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miseráveis não existia nenhum tipo de liberdade. A Henrique quanto Afonso de Borgonha passaram a
Idade Moderna e o Estado Nacional tiraram-lhes até a prestar vassalagem ao rei Afonso VI de Leão.
liberdade de perambular. Passaram a ser vistos como Desde muito cedo o condado Portucalense
inúteis, indesejáveis, e eram metidos em prisões, manifestou tendências separatistas. Após a morte
hospícios, casas de trabalho forçado ou simplesmente de D. Henrique de Borgonha sua esposa, Dona
deportados para as colônias. O Estado nacional, ao Teresa, lutou ardorosamente pela independência.
mesmo tempo em que aumentou a riqueza para a Seu filho D. Afonso Henrique, apoiou-lhe nessa
minoria dos privilegiados, aumentou o número de batalha, sendo o fundador do novo reino, em 1139,
miseráveis, destinados à mais cruel repressão. A transformando-se no primeiro rei de Portugal.
Idade Moderna, com a expansão da ideia de lucro, da Nesse contexto, o novo reino independente foi,
riqueza, abominava o pobre, visto como um estorvo posteriormente, reconhecido por Afonso VII de Leão
para a nova sociedade moderna que valorizava cada e pela Igreja Católica, que abençoou e santificou o
vez mais o trabalho enquanto atividade produtiva e a rei com o nome de D. Afonso I, iniciando-se, assim,
nascente visão de mundo capitalista. a dinastia de Borgonha.
A partir da conjuntura de formação do reino
A formação dos Estados Nacionais independente de Leão, Portugal passou a ser
governado pela dinastia de Borgonha até o ano de
Ibéricos: 1383. Tal período acabou distinguindo-se por uma
intensa luta de Portugal contra os mouros, assim
Exceto nas atuais Alemanha e Itália, cuja como por uma progressiva conquista de territórios,
unificação só ocorreu no final do século passado, na que, aliás, teve seus limites finalmente consolidados
maior parte da Europa ocidental do século XV, a a partir da incorporação da região de Algarve.
formação da monarquia nacional ou Estado Moderno
já era uma realidade. Ainda anos antes, houve a
unificação da Coroa Lusitana com a Revolução de
Avis em 1385. Os lusitanos coroaram seu primeiro
chefe do Estado Moderno Português: D. João I.
A conjuntura do século XIV trouxe à tona
inúmeras transformações sócio-políticas. Portugal
afirmou-se como o primeiro Estado moderno da
Europa. As origens do Estado português estão
diretamente vinculados à Guerra de Reconquista.
Desde o século VII, os árabes passaram a compor um
movimento de expansão inspirado pela religião
maometana ou muçulmana. Já no século VIII, no ano
de 711, indivíduos provenientes do norte da África
(muçulmanos), invadiram a península Ibérica,
conquistando todo o território localizado na parte sul.
Nesse contexto, os cristãos conseguiram manter a
região das Astúrias, futuro reino de Leão. E, apesar
das várias tentativas de recuperação do território
pelos cristãos, o processo de reconquista iniciou-se
efetivamente a partir do século XI, com a formação de
reinos cristãos no norte, como Leão, Castela, (“O Cerco de Lisboa”. Iluminura das famosas crônicas
Navarra e Aragão. medievais de Jean Froissart. Século XIV. Fonte:
http://en.wikipedia.org/wiki/File:Siege_of_Lisbon_1384.JP
1. Portugal G)
Portugal emergiu em meio à guerra contra os
mouros, adquirindo-se a feição de uma Cruzada. As guerras de Reconquista influenciaram
Assim, muitos nobres, sobretudo franceses, decisivamente toda a organização do Estado
participaram da luta, auxiliando a monarquia cristã. No português. Nesse sentido, percebemos que a
reinado de Afonso VI, rei de Leão, dois nobres exigência de constante mobilização militar, que
franceses, Raimundo e Henrique de Borgonha, além de controlar os impostos, também
receberam do rei, como recompensa pelos seus administrava a justiça, facilitando a centralização
serviços, as suas duas filhas em casamento, além de política. Tal particularidade distinguiu. Portugal do
terras como dote. Enquanto Raimundo recebeu a mão resto da Europa, onde a descentralização política
de Dona Urraca e o condado de Goaliza, ao norte do era uma característica preponderante. Assim, em
rio Rinho, Henrique casou-se com Dona Teresa, virtude da importância do rei, o feudalismo
recebendo o condado de Portucalense, ao sul do português teve uma característica peculiar: as terras
mesmo rio. Entretanto, como essas terras não se conquistadas junto aos mouros e concedidas aos
constituíam como reinos independentes, tanto nobres não se converteram em domínios
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independentes. Portanto, as instituições municipais centralização política, fato que foi decisivo para o
eram fortes e subordinadas ao rei, e não aos seu pioneirismo na expansão ultramarina.
aristocratas.
Assim como o resto da Europa, Portugal contava 2. Espanha:
com uma burguesia mercantil bastante ativa. Logo,
conseguimos perceber que sua formação estava Durante séculos, os diversos reinos cristãos
vinculada à relativa importância da pesca, do que ocupavam o território espanhol (reinos de Leão,
comércio do sal e da própria agricultura. Nesse Castela, Navarra e Aragão) lutaram pela expulsão
contexto, a crise do século XIV acabou por beneficiar dos muçulmanos da península Ibérica. A partir do
tal segmento, pois o perigo das revoltas e a século XIII, só havia na Espanha dois grandes
insegurança nas vias terrestres provocaram uma reinos fortes e em condições de disputar a liderança
verdadeira transformação nos quadros do comércio cristã da região: O de Castela e o de Aragão.
europeu. Em 1469, a rainha Isabel, de Castela, casou-se
As rotas terrestres que ligavam as cidades com orei Fernando, de Aragão. O casamento de
italianas à região de Flandres tornaram-se perigosas, Fernando e Isabel unificou politicamente a Espanha.
sendo, por isso, abandonadas pelos comerciantes, A partir desse momento, os espanhóis
que passaram, então, a utilizar as rotas marítimas, já intensificaram as lutas contra os árabes, que ainda
que estas ofereciam um pouco mais de segurança. ocupavam a cidade de Granada, na parte sul do
Assim, partindo da Itália em direção ao norte da país.
Europa, essas rotas passavam por Portugal,
Espanha, Holanda e Inglaterra, transformando-os em
renomados centros comerciais. E, foi durante o
reinado de D. Fernando, o Formoso (1367-1383), que
se deu a valorização das rotas do Atlântico,
fortalecendo a burguesia mercantil à proporção que
estimulava o comércio e a navegação.
A partir do fortalecimento da burguesia, a nobreza
passou a sentir-se ameaçada. Com a morte de D.
Fernando, em 1383, a situação tornou-se ainda mais
crítica, pois o rei não deixou herdeiros e a filha única
era casada com o rei de Castela, que se declarou
sucessor do trono português. Além disso, a viúva de
D. Fernando, Leonor Teles – mulher bastante
ambiciosa –, pretendia permanecer rainha e, portanto,
se opôs às pretensões do rei de Castela, dando início
à guerra. Porém, a nobreza não apoiou a rainha,
decidindo-se favorável à união de Portugal com
Castela, a anexação interessava aos nobres, já que
estes se sentiam prejudicados pelo crescimento das (Isabel, a Católica. Rainha de Castela e Aragão. Estava
cidades e da burguesia mercantil. Em contrapartida, nascendo o Estado Nacional espanhol. “A posthumous portrait of
Queen Isabel of Castile”. Obra anônima. Fonte:
tanto a burguesia quanto as camadas populares http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/63/Isabeldecast
colocaram-se ao lado da monarca, fazendo-se illa.jpg
importante ressaltarmos que, principalmente no caso
dos camponeses e dos servos, o fortalecimento da Após a completa expulsão dos árabes, o poder
nobreza tenderia a piorar suas condições de vida. real se fortaleceu e, com a ajuda da burguesia, a
Então, surge daí o apoio popular e da burguesia a Espanha também se lançou às grandes navegações
um filho bastardo do pai de D. Fernando, o mestre marítimas pelo Atlântico.
de Avis, que, aliás, transformou-se no legítimo Espanha com Cristóvão Colombo pretendia
representante das aspirações burguesas contra a chegar às Índias através da circunavegação do
nobreza vinculada a Castela. O fim da guerra deu-se Mundo, acreditando na teoria da esfericidade do
a partir da vitória de Portugal na batalha de planeta. Em 1492, com o financiamento da coroa
Aljubarrota, consolidando-se com a escolha de D. espanhola, mesmo sem saber, chegou ao “Novo
João, mestre de Avis, em 1385, como o novo rei de Mundo”, que veio a se chamar América. O Papa
Portugal, agora com o título de D. João I. Assim, (com grande poder sobre os países) assinou a Bula
começava a dinastia de Avis (1385-1580). Inter Coetera, que definia que 100 milhas a oeste da
Com a revolução de Avis e a ascensão de D. Ilha de Cabo Verde existiria um meridiano
João I (1385-1433), a burguesia mercantil, devido ao imaginário que definia que as terras a oeste
seu poder econômico, conseguiu influenciar o pertenceria a Espanha e a leste a Portugal;
governo português, que se transformou na primeira Portugal não aceitou a Bula e ameaçou entrar
monarquia nacional da Europa. Como um estado em Guerra contra a Espanha. Portugal teoricamente
moderno, Portugal originou uma precoce não sabia da existência do Brasil, da América do
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Sul, mas não aceitou a Bula porque 100 milhas a financeiras e, sobretudo, pelo seu sucesso advindo
oeste da Ilha de Cabo Verde não eram nem ¼ da de atividades produtivas, ou seja, pela valorização
distância que Colombo percorreu. do trabalho. Assim, as visões de mundo da
Em 1494 se estabelece o Tratado de Tordesilhas, aristocracia real e da burguesia eram bastante
que definiu que a 370 milhas a oeste da Ilha de Cabo diferentes.
de Verde se estabeleceria o meridiano imaginário, Por isso, embora período seja de transição da
assim, as terras existentes a oeste seriam da sociedade medieval para a futura sociedade
Espanha e as terras a leste de Portugal. capitalista, a teoria do Estado Absolutista como
Portugal aceita. Foi o primeiro tratado que dividiu “aliança” entre nobreza e burguesia, como pensam
o mundo todo entre dois países. muitos, pode ser criticada. Os estudos mais aceitos
apontam que o centralismo político do Estado
O ESTADO ABSOLUTISTA Absolutista nas mãos do monarca representa, antes
de tudo, a garantia do controle político do Estado
Os Estados Nacionais da Idade Moderna pela nobreza real, ainda que tenha auxílios
primaram por uma política de centralização de econômicos da burguesia. Identificamos assim uma
poderes nas mãos do monarca, substituindo as permanência do mundo feudal, já que a nobreza é o
antigas relações políticas medievais, baseadas na grupo político dirigente do Estado Absolutista. O
descentralização de poderes ou no poder local da historiador holandês Perry Anderson chama o
nobreza feudal. Por conta deste processo histórico, Absolutismo vivenciado na Europa de aparelho
chamamos a nova organização política dos Estados político de dominação feudal alargado e
Nacionais de Absolutismo Monárquico. O rei reforçado.
governava com autoridade máxima ou absoluta e era Segundo Perry Anderson, o Estado Absolutista
senhor soberano de todas as decisões a serem estava “destinado a fixar as massas camponesas na
tomadas. A figura do monarca confundia-se com a do sua posição social tradicional, a despeito e contra
próprio Estado, havendo inclusive justificativas os benefícios que elas tinham com a comutação
transcendentais ou divinas para o poder ilimitado alargada das suas obrigações. Por outras palavras,
dos reis absolutistas. Entretanto, ainda hoje existem o Estado Absolutista nunca foi um árbitro entre a
discussões profundas sobre a natureza dos Estados aristocracia e a burguesia, ainda menos um
Absolutistas, tema ainda em debate, principalmente instrumento da burguesia nascente contra a
em torno dos estudos dos historiadores marxistas. aristocracia: ele era a nova carapaça [máscara]
A grande polêmica reside no papel histórico que política de uma nobreza atemorizada” (ANDERSON:
tiveram dois grupos sociais durante a época Moderna: 1984: 16-17). Cristopher Hill, outro importante
a nobreza e a burguesia. historiador inglês, defende também que “a
Tanto a nobreza real como a burguesia nascente monarquia absoluta foi uma forma de monarquia
eram grupos sociais que possuíam poderes feudal diferente da monarquia se suserania feudal
incontestáveis no início da Época Moderna. No que a sucedera; mas a classe dominante
entanto, eram poderes diferentes. A nobreza coroava permaneceu a mesma [a nobreza], tal como uma
os reis, mas ainda enfrentava problemas econômicos república, uma monarquia constitucional e uma
(consequência da crise da economia feudal do século ditadura fascista podem ser todas formas de
XIV). Os burgueses tinham um poder econômico dominação da burguesia” (HILL, citado por:
incontestável, cada vez mais destacado, tanto pelas ANDERSON: 1984: 17).
atividades dos mercadores e banqueiros como, mais
tarde, pelo seu papel no processo de acumulação
primitiva de capitais durante a Expansão
Ultramarina. Contudo, os constantes movimentos
populares, promovidos por camponeses e
trabalhadores das cidades incomodavam tanto nobres
como burgueses. Garantir a ordem social e manter a
estabilidade econômica dos Estados Modernos
eram desejos de ambos. No plano político, a
formação do Estado absolutista correspondeu a uma
necessidade de centralização do poder nas mãos dos
reis, para controlar a grande massa de camponeses
independentes e adequar-se ao surgimento da
burguesia.
Por outro lado, não podemos esquecer que a
nobreza definiu-se primordialmente pelo “bom A partir desta interpretação do Absolutismo no
nascimento”, pelos privilégios sociais, o “sangue Ocidente, a nobreza estava interessada em manter-
azul”, os valores tradicionais e aristocráticos, o que se no poder e garantir sua vida de privilégios,
lhe daria superioridade sobre todos; enquanto que a atrelando práticas econômicas tradicionais (feudais)
burguesia fez-se pelas relações comerciais e com a nova economia mercantil das cidades, além
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3. Hobbes: 4. Bossuet:
O bispo francês Jacques-Bénigne Bossuet é o
A obra do dedicado filósofo inglês Thomas
mais conhecido pensador que buscou explicar o
Hobbes buscou justificar o Estado absolutista por
absolutismo a partir de ideias religiosas. Bossuet
meio da lógica das relações humanas, pautadas no
sistematizou a concepção de que, nas monarquias
nascimento da civilização e na necessidade de
nacionais, o poder do rei emanava diretamente de
superação de um estágio histórico primitivo e
Deus. Ao receber a benção e a aprovação da Igreja,
selvagem, chamado por Hobbes de estado de
dadas pelo Papa, o governante adquiria
natureza. A sua maior obra, O Leviatã, falava sobre a
legitimamente força divina. Essa relação
necessidade de um grande líder político que
caracterizava a chamada Teoria do Direito Divino
promoveria um contrato social entre os homens. O
dos Reis. Embora estivesse “abaixo de Deus”, o rei
nome “Leviathan” é uma referência a um monstro
governava “em nome de Deus”. Por isso, a palavra
bíblico, uma referência demoníaca. Por defender a
do monarca era igualmente uma vontade divina. O
ideia de que o Estado não é algo que sempre existiu e
rei deveria ser respeitado por seu destino de bem
sim uma criação humana, Hobbes é considerado o
cuidar dos homens. Deus o havia escolhido para,
fundador da Ciência Política. Hobbes se preocupava
por meio dele, executar a Providência. Assim, se
com a origem do poder.
opor ao rei consistia pecado. Esta política da fé
Os homens inicialmente viveriam no estado de estava associada à valorização da tradição, à
natureza, um estado de barbaria e desordem social e busca da estabilidade e à imutabilidade das
política, onde estaria cada um contra cada um, todos relações humanas. “A história é uma espécie de
contra todos. O homem seria “o lobo do próprio drama divino, o pensamento de Deus a realizar-se
homem”. Tudo estava marcado pela concorrência, na Terra” (TOUCHARD: 1970: 131). Vejamos um
cobiça e avidez. Assim, aos poucos, os homens trecho de sua principal obra, Política tirada das
sentiriam a necessidade de superar o estado de sagradas escrituras:
barbárie e construir a civilização.
“Deus estabeleceu os reis como seus ministros e,
Para evitar a destruição da espécie humana, os através deles, reina sobre os povos (...). O trono real não
homens decidiram então abdicar de suas vontades é o trono de um homem, mas o trono do próprio Deus
pessoais em favor de um governo que representasse (...) A pessoa do rei é sagrada e atentar contra eles é um
sacrilégio (...) O rei vê de mais longe e de mais alto,
a todos. Foram, portanto, os próprios homens que
deve acreditar-se que ele vê melhor e obedecer-lho sem
delegaram poderes totais ao soberano para murmurar” (BOSSUET, citado por: BOULOS JUNIOR, p.
conseguirem a paz e segurança. Segundo Hobbes, 113).
isto explica por que o rei não deve satisfações de
seus atos a ninguém. Segundo o historiador Jean
Touchard, “o Estado surge aos nossos olhos como
uma pessoa (...) O Estado é o conjunto dos interesses
particulares. Deve defender o cidadão; este só cede
os seus direitos ao Estado para ser protegido. O
Estado perderia a sua razão de ser se a segurança
não fosse garantida e se a obediência não fosse
respeitada” (TOUCHARD: 1970: 115).
A teoria hobbesiana do Estado defende que a
vontade dos Reis Absolutistas é a mesma vontade
dos seus súditos. Contudo, Hobbes acaba justificando
o Absolutismo.
importantes para se ter privilégios sociais, e privilégios, num mundo mercantil que desconhecia,
permaneciam relações típicas do feudalismo, tais a nobreza dos senhorios tudo aceitava. Abdicaram
como a servidão e a apropriação de rendas dos de sua autonomia e foram obrigados a submeter-se
camponeses e arrendatários por alguns nobres. A ao poder real.
sociedade de ordens era a mesma da Idade Média: o
clero eram o primeiro estamento ordem, a nobreza
o segundo estamento e a burguesia e os grupos
populares, entre camponeses, servos e
trabalhadores urbanos formavam o terceiro
estamento. Devemos lembrar que, por serviços
prestados ao soberano ou pela compra dos títulos,
muitos burgueses ascendiam à condição de nobres.
Com variações entre os Estados, a burguesia que
servia à Corte Real se enobreceu, e muitos nobres
aburguesaram-se ao aplicarem seus capitais no
comércio. Mas em geral, a sociedade dos Estados
Absolutistas caracterizava-se pela estratificação e
imobilidade social.