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VALORES NA EDUCAÇÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA

Maria Elisa França Vizentin


mefranca@bol.com.br
Orientadora: Tânia Stoltz
Universidade Federal do Paraná
Secretaria de Estado da Educação
Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE

RESUMO
Este texto diz respeito a um estudo reflexivo sobre o papel da educação escolar no tocante ao
desenvolvimento de valores necessários à formação de um cidadão consciente de seus direitos e
deveres numa sociedade democrática. Tem como idéia a defesa de uma escola que priorize o
conhecimento científico, porém interligando esse conhecimento a educação em valores
democráticos, desenvolvendo assim, mentalidades e visões de mundo em consonância com os ideais
e princípios da democracia. Pretende-se com este estudo, analisar algumas idéias de autores
brasileiros consagrados na área da educação no Brasil, como José Carlos Libâneo, Dermeval
Saviani, Paulo Freire, entre outros, bem como refletir sobre os dados de uma pesquisa realizada com
vinte professores de diversas disciplinas e sessenta alunos, distribuídos entre 1ª, 2ª e 3ª séries do
Ensino Médio de uma escola pública do Paraná, gerando reflexões sobre o papel da escola na
educação em valores. Esta pesquisa vem justificar a necessidade de se trabalhar valores também na
escola, destacando os valores que devem ser trabalhados na educação escolar democrática, e
mostrando como deve a escola se organizar para o trabalho com valores sem desviar-se da sua
função principal de possibilitar o acesso ao conhecimento crítico e reflexivo.

PALAVRAS-CHAVE

Democracia. Educação escolar democrática. Conhecimento científico. Valores.

ABSTRACT

This paper is about the role of school education in developing values to form citizens conscious of
their rights and duties in a democratic society. It defends the idea of a school that prioritizes the
scientific knowledge connecting this knowledge to a democratic education and developing cognition
and visions of world in accordance with the ideals and principles of the democracy. This work intends
to analyze some ideas of consecrated Brazilian authors in the educational area, as José Carlos
Libâneo, Dermeval Saviani, Paulo Freire, between others, as well as reflects about the results of a
research carried out with twenty teachers of different disciplines and sixty students, distributed among
1ª, 2ª and 3ª grades of the secondary education of a public school in Paraná, reflecting about the role
of the school in the education. This research explains the necessity of working on the values, also in
the school, emphasizing the values that should be worked in a democratic school education, and
showing how the school has to organize itself to work with values without deviate of his main function
that is to make possible the access to the critical and reflective knowledge.

KEYWORDS

Democracy. Democratic education. Scientific knowledge. Values.


2

1 INTRODUÇÃO

O objetivo deste artigo é subsidiar e fundamentar cientificamente uma


reflexão sobre o compromisso da escola com a educação em valores democráticos
como Respeito, Responsabilidade, Honestidade, Justiça e solidariedade.
Entendendo que, o trabalho com valores na educação escolar não deve ocorrer
dissociado dos conteúdos próprios da escola que estão definidos na sua proposta
pedagógica, ou seja, não se deve perder de vista, deixando em “segundo plano”, a
transmissão- assimilação do conhecimento científico, que deve ser a preocupação e
tarefa central do trabalho escolar.
Serão apresentadas no decorrer deste estudo, argumentações em favor da
importância e da necessidade de se trabalhar valores “também” na escola para
auxiliar na busca do ideal da educação democrática, que é a formação do indivíduo
com uma visão mais crítico-reflexiva do mundo em que vive e com uma melhor
capacidade para decidir e atuar no enfrentamento e busca de soluções para os
problemas que poderão surgir na sociedade em que está inserido. Também serão
analisados os resultados de uma pesquisa realizada com vinte professores de
diversas disciplinas e sessenta alunos, distribuídos entre 1ª, 2ª e 3ª séries do Ensino
Médio de uma escola pública central do município de Balsa Nova, Estado do
Paraná, onde, através de um questionário foram coletadas respostas a duas
questões: “Você acha que a educação em valores morais e éticos deve ser realizada
também pela escola? Justifique” e “Se a sua resposta à questão anterior foi sim,
quais são os principais valores que devem ser trabalhados na escola de hoje?”
O que se espera de uma escola democrática é que esta eduque para
democracia, para a vida coletiva, ou seja, que forme cidadãos democráticos, de
consciência e atitudes voltadas para o bem da coletividade, pois enquanto estiver
predominando o individualismo e a competição, na escola e na sociedade, não
haverá espaço para a concretização da democracia.
Nos dias de hoje, apresentar uma defesa em prol de uma prática democrática,
ainda parece ser um discurso utópico, pois ainda se percebe em nossa sociedade
uma distância grande entre o que se “prega” e o que realmente se pratica. Torna-se
necessário um maior comprometimento de todas as instâncias da sociedade em
favor de uma educação em valores democráticos, principalmente da família, da
escola e da mídia, que são os que têm maior influência na formação de
3

mentalidades e atitudes dos indivíduos em todas as faixas etárias, pois não são
somente os educandos, como a criança ou o adolescente que recebem influências
destas instâncias, mas também os educadores, como pais, professores e adultos
em geral.

2 REFLETINDO O COMPROMISSO DA EDUCAÇÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA

Uma escola democrática e que eduque para a cidadania, deve oportunizar o


acesso ao conhecimento científico vinculado ao desenvolvimento de valores que
orientem e contribuam para a construção da real democracia.

Num mundo globalizado, transnacional, nossos alunos precisam estar


preparados para uma leitura crítica das transformações que ocorrem em
escala mundial. Num mundo de intensas transformações científicas e
tecnológicas, precisam de uma formação geral sólida, capaz de ajudá-los
na sua capacidade de pensar cientificamente, de colocar cientificamente os
problemas humanos. Por outro lado, diante da crise de princípios e valores,
resultantes da deificação do mercado e da tecnologia, do pragmatismo
moral ou relativismo ético, é preciso que a escola contribua para uma nova
postura ético-valorativa de recolocar valores humanos fundamentais como a
justiça, a solidariedade, o reconhecimento da diversidade e da diferença, o
respeito à vida e aos direitos humanos básicos, como suportes de
convicções democráticas. (LIBÃNEO, 2003, p. 8)

Educar para a democracia significa fazer valer princípios, valores e atitudes


voltados para a vida coletiva. Dentre estes valores podem ser destacados: o
Respeito à vida, ao ser humano e suas diferenças, a Responsabilidade, a
Honestidade, a solidariedade e a justiça. É preciso romper com os valores até então
repassados através de uma cultura desumanizadora, tais como: a competitividade, o
individualismo, o materialismo e consumismo, o desrespeito à vida e às
diversidades, a desonestidade através da mentalidade de que é correto “ser esperto”
e “levar vantagem”, entre outros.
O papel da educação no atual contexto mostra-se de transformação:
desencadeando processos de humanização, mudando mentalidades, valores,
práticas sociais e políticas e democratizando o conhecimento sistematizado. O
professor seria o mediador entre o aluno e o conhecimento, ajudando a transformar
o aluno num sujeito pensante, capaz de construir e reconstruir conceitos,
habilidades, atitudes e valores. A educação escolar precisa ter o cuidado para não
4

“pregar” valores de doutrinação política ou religiosa, mas sim, levar o aluno a pensar
criticamente sobre valores e a estabelecer critérios de modos de decisão e ação.
Para a realização de uma educação em valores para a democracia, é
fundamental o envolvimento de todos os profissionais da escola, bem como, da
família e de outras instâncias da sociedade. Através de um trabalho interdisciplinar
na escola, defendendo os valores que devem ser considerados necessários à vida
em sociedade e articulando estes valores com o conhecimento acumulado
historicamente e culturalmente pelos homens é que deverão ser traçadas as
estratégias de ação pedagógica na instituição escolar.
É importante que se torne clara a idéia de que para viver numa democracia,
além de usufruir certos princípios, como por exemplo, a liberdade de escolha, se faz
necessário assumir compromissos, ou melhor, requer também responsabilidade.
Uma consciência de responsabilidade requer o desenvolvimento de mentalidades e
atitudes que levem em consideração que o homem é um ser coletivo e sendo assim,
só transforma-se e evolui no seio das relações sociais, no compromisso com a
coletividade. Estas relações sociais devem estar fundamentadas em valores em
comum, sem os quais conhecer não teria sentido. O conhecimento científico,
produzido historicamente deve ser a principal preocupação da escola, porém um
conhecimento só trará benefícios à sociedade se usado para o bem da humanidade.
Por exemplo, de nada adiantaria um conhecimento que levasse o homem à
destruição, como no caso da criação da bomba nuclear.
A partir daí, podemos claramente perceber que a educação escolar deve
propiciar o acesso ao conhecimento, acompanhado de uma conscientização para o
bem comum, ou seja, para a democracia. O desenvolvimento da consciência
democrática deve ser considerado como uma tarefa fundamental da escola. O
profissional da educação deve estar comprometido com o mundo em que vive e
esse compromisso requer responsabilidade com o homem como um ser histórico,
político, social, cultural, científico e humano.
O compromisso com o humano, ou seja, com a humanização do homem só
pode realizar-se no engajamento da educação com a realidade concreta, de homens
concretos, que não se coloquem como neutros frente a esta realidade à qual
pertencem. “A neutralidade frente ao mundo, frente ao histórico, frente aos valores,
reflete apenas o medo que se tem de revelar o compromisso. Este medo quase
sempre resulta de” um compromisso “contra os homens, contra sua humanização,
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por parte dos que se dizem neutros.” (FREIRE, 1979, p. 19). Uma educação
comprometida com as necessidades de uma sociedade concreta, não deve se
apresentar como neutra, deve sim, ter clareza dos seus objetivos, seus propósitos e
valores.
Considerar como principal função da educação escolar, a democratização do
conhecimento elaborado (ciência), não significa desconsiderar como função da
escola, também, o desenvolvimento de uma conscientização em valores. Sobre a
natureza e especificidade da educação, é interessante acrescentar a seguinte idéia
de Dermeval Saviani: “a compreensão da natureza da educação enquanto um
trabalho não-material cujo produto não se separa do ato de produção nos permite
situar a especificidade da educação como referida aos conhecimentos, idéias,
conceitos, valores, atitudes, hábitos, símbolos sob o aspecto de elementos
necessários à formação da humanidade em cada indivíduo singular...” (SAVIANI,
1984, p. 14)
É de suma importância que a escola favoreça a transformação das
consciências e das atitudes dos indivíduos, formando-os para serem cidadãos de
visão ampla e crítica da prática cotidiana e com maior preparo para atuar no
aperfeiçoamento e ou modificação desta prática. A escola não servindo à mudança e
à melhoria dos modos do homem pensar, agir e comunicar-se no mundo, não estará
cumprindo sua função de educadora. Portanto, a educação na escola deve
transformar o modo de cada indivíduo conceber e perceber a vida e as situações
históricas, sociais, políticas, religiosas e culturais presentes na sociedade.
Parece difícil pensar em educação para valores numa escola inserida numa
realidade tão contraditória, onde interesses econômicos e políticos condenam
sistematicamente, grande parte de seus cidadãos ao desemprego, à miséria, à
violência e à injustiça, facilitando a muitos o ingresso, na maioria das vezes sem
retorno, ao caminho da marginalização. É certo, que a escola sozinha não é capaz
de transformar esta realidade, porém a sua contribuição é fundamental, pois sem
ela, preparando e formando cidadãos democráticos em idéias e ações, o ideal de
transformação da sociedade atual em uma verdadeira democracia jamais se
concretizará realmente.
6

3 A ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA PARA O TRABALHO COM VALORES ALÉM


DA DISCIPLINARIZAÇÃO

Na escola atual deve-se concretizar uma educação em valores que ultrapasse


a mecânica disciplinarização e doutrinação dos educandos, priorizando uma
formação com base no diálogo, na discussão e no estudo crítico e reflexivo dos
valores compreendidos através da dinâmica de um contexto determinado pelas
relações políticas, econômicas e culturais.
Para uma educação em valores além da disciplinarização e doutrinação, o
educador deve ter clareza de seus objetivos, ou seja, que tipo de cidadão deve
formar e quais os valores que devem ser considerados para esta formação. Aí se
entra numa importante questão: a formação dos educadores para o trabalho com
valores, pois estes não estão livres das armadilhas de uma sociedade capitalista,
individualista, materialista, consumista e que não prioriza as questões humanas. É
preciso formar o educador com uma visão ampla e crítica do mundo que o cerca e
com uma consciência sólida de seu papel na formação científica, humana, moral e
ética de seus educandos, tendo clareza de que suas atitudes serão referências para
seus educandos. Isto significa que, uma verdadeira educação em valores se efetiva
não somente no mundo das idéias, mas também na prática do dia a dia, através de
bons exemplos.

Formar sujeitos morais não significa, pelo menos não significa apenas,
transmitir esse ou aquele valor, exigir esse ou aquele comportamento, mas
contribuir para tornar o indivíduo um sujeito crítico, político, reflexivo.
Compete ao professor despertar nos seus alunos o desejo de ser um sujeito
moral. Esse é fundamentalmente um processo dialógico, argumentativo, de
convencimento. (GOERGEN, 2007, P. 8).

O papel de educador na educação escolar não está restrito somente ao


professor e aos pais, mas também aos demais funcionários da escola, que devem
ser preparados com a consciência de que através de seus exemplos também estão
educando ou deseducando. Esta preparação pode ser realizada pela própria escola
ou através de cursos ofertados pela mantenedora.
Todo educador, apesar de ser humano e estar sujeito a imperfeições, deve
empenhar-se para uma atitude ética em suas práticas, seja na instituição escolar ou
fora dela. Não se pode mais tolerar que pessoas que trabalham com a educação se
7

prestem a comportamentos e vocabulários que deseduquem ou banalizem os


valores e princípios éticos e morais, necessários à formação de um cidadão crítico e
responsável que atue para melhoria da sociedade em que vive.
A crise dos valores humanos, éticos e morais na sociedade contemporânea é
antes de tudo uma questão estrutural que deve ser analisada e compreendida
através das relações com o contexto econômico, político e cultural. Sendo assim,
pode-se dizer que a responsabilidade para com a educação em valores não cabe
somente à família e à escola, mas sim à sociedade como um todo.
Destaca-se aqui, a grande influência dos meios de comunicação de massa,
pois estes estão presentes em todos os lares e passam ideologias, influenciando
modos de pensar e agir, não somente de crianças e adolescentes, mas também dos
adultos, entre eles, os pais e os professores. É inegável a necessidade de um
repensar mais consciente e responsável dos envolvidos nos setores das tecnologias
em comunicação (TV, rádio, Jornais escritos, revistas e Internet) para uma
reformulação ampla e profunda dos conteúdos ideológicos que vêm sendo
repassados nos últimos tempos.
A realização de uma eficiente educação em valores depende de um
comprometimento responsável de todas as instâncias ligadas à formação dos
cidadãos de uma sociedade, mas cabe à escola um trabalho “de formiguinha”, pois
não pode negar sua responsabilidade com a formação ideológica de seus alunos.
Lembrando novamente que, a função da escola, defendida neste presente estudo, é
a de possibilitar o acesso ao conhecimento crítico-reflexivo, direcionando seu
trabalho priorizando o conhecimento científico e interligando a este a reflexão crítica
em valores democráticos.
Desconsiderar na escola a educação em valores é praticamente impossível,
pois os conteúdos escolares já estão repletos de ideologias e valores, o que se faz
necessário é um trabalho mais intencional e organizado, no sentido de desvendar
estas ideologias e valores presentes nestes conteúdos próprios de cada disciplina
escolar. Ao professor caberá, no momento de elaborar seu plano de aula, fazer a
interligação entre o conteúdo científico e a educação em valores. Para melhor
argumentar e defender a impossibilidade da escola em negar seu papel com o
trabalho em valores, cita-se o seguinte comentário:
8

... seria impossível negar que, de uma forma ou de outra, no contexto escolar
das relações professor-aluno, dos livros didáticos, das avaliações, estariam
sendo transmitidos idéias e imagens de homem, de mundo, de
relacionamento, de normas e valores. A influência moral é impossível de ser
evitada no ambiente escolar. Assim sendo, parece razoável que isso não
aconteça de forma inconsciente e difusa pelo chamado currículo oculto, mas
que seja explicitada, discutida e orientada para formação de um sujeito
autônomo, crítico e responsável. (GOERGEN, 2007, p. 5)

A escola precisa se organizar de forma mais planejada e elaborada para a


educação em valores, porém precisa do auxílio da sociedade como um todo, em
todas as suas instâncias: da família, da mídia, da política, da religião, da economia...
enfim é preciso, por parte de todos os envolvidos direta ou indiretamente com a
educação se pensar mais seriamente sobre a educação moral dos cidadãos para
então, poder esperar que, de mentes conscientes e democráticas possam surgir
escolhas e soluções mais coerentes para os problemas que afligem a realidade
estrutural política, econômica e social da sociedade contemporânea. Vale reafirmar
que a educação em valores, dentro e fora da escola, deve servir para o repensar
crítico e reflexivo das estruturas profundas de nossa sociedade, levando-se em
consideração os princípios da democracia.

4 METODOLOGIA

A pesquisa ocorreu em uma escola central do município de Balsa Nova,


Estado do Paraná e foi desenvolvida sob a forma de questionário, com a
participação de vinte professores de diversas disciplinas do Ensino Fundamental (5ª
a 8ª séries) e Ensino Médio (1ª a 3ª séries) e também sessenta alunos, distribuídos
entre 1ª à 3ª séries do Ensino Médio, com idade entre quatorze e vinte e três anos.
Dos professores pesquisados, 70% são efetivos selecionados através de concurso
público realizado pela Secretaria Estadual de Educação (SEED), com idade entre
trinta e quatro a sessenta anos, e 30% são professores contratados por tempo
determinado pelo Estado do Paraná, através do Processo Seletivo Simplificado
(PSS) e com idade entre vinte e três a vinte e oito anos. Destes professores que
participaram da pesquisa, 80% são pós-graduados na área de educação, 10% estão
cursando especialização e outros 10% ainda não iniciaram pós-graduação.
O resultado da pesquisa realizada com os vinte professores demonstrou que
98% destes defendem a necessidade da escola realizar, também, a educação em
9

valores morais e éticos. As justificativas das opiniões dos professores sobre a


educação em valores na escola foram distribuídas em algumas categorias de
respostas, sendo citada uma fala destes para exemplificar cada uma destas
categorias:
- Categoria: Complementação da família: “Sabemos que a família passa os primeiros
valores que nossos alunos recebem, porém, sabemos que nem todas as famílias
dão o suporte moral necessário e que, mesmo a família, tem apresentado uma
desestruturação, deixando de educar”;
- Categoria: Formação de consciência: “Nossa sociedade está em constantes
mudanças nas questões de valores éticos e morais, é imprescindível que se
conscientizem professores e alunos sobre estas questões hoje, para que se possa
ter cidadãos justos, autodeterminados, capazes de superar situações”;
- Categoria: Professores ajudam a formar opinião: “Nós professores ajudamos a
formar a opinião de muitos jovens, então devemos mostrar o que é certo, aconselhar
e de alguma maneira trabalhar esses valores morais e éticos”;
- Categoria: A escola é um espaço de contato com as diferenças: “É na escola que o
indivíduo vai se deparar com as diferenças e é, principalmente nela, que aprende a
conviver com estas diferenças”;
- Categoria: É função da família e não da escola: “A educação em valores morais e
éticos é obrigação da família”.

TABELA 1 – Justificativas das opiniões dos professores sobre a educação em


valores na escola

JUSTIFICATIVAS POR CATEGORIAS FREQÜÊNCIA


Complementação da família 9
Formação de consciência 6
Professores ajudam a formar opinião 2
A escola é um espaço de contato com as diferenças 2
É função da família e não da escola 1
TOTAL DE CITAÇÕES 20
TOTAL DE PROFESSORES PESQUISADOS 20
Fonte: Pesquisa do autor
10

A partir do gráfico pode-se visualizar melhor as justificativas dos professores:

GRÁFICO TABELA 1

5,00%

10,00%
Complementação da família

Formação de consciência

Professores ajudam a
formar opinião
10,00% A escola é um espaço de
contato com as diferenças
45,00% É função da família

30,00%

Percebe-se, através da opinião dos professores pesquisados, que a escola


não deve “fugir” da sua função humanizadora e educadora, permanecendo apenas
na transmissão de conhecimentos desvinculados da educação em valores e do
desenvolvimento do pensar crítico que auxilie na busca de ações para lidar com os
problemas da sociedade.
A partir das respostas do questionário realizado com os sessenta alunos,
distribuídos entre 1ª a 3ª séries do Ensino Médio, verificou-se a grande expectativa
destes com relação ao compromisso e a participação da escola na formação em
valores dos alunos, pois 100% dos alunos acreditam que cabe também à escola a
educação em valores. As justificativas apresentadas pelo grupo de alunos sobre a
educação em valores na escola foram distribuídas em categorias de respostas,
sendo citadas algumas falas destes alunos para exemplificar cada uma das
categorias:
Categoria: Complementação da família: “Muitos alunos não têm diálogo com seus
pais em casa, deixando de aprender e entender sobre valores morais e éticos”; “Têm
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alunos que os pais trabalham o dia todo, não têm muito tempo ou quase não vêem
os filhos”;
Categoria: Preparar o aluno para o futuro e cidadania: “Valores morais e éticos são
importantes para ser um bom cidadão”;
Categoria: Influência da escola e professores na formação dos alunos: “Os
professores, mesmo não querendo, influenciam bastante os alunos”; “O que a escola
passa é o que os alunos levam para toda a vida”.
Categoria: É na escola que os alunos passam maior parte do tempo: “É na escola
que passamos a maior parte do tempo do dia, então é necessário que se dê
educação em todos os sentidos”;
Categoria: Melhorar a educação e comportamento dos alunos: “Há alunos que não
sabem respeitar os outros”, “Falta de educação dos alunos, alguns são vândalos e
irresponsáveis”;
Categoria: Respostas tautológicas (repetindo a pergunta): “É importante a educação
em valores morais e éticos na escola”.

TABELA 2 – Justificativas das opiniões dos alunos sobre a educação em


valores na escola

JUSTIFICATIVAS POR CATEGORIAS FREQÜÊNCIA


Complementação da família 19
Preparar o aluno para o futuro e cidadania 12
Influência da escola e professores na formação dos alunos 8
É na escola que os alunos passam maior parte do tempo 7
Melhorar a educação e comportamento dos alunos 6
Respostas tautológicas (repetindo a pergunta) 5
Sem justificativa 3
TOTAL DE CITAÇÕES 60
TOTAL DE ALUNOS PESQUISADOS 60
Fonte: Pesquisa do autor

Para melhor visualização das justificativas dos alunos vide gráfico da tabela 2.
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GRÁFICO TABELA 2

5,00%
Complementação da família
8,33%
Preparar o aluno para o futuro e
cidadania
31,67% Influência da escola e professores
10,00% na formação dos alunos
É na escola que os alunos passam
maior parte do tempo
Melhorar a educação e
comportamento dos alunos
Respostas tautológicas (repetindo
a pergunta)
Sem justificativa
11,67%

13,33% 20,00%

Refletindo sobre as opiniões dos alunos pesquisados, verifica-se que os


mesmos esperam da escola uma educação em valores e vêem a escola como um
local onde devem aprender mais que conteúdos científicos, devem também aprender
valores que levam consigo para toda vida e os fazem mais capazes de tornar a
sociedade melhor para todos.
Os valores que devem ser trabalhados na escola segundo uma hierarquia das
respostas dos professores pesquisados são:
1º - Respeito;
2º - Honestidade;
3º - Solidariedade;
4º - Responsabilidade;
5º - Amizade;
6º - Justiça;
7º - Dignidade, Humildade, Profissionalismo, Paz e Higiene.
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TABELA 3 – Professores: valores que devem ser trabalhados na escola

VALORES CITADOS FREQÜÊNCIA


Respeito 21
Honestidade 9
Solidariedade 7
Responsabilidade 4
Amizade 3
Justiça 2
Dignidade 1
Humildade 1
Profissionalismo 1
Paz 1
Higiene 1
TOTAL DE CITAÇÕES 51
TOTAL DE PROFESSORES PESQUISADOS 20
Fonte: Pesquisa do autor

A partir do gráfico pode-se visualizar melhor os valores que devem ser


trabalhados na escola segundo os professores pesquisados.

GRÁFICO TABELA 3

1,96%
1,96% 1,96%
1,96%
Respeito
1,96% Honestidade
3,92% Solidariedade
Responsabilidade
5,88% Amizade
Justiça
41,18% Dignidade
Humildade
7,84% Profissionalismo
Paz
Higiene

13,73%

17,65%
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Obedecendo também a uma ordem hierárquica, os valores que devem ser


trabalhados pela escola na opinião dos alunos pesquisados são:
1º - Respeito;
2º - Honestidade;
3º - Responsabilidade;
4º - Justiça;
5º - Igualdade;
6º - Amor;
7º - Amizade e Profissionalismo;
8º - Compreensão;
9º - Dignidade e Paz;
10º - Sensibilidade e Solidariedade.

Tabela 4 – Alunos: valores que devem ser trabalhados pela escola

VALORES CITADOS FREQÜÊNCIA


Respeito 83
Honestidade 32
Responsabilidade 17
Justiça 15
Igualdade 8
Amor 5
Amizade 4
Profissionalismo 4
Compreensão 3
Dignidade 2
Paz 2
Sensibilidade 1
Solidariedade 1
TOTAL DE CITAÇÕES 177
TOTAL DE ALUNOS PESQUISADOS 60
Fonte: Pesquisa do autor

A partir do gráfico seguinte pode-se visualizar melhor os valores que devem


ser trabalhados na escola segundo os alunos pesquisados.
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GRÁFICO TABELA 4

1,13%
1,13%
1,69% 0,56%
2,26% 0,56%
2,26%
Respeito
2,82% Honestidade
4,52% Responsabilidade
Justiça
Igualdade
Amor
8,47% Amizade
46,89% Profissionalismo
Compreensão
Dignidade
Paz
9,60% Sensibilidade
Solidariedade

18,08%

Percebe-se, através das respostas tanto dos professores, como dos alunos,
que o valor do Respeito ocupa a primeira colocação na hierarquia dos valores que
devem ser trabalhados na escola. A questão do Respeito, segundo a pesquisa,
abrange vários aspectos: vida humana, diferenças, saúde e meio ambiente. Os
valores Honestidade, Responsabilidade, Solidariedade e Justiça também foram
bastante citados.
Os resultados desta pesquisa mostram o quanto se espera da escola com
relação à formação moral e ética dos alunos. Parece que na nossa sociedade atual,
pais, educadores e alunos estão carentes de parâmetros de comportamento. As
mudanças são tantas, em tão pouco tempo, que os indivíduos se encontram
perdidos e sem saber muitas vezes decidir e agir de forma correta. É preciso que os
verdadeiros educadores comprometidos com a educação em valores democráticos
assumam as “rédeas” na formação dos seus educandos, não se mantendo neutros
diante da manobra ideológica controlada pela sociedade capitalista, onde os valores
pregados contradizem os princípios da democracia, tão sonhada e buscada há tanto
tempo.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Talvez se espera muito da escola, mas com certeza tudo o que diz respeito à
formação e à educação dos alunos, diz respeito também à escola. Educar em
valores, visando à formação de cidadãos com consciência democrática é função da
escola, não só da escola, mas de todas as instâncias da sociedade. A escola deve
desenvolver um trabalho com valores tais como: Respeito, Responsabilidade,
Honestidade, Solidariedade, Justiça, enfim, todos aqueles valores que auxiliem para
a formação de uma mentalidade e atitude democrática. No entanto, os valores na
escola devem ser trabalhados associados aos conteúdos próprios desta, que estão
definidos na sua Proposta Pedagógica, não se perdendo, assim, a função principal
da escola que é a de desenvolvimento do conhecimento científico, crítico e reflexivo.
Cabe, então, ao professor, em seu Plano de Trabalho Docente vincular o conteúdo
de sua disciplina à educação em valores e, para tanto, o professor deve estar bem
preparado, através dos cursos de formação superior, como também dos cursos de
formação continuada.

6 REFERÊNCIAS

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