dos Neves jantam entre cinco pes-

10 soas (casal e três filhas, entre os 16 e os 22 anos) e sete (os dois namorados das mais velhas).

Ao almoço é sempre uma incógnita quantos talheres se põem na mesa - a principal razão
para o desperdício alimentar nesta família.

Na mesa da cozinha vão pousando as compras da semana, que saem dos sacos de uma
grande superfície. Trazem peixe e carne, que hão de ser congelados, iogurtes, fruta, bola-

15 chas,cereais, açúcar, leite, manteiga, massa para croissants, latas de atum e pão. Uma se-
mana depois, em cima da mesma mesa expõe-se o desperdício: vários pedaços de pão, uma
fatia de tarte de ovo, um queijo fresco que passou do prazo, uma banana quase podre, uma
alface com folhas queimadas e recheio de ovo para croissants a ficar verde. Marta, a filha
mais velha, já deitara para o lixo fatias de fiambre malcheiroso e um limão com bolor. Volta-
20 mosa encontrar caixas com restos de refeições, mas dão-nos a garantia de que vão ser con-
sumidos. Aliás, nessa noite de domingo, a ementa será uma sopa feita a partir do que sobrou
do cozido à portuguesa do almoço.

Confiando nas estimativas, ao final de um ano, só Maria João terá desperdiçado 97 quilos
de comida. O único estudo realizado em Portugal sobre este problema concluiu que o país
25 perde cerca de um milhão de toneladas de alimentos por ano.

»
3. Fernão Lopes, Crónica de D. João I

A investigadora Iva Pires, 54 anos, foi uma das responsáveis pelo PERDA, que monitorizou o
desperdício durante o ano de 2012, através de um inquérito online a 800 famílias e dezenas de
entrevistas em profundidade. [ ... ] "As pessoas não tinham noção do que desaproveitavam, nem

30 dosimpactos ambientais, económicos, éticos e sociais de tal desperdício:' o final do projeto, os


investigadores notaram que as mentalidades começavam a mudar, num contexto de crise e de-
semprego, pois alguns dos entrevistados passaram a encher a lancheira com o que antes man-
davam para o lixo.

Apesar dos resultados, a investigadora conclui que estamos abaixo da média mundial. Por-

35 tugal
perde 17% dos seus alimentos, enquanto que no resto do mundo 33% do que se produz
não acaba no estômago de quem tem fome. Hélder Muteia, 53 anos, representante da FAO (Food
and Agriculture Organization, das Nações Unidas) em Portugal, conhece bem os números que

lhe tiram o sono: uma em cada quatro calorias gerada no sistema agrícola mundial não cumpre

o seu propósito "do prado à boca':

Nos países menos desenvolvidos, grande parte do desperdício acontece na fase da produção, por falta de
infraestruturas e organização. Nas zonas mais ricas, as perdas dão-se sobretudo na distribuição e no con-
sumo. "Há, por isso, que mudar esta cultura de abundância, alargando prazos de validade, ter atenção à
forma como nos servimos ou até como descascamos os produtos:' [ ... ]

Descascar com cuidado


40

Salvar a fruta

Outras medidas:

· criação de associações e empresas


que redistribuam por familias caren-
ciadas os bens alimentares, que se
encontram na iminência de ser des-
perdiçados;

· promoção de ações de voluntariado


que incentivem a redistribuição des-
ses produtos;

· criação de empresas no setor agroali·


mentar que encarem o desperdício
como subproduto ou como matéria-
·prima (ex.: sumos, purés, snocks a
partir de "fruta feia").

As maçãs que iriam apodrecer na ár-


vore na Quinta do Vila r, perto de
Viseu, são agora usadas para fazer um
snock gourmet. Seguem para uma má-
quina que as descasca, tira o caroço e
lamina. Depois de dispostas em tiras
num tabuleiro, entram num forno gi-
gante (o desidratador), durante 12
horas - reduzindo a humidade da
maçã dos 89% para os dois a quatro
por cento. Só num ano, foram trans-
formadas mais de 500 mil maçãs.

Feia por fora, bonita por dentro

45 Apesar de ter avançado com a Fruta Feia há menos de um ano, tendo só dois pontos de entrega em Lis-

boa, e de trabalhar apenas com agricultores da zona do Oeste, a pequena cooperativa já roubou ao desperdí-
cio mais de 50 toneladas de hortícolas.

[ ... ] Logo de manhã, Isabel Soares, 31 anos, e Maria Canelhas, 25, passaram pelas quintas de sete agricul-
tores (há 32 associados) e trouxeram 1800 quilos que nunca iriam ser consumidos. "O tomate e a cenoura

50 são
os rejeitados pelo calibrador, as alfaces muito grandes, as maçãs muito pequenas, os agriões têm folhas
ratadas e as peras manchas na casca. São tantas as desculpas, que às vezes me perco'; diz Isabel Soares, pre-
sidente da cooperativa. As duas sócias pagam cerca de 50% do preço da fruta dita bonita, o valor justo para
que seja viável a apanha. Só assim podem vender os cabazes de quatro quilos a 3,5 euros aos 450 consumi-
dores que apostaram nesta ideia (há 2500 em lista de espera). [ ... ]

123.

55 Abençoada comida

[ ... ] A Refood também nasceu em 2011, da cabeça do americano Hunter Halder, 63 anos, chocado com
toda a comida que os restaurantes deitam ao lixo (50 mil refeições por dia). Hoje, já existem cinco núcleos
em Lisboa (e outros tantos quase a abrir), que mais não fazem do que bater à porta dos restaurantes aderen-
tes, com caixas na mão, à espera que elas se encham. Depois, a partir das oito da noite, começa a entrega aos

60 beneficiários.

in Visão, n.O 1128, 16-' 0-2014 [pp. 60-66, com supressões]

137
Teste formativo
Nota: Este teste segue, dentro do
possível, a estrutura da última edição
(2014) do exame nacional de Portu-
guês, considerando o objeto de ava-
liação (10.0 ano, Crónica de D. João t,
de Fernão Lopes). Assim, é constituí-
do por três grupos:

· Grupo I (100 pontos) - em que se


avaliam conhecimentos e capacida-
des de Educação Literária e de Escri-
ta através de itens de construção
(avaliando-se apenas conteúdos de
10.0 ano relativos à unidade em cau-
sa);
· Grupo 11 (50 pontos) - em que se
avaliam capacidades de Leitura e de
Gramática, através de itens de sele-
ção e de construção;
· Grupo 111 (50 pontos) - em que se
avaliam conhecimentos e capacida-
des de Escrita (integrando conheci-
mentos e capacidades de Leitura),
por meio de uma resposta extensa.

Visa-se, assim, que o aluno treine a


resolução de testes com uma estrutu-
ra semelhante à dos exames.

tiDPPT

Fernão Lopes, Crónica de D. João / -


Correção do teste formativo

GRUPOI

1. Os acontecimentos relatados no
capítulo referem-se ao cerco de que
Lisboa foi alvo por parte do rei de Cas-
tela, em 1384. Trata-se, pois, de um
acontecimento referente à crise polí-
tica de 1383-1385, que culminaria
com a aclamação do Mestre de Avis
como rei de Portugal, em 1385.

2. Para preparar a defesa do cerco,


procedeu-se à recolha e à preserva-
ção de mantimentos (pão, carne e
outros); para além disso, repararam-
-se os muros da cidade e as torres fo-
ram cobertas por caramanchões e
apetrechadas com armas variadas; a
sua guarda foi confiada a membros
da nobreza.

3. A população que vivia nos arredo-


res da cidade é caracterizada por ati-
tudes diversas: muitos lavradores di-
rigem-se para dentro das muralhas,
aí procurando proteção; outras pes-
soas dirigiram-se para sul (Palmela e
Setúbal); finalmente, houve quem
fosse para as vilas que tinham toma-
do o partido de Castela.

4. Neste parágrafo, a enumeração evi-


dencia a quantidade e variedade de
armas existentes nas torres, vindas de
origens diversificadas (armas da cida-
de, de senhores e de capitães). Suge-
re-se, com este recurso expressivo,
que, devido ao empenho coletivo, a
cidade estava bem preparada para o
cerco iminente e confiante relativa-
mente ao sucesso da defesa.

5. A afirmação da consciência coletiva


está presente na atitude heroica da
população, que se prepara para o cer-
co de forma empenhada e valorosa,
consciente da sua responsabilidade
na luta pela manutenção da indepen-
dência.

140

(~~.~i~.~'~J~_______________________ ~(l~O~O~PO~N~TO~S)

Lê O texto a seguir transcrito.

Capítulo 115
Per que guisa' estava a cidade corregida pera se defender, quando el-Rei de Castela
pôs cerco sobr'ela.

[ ... ]

Onde sabee que corno" o Meestre e os da cidade souberam a viinda del-Rei de Cas-
tela, e esperaram seu grande e poderaso cerco, logo foi ordenado de recolherem pera a
cidade os mais mantiimentos que haver podessem, as si de pam e carnes, come quaes
quer outras cousas. E iam-se muitos aas lizirias em barcas e batees, depois que Santa-
rem esteve por Castela, e dali tragiam muitos gaados mortos que salgavam em tinas, e
outras cousas que fezeram grande açalrnamento": e colheram-se dentra aa cidade mui-
tos lavradores com as molheres e filhos, e cousas que tiinham; e doutras pessoas da co-

marca d'arredor, aqueles a que prougue" de o fazer; e deles" passaram o Tejo com seus
lO
gaados e bestas e o que levar poderorn, e se foram contra" Setuval, e pera Palmela; ou-
tras ficaram na cidade e nom quiseram dali partir; e taes i houve que poseram todo o
seu, e ficaram nas vilas que por Castela tomaram voz".

Os muros todos da cidade nom haviam mingua de boom repairamento": e em se-


15 teenta e sete torres que ela teem a redor de si, foram feitos fortes caramanchões" de ma-
deira, os quaes eram bem fornecidos d'escudos e lanças e dardos e beestas de torno, e
doutras maneiras com grande avondança de muitos víratões".

Havia mais em estas torres muitas lanças d'arrnas e bacínetes", e doutras armadu-
ras, que reluziam tantas que bem mostrava cada üa torre per si que abastante era pera se
20 defender. Em muitas delas estavom troõs" bem acompanhados de pedras, e bandeiras
de sam Jorge, e das armas do reino e da cidade, e doutros alguüs senhores e capitães que
os poinham nas torres que lhes eram encomendadas".

Fernão Lopes, Op. cito [pp. 170-171, com supressões]

1. guisa: modo; maneira. 2. como: logo que. 3. açalmamento: abastecimento. 4. prougue: agradou. 5. deles: alguns. 6. contra: em
direção a. 7. voz: partido. 8. repairamento: fortificação. 9. caramanchões: coberturas. 10. uiratões: setas grandes. 11. bacinetes:
peças de armadura para proteger a cabeça. 12. troõs: peças de artilharia que arremessavam pedras. 13. encomendadas: confia-
das à sua guarda.

124. Explicita O contexto histórico a que se referem os acontecimentos relatados


no capítulo.

(20 PONTOS)

2. Refere as diligências tomadas para preparar a defesa do cerco.

(20 PONTOS)

3. Analisa a atitude da população que vivia nos arredores da cidade.

(20 PONTOS)

4. Explicita o valor expressivo da enumeração presente no último parágrafo.

(20 PONTOS)

125. Mostra de que forma a afirmação da consciência coletiva está presente neste
excerto.

(20 PONTOS)
• •
3. Fernãa l.opes, Crónica de D. João I

(50 PONTOS)

Lê a texto seguinte.

Ao contrário dos feitos de cavala-

s ria, não há relatos glorificando a utili-


zação militar da besta mas esta arma
ajudou a decidir batalhas como Ato-
leiros ou Aljubarrata.

Noventa anos antes já D. Dinis

10compreendera o seu potencial, enco-


rajando a formação de companhias
de besteiras, sobretudo no Alentejo.
De 17 anadelarias (milícias locais de
besteiras) e 450 atiradores no tempo

15do rei Lavrador passou-se, no reinado


de D. João 1, para 300 anadelarias e
cinco mil besteiras.

Foi o apogeu desta arma e das mi-


lícias mobilizadas localmente para in-

20tegrar a haste real: os Besteiras do


Conto. Foi em torno da besta e dos
Besteiras do Conto que girau a sessão
desta semana do V Curso de História
Militar pramovido pelo Centro de

25História da Universidade de Lisboa,


sob o lema "Arcos, Bestas e Máquinas
de Assalto no Mundo Medieval': Foi
conferencista Miguel Gomes Martins,
docente e investigador da Universi-

30 dade Nova de Lisboa.

Disparando virates I a 150 ou 200


metras, a besta tinha o mesmo al-
cance útil dos arcos longos mas um
poder de penetração nos escudos e

35armaduras muito maior. Como o tiro


era tenso, a precisão era muito supe-
rior à do arco [ ... ].

Ascensão e queda da besta


A besta era uma arma complexa e lenta. Mas teve um papel importante no
Portugal medieval e só entrou em declínio com o aparecimento das armas de
fogo portáteis.

Rui Cardoso (www.expresso.pt) 122:10 Quarta-feira, 2 de maio de 2012

Ilustração da revista História, n.O 45, julho de 2002


Tinha, além disso, a vantagem de,
uma vez armada, estar pranta a dis-
40 parar, sem que o atirador tivesse que
continuar a fazer força, diferen-
ciando-se nisso do arco.

Em contrapartida, a besta era


lenta a carregar (mesmo utilizando

45 ganchos e manivelas para esticar a


corda) e a sua cadência de tira era
muito inferior à do arco: dois a quatro
tiras por minuto contra dez a doze.

A corda não era fácil de montar e


50 desmontar, pelo que em caso de

141
Teste formativo

GRUPO 11
t.i.u
1.2.b.
1.3.b.

142

português na batalha naval durante o


cerco castelhano de Lisboa (1384),
para não falar no infante D. Pedro na
batalha de Alfarrobeira (1449).

75 Se a partir do reinado de D. Dinis

se generalizaram os privilégios e isen-


ções atribuídos aos Besteiros do
Conto, no século XV o seu número co-
meçou a diminuir. Para isso concorre-

80ram duas razões: o serviço militar


passou a implicar combates duros e
frequentes (crise de 1383-85 e defesa
das praças-fortes conquistadas em
Marrocos) e as armas de fogo portá-

85 teis não tardariam a surgir.

Ainda assim, e como referiu Mi-


guel Gomes Martins, quando D. Ma-
nuel criou os Espingardeiros do
Conto, utilizou o modelo de recruta-

90 mento local dos besteiros.

problemas, nomeadamente de humi-


dade, a besta podia ficar inutilizável.

Foi o que aconteceu na batalha de


Crécy durante a Guerra dos Cem

55Anos, quando as chuvadas molharam


as bestas dos atiradores genoveses re-
crutados pelos franceses, impedindo-
-os de usar as suas armas (ao contrá-
rio dos arqueiros britânicos que

60tinham desmontado os arcos e con-


servado as cordas em seco durante o
temporal). Com todas as suas limita-
ções, era uma arma terrível, até por-
que os besteiros portugueses tinham

65o hábito de envenenar as pontas dos


virotes. Basta ver o registo dos notá-
veis abatidos pelos tiros dos besteiros
em Portugal: o calífa' almóada" Iacub
Yussuf no cerco de Santarém (1l84),

70 Rui Pereira, tio do condestável

http://expresso.sapo.pt/ascensao-e-queda-da-besta=f7230n [Consult. 09-10-2014]

1. virotes: setas curtas. 2. califa: soberano, governante de uma comunidade muçulmana. 3. almóada: muçulmano
oriundo de Marrocos no século XII.

1.1. Na primeira parte do texto (11.1-3) apresenta-se

126. um resumo da informação secundária exposta ao longo do texto.


127. uma síntese da informação secundária exposta ao longo do texto.
128. informação imprescindível à compreensão do resto do texto.
129. um apontamento subjetivo emblemático do sentido do texto.
1.2. De acordo com o autor do texto, a besta (5 PONTOS)

130. Para responderes a cada um dos itens de 1.1. a 1.7., seleciona a opção correta. Escreve, na
folha de respostas, o número de cada item e a letra que identifica a opção escolhida.

(5 PONTOS)

131. foi utilizada pela primeira vez nas Batalhas de Aljubarrota e dos Atoleiros.
132. era uma arma usada nas anadelarias.
133. era uma arma ainda desconhecida pelos Besteiros do Conto.
d, foi uma arma de importância reduzida nas guerras medievais.

1.3. Conforme refere o historiador Miguel Gomes Martins, relativamente aos

arcos longos, a besta (5 PONTOS)

134. tinha um poder de alcance mais reduzido.


135. caracterizava-se por exigir mais esforço ao ser carregada.
136. era um instrumento com maior cadência no tiro.
137. exigia menos perícia por parte do atirador.
3. Fernão Lopes, Crónica de D. João I

138.

1.4. O exemplo da batalha de Crécy é apresentado com o intuito de (5 PONTOS)

139. ilustrar a informação atrás apresentada.


140. introduzir informação nova.
141. estabelecer uma relação de oposição entre o uso da besta em Portugal e em França.
142. provar que a besta era uma arma difícil de carregar.

1.5. Relativamente à informação que a precede, a expressão "Com todas as

suas limitações" (11. 62-63) estabelece uma relação de

(5 PONTOS)

143. causa.
144. consequência.
145. concessão.
146. semelhança.

1.6. Na linha 68, os dois pontos introduzem

147. uma enumeração.


148. uma explicação.
149. uma citação.
150. um segmento de discurso indireto.

1.7. As dificuldades associadas ao serviço militar são apresentadas como um


fator que conduziu

151. à ascensão da besta.


152. ao declínio da besta.
153. à criação dos Espingardeiros do Conto.
154. à generalização do modelo de recrutamento local dos besteiros.

(5 PONTOS)

(5 PONTOS)

155. Responde ao item apresentado.

2.1. Identifica a função sintática desempenhada pelos constituintes


destacados nas frases abaixo.

156. Miguel Gomes Martins considera a besta uma arma poderosíssima.


157. A besta era uma arma complexa e lenta.
158. Miguel Gomes Martins compara as bestas com os arcos longos.

(15 PONTOS)

(50 PONTOS)

Atenta na afirmação abaixo.

"Além de historiador de méritos excecionais, Fernão Lopes foi um verda-


deiro narrador artista, preocupado com a beleza da forma e não apenas com a
verdade do conteúdo [ ... [,"

lindley Cintra, "Fernão l.opes" in Jacinto do Prado Coelho (org.), Dicionário de Literatura,
Porto, Figueirinhas, 1994 [p. 575]

Explicita O sentido da afirmação, numa exposição escrita bem estruturada, que contenha
entre duzentas e trezentas palavras.

1.4. a.
1.5. c.
1.6.a.
1.7. b.
2.1.

159. Predicativo do complemento direto.

160. Predicado.

161. Complemento oblíquo.

Grupo 11I

Fernão Lopes caracteriza-se por


ser, simultaneamente, um historiador
e um cronista.

Com efeito, ao ser designado por

162. Duarte como cronista do Reino,


Fernão Lopes ficou responsável pela
redação das Crónicas de D. Pedra I,
D. Femando e D. João I. As suas cróni-
cas, no entanto, não se restringiam à
simples compilação de acontecimen-
tos históricos por ordem cronológica
- pelo contrário, nelas se traduz a arti-
culação entre a consulta de fontes e a
investigação original e crítica, asso-
ciada a uma visão global e integrado-
ra de várias perspetivas e uma dimen-
são fortemente interpretativa e
estética. Trata-se, pois, de crónicas
que refletem não só 'ÍJ historiador de
méritos excecionais", como também o
"verdadeiro narrador artista, preocu-
pado com a beleza da forma e não ape-
nas com a verdade do conteúdo" (Un-
dley Cintra, 1994, p. 575).

Em termos de conteúdo, a quali-


dade de Fernão Lopes é visível, no ca-
so da Crónica de D. João I, no modo
como os atores individuais e coletivos
são encarados ao longo da narrativa:
o cronista realça a atuação não ape-
nas de atares individuais (com desta-
que, naturalmente, para o Mestre de
Avis) mas também a atuação da pró-
pria população, que age como um
todo, consciente da importância das
suas liberdades e responsabilidades
face à necessidade de manutençâo
da independência. Ao nível da forma,
a prosa cronística de Fernão Lopes
destaca-se, essencialmente, pelo co-
loquialismo - presente, por exemplo,
nas constantes interpelações ao lei-
tor, pelo visualismo e pelo dinamismo
- não podendo aqui deixar de ser re-
ferida a importância dada ao rigor e à
plasticidade da pormenorizaçâo, bem
como ao uso expressivo de figuras
como a comparação ou a enumera-
ção.

Por estas razões, Fernão Lopes po-


de ser cumulativamente encarado co-
mo o primeiro grande cronista e o pri-
meiro grande historiador português.

(284 palavras)

143

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