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Escrita
· Escultura em granito
112
corou
1. Lê o texto abaixo, em que se apresenta a vida e a obra do autor que vais estudar nesta
unidade - Fernão Lopes.
nómico e cultural que podemos ter da época, para a qual a obra de Fernão Lopes per-
30
manece como a principal fonte de conhecimento.
Se, em Fernão Lopes, importa assinalar o valor insigne do historiador num período
particularmente rico em acontecimentos dramáticos e intensamente visuais, não im-
porta menos sublinhar a originalidade e grandeza do escritor: herdeiro de uma rica tra-
ENCI
3. Fernão Lopes, Crónica de D. João I
com uma minúcia reveladora, os traços individuais dos comparsas de gabarito mais
40 variado.
Obras principais: Crónica de D. Pedra I (l.a ed., Lisboa, 1735); Crónica de D. Fernando
(l.a ed., Lisboa, 1816); Crónica de D. João I (terminada depois de 1441,l.a ed., Lisboa,
1644).
1.1.1. De acordo com o autor do texto, Fernão Lopes é proveniente de uma família
2. pertencente à nobreza.
3. não pertencente à nobreza.
4. abastada.
5. de cronistas.
6. à influência familiar.
7. à educação que teve.
8. à atividade profissional.
9. à curiosidade intelectual.
14. exemplificativo.
15. contra-argumentativo.
16. refutatório.
17. crítico.
1.1.5. A comparação presente em "que o leva a analisar com minúcia tanto os caracte-
res do mestre de Avis e de Leonor Teles como os comportamentos populares em
grandes e pequenos conjuntos." (11. 26-28)
1.1.6.
1.1.1. b.
1.1.2. c.
1.1.3.d.
1.1.4. a.
1.1.5. c.
1.1.6. a.
113
Contextualização
2. Crónica medieval
114
Crónica medieval
Derivado do lato Chronica e do gr. Khrónos, consagra o conceito de tempo, infor- ~
mando com ele o discurso dos textos que designa.
10Torre do Tombo, os cartórios das igrejas e lápides de sepulturas. Com este material
foi-lhe possível fazer a crítica e a correção das memórias existentes, segundo um mé-
todo que antecipa o de dois a três séculos mais tarde. Sempre que uma tradição ou
uma memória é desmentida pelos documentos, Fernão Lopes rejeita-a; e, avançando
neste caminho, declara submeter a uma revisão metódica todos os relatos que lhe
O primeiro cronista português pode, assim, ser chamado também com justiça o
primeiro, em data, dos historiadores portugueses, isto é, o primeiro que, não se limi-
tando a compilar, se informa nas fontes documentais e submete a tradição a uma
20 análise crítica.
António José Saraiva, Oscar l.opes, "Fernão l.opes" in História da Literatura Portuguesa
(6 a ed. corrigida e atualizada), Porto, Porto Editora, s/d [p. 122, com supressões]
3. Fernão Lopes, Crónica de D. Joõo I
2.1. Sintetiza os dois textos num único texto que contenha entre oitenta e cento e vinte
palavras, seguindo as etapas abaixo.
Ver Síntese, p. 46
24. Lê O texto seguinte, em que se especifica a forma como a realidade histórica é perspeti-
vada por Fernão Lopes.
Também sob este aspeto a literatura medieval não nos oferece verdadeiros historia-
dores. Normalmente, os cronistas medievos estão ligados a uma corte real ou senhorial,
a um convento, a um grupo social aristocrático ou governante, e apenas relatam os
acontecimentos que interessam a esse restrito meio em que parece resumir-se para eles
10uma nação inteira ou até todo o universo. Trabalhando geralmente para cortes de cava-
leiros, a história aparece através deles como uma série de feitos de cavalaria, torneios,
aventuras de reis ou grandes senhores, intrigas palacianas. A grande massa da nação, os
interesses e os ideais que impelem os conjuntos de homens são por estes cronistas ou
\ 116 palavras)
· Pintor português
115
Contextualização
3.L
25. Mesteirais.
26. Camponeses.
116
Fernão Lopes dá-nos da sociedade portuguesa dos séculos XIV e XV um amplo pano-
rama em que entram múltiplos e contraditórios fatores, e em que, combinada com as
ações individuais, desempenha um papel preponderante a movimentação de grandes
forças coletivas e anónimas.
20 Lendo Fernão Lopes, não perdemos de vista a corte e a sua vida íntima, bodas e
amores, intrigas e conjuras palacianas. Mas vemos também, e com um relevo propor-
cionado, a cidade de Lisboa e os seus mesteirais, que largam o trabalho para organizar
"uniões" na rua, participar em comícios populares, pegar em armas quando é a ocasião;
vemos alfaiates, tanoeiros, camponeses erigidos em heróis e falando em nome de gran-
35e derrotou o poderio do rei de Castela, é-nos descrita como um movimento social irre-
sistível que faz cair todos os planos urdidos, quer pelas grandes personagens que inten-
tam manejá-lo, quer pelos que dele desdenham como um alvoroço de "dois sapateiros e
dois alfaiates': As intrigas destas personagens boiam à deriva na torrente da insurreição
social, que as empurra irresistivelmente ou as despedaça nos escolhos. E o sentido épico
40do cronista não se detém em comentários moralistas sobre os atos da multidão, cujos
motivos encara com uma objetividade de pormenor, que não desmente, mas antes con-
firma a sua adesão global.
António José Saraiva, Oscar Lopes, Op. cito [pp. 122-124, com supressões]
(~ __ c_ro_n_i_st_a_s_m_e_d_ie_v_a_is __ J ~ [
Fernão Lopes
J
Acontecimentos relatados: a.
,~
Visão unilateral e fragmentária
Acontecimentos relatados
corte: c. -e.
• "povos do reino"
.f.,g.
'11 ..v
Visão global e integradora de várias perspetivas
Texto analisado
Observa um excerto da Crónica de D. João 1 analisado, em que se apresentam algumas das
características da escrita cronística de Fernão Lopes.
Assunto: descrição de
uma situação relativa
às privações por que
a cidade de Lisboa
passou por falta de
mantimentos
Intervenientes
na ação:
ator coletivo
(povo anónimo)
Visualismo
(linguagem
expressiva)
• Preço/valor do trigo
Compreensão da
importãncia dos
fatores psicológicos
nos fenómenos
históricos:
· Comportamentos
humanos
motivados pela
fome
· Consequências
da fome extrema
- enumeração ("ca valia o alqueire quatro livras; e o alqueire do milho quareenta soldos; e a
canada do vinho tres e quatro livras");
Educação literária
rmI PPT
Fernão Lopes, Crónica de D. João f -
Texto analisado
117
Afirmação da consciência coletiva I Atores (individuais e coletivos)
118
1.1. Com base no esquema abaixo, explicita o contexto que deu origem à crise da suces-
são de 1383-1385 e à aclamação do Mestre de Avis como rei de Portugal.
r
D. Pedro I
(ti 1357-1367)
D. (onstança
D.lnês
de Castro
D. Teresa
Lourenço
s~
.'
O Pretendente ao trono
Ligação ilegítima
João I
de Castela
30. Faz a leitura do capítulo 11 da Crónica de D. João /, em que o povo defende o Mestre de
Avis.
o Page do Meestre que estava aa porta, como lhe disseram que fosse pela vila se-
gundo já era percebido', começou d'ir rijamente a galope em cima do cavalo em que
5 estava, dizendo altas vozes, braadando pela rua:
E assi chegou a casa d'Alvora Paaez que era dali grande espaço".
As gentes que esto ouviam, saiam aa rua veer que cousa era; e começando de falar
10uüs com os outras, alvoroçavom-se nas voontades", e começavom de tomar armas cada
uú como melhor e mais asinha" podia. Alvoro Paaez que estava prestes e armado com üa
coifa" na cabeça segundo usança daquel tempo, cavalgou logo a pressa em cima duü
cavalo que anos havia que nom cavalgara; e todos seus aliados com ele, braadando a
quaes quer que achava dizendo:
Pedra.
I. percebido: preparado. 2. espaço: distância. 3. voontades: disposições de espírito. 4. asinha: depressa. 5. coifa: parte da arma-
dura que defendia a cabeça. 6. ca: porque.
3. Fernãa l.opes, Crónica de D. João I
-
E assi braadavorn el e o Page indo pela rua.
Soarom as vozes do arroido pela cidade ouvindo todos braadar que matavam o
Meestre; e assi como viuva que rei nom tiinha, e como se lhe este ficara em logo de" ma-
20 rido, se moverom todos com mão armada, correndo a pressa pera u" deziam que se esta
fazia, par lhe darem vida e escusar" morte. Alvaro Paaez nom quedava d'ir pera alá 10,
braadando a todos:
- Acorramos ao Meestre, amigos, acorramos ao Meestre que matam sem por quê!':
A gente começou de se juntar a ele, e era tanta que era estranha causa de veer. Nom
25 cabiam pelas ruas principaes, e atrevessavom lagares escuses", desejando cada uü de
seer o primeiro; e preguntando uüs aos outros quem matava o Meestre, nom minguava"
quem responder que o matava o Conde Ioam Fernandez, per mandado da Rainha.
E per voontade de Deos todos feitos duü coraçom 14 com talente" de o vingar, como
forem" aas portas do Paaço que eram carradas", ante que chegassem, com espantosas
30 palavras começaram de dizer:
Ali eram ouvidos braados de desvairadas 18 maneiras. Taes i havia que certeficavom
que o Meestre era morto, pois as portas estavam çarradas, dizendo que as britassem
pera entrar dentro, e veeriam que era do Meestre, ou que causa era aquela.
35 Deles" braadavom por lenha, e que veesse lume pera poerem fogo aos Paaços, e
40 estar.
Üas viinham com feixes de lenha, outras tragiam carqueija" pera acender o fogo
cuidando queimar o muro dos Paaços com ela, dizendo muitos doestos" contra a
Rainha.
De cima nom minguava quem braadar" que o Meestre era vivo, e o Conde Ioam
Fernandez morto; mas isto nom queria neuü creer, dizendo:
Entom os do Meestre veendo tam grande alvoroço como este, e que cada vez se
acendia mais, disserom que fosse sua mercee de se mostrar aaquelas gentes, doutra
guisa" poderiam quebrar as portas, ou lhe poer o fogo, e entrando assi dentro per força,
nom lhe poderiam depois tolher" de fazer o que quisessem.
50 Ali se mostrou o Meestre a üa grande janela que viinha sobre a rua onde estava Al-
E tanta era a torvaçam deles, e assi tiinham já em creença que o Meestre era marta,
que taes havia i que aperfiavom'" que nom era aquele; porem conhecendo-o todos ela-
55 ramente, houverom gram prazer quando o virom, e deziam uús contra os outros:
- Ó que mal fez! pois que matou o treedor do Conde, que nom matou logo a aleivosa
com ele! Creedes em Deos30, ainda lhe há de viinr alguü mal per ela. Oolhae e veede que
119
7. logo de: em lugar de. 8. u: onde. 9. escusar: evitar. 10. alá: lá. 11. por quê: razão. 12. escusos: evitados. 13. nom minguava: não
faltava. 14. coraçom: desejo. 15. talente: propósito. 16. como forom: logo que chegaram. 17. çarradas: fechadas. 18. desvairadas:
contraditórias. 19. Deles: alguns deles. 20. treedor: traidor (alusão ao Conde Andeiro). 21. aleivosa: adúltera (alusão a D. Leonor
_ Teles). 22. aficauom: teimavam. 23. neüa: nenhuma. 24. carqueija: planta comum, que serve para atear fogo. 25. does/os: injú-
~rias. 26. braadar: bradasse; gritasse. 27. guisa: modo; maneira. 28. tolher: impedir. 29. aperfiauom: juravam. 30. Creedes em
~ Deos: Tão certo como Deus existir.
•
Afirmação da consciência coletiva I Atores (individuais e coletivos)
maldade tam grande, mandaram-no chamar onde ia já de seu caminho, pera o matarem
aqui per traiçom. Ó aleivosa! já nos matou uú senhor", e agora nos queria matar outra; 100
E sem duvida se eles entraram dentro", nom se escusara a Rainha de morte, e fora
maravilha quantos eram da sua parte e do Conde poderem escapar. O Meestre estava aa
janela, e todos oolhavom contra ele dizendo:
- Mantenha-vos Deos, Senhor. Beento seja Deos que vos guardou de tamanha trai-
90 çom, qual vos tiinham bastecida"!
E indo assi ata a entrada do Ressio, e o Conde viinha com todolos seus, e outras
bOÕS37 da cidade que o aguardavom, assi como Afons'Eanes Nogueira, e Martim Afonso
Valente, e Estevam Vaasquez Filipe, e Alvora do Rego, e outros fidalgos; e quando vio o
95 Meestre ir daquela guisa, foi-o abraçar com prazer e disse:
- Mantenha-vos Deos, Senhor. Sei que nos tirastes de grande cuidado, mas vós me-
reciees esta honra melhor que nós. Andae, vamos logo" comer.
31. já nos matou uu senhor: alusão à morte de D. Fernando. 32. entrarom dentro: tivessem entrado. 33. beento: bendito. 34.
aadur: abaixo. 35. nom havia deles mais mester: não tinha mais necessidade deles. 36. bastecida: preparada. 37. boõs: homens
que participavam na administração municipal. 38. logo: imediatamente.
120
105
3'
3
3. Fernão Lopes, Crónica de D. João I
•
E estando eles por se asseentar aa mesa, disseram ao Meestre como os da cidade
100 queriam matar o Bisp039, e que faria bem de lhe ir acorrer; e o Meestre quisera alá ir".
om curees disso, Senhor, se o matarem, quer o matem quer norn": ca posto que
ele moira, nom minguará outro Bispo portuguees que vos serva melhor que ele.
Ao dito do Conde cessou" o Meestre de sua boa voontade, e o Bispo foi morto desta
105 guisa que se segue.
39. Bispo: bispo de Castela. 40. alo ir. lá ir. 41. quer o matem quer nome tanto faz que o matem como não matem. 42. cessou: acedeu.
3.1. Copia o esquema abaixo para o teu caderno e completa-o, resumindo numa frase
cada um dos momentos do relato.
Convocação
O pajem do Mestre grita pela cidade que mataram o Mestre;
o povo acode; chegam a casa de Álvaro Pais.
J,
Movimentação
J,
Concentração
J,
Manifestação
.J,
Aclamação
J,
Dispersão
O Mestre sai do paço e ...
O Mestre atravessa a cidade e ...
3.1.1. Com base no esquema, explica de que forma se constrói o ritmo (crescente e/
ou decrescente) da narrativa.
::
to 3.3. Relaciona os espaços físicos em que decorre a ação com as personagens que neles se
3 movimentam.
3.1. Sequência:
· Movimentação -7 Concentração -7
Manifestação -7 Aclamação: ritmo
crescente até ao momento da acla-
mação (em que se atinge o clímax),
marcado simultaneamente pelo au·
mento da dramaticidade (curiosida-
de e solidariedade iniciais -7 emoção
e efusividade finais) e pela concentra-
ção espacial (ruas -7 paço -7 Janela).
121
Afirmação da consciência coletiva I Atores (individuais e coletivos)
a.4.
b.l
31. 2.
32. s.
e.3.
f.7.
9.6.
Gramática
122
Informação
r:
Teresa Amado, "O texto da Crónica de D. João in Crónica de D. João I
(textos escolhidos), Seara Nova/Comunicação, 1980 [pp. 38-39, com supressões]
Coluna A
4.1. Faz corresponder a cada segmento textual da coluna A um único segmento textual
da coluna B, de modo a obteres uma informação adequada ao sentido do texto.
Coluna B
Gramática
58. Escreve frases relacionadas com o texto que apresentem as seguintes estruturas sintáticas.
59. Sujeito composto + predicado (verbo acorrer + complemento indireto + modificador)
60. Vocativo + sujeito nulo subentendido + predicado (verbo vir + complemento oblíquo)
61. Sujeito simples + predicado (verbo defender + complemento agente da passiva + mo-
dificador)
Oralidade I Escrita
2. Exemplos:
Oralidade I Escrita
rEI Vídeo
Documentário "Batalha de Aljubarro-
ta" [6 min 58 s]
rElPOF
Grelha de análise de documentá rio e
Guião de produção de exposição so-
bre um tema disponiveis nos Recursos
do Projeto e no Caderno do Professor
- Materiais de Apoio (versão impressa).
Sugestão:
1.1. Toma notas que te permitam responder às questões seguintes, associadas à crise di-
nástica vivida em Portugal aquando da morte de D. Fernando I.
· carácter demonstrativo;
· elucidação evidente do tema (fundamentação das ideias);
s; • concisão e objetividade;
lei
123
Informação e Aplicação
124
Observação
Os constituintes destacados:
· são indispensáveis às frases, completando o sentido dos verbos (consideram, acham, tornou);
· ligam-se a outro constituinte das frases (Fernão Lopes).
Informação e exemplos
~ ~ ~
Ex.: O rei nomeou Fernão Lopes cronista do reino. (predicativo do complemento direto)
Fernão Lopes foi nomeado cronista do reino pelo rei. (predicativo do sujeito)
Exercícios
71. Seleciona, em cada um dos itens, a única opção que permite obter uma afirmação verda-
deira.
78. copulativo.
79. transitivo direto e indireto.
80. transitivo-predicativo.
81. intransitivo.
82. Atenta na frase abaixo.
Exercícios
1.1. c.
1.2. b.
1.3. c.
125
Afirmação da consciência coletiva I Atores (individuais e coletivos)
126
1.Nem uú falamento deve mais vizinho seer deste capitulo que havees ouvido: referência ao capítulo anterior, em que se descre-
veu o acampamento castelhano. 2.fouteza: afoiteza, coragem. 3. como: logo que. 4.lizirias: lezírias; terras que se encontram nas
margens dos rios. 5. açalmamento: abastecimento. 6. prougue: agradou. 7. deles: alguns. 8. contra: em direção a. 9. voz: partido.
10. repairamento: fortificação. 11. caramanchões: coberturas. 12. viratões: setas grandes.
ra
.
25 de
de
os
m
30
te
i
h
qu
cá
hf
j
35 CO
Educação Literária I Oralidade
83. Ouve um texto expositivo, em que se apresenta o contexto que deu origem ao cerco de~
Lisboa. ~
84. Sem força para resistir a Juan I, D. LeonorTeles abdica da regência do reino.
85. O cerco de Lisboa surge na sequência do resultado da Batalha dos Atoleiros.
86. Lisboa tem importância para D. João de Avis por motivos políticos.
87. D. João de Avis pede ajuda ao rei de Inglaterra.
88. D. João de Avis é prontamente ajudado por Ricardo 11.
89. O cerco de Lisboa dura vários meses.
1.2. Lê o texto em que Fernão Lopes relata acontecimentos relativos a este momento da
História de Portugal.
Nem uü falamento deve mais vizinho seer deste capitulo que havees ouvido', que
poermos logo aqui brevemente de que guisa estava a cidade, jazendo el-Rei de Castela
5 sobr'ela; e per que modo poinha em si guarda o Meestre, e as gentes que dentro eram,
por nom receber dano de seus êmigos; e o esforço e fouteza" que contra eles mostravorn,
em quanto assi esteve cercada.
Onde sabee que corno" o Meestre e os da cidade souberam a viinda del-Rei de Cas-
tela, e esperaram seu grande e poderoso cerco, logo foi ordenado de recolherem pera a
10cidade os mais mantiimentos que haver podessem, as si de pam e carnes, come quaes
quer outras cousas. E iam-se muitos aas Iizirias" em barcas e batees, depois que Santa-
rem esteve por Castela, e dali tragiam muitos gaados mortos que salgavam em tinas, e
outras cousas que fezeram grande açalmarnento": e colheram-se dentra aa cidade mui-
tos lavradores com as molheres e filhos, e causas que tiinham; e doutras pessoas da co-
'5marca d'arredor, aqueles a que prougue" de o fazer; e deles' passaram o Tejo com seus
gaados e bestas e o que levar poderem, e se foram contra" Setuval, e pera Palmela; ou-
tras ficaram na cidade e nom quiseram dali partir; e taes i houve que poseram todo o
seu, e ficaram nas vilas que por Castela tomaram voz9•
40 ne
te
o
da
45
50 q
e
13
d
va
22
25
3. Fernão Lopes, Crónica de D. João I
Havia mais em estas torres muitas lanças d'arrnas e bacinetes", e doutras armadu-
ras, que reluziam tantas que bem mostrava cada üa torre per si que abastante era pera se
25 defender. Em muitas delas estavam troõs" bem acompanhados de pedras, e bandeiras
de sam Jorge, e das armas do reino e da cidade, e doutros alguüs senhores e capitães que
os poinham nas torres que lhes eram encomendadas".
E ordenou o Meestre com as gentes da cidade que fosse repartida a guarda dos
muros pelos fidalgos e cidadãos honrados": aos quaes derom certas quadrilhas" e bees-
e hornêes d'arrnas pera ajuda de cada uü guardar bem a sua. Em cada quadrilha
lO teiros
havia uü sino pera repicar quando tal causa vissem, e como 18 cada uú ouvia o sino da sua
quadrilha, logo todos rijamente corriam pera ela; por quanto aas vezes os que tiinham
cárrego das torres viinham espaçar" pela cidade, e leixavom-nas encomendadas a
horneês de que muito fiavam; outras vezes nom ficavam em elas senom as atalaias; mas
15 como davam aa campãa", logo os muros eram cheos, e muita gente fora. [ ... ]
E nom embargando" todo isto, o Meestre que sobre todos tiinha especial cuidado da
guarda e governança da cidade, dando seu corpo a mui breve sono, requeria" per mui-
tas vezes de noite os muros e torres com tachas acesas ante si, bem acompanhado de
muitos que sempre consigo levava. Nom havia i neuüs revees" dos que haviam de velar,
40 nem tal a que esqueecesse causa do que lhe fosse encomendado; mas todos muito pres-
tes a fazer o que lhe mandavam, de guisa que, a todo boom regimento que o Meestre
ordenava, nom minguava avondança de trigosos" executores.
De triinta e oito portas que há na cidade, as doze eram todo o dia abertas, encomen-
dadas a boõs hornêes d'armas que tiinham cuidado de as guardar; pelas quaes neüa
45 pessoa,que muito conhecida nom fosse, havia d'entrar nem sair, sem primeiro saber em
certo por que razom ia ou viinha; e ali atrevessavom paos com tavoado pera dormir os
que tal cuidado tiinharn, por de noite seerem deles acompanhadas, e neuü malicioso
seer atrevido de cometer neuü erro.
E dalgüas portas tiinham certas pessoas de noite as chaves, por razom dos batees
\O que taes horas iam e viinham d'aalem com trigo e outros mantiimentos, segundo leedes
em seu logar; outras chaves apanhava" uü homem cada noite de que o Meestre muito
13. bacinetes: peças de armadura para proteger a cabeça. 14. troõs: peças de artilharia que arremessavam pedras. 15. encomen-
dadas: confiadas à sua guarda. 16. honrados: de boa categoria social; burgueses. 17. quadrilhas: locais da muralha onde esta-
vam os vigias. 18. como: logo que. 19. espaçar: espairecer; folgar. 20. campãa: sino. 21. nom embargando: não obstante.
22. requeria: visitava. 23. revees: rebeldes; soldados que faltavam à chamada. desobedientes. 24. trigosos: diligentes; rápidos.
25. apanhava: recolhia.
http.órn.dnoncas.pt/irnpressa/
revista/1936241194399-historia [Consult.
20-10-2014, adapt. e com supressôes]
127
Afirmação da consciência coletiva I Atares (individuais e coletivos)
fiava, e veendo primeiro como as portas ficavam fechadas, lhas levava todas aos Paaçosj
55que o Meestre mandara fazer ante que el-Rei de Castela veesse, por defender o combato
da ribeira; e eram feitas des" onde o mar mais longe espraia ataa terra junto com a ci-
dade. E üa foi caminho de Santos, a fundo" da torre da atalaia contra aquela parte, onde
entendeo que el-Rei poeria seu arreal'": outra fezerom no outro cabo da cidade junto
com o muro dos fornos da cal contra o moesteiro de Santa Clara; as quaes eram
60d'estacadas dobradas e assi bastas, que neuü de cavalo podia passar per elas, e tam
pouco os horneês de pee sem primeiro sobindo per cima da altura dos paos, que lhe
seeria grave causa de fazer; e antre as ordeês" das dobradas estacas havia espaço sem
pedra deitada, em que uü batel podesse caber sem remos, postos através, se comprisse"
de se ali colher.
65 Nom leixavom os da cidade, por seerem assi cercados, de fazer a barvacãa" d'arredor
do muro da parte do arreal, des a porta de Santa Caterina, ataa torre d'Alvoro Paaez, que
nom era ainda feita, que seeriam dous tiros de beesta; e as moças sem neuü medo, apa-
nhado pedra pelas herdades, cantavam altas vozes dizendo:
70
Se quiserdes carneiro,
qual derom ao Andeiro;
se quiserdes cabrito,
qual derom ao Bispo,
75 e
outras razões semelhantes. E quando os êmigos os torvar" queriam, eram postos em
aquel cuidado em que forom os filhos de Israel, quando Rei Serges", filho de Rei Daria,
deu lecença ao profeta Neemias que refezesse os muros de Jerusalem; que guerreados
pelos vezinhos d'arredor, que os nom alçassem, com üa mão poinham a pedra, e na
outra tiinham a espada pera se defender; e os Portugueeses fazendo tal obra, tiinham as
armas junto consigo, com que se defendiam dos êmigos quando se trabalhavorn" de os
80
embargar, que a nom fezessem.
Ó que fremosa causa era de veer! UÜ tam alto e poderoso senhor como el-Rei de
Castela, com tanta multidom de gentes assi per mar come per terra, postas em tam
grande e boa ordenança, teer cercada tam nobre cidade! E ela assi guarnecida contra ele
de gentes e d'arrnas com taes avísamentos" por sua guarda e defensom! Em tanto que
90diziam os que o virom, que tam fremoso cerco de cidade nom era em memoria d'horneês
que fosse visto de mui longos anos atá aquel tempo.
26. estacadas: cercas feitas de estacas. 27. des: perto; junto. 28. afunda: por baixo. 29. arreal: arraial; acampamento. 30. ordeês:
fileiras. 31. se comprisse: se fosse necessário. 32. baruacãa: muro exterior da fortaleza. 33. toruar: estorvar. 34. Rei Serges: Xerxes,
rei da Pérsia. 35. trabalhavam: procuravam; se esforçavam. 36. talentosos: provocados pelo desejo imoderado. 37. auisamentos:
preparativos; defesas.
128
3. Fernão Lopes, Crónica de D. João I
3.1. Reproduz o esquema abaixo no teu caderno e completa-o, dando conta dos prepa-
rativos em causa.
.J, .J,
Alimentação Defesa
J, J, .J,
a. b. c. d.
92. Atenta nos vários atores - individuais e coletivos - que intervêm nos acontecimentos
relatados.
4.1. Identifica o ator individual que se destaca, explicitando os traços do seu perfil que se
evidenciam neste capítulo.
93. lavradores;
94. fidalgos e cidadãos honrados, besteiras e homens de armas;
95. moças.
96. A prosa cronística de Fernão Lopes caracteriza-se pelo coloquialismo, pela vivacidade e
pelo dinamismo com que os acontecimentos são relatados.
129
Afirmação da consciência coletiva I Atores (individuais e coletivos)
leitura
· identificação do recenseador/crítico;
· corpo da crítica:
Sugestão:
130
Leitura
97. Lê a apreciação crítica do livro A vitória do quarto cavaleiro, uma obra sobre o cerco de
Lisboa.
Apreciação: ****
Entre os episódios que marcaram de forma
mais dramática a história de Lisboa encontra-se
o cerco de que a cidade foi alvo em 1384. Este
acontecimento insere-se nessa conjuntura tão
15 O título da obra é muito sugestivo pois alude à peste (o quarto cavaleiro) que
20no espaço de Lisboa medieval, então envolvida pela forte e extensa cerca fernan-
dina construída em grande parte entre 1373 e 1375, traçada em esmeradas plan-
tas por A. Vieira da Silva, a que o autor juntou mapas e esquemas interpretativos
das forças em confronto.
http://www.leitura.gu/benkian.pt/index.php?area=ro/&task=view&id=30368
[Consult. 21-10-2014J
10
Afirmação da consciência coletiva I Atares (individuais e coletivos)
logo por lhe acorrerem". Os da cidade como ouviam o repico, leixavam o sono, e tomavom as armas
e saía muita gente, e defendiam-nos aas beestas se compría", ferindo-se aas vezes düa parte e dou-
15tra; porem nunca foi vez que tomassem alguü, salvo üa" que certos batees estavom em Ribatejo com
triigo, e forom descubertos per uü homem natural d'Almadãa, e tomados per os Castelãos; e el foi
depois tomado e preso e arrastado, e decepado e enforcado. E posto que tal triigo algüa ajuda fe-
zesse, era tam pouco e tam raramente, que houvera mester de o multiplicar como fez Iesu Cristo aos
pães, com que fartou os cinco mil horneês.
cer", e neüa geeraçom" de pobres achava quem lhe dar pam; de guisa que a perda comum ven-
cendo de todo a piedade, e veendo a gram mingua dos mantiimentos, estabelecerom deitar fora as
gentes minguadas" e nom perteencentes pera defensom; e esto foi feito duas ou tres vezes, ataa lan-
çarem fora as mancebas mundaíras" e Judeus e outras semelhantes, dizendo que pois taes pessoas
25nom eram pera pelejar, que nom gastassem os mantiimentos aos defensores; mas isto nom aprovei-
tava cousa que muito prestasse.
30que os açoutassem e fezessem tornar pera a cidade; e esto lhes era grave de fazer, tornarem per força
pera tal logar, onde chorando nom esperavom de seer recebidos; e taes i havia que de seu grado se
saíam da cidade, e se iam pera o arreal, querendo ante de todo seer cativos, que assi perecerem mor-
rendo de fame.
Como nom lançariam fora a gente minguada e sem proveito, que" o Meestre mandou saber em
35 certo pela cidade que pam havia per todo em ela, assi em covas" come per outra maneira, e acharom
que era tam pouco que bem havia mester sobr'elo" conselho?
Na cidade nom havia triigo pera vender, e se o havia, era mui pouco e tam caro que as pobres
gentes nom podiam chegar a ele; ca valia o alqueire quatro livras; e o alqueire do milho quareenta
soldos; e a canada do vinho tres e quatro livras; e padeciam mui apertadamente, ca dia havia i que,
ainda que dessem por uü pam üa dobra, que o nom achariam a vender; e começaram de comer pam
40
de bagaço d'azeitona, e dos queijos" das malvas e raizes d'ervas, e doutras desacostumadas causas,
pouco amigas da natureza; e taes i havia que se mantiinham em alféloa". No lagar u costumavam
vender o triígo, andavam homeês e moços esgaravatando a terra; e se achavam alguüs grãos de triigo,
metiam-nos na boca sem teendo outro mantiimento; outros se fartavam d'ervas, e beviam tanta
45 agua, que achavam mortos homeês e cachopos jazer inchados nas praças e em outros lagares.
Das carnes, isso rneesmo, havia em ela grande mingua; e se alguüs criavam porcos, mantiinharn-
-se em eles": e pequena posta de porco, valia cinco e seis livras que era üa dobra castelãa; e a galinha,
quareenta soldos; e a duzia dos ovos, doze soldos; e se almogávares" tragiam alguüs bois, valia cada
uü sateenta livras, que eram catorze dobras cruzadas, valendo entom a dobra cinco e seis livras; e a
50cabeça e as tripas, üa dobra; as si que os pobres per mingua de dinheiro, nom comiam carne e pade-
ciam mal; e começarom de comer as carnes das bestas, e nom soomente os pobres e minguados, mas
grandes pessoas da cidade, lazerando", nom sabiam que fazer; e os geestos mudados com fame,
bem mostravam seus encubertos padecimentos. Andavam os moços de tres e de quatro anos
10. repicauom logo por lhe acorrerem: tocavam os sinos para os socorrerem. 11. aas beestas se compria: com tiros de besta, se fosse necessário.
12. saluoüa: com exceção de uma vez. 13. gastou-se: consumiu-se. 14. apertadamente: com dificuldade. 15. desfalecer: faltar. 16. geeraçom: família.
17. minguadas: miseráveis. 18. mundairas: prostitutas. 19. aa primeira: a princípio. 20.fame: fome. 21. que: se. 22. covas: silos ou celeiros subter-
râneos. 23. sobr'elo: acerca disso. 24. queijos: bolbos. 25. alféloa: melaço cristalizado. 26. mantiinham-se em eles: viviam disso. 27. almogávares:
negociantes de gado. 28. lazerando: passando fome.
132
55
60
65
70
E
75
jj
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85 C
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29.
35.
pai
3. Fernão Lopes, Crónica de D. João I
•
pedindo pam pela cidade por amor de Deos, como lhes ensinavam suas madres, e muitos nom tiinham
55 outra
cousa que lhe dar senom lagrimas que com eles choravom que era triste cousa de veer; e se lhes
davom tamànho pam come üa noz, haviam-no por grande bem. Desfalecia o leite aaquelas que tiinham
crianças a seus peitos per mingua de mantiimento; e veendo lazerar seus filhos a que acorrer nom po-
diam, choravom ameúde sobr'eles a morte ante que os a morte privasse da vida. Muitos esguardavom as
prezes alheas" com chorosos olhos, por comprir o que a piedade manda, e nom teendo de que lhes
Toda a cidade era dada a nojo", chea de mezquinhas querelas, sem neuü prazer que i houvesse: uüs
com gram mingua do que padeciam; outros havendo doo dos atribulados; e isto nom sem razorn, ca se
é triste e mezquinho o coraçom cuidoso nas cousas contrairas que lhe aviinr podem, veede que fariam
aqueles que as continuadamente tam presentes tiinham? Pero com todo esto, quando repicavom, neuü
65 nom mostrava que era faminto, mas forte e rijo contra seus érnigos. Esforçavom-se uüs por consolar os
outros, por dar remedio a seu grande nojo, mas nom prestava conforto de palavras, nem podia tal door
seer amansada com neüas doces razões; e assi como é natural cousa a mão ir ameúde onde see31 a door,
assi uüs homées falando com outros, nom podiam em ai departir" senom em na mingua que cada uü
padecia.
70 Ó quantas vezes encomendavom nas missas e preegações que rogassem a Deos devotamente por o
estado da cidade! E ficados os geolhos, beijando a terra, braadavom a Deos que lhes acorresse, e suas
prezes nom eram compridas! [ ... ]
Sabia porem isto o Meestre e os de seu Conselho, e eram-lhe doorosas d'ouvir taes novas; e veendo
estes males a que acorrer nom podiam, çarravom suas orelhas do rumor do poboo.
75 Como nom querees que maldissessem sa vida e desejassem morrer alguüs hornêes e molheres, que
tanta deferença há d'ouvir estas cousas aaqueles que as entom passarom, como há da vida aa morte? Os
padres e madres viiam estalar de fame os filhos que muito amavom, rompiam" as faces e peitos sobr'eles,
nom teendo com que lhe acorrer, senom planto e espargimento de lagrimas; e sobre todo isto, medo
grande da cruel vingança que entendiam que el-Rei de Castela deles havia de tomar; assi que eles pade-
ciam duas grandes guerras, üa dos êmigos que os cercados tiinham, e outra dos mantiimentos que lhes
80
minguavom, de guisa que eram postos em cuidado de se defender da morte per duas guisas.
Pera que é dizer mais de taes falecimentos"? Foi tamanho o gasto das cousas que mester haviam
que soou uü dia pela cidade que o Meestre mandava deitar fora todolos que nom tevessem pam que
comer, e que somente os que o tevessem ficassem em ela; mas quem poderia ouvir sem gemidos e sem
85choro tal ordenança de mandado aaqueles que o nom tiinham? Porem sabendo que nom era assi, foi-
-lhe já quanto" de conforto. Onde sabee que esta fame e falecimento que as gentes as si padeciam, nom
era por seer o cerco perlongado, ca" nom havia tanto tempo que Lixboa era cercada; mas era per aazo
das muitas gentes que se a ela colherom de todo o termo; e isso meesmo da frota do Porto quando veo,
e os mantiimentos seerem muito poucos.
90 Ora esguardae" como se fossees presente, üa tal cidade assi desconfortada e sem neüa certa feúza
de seu livramento", como veviriam em desvairados cuidados quem sofria ondas de taes aflições? Ó gee-
raçom que depois veo, poboo bem aventuirado, que nom soube parte de tantos males, nem foi qui-
nhoeiro" de taes padecimentos! Os quaes a Deos por Sua mercee prougue de cedo abreviar doutra
guisa, como acerca" ouvirees.
133
_ 29. prezes alheas: súplicas dos outros. 30. nojo: tristeza. 31. see: está. 32. departir: discutir outra coisa. 33. rompiam: feriam. 34.jalecimentos: misérias.
: 35. quanto: um pouco. 36. ca: porque. 37. esguardae: olhai. 38. sem neúa certajeúza de seu livramento: sem confiança na libertação. 39.joi quinhoeiro:
iÉ participou. 40. acerca: em breve.
Afirmação da consciência coletiva I Atores (individuais e coletivos)
e. Recursos expressivos:
134
3.1. Organiza-os de acordo com a ordem por que são apresentados no texto, identifi-
cando os segmentos textuais a que dizem respeito.
5.1. Comenta a adequação e a expressividade do título atribuído por Fernão Lopes a este
capítulo: "Das tribulações que Lixboa padecia per mingua de mantiimentos".
Gramática
val.
1.1. Identifica, nas mesmas frases, as funções sintáticas internas ao grupo verbal.
Escrita I Educação Literária
C. constituir.
d. aclamar.
120. Lê um excerto do romance histórico Ivanhoe, de Walter Scott, publicado pela primeira vez
em 1820. Repara que, à semelhança do que acontece no capítulo 148 da Crónica de
D. João I, também aqui se descrevem as condições de vida do povo na época medieval.
Walter Scott, Ivanhoe (trad. Ricardo Coelho Iglésiasl, Mem Martins, Europa-América [p. 92]
1.1. Escreve um pequeno texto em que apresentes o teu ponto de vista relativamente
aos valores culturais e éticos apresentados no excerto.
Gramática
135
121.
confeção de sobras.
· compostagem.
[:
136
Leitura I Oralidade
122. Apesar de 842 milhões de pessoas ainda passarem fome em todo o mundo, o desperdício
de alimentos acontece desde a produção até ao consumo.
1.1. Reflete com os teus colegas sobre a questão do desperdício alimentar. Alguns dos
tópicos a abordar poderão ser os seguintes:
Abre-se o frigorífico da família Neves e saltam de lá algumas caixas com restos de refei-
ções que não foram comidas até ao fim. Há arroz branco, massa, umas bifanas, arroz de pato
e 14 claras que sobraram de um bolo. Destas pequenas doses só as bifanas e as claras iriam
parar ao lixo, uns dias depois. O restante foi aproveitado para a marmita de Maria João, 48
anos, diretora numa gestora de seguros de saúde. Em casa dos Neves jantam entre cinco pes-
10 soas (casal e três filhas, entre os 16 e os 22 anos) e sete (os dois namorados das mais velhas).
Ao almoço é sempre uma incógnita quantos talheres se põem na mesa - a principal razão
para o desperdício alimentar nesta família.
Na mesa da cozinha vão pousando as compras da semana, que saem dos sacos de uma
grande superfície. Trazem peixe e carne, que hão de ser congelados, iogurtes, fruta, bola-
15 chas,cereais, açúcar, leite, manteiga, massa para croissants, latas de atum e pão. Uma se-
mana depois, em cima da mesma mesa expõe-se o desperdício: vários pedaços de pão, uma
fatia de tarte de ovo, um queijo fresco que passou do prazo, uma banana quase podre, uma
alface com folhas queimadas e recheio de ovo para croissants a ficar verde. Marta, a filha
mais velha, já deitara para o lixo fatias de fiambre malcheiroso e um limão com bolor. Volta-
20 mosa encontrar caixas com restos de refeições, mas dão-nos a garantia de que vão ser con-
sumidos. Aliás, nessa noite de domingo, a ementa será uma sopa feita a partir do que sobrou
do cozido à portuguesa do almoço.
Confiando nas estimativas, ao final de um ano, só Maria João terá desperdiçado 97 quilos
de comida. O único estudo realizado em Portugal sobre este problema concluiu que o país
25 perde cerca de um milhão de toneladas de alimentos por ano.
»
3. Fernão Lopes, Crónica de D. João I
A investigadora Iva Pires, 54 anos, foi uma das responsáveis pelo PERDA, que monitorizou o
desperdício durante o ano de 2012, através de um inquérito online a 800 famílias e dezenas de
entrevistas em profundidade. [ ... ] "As pessoas não tinham noção do que desaproveitavam, nem
Apesar dos resultados, a investigadora conclui que estamos abaixo da média mundial. Por-
35 tugal
perde 17% dos seus alimentos, enquanto que no resto do mundo 33% do que se produz
não acaba no estômago de quem tem fome. Hélder Muteia, 53 anos, representante da FAO (Food
and Agriculture Organization, das Nações Unidas) em Portugal, conhece bem os números que
lhe tiram o sono: uma em cada quatro calorias gerada no sistema agrícola mundial não cumpre
Nos países menos desenvolvidos, grande parte do desperdício acontece na fase da produção, por falta de
infraestruturas e organização. Nas zonas mais ricas, as perdas dão-se sobretudo na distribuição e no con-
sumo. "Há, por isso, que mudar esta cultura de abundância, alargando prazos de validade, ter atenção à
forma como nos servimos ou até como descascamos os produtos:' [ ... ]
Salvar a fruta
Outras medidas:
45 Apesar de ter avançado com a Fruta Feia há menos de um ano, tendo só dois pontos de entrega em Lis-
boa, e de trabalhar apenas com agricultores da zona do Oeste, a pequena cooperativa já roubou ao desperdí-
cio mais de 50 toneladas de hortícolas.
[ ... ] Logo de manhã, Isabel Soares, 31 anos, e Maria Canelhas, 25, passaram pelas quintas de sete agricul-
tores (há 32 associados) e trouxeram 1800 quilos que nunca iriam ser consumidos. "O tomate e a cenoura
50 são
os rejeitados pelo calibrador, as alfaces muito grandes, as maçãs muito pequenas, os agriões têm folhas
ratadas e as peras manchas na casca. São tantas as desculpas, que às vezes me perco'; diz Isabel Soares, pre-
sidente da cooperativa. As duas sócias pagam cerca de 50% do preço da fruta dita bonita, o valor justo para
que seja viável a apanha. Só assim podem vender os cabazes de quatro quilos a 3,5 euros aos 450 consumi-
dores que apostaram nesta ideia (há 2500 em lista de espera). [ ... ]
123.
55 Abençoada comida
[ ... ] A Refood também nasceu em 2011, da cabeça do americano Hunter Halder, 63 anos, chocado com
toda a comida que os restaurantes deitam ao lixo (50 mil refeições por dia). Hoje, já existem cinco núcleos
em Lisboa (e outros tantos quase a abrir), que mais não fazem do que bater à porta dos restaurantes aderen-
tes, com caixas na mão, à espera que elas se encham. Depois, a partir das oito da noite, começa a entrega aos
60 beneficiários.
137
Teste formativo
Nota: Este teste segue, dentro do
possível, a estrutura da última edição
(2014) do exame nacional de Portu-
guês, considerando o objeto de ava-
liação (10.0 ano, Crónica de D. João t,
de Fernão Lopes). Assim, é constituí-
do por três grupos:
tiDPPT
GRUPOI
1. Os acontecimentos relatados no
capítulo referem-se ao cerco de que
Lisboa foi alvo por parte do rei de Cas-
tela, em 1384. Trata-se, pois, de um
acontecimento referente à crise polí-
tica de 1383-1385, que culminaria
com a aclamação do Mestre de Avis
como rei de Portugal, em 1385.
140
(~~.~i~.~'~J~_______________________ ~(l~O~O~PO~N~TO~S)
Capítulo 115
Per que guisa' estava a cidade corregida pera se defender, quando el-Rei de Castela
pôs cerco sobr'ela.
[ ... ]
Onde sabee que corno" o Meestre e os da cidade souberam a viinda del-Rei de Cas-
tela, e esperaram seu grande e poderaso cerco, logo foi ordenado de recolherem pera a
cidade os mais mantiimentos que haver podessem, as si de pam e carnes, come quaes
quer outras cousas. E iam-se muitos aas lizirias em barcas e batees, depois que Santa-
rem esteve por Castela, e dali tragiam muitos gaados mortos que salgavam em tinas, e
outras cousas que fezeram grande açalrnamento": e colheram-se dentra aa cidade mui-
tos lavradores com as molheres e filhos, e cousas que tiinham; e doutras pessoas da co-
marca d'arredor, aqueles a que prougue" de o fazer; e deles" passaram o Tejo com seus
lO
gaados e bestas e o que levar poderorn, e se foram contra" Setuval, e pera Palmela; ou-
tras ficaram na cidade e nom quiseram dali partir; e taes i houve que poseram todo o
seu, e ficaram nas vilas que por Castela tomaram voz".
Havia mais em estas torres muitas lanças d'arrnas e bacínetes", e doutras armadu-
ras, que reluziam tantas que bem mostrava cada üa torre per si que abastante era pera se
20 defender. Em muitas delas estavom troõs" bem acompanhados de pedras, e bandeiras
de sam Jorge, e das armas do reino e da cidade, e doutros alguüs senhores e capitães que
os poinham nas torres que lhes eram encomendadas".
1. guisa: modo; maneira. 2. como: logo que. 3. açalmamento: abastecimento. 4. prougue: agradou. 5. deles: alguns. 6. contra: em
direção a. 7. voz: partido. 8. repairamento: fortificação. 9. caramanchões: coberturas. 10. uiratões: setas grandes. 11. bacinetes:
peças de armadura para proteger a cabeça. 12. troõs: peças de artilharia que arremessavam pedras. 13. encomendadas: confia-
das à sua guarda.
(20 PONTOS)
(20 PONTOS)
(20 PONTOS)
(20 PONTOS)
125. Mostra de que forma a afirmação da consciência coletiva está presente neste
excerto.
(20 PONTOS)
• •
3. Fernãa l.opes, Crónica de D. João I
(50 PONTOS)
Lê a texto seguinte.
141
Teste formativo
GRUPO 11
t.i.u
1.2.b.
1.3.b.
142
1. virotes: setas curtas. 2. califa: soberano, governante de uma comunidade muçulmana. 3. almóada: muçulmano
oriundo de Marrocos no século XII.
130. Para responderes a cada um dos itens de 1.1. a 1.7., seleciona a opção correta. Escreve, na
folha de respostas, o número de cada item e a letra que identifica a opção escolhida.
(5 PONTOS)
131. foi utilizada pela primeira vez nas Batalhas de Aljubarrota e dos Atoleiros.
132. era uma arma usada nas anadelarias.
133. era uma arma ainda desconhecida pelos Besteiros do Conto.
d, foi uma arma de importância reduzida nas guerras medievais.
138.
(5 PONTOS)
143. causa.
144. consequência.
145. concessão.
146. semelhança.
(5 PONTOS)
(5 PONTOS)
(15 PONTOS)
(50 PONTOS)
lindley Cintra, "Fernão l.opes" in Jacinto do Prado Coelho (org.), Dicionário de Literatura,
Porto, Figueirinhas, 1994 [p. 575]
Explicita O sentido da afirmação, numa exposição escrita bem estruturada, que contenha
entre duzentas e trezentas palavras.
1.4. a.
1.5. c.
1.6.a.
1.7. b.
2.1.
160. Predicado.
Grupo 11I
(284 palavras)
143