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A FORMAÇÃO DO FEUDALISMO

A formação do feudalismo, desenvolveu-se num longo período, que engloba a crise do Império Romano a partir do século
III, a formação dos Reinos Bárbaros e a desagregação do Império Carolíngeo no século IX.

INTRODUÇÃO
A formação do feudalismo, na Europa Ocidental, envolveu uma série de elementos estruturais, de origem romana e
germânica, associados aos fatores conjunturais, num longo período, que engloba a crise do Império Romano a partir do século III, a
formação dos Reinos Bárbaros e a desagregação do Império Carolíngeo no século IX.

A CRISE ROMANA
A partir do século III a crise do Império romano tornou-se intensa e manifestou-se principalmente nas cidades, através das
lutas sociais, da retração do comércio e das invasões bárbaras. Esses elementos estimularam um processo de ruralização, envolvendo
tanto as elites como a massa plebéia, determinando o desenvolvimento de uma nova estrutura sócio econômica, baseada nas Vilae e
no colonato.
As transformações da estrutura produtiva desenvolveram-se principalmente nos séculos IV e V e ocorreram também mesmo
nas regiões onde se fixaram os povos bárbaros, que, de uma forma geral, tenderam a se organizar seguindo a nova tendência do
Império, com uma economia rural, aprofundando o processo de fragmentação.
Em meio a crise, as Vilas tenderam a se transformar no núcleo básico da economia. A grande propriedade rural passou a
diversificar a produção de gêneros agrícolas, além da criação de animais e da produção artesanal, deixando de produzir para o
mercado, atendendo suas próprias necessidades.
Foi dentro deste contexto que desenvolveu-se o colonato, novo sistema de trabalho, que atendia aos interesses dos grandes
proprietários rurais ao substituir o trabalho escravo, aos interesses do Estado, que preservava uma fonte de arrecadação tributária e
mesmo aos interesses da plebe, que migrando para as áreas rurais, encontrava trabalho.

O COLONO
O colono é o trabalhador rural, colocado agora em uma nova situação. Nas regiões próximas à Roma a origem do colono é o
antigo plebeu ou ainda o ex-escravo, enquanto nas áreas mais afastadas é normalmente o homem de origem bárbara, que, ao
abandonar o nomadismo e a guerra é fixado à terra
O colono é um homem livre por não ser escravo, porém está preso à terra.
A grande propriedade passou a dividir-se em duas grandes partes, ambas trabalhadas pelo colono; uma utilizada
exclusivamente pelo proprietário, a outra dividida entre os colonos. Cada colono tinha a posse de seu lote de terra, não podendo
abandona-lo e nem ser expulso dele, devendo trabalhar na terra do senhor e entregar parte da produção de seu lote.
Dessa maneira percebe-se que a estrutura fundiária desenvolve-se de uma maneira que pode ser considerada como
embrionária da economia feudal
É importante notar que durante todo o período de gestação do feudalismo ainda serão encontrados escravos na Europa, porém
em pequena quantidade e com importância cada vez mais reduzida.

AS INVASÕES BÁRBARAS
Os povos “bárbaros”, ao ocuparem parte das terras do Império Romano, contribuíram com o processo de ruralização e com a
fragmentação do poder, no entanto assimilaram aspectos da organização sócio econômica romana, fazendo com que os membros da
tribo se tornassem pequenos proprietários ou rendeiros e, com o passar do tempo, cada vez mais dependentes dos grandes
proprietários rurais, antigos líderes tribais.
O colapso do “Mundo Romano” possibilitou o desenvolvimento de diversos reinos de origem bárbara na Europa, destacando-
se o Reino dos Francos, formado no final do século V, a partir da união de diversas tribos francas sob a autoridade de Clóvis, iniciador
da Dinastia Merovíngea.
A aliança das tribos, assim como a aliança de Clóvis com a Igreja Católica impulsionou o processo de conquistas territoriais,
que estendeu-se até o século IX e foi responsável pela consolidação do “beneficium”, que transformaria a elite militar em elite agrária.
O “Beneficium” era uma instituição bárbara, a partir da qual o chefe tribal concedia certos benefícios a seus subordinados,
em troca de serviços e principalmente de fidelidade. Em um período de crise generalizada, marcada pela retração do comércio, da
economia monetária e pela ruralização, a terra tornou-se o bem mais valioso e passou a ser doada pelos reis a seus principais
comandantes.

O IMPÉRIO CAROLÍNGEO
Durante o reinado de Carlos Magno (768 - 814), a autoridade real havia se fortalecido, freando momentaneamente as
tendências descentralizadoras. Como explicar então a formação do feudalismo, se o poder real é fortalecido? Primeiro a centralização
deve ser vista dentro do quadro de conquistas da época, comandadas pelo rei, reforçando sua autoridade, mas ao mesmo tempo,
preservando o beneficium. Com o Estado centralizado, a cobrança das obrigações baseadas na fidelidade ainda são eficientes e esse
função é destinada aos “Missi Dominici” ( enviados do rei). Segundo, a Igreja Católica já era uma importante instituição, que, ao
apoiar as conquistas do rei, referenda sua autoridade e poder, ao mesmo tempo que interfere nas relações sociais, como demostra o
“Juramento de Fidelidade” instituição de origem bárbara que passou a ser realizada sob “os olhos de Deus” legitimando-a como
representativa de sua vontade.
No entanto é importante perceber as contradições existentes nesse processo: a Igreja construiu sua própria autoridade e como
grande proprietária rural tendeu, em vários momentos, a desvincular-se do poder central.
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AS RELAÇÕES VASSÁLICAS
As relações de subordinação desenvolveram-se desde o século V, no entanto foi durante o reinado de Carlos Magno que
tomaram sua forma mais desenvolvida. O incentivo aos laços de vassalagem num primeiro momento fortalecia o poder real, pois
direta ou indiretamente estendia-se a toda a sociedade, no entanto, com o passar do tempo o resultado tornou-se oposto na medida em
que as relações pessoais foram reforçadas, diminuindo portanto a importância do Estado.

O FEUDALISMO
O sistema feudal existiu na Europa entre os séculos IX e XI, quando predominou a economia rural, o trabalho servil, a
mentalidade católica e uma forma de organização política descentralizada.

Introdução

O Feudalismo pode ser visto enquanto um sistema de produção a partir do século IX, definido após um longo processo de
formação, reunindo principalmente elementos de origem germânica e de origem romana. Essa estrutura foi marcante na Europa
Ocidental e responsável pela consolidação de conceitos e valores que se perpetuarão. Muitos vêem nesse momento o desenvolvimento
da “Europa Cristã”.

A economia
A economia feudal possuía base agrária, ou seja, a agricultura era a atividade responsável por gerar a riqueza social naquele
momento. Ao mesmo tempo, outras atividades se desenvolviam, em menor escala, no sentido de complementar a primeira e suprir
necessidades básicas e imediatas de parcela da sociedade. A pecuária, a mineração, a produção artesanal e mesmo o comércio eram
atividades que existiam, de forma secundária.
Como a agricultura era a atividade mais importante, a terra era o meio de produção fundamental. Ter terra significava a
possibilidade de possuir riquezas ( como na maioria das sociedades antigas e medievais), por isso preservou-se a caráter estamental da
sociedade. Os proprietários rurais eram denominados Senhores Feudais, enquanto que os trabalhadores camponeses eram
denominados servos.
O feudo era a unidade produtiva básica. Imaginar o feudo é algo complexo, pois ele podia apresentar muitas variações, desde
vastas regiões onde encontramos vilas e cidades em seu interior, como grandes “fazendas” ou mesmo pequenas porções de terra. Para
tentarmos perceber o desenvolvimento socioeconômico do período, o melhor é imaginarmos o feudo como uma grande propriedade
rural. O território do feudo era dividido normalmente em três partes: O Domínio, terra comum e manso servil
O Domínio é a parte da terra reservada exclusivamente ao senhor feudal e trabalhada pelo servo. A produção deste território
destina-se apenas ao senhor feudal. Normalmente o servo trabalha para o senhor feudal, nessa porção de terra ou mesmo no castelo,
por um período de 3 dias, sendo essa obrigação denominada corvéia.
Terra comum e a parte da terra de uso comum. Matas e pastos que podem ser utilizadas tanto pelo senhor feudal como pelos
servos. É o local de onde retiram-se lenha ou madeira para as construções, e onde pastam os animais.
Manso servil era a parte destinada aos servos. O manso é dividido em lotes (glebas) e cada servo tem direito a um lote. Em
vários feudos o lote que cabe a um servo não é contínuo, ou seja, a terra de vários servos são subdivididas e umas intercaladas nas
outras. De toda a produção do servo em seu lote, metade da produção destina-se ao senhor feudal, caracterizando uma obrigação
denominada talha.
Esse sistema se caracteriza pela exploração do trabalho servil, responsável por toda a produção. O servo não é considerado
um escravo, porém não é um trabalhados livre. O que determina a condição servil é seu vínculo com a terra, ou seja, o servo esta
preso a terra. Ao receber um lote de terra para viver e trabalhar, e ao receber (teoricamente) proteção, o servo esta forçado a trabalhar
sempre para o mesmo senhor feudal, não podendo abandonar a terra. Essa relação, definiu-se lentamente desde a crise do Império
Romano com a formação do colonato.
Além da corvéia e da talha, obrigações mais importantes devidas pelo servo ao senhor, existiam outras obrigações que eram
responsáveis por retirar dos servo praticamente tudo o que produzia.
Tradicionalmente a economia foi considerada natural, de subsistência e desmonetarizada. Natural por que baseava-se em
trocas diretas, produtos por produto e diretamente entre os produtores, não havendo portanto um grupo de intermediários
(comerciantes); de subsistência por que produzia em quantidade e variedade pequena, além de não contar com a mentalidade de lucro,
que exigiria a produção de excedentes; desmonetarizada por não se utilizar de qualquer tipo de moeda, sendo que havia a troca de
produto por produto.
Apesar de podermos enxergar essa situação básica, cabem algumas considerações: o comércio sempre existiu, apesar de
irregular e de intensidade muito variável. Algumas mercadorias eram necessárias em todos os feudos mas encontradas apenas em
algumas regiões, como o sal ou mesmo o ferro. Além desse comércio de produtos considerados fundamentais, havia o comércio com
o oriente, de especiarias ou mesmo de tecidos, consumidos por uma parcela da nobreza (senhores feudais) e pelo alto clero. Apesar de
bastante restrito, esse comércio já era realizado pelos venezianos.
Mesmo o servo participava de um pequeno comércio, ao levar produtos excedentes agrícolas para a feira da cidade, onde
obtinha artesanato urbano, promovendo uma tímida integração entre campo e cidade. “ A pequena produtividade fazia com que
qualquer acidente natural (chuvas em excesso ou em falta, pragas) ou humano ( guerras, trabalho inadequado ou insuficiente)
provocasse períodos de escassez” (1) Nesse sentido havia uma tendência a auto suficiência, uma preocupação por parte dos senhores
feudais em possuir uma estrutura que pudesse prove-lo nessas situações

A sociedade

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A sociedade feudal era composta por duas classes sociais básicas: senhores e servos. A estrutura social praticamente não
permitia mobilidade, sendo portanto que a condição de um indivíduo era determinada pelo nascimento, ou seja, quem nasce servo será
sempre servo. Utilizando os conceitos predominantes hoje, podemos dizer que, o trabalho, o esforço, a competência e etc, eram
características que não podiam alterar a condição social de um homem.
O senhor era o proprietário dos meios de produção, enquanto os servos representavam a grande massa de camponeses que
produziam a riqueza social. Porém podiam existir outras situações: a mais importante era o clérigo. Afinal o clero é uma classe social
ou não?
O clero possuía grande importância no mundo feudal, cumprindo um papel específico em termos de religião, de formação
social, moral e ideológica. No entanto esse papel do clero é definido pela hierarquia da Igreja, quer dizer, pelo Alto Clero, que por sua
vez é formado por membros da nobreza feudal. Originariamente o clero não é uma classe social, pois seus membros ou são de origem
senhorial (alto clero) ou servil (baixo clero).
A maioria dos livros de história retrata a divisão desta sociedade segundo as palavras do Bispo Adalberon de Laon: “na
sociedade alguns rezam, outros guerreiam e outros trabalham, onde todos formam um conjunto inseparável e o trabalho de uns
permite o trabalho dos outros dois e cada qual por sua vez presta seu apoio aos outros” Para o bispo, o conjunto de servos é “uma raça
de infelizes que nada podem obter sem sofrimento”. Percebe-se o discurso da Igreja como uma tentativa de interpretar a situação
social e ao mesmo tempo justifica-la, preservando-a. Nesta sociedade, cada camada tem sua função e portanto deve obedece-la como
vontade divina.
Na camada superior, “os guerreiros” pode-se perceber uma diferença entre nobres e cavaleiros. Os primeiros descendem das
principais famílias do período carolíngeo, enquanto que os demais se tornaram proprietários rurais a partir da concessão de extensões
de terras oferecidas pelos nobres. Essa relação era bastante comum, fortalecia os laços entre os membros da elite, mesmo por que os
cavaleiros se tornavam vassalos e ao mesmo tempo procuravam imitar o comportamento da nobreza tradicional, adotando sua moral e
seus valores. Com o passar do tempo a diferenciação entre nobres e cavaleiros foi desaparecendo; preservou-se no entanto a relação
de suserania e vassalagem.
A relação de suserania e vassalagem é bastante complexa. Sua origem remonta ao Reino Franco, principalmente durante o
reinado de Carlos Magno e baseia-se na concessão do feudo (beneficium).
Surgem os dois primeiros problemas: Quem esta envolvido nesta relação? e, o que é feudo?
Esta relação é eventual, pode existir ou não, dependendo da vontade ou da necessidade das partes, que são sempre dois
senhores feudais; ou seja, é uma relação social que envolve membros da mesma camada social, a elite medieval. O termo feudo
originariamente significava “benefício”, algo concedido a outro, e que normalmente era terra, daí sua utilização como sinônimo da
“propriedade senhorial”. Suserano é o senhor que concede o benefício, enquanto que vassalo é o senhor que recebe o benefício. Esta
relação, na verdade bastante complexa, tornou-se fundamental durante a Idade Média e serviu para preservar os privilégios da elite e
materializava-se a partir de três atos: a homenagem , a investidura e o juramento de fidelidade. Normalmente o suserano era um
grande proprietário rural e que pretende aumentar seu exército e capacidade guerreira, enquanto o vassalo, é um homem que necessita
de terras e camponeses.

O poder
No mundo feudal não existiu uma estrutura de poder centralizada. Não existe a noção de Estado ou mesmo de nação.
Portanto consideramos o poder como localizado, ou seja, existente em cada feudo. Apesar da autonomia na administração da justiça
em cada feudo, existiam dois elementos limitadores do poder senhorial. O primeiro é a própria ordem vassálica, onde o vassalo deve
fidelidade a seu suserano; o segundo é a influência da Igreja Católica, única instituição centralizada, que ditava as normas de
comportamento social na época, fazendo com que as leis obedecessem aos costumes e à “ vontade de Deus”. Dessa forma a vida
quase não possuía variação de um feudo para outro.
É importante visualizar a figura do rei durante o feudalismo, como suserano-mor, no entanto sem poder efetivo devido a
própria relação de suserania e a tendência á auto-suficiência econômica.

A CRISE DO SISTEMA FEUDAL


A economia medieval, em franco desenvolvimento nos séculos XI, XII e XIII, sofreu sérios abalos no decorrer do século
XIV, mostrando que o sistema feudal encontrara os limites máximos de sua expansão. A crise que então se abateu sobre a Europa
pode ser explicada a partir de um conjunto de fatores cujo resultado, em longo prazo, foi a superação do feudalismo.
Por volta de fins do século XIII a produtividade agrícola já dava claros sinais de declínio, prenunciando uma possível falta de
alimentos, devido ao esgotamento dos solos, enquanto a população continuava apresentando tendências de crescimento. A exploração
predatória e extensiva dos domínios, que caracterizara a agricultura feudal, fazia com que o aumento da produção se desse, em sua
maior parte, com a anexação de novas áreas (que não estava mais ocorrendo) e não com a melhoria das técnicas de cultivo.
No inicio do século XIV, a Europa foi assolada por intensas chuvas (1315 a 1317) que arrasaram os campos e as colheitas.
Como conseqüência, a fome voltou a perturbar os camponeses, favorecendo o alastramento de epidemias e trazendo a mortalidade da
população. "Nos campos ingleses, ele passou de 40 mortos por cada mil habitantes, para 100 por mil. Na cidade belga de Ypres, uma
das mais importantes da Europa, pelo menos 10% da população morreu no curto espaço de seis meses em 1316". (Franco JR. Hilário.
0 Feudalismo, São Paulo, Brasiliense, 1984, p. 80).
De 1348 a 1350, a peste negra desceu sobre a Europa, trazida da região do Mar Negro por comerciantes genoveses,
eliminando de 25 a 35%' da população. Muitas aldeias desapareceram provisória ou definitivamente. Cidades tiveram sua população
dizimada, como Toulouse na França, que de 30000 habitantes em 1348, contava com apenas 24000 em 1385; Florença, de 110 000
antes da peste, ficou reduzida a 50000.
A peste atingiu indiscriminadamente campo e cidade, pobres e ricos homens e mulheres adultos e crianças, sendo explicada,
pelos cronistas medievais, como sendo castigo de Deus.

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"Chegara-se ao ano de 1348 da fecunda Encarnação do filho de Deus, quando a cidade de Florença, nobre entre as mais famosas da
Itália, foi presa de mortal epidemia. Que a peste fosse obra das influências austrais ou resultado das nossas iniqüidades, e que Deus,
na sua justa cólera, a tivesse precipitado sobre os homens como punição dos nossos crimes o certo éque ela se declarara alguns anos
antes em terras do Oriente, onde provocara a perda de enorme quantidade de vidas humanas. Depois, sem parar, avançando cada vez
mais, propagara-se, para nossa desgraça, para Ocidente. ( ...) Proibiu-se a entrada na cidade a todos os doentes e multiplicaram-se as
prescrições de higiene. Recorreu-se, mil vezes e não apenas uma, às suplicas e orações que são de uso nas procissões e as de outro
gênero, com que os devotos se desobrigam perante Deus. Nada pode nada. Desde os dias primaveris do ano que referi, o horrível
flagelo começou, de maneira surpreendente, a manifestar sua dolorosa devastação." (BOCCACIO,Citado por WOLFF, Philippe.
Outono da Idade Media ou Primavera dos Novos Tempos? Lisboa, Edições 70, 1988 p.25/26
Os senhores feudais viram seus rendimentos declinarem devido à falta de trabalhadores e ao despovoamento dos campos.
Procuraram então, de todas as maneiras, superar as dificuldades. Por um lado, reforçaram a exploração sobre os camponeses,
aumentando as corvéias e demais impostos, para suprir as necessidades de ostentação e consumo, dando origem à "segunda servidão".
Por outro, principalmente nas regiões mais urbanizadas, os nobres passaram a arrendar suas terras, substituindo a corvéia por
Pagamento em dinheiro e dando maior autonomia aos camponeses, alterando bastante as relações de produção.
"Depois da acima dita pestilência, muitos edifícios, grandes e pequenos, caíram em ruínas nas cidades, vilas e aldeias, por falta de
habitantes, de maneira que muitas aldeias e lugarejos se tornaram desertos, sem uma casa ter sido abandonada neles, mas tendo
morrido todos os que ai viviam; e i provável que muitas dessas aldeias nunca mais fossem habitadas”. Nobres e senhores do reino
que tinham foreiros faziam abati mentes da renda, a fim de que os foreiros se não fossem embora, devido à falta de servidores e geral
carestia, uns de metade da renda outros mais, outros menos, alguns por dois anos, alguns por três, 1 alguns por um ano, segundo o que
combinassem com eles. Desta maneira aqueles que recebiam dos seus foreiros um dia de trabalho ao longo do ano, como é de
costume com os vilãos, tinham de lhes dar mais lazeres e perdoar tais trabalhos, e outros libertá-los por completo ou dar-lhes um foro
mais fácil por uma renda menor, para que as casas se não arruinassem por completo e a terra não permanecesse inteiramente por
cultivar em toda parte.”“. (KENDALL, E. K. Source-Book of English History, New York, 1908, 49 Ed. p. 102/106. Citado por
MONTEIRO, Hamilton M. 0 Feudalismo: economia e sociedade, São Paulo, Ática 1986, p. 77/78.)
Outros proprietários de terra buscaram uma saída através da especialização da agricultura (vinhas, plantas tintoriais) Na
Inglaterra, adotou-se a prática de cercamento dos campos e transformação dos mansos em pastagens, com expulsão dos camponeses,
que reagiam derrubando as cercas, recuperando a terra para o cultivo. "Não deixam terreno para amanho; cercam-nos todos de
valados para os converter em pastagens; deitam as casas abaixo; arrasam as cidades, não deixando nada de pé, a não ser a Igreja, para
ser transformada em curral de ovelhas". (SLICHER VAN BATH, B. H. História Agrária da Europa Ocidental. Lisboa, Editorial
Presença, 1984, p. 168.)
A mortalidade trazida pelas chuvas, fome e peste negra foi ainda ampliada pela longa guerra entre os reis de Inglaterra e
França, que entre combates e tréguas, durou mais de um século (1337/1453): a Guerra dos Cem Anos.
A Guerra dos Cem Anos surgiu porque o rei de França, Felipe IV, anexou a região de Bordéus domínio feudal do rei da
Inglaterra, de onde provinha grande parte dos vinhos que os ingleses bebiam. Deveu-se também às ambições da França e da Inglaterra
em dominarem a região de Flandres, rica por seu comércio e produção de tecidos. Entre batalhas vendidas ora por ingleses ora por
franceses e períodos de trégua, a guerra aumentou as dificuldades da nobreza e agravou a situação de miséria dos servos.
O recrudescimento da exploração feudal sobre os servos contribuiu para as revoltas camponesas que grassaram na Europa do
século XIV, nas quais milhares deles foram mortos. Elas consistiam em súbitas explosões de resistência feroz; duravam pouco e, em
regra, estavam mal organizadas. Logo que os lideres morriam ou eram feitos prisioneiros, a resistência apagava-se novamente com a
mesma rapidez com que tinha começado a arder." (SLICHER VAN BATH, B. H., op. cit. p. 192.)
As revoltas mais conhecidas foram a "jaquerie" ocorrida em 1358, ao norte de Paris e a liderada por Wat Tyler, nos arredores
de Londres. Os camponeses reclamavam da vida dura no campo, dizendo que "a condição de bestas era mais feliz que a nossa, pois
não são obrigadas a trabalhar mais do que sua força lhes permite" (Guillaume Carle) ou ainda: "Por que razões são mais poderosos
aqueles a quem chamamos senhores? Por que nos mantêm na servidão? E se viemos todos nós de um pai e de uma mãe, Adão e Eva,
como podem eles dizer ou mostrar que são melhores?" (John Ball, 1381). Manifestavam também sua insatisfação através da
sabotagem da produção, do pagamento de taxas em atraso ou de fugas para as cidades, onde se empregavam nas manufaturas.
A crise geral do sistema feudal provocou também revolta urbana: "Em 1381 o povo de Gand revoltou-se contra o seu
senhor, o conde de Flandres. Marcharam em grande número para Bruges, tomaram a cidade, depuseram o conde, roubaram e mataram
todos os seus oficiais e procederam da mesma maneira em relação a todas as outras cidades flamengas." (The Diary of Buonaccorso
Pitti. Citado por MONTEIRO, H. M., op. cit. p. 81.)
A conjuntura de epidemias, de aumento brutal da mortalidade e de superexploração camponesa que caracterizou a Europa do
século XIV trazendo crise, foi sendo superada no decorrer do século XV, que viu a retomada do crescimento populacional, agrícola e
comercial. No campo, os senhores feudais, substituindo as corvéias por salários, rompiam com o sistema senhorial de produção. Nas
cidades, o revigoramento do mercado era favorecido pela ascensão dos preços das manufaturas. Finalmente vencida pelos franceses,
a Guerra dos Cem Anos fez emergir o sentimento nacional na França e na Inglaterra, favorecendo, 1 nos dois países, a consolidação
territorial e a retomada do poder político pelos reis. Os monarcas contaram com as dificuldades da nobreza e com o apoio econômico
da burguesia para recuperar e fortalecer sua autoridade.
A recuperação demográfica, o progresso técnico a expansão marítima pelo Oceano Atlântico, o Renascimento cultural e artístico um
cristianismo reelaborado proposto por Lutero e Calvino através da Reforma Protestante, eis como a civilização européia reagiu às
dificuldades e avançou nos séculos XV e XVI no caminho do progresso que a levaria a se impor ao mundo.

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