Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
AULA 5
2
contextos acima descritos. Nesse sentido, a religiosidade é um elemento da
personalidade do ser que irá influencia-lo em todos os ambientes sociais. O tema
provoca o interesse e o estudo da parte de antropólogos, psicólogos e sociólogos
quando analisam as relações do ser diante das demais instituições da sociedade
(Toscano, 2001).
Acerca da influência da religião nas instituições e na sociedade como um
todo, Cury (2004) ressalta que o termo religião se origina do latim religare, na
perspectiva transcendental de que o ser humano reate relações com o ser divino
ou outros seres e realidades além da nossa dimensão e existência. Entretanto,
é possível entender que a etimologia da palavra também se refere ao ato de
reunir pessoas numa instituição social própria, tanto no sentido e propósito
natural quanto sobrenatural. Isso porque a religião é a instituição que unifica
determinadas práticas e conceitos sagrados, agregando ao redor de sua
autoridade os fiéis, que logo se tornam uma comunidade; nesses termos, ela é
reconhecida como instituição social.
Assim, ressaltamos que a própria história da educação está bastante
relacionada às instituições religiosas nos povos antigos e naqueles formadores
da civilização ocidental. Tanto na Mesopotâmia e Antigo Egito quanto com os
hebreus, a transmissão de conhecimento e o processo educacional estavam sob
a responsabilidade dos sacerdotes e líderes religiosos dessas nações. Além
disso, a perspectiva mística e espiritual que causava grande influência no
cotidiano desses povos era igualmente oriunda do ensino religioso.
O cristianismo, como religião oriunda da religiosidade dos hebreus – que
é uma cultura com um legado educacional pleno de ações pedagógicas –,
igualmente assumiu muitas de suas práticas; o objetivo primeiro é sempre
capacitar o indivíduo para reconhecer e assumir as posturas corretas na
formação do caráter. Isso é visível na maneira como os sacerdotes “mestres” de
diversas religiões – pastores, bispos, apóstolos etc. – e palestrantes atuam no
objetivo de ministrar ensinos acerca dos valores da consciência e religiosidade
do ser humano.
4
O cristianismo aborda em seu pensamento doutrinário diversas
instituições sociais do ser – como a família e o ambiente político –, além da
maneira de pensar, sentir e viver do homem consigo mesmo e na vida em
sociedade. É, portanto, uma religião que trata aspectos multiculturais da
humanidade, o que também indica ao fiel cristão o valor moral de respeito à
diversidade de crenças, em vez da intolerância religiosa. A liberdade de
discordar é essencial ao ser, no entanto requer que seja movida pelo respeito às
demais pessoas e seus pensamentos; deve-se sempre rejeitar de forma grave a
violência por questões de opinião.
5
segundo os ditames dos métodos de pesquisa utilizados no estudo do tema. De
acordo com esses mesmos autores, esse conhecimento pode ter base
7
pelos gregos, que tratavam com zelo a disciplina por meio da educação dos
filhos.
Trata-se de práticas de ensino e aprendizagem oriundas dos hebreus e
gregos e assumidas pelo cristianismo que legaram ao Ocidente aspectos de uma
relação afetiva entre aluno e mestre, pois originárias de uma relação entre pai e
filho, e sacerdote e fiel, no âmbito das relações humanas. Na Palestina, já havia
uma escola para jovens e escribas desde o século 8º a.C., e à época de Jesus,
no século 1º, já se praticava o ensino pelo idioma grego e as sinagogas
ministravam trechos da lei da Torah, escrita e aritmética.
Portanto, na relação de continuidade religiosa e social que integra o
judaísmo ao cristianismo, vemos o modo como a educação foi um elemento que
se tornou fundamental a essa religião através da história.
9
O surgimento das universidades nos primeiros séculos do segundo
milênio se apoiou na ascensão da classe burguesa junto da valoração da
educação da classe eclesiástica. Essa situação gerou um ambiente em que os
primeiros mestres se dedicavam ao ensino sob a orientação das igrejas; esses
elementos vieram a dar vazão à criação dessas instituições educacionais na
Europa (Aranha, 2006).
As universidades foram criadas a fim de promover o aprendizado do ser
e assim foram compreendidas como instituições educacionais, utilizando um
conteúdo que compreendia as artes liberais, a medicina e a jurisprudência, com
o acréscimo da teologia segundo pedidos do Papa Inocêncio II. A primeira foi
instalada no ano de 1150, na cidade de Bolonha, seguindo-se as de Paris,
Oxford, Cambridge, Salamanca, e ainda, na cidade de Coimbra, que se destacou
na área da literatura pela obra Divina Comédia, de Dante Alighieri.
Segundo McGrath (2005, p. 67-68), nos primeiros séculos do novo milênio
havia um ambiente propício na Europa para “o reavivamento de cada área do
trabalho acadêmico”. Surgiu a oportunidade de um recomeço para as atividades
da Universidade de Paris, além do fato de que foram iniciadas diversas escolas
teológicas próximas do Rio Sena e da Catedral de Notre Dame – a mais famosa
veio a ser o College de la Sorbonne. A França também se tornou a nação
responsável por impulsionar o conhecimento no início da Idade Média, pois
alguns importantes autores saíram de seus monastérios, com destaque para
Lanfranc (1010-89) e Anselmo (1033-1109). Esse movimento de incentivo à
educação e ao conhecimento perdurou até o século XV, permitindo que boa
parte da Europa ocidental fosse palco do nascimento de diversas universidades
importantes, como a da Alemanha.
O ambiente escolar e educacional da Idade Média também progrediu
pelos esforços da Igreja cristã a partir do desenvolvimento individual e também
da integração entre as disciplinas de teologia e filosofia, especialmente nos
séculos 13 e 14. A filosofia patrística já havia sido utilizada pelos pais da Igreja
nos primeiros quatro séculos para integrar e desenvolver a doutrina da fé
mediante elementos do pensamento platônico. Isso, no pensamento de
Agostinho, era percebido na orientação de que o ser humano não deveria
desprezar a inteligência, pois o próprio Deus iluminava a razão humana, de tal
forma que o conhecimento da verdade se originava de uma experiência interior
do ser, numa reflexão que aproveitava as perspectivas de Platão.
10
Para Agostinho, Jesus Cristo atuava no homem interior, tornando o
processo educacional uma experiência de autoeducação, na qual o
entendimento da verdade seria alcançado pela iluminação divina. Segundo
Borges (2002), Agostinho buscava entender os fundamentos do conhecimento,
vindo a propor uma pedagogia de cunho religioso baseada em valores culturais
e fundamentada em conceitos teóricos, na qual a educação era um processo de
valorização das potencialidades humanas, posto que o ser fora criado à imagem
e semelhança de Deus.
A escolástica dos séculos 12 a 14 orientava um aprendizado educacional
que veio a ser desenvolvido por Anselmo, Pedro Abelardo, Alberto Magno e
Tomás de Aquino segundo uma proposição de unidade entre a fé e a razão, a
teologia e a filosofia. Os conceitos racionalistas aristotélicos foram utilizados
especialmente por Tomás de Aquino, que se servia dos conceitos filosóficos
demonstrativos da primazia da razão para o conhecimento e que revelavam a
racionalidade como um princípio criador e sustentador da estrutura do universo.
Uma grande contribuição do escolasticismo para a religião e para o
aprendizado do ser surgiu das discussões acerca do papel da razão e da lógica
na teologia. O termo é bastante abrangente, pois se refere mais a uma
perspectiva metodológica desenvolvida para a reflexão do que propriamente a
um conjunto de definições doutrinárias (McGrath, 2005, p. 71).
Esse foi um período da história em que o cristianismo utilizou um método
de aprendizado filosófico para ensinar os conteúdos da religião, pois na
escolástica o ensino religioso não estava separado dos conceitos educacionais,
o qual se desenvolvia em quatro etapas: a leitura (lectio); o comentário (glosa);
as questões (quastio); e a discussão (disputatio). Era um ambiente em que se
aprendia a ler e a escrever utilizando os textos das Escrituras enquanto se
copiavam suas letras.
Os monges se serviam da lógica de Aristóteles em um processo no qual
a razão era um instrumento de propagação e fortalecimento da fé, o que evitava
interpretações múltiplas, e a educação se tornava um movimento de superação
das dificuldades causadas pelo pecado. Também foi um ambiente em que o
cristianismo medieval acabava impedindo o acesso à educação para a
população, pois o aprendizado se voltava somente para os conteúdos
relacionados à religião, conforme destaca Borges (2002).
11
TEMA 5 – AS REFORMAS RELIGIOSAS DO SÉCULO 16 E A EDUCAÇÃO
12
época. Foi bastante influenciado por um deles, o humanista Andrea Alciati, o que
fez o reformador integrar um grupo de estudos das obras de Erasmo; logo após,
preparou e publicou um comentário sobre a obra De clementia, de Sêneca.
Decidiu voltar-se ao estudo de obras literárias, tendo firme interesse nas
Escrituras a fim de propiciar conhecimento da fé aos fiéis e à Igreja. Escreveu o
tratado teológico protestante mais famoso, As Institutas da Religião Cristã
(González, 2011, p. 65).
Calvino fundou a Universidade de Genebra, pois entendia que era
impossível existir a fé sem o conhecimento. O humanista da Reforma não fazia
distinção de valor e hierarquia entre os estudos de línguas e história, ciência e
religião, pois considerava que todo ensino visava igualmente o aperfeiçoamento
do ser humano para capacitá-lo na dedicação de sua vocação existencial
(Borges, 2002, p. 48). O currículo dessa universidade continha as disciplinas de
teologia, hebraico, grego e matemática, além da retórica, e estudava textos de
autores como Heródoto e Xenofonte, Homero e Demóstenes, Plutarco e Platão,
Cícero e Virgílio. Os líderes da Reforma defendiam que a fé e a razão eram
conteúdos que deveriam estar juntos numa perspectiva de que tanto o
conhecimento quanto o Evangelho eram fundamentais para o desenvolvimento
do ser humano.
NA PRÁTICA
FINALIZANDO
14
REFERÊNCIAS
LIBÂNEO, J. C. Pedagogia e pedagogos, para quê? 12. ed. São Paulo: Cortez,
2010.
15
MCGRATH, A. E. Teologia sistemática, histórica e filosófica. Uma introdução
à teologia cristã. Tradução de Marisa K. A. Siqueira Lopes. São Paulo: Shedd
Publicações, 2005.
16