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História

O mundo medieval

Objetivo
Compreender o período conhecido como Idade Média europeia de forma crítica, analisando a
estrutura social predominante, o feudalismo, o poder da Igreja Católica e a crise do século XIV.

Se liga
Para mandar bem nesse conteúdo, é legal dar uma revisada no material sobre Mundo Antigo,
especialmente sobre a Antiguidade Clássica.

Curiosidade
Durante o Período Medieval, surgiram alguns dos contos de fadas famosos que conhecemos
atualmente, como Chapeuzinho Vermelho. Contudo, ao contrário de hoje, as histórias eram bem
mais assustadoras e não poderiam ser consideradas exatamente contos de fada. Tais histórias
eram bem violentas e dialogavam com o contexto em que estavam inseridas – de guerras e fome,
por exemplo. Esses contos serviam para serem contados em momentos de confraternização ou
para promover algum tipo de lição educativa para a população.

Teoria

Formação do mundo medieval


A partir do século III, o Império Romano passou por intensas crises. As guerras de conquista não
aconteciam desde o século II d.C. e, com isso, a obtenção de novos escravizados foi interrompida,
o que fez reduzir a quantidade de mão de obra. Assim, esse processo afetou a economia romana e
causou a diminuição de sua produtividade, provocando, consequentemente, um aumento no custo
de vida em todo o império.

Para agravar esse cenário, os altos gastos para manter suas extensas
fronteiras protegidas, além de invasões de povos chamados de
bárbaros, principalmente os germânicos, ajudaram a desestabilizar o
Império. Ocorreram diversas tentativas de restabelecer a estabilidade,
como a divisão do território em duas partes: Império Romano do
Ocidente, com capital em Roma, e Império Romano do Oriente, com
capital em Constantinopla, visando melhorar a administração.

No entanto, em meio às invasões ao Império Romano do Ocidente,


houve um intenso processo de ruralização, com o objetivo de fugir e buscar proteção. Tal fato
culminou na queda de Roma, em 476, marcando o fim da Idade Antiga e o início da Idade Média.
Vale lembrar que essas invasões não foram todas agressivas, mas, em muitos casos, um processo
de migração para o interior das fronteiras do então império em busca de segurança e estabilidade.
Esse processo provocou uma pluralidade cultural que forneceu as bases para o feudalismo.
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A Idade Média e o feudalismo


A Idade Média começou a se estruturar com a queda de Roma, quando se desenvolveu uma nova
estrutura social, política e econômica, caracterizada por uma sociedade rural, descentralizada e
estamental. O período durou mais de 1000 anos, suas características estão associadas à Europa
Ocidental, e pode ser dividido em Alta Idade Média (séculos V ao X) e Baixa Idade Média (séculos
XI ao XV).

Dessa forma, a Alta Idade Média foi uma fase marcada pela forte presença dos novos reinos na
Europa, consolidados por povos como os francos, os visigodos, ostrogodos, saxões e outros. Dentre
eles, apesar da forte fragmentação e da falta de centralização política ser uma característica
comum, podemos destacar algumas exceções. No caso dos francos, com a expansão desse povo
e a conversão ao cristianismo, o Império Carolíngio se destacou na Europa pela quantidade de terras
ocupadas e por sua centralização política na Alta Idade Média.

Logo, apesar de termos uma importante experiência centralizadora na Europa, sobretudo com o
reinado de Carlos Magno, após a morte deste rei, o processo de descentralização passou a ganhar
força também entre os francos, com o império se fragmentando entre seus herdeiros (como o caso
do Tratado de Verdun – 843) e a declaração de diversos títulos de nobreza, que permitiam o
crescimento de poderes locais pela Europa.

Assim, ao longo da Alta Idade Média, o sistema feudal de produção se formou reunindo
características do antigo sistema de colonato romano, das características próprias dos povos
germânicos e do poder da Igreja Católica. Dessa forma, o feudalismo se caracterizava como um
sistema político, econômico, social e cultural que se baseava no feudo, ou seja, uma propriedade de
um nobre (geralmente a terra), que era concedida por um nobre a outro nobre para realizar alianças.
Sendo a terra o principal símbolo do feudalismo, além de criar elos entre suseranos e vassalos,
também era onde os camponeses atuavam, pagando tributos e servindo ao proprietário, conhecido
como senhor feudal, em troca de proteção.

No sistema feudal podemos observar, portanto, uma sociedade tipicamente rural, com pouca
circulação de mercadorias e dinheiro, politicamente descentralizada e economicamente
subsistente, marcada por uma formação estamental, consolidada pelo poder da Igreja Católica e
por pactos e contratos.

Antes de analisarmos a hierarquia social desse período, vale destacar que três grupos foram
fundamentais na formação desses estamentos, sendo eles o clero, a nobreza e os servos. Esses
três grupos podem ser associados respectivamente às funções sociais que normalmente exerciam,
sendo eles: “aqueles que rezam, aqueles que lutam e aqueles que trabalham”. Pelo trabalho braçal
ser considerado algo malvisto e degradante, eram justamente os mais pobres que realizavam as
atividades laborais e que não possuíam muitos direitos. Já o clero e os nobres concentravam
privilégios e direitos, como, por exemplo, a não imposição de impostos sobre suas camadas.

Na base dessa sociedade, a população mais pobre, visando fugir da violência e dos saques, desde
o século V já migrava em busca de uma vida camponesa. No feudo, esses camponeses poderiam
viver na terra do Senhor Feudal, se alimentar das sobras da produção e seriam protegidos pela
nobreza, mas, em troca, o contrato de servidão exigia que eles trabalhassem para o Senhor feudal
e pagassem impostos como a talha, a corveia, a banalidade e outros. Esses servos, portanto, não
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eram escravizados, pois não pertenciam ao Senhor. Contudo,
dificilmente teriam qualquer tipo de ascensão social, ficando
muitas vezes presos a vida toda à terra.

Sendo assim, se a obrigação dos servos era a de trabalhar na


agricultura e garantir a produção alimentícia, por parte da nobreza
e dos senhores feudais, a principal obrigação que estes tinham era
a de manter a segurança no feudo e garantir a estabilidade nas
terras. Por isso, realizavam alianças com outros feudos e
contratos de suserania e vassalagem para ampliar suas conexões,
influências e poderes. Nesse acordo, um nobre doava terras conquistadas por ele (suserano) a outro
nobre (vassalo) que, em troca, garantia ao suserano fidelidade nos compromissos militares e
conselhos.

Pega a visão: a relação de suserania e vassalagem


era SEMPRE entre nobres.

Apesar da existência da figura de reis na Europa, na maioria das regiões, esses monarcas foram
muito limitados, já que o poder estava descentralizado entre diversos senhores feudais. No entanto,
com o tempo, essas alianças entre diversos vassalos e suseranos construiu uma rede de proteção
entre os feudos na Idade Média que, por vezes, envolvia até mesmo os reis, que assim passaram a
acumular cada vez mais vassalos ao seu redor.

A Igreja medieval
As relações sociais e o modo de produção feudal foram características fundamentais da sociedade
medieval, mas não podemos compreender este período sem entendermos a importância da
influência da Igreja Católica e do clero neste mundo. A questão espiritual, desde a antiguidade,
manifestou-se como característica essencial de diversas culturas e, no caso europeu, desde o fim
do Império Romano, o cristianismo se tornava a grande influência religiosa da região.

Com o período Carolíngio, como visto, a Igreja Católica passou a exercer mais do
que um poder espiritual, pois adentrou definitivamente nas questões políticas dos
reinos germânicos, passou a influenciar decisões, controlar a vida das pessoas e se
tornou, enfim, uma grande proprietária de terras, fortemente vinculada à estrutura
feudal. Assim, a Igreja Católica detinha um vasto poder sobre os calendários, as
datas, as decisões políticas, as horas de trabalho e até mesmo os dias nos quais
poderia haver batalhas e os dias santos.

Dominando grande parte da Europa e se relacionando com as principais monarquias e nobrezas, a


Igreja conseguiu se tornar a principal instituição do mundo e realizar obras faraônicas para
constantemente reforçar o seu poder. Durante a Idade Média, diversas igrejas de arquitetura gótica,
mosteiros e abadias foram construídas pela Europa, sendo estes últimos importantes centros de
cultura letrada.
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Nos mosteiros e nas abadias os monges preservavam textos antigos, traduziam livros estrangeiros,
organizavam bibliotecas e escolas e guardavam artefatos considerados sagrados. Muitos monges
chegaram a abandonar a chamada “vida secular” (em contato com a terra, com as riquezas), para
se dedicarem integralmente às regras do cristianismo, isolando-se em mosteiros e abrindo mão de
todos os bens materiais, ficando conhecidos como o clero regular.

Por outro lado, o chamado clero secular manteve-se ligado às riquezas possuídas pela Igreja
Católica, à administração de terras e ao mundo material. Muitos monges acumularam vastas
riquezas através das doações de fiéis que buscavam perdão por seus pecados. Por volta do ano
1000, essa onda de doações se tornou ainda maior, visto que a crença na proximidade do fim do
mundo desesperava muitos fiéis, que tentavam de tudo para conseguir o perdão. De fato, o apego
de parte deste clero aos bens materiais acabou gerando muitas críticas e denúncias por parte de
fiéis que não concordavam com essa ostentação, antes mesmo das grandes reformas protestantes.

Baixa Idade Média


Em comparação com as disputas territoriais do início da Alta Idade Média, a Europa viveu durante
os séculos X e XII uma fase muito mais segura internamente. As alianças realizadas entre os feudos
e a proteção dos cavaleiros garantiram uma maior estabilidade para os senhores e servos. No
entanto, a condição estável, o desenvolvimento de técnicas e tecnologias para melhorar a
agricultura e a redução dos saques e invasões garantiram também um crescimento demográfico
neste período. Esse aumento da população proporcionou um inchaço dos feudos, que não
conseguiu garantir alimentação para todas as pessoas e ainda precisava se esforçar cada vez mais
para submeter tantos servos aos tributos e opressões.

Apesar de inovações técnicas terem facilitado a produção agrícola neste período, essas novidades
foram insuficientes para garantir uma produção que atendesse as necessidades da população
desses séculos. Este cenário, portanto, provocou um deslocamento de massas de camponeses e
cavaleiros que, expulsos de suas terras, passaram a vagar entre feudos ou a vadiar em busca de
trabalhos temporários e pequenos saques. Nessa conjuntura, apesar de muitos ainda vagarem
pelos bosques e terras vazias, outros decidiram se aventurar nas antigas ruínas do Império Romano
e reocupar as cidades abandonadas. Esse processo de crescimento demográfico e de êxodo
marcou o início da Baixa Idade Média e deu origem ao que conhecemos como a crise do feudalismo.

Milhões de habitantes
60
50
40 50,35
30
20 34,65
22,1 25,85
10
0
1000 1100 1200 1300
Anos

Milhões de habitantes

Fonte: Hilário Franco Jr. e Ruy de Oliveira Andrade Filho. Atlas de História
Geral. São Paulo, Scipione, 1993, p. 23.
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Tendo em vista esse cenário, além do crescimento da população e da miséria na Europa, a nobreza
e a Igreja Católica ainda observavam atentamente a expansão islâmica no Oriente Médio. Durante
o século VII, o profeta Maomé passou a pregar suas visões e mensagens do Anjo Gabriel nas
cidades da península arábica e ganhou milhares de seguidores. Enquanto o feudalismo se
consolidava na Europa, os árabes muçulmanos conquistaram o Oriente Médio e o norte da África
em pouco tempo. Já no século XVIII alcançaram a Península Ibérica e a cidade de Jerusalém,
considerada sagrada para os cristãos.

Assim, no ano 1095, diante de tais crises, o Papa Urbano II convocou o Concílio de Clermont, que
defendia a paz entre os povos cristãos da Europa e a concessão de indulgência a todos que
morressem enfrentando os muçulmanos no Oriente. O discurso do Papa conseguiu reunir exércitos
de católicos de todos os estamentos prontos para lutarem pelo cristianismo. Logo, expedições
militares de caráter religioso, conhecidas como Cruzadas, foram organizadas para marchar em
direção ao Oriente.

Visto isso, o objetivo principal das Cruzadas era reconquistar a cidade sagrada de Jerusalém
(dominada pelos muçulmanos desde o século VII), expandir a fé cristã e penetrar novamente o
catolicismo romano no Império Bizantino. Entretanto, além desses objetivos, muitos nobres,
camponeses e trabalhadores livres partiram nas Cruzadas por interesses próprios, como
enriquecimento, conquista de terras, glórias e o próprio perdão.

Dessa forma, as marchas cruzadistas, além de reconquistar os territórios, também


foram fundamentais para a abertura de antigas rotas comerciais, dominadas pelos
árabes, pelo estabelecimento de postos comerciais ao longo do Mediterrâneo, que
garantiram o ressurgimento das cidades e, enfim expandiram a fé cristã. Visto isso,
podemos perceber que as Cruzadas foram fundamentais para desenvolver um
processo que já se iniciava há anos na Europa, mas que agora se acelerava com o
encontro do Ocidente e do Oriente, que foi o renascimento comercial e urbano.

Apesar de as cidades e o comércio nunca terem, de fato, desaparecido da Europa ao longo da Idade
Média, é verdade que a ocupação urbana e as relações de troca perderam espaço com a ascensão
do feudalismo no final da Alta Idade Média. Entretanto, com o inchaço demográfico do campo, as
duras obrigações feudais, o êxodo, as Cruzadas, a aproximação dos árabes e a maior circulação de
pessoas por essas rotas comerciais, muitos decidiram retomar a vida nas cidades e buscar no
comércio uma forma de enriquecer, mesmo não sendo nobre.

Foi nesse contexto que as feiras europeias cresceram e algumas cidades comerciais, conhecidas
como burgos, passaram a ganhar grande importância. Nos burgos, portanto, surgiu um grupo
voltado para as relações comerciais e para as atividades financeiras que passou a ser conhecido
como a burguesia, que inicialmente não contava com qualquer privilégio político, mas que aos
poucos crescia e lutava pelos seus interesses.
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A cidade medieval
Com o fortalecimento das trocas comerciais e a crescente reocupação das cidades, o meio urbano
foi ganhando cada vez mais relevância dentro da sociedade feudal. (Tinha tudo pra dar ruim? Sim!
Aguarde as cenas dos próximos capítulos…) Nesse sentido, a cidade medieval surgiu da ocupação
das ruínas das antigas cidades do Império Romano e da criação de espaços funcionais a partir da
abertura de novas rotas comerciais.

Apesar de nem todas terem desaparecido completamente com o processo de ruralização – que é
uma marca do feudalismo –, com o aumento da migração e do comércio, algumas cidades
começaram a ganhar centralidade dentro do mundo feudal a partir da Baixa Idade Média. Mesmo
com a diminuição das guerras e das invasões, esses locais mantiveram, em grande medida,
elementos arquitetônicos ligados à proteção daqueles espaços, como as muralhas.

Em uma sociedade marcada pela ruralização e uma estrutura social rígida, o renascimento urbano
proporcionou uma dinamização dentro daqueles espaços e, segundo o historiador Jacques Le Goff,
deve ser visto como resultado da soma de interesses dos diversos grupos sociais que coabitavam
o mundo feudal.

Logo, a Baixa Idade Média foi marcada por um processo de transformações sociais, religiosas,
políticas e econômicas especialmente a partir da ocupação e do surgimento das cidades medievais.
Contudo, é preciso pontuar que existia uma relação estreita entre o campo e a cidade, já que ainda
era um mundo predominantemente rural. Logo, o clero – com o surgimento de ordens ligadas ao
meio urbano, como os franciscanos – e a nobreza continuaram desempenhando um papel
determinante nesses espaços.

Assim, a cidade medieval foi se tornando uma parte importante do mundo feudal e apontando uma
nova forma de viver o mundo e a religiosidade. Além disso, o meio urbano também impulsionou o
surgimento de novos espaços produtivos, como as corporações de ofício, novas profissões e no
estímulo a atividades intelectuais para além do domínio da Igreja Católica.
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Exercícios de fixação

1. Cite três características do feudalismo.

2. No que consistia a relação de suserania e vassalagem?

3. Qual foi a importância das Cruzadas?

4. Explique como era organizada a sociedade feudal.

5. Como surgiu a burguesia?


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Exercícios de vestibulares

1. (Enem, 2014) Sou uma pobre e velha mulher,


Muito ignorante, que nem sabe ler.
Mostraram-me na igreja da minha terra
Um Paraíso com harpas pintado
E o Inferno onde fervem almas danadas,
Um enche-me de júbilo, o outro me aterra.
(VILLON, F. In: GOMBRICH, E. História da arte. Lisboa: LTC, 1999.)

Os versos do poeta francês François Villon fazem referência às imagens presentes nos
templos católicos medievais. Nesse contexto, as imagens eram usadas com o objetivo de:
(A) Redefinir o gosto dos cristãos.
(B) Incorporar ideais heréticos.
(C) Educar os fiéis através do olhar.
(D) Divulgar a genialidade dos artistas católicos.
(E) Valorizar esteticamente os templos religiosos.

2. (Enem, 2022) Ainda que a fome ocorrida na Itália em 536 tenha origem nos eventos climáticos,
suas implicações são tanto políticas quanto econômicas. Nos primeiros séculos da Idade
Média, o auxílio aos famintos se inscreve no domínio da gestão pública, mesmo quando a
ação de seus agentes é apresentada sob o ângulo da piedade e da caridade individuais, como
é o caso da Gália merovíngia. Assim, o fato de que as respostas à fome são mostradas, na
Gália, como o fruto de iniciativas pessoais fundadas no imperativo da caridade deriva da
natureza das fontes do século VI.
SILVA, M. C. Os agentes públicos e a fome nos primeiros séculos da Idade Média. Varia Historia, n. 60, set.-dez. 2016 (adaptado)

Na conjuntura histórica destacada no texto, o dever de agir em face da situação de crise


apresentada pertencia à jurisdição
(A) Da nobreza, proveniente da obrigação de proteção ao campesinato livre.
(B) Da realeza, decorrente do conceito de governo subjacente à monarquia cristã.
(C) Dos mosteiros, resultante do caráter fraternal afirmado nas regras monásticas.
(D) Dos bispados, consequente da participação dos clérigos nos assuntos comunitários.
(E) Das corporações, procedente do padrão assistencialista previsto nas normas
estatutárias.
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3. (Enem digital, 2020) Constantinopla, aquela cidade vasta e esplêndida, com toda a sua
riqueza, sua ativa população de mercadores e artesãos, seus cortesãos em seus mantos civis
e as grandes damas ricamente vestidas e adornadas, com seus séquitos de eunucos e
escravos, despertaram nos cruzados um grande desdém, mesclado a um desconfortável
sentimento de inferioridade.
RUNCIMAN, S. A Primeira Cruzada e a fundação do Reino de Jerusalém. Rio de Janeiro: Imago, 2003 (adaptado).

A reação dos europeus quando defrontados com essa cidade ocorreu em função das
diferenças entre Oriente e Ocidente quanto aos(às)
(A) Modos de organização e participação política.
(B) Níveis de disciplina e poderio bélico do exército.
(C) Representações e práticas de devoção politeístas.
(D) Dinâmicas econômicas e culturais da vida urbana.
(E) Formas de individualização e desenvolvimento pessoal.

4. (Enem, 2019) A cidade medieval é, antes de mais nada uma sociedade da abundância,
concentrada num pequeno espaço em meio a vastas regiões pouco povoadas. Em seguida, é
um lugar de produção e de trocas, onde se articulam o artesanato e o comércio, sustentados
por uma economia monetária. É também centro de um sistema de valores particular, do qual
emerge a prática laboriosa e criativa do trabalho, o gosto pelo negócio e pelo dinheiro, a
inclinação para o luxo, o senso da beleza. E ainda um sistema de organização de um espaço
fechado com muralhas, onde se penetra por portas e se caminha por ruas e praças e que é
guarnecido por torres.
(LE GOFF, J.; SCHMITT, J.-C. Dicionário temático do Ocidente Medieval. Bauru: Edusc, 2006.)

No texto, o espaço descrito se caracteriza pela associação entre a ampliação das atividades
urbanas e
(A) Emancipação do poder hegemônico da realeza.
(B) Aceitação das práticas usurárias dos religiosos.
(C) Independência da produção alimentar dos campos.
(D) Superação do ordenamento corporativo dos ofícios.
(E) Permanência dos elementos arquitetônicos de proteção.
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5. (Enem, 2015) No início foram as cidades. O intelectual da Idade Média — no Ocidente —
nasceu com elas. Foi com o desenvolvimento urbano ligado às funções comercial e industrial
— digamos modestamente artesanal — que ele apareceu, como um desses homens de ofício
que se instalavam nas cidades nas quais se impôs a divisão do trabalho. Um homem cujo
ofício é escrever ou ensinar, e de preferência as duas coisas a um só tempo, um homem que,
profissionalmente, tem uma atividade de professor e erudito, em resumo, um intelectual —
esse homem só aparecerá com as cidades.
LE GOFF, J. Os intelectuais na Idade Média. Rio de Janeiro: José Olympio, 2010.

O surgimento da categoria mencionada no período em destaque no texto evidencia o(a):


(A) Apoio dado pela Igreja ao trabalho abstrato.
(B) Relação entre desenvolvimento urbano e divisão do trabalho.
(C) Importância organizacional das corporações de ofício.
(D) Progressiva expansão da educação escolar.
(E) Acúmulo de trabalho dos professores e eruditos.

6. (Enem PPL, 2014) Veneza, emergindo obscuramente ao longo do início da Idade Média das
águas às quais devia sua imunidade a ataques, era nominalmente submetida ao Império
Bizantino, mas, na prática, era uma cidade estado independente na altura do século X. Veneza
era única na cristandade por ser uma comunidade comercial: “Essa gente não lavra, semeia
ou colhe uvas”, como um surpreso observador do século XI constatou. Comerciantes
venezianos puderam negociar termos favoráveis para comerciar com Constantinopla, mas
também se relacionaram com mercadores do islã.
(FLETCHER, R. A cruz e o crescente: cristianismo e islã, de Maomé à Reforma. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2004.)

A expansão das atividades de trocas na Baixa Idade Média, dinamizadas por centros como
Veneza, reflete o(a)
(A) Importância das cidades comerciais.
(B) Integração entre a cidade e o campo.
(C) Dinamismo econômico da igreja cristã.
(D) Controle da atividade comercial pela nobreza feudal.
(E) Ação reguladora dos imperadores durante as trocas comerciais.
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7. (Enem, 2021) Nem guerras, nem revoltas. Os incêndios eram o mais frequente tormento da
vida urbana no Regnum Halicum. Entre 880 e 1080, as cidades estiveram constantemente
entregues ao apetite das chamas. A certa altura, a documentação parece vencer pela
insistência do vocabulário, levando até o leitor mais critico a cogitar que os medievais tinham
razão ao tratar aqueles acontecimentos como castigos que antecediam o julgamento final.
Como um quinto cavaleiro apocalíptico, o incêndio agia ao feitio da peste ou da fome: vagando
mundo afora, retornava de tempos em tempos e expurgava justos e pecadores num tormento
derradeiro, como insistiam os textos do século X. O impacto acarretado sobre as relações
sociais era imediato e prolongava-se para além da destruição material. As medidas
proclamadas pelas autoridades faziam mais do que reparar os danos e reconstruir a
paisagem: elas convertiam a devastação em uma ocasião para alterar e expandir não só a
topografia urbana, mas as práticas sociais até então vigentes.
RUST L. D Uma calamidade insaciável Rev. Bras. Mist. n 72, maio-ago 2016 (adaptado)

De acordo com o texto, a catástrofe descrita impactava as sociedades medievais por


proporcionar a
(A) Correção dos métodos preventivos e das regras sanitárias.
(B) Revelação do descaso público e das degradações ambientais.
(C) Transformação do imaginário popular e das crenças religiosas.
(D) Remodelação dos sistemas políticos e das administrações locais.
(E) Reconfiguração dos espaços ocupados e das dinâmicas comunitárias.

8. (Enem, 2018) A existência em Jerusalém de um hospital voltado para o alojamento e o


cuidado dos peregrinos, assim como daqueles entre eles que estavam cansados ou doentes,
fortaleceu o elo entre a obra de assistência e de caridade e a Terra Santa. Ao fazer, em 1113,
do Hospital de Jerusalém um estabelecimento central da ordem, Pascoal II estimulava a
filiação dos hospitalários do Ocidente a ele, sobretudo daqueles que estavam ligados à
peregrinação na Terra Santa ou em outro lugar. A militarização do Hospital de Jerusalém não
diminuiu a vocação caritativa primitiva, mas a fortaleceu.
(DEMURGER, A. Os Cavaleiros de Cristo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002 (adaptado).)

O acontecimento descrito vincula-se ao fenômeno ocidental do(a):


(A) Surgimento do monasticismo guerreiro, ocasionado pelas cruzadas.
(B) Descentralização do poder eclesiástico, produzida pelo feudalismo.
(C) Alastramento da peste bubônica, provocado pela expansão comercial.
(D) Afirmação da fraternidade mendicante, estimulada pela reforma espiritual.
(E) Criação das faculdades de medicina, promovida pelo renascimento urbano.
História
9. (Enem, 2013) Quando ninguém duvida da existência de um outro mundo, a morte é uma
passagem que deve ser celebrada entre parentes e vizinhos. O homem da Idade Média tem a
convicção de não desaparecer completamente, esperando a ressurreição. Pois nada se detém
e tudo continua na eternidade. A perda contemporânea do sentimento religioso fez da morte
uma provação aterrorizante, um trampolim para as trevas e o desconhecido.
(DUBY, G. Ano 2000 na pista dos nossos medos. São Paulo: Unesp, 1998 (adaptado).)

Ao comparar as maneiras com que as sociedades têm lidado com a morte, o autor considera
que houve um processo de:
(A) Mercantilização das crenças religiosas.
(B) Transformação das representações sociais.
(C) Disseminação do ateísmo nos países de maioria cristã.
(D) Diminuição da distância entre saber científico e eclesiástico.
(E) Amadurecimento da consciência ligada à civilização moderna.

10. (Enem PPL, 2018) TEXTO I


É da maior utilidade saber falar de modo a persuadir e conter o arrebatamento dos espíritos
desviados pela doçura da sua eloquência. Foi com este fim que me apliquei a formar uma
biblioteca. Desde há muito tempo em Roma, em toda a Itália, na Germânia e na Bélgica, gastei
muito dinheiro para pagar a copistas e livros, ajudado em cada província pela boa vontade e
solicitude dos meus amigos.
GEBERTO DE AURILLAC. Lettres. Século X. Apud PEDRERO-SÁNCHEZ, M. G. História da Idade Média: texto e testemunhas. São Paulo: Unesp,
2000.

TEXTO II
Eu não sou doutor nem sequer sei do que trata esse livro; mas, como a gente tem que se
acomodar às exigências da boa sociedade de Córdova, preciso ter uma biblioteca. Nas minhas
prateleiras tenho um buraco exatamente do tamanho desse livro e como vejo que tem uma
letra e encadernação muito bonitas, gostei dele e quis comprá-lo. Por outro lado, nem reparei
no preço. Graças a Deus sobra-me dinheiro para essas coisas.
AL HADRAMI. Século X. Apud PEDRERO-SÁNCHEZ, M. G. A Península Ibérica entre o Oriente e o Ocidente: cristãos, judeus e muçulmanos. São
Paulo: Atual, 2002.

Nesses textos do século X, percebem-se visões distintas sobre os livros e as bibliotecas em


uma sociedade marcada pela:
(A) Difusão da cultura favorecida pelas atividades urbanas.
(B) Laicização do saber, que era facilitada pela educação nobre.
(C) Ampliação da escolaridade realizada pelas corporações de ofício.
(D) Evolução da ciência que era provocada pelos intelectuais bizantinos.
(E) Publicização das escrituras, que era promovida pelos sábios religiosos.

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Gabaritos

Exercícios de fixação

1. Características: descentralização política; relação de suserania e vassalagem; economia


agrária; sociedade estamental; trabalho servil.

2. As relações políticas entre nobres eram baseadas no princípio da suserania e da vassalagem,


no qual um nobre doava terras conquistadas por ele (suserano) a outro nobre (vassalo) em
troca de fidelidade nos compromissos militares do suserano. Essas alianças entre diversos
vassalos e suseranos construía uma rede de proteção entre os feudos que envolvia até mesmo
os reis, que poderiam ser tanto suseranos quanto vassalos.

3. As Cruzadas foram missões da Igreja Católica com intuito de conquistar a cidade sagrada de
Jerusalém do domínio dos turcos, expandir a fé cristã e penetrar novamente o catolicismo
romano no Império Bizantino. Dentro do contexto de ruralização e do fechamento da economia
dentro dos feudos, as Cruzadas facilitaram a reocupação das antigas cidades, o reavivamento
do comércio e a abertura de antigas rotas comerciais.

4. A sociedade feudal se caracterizou por uma estrutura estamental. Os estamentos eram


divididos entre os que guerreavam (nobreza), os que rezavam (clero) e os que trabalhavam
(servos). A mobilidade social era quase inexistente, já que a posição ocupada era determinada
pelo nascimento.

5. A burguesia surgiu durante a Baixa Idade Média e é resultado direto da ocupação das antigas
cidades e do reavivamento das atividades comerciais. A nova classe social surgiu com os
burgos, que eram cidades onde os habitantes se dedicavam à produção artesanal e à atividade
mercantil, ficando conhecidos como burgueses.

Exercícios de vestibulares

1. C
A maioria dos fiéis católicos durante a Idade Média não sabia ler e nem escrever; logo, para fins
educativos, os vitrais e as imagens católicas auxiliaram muito na difusão das ideias.

2. B
Segundo o texto, destaca-se que a obrigação de agir em face à crise que ocasionou a fome no
período mencionado era um dever da realeza, já que era a responsável pela administração
pública, baseado nos preceitos da monarquia cristã, da região da Península Itálica no século VI.

3. D
A relação que os europeus nutriram com os habitantes da cidade de Constantinopla estava
muito próxima àquilo que podemos denominar como etnocentrismo. Por não se identificarem
com as dinâmicas econômicas e culturais da cultura local, os europeus passaram a nutrir esse
sentimento de desdém, ainda que tivessem algum desconforto com isso.

4. E
As cidades medievais se tornaram, sobretudo na Baixa Idade Média, espaços de trocas
comerciais centrados em uma economia monetária. Apesar do contraste com o ambiente
feudal, as cidades mantiveram elementos arquitetônicos dos feudos, como as muralhas.
História
5. B
Ao afirmar no texto que alguns intelectuais e profissionais como os professores só poderiam
surgir na Europa medieval graças às cidades, o autor está associando o desenvolvimento
urbano à uma nova divisão do trabalho nessa sociedade, com novos profissionais surgindo.

6. A
Com o renascimento das cidades e o reavivamento do comércio durante a Baixa Idade Média,
as cidades comerciais começaram a ganhar importância com suas atividades mercantis.

7. E
Segundo o texto, as autoridades buscaram se aproveitar da ocasião para alterar e expandir a
topografia urbana e as práticas sociais; logo, podemos entender como interferências nos
espaços ocupados e na dinâmica comunitária.

8. A
O grande projeto de expansão do cristianismo, especialmente com as Cruzadas, a partir de uma
estratégia de retomada de territórios, levou a Igreja Católica a expandir um processo de
militarização da própria instituição.
9. B
As mudanças sociais, culturais e econômicas realizadas entre os anos 1000 e 2000
provocaram alterações também na forma como o ser humano se relaciona com o mundo físico
e espiritual; ou seja, houve uma mudança nas representações sociais do que seria entendido
como vida, morte e eternidade.

10. A
No contexto em que os dois fragmentos foram escritos, do século X, podemos observar na
Europa já um crescimento da vida urbana e um aumento do comércio, inclusive de livros, que
influenciou o chamado renascimento comercial e urbano. Nos fragmentos, cidades como
Córdoba estão destacadas reforçando essa interpretação.

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