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Matheus Santos

Idade Média

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Matheus Santos

Idade Média

Mundo medieval O cotidiano das populações mais humildes,


O período histórico conhecido como Idade conhecidos enquanto “servos da gleba”, estava
Média compreende um dos momentos de relacionado diretamente ao trato da terra,
maiores transformações sociais, políticas e pertencente a um nobre, em troca de proteção.
econômicas ocorridas na Europa entre os Séc. Com o passar do tempo, esta relação de
V e XV. dependência se tornou cada vez mais presente
Comumente, esse período é demarcado e configuraram o “feudo” medieval, que por
temporalmente entre a queda do Império sua vez pode ser compreendido enquanto o
Romano do Ocidente (476 d. C) e a queda do espaço de produção e das relações sociais do
Império Romano do Oriente (1453). mundo medieval.
Correspondendo a um recorte temporal de Comumente, o feudo era obtido da seguinte
quase mil anos que necessita da nossa devida forma: um poderoso senhor feudal
atenção e cuidado para sua melhor (considerado poderoso por ser detentor de uma
compressão. Exatamente pela sua extensa expressiva quantidade de terras) concedia parte
temporalidade, divide-se a Idade Média em de seu domínio a um nobre, que por sua vez
dois grandes momentos: a Alta Idade Média e jurava fidelidade e deveria cumprir uma série
a Baixa Idade Média, dos quais melhor de obrigações e serviços. O concessor de terras
analisaremos a seguir. é conhecido como “suserano”, já o nobre que
• Alta Idade Média (Séc. V - IX): recebe as terras chama-se “vassalo”. Todavia,
os vassalos tinham direito de conceder a terra
recebida em partes menores para outros
vassalos. Tornando-se, ao mesmo tempo,
vassalo do senhor feudal e suserano do
indivíduo que concedeu terras.
Vale indicar que neste momento, o rei ainda
não pode ser visto enquanto o “chefe do
Estado”, pois sua vantagem aqui é não dever
obrigações a nenhum suserano tendo em vista
que sua posição é de suserano máximo em sua
localidade.
Não obstante, é necessário observarmos que
esta relação de poder baseado na posse da terra
conformou profundamente as relações sociais
europeias mesmo após o fim período medieval.
As riquíssimas horas do duque de Berry
Além disso, eram tidas enquanto relações
As invasões e fixação dos povos germânicos sólidas de fidelidade e confiança, sendo
(tradicionalmente conhecidos como destaca pelo historiador Marc Bloch como
“bárbaros”) e o constante fluxo populacional “laços de fidelidade maiores que os de
em direção ao meio rural, que buscava sangue”.
segurança, foram os elementos cruciais para
conformação da sociedade europeia do final do
Séc. V.
Nesse momento, o Império Romano do
Ocidente já encontrava-se dissolvido e a
“pulverização do poder” era latente. Não havia
uma figura unitária de poder – a não ser a igreja
Católica – já que os reinos limitavam seu poder
na esfera local, tal como o desenvolvimento
econômico. Cerimônia da “Investidura”

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Idade Média

Apesar de haverem moedas nesse período, as Europa. Tal fato possibilitou a maior
mesmas eram pouco utilizadas tendo em vista disseminação de monastérios e escolas
que as relações comerciais estagnaram desde a católicas, e posteriormente o surgimento das
derrocada do Império Romano do ocidente, o primeiras universidades. Além disto, avanços
que ocasionava na maior troca de produtos e no âmbito literário, da pintura e da arquitetura
mercadorias, principalmente gêneros se fazem presente, exibindo construção de
alimentícios cultivados no feudo. grandes catedrais e das primeiras obras em
Dentre os produtos comumente cultivados, “línguas vernáculas”, além do Latim.
destacam-se os cereais: cevada, trigo, centeio e • Baixa Idade Média (Séc. X - XVI):
aveia, além de leguminosas como favas e
ervilhas, e frutas como as uvas. A produção
destes gêneros caracterizava-se por técnicas
rudimentares, o que acabava gerando uma
baixa produtividade e possibilitando o negócio
somente do excedente de sua produção.
Os servos da gleba eram os responsáveis pelo
cultivo, trato e colheita dos gêneros plantados
na terra feudal. Antes de realizar o trabalho na
terra que lhe foi cedida, era necessário realizar
serviços nas instalações de seu senhor, sendo
uma obrigação tradicionalmente conhecida
como “corveia”. Outros impostos senhorias era
Representação paisagística deste período
a “banalidade”, referente ao pagamento servil
Do Séc. X em diante, notamos uma série de
pelo uso das instalações do senhor, como o
transformações sociais e econômicas que
forno e o moinho, e a “talha”, imposto sobre a
alteraram profundamente a forma com que o
produção no manso servil. Vale destacar que
feudalismo estava estruturado. A paisagem em
os servos eram a camada popular mais humilde
torno dos castelos alterou-se aos poucos, dando
e de menor prestígio na sociedade medieval,
lugar a retomada da vida urbana e comercial e
pois não possuíam terra e, portanto, não
urbana. Tal transformação foi possível,
detinham vassalos.
principalmente, pelo fato das invasões
bárbaras terem cessado. Esta transformação foi
combustível essencial para que no Séc. XI
houvesse o “Renascimento Comercial e
Urbano”, momento em que houve a expansão
dos horizontes comerciais europeus, gerando
polos urbanos de intenso fluxo comercial que
contrastavam radicalmente com a realidade
rural feudal. Os explorados servos da gleba,
passaram a vislumbrar novas possibilidades
sociais para além do sistema feudal que não
lhes beneficiava. Processo que culminou com
as revoltas camponesas do Séc. XIV, em
Calendário Medieval para produção
Ao alvorecer do Séc. IX, as relações políticas, inúmeras localidades, entre estas na Inglaterra
sociais e econômicas da sociedade feudal e as mais violentas na França, conhecidas
como as “Jacquerie”. Fazendo com que
encontravam-se solidificadas e
houvesse a forma de produção servil fosse
potencializaram avanços em algumas áreas,
extinta e os laços de vassalagem com seus
principalmente na confirmação da Igreja
senhores rompidos.
Católica enquanto instituição hegemônica da

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A partir do Séc. XIV, as concentrações urbanas


levaram a maior disseminação de inúmeras
doenças, como tuberculose, sífilis e infecções
generalizadas pela ausência do devido
tratamento, levando a uma expectativa de vida
média de até 40 anos.
A Peste Negra, ou também conhecida como
Peste Bubônica, encontrou terreno propício em
uma Europa que o sistema feudal já
demonstrava sinais de exaustão e não atendia a
demanda popular por alimento, a fome era
recorrente e motivava revoltas por inúmeras
localidades. O comércio com o oriente já havia
esgotado as reservas metálicas dos reinos
europeus e sua chegada até as “Índias” foi
Crónicas de Jean Froissart
dificultada com o monopólio dos comerciantes
Por outro lado, além da pujança comercial e
italianos que objetivavam lucrar com os
urbana, houve também a expansão da fé e a
entrepostos comerciais entre a Europa e o
retomada de territórios pertencentes aos
oriente. Dessa forma, fazia-se necessário a
cristãos antes da expansão árabe do Séc. VIII,
superação de inúmeras mitologias sobre o mar
como a Península Ibérica que estava sob o
e o avanço da engenharia náutica para alcançar
domínio mulçumano. Dessa forma, a partir do
as especiarias por outras rotas. Navegar e se
Séc. XII houveram inúmeras investidas cristãs
reinventar era preciso!
na expulsão dos “infiéis” das terras “sagradas”.
Todavia, as principais “Cruzadas” foram
realizadas no Séc. XVIII e tinham como
objetivo a libertação dos “Lugares Santos”,
entre estes, Jerusalém. Apesar de apresentar
caráter religioso e militar, não devemos
esquecer as possibilidades comerciais geradas
pelas Cruzadas, principalmente ao abrir
caminhos para rotas comerciais em direção ao
oriente.

Estaleiro na Ribeira das Naus

Referências Bibliográficas:
ANDERSON, Perry. Passagens da antiguidade ao
feudalismo. Editora brasiliense, 1987.
BASCHET, Jérôme; FEUDAL, A. Civilização feudal:
do ano 1000 à colonização da América. São Paulo:
Globo, 2006.
BLOCH, Marc. Os Reis Taumaturgos: Estudo sobre
o caráter sobrenatural do poder régio na França e na
Inglaterra. EDIPRO, 2020.
O triunfo da morte. Pieter Bruegel, 1562.
JUNIOR, Hilário Franco. O Feudalismo. São Paulo:
As péssimas condições higiênicas, somada a Editora brasiliense, 1983.
mentalidade supersticiosa e as rudimentares
técnicas medicinais foram elementos que se LE GOFF, Jacques; DE MONTREMY, Jean-
Maurice. Em busca da idade média. Civilização
fizeram presentes durante toda a Idade Média.
Brasileira, 2006.

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