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N.

º Convencional
PROVAS DE ACESSO E INGRESSO PARA OS
MAIORES DE 23 ANOS
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Duração da Prova: 2h
Edição: 2018/2019 Data: 28 de abril de 2018 Tolerância: 15 min

Prova: Português

Esta prova é constituída por três grupos de resposta obrigatória. Nas respostas, a qualidade da
expressão escrita e da estruturação do discurso constitui critério de avaliação fundamental.
Nesta prova deverá escrever segundo as normas do Acordo Ortográfico de 1990 (novo Acordo
Ortográfico).

Grupo I

Leia com atenção o seguinte texto:

«A liberdade é a possibilidade do isolamento. És livre se podes afastar-te dos homens, sem que te obrigue a procurá-
los a necessidade de dinheiro, ou a necessidade gregária, ou o amor, ou a glória, ou a curiosidade, que no silêncio e na solidão
não podem ter alimento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo. Podes ter todas as grandezas do espírito, todas da
alma: és um escravo nobre, ou um servo inteligente: não és livre. E não está contigo a tragédia, porque a tragédia de nasceres
assim não é contigo, mas do Destino para si somente. Ai de ti, porém, se a opressão da vida, ela própria, te força a seres
escravo. Ai de ti se, tendo nascido liberto, capaz de te bastares e de te separares, a penúria te força a conviveres. Essa, sim, é
a tua tragédia, e a que trazes contigo.
1
Nascer liberto é a maior grandeza do homem, o que faz o ermitão humilde superior aos reis, e aos deuses mesmo,
que se bastam pela força, mas não pelo desprezo dela.
A morte é uma libertação porque morrer é não precisar de outrem. O pobre escravo vê-se livre à força dos seus
prazeres, das suas mágoas, da sua vida desejada e contínua. Vê-se livre o rei dos seus domínios, que não queria deixar. As
que espalharam amor vêem-se livres dos triunfos que adoram. Os que venceram vêem-se livres das vitórias para que a sua
vida se fadou.
Por isso a morte enobrece, veste de galas desconhecidas o pobre corpo absurdo. É que ali está um liberto, embora o
não quisesse ser. É que ali não está um escravo, embora ele chorando perdesse a servidão. Como um rei cuja maior pompa é
2
o seu nome de rei, e que pode ser risível como homem, mas como rei é superior, assim o morto pode ser disforme, mas é
superior, porque a morte o libertou.
Fecho, cansado, as portas das minhas janelas, excluo o mundo e um momento tenho a liberdade. Amanhã voltarei a
ser escravo; porém agora, só, sem necessidade de ninguém, receoso apenas que alguma voz ou presença venha interromper-
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me, tenho a minha pequena liberdade, os meus momentos de excelsis .
Na cadeira, aonde me recosto, esqueço a vida que me oprime. Não me dói senão ter-me doído».

Fernando Pessoa, Livro do Desassossego, por Bernardo Soares. Lisboa: Ática, 1982.

1
ermitão = eremita, pessoa que vive isolada (no ermo) com intuitos religiosos ou contemplativos.
2
risível = que provoca riso, ridículo.
3
excelsis = altura, glória.

Responda às seguintes questões:

1. No texto que acaba de ler, Bernardo Soares expõe o que entende por liberdade. Por palavras suas, diga como define
Bernardo Soares esse conceito.

2. Em que consiste a escravidão para Bernardo Soares?

3. Indique por que razão a morte é, para Bernardo Soares, uma libertação.

4. De que forma Bernardo Soares encontra a liberdade?


N.º Convencional
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Grupo II

Resuma, por palavras suas, a notícia a seguir transcrita, constituída por quatrocentos e quarenta e quatro palavras, num texto
de cento e quarenta palavras.

Antes de iniciar o seu resumo, leia atentamente as seguintes observações:

a) Há uma tolerância de vinte palavras relativamente ao total pretendido (cento e quarenta palavras como limite
mínimo, cento e sessenta como limite máximo). Um desvio maior implica uma desvalorização parcial do texto produzido.

b) Para efeito de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo
quando esta integre elementos ligados por hífen (exemplo: far-se-ia conta como uma só palavra).

Cancele o café, afinal quero uma bebida à base de bolotas

É “uma das bebidas mais apreciadas e consumidas em todo o mundo”. Investigadores da Faculdade de Farmácia da
Universidade do Porto (FFUP) desenvolveram um produto para substituir o café. A bebida é à base de bolotas e parece ganhar
à cafeína quando o assunto é saúde.
Quando consumido em doses elevadas, disse à Lusa Diana Pinto, investigadora da FFUP e uma das responsáveis
pelo projecto, o café pode originar ou aumentar sintomas como taquicardia, palpitações, insónias, ansiedade, tremores e dores
de cabeça. Efeitos indesejáveis que podem também acontecer em indivíduos mais sensíveis à cafeína — mesmo que não
consumam elevadas quantidades de café. "Certos consumidores com distúrbios gástricos, anemia por deficiência de ferro,
hipertensos ou em situações de stress podem apresentar sensibilidade aumentada ao café", referiu.
Para ultrapassar esta questão, acreditam os investigadores, é necessário procurar alternativas para o
desenvolvimento sustentável de substitutos do café, onde se incluem produtos alimentares sem valor comercial. Neste
projecto, a equipa usou as sementes de Quercus cerris, conhecidas por bolotas e consideradas um recurso com baixo impacto
na alimentação humana, para desenvolver uma bebida que pode ser um substituto do café tradicional.
Utilizando as sementes, a equipa criou um pó, com um sabor menos intenso do que o do café, que tem que ser
disperso em água e filtrado antes de consumido, à semelhança do que acontece com o café em pó ou com os seus substitutos.
De acordo com Diana Pinto, estas sementes são ricas em compostos antioxidantes, como polifenóis e vitamina E, e têm uma
elevada captação de espécies reactivas de oxigénio e de azoto. Além disso, não apresentam toxicidade para as células
intestinais.
Os próximos passos do projecto passam pela identificação e quantificação dos compostos bioativos presentes na
constituição da bebida desenvolvida e pela análise sensorial do produto. Participam no projecto os investigadores da FFUP
Santiago Diaz Franco, Anabela Costa, Sónia Soares, Francisca Rodrigues e Maria Beatriz Oliveira, também membros do
REQUIMTE, LAQV/Departamento de Ciências Químicas, e Snezana Cupara, Marijana Koskovac e Ksenija Kojicic, da
Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Kragujevac (Sérvia).
O consumo de cafeína tem originado vários estudos científicos. E a verdade é que não há conclusões claras em
relação aos efeitos — e até à quantidade ideal a beber. Há quem diga que a cafeína pode melhorar a memória, atrasar o
desenvolvimento da doença de Machado-Joseph (em ratinhos), proteger contra a doença de Parkinson, até combater e tratar a
depressão. Para quem não gosta de café mas precisa de cafeína para despertar, há alternativas. Como esta tira, por exemplo,
que se dissolve na boca e liberta cafeína.

Público, 23/02/2018
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Grupo III

Responda a uma, e apenas a uma, das seguintes questões:

OPÇÃO 1

Considerando o romance Memorial do Convento, explique, num texto expositivo-argumentativo, de que forma os
traços de caráter do Padre Bartolomeu de Gusmão o impelem à construção da passarola. Pode e deve recorrer a exemplos
extraídos da obra que considere significativos.

O texto deverá ter um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas palavras.

OPÇÃO 2

Desenvolva, num texto lógico e coerente, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas palavras, a
seguinte frase proferida pelo narrador de O conto da Ilha Desconhecida, de José Saramago:

Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar.

NOTA: Para efeito de contagem do número de palavras, aplica-se o estabelecido na alínea b) do Grupo II.

COTAÇÃO DA PROVA

GRUPO I GRUPO II GRUPO III TOTAL

10 valores 5 valores 5 valores 20 valores


(cem pontos) (cinquenta pontos) (cinquenta pontos) (200 pontos)

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