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RESUMO
Este texto diz respeito a um estudo reflexivo sobre o papel da educação escolar no tocante ao
desenvolvimento de valores necessários à formação de um cidadão consciente de seus direitos e
deveres numa sociedade democrática. Tem como idéia a defesa de uma escola que priorize o
conhecimento científico, porém interligando esse conhecimento a educação em valores
democráticos, desenvolvendo assim, mentalidades e visões de mundo em consonância com os ideais
e princípios da democracia. Pretende-se com este estudo, analisar algumas idéias de autores
brasileiros consagrados na área da educação no Brasil, como José Carlos Libâneo, Dermeval
Saviani, Paulo Freire, entre outros, bem como refletir sobre os dados de uma pesquisa realizada com
vinte professores de diversas disciplinas e sessenta alunos, distribuídos entre 1ª, 2ª e 3ª séries do
Ensino Médio de uma escola pública do Paraná, gerando reflexões sobre o papel da escola na
educação em valores. Esta pesquisa vem justificar a necessidade de se trabalhar valores também na
escola, destacando os valores que devem ser trabalhados na educação escolar democrática, e
mostrando como deve a escola se organizar para o trabalho com valores sem desviar-se da sua
função principal de possibilitar o acesso ao conhecimento crítico e reflexivo.
PALAVRAS-CHAVE
ABSTRACT
This paper is about the role of school education in developing values to form citizens conscious of
their rights and duties in a democratic society. It defends the idea of a school that prioritizes the
scientific knowledge connecting this knowledge to a democratic education and developing cognition
and visions of world in accordance with the ideals and principles of the democracy. This work intends
to analyze some ideas of consecrated Brazilian authors in the educational area, as José Carlos
Libâneo, Dermeval Saviani, Paulo Freire, between others, as well as reflects about the results of a
research carried out with twenty teachers of different disciplines and sixty students, distributed among
1ª, 2ª and 3ª grades of the secondary education of a public school in Paraná, reflecting about the role
of the school in the education. This research explains the necessity of working on the values, also in
the school, emphasizing the values that should be worked in a democratic school education, and
showing how the school has to organize itself to work with values without deviate of his main function
that is to make possible the access to the critical and reflective knowledge.
KEYWORDS
1 INTRODUÇÃO
mentalidades e atitudes dos indivíduos em todas as faixas etárias, pois não são
somente os educandos, como a criança ou o adolescente que recebem influências
destas instâncias, mas também os educadores, como pais, professores e adultos
em geral.
“pregar” valores de doutrinação política ou religiosa, mas sim, levar o aluno a pensar
criticamente sobre valores e a estabelecer critérios de modos de decisão e ação.
Para a realização de uma educação em valores para a democracia, é
fundamental o envolvimento de todos os profissionais da escola, bem como, da
família e de outras instâncias da sociedade. Através de um trabalho interdisciplinar
na escola, defendendo os valores que devem ser considerados necessários à vida
em sociedade e articulando estes valores com o conhecimento acumulado
historicamente e culturalmente pelos homens é que deverão ser traçadas as
estratégias de ação pedagógica na instituição escolar.
É importante que se torne clara a idéia de que para viver numa democracia,
além de usufruir certos princípios, como por exemplo, a liberdade de escolha, se faz
necessário assumir compromissos, ou melhor, requer também responsabilidade.
Uma consciência de responsabilidade requer o desenvolvimento de mentalidades e
atitudes que levem em consideração que o homem é um ser coletivo e sendo assim,
só transforma-se e evolui no seio das relações sociais, no compromisso com a
coletividade. Estas relações sociais devem estar fundamentadas em valores em
comum, sem os quais conhecer não teria sentido. O conhecimento científico,
produzido historicamente deve ser a principal preocupação da escola, porém um
conhecimento só trará benefícios à sociedade se usado para o bem da humanidade.
Por exemplo, de nada adiantaria um conhecimento que levasse o homem à
destruição, como no caso da criação da bomba nuclear.
A partir daí, podemos claramente perceber que a educação escolar deve
propiciar o acesso ao conhecimento, acompanhado de uma conscientização para o
bem comum, ou seja, para a democracia. O desenvolvimento da consciência
democrática deve ser considerado como uma tarefa fundamental da escola. O
profissional da educação deve estar comprometido com o mundo em que vive e
esse compromisso requer responsabilidade com o homem como um ser histórico,
político, social, cultural, científico e humano.
O compromisso com o humano, ou seja, com a humanização do homem só
pode realizar-se no engajamento da educação com a realidade concreta, de homens
concretos, que não se coloquem como neutros frente a esta realidade à qual
pertencem. “A neutralidade frente ao mundo, frente ao histórico, frente aos valores,
reflete apenas o medo que se tem de revelar o compromisso. Este medo quase
sempre resulta de” um compromisso “contra os homens, contra sua humanização,
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por parte dos que se dizem neutros.” (FREIRE, 1979, p. 19). Uma educação
comprometida com as necessidades de uma sociedade concreta, não deve se
apresentar como neutra, deve sim, ter clareza dos seus objetivos, seus propósitos e
valores.
Considerar como principal função da educação escolar, a democratização do
conhecimento elaborado (ciência), não significa desconsiderar como função da
escola, também, o desenvolvimento de uma conscientização em valores. Sobre a
natureza e especificidade da educação, é interessante acrescentar a seguinte idéia
de Dermeval Saviani: “a compreensão da natureza da educação enquanto um
trabalho não-material cujo produto não se separa do ato de produção nos permite
situar a especificidade da educação como referida aos conhecimentos, idéias,
conceitos, valores, atitudes, hábitos, símbolos sob o aspecto de elementos
necessários à formação da humanidade em cada indivíduo singular...” (SAVIANI,
1984, p. 14)
É de suma importância que a escola favoreça a transformação das
consciências e das atitudes dos indivíduos, formando-os para serem cidadãos de
visão ampla e crítica da prática cotidiana e com maior preparo para atuar no
aperfeiçoamento e ou modificação desta prática. A escola não servindo à mudança e
à melhoria dos modos do homem pensar, agir e comunicar-se no mundo, não estará
cumprindo sua função de educadora. Portanto, a educação na escola deve
transformar o modo de cada indivíduo conceber e perceber a vida e as situações
históricas, sociais, políticas, religiosas e culturais presentes na sociedade.
Parece difícil pensar em educação para valores numa escola inserida numa
realidade tão contraditória, onde interesses econômicos e políticos condenam
sistematicamente, grande parte de seus cidadãos ao desemprego, à miséria, à
violência e à injustiça, facilitando a muitos o ingresso, na maioria das vezes sem
retorno, ao caminho da marginalização. É certo, que a escola sozinha não é capaz
de transformar esta realidade, porém a sua contribuição é fundamental, pois sem
ela, preparando e formando cidadãos democráticos em idéias e ações, o ideal de
transformação da sociedade atual em uma verdadeira democracia jamais se
concretizará realmente.
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Formar sujeitos morais não significa, pelo menos não significa apenas,
transmitir esse ou aquele valor, exigir esse ou aquele comportamento, mas
contribuir para tornar o indivíduo um sujeito crítico, político, reflexivo.
Compete ao professor despertar nos seus alunos o desejo de ser um sujeito
moral. Esse é fundamentalmente um processo dialógico, argumentativo, de
convencimento. (GOERGEN, 2007, P. 8).
... seria impossível negar que, de uma forma ou de outra, no contexto escolar
das relações professor-aluno, dos livros didáticos, das avaliações, estariam
sendo transmitidos idéias e imagens de homem, de mundo, de
relacionamento, de normas e valores. A influência moral é impossível de ser
evitada no ambiente escolar. Assim sendo, parece razoável que isso não
aconteça de forma inconsciente e difusa pelo chamado currículo oculto, mas
que seja explicitada, discutida e orientada para formação de um sujeito
autônomo, crítico e responsável. (GOERGEN, 2007, p. 5)
4 METODOLOGIA
GRÁFICO TABELA 1
5,00%
10,00%
Complementação da família
Formação de consciência
Professores ajudam a
formar opinião
10,00% A escola é um espaço de
contato com as diferenças
45,00% É função da família
30,00%
alunos que os pais trabalham o dia todo, não têm muito tempo ou quase não vêem
os filhos”;
Categoria: Preparar o aluno para o futuro e cidadania: “Valores morais e éticos são
importantes para ser um bom cidadão”;
Categoria: Influência da escola e professores na formação dos alunos: “Os
professores, mesmo não querendo, influenciam bastante os alunos”; “O que a escola
passa é o que os alunos levam para toda a vida”.
Categoria: É na escola que os alunos passam maior parte do tempo: “É na escola
que passamos a maior parte do tempo do dia, então é necessário que se dê
educação em todos os sentidos”;
Categoria: Melhorar a educação e comportamento dos alunos: “Há alunos que não
sabem respeitar os outros”, “Falta de educação dos alunos, alguns são vândalos e
irresponsáveis”;
Categoria: Respostas tautológicas (repetindo a pergunta): “É importante a educação
em valores morais e éticos na escola”.
Para melhor visualização das justificativas dos alunos vide gráfico da tabela 2.
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GRÁFICO TABELA 2
5,00%
Complementação da família
8,33%
Preparar o aluno para o futuro e
cidadania
31,67% Influência da escola e professores
10,00% na formação dos alunos
É na escola que os alunos passam
maior parte do tempo
Melhorar a educação e
comportamento dos alunos
Respostas tautológicas (repetindo
a pergunta)
Sem justificativa
11,67%
13,33% 20,00%
GRÁFICO TABELA 3
1,96%
1,96% 1,96%
1,96%
Respeito
1,96% Honestidade
3,92% Solidariedade
Responsabilidade
5,88% Amizade
Justiça
41,18% Dignidade
Humildade
7,84% Profissionalismo
Paz
Higiene
13,73%
17,65%
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GRÁFICO TABELA 4
1,13%
1,13%
1,69% 0,56%
2,26% 0,56%
2,26%
Respeito
2,82% Honestidade
4,52% Responsabilidade
Justiça
Igualdade
Amor
8,47% Amizade
46,89% Profissionalismo
Compreensão
Dignidade
Paz
9,60% Sensibilidade
Solidariedade
18,08%
Percebe-se, através das respostas tanto dos professores, como dos alunos,
que o valor do Respeito ocupa a primeira colocação na hierarquia dos valores que
devem ser trabalhados na escola. A questão do Respeito, segundo a pesquisa,
abrange vários aspectos: vida humana, diferenças, saúde e meio ambiente. Os
valores Honestidade, Responsabilidade, Solidariedade e Justiça também foram
bastante citados.
Os resultados desta pesquisa mostram o quanto se espera da escola com
relação à formação moral e ética dos alunos. Parece que na nossa sociedade atual,
pais, educadores e alunos estão carentes de parâmetros de comportamento. As
mudanças são tantas, em tão pouco tempo, que os indivíduos se encontram
perdidos e sem saber muitas vezes decidir e agir de forma correta. É preciso que os
verdadeiros educadores comprometidos com a educação em valores democráticos
assumam as “rédeas” na formação dos seus educandos, não se mantendo neutros
diante da manobra ideológica controlada pela sociedade capitalista, onde os valores
pregados contradizem os princípios da democracia, tão sonhada e buscada há tanto
tempo.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Talvez se espera muito da escola, mas com certeza tudo o que diz respeito à
formação e à educação dos alunos, diz respeito também à escola. Educar em
valores, visando à formação de cidadãos com consciência democrática é função da
escola, não só da escola, mas de todas as instâncias da sociedade. A escola deve
desenvolver um trabalho com valores tais como: Respeito, Responsabilidade,
Honestidade, Solidariedade, Justiça, enfim, todos aqueles valores que auxiliem para
a formação de uma mentalidade e atitude democrática. No entanto, os valores na
escola devem ser trabalhados associados aos conteúdos próprios desta, que estão
definidos na sua Proposta Pedagógica, não se perdendo, assim, a função principal
da escola que é a de desenvolvimento do conhecimento científico, crítico e reflexivo.
Cabe, então, ao professor, em seu Plano de Trabalho Docente vincular o conteúdo
de sua disciplina à educação em valores e, para tanto, o professor deve estar bem
preparado, através dos cursos de formação superior, como também dos cursos de
formação continuada.
6 REFERÊNCIAS
LA TAILLE, Yves de. Vergonha, a ferida moral. – Petrópolis RJ: Vozes, 2002.