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Sebenta Cristianismo e Cultura-Eva BP

Cristianismo e Cultura (Universidade Catolica Portuguesa)

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Cristianismo e
cultura




Docente: Mestre Rita Mendonça Leite

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Influência do cristianismo na cultura:

Vestígios na arte:
§ Literatura produzida em mosteiros

§ Arquitetura dos edificios sagrados ( catedrais, igrejas)

§ Vitrais que embelezavam as igrejas

§ Estudos —> fio+losofia, teologia e Antropologia começou por ser estudado pela religião

Vestígios na Ética:
• Valores absolutos

• Direito à vida

• Justiça e igualdade

• Atenção com os desfavorecidos

• Apelo à caridade e solidariedade

• Pecado como rutura com a moral

Vestígios simbolico - conceituais


• Obejtos —> cruz, biblia

• Noções —> pecado, ceu, inferno

• Festas —< Natal, Páscoa, feriados

• O Cristianismo focado nuam experiência de dignidade e humanização do ser humana


influência a sociedade num sentido humanista;

• Jesus Cristo é a fonte para saber viver a vida seja qual for o contexto cultural para um
cristão;

• Jesus é para os critãos um critério para interpretar e tomar decisões

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Objetivo do Cristianismo à Levar as pessoas a descobrirem o mistério da sua existência, que


estão fundadas em Deus e orientar para a verdade última

NOÇÕES DE CULTURA
Cultura à Conjunto de conhecimentos que permitem domesticar, manipular,
apropriar-se de um conjunto de competências.

Processo de conhecer e integrar. Desenvolver consciência de si próprio.


Desenvolvimento da consciência relacional, e gerador de individualidade mas também
e sentimento de pertença social;

Ø Brota do processo de humanização e aperfeiçoamento do ser humano

Segundo Marcello Azevedo , há 2 níveis a considerar:

o Fenoménico à visível e observável


o Implícito à subjacente aos fenómenos, são os significados e estruturas de
sentido
Ø Processo de diferenciação à homem diferencia-se da natureza que o rodeia
Ø Processo de diversificação social à papel do homem; atividades produtivas;
diversidade de funções na sociedade;

Polissemia da cultura:

Ø Nao há definição acabada de cultura; Há várias definições semânticas de


cultura. Diversificação de funções diferentes dentro do mesmo mundo
cultural;

1.Atividade humana

2. Desenvolvimento pessoal e social

Diversos tipos de cultura:

• Cultura oral vs cultura escrita


• Cultura letrada vs cultura popular
• Cultura de elites vs cultura de massas
• Cultura humanista vs cultura científica
• Cultura vs culturas

Homo symbolicus :

o Homem define símbolos que permite a sua relação com o outro.


o Capacidade de conversação
Existência + consciência :

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Ø Existência <-> natureza <-> Individualidade <-> Desenvolvimento da


comunicação/ linguagem
Ø Consciência <-> cultura <-> alteridade <-> Dimensão relacional

1. Noção humanista/ civilizacional


• Exercício da capacidade humana
• Exercício das capacidades humanas, o cultivo das artes, das letras, dos
espíritos, da filosofia e das ciências

“ ação que o homem realiza, que sobre o seu meio quer sobre si mesmo, no sentido
de aperfeiçoar as suas qualidades e promover a cultura do espírito” ( Isabel Ferin)

Risco:

o Elitismo à perspertiva aristocrática, totalizante e de exclusão. Ex: só os


homens cultos/ instruidos é que tinham direito à cidadania

Virtude:

o Desafio o ser humano a superar-se continuamente

2. Noção ligada às ciências sociais


o Arte de viver de um povo concreto
o Vincula-se Às ciências sociais como a etnologia, a antropologia cultural
o Trata-se de um conjunto determinado e particular de crenças e sistemas
simbólicos, regras sociais e do saber fazer, que se transmitem de geração e
geração

Ciências sociais à estudam a diversidade de manifestações do homem nos


inúmeros grupos ou comunidades dispersas pelo mundo

“ A cultura é um conjunto integrado de crenças ( sobre Deus, a realidade, ou o


significado do mundo), de valores ( sobre o que é bom, verdadeiro, belo e
normativo) ,de costumes ( como se comportar, as nossas relações humanas e
maneiras de falar, rezar, comer, vestir, trabalhar, jogar, fazer comércio, lavrar a
terra etc), e de instituições que exprimem estas crenças, valores, costumes, (
governo, tribunais, templos/igrejas, família, escolas, hospitais, sindicatos etc), que
reúnem uma sociedade e lhe dão um sentido da sua identidade, da sua
dignidade, segurança e continuidade. ( willowbank)

Ø As duas noções surgem numa relação de complementaridade


• A cultura é uma criação humana e o homem é o fim da criação
cultural

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• A dinamização da cultura faz parte da humanização

Outra Perspetiva

Culto à o que conhece

Prestar culto à reconhecimento do valor de algo ou alguém

( Cultura) à conjunto das experiências e conhecimentos que a pessoa integra e


transporta, conferindo-lhe uma certa mundividência. à permite entender e lidar com
a realidade e centralidade da consciência

Transcendência à dimensão essencial da cultura

Orientação relacional última à o divino, a divindade, Deus

3 Modelos de relação do cristianismo e da cultura:

a) Oposição fé cristã – cultura:


o Atitude de recusa e rejeição
o Considera-se pagã o que for oposto aos princípios e valores suscitados
pela fé em Jesus
o Nasce no séc. I quando os cristãos se começam a distinguir das outras
religiões
o Os cristãos começar a rejeitar os costumes que fossem contra a sua
religião ( ex: adorar os vários deuses romanos)

Épocas mais relevantes:

• Inícios do Cristianismo à oposição entre fé cristã de atitude judaizaste;


Rejeição de influências da cultura helenista.
• Séc III e IV à perseguições por parte da cultura romana à atitude fechada
das comunidades cristãs
• Descobertas à Contacto com os povos do novo mundo
• Séc XVII-XIX à contacto com os povos dos novos mundos
• Séc XVII – XIX à crises face ao iluminismo

b) Identificação fé-cultura

o Fusão da fé cristã e dos seus princípios com a cultura à torna-se um


princípio inspirador para a própria organização social e institucional
o Sacralização das instituições e realidades sócio-culturais e secularização da
Igreja como instituição
o Época histórica à Cristandade

c) Diálogo fé e cultura

o Fé cristã não se opõem nem defende outras culturas


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o Não pretende dominar nem fundir - se com outras culturas


o Reconhece que nas diferentes culturas existem elementos evangélicos
positivos, bem como outros que devem ser rejeitados.
o Trata-se de um diálogo com a cultura, ou seja, aceitando certos e
elementos e rejeitando criticamente outros, numa atitude positiva,
valorizadora e aberta.

O Fenómeno Religioso
Ø Até hoje, não existe sociedade humana sem religião

§ Existe sempre alguma expressão de uma “ dimensão religiosa”


§ Há sempre uma afirmação de um sentido de religiosidade

Ø Existe uma diversidade de manifestações do fenómeno religioso quer inter-


sociedades quer intra-sociedades;

Fenómenos religiosos enquanto processos culturais


o Há uma procura de significação
da vida e de sentido
o Experiência e reflexão sobre os limites dos seres humanos e das sociedades

o Um nível da cultura à Instância produtora de cultura

Religiões têm sempre uma dimensão social e cultura porque:

o Atribuem a um conjunto de pessoas uma mundividência (visão do mundo)


comum

o Um sistema de relações sociais
comum
o Formas de expressão simbólica (mitos e ritos) comuns

Noção de FÉ e sagrado

Fides à fidelidade

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Religião ¹ Fé
Religião à sistema coerente de procura e significação do sentido + formas de
pensamento e agir social ( o político, o social, o económico) ( grupo)

Fé à
o expressão pessoal e individualizada da vivência do religioso
o Vínculo
o Individual

Principais aspetos do sagrado


Ø Fundamento da religião


1)Três grandes linhas de estudo do fenómeno religioso:

o Sociológica (Durkheim)
§ Projeção simbólica da identidade do clã ou do grupo tribal
o Fenomenológica (Otto)
§ É um poder que se situa para lá do âmbito do humano
o Hermenêutica (Eliade)
§

Centralidade do Sagrado

2) Expressões linguísticas do sagrado à transcendência; divino; santo

3) Símbolo à mediação; sistema de conhecimento; veículo

4) Mito à relato último; conjugação símbolos; sentido)

5) Rito à acto simbólico; representação; adaptação)

Religião:
o Pode ser praticada de forma superficial, passiva, ou sentida de modo
profundo empenhado e dinâmico
o Com aspetos conscientes e inconscientes

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o É abrangente à porque se refere a múltiplas dimensões da vida

o É transversal à porque atinge tanto sociedades como indivíduos

o É uma perspetiva, uma postura, uma forma de existir dentro da fé.

o É um padrão básico sócio- individual que abrange o ser humano e o seu


mundo, através do qual mulheres e homens tudo vêem e experimentam,
pensam e sentem, agem e repousam, sofrem e se alegram.

o Sistema de coordenadas justificado de forma transcendente e atuante de


forma imanente
§ Em relação ao qual o ser humano se orienta do ponto de vista
intelectual, emocional e existencial

o Transmite um sentido concreto e abrangente à vida;


o Garante valores e padrões absolutos;
o Gera a comunidade espiritual e um sentimento de insegurança
o A religião é abrangente à tudo penetra, tudo invade

Formas de distinguir as definições de cultura:

o Funcionais àVazias ex: “ religião é o que confere sentido à vida do homem”

o Substantivas à Introduzem-nos verdadeiramente nos conteúdos; Permitem


aprofundar a questão

a) Definição Clássica e sociológica de E. Durkheim

“ sistema solidário de crenças e de práticas relativas às coisas


sagradas, isto é, separadas, interditas à crenças e práticas que unem
numa mesma comunidade moral, chamada “ Igreja”, todos aqueles
que a ela aderem”

Elementos constitutivos do fenómeno religioso


1) Âmbito
o Qualquer religião se move num determinado âmbito, o âmbito do sagrado
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o Estabelece um umbral diferencial/ separativo entre o sagrado e o humano não-


sagrado à interação sagrado – profano
o Exprime-se pela expulsão, sacralização, distinção radical, afirmação da
santidade
o Sagrado com valor absoluto que relativiza tudo o resto
o Não é fruto de possível conquista por parte do sujeito que nele crê à está para
além do sujeito, não depende do sujeito
o Envolve uma grande seriedade onde o sujeito religioso tem consciência de aí
se jogar o seu fracasso ou êxito pessoal, a salvação ou perdição;

2) Mistério à a manifestação
o Realidade superior a que se refere tudo o que se move dentro do sagrado
o Apresenta conotações de transcendência e imanência

Transcendente à pode ser o totalmente outro, o omnipotente, o vazio ou o nada

Imanente à proximidade permanente do homem, origem permanente do homem

3) Atitude Religiosa

o Resposta do homem a esse mistério/absoluto


o A atitude religiosa não é a de simplesmente pedir a satisfação de necessidades
ou desejos à divindade;
o A verdadeira atitude religiosa é adoração, devoção, fé ( e os seus
equivalentes)
o É aceitar uma realidade superior em tudo e entregar-se a esse valor supremo;
o Compreensão de que Deus é o supremo mas não é rival do homem

4) Mediações
o Meios para o encontro entre o Ser Humano e o Absoluto
Mediações objetivas à são as “hierofanias”, as manifestações do
mistério, do sagrado ; elementos naturais à o sol, lua,montanhas,
vegetações, agua etc

Mediações subjetivas à variam de religião para religião, de cultura para


cultura
§ Espácio-temporais à catedrais, templo, festas
§ Racionais à ideia de Deus, teologias, dogmas, mitos
§ Ativas à culto, oração, sacrífico, ética

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§ Emotivas à maravilhamento, entusiasmo


§ Comunitárias à seita, discipulado, igreja, vida religiosa

Diversas compreensões da religião <-> Dimensões do


uno e do múltiplo

Há uma diversidade de universos religiosos

Mas, a permanência da questão do divino

1) Divinização da natureza e das suas forças

2) Divinização/Santificação figuras humanas

3) Afirmação da ideia de Deus

II – O Cristianismo visto por


dentro
3 Grandes pilares do Cristianismo:

a) Bíblia à o cristianismo também uma religião do livro


b) Jesus Cristo à fundamento do cristianismo
c) Igreja à instituição que configura historicamente esta religião

A Bíblia e as raízes judaicas


do Cristianismo
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Tempo e espaço:

Judaísmo à c. de 5000 anos

3000 a.c - 2017

A Religião Patriarcal

1 – c.1850 a.C – Abraão abandona a sua terra (Mesopotâmia) e vai para Canaã

2 – c.1700 a.C. – os seus descendentes emigram para o Egipto


3 – c.1250 a.C. – Hebreus saem do Egipto para Canaã (com Moisés):

época dos primeiros Reis – Saul, David, Salomão à (o seu reino acaba

dividido – norte à Israel; sul à Judá)


4– c.587 a.C. – Hebreus são levados para o cativeiro da Babilónia


5- 538 a.C – regresso do Cativeiro (quando a Babilónia é vencida pela

Pérsia)

Importância cultural da Bíblia

• Cultura(s) de matriz judaico-cristã



• monoteísmo judaico

• Noção de aliança



Eixos de leitura e compreensão da Bíblia

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Raízes judaicas do Cristianismo

• O génesis e a ideia da criação


• Desobediência e o sentido do pecado à conceção de aliança
• “ povo de Deus” e monoteísmo
• escrituras judaicas

Deus = Criador Senhor

• Linearidade temporal vs. Tempo cíclico



• Criação – Revelação / Salvação – Tradição
• A história tem um sentido e uma finalidade última

5 grandes Tradições históricas/narrativas


1) Tradição abraâmica
• constituição de um povo (uma história de origens):


• nascimento, crescimento e derivação de uma tribo nómada (a busca da

terra)

• YHWH ( Deus dos judeus ) confere identidade àquele povo


• relação contratual (vassalagem): henoteísmo à so prestam culto a um

Deus mas sem negar a existência de outras divindades

2) Tradição Mosaica (Moisés)

• A Aliança – Lei como sua concretização sinal da especificidade daquele povo 


• Promessa de um território (a «terra prometida» = tempo como caminho

[história] e 
não mera repetição)

• 
Judaísmo desenvolve-se no processo entre o nomadismo e a sedentarização


à (concretização da promessa 


• Centralidade do templo (arca): presente – memória - futuro à lei


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3) Tradição Davídica

• Constituição de um «reino» como expressão da promessa (sedentarização das

tribos e instauração da monarquia)


• Materialização do culto – centralidade do templo (lugar da arca = aliança) à
lei+ templo

4) Tradição Profética
• Destruição do templo e exílio


• Identificação da promessa como:


§ realização da justiça;

§ restauração da Lei;

§ concretização da paz

• Fidelidade à Aliança à Interiorização da lei à potenciadora da consciência

individual e social (natureza ética)

• Lei + templo + profecia

5) Tradição Messiânica

• Uma leitura do passado e uma visão do futuro

1. reino de paz;

2. restauração do templo

3. novo templo

• Identidade e resistência ante a experiência do exílio

• Leitura plural (identificação com a linhagem de David; manifestações

proféticas)

• Fidelidade de YHWH

A Bíblia:
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• É o livro mais lido, editado e traduzido da história da humanidade.

• Serve de inspiração e bússola, desde há séculos, para muitos milhões de


crentes, nomeadamente no mundo europeu-ocidental ao qual pertencemos. 

• É um livro que contem um conjunto de livros
§ “biblos” à significa livro ou biblioteca
§ conjunto de 73 livros
ü Antigo Testamento à 46 livros anteriores a jesus cristo
ü Novo Testamento à 27 livros posteriores a jesus cristo

• A Bíblia não é um livro de história ou de ciência, mas sim um livro de fé.


o Isto significa que o que a Bíblia pretende é o fazer de ensinamentos
religiosos e através de processos literários.
o Leituras historicistas, literalistas ou fundamentalistas do texto bíblico são
incompatíveis com muitas afirmações das ciências e sobretudo,
incompatíveis com a racionalidade do homem moderno. 


Ø A Comissão Pontificia Bíblica fez uma resenha dos diferentes métodos


atualmente conhecidos e mais usados para uma profícua leitura do texto
bíblico.

2 grandes princípios:

o Atualização
o Inculturação

“ A Igreja, efetivamente, não considera a Bíblia simplesmente como um conjunto de


documentos históricos concernentes às suas origens; acolhe-a como Palavra de Deus
que se dirige a ela e ao mundo inteiro no tempo presente. Esta convicção de fé tem
como consequência a prática da atualização e da inculturação da mensagem bíblica”

( Pontifícia Comissão bíblica 1993)

Ø Assim, para além da sempre necessária atualização e inculturação do texto


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bíblico, podem-se destacar os seguintes métodos de abordagem: 


a) Método histórico – crítico:


o Com a ajuda de ciências como a história, a filologia, a arqueologia
etc
o Procura-se encontrar o autor do texto, a sua situação histórica, a sua
intenção ao escrever determinadas frases etc.
o É a busca do sentido original e literal do texto;

b) Métodos literários:
o Parte-se do princípio de que a Bíblia é uma obra literária;
o Procura-se:
§ determinar os seus grandes géneros literários
§ perceber como o texto é constantemente apresentado cm
variadas figuras de estilo ( metáforas, comparações etc) e
recurso a diferentes processos literários ( alegorias,
etiologias etc)

c) Métodos a partir das ciências humanas:


o Ciências como a sociologia, a antropologia ou a psicologia muito têm
contribuído para 
leituras cada vez mais ricas do texto bíblico;
§ Sociologia à na determinação dos grupos sociais em
presença em determinado momento da história do povo
bíblico
§ Antropologia à destacando a importância da cultura
mediterrânica onde foi produzida a Bíblia
§ Psicologia à para a interpretação dos numerosos textos de
sonhos ou para a diferenciação entre pecado e transgressão e
culpabilidade
d) Métodos contextuais
o Destacam-se dois:
§ os que fazem uma leitura libertadora da 
Bíblia, a partir das
condições sociais degradantes de muitos homens e mulheres
e que anseiam por “libertação”; 


§ e os que fazem uma leitura feminista da Bíblia, procurando

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descobrir em todo o texto uma verdadeira defesa da mulher


Bíblia à texto de acesso multimodo:

• Leitura em contexto comunitário religioso à missa


• Leitura em contexto individual/ grupal

Livros do Antigo Testamento:


Pentateuco:
Livros Históricos: Livros Sapienciais:
Génesis
Josué Job
Êxodo
Juízes Salmos
Levítico
Rute Provérbios
Números
Samuel Eclesiastes
Deuteronómio
Reis Cânticos

Crónicas Sabedoria

Esdras BeN Sira

Neemias

Tobias

Judite

Ester

Macabeus

Livros do Novo Testamento:

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Evangelhos: Livro Histórico: Epístolas: Livro Profético:

Mateus Atos dos Apóstolos Romanos Apocalipse


1 Coríntios
Marcos
2 Coríntios
Lucas Gálatas
João Efésios
Filipenses
Colossenses
1 Tessalonicenses
2 Tessalonicenses
1 Timóteo
2 Timóteo
Tito
Filemom
Hebreus
Tiago
1 Pedro
2 Pedro
1 João
2 João
3 João
Judas

Fontes históricas:

A) Textos romanos ou latinos


B) Textos judaicos
C) Textos Cristãos

Textos propriamente cristãos

a) Evangelhos

§ “ Boa Nova” de Jesus


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§ Relato da sua vida, da sua pregação, do processo da sua condenação


à cruz, da sua morte e testemunhos da sua Ressurreição

b) Atos dos Apóstolos

§ Escritos que dão conta a vida dos apóstolos e da comunidade de


Jerusalém
§ Anúncio realizado pelos mesmos apóstolos na Palestina, terras
limítrofes, Ásia Menor e Império Romano

c) Cartas ou Epístolas

§ Em particular de S.Paulo
§ Dão conta dos contactos mantidos entre os primeiros apóstolos e as
novas comunidades cristãs fundadas a partir da sua missão
itinerante

Processo de fixação dos textos cristãos:

• Posterior a JC
• Da oralidade à escrita
• Lugar da fé e da convicção
• Valor historiográfico

«A pesquisa sobre o Jesus da História já tem mais de 200 anos. [...] Não existem

dúvidas substanciais sobre o curso geral da vida de Jesus: quando e onde viveu,

quando e onde morreu, aproximadamente, e o que fez durante a sua atividade

pública.» E. P. Sanders

A Bíblia Cristã é uma continuidade da Bíblia judaica

o Escrituras judaicas à Antigo Testamento

o Textos cristãos à Novo Testamento

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Antigo Testamento

Ø Escrituras sagradas judaicas ou Tanak


Ø A composição do AT cristão não é exatamente igual à Tanak judaica
Ø No tempo de Jesus havia dois conjuntos de textos sagrados judaicos:
o Cânone breve ou Palestiniano à 24 livros em hebraico
o Cânone Alexandrino à 31 livros . Mais 7 escritos em grego

Cânone ( sentido de norma, padrão, regra) à Conjunto de livros considerados


Escritos Sagrados

Apócrifos à Escritos de carácter semelhante e que não entram no cânone; São


livros que têm pretensão de ser um livro referencial mas cujos principais
responsáveis não lhe reconhecem legitimidade, acham que é um livro falso; Não
eram reconhecidos como autênticos, eram retirados de circulação e postos à
margem

Tanak:
• Forma abreviada de designar os 3 grandes conjuntos que constituem as
escrituras judaicas
• Torah + Nebiim + Ketumbi = Tanak

o Torah
§ Lei ( corresponde ao Pentateuco)

§ tem, para os judeus, a mesma intensidade que Evangelho tem


para os cristãos: significa guia e mensagem de salvação 


§ Trata-se dos cinco primeiros livros da Bíblica. No século IV antes


da nossa era, os cinco livros da Torah (Génesis, Êxodo, Levítico,
Números e Deuteronómio) serviam de lei á comunidade judaica no
seio do Império Persa. 


o Nebiim

§ os Profetas
§ são livros que interpretam a história do povo de Israel de Josué
até à deportação do exílio. 

§
o Ketumbi

§ Escritos ( corresponde aos livros históricos e sapienciais)

§ consiste numa coletânea de orações, cânticos, provérbios, narrativas,


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que podem alimentar a espiritualidade. 


Ø Séculos III e II antes da nossa era:


• as Escrituras Judaicas estão constituídas nas suas três partes. Mas a
produção de textos continua num judaísmo então muito diversificado:o
judaísmo da diáspora (comunidades judaicas fora da Palestina) evolui
de uma maneira característica.

Ø Século III a.C.:


• as Escrituras judaicas (cânone Palestiniano) foram traduzidas para grego
em Alexandria.
• A Tradução dos Setenta propõe uma ordem diferente de apresentação dos
livros proféticos e dos escritos.

Ø No século I da nossa era:
• dois acontecimentos decisivos marcam o judaísmo:
1) a primeira guerra judaica em 70 e a rutura entre o judaísmo e o
movimento dos discípulos de Jesus, que se torna o cristianismo.
2) O judaísmo farisaico sobreviveu à destruição do Templo de Jerusalém,
suprimindo das suas Escrituras os livros incluídos na versão dos
Setenta e outros textos chamados apócrifos (ocultos). 


Ø As primeiras comunidades cristãs lêem as únicas Escrituras que conhecem na


versão grega dos Setenta (atual Antigo Testamento). 


Ø Os livros contidos na versão dos Setenta constituem, ainda hoje, o cânone do


Antigo Testamento para as Igrejas católica e ortodoxas.

Ø Sobre o Antigo Testamento é hoje consensual que:


a) Os livros não foram escritos por um único autor;

b) O processo de formação é muito longo e começa com uma fase de


transmissão oral, extensa, de várias narrativas;

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c) Só mais tarde o material oral terá sido redigido em vários pequenos textos;


d) O texto produzido tem características diretamente relacionadas com a


situação de 
vida e o contexto em que foi produzido;

e) No processo de transmissão e cópia terão acontecido acrescentos até que


fosse 
estabelecido o cânone;

f) A Bíblia não é uma obra histórica ou científica, é um livro de fé, isto é, pretende

proporcionar ensinamentos religiosos através de processos literários, comuns a

qualquer obra literária; 


g) Apesar da heterogeneidade, os livros bíblicos têm uma coerência global e



transmitem, no seu todo, uma experiência de fé, entendida como obra de Deus;

h) Todo o processo de escrita, compilação e seleção é feito a partir de uma atitude


de crente, sob inspiração do Espirito Santo;


Composição do cânone AT
• O AT da Igreja Católica e das Igrejas ortodoxas segue o cânone dos LXX à
inclui os livros originalmente escritos em grego

• Na crise da Reforma, Lutero publica em 1534 uma Bíblia que considera


escritos normativos apenas os originalmente em Hebraico;
• Só no Consílio de Trento fica fechado o cânone católico;

Novo Testamento
• Consiste na coletânea de 27 escritos que forma a parte especificamente
cristã do conjunto a que os cristãos chamam Bíblia.
• A fixação de um cânone neotestamentário efetuou-se gradualmente a partir
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da segunda metade do século II à bem depressa as recentes comunidades


cristãs se tinham disseminado no mundo grecoromano.

• Não tardaram a aparecer complexos problemas, tais como: o que significa a


fé cristã relativamente às grandes religiões pagãs, em que nasceram certos
cristãos, ou relativamente ao judaísmo? 


• Os primeiros textos redigidos são as cartas de Paulo.


o Há certas cartas de Paulo que parecem ter sido trocadas rapidamente entre
igrejas destinatárias e depressa se constituíram coletâneas.

Após a rutura com o judaísmo e com o afastamento dos «tempos apostólicos»,


sente-se a necessidade de reduzir a escritos narrativas sobre Jesus Cristo e
coligir os escritos parciais já existentes.

Nasce, então, um novo género literário, o dos Evangelhos (Boa Nova).

o Este era também o nome dos decretos imperiais romanos pelo que os
autores destes escritos afirmaram a existência de um só evangelho à o que
é encarnado pela doutrina, pela vida, pela morte e ressurreição de Jesus
Cristo.
o Utilizaram, assim, um termo político-religioso do mundo que é o deles para
o contestar radicalmente. 


§ A Bíblia irá conter quatro evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas e


João. Nasceram, sem dúvida, em comunidades cristãs diferentes e

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em datas diferentes. 


o Além das cartas de Paulo e dos Evangelhos, o Novo Testamento contém a


segunda parte da obra de Lucas, os Atos dos Apóstolos à que descreve
o anúncio do Evangelho desde Jerusalém até aos confins da terra. 


o O Novo Testamento inclui ainda outras cartas chamadas «católicas» (isto


é, universais).
§ Falam dos problemas encontrados pelas comunidades cristãs no
fim do século I e princípio do século II.

o Por último, o Apocalipse encerra o cânone do Novo Testamento e o de


toda a Bíblia
§ apresenta a revelação do que significam em plenitude a vinda e a
pessoa de Jesus Cristo, e estimular a manutenção da esperança
através das provações do tempo presente. 


Ø A formação do cânone do Novo Testamento é pois resultante de um processo


complexo. O cânone é constituído através de uma série de eliminações. Mas
resulta também da recusa de um Evangelho único. 


Humanismo Bíblico 

a) Concordismo

o corrente que se inscreve na descoberta de dados científicos que


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colocavam em causa determinadas leituras da Bíblia.

o Tratava-se de uma tentativa de fazer concordar aquilo que está na


Bíblia quase a toda a força com unidades científicas.

o Exemplo à é a leitura do livro do Génesis (os 6 dias da criação do


mundo seriam, na realidade, eras geológicas, pelo que esse dado bíblico
seria metafórico).
o A verdade da Bíblia e a verdade da Ciência não são comparáveis.
§ São tampos de níveis de compreensão complementares: uma coisa é
a experiência científica, outra é a experiência religiosa. 


b) Modernismo
o surge no século XX e procura uma mudança dentro da Igreja, ao nível
da sua forma de vivência e da sua doutrina, com base nos avanços
científicos da época.
o Inspira-se em vários pressupostos filosóficos e descobertas
científicas.
o Foi rejeitada pela Igreja dada a ousadia dos seus defensores. 


No Génesis:

• Não se pode amar a Deus sem amar os seres humanos à esta relação do
ser humano com Deus aparece em aliança com a Biblia
• O ser humano no centro da criação;
• A dignidade do homem –imagem e semelhança de Deus
• O cuidado pela vida do homem e da criação
• A dimensão de relação pela Aliança

No Êxodo:

• A libertação do Egipto à a Páscoa Judaica


• A Aliança no monte Sinai

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No Levítico:

• As leis do culto e dos comportamentos fraterno à o cuidado com o


estrangeiro, a viúva, o órgão, os pobres, os mais fracos

Os profetas:

• A dimensão de justiça social defendida pelos profetas, quer denunciando


as injustiças, quer insistindo na importância da misericórdia

Ø Com Jesus Cristo, o ideal humanista é bem claro à o bem da pessoa, de toda e
qualquer pessoa, está acima de tudo, mesmo das leis religiosas

Um exemplo deste humanismo Bíblico é a preocupação social relativa ao Jubileu,


vivido de 50 em 50 anos e desenvolvimento da realidade religiosa-social do
Sábado e Ano Sabático

a) O Ano Jubilar
o Inspira-se no “ Sábado”
o Leitura teleológica à deve-se descansar porque Deus também
descansou
o O sábado era para descanso e para louvor a Deus ( oração)
o O sábado começa a ser relacionado com preocupações sociais e
humanitárias ( ex: os escravos não devem trabalhar à “ lembra-te
Israel já foste escravo no Egipto” )

b) O Ano Sabático
o Está para os outros anos como o Sábado está para os outros dias
da semana à o sábado é o 7º dia, o ano sabático é o 7º ano
o Desenvolverá as mesmas prescrições para o sábado ( descanso
louvor a Deus), neste ano desenvolver-se-á muito as questões mais
sociais-humanitárias;
o A cada 7 anos, no Ano Sabático, a terra é considerada propriedade
de Deus, não era cultivada pelos donos, mas os donos, bem como os

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seus servos e os pobres alimentavam-se todos do que ela


produzisse;
o Também a cada 7 anos se procedia à libertação dos escravos
hebreus e ao perdão das dividas ( a tentação de não emprestar perto
do Ano Sabático era criticado;

Ano Jubilar:

o Ao fim de 7x7 anos, no 50º ano, celebrava-se o Jubileu.


o Nele se cumpriam todas as prescrições válidas no ano sabático com uma
extensão maior sobretudo em dois campos:
§ Na devolução de bens, pois as terras vendidas eram devolvidas à
posse dos seus primeiros proprietários
§ A libertação dos escravos e a possibilidade dos assalariados de
retorno ao seu clã. Era uma oportunidade de recomeço

Ano Sabático Ano Jubilar

• Perdão de dívidas • Todas as prescrições do Ano


• Resgate de casas e propriedades Sabático são válidas
• Libertação dos escravos hebreus • Devoluções das terras
• Campos em pousio em que todos ( • Libertação de todos os escravos
escravos, servos e donos) se • Possibilidade dos assalariados
alimentam do que a terra produzir retornarem às suas terras

Jesus Cristo: fundamento e futuro do


cristianismo
Ø O Cristianismo nasce de uma convicção:
o Jesus é o Messias anunciado e esperado no seio do Judaísmo
o Jesus ressuscitou da morte está vivo
o Jesus voltará para instaurar o Reino de Deus
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«O título de ‘Cristo’ corresponde à tradução grega do hebraico Messias. Significa


‘ungido’ ou ‘enviado de Deus’ e constitui a trave mestra do termo ‘cristianismo’. A
mensagem central do cristianismo consiste, por consequência, em dizer que Jesus
é o Cristo, o enviado de Deus, o que revela a vontade e a obra da salvação de
Deus. A relação única entre Deus e Cristo exprime-se nos termos Pai e Filho.»

Jean Baubérot

Ø Dizer que evangelhos não são livros de história não significa:



o que eles não possam ser considerados “fontes históricas”, tanto mais
que alguns documentos extra-bíblicos o confirmam;

o que Jesus seja uma invenção à Ele é, com efeito, uma personagem da
história, perfeitamente situado, e também aqui há documentos extra-
bíblicos, de historiadores da época, que o testemunham. O que os
evangelhos não podem constituir é uma biografia de Jesus.

Tres tipos de fontes sobre a história de Jesus:

Fontes cristãs à evangelhos canónicos

Fontes judaicas à Flávio Josefo, Antiguidade Clássico

Fontes Romanos à Tácito, Anais

Existência de Jesus Cristo:

Documentos históricos de autores pagãos:


a) Tácito à “o nome de cristãos vem de ‘cristo’, crucificado na Judeia por Pôncio
Pilatos e no tempo do imperador Tibério”;


b) Suetónio à fala do édito do imperador Cláudio, expulsando os judeus de


Roma, que andavam em tumultos por causa de um tal ‘chrestus’;


c) Flávio Josefoà refere, por duas vezes, a pessoa de Jesus, chamado ‘Cristo’,
que foi crucificado por Pôncio Pilatos, e do seu irmão Tiago, que mais tarde foi
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condenado por Anás e o Sinédrio à lapidação. 


Ø O nascimento de Jesus –
o deu-se, provavelmente, no ano 747 da fundação de Roma, ou seja, o ano
6/7 a.C.
o O erro no calendário deve-se a Dionísio Pequeno, monge que viveu cerca do
ano 500, um dos primeiros historiadores cristãos, que quis começar a
contar o tempo em duas eras. 

§ A cristã e a antes de Cristo, tendo determinado o nascimento
de Cristo em 25 de Dezembro do ano 753 da fundação de
Roma (por engano); o tal ano 7 a.C. é realmente o ano do
recenseamento decretado por César Augusto para todo o
império... Aliás, Herodes o Grande faleceu no ano 4 a.C., e à luz
dos vestígios históricos deixados pelos evangelhos, Jesus já
era nascido. 

Ø Início da vida pública/batismo de Jesus
o Ano 28/29 d.C., pois é o 15.o ano do Imperador Tibério à Jesus teria,
pois, cerca de 35 anos; 


Ø A determinação da morte de Jesus


o Tibério foi imperador entre 14-37 d.C. e Pôncio Pilatos foi governador
da Judeia entre 26-36 d.C.
o Neste espaço de tempo, o ano em que o 14 de Nisan (Páscoa judaica,
momento da morte de Jesus) foi realmente uma 6a Feira para Sábado,
foi o ano 30 d.C. 


Dados sobre a vida de Jesus desde o NT



Dados relativamente consensuais sobre a vida de Jesus:

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a) Passou a sua infância e os seus primeiros anos de adulto em Nazaré, uma
aldeia na Galileia, cujo governador era Antipas, um dos herdeiros de Herodes
Magno;


b) Foi batizado por João Baptista e depois de um tempo de solidão e reflexão
no deserto, começa o tempo curto de pregação e peregrinação pelas terras que
vão da Galileia À Judeia;

c) Relaciona-se com a cultura do seu tempo e é formado no seu quadro, mas com
liberdade interior;

d) Reuniu discípulos à sua volta, nomeadamente um grupo de 12 que o


acompanhavam mais proximamente e ele apresenta na sua mensagem imagem de
Deus e do Homem na sua relação com Deus;

e) Ensinou em pequenas cidades, aldeias e na região rural da Galileia (ao que


parece, 
não nas grandes cidades), na maior parte das vezes nas sinagogas, ao
sábado;


f) Ao contrário de João Baptista, não só pregava como exerce uma atividade de


cura e também e denúncia das injustiças, pecados e incoerências;


g)) Anunciou o «reino de Deus»;




h) Atrai grandes grupos de pessoas e é por alguns tomado como o possível
Messias prometido nas Escrituras. à Isto levanta alguns alertas porque sempre
que o povo estava na iminência de encontrar o Messias havia o risco de haver
uma grande subjugação popular. à Atrás da figura do Messias, havia vários
desejos de revolta política. à um problema para o imperador

i) Por volta do ano 30, foi a Jerusalém (província romana), para a festa da Páscoa;


j) Causou distúrbios no recinto do Templo, agredindo os cambistas e os


vendedores de 
pombas;


k) Jesus tem a perceção clara dos antagonismos, das ruturas e da rejeição de
que vai sendo alvo. Apesar disso decide continuar, celebrando com os
discípulos uma última ceia onde realiza um rito sobre o pão e o vinho “corpo
entregue” e “sangue derramado”, “por vós”.


l) Foi preso e interrogado pelas autoridades judaicas, nomeadamente pelo sumo

sacerdote;


m) Foi executado como agitador por ordem do prefeito romano Pôncio Pilatos. 
•

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Jesus e a cultura do seu tempo


Ø Jesus assume a cultura do seu tempo de modo crítico:


o é-lhe fiel por um lado (é formado nela) e livre para a interrogar, criticar
e modificar
o por outro lado, exerce um juízo.

Ø A assunção dá-se no quadro de uma família judaica normal:


o cumprindo os ritos de passagem, utilizando a comunicação (língua,
vocábulo, parábolas)
o cumprindo a a religião (Deus de israel, festas, sábado, templo).
o Havia também costumes do quotidiano como a maneira de vestir, os
rituais de comer etc..

Ø A autoridade de crítica de Jesus vem da experiência, e ao criticar a sua cultura,


critica leis sociais que segregam grupos, leis religiosas que oprimem, uma
religião de comércio no templo, a lei que discrimina. Deus é misericordioso.

Jesus critica um sistema religioso que intenta superar (não abolir)


Antropologia à Dois mandamentos:
a) ‘Amar a Deus sobre todas as coisas’ ‘
b) Amar o próximo como a si mesmo’

Objetivo de Jesus:
a) Ahumanização da pessoa humana e da sociedade
b) O conceito “ humanista” de cultura

A morte de Jesus ( da mv)


Ø A morte de Jesus é uma consequência:
o do seu estilo de vida,
o da coerência da sua mensagem
o da defesa da pessoa humana,
o de uma experiência de Deus
o da liberdade com que enfrentou e criticou poderes estabelecidos.

Ø A morte de Jesus é um momento de liberdade, ele não se acobardou e não


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fugiu porque assumiu livremente tudo o que lhe ia acontecer.

Ø Ele sabe que a sua morte é o resultado de um ódio que nasce nos humanos
quando o mal é denunciado

Ø Jesus não procurou a morte mas aceitou-a como um ato de entrega por
fidelidade.

Ø Da sua atividade nasceram alguns apoios mas também muitas oposições,


sobretudo das autoridades religiosas e políticas judaicas, a que se aliou o
procurador romano da Judeia.

Ø Jesus enfrentou estes 3 poderes que lhe podiam dar a morte:

1) A autoridade religiosa judaica (Sacerdotes, chefes dos fariseus, etc..)


poderiam dar a morte por lapidação.

2) Autoridade política judaica que podia, na sua jurisdição, dar a morte


por decapitação.

3) Indirectamente, Jesus foi levado a enfrentar a autoridade política


romana, poderia dar a morte por crucificação a cidadãos não romanos.

Ø Jesus aceitou a morte como uma consequência inerente à sua vida,


esta aceitação gera uma relação com as pessoas.

Ø A sua morte divide as pessoas - a seu favor e contra. Jesus não buscou
nem fez elogios da morte. Aceitou-a na linha de fidelidade à sua missão
sem fugir.

Ø No cristianismo a morte (ou o martírio) não é buscada como louvável


ou desejável.
o Será sempre aceite como consequência da limitação da vida
ou de uma fidelidade e coerência frente aos seus princípios
até ao fim face à violência do mundo.

Ø A morte e o sofrimento só são aceites caso tenham um propósito, uma


finalidade.
o O sofrimento esta incluido na lógica de que através
dele, podemos alcançar coisas melhores.

o Jesus viveu a morte percebendo interiormente, que ao ser alvo

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de uma violência jurídica e política atroz, que esta violência


só se poderia integrar numa experiência de amor através do
seu sacrifício.

o Jesus respondeu à violência e ao ódio com silencio (não


responde em tribunal), uma ausência de violência.

o Se ele aceitasse a violência sem a replicar, teve fé que Deus


faria algo em seu nome - isso iria produzir uma
transformação do mundo e transformaria a capacidade do ser
humano responder.

Linhas de espiritualidade Cristã


Ø O cristianismo não faz a apologia do sofrimento, não o propõe como um
bem em si mesmo.
o Os sacrifícios propostos na história da espiritualidade cristã só
fazem sentido à luz do que fez Jesus: como consequência
secundária de uma opção positiva e por amor.

Ø Jesus não buscou sacrifícios (sacrum facere) para si ou para os


discípulos mas aceitou-os como consequência do seu desejo de ajudar
outros e da sua entrega a outros.

Ø Sofrimento por amor, para não replicar o mal, alguém que se entregou
tendo consciência mas que não retaliou com violência - significado do
crucifixo.
o Através da experiência de morte, Jesus percebe que vai regressar
a Deus, liberto e purificado pelo seu sacrifício transformador e
de amor.

Ø A partir da morte de Jesus torna-se evidente a presença e ação do


mistério do mal no mundo a partir do agir humano.
o O mal é causado pelo agir humano, não por Deus.

Ø Jesus, na sua paixão, não se defende do mal e do sofrimento causado por


ele: aceita-o sem responder com violência.
o A morte de Jesus aparece uma consequência extrema do mal, do
pecado.

Ø Nem todo o sofrimento humano provem do mal, há sofrimentos inerentes à


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vida (dores de crescimento) - a fragilidade e finitude humana trazem


consigo uma dimensão de sofrimento.

Ø Jesus vive a sua maior experiência de sofrimento e a morte com uma


atitude de confiança e abandono nas mãos de Deus.

Há duas formas de abordar o mal, de maneira ética e teológica:

a) Teologicamente, Deus é o bem - aproximando as pessoas do bem que é


Deus e é por relação a Deus que se define aquilo que é o mal numa religião.

b) O mal é o que desvia ou rejeita Deus.

Ø Para um cristão ainda as maiores experiências de sofrimento e de pecado


podem e devem ser vividas com uma dimensão de entrega e confiança
numa presença de bondade de Deus mais profunda.

Ø Da aceitação das consequências do mal por fidelidade a Deus, confiando


na Sua bondade, brota uma experiência de salvação da pessoa.

Após a sua morte, são relativamente seguros os seguintes factos:


a) Os seus discípulos começaram por fugir;


b) Viram-no após a sua morte e, por conseguinte, acreditaram que ele voltaria
para
instaurar o Reino;


c) Criaram uma comunidade para aguardar o seu regresso e procuraram


persuadir os 
outros a acreditar nele como Messias enviado por Deus; 


A Ressurreição de Jesus
Ø A crença na ressurreição faz parte do credo do cristianismo

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Ø A verdadeira novidade do cristianismo face às outras religiões não se situa


tanto ao nível da crença na ressurreição, mas sim na afirmação da
incarnação da Deus num homem (Jesus) e na humanidade desse mesmo
Deus. 

o A ressurreição cristã não é um regresso à vida, a ressurreição é
uma transformação. A pessoa torna-se nova, a sua essência é
transformada e é uma recriação da vida.

Ø A ressurreição é uma crença que se vai instalando, progressivamente, no


povo bíblico. 


§ Claro que, no cristianismo, a fé na ressurreição fundamenta-se essencialmente


na ressurreição de Jesus, «ao terceiro dia depois da morte» (como escrevem
todos os 
evangelhos).


1) Encontro; 


2) Mística – experiência mística;

3) Surpresa;


4) Alegria; 


§ O texto mais antigo sobre o tema é o da 1a carta de S. Paulo aos Coríntios.


Depois, há seis relatos evangélicos, cinco dos quais contêm aparições do
ressuscitado. 
 Alguns profetas, como Ezequiel, fazem-lhe uma ou outra
referência, os livros dos Macaréus já a dão como coisa segura e, no tempo
de Jesus, só o pequeno grupo de Sacudeus parece discordar dessa fé. Claro
que, no cristianismo, a fé na ressurreição fundamenta-se essencialmente na
ressurreição de Jesus, ao terceiro dia depois da morte.

§ Se tomados historicamente ou factualmente, tais relatos contêm numerosas


contradições. Mas na verdade, como sabemos, os textos bíblicos – e estes
não fogem à regra – são catequeses, são construções literárias com
determinados ensinamentos. 


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§ O Deus de Jesus é um Deus de Vida e que salva a vida da morte. A vida eterna é
a última palavra de Deus sobre todo o mal do homem. 


§ É Jesus quem viveu e indica o caminho da vida verdadeira, a que não


desaparece, antes culmina na Ressurreição. 


§ Jesus Ressuscitado dá o Espírito Santo a todos e age em todos. Todos têm


acesso e estão chamados a participar na Sua vida e mistério. 


Aspectos em qualquer texto da ressurreição:


1) Discípulos encontram-se em situação vital (do quotidiano);

2) Jesus aparece (corpo espiritual);


3) Saudação;


4) Reconhecimento é duvidoso;


5) Missão. 


Ø As experiências de encontro relacional com Jesus Ressuscitado provam-


se através do comportamento dos cristãos que seria difícil de manter
sem nada que se justificasse, uma justificação ou fundamentação.

Ø A partir destas leituras, para os Cristãos, Jesus (O Ressuscitado) É o mesmo


numa plenitude de vida mais profunda

Ø Sem Ressurreição não há Cristianismo. Jesus Ressuscitou por e para


todos, como “Primogénito de entre os mortos”. A vida Eterna é um dom e
destino para todos os homens, independentemente da sua raça, lugar de
nascimento. 


Ø O mal, o pecado e o sofrimento vividos e vencidos e transformados por


Jesus são a grande fonte de esperança. O mal pode ser enfrentado e
vencido, as “mortes” do homem têm um horizonte de vida”. 


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Jesus à Datas:

• Dionísio Pequeno e a era “Depois de Cristo”


• Nascimento: ano 7 ou 6 a.C (747 ou 747 U.C)
• Início da vida pública: “no 15º ano do Imperador Tácito”, seria no ano 28
ou 29 d.C, Jesus teria cerca de 34 ou 35 anos.
• Morte de Jesus: por volta do ano 30 d.C (seria o dia 7 de Abril de 30 d.C).

Igreja: convicção e comunidade 


Ø A Igreja pode ser considerada a configuração histórica do cristianismo, a


realidade institucional que lhe dá corpo. 


Ø A Igreja nasce de uma dimensão divina que é validada por seres humanos,
logo é uma comunidade que une a consciência humana com o divino.

Ø A palavra carisma significa um dom de deus, logo, a instituição em si está em


comunicação com Deus e é onde Deus age.

Ø A Igreja é uma realidade complexa porque é feita por seres humanos com
consciência de estar em comunicação e relação com outra graça que inspira,
corrige e abre caminhos. É uma realidade de duas naturezas que se encontram.
A sua estrutura interna é semelhante ao império de Jesus.

Ø A igreja é importante se for fiel ao modelo que é Jesus Cristo.

a) A igreja vale na medida que consegue reproduzir a experiência de Jesus


e quando se desvia disso, vai por mau caminho.

b) Logo, não é o dinheiro que engrandece a Igreja – a igreja é grande se os


cristãos tiverem uma grande experiência de Deus e conseguirem
espalhar o bem no mundo.

c) A grandeza de Deus não deve ser comparada à grandeza humana.


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Críticas à Igreja:
• Teoricamente, os marxistas e seus sucessores à dizem que a Igreja é uma
instituição conservadora que quer impedir o progresso e a justiça;

Þ Nietzche e os seus seguidores à dizem que a Igreja faz a


apologia do sacrifício, da resignação, da tristeza e, portanto,
não interessa ao Homem; Freud e os seus seguidores dizem que a
Igreja alimenta ilusões religiosas infantis, não deixa o Homem ser
adulto, até porque apresenta a um Deus castrador da sua
autonomia. Para eles, a religião é uma neurose coletiva e Deus é
uma projeção da imagem do pai natural que todos nós
gostávamos de ter (daddy issues).

• Liberais à aceitam que a Igreja pode ter algum interesse histórico-


arqueológico, mas hoje não interessa e está ultrapassada;

• Laicistas à dizem que a Igreja ganhou grandes poderes na sociedade e


querem remetê-la para dentro das capelas e para o culto;

• Mesmo dentro da Igreja há muito desinteresse e mal-estar.

Ø Cristo relaciona-se com os homens como Ressuscitado, e as Escrituras


começam a ser lidas com uma ligação interpretativa do AT como anunciante
de Jesus.
o A oração é a possibilidade de um diálogo com Deus, visto que
Cristo está vivo, ressuscitado o que permite dialogar
espiritualmente com ele.

o Deus está vivo e presente. Começa a haver um princípio de


hierarquias, os primeiros ministérios. A Igreja nunca vai descurar
o seu grande anúncio – Cristo ressuscitou.
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Ø A Igreja começou por ser uma pequena comunidade em Jerusalém, com um


programa de vida simples mas bonito.
o Quando lemos os ‘sumários’ do Livro dos Atos dos Apóstolos, percebemos
facilmente que a Igreja é uma comunidade, um grupo de amigos que
sentem irmãos, solidários, rezando em conjunto, vivendo unidos e
partilhando bens e responsabilidades (sempre com Jesus no pensamento
e como critério de vida). 


Ø Act 2, 42-47: “Eram assíduos ao ensino dos apóstolos, à união fraterna, à fração
do pai e às orações. Perante os inumeráveis prodígios e milagres realizados
pelos apóstolos, o temor (medo de magoar quem amamos) dominava todos os
espíritos. Todos os crentes viviam unidos e possuíam tudo em comum.
Vendiam terras e outros bens e distribuíam o dinheiro por todos, de acordo
com as necessidades de cada um. Como se tivessem uma só alma,
frequentavam diariamente o templo, partiam o pão em suas casas e
tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração. Louvavam a
Deus e tinham simpatia de todo o povo. E o Senhor aumentava, todos os dias,
o número dos que tinham entrado no caminho da salvação”. 


Ø Act 4, 32-37: “A multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e


uma só alma. Ninguém chamava seu ao que lhe pertencia, mas entre eles
tudo era comum. Com grande poder, os Apóstolos davam testemunho da
ressurreição do Senhor Jesus, e uma grande graça operava em todos eles.
Entre eles não havia ninguém necessitado, pois todos os que possuíam terras
ou casas vendiam-nas, traziam o produto da venda...” 


Ø Foi esta maneira simples e bela que atraiu muitas pessoas. E, rapidamente, em
volta do Mar Mediterrâneo, já seja na Ásia Menor, no Norte de África, na Grécia
ou até Roma (capital do Império), começaram a formar-se comunidades do
mesmo tipo daquela que existia em Jerusalém.
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o É verdade que tais comunidades conheceram problemas morais, étnicos e


de falta de partilha; mas o ideal comunitário de vida falou sempre mais
forte. 


Ø Além disso, todos se sentiam responsabilizados pela vida do


grupo/comunidade e eram ativos. 


Ø As comunidades foram-se estruturando internamente; apareceram serviços na


comunidade (ministérios):

Primeiras estruturas organizativas:

3 ministérios:

o Bispos ,Presbiteros à celebração da Eucaristia, Governo ou Culto

o Apóstolos, Profetas e Doutores à Proclamação da Palavra

o Diáconos à O serviço da caridade na atenção das necessidades de cada


um

Ø Os discípulos ou seguidores de Jesus tornam-se nos seus Apóstolos


Da comunidade de convicção ao espírito missionário à Missão

Cristianismo como experiência histórica:

o assenta numa experiência e num agir de testemunho à permite elaborar


uma consciência e uma memória construtora de um texto para todo o
homem e a mulher

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Papel fundamental de S. Paulo
naquele debate e no alargamento da missão

cristã

• Saulo de Tarso - Paulo


• Pregação paulina à alargamento das fronteiras do Cristianismo

• Epístolas de Paulo à primeiros escritos cristãos

• Reflexão e doutrinação paulinas à estruturação do cristianismo como

nova realidade religiosa e cultural
«Em Cristo, não há judeu, nem gentio,

nem escravo ou homem livre, nem homem ou mulher»

Universalidade do Cristianismo

(*Catolicismo)

Comunidades de convicção à Assentes no testemunho sobre Jesus

Ecclesia à Assembelia Convocada ( qahal) à A tradição judaica e a cultura


helenista

1.Uma comunidade ( ecclesia) de comunidades

2. Desenvolvimento inicial no ambiente palestino e judaico da diáspora (


primeiros conflitos foram internos à matriz judaica..)

3. Comunidades entram em confronto e tentativa de incorporação no sistema do


Império Romano

Cristianismo incorpora diversidade de tradições ( judeo – cristã – palestina e


diáspora; de Jerusalém; de Estêvão; de Paulo e das comunidades joaninas)

Igreja:

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a) Dimensão carismática à comunidades de convicção


b) Dimensão institucional à complexificação das estruturas organizativas

«Movimento de Jesus» - Discípulos – Seguidores – Apóstolos Cristianismo e

MISSÃO

«A atividade missionária não foi conhecida no mundo antigo antes do


cristianismo. Os judeus limitaram-se a um testemunho passivo, através da sua
existência e devoção. Competia aos gentios – isto é, aos não-judeus – reagir
perante esse testemunho – e eventualmente converterem-se ou não ao judaísmo.
A atividade missionária dos Cristãos, segundo os evangelhos, deve-se a um apelo
de Jesus para partilhar com ele a tarefa de pregar e ao próprio mandato de ir
anunciar o evangelho a todos os povos.» José Miguel García

Ritualidades das primeiras comunidades cristãs:

o Primeiros sacramentos católicos


o Eucaristia
o Ceia – Domingo
o Dia santificado
o Batismo

Sacerdócio ordenado

Papel das mulheres à diaconisas

Ø De comunidades simples e elementarmente estruturadas a Igreja foi-se


complexificando, sobretudo a partir de 313, e adquirindo toda uma estrutura e
influência social e política.

Ø A Igreja hoje já não se encontra em luta com o mundo nem se identifica com
ele:
o a Igreja sabe-se no mundo (geográfico)
o sem ser do mundo (moral, cultural).

Ø A Igreja procura o bem comum, o serviço das pessoas, a defesa da vida


contra todas as injustiças e situações degradantes.

Ø Isto é, a Igreja vive no mundo, quer-se solidária com o mundo, assumindo


a cultura de cada tempo e lugar.

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o Ao mesmo tempo, sem pretensões de ser a dona exclusiva da


verdade ou com qualquer outro tipo de superioridade, a Igreja
procura humildemente ser Iumen Gentium à oferta de sentido
para as pessoas na busca de um mundo mais ao gosto de Deus e do
Homem.

III – Cristianismo e Cultura – O


Cristianismo na História : etapas,
ruturas e atualidade

1.Origens: O Cristianismo Antigo

1. Tradição Judaica e Novidade Cristã

a) A centralidade de uma Pessoa: Jesus, o Cristo


b) Experiência pessoal de Deus ( convicção) e construção comunitária (
Ecclesia)
c) Uma Nova Aliança: releitura de uma tradição
d) A universalidade em questão ( judeo-cristãos e pagãos)

2. Cristianismo Mediterrânico

a) A dispora judaica
b) O encontro com a cultura helenística
c) Uma religião da cidade

Carta a Diogneto ( séc. II) à Os cristãos

1) Os cristãos não se distinguem dos demais homens, nem pela terra, nem
pela língua, nem pelos costumes

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2) Não habitam em cidades peculiares, nem falam uma língua distinta, nem
vivem uma vida de natureza singular;

3) Uma doutrina desta não deve a sua descoberta à invenção ou conjetura de


homens de espírito irrequieto , nem defendem como alguns, uma doutrina
humana

4) Habitam cidades gregas e bárbaras conforme coube em sorte de cada um


e seguem os usos e costumes das regiões onde vivem, revelando
unanimemente uma maravilhosa e paradoxal constituição no seu regime
político-social;

5) Habitam pátrias próprias, mas como peregrinos: participam de tudo,


como cidadãos, e tudo sofrem como estrangeiros. Toda a terra estrangeira
é para eles uma pátria e toda a pátria uma terra estrangeira

6) Casam como todos e geram filhos, mas não abandonam à violência os


neonatos

7) Servem-se da mesma mesa, mas não do mesmo leito

8) Encontram-se na carnes, mas não vivem segundo a carne

9) Moram na terra e são regidos pelo céu

10) Obedecem às leis estabelecidas e superam as leis com as próprias vidas

3. Cristianismo e Império: expansão e testemunho

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1) As estruturas do Império Romano ( coesão política, jurídica e


administrativa) + expansão do cristianismo --> de religião ilicíta a “ religião
de Estado”

2) Convicção pessoal e testemunho da fé ( a noção de mártir)


o Proibição do proselitismo
o Restauração do Império e culto cívico – sacríficio aos deuses pela
hierarquia
o Édito de tolerância
o Restauração do culto ao imperador e a perseguição dos dissidentes
religiosos

3) Édito de Nicomédia à cristianismo permitido

Édito de Nicomédia – Imperador Galério (Abril 311)


“Depois da publicação do nosso édito permitindo-lhes [aos cristãos]
voltar às tradições dos antepassados, muitos foram perseguidos,
outros foram mesmo executados. Mas como um grande número
persistia nos seus propósitos e como nos apercebemos de que, embora
não prestassem aos deuses o culto que lhes é devido, não honravam o
deus dos cristãos; considerando também, à luz da nossa infinita
clemência, o nosso costumado hábito de conceder perdão a todos;
decidimos que era necessário estender também àquele caso e sem
demora o benefício da nossa indulgência, de tal modo que agora
possam ser cristãos e reconstruir os seus locais de reunião, com a
condição de não se dedicarem a nenhum acto contrário à ordem
estabelecida. Num segundo regimento indicaremos aos governadores
como deverão proceder.

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Por consequência, e de acordo com a indulgência que lhes


testemunhámos, os cristãos deverão orar ao seu deus pelo nosso bem
estar, pelo do Império e pelo de si mesmos, a fim de que a integridade
do estado seja restabelecida por toda a parte e de que eles, nos seus
lares, possam levar uma vida tranquila.”

4) De religião tolerada a oficial


o Édito de Milão 313- Constantino e Licínio

5) O Cristianismo tornou-se a única religião oficial do Império sob


Teodósio I
o Édito de Tessalónica ( 380)

“Os imperadores Graciano, Valentiniano e Teodósio, Augustos, édito ao


povo da cidade de Constantinopla. Queremos que todos os povos,
regidos pela boa vontade da Nossa Clemência, vivam na religião que o
divino apóstolo Pedro ensinou aos romanos, segundo as normas desta
religião introduzida por ele e continuada até agora; na religião que,
com glória, segue o pontífice Dâmaso e também o bispo Pedro de
Alexandria, personagem que participa da santidade apostólica.
Assim devemos acreditar, de acordo com a disciplina apostólica e a
doutrina evangélica, numa só divindade do Pai, do Filho e do Santo
Espírito, com uma igual majestade e venerável Trindade.
Ordenamos que aqueles que observam esta lei possam reclamar-se do
nome de Cristãos católicos, e decidimos que os outros – loucos e
insensatos – sofrerão a infâmia reservada às crenças heréticas, que as
suas reuniões não recebam o nome de igreja, e que eles sejam
atingidos, em primeiro lugar pela cólera divina, mas depois pelas
sanções vingadoras da nossa própria acção, deduzida das vontades
divinas.”

6) Os primeiros concílios ecuménicos à formulações doutrinais( trinitárias


e cristológicas)

a) Niceia ( 325)

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• condenação do arianismo ( Arius, bispo de Alexandria)


• negava a existência da consubstancialidade entre Jesus e o Pai

b) I Constantinopla( 381)
• O concílio confirmou o credo niceno, distinguindo entre a noção de
substância e pessoa
• mas ampliou a discussão sobre o Espirítio Santo

c) Éfeso ( 431)
• Debateu sobre os ensinamentos cristológicos e mariológicos de
Nestório ( patriarca de Constantinopla)
• Defendia que Cristo não seria uma pessoa única, mas que Nele
haveria uma natureza humana e outra divina, distintas uma da outra

d) Calcedónia ( 451)
• Rejeitou-se o monofisismo ,que negava a natureza humana de Jesus

7) A Patrística

a) Até o ano 2000


• Dedicou-se À defesa do Cristianismo contra seus adversários (
padres apologistas, São Cipriano, São Justino Mártir)
b) até ao ano 450
• em que surgem os primeiros grandes sistemas de filosofia cristã
• Santo Agostinho, Clemente de Alexandria
c) Até o século VIII ´
• Reelaboram-se as doutrinas já formuladas e de cunho original

Símbolo de Niceia (325)

«Cremos em um só Deus, pai todo poderoso, criador de todas as coisas visíveis e


invisíveis.

Cremos num só Senhor, Jesus Cristo, Filho Único de Deus, gerado do Pai, isto é, da
substância do Pai, Deus de Deus, luz de Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro,
engendrado e não criado, consubstancial ao Pai, por quem todas as coisas foram
feitas no céu e na terra.

Cremos por nós homens e pela nossa salvação desceu do céu e incarnou, fez-se
homem, padeceu, morreu e ressuscitou ao terceiro dia, subiu ao céu e virá julgar
os vivos e os mortos.

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Cremos no Espírito Santo.
Aqueles que dizem ‘houve um tempo em que ele [o


Filho] não existia’, ‘não existia

antes de ser engendrado, “foi criado do nada’, ou que declaram que ele é de outra
substância ou de uma outra essência [que o Pai], ou que o Filho de Deus foi
criado, que ele não é imutável e que está submetido à mudanla, a Igreja católica
anatemiza-os.»

8) A definição institucional ( hierarquia)


• Séc III --< estruturação da ordem em 3 graus_ diácono, presbítero,
bispo

9) As priemrias experiências monásticas


• Desertos egipto e síria
• A construção do impossível ( um novo mundo):
o Rutura com universo judaico
o Dialogo com a cultura helénica

10) A divisão e desestruturação do Império ( 395)

11) A desagregação do império e suas consequências para o cristianismo

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• O Império Romano do Ocidente sofreu invasão dos povos “


bárbaros” e caiu em 476.
• O império do oriente subsiste

O Cristianismo no Ocidente:

• Integração dos novos povos


• Salvar a tradição romano-cristã
• A estabilidade monástica ( S. Bento e a heranã beneditina : ora et labora)e
missionação irlandesa ( columbano)
• Uma fé, um espaço, dois enquadramentos
o Hegemonia a norte ( conversão dos bárbaros)
o Sob o domínio no sul da bacia do mediterrâneo ( a expansão do
Islão)

Cristianismo medieval: uma Sociedade


Cristã?

Modelo de Identificação Fé- Cultura:

a) uma modalidade que se caracteriza pela fusão do Evangelho e da vida


cristã com a cultura
• normalmente uma cultura particular como paradigma universal
• conduzindo a uma institucionalização do elemento cristão;

b) consequente sacralização de instituições e realidades socioculturais e,


paradoxalmente, alguma secularização da instituição eclesial, patente nos seus
interesses pelos poderes temporais e nos efectivos privilégios sociais;

c) o exo mais acabado desta identificação é o da era da Cristandade

• onde o cristianismo passa a ser a «massa» e se instala no Império

d) aquela ligação à cultura produziu os seus frutos


• no ensino, pensamento, artes

*conversões por imposição ou vantagens sociais, superstição, desconsideração


por outras culturas onde, legitimamente, se poderia também pensar uma relação
profunda com a fé cristã.

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Ø A religião torna-se fator de identidade e coesão social

A sociedade da Cristandade:

1) Características:

• Sociedade entendida como “ corpo”


o realidade orgânica e unitária

• Sociedade de fiéis
o inimigos internos à hereges;
o inimigos externos à infiéis

• Realidade holística

1) Etapas e processos:

• Afirmação da supremacia do poder espiritual sobre o temporal


• Fortalecimento da autoridade papal
• Controlo das práticas religiosas ( clérigos e fiéis)
o O desenvolvimento do direito canónico

• O Concílio como instância disciplinadora e reformadora


o Disciplina e espiritualidade

• a importância da prática religiosa como prática social


o o papel dos sacramentos

• as cruzadas como forma de mobilização

• a utilização da excomunhão

• Inquisição medieval
o da justiça ordálica ( prova de inocência) à formulação da justiça
como processo de acusação

Características Cristandade

(José Nunes)

a) cristianismo passa de minoritário e marginal a fenómeno de massas;


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b) chefes convertem-se e súbditos também (conversão em massa dos povos


bárbaros);
o o problema da cristianização


c) cultura latino-romana junta-se ao cristianismo


o ex. os: latim, direito, festas litúrgicas como o Natal, vestes dos
clérigos);

d) sábios da cultura são os notáveis da Igreja


o clérigo como doutor;
o cultura erudite e cultura clerical;
o catedrais, mosteiros, universidades;

e) assunção por parte da Igreja de tarefas civis


o ex. Sistema de Ensino; registos)

f) há uma identificação cristianismo – sociedade – cultura


o os não-cristãos são declarados heréticos (face à Igreja) e marginais (face
à sociedade).

2) A sociedade feudal

• Imaginário feudal das 3 ordens


• Feudalização da sociedade e da Igreja ( Simonia e nicolaísmo)

• Busca da libertação tutela feudal


o A reforma de Cluny ( Guilherme de Aquitânia)

• Contra a simonia e o nicolaísmo


o Simonia à negócio com títulos eclesisásticos
o Nicolaísmo à concubinato eclesisástico

• Nicolau II ( 1959)
o Papa passa a ser escolhido pelos cardeais

• A questão das investiduras ( 1122 Worms) e gregório VII ( supremacia do


espiritual)
o A unidade político-religiosa em busca da Cidade de Deus ( reforma
gregoriana)

3) A sociedade urbano-mercantil ( da alta para a baixa Idade Média)

• O espírito missionário
o Das Ordens Mendicantes à expansão europeia
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• As dissidências religiosas e o cisma do Ocidente


o 1309 – 1377 à entre Roma e Avinhão

• A renovação espiritual ( séx. XIV a XVI)


o Cristianismo e humanismo
o

Reforma e reformismo: o Cristianismo


Moderno

A reforma tem duas fases:

1. Lutero à Anglicanismo
2. Concílio de Trento ( 1545 – 1563) à Calvinismo

Fragmentação da experiência cristã

O Cristianismo e a reforma

• A Reforma à Protestantes, Reformados, Evangélicos


o Construção da “ galáxia protestante)
o Conteúdo unitário do protestantismo
o Sola gratia, sola fide, sola scriptura

A) Martinho Lutero ( 1483 – 1546)

• Sociedade cristã e conversão individual


• “ Da Liberdade do cristão” ( 1520)

1) Escritura à autoridade e mediação

• anterioridade da Bíblia
• A Escritura como referência de liberdade

• A Escritura como expressão da vontade de Deus
• A Escritura como autoridade e mediação
• A Escritura como instância de elaboração e afirmação da consciência
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2) Fé à justificação do crente
• “ o justo salva-se pela fé”
o fides à fidelidade

• O perigo das “ consolações infundadas”


o Purgatório; indulgências; primado romano

• Crítica da teologia das obras


o Confiança do homem pecador diante do poder de Deus

«O crente, pela sua fé, foi posto no Paraíso e criado inteiramente novo; não
precisa de obras para chegar à justiça (a graça); mas para não cair na ociosidade,
para aplicar o seu corpo ao trabalho, deve fazer as obras de liberdade que
conhecemos, sem outra intenção que agradar a Deus [...]. É por isso que estas duas
afirmações são igualmente verdadeiras: “as obras boas não fazem um homem
bom, mas um homem bom faz boas obras. As obras más não fazem um homem
mau, mas um homem mau faz más obras”»

Martinho LUTERO – Da liberdade do cristão (1520)

3) Graça à a primazia de Deus

• A universalidade do sacerdócio à secularização da vida espiritual


o Sacerdócio pelo baptismo
o Responsabilidade individual como mediação de sacralidade
o A consciência como locus de conhecimento da salvação

«Inventou-se que o Papa, os bispos, os padres e os monges fossem chamados


estado espiritual; e que os príncipes, os senhores, os artífices e os camponeses
fossem o estado temporal. Engenhosa mentira e hipócrita invenção, mas ninguém
a deve recear e por esta razão: todos os cristãos são verdadeiramente o estado
espiritual e não há entre eles qualquer diferença, com excepção da função. Como
São Paulo diz (Primeira Carta aos Coríntios, XII) função para servir os outros. É
por isso que nós temos um só baptismo, um só Evangelho, uma só fé, e que todos
são igualmente cristãos; porque só o baptismo, os Evangelhos e a fé é que fazem
que o povo seja espiritual e cristão.»

Martinho LUTERO – Exortação à nobreza da nação alemã (1520)

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B) A Tradição Anglicana

• O Âmbito e abrangência do mandato petrino


• A construção de uma igreja nacional
• Entre catolicismo e protestantismo

2ª Fase à A Reforma Católica e “Contra- Reforma”

• A natureza da Eucaristia e da pregação


• Disciplina e território
• Ministérios ordenado e instrução do clero
• O âmbito e abrangência do mandato petrino

Concílio de Trento ( 1545-1563)

1ª período ( 1545-1547) à A questão da justificação

2ª Período ( 1551- 1552) à o número e justificação dos sacramentos

3º período ( 1562-1564) à Reforma eclesiástica e eclesial

• Autoridade e mediação
• Palavra e tradição
• Sacramentos
• A devoção aos santos

C) Jean Calvin( 1509 – 1564)

• Disciplina e ascetismo
• Vocação cristã à para todos e para tudo
• Igreja visível e Igreja Invisivel

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Terreno evangélico espiritualista


• As consequências eclesiológicas e espirituais
• A luta reformadora
• A vida quotidiana como ascese

Representantes históricos do protestantismo ascético

• Calvinismo / puritanismo
• Pietismo
• Metodismo
• denominações nascidas do movimento baptista

Correntes milenaristas e carismáticas

a) Milenarismo
• Doutrina escatológica

• Testemunhas de Jeová, Adventismo, Mórmons

b) Pentecostalismo
• Espírito Santo
• Carismas
• Neopentecostalismo

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Protestantismo em Portugal

• Correntes sinodais

o Conselho Português de Igrejas Cristãs (COPIC)

• Correntes não-hierárquicas

o Aliança Evangélica Portuguesa (AEP)

• “Protestantismo de novas fronteiras”


• Ecumenismo

O Cristianismo Contemporâneo: identidade,


laicidade e secularização

1. Sociedades contemporâneas

Características:

• Afirmação da consciência individual

• Contratualização e lugar das mediações


o A origem e a gestão poderes nas sociedades

• Diversidade social e religiosa


o A desconfessionalização do Estado como objetivo

Questões:

• Legalidade e Legitimidade ( dissociação)


• O valor da religião
• Sociedade pós-cristãs?

Autonomia das esferas:

o Religioso
o Social
o Político

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o Económico
o Cultural

Ø Religião como fenómeno total na base de mundividências diversas


o Tende a fluir mentalidades e comportamentos individuais e
coletivos)

Ø Estabelecem horizonte de realização das pessoas e comunidades

Ø Religião como fenómeno social


o Acompanha e exprime alterações sociais

Ø Proliferação de mundividências em concorrência

Relações cruciais:

Verdade +autoridade + consciência + liberdade

2. Processos históricos, ideologias e situações na construção da


modernidade

Ideologia -à cristianismo à secularismo à laicismo

Processo à cristianização à secularização à laicização

Situação à cristandade à secularidade à laicidade

Secularização:

o autonomização das diversas esferas da vida da sociedade


o remissão da religião para o âmbito privado
o secundarização das mediações institucionais

Laicização:

o religiões e seus organismos institucionais em disputa com o Estado, outras


instituições ou o “ mercado religioso”
o Importância relativa num contexto de conflito, concorrência, disputa e
pluralismo

3. Mutação dos universos religiosos

• Metamorfoses da experiência e das manifestações religiosas


o Secularização como processo de deslocação

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§ Relativização das mediações institucionais

• Situação concorrencial à os tempos e os modos


o O Estado; o “ mercado religioso”

• Disputa pelo enquadramento do individuo

4. Originalidade e centralidade da experiência cristã

Dupla dimensão:

Antropológica à o Homem novo ( visão paulina do Novo Adão)

Espiritual à a Conversão

Centradas no encontro com uma pessoa à Jesus Cristo ( interrogação sobre a


existência do individuo e do outro)

Constitutiva da comunidade e geradora do anúncio

5. Desafios contemporâneos

a) As questões sócio-politico-económicas à Libertação


• Centralidade contemporânea da ação

b) As distintas culturas dos povos à inculturação


• Múltiplas formas de dizer o mesmo ( universalidade)

c) As grandes religiões da humanidade à diálogo inter-religioso


• A verdade é seminal

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