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HISTÓRIA A

A identidade civilizacional da Europa Ocidental


Poderes e crenças-multiplicidade e unidade

A multiplicidade de poderes
Com a queda do Império Romano do Ocidente, a Europa entrou no período da Idade Média
(de 476 à queda do Império Romano do Oriente, em 1453) e durante este período a Europa
nunca mais voltou a ter estabilidade política semelhante à do Império Romano;

O poder dentro de cada Estado estava fragmentado em unidades:


● Senhorios;
● Principados;
● Comunas;
● Reinos.
Por outro lado, a Europa também se encontrava fragmentada em três grandes divisões
políticas:
● Monarquias, a oeste;
● Império, ao centro;
● Reinos, a leste.

Os senhorios
A nível local, o poder sobre as populações era exercido por grandes senhores eclesiásticos
e nobres, os senhorios. Esta organização derivava das necessidades de uma sociedade
que se constituiria em tempo de guerra e sem instituições que fizessem a ligação entre o
poder soberano e as populações.
Com efeito, para poder dispor de exércitos bem equipados, os reis cediam partes do seu
território a grandes nobres ou eclesiásticos, a fim de que estes os administrassem e , em
contrapartida, mantivessem exércitos prontos a combater pelo rei.
Os reis aceitavam que fossem os senhores a exercer as funções governativas e judiciais,
permitindo-lhes impor aos camponeses as mais variadas taxas bem como prestações de
outro géneros, por exemplo, as banalidades, ou seja, a obrigação dos camponeses
utilizarem os equipamentos agrícolas do senhorio. Este duplo poder do senhor (económico,
sobre a terra, e político, sobre os homens) é uma das características mais marcantes da
Idade Média.

Ducados e condados
Os duques e condes constituíam os escalões superiores da nobreza medieval. Possuíam
senhorios imensos, cuja extensão se ia alargando, devido a generosas doações régias e
uma hábil política de casamentos. Estes senhorios englobavam, para além das terras
agrícolas e aldeias, numerosas vilas e até
importantes cidades.

Os reinos
Reino: Estado ou Nação cujo chefe político é um rei.
A constituição de um reino estável implicava dois elementos essenciais:
● o reconhecimento da superioridade de uma família, à qual compete exercer a
realeza, em regime hereditário. O rei detém sobre todos, independentemente da sua
condição social, uma autoridade suprema, que deve utilizar para garantir o bem
comum;
● a delimitação de um território, que se constitui como base de ligação entre o rei e os
seus súbditos. Qualquer homem que nasça no reino depende do rei. O critério que
estabelece esta subordinação ao rei é territorial.
A constituição de um reino corresponde sempre a um processo de identificação entre um
rei, um território e os seus habitantes. Este processo gera a convicção de que existem laços
de tipo étnico, histórico, cultural e político que unem toda a comunidade.

O império
À queda do Império Romano do Ocidente deu-se o sonho de restauração de um império
cristão.
Tal sonho pareceu concretizar-se no ano 800, quando o Papa, no natal, em Roma, coroou
como Imperador do Ocidente, Carlos Magno, rei dos Francos, que pouco antes torna
territorialmente uma área que ia dos Pirenéus à Boémia e da Dinamarca à Itália.

Mas a existência deste império foi efémera, pois alguns anos após a morte de Carlos
Magno, esse território acabou dividido em 3 (Partilha de Verdun, 843), e seguiu-se um
período marcado pelas constantes disputas territoriais entre os herdeiros e sobretudo pela
investida sobre a Europa de um conjunto de novos povos invasores: normandos (vikings),
húngaros (magiares) e muçulmanos.
Durante este período, o poder central encontrou dificuldades em reagir. São os grandes
senhores, em cada região, que assumem a organização da defesa e reúnem guerreiros
para dar proteção às populações.
O enfraquecimento do poder central permitiu que muitos poderes públicos fossem
transferidos para os grandes senhores locais, no que era já um processo de fragmentação
do poder.
O senhor imperial só renasceria mais tarde, na pessoa de Otão I, rei da Germânia , que
recebe do Papa a coroa imperial. Englobando territórios germânicos e italianos, e em
resultado de uma aliança entre o Imperador e o Papa, este Império receberia o nome de
Sacro-Império Romano-germânico (SIRG).
Mas o SIRG nunca se conseguiu afirmar, e o poder imperial foi enfraquecendo devido a:
● O SIRG tinha uma dimensão reduzida;
● O Imperador era designado por eleição, o que o tornava dependentes de príncipes e
do Papa e impossibilitava a formação de uma dinastia;
● Na Europa afirmavam-se reinos cada vez mais organizados;
● Disputas permanentes entre o Papa e o Imperador relativamente à direção da
Cristandade;
● Existência de principados praticamente autónomos.

As comunas
No século XI, quando a vida agrícola e comercial no Ocidente se intensificou, fazendo
aumentar o número de cidades, ocorreu a criação de novos centros urbanos, os burgos.
Pouco tempo depois da sua criação, os habitantes dos burgos (os burgueses) começaram a
sentir necessidade de se libertarem e, para tal, era necessária a compra de uma carta ao
senhor daquela terra, a qual podia conceder-lhes a libertação total ou parcial do domínio do
senhor, dependendo da quantia paga. Outras vezes, a autonomia conseguia-se pela força,
havendo lutas violentas contra o senhor. Surgia assim, na Itália, o movimento comunal, ou
seja, o desejo dos burgueses de obterem liberdade, segurança, isenção de impostos
feudais e justiça própria, desejos estes que eram sobretudo resultado do desenvolvimento
comercial, que estava a ser prejudicado pela rígida estrutura feudal.

A imprecisão de fronteiras
Nos tempos medievais o poder político estava fragmentado numa multiplicidade de células
que revestiam as mais variadas formas: impérios, reinos, senhorios e comunas.
As fronteiras externas eram imprecisas e alteravam-se com frequência. O mesmo sucedia a
nível interno, com o desmembramento ou aglutinação dos senhorios, as liberdades
conquistadas pelas cidades, as usurpações senhoriais e os progressos da autoridade real.
→ A unidade da crença
Apesar de politicamente muito fracionada, a Europa Ocidental assumia-se como um
conjunto unido pela mesma fé.
A Igreja era a única instituição que, ultrapassando fronteiras, se estendia por todas as
regiões, desempenhando um importante papel junto das populações, ao mesmo tempo que
contribuía para a construção de uma identidade comum.

O poder do bispo de Roma


Desde os inícios do Cristianismo que se reconheceu ao bispo de Roma uma dignidade
especial. Mas a sua supremacia sobre os outros bispos nem sempre foi bem aceite,
provocando essa situação, inclusive, algumas desavenças que culminaram no século XI,
com o corte das relações entre o clero ocidental e o clero oriental.

A cristandade ocidental face a Bizâncio


O Império Romano do Oriente sempre se considerou herdeiro do mundo romano,
assumindo-se como um espaço civilizado, possuidor de um nível cultural superior ao dos
“bárbaros” do Oriente.
Constantinopla (Bizâncio) era o centro religioso deste Império. Aí oficiava em grego o
patriarca da cidade, figura reconhecida por todo o clero cristão.

Mas entre o bispo de Roma e o patriarca de Constantinopla cedo surgiu uma intensa
rivalidade, motivada por discordâncias doutrinas, mas sobretudo pela recusa do patriarca
bizantino em aceitar a supremacia de Roma.

A cristandade ocidental face ao Islão


Maomé inicia a sua vida religiosa e acreditava ter sido escolhido por Deus para tirar os
árabes da idolatria e conduzi-los á salvação, depois de lhe ter aparecido o anjo Gabriel que
lhe teria dito: “Maomé, tu és o projeta de Ala. Prega!”. E até á sua morte, Maomé difundiu a
palavra de Ala e fundou uma nova religião, o Islão.
Os seus princípios estão consagrados no Alcorão e constituem a verdadeira revelação de
Deus:
● Crença num único Deus;
● Maomé é o seu profeta;
● Oração;
● Esmola;
● Jejum no ramadão;
● Peregrinação a Meca uma vez na vida.

O quadro económico e demográfico- expansão e limites do crescimento


→A expansão agrária e o crescimento demográfico
Entre os séculos XI e XIII, a Europa Ocidental viveu um período de grande prosperidade e
crescimento demográfico. Esta prosperidade começou pelo mundo rural onde se verificou
um conjunto de inovações:
● Expansão da superfície cultivada. Novas terras foram conquistadas para a
agricultura, desbravaram-se bosques, secaram-se pântanos. Foi a época dos
grandes arroteamentos:
● Progressos técnicos. Emprego crescente do ferro nos utensílios agrícolas;
● Melhor aproveitamento da força animal;
● Afolhamento com rotação trienal de culturas;
● Aproveitamento da energia hidráulica e eólica;
● Fertilização dos campos.
Com isto, aumentou-se a produção e a produtividade da agricultura assim como dos
recursos alimentares.
O crescimento demográfico
Na Idade Média, a abundância de alimentos reflete-se no número de pessoas. À medida
que as fomes recuam, recuam também as epidemias, porque, mais bem alimentada, a
população torna-se mais resistente à doença. Entre os séculos XI e XIII, a Europa viu a sua
população a duplicar, sobretudo na zona Ocidental, onde o surto demográfico foi mais
acentuado.

→O renascimento das cidades e a dinamização das trocas


O surto urbano
O dinamismo do setor agrícola e comercial levou, entre os séculos X e XIII, ao renascimento
das cidade assim, de origem romana ou fundação recente, as cidades aumentaram em
número e tamanho, e depressa se tornaram pequenas para acolher todos os que a
procuravam, nomeadamente os que vinham do campo à procura de melhores condições de
vida e em fuga das imposições senhoriais.
Mas as cidades, além de crescerem, também se transformaram. A partir do século XII,
assumem uma função essencialmente econômica. É lá que se estabelecem mercadores,
banqueiros, artesãos, lojistas, que animam e enriquecem as cidades e que se tornam nos
elementos mais característicos do burgo, derivando daí o nome de burgueses, e assim se
individualizando um novo grupo social- a burguesia.

A dinamização das trocas locais e regionais


Algumas cidades medievais animavam-se em determinadas épocas do ano com a
realização de grandes feiras internacionais. Mais eram os pequenos mercados de cariz
agrícola que alimentavam a vida econômica de todos os dias e estabeleciam uma ligação
contínua entre a cidade e o campo. Eram periódicos e neles se comercializavam os
excedentes da produção agrícola.
A necessidade de abastecimento da população urbana representavam para o camponês um
mercado onde podia vender os seus excedentes, assim se integrando o mundo rural nos
circuitos comerciais.
Os mais assíduos a estes mercados eram os camponeses das aldeias mais próximas.
Estes, contudo, não chegavam para satisfazer a procura.

As ligações cidade-campo eram estabelecidas por meio de profissionais- os almocreves-


que atuavam como intermediários, abastecendo as cidades de géneros alimentares e, ao
invés, as zonas agrícolas e produtos manufaturados.
Mas os mercados, a sua regulamentação e a sua eficácia no abastecimento das cidades,
eram uma preocupação constante das autoridades urbanas. Era necessário garantir que os
produtos chegavam ao seu destino, pelo que se proibia a venda pelo caminho ou fora das
horas regulamentares. Havia que evitar os açambarcamentos ou os aumentos exagerados
de preços, sempre sob a ameaça de severas punições.

→As grande rotas do comércio externo


O comércio externo teve igualmente um importante papel na dinamização da economia
europeia dos séculos XI a XIII. Uma sólida rede comercial passa a cobrir a Europa, apoiada
por 3 pólos: o Norte (flamengo e alemão), o Sul (italiano) e a zona intermédia como ligação
norte-sul (champagne).
A Flandres
● Prosperidade industrial. Várias cidades manufatureiras destacam-se na indústria dos
lanifícios (produtos de luxo);
● Dinamismo comercial. A Flandres, graças à sua prosperidade e à sua posição
geográfica, atraia mercadores de toda a Europa;
● Centro de confluência e redistribuição do comércio europeu;
● Facilidades comerciais. As cidades flamengas concediam um conjunto de privilégios
aos
mercados estrangeiros.

O comércio da Hansa
Hansa/Guilda: associação mercantil que tem como objetivo proteger os comerciantes de
uma determinada região e defender os seus interesses.
A maior era a liga Hanseática, que consagrava mais de 90 cidades do Norte da Europa. O
facto de a maior parte delas se situar em território germânico leva a que esta Liga seja
também conhecida por Hansa Teutónica.
Constituída no século XIII, o seu objetivo era assegurar o monopólio do comércio nos mares
do Norte e Báltico.
Produtos transacionados: cereais da Prússia e Polónia; peles, madeiras, gordura e peixe
seco da Rússia e Noruega. Realizavam também fretes marítimos.

As cidades italianas e o domínio do comércio mediterrâneo


Em 1095, o recuo muçulmano no Mediterrâneo abriu novas possibilidade comerciais ás
cidades italianas, que assim, embora inimigas e rivais, retomam rotas comerciais antigas
em direção á Asia, Síria e Egito e, inclusive, ao longínquo Oriente.
Produtos Orientais: especiarias, tecidos, pérolas, pedras preciosas, alúmen.
Circulação de moedas de ouro; desenvolvimento da atividade financeira.

As feiras de Champagne
Norte de França, zona de Champagne. Região com boas condições geográficas, onde se
realizavam periodicamente feiras de carácter internacional.
Privilégios dados pelos reis para atrair feirantes: alojamento, armazéns, isenções fiscais,
salvo-condutos (segurança na ida e volta), proteção contra agressões e contra a
instauração de processos judiciais.
Calendário preciso e encadeado. Mercado contínuo.

As novas praticas comerciais e financeiras


A economia monetária sobrepunha-se lentamente à economia natural. Este era um sistema
económico em que toda a produção excedentária se destinava ao mercado, tornando as
trocas essenciais e indispensáveis.
O intenso desenvolvimento comercial obrigava a uma maior utilização da moeda e a
inovações nas técnicas dos negócios:
● Cheques e letras de câmbio: funcionavam como um papel-moeda que evitava o
uso do numerário. Assim, permitiam substituir o transporte de dinheiro vivo, sempre
mais arriscado e volumoso, fazendo operações de pagamento em papel.
● Sociedades comerciais: permitiam reunir capital a uma escala a que os
particulares dificilmente poderiam ter acesso e, da mesma forma, repartir os lucros
do negócio proporcionalmente a esse investimento inicial.
● Câmbios: eram uma necessidade constante numa economia de mercado que
manuseava moedas tão díspares;
● Bolsas de mercadores: companhias de seguros que mediante o pagamento de
certas quantias por frete realizado para um fundo comum, cobriam os riscos das
viagens, na proporção dos capitais investidos.

A fragilidade do equilíbrio demográfico


Durante toda a Idade Média, a morte foi uma presença constante no dia a dia das
populações, atingindo sobretudo as crianças.
Para esta tão elevada mortalidade contribuíam a falta de higiene, o atraso na medicina,
mas, sobretudo, a fome e a peste. São estes os principais responsáveis pelo frágil equilíbrio
demográfico dos tempos medievais.

A quebra demográfica do séc.XVI


É precisamente no crescimento populacional do século XIII que se devem procurar as
razões da quebra demográfica verificada no XIV. Nisso e num conjunto de circunstâncias
adversas que aturaram em simultâneo e que acabaram por se traduzir num terrível período
de recessão económica.

A fome
Nos fins do século XIII, a quantidade de alimentos que era possível produzir já não era
suficiente para alimentar tantos homens.
Ao esgotamento dos solos acrescentam-se as mudanças climáticas. O século XIV foi um
período de pluviosidade intensa e acentuado arrefecimento. A chuva e o frio apodreciam as
sementes e as colheitas perdiam-se. Nos inícios do século XIV, a fome regressou ao
Ocidente. As doenças que se seguiram deixaram um rasto de miséria e morte, que os
homens medievais interpretaram como um castigo divino
para os seus pecados.
Más colheitas, escassez, subalimentação, crises de subsistência.

A grande peste
Em 1348, uma terrível epidemia, a Peste Negra, abateu-se sobre o Ocidente. Trazida do
Oriente, a Peste Negra foi a mais grave epidemia de que há memória. A sua propagação foi
rápida e causou uma mortandade sem precedentes.
Desta tragédia resultou uma acentuada falta de mão de obra, situação que se traduziu
numa desestabilização dos mercados. Com efeito, a diminuição da força de trabalho
disponível repercutiu-se numa subida dos preços, numa subida dos salários, e chegou a ter
implicações no valor da moeda.

A guerra
O terceiro flagelo a contribuir para a queda do século XIV foi a guerra. Entre as inúmeras
guerras, a mais importante foi a Guerra dos 100 anos, entre a França e a Inglaterra.
Mas os efeitos devastadores das guerras resultaram mais das violências praticadas pelos
exércitos sobre as populações do que as batalhas propriamente ditas. A aproximação das
tropas, amigas ou inimigas, colocava os camponeses em pânico.

O espaço portugues- a consolidação de um reino cristão ibérico


A fixação do território
→A reconquista
Foi no contexto da Reconquista cristã da Península Ibérica aos muçulmanos, que Portugal
nasceu, como entidade política independente, e definiu o seu território.
→Do termo da Reconquista ao estabelecimento e fortalecimento das fronteiras
Quase meio século haveria de decorrer entre o termo da Reconquista (1249) e o
estabelecimento definitivo das fronteiras portuguesas (1297). Com Leão e Castela outra luta
se travaria.
Em 1252, Afonso X de Leio e Castela, acabado de chegar ao trono, reivindicou o ex-reino
algarvio de Niebla (onde se incluía Silves), alegando que a sua soberania lhe havia sido
cedida pelo respetivo rei mouro.
Pelo Tratado de Alcanizes, celebrado em 1297, entre D. Dinis e Fernando IV de Castela, ao
mesmo tempo que se projetavam casamentos reais e uma paz de 40 anos baseada na
“amizade e defesa mútuas”, fixavam-se os limites territoriais dos dois reinos hispânicos.
Com pequenas exceções, o território português adquiria a sua configuração definitiva, o que
faz de Portugal o Estado europeu com as fronteiras mais antigas e estáveis.

O país rural e senhorial


→Os senhorios- sua origem, detentores e localização
Tal como na Europa além-Pirenéus, o senhorio peninsular configurou uma área territorial,
mais ou menos extensa e nem sempre contínua, cujo senhor exercia poderes sobre a terra
e sobre os homens que nela residiam. No caso português, os senhorios pertenciam ao rei, à
nobreza e ao clero e a sua origem remonta à apropriação do território pelos cristãos
O Norte Atlântico tornou-se a terra de eleição do senhorialismo nobre. Aí tiveram lugar as
presúrias da fidalguia hispânica, reconhecíveis nos abundantes topónimos de origem
germânica do Entre Douro e Minho. Também exerceram os mais antigos cargos públicos,
delegados pelos reis de Leão na nobreza condal. Tais cargos faziam-se acompanhar de
dotações territoriais que os retribuíam. Ambos eram reconhecidos pelo nome de honores.
O clero constituiu outro protagonista do senhorialismo do Norte Atlântico. Se os castelos,
torres e solares expressam o poder nobre, os mosteiros e as sés são o símbolo do poder
clerical. No Norte Atlântico, sobressaiam as casas das ordens religiosas. O Centro e o Sul
converteram-se, mesmo, na zona dos grandes senhorios da Igreja. Com efeito, eram bem
extensos os domínios que bispos, mosteiros e ordens religiosas militares possuíam a sul do
Mondego.

→O exercício do poder senhorial: privilégios e imunidades


A origem do poder senhorial teve como protagonista a nobreza senhorial do Norte Atlântico.
Nas suas fileiras temos, de início, os infanções, que tinham funções públicas de governação
de terras e castelos.
No século XIII a supremacia dos infanções deixou de ser tão atenuada e deu lugar ao
fidalgo. O lugar mais alto da hierarquia dos nobres ficou então ocupado pelos ricos-homens,
que possuíam grandes domínios onde exerciam poder jurídico e gozavam de isenções
fiscais.
Outros graus de nobreza medieval eram preenchidos com:
Os cavaleiros. Estes pertenciam à ordem militar da Cavalaria, dedicavam-se à guerra e
deviam cumprir um código rigoroso de honra e cortesia;
Os escudeiros. Nem todos eram nobres. Os não fidalgos deviam acompanhar o seu
companheiro, ajudá-lo a vestir as armas e combater atrás dele.
O poder senhorial caracterizava-se mais pelo exercício de funções militares, jurisdicionais e
fiscais do que pela posse e exploração de terras. O poder senhorial comportava vários
privilégios. Baseava-se, em primeiro lugar, na posse das armas e no comando militar. Em
segundo, fazia-se sentir na exigência de multas judiciais. Em último, afirmava-se na
cobrança de crescentes exigências fiscais, entre as quais:
● As banalidades, pelo uso de instrumentos de produção e sobre as atividades
comerciais e transportes;
● O jantar, dever de alimentar o senhor e o seu séquito;
● A lutuosa e a manaria, espécie de impostos de sucessão;
● As osas ou gaiosas, prestações pagas por quem casasse fora do domínio senhorial.
O poder senhorial converteu-se num fator de prestígio e enriquecimento para infanções e
ricos-homens.

→A exploração económica do senhorio


Para além do poder senhorial, os bens territoriais chamavam domínios senhoriais e
constituíam outra base das classes nobres e eclesiástica. Estes resumiam-se, a um
conjunto de parcelas territoriais distribuídas por campos de cereais, vinhas, pomares,
pastos e bosques. Um senhorio era constituído por:
● A quintã, que incluía o castelo (morada do senhor), os estábulos, celeiros e igreja.
A sua exploração era feita pelos servos e colonos livres dos casais que aí prestavam
serviços gratuitos e obrigatórios durante um certo número de dias por anos: eram as jeiras.
● Os casais ou vilares, subdivididos em glebas, que correspondiam aos mansos
europeus. Na sua exploração estabelecia-se um contrato entre os senhores e os
colonos, também chamados de “caseiros”. As rendas neles consignadas eram de
dois tipos: fixas ou de parceria, sendo que as de parceria correspondiam a uma
fração das colheitas.
Nos começos do século XIII instituiu-se o pagamento da dízima à igreja – 10% de
toda a produção bruta.Nos seus domínios, a classe senhorial controlava muitos
homens – os dependentes, aos quais exigiam tributos e prestações. Em 1211, uma
lei de Afonso II afirmava que todo o homem livre devia depender de um senhor. Isto
significou que os herdadores, proprietários de terras algodoais, passaram a ser
sujeitos a prestações senhoriais.

→A situação social e economica das comunidades rurais dependentes


Nos seus domínios e senhorios (honras e coutos), os senhores tutelavam uma enorme
massa de homens, os dependentes, a quem exigiam tributos e prestações. Uns,
provenientes da exploração do solo: as rendas e as jeiras, eram os direitos dominiais.
Outros, resultantes do exercício do poder político, os direitos senhoriais.
Os camponeses dependentes trabalham e viviam nos senhorios. Estes tinham uma vida
muito pobre, uma fraca mobilidade (principalmente dos servos adscritos à terra). A situação
destes era parecia com a dos escravos, apenas eram considerados pessoas e tinham
segurança na sua subsistência.
A fraca mobilidade vai mudar, já que as necessidades de povoamento e de reconquista
favorecem alguma mobilidade, social e geografia e em alguns casos até à sua libertação.
Esta evolução da servidão veio introduzir uma nova relação entre a terra e o trabalhador,
bem como faz aparecer diversas categorias de servidão, embora as difíceis condições de
vida continuem. Entre estes servos os solarengos tinham melhores condições, mais
favoráveis.

O país urbano e concelhio

→ A multiplicação de vilas e cidades concelhias


O país rural complementou-se com um país urbano, de vilas e cidades concelhias, que
impulsionou o desenvolvimento do reino. Entretanto a Reconquista prosseguia e, com ela,
territórios de forte presença urbana, que o domínio muçulmano além de preservar soubera
estimular, acrescentavam-se ao Norte tradicionalmente rural e senhorial.
A presença da corte nas cidades do Centro e Sul contribuiu para a consolidação das
estruturas urbanas do reino nos seus primeiros séculos de existências. E se a presença
régia prestigiava uma cidade, não menor engrandecimento derivava das suas funções
eclesiásticas. As sedes de bispado eram as únicas a merecerem a designação de cidades.
A urbanidade de uma povoação media-se pelo seu grau de superintendência jurídica. A
cidade e a vila concelhia dispunham, na verdade, de uma capacidade auto administrativa,
maior ou menor, que os monarcas e, às vezes, um senhor lhe concederiam através da carta
de foral.
→A organização do espaço citadino
As cidades medievais portuguesas já nada revelavam o urbanismo latino.
O território distinguia-se por um urbanismo cristão, a norte, de um urbanismo muçulmano a
sul. Apesar de não faltarem no primeiro as ruas tortuosas e os becos sem saída, a cidade
cristã sempre dispunha de uma ou mais praças e, de um modo geral, irradiava a partir de
um centro.

O espaço amuralhado
A cidade medieval portuguesa destacava-se na paisagem uma cintura de muralhas. Estas
davam-lhe proteção e proventos (pelas inúmeras taxas nas portas e postigos), além de
embelezá-la!
Toda a cidade medieval possuía uma zona nobre, um centro, que se distinguia do restante
espaço porque lá se situavam os edifícios do poder e moravam as elites locais. Não longe,
o mercado principal, numa praça ou rossio.
As ruas iam diretamente de um ponto ou outro da cidade, ligando as duas portas.
Chamavam-se ruas direitas e, tal como as ruas novas enchiam de satisfação os citadinos,
que aí abriram as suas melhores oficinas, lojas e estalagens. Tudo o resto eram ruas
secundárias, autênticas vielas.

As minorías étnico-religiosas
Judeus: eram mesteirais (ourives, alfaiates, sapateiros), mas houve-os também médicos,
astrónomos, cobradores de renda. Mais letrados que o comum dos cristãos, mais
abastados, dados à usura e ao negócio, embora os humildes não faltassem, os judeus
viviam em bairros próprios, as judiarias, como seus funcionários, juízes e hierarquia
religiosa.
Mouros: Tinham também bairros próprios, as mourarias e situavam-se no arrabalde.

O arrabalde
O arrabalde acabou por se transformar num prolongamento da cidade. Nele se
encontravam as hortas e os ofícios poluentes.
Para muitos mesteirais e mercadores, o arrabalde constituía um local privilegiado. No
arrabalde não faltava a animação (malabaristas, touradas). Um certo ar de marginalidade
rodeava o arrabalde. Os pedintes e leprosos, que eram considerados parasitas na época
medieval, confinavam-se ao arrabalde.

O termo
Era a fonte de sobrevivência da cidade. Espraiava-se para além do arrabalde. Era um
espaço de olivais, vinhas ou searas e aldeias várias incluídas.
Nele exercia-se a jurisdição e o domínio fiscal e impunham-se obrigações militares. Havia
uma feira semanalmente de produtos da terra.

→O exercício comunitário de poderes concelhios; a afirmação política das elites


urbanas
O número mais significativo de concelhos situava-se nas Beiras, na Estremadura e no
Alentejo, e eram chamados concelhos urbanos ou perfeitos. Todos os homens livres,
maiores de idade e habitantes do concelho eram chamados vizinhos. A eles competia:
● a administração do concelho e integravam a assembleia, que era o maior órgão
deliberativo do concelho;
● as funções concelhias mais significativas estavam relacionadas com a administração
da justiça;
● a eleição dos magistrados.
Dentro dos magistrados temos:
● os alcaides ou juízes, os supremos dirigentes da comunidade;
● os almotacés, encarregues da vigilância das atividades económicas, da sanidade e
das obras públicas;
● o procurador, que exercia o cargo de tesoureiro e representava externamente o
concelho;
● os vereadores, que possuíam vastas competências legislativas e executivas.
Todos os magistrados pertenciam à elite social do concelho e eram chamados
homens-bons.

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