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A cultura do mosteiro

Os espaços do Cristianismo
A queda do Império Razões para a queda do Império Romano:​
A queda do Império Romano foi um processo A crise económica, a quebra de produção na
que se desenvolveu ao longo de mais de um agricultura e nas indústrias, o decréscimo do
século.​ número de escravos para trabalhar.​
A partir do século III o Império entrou em A excessiva dimensão territorial que acentuava
gradual decadência motivada por intrigas e a dificuldade no controlo das fronteiras e as
conspirações políticas e uma acentuada crise elevadas despesas com o exército.​
económica.
A corrupção dos políticos, as sucessivas
Após a morte de Teodósio (395), resultaram conspirações e lutas políticas, a instabilidade
conflitos e uma permanente instabilidade na social devido à fome e ao desemprego da
divisão do Império entre Império do Ocidente e população.​
Império do Oriente, o que acabou por A ascensão do Cristianismo, o gradual
desencadear a sua desagregação.​ desgaste do culto imperial e a quebra dos
Em 305, o imperador Constantino subiu ao valores tradicionais.​
poder (em Bizâncio), invadindo a Itália (em
As invasões das tribos bárbaras de origem
312) e desencadeando lutas pela unificação do
germânica.​
Império.
A prosperidade do Império Romano do
Decisões com consequências no colapso do Oriente.​
Império e no curso da História da cultura
ocidental, tomadas por Constantino

levou as populações a abandonarem as cidades,


a oficialização do a transferência da rumo aos campos, procurando trabalho e meios
Cristianismo (em capital do Império de subsistência. ​
313) como religião para Bizâncio (em
do Império;​ 323), que passou a
chamar-se
Constantinopla.​
Ao longo dos tempos as fronteiras do Império Consequências dos ataques e pilhagens dos povos
foram sofrendo ataques das tribos e povos que bárbaros aos centros urbanos romanos:​
habitavam para além dos rios Reno e Danúbio,
criaram instabilidade, insegurança e medo entre as
considerados «povos bárbaros» germânicos. ​
populações;
Os Romanos consideravam bárbaros os povos que provocaram a desorganização da administração
não falavam latim e não tinham a sua civilização.​​ pública romana;​

Os povos germânicos organizavam-se em clãs, não causaram o declínio da economia do Império


possuíam uma estrutura política e social organizada e as populações fugiram das cidades, procurando
dedicavam-se à agricultura, à pastorícia e à guerra.​ maior segurança e subsistência no campo.​
A partir do século IV as pressões intensificaram-
se, motivadas pelo avanço dos Hunos, do centro da A reorganização cristã da Europa
Europa para sul, «empurrando» os povos germânicos
para dentro do território romano.​​
A livre circulação de pessoas e mercadorias por
Roma viria a ser saqueada diversas vezes, até que, todo o Império favoreceu as trocas de ideias,
em 476, Odoacro (rei dos Hérulos, um povo valores e costumes entre culturas distintas.​
escandinavo) invadiu Roma e depôs Rómulo
Augusto decretando o fim do Império Romano do Sobretudo, contribuiu para a propagação de
Ocidente.​ práticas mistéricas e religiosas, cultos místicos
orientais, que se sobrepuseram ao Culto
Imperial. ​
AS invasões bárbaras
O Cristianismo foi a religião que obteve melhor
A partir do século V a parte Ocidental do Império
aceitação, não só entre a população como também
foi invadida por diversos povos germânicos, ditos
entre a administração imperial e os funcionários
«bárbaros».​
do Estado. Mas, por negar o Culto Imperial e
Na altura, devido aos contactos fronteiriços, estes o politeísmo romano, e aceitar apenas um Deus
povos conheciam o latim e estavam cristianizados o único encarnado na figura do seu Filho Jesus
que terá contribuído para a fusão de culturas:​ Cristo, o Cristianismo foi uma religião proibida,
clandestina e perseguida nos primeiros séculos
desta era.​
a cultura romana, em a cultura bárbara-
decadência; germânica, em Entre a população pobre e sem esperança, o
ascensão.​ Cristianismo acabou por ser um veículo de
libertação e esperança face à sua pobreza e à
prepotência da classe dominante. ​
Até ao século X, e após sucessivas Cristianismo
Durante a Idade Média a Igreja Cristã é a
guerras e invasões entre os reinos
grande autoridade cultural junto das
europeus, a Europa reconfigurou-se do populações, exercendo um papel de
modo seguinte:​ aglutinação social.​

com o abandono das cidades, a esmagadora maioria Sociedade das três ordens
da população europeia passa a viver no campo;​ Nobreza – os que lutam​
Clero – os que rezam​
acentuou-se a ruralização da sociedade;​
Povo – os que trabalham
consolidou-se a economia agrária de subsistência;​
a cultura passa a ser dominada pelo clero e pela fé O feudalismo: relações de vassalagem
cristã
Após a formação dos reinos cristãos, a necessidade
Os diversos reinos cristãos que se formam na Europa de povoar e defender as terras do reino levou os reis
Ocidental passam a ser dominados por uma aliança a ceder vastos domínios a nobres da sua confiança.​
entre o poder temporal e o poder espiritual:​
Estes nobres, por sua vez, dividiam essas
propriedades e cediam-nas a outros nobres para as
poder temporal – poder espiritual – cuidarem e gerirem.
poder político poder exercido
sociedade feudal:​
exercido pelos pelo clero (papa, os suseranos, proprietários de terras que
reis, governantes, cardeais, bispos e cediam a outros nobres;​
chefes militares.; clérigos em e os vassalos que, a troco desses domínios,
geral).​ prestavam juramento de fidelidade e
A estrutura da sociedade feudal pagamento de tributos aos seus suseranos.​

Na ase desta pirâmide estava o povo que


Feudalismo trabalhavam e pagavam impostos para poder residir
Sistema político, económico e cultural que e trabalhar nos seus domínios.
vai vigorar na Europa Ocidental a partir do
século VII até ao fim da Idade Média, século
XV.​

Ruralismo
Sociedade rural, guerreira e arcaica, vivendo
principalmente no campo em torno de um
castelo, numa economia agrária e de
subsistência.​
A Europa dos reinos Cristãos
O clero
– A CHRISTIANITAS
Alto clero baixo clero

Até ao século V estes povos nem sempre estiveram


Cardeais​ Abades ​ em conflito com os Romanos, mantendo relações
Arcebispos​ Monges​ comerciais junto às fronteiras.​
Bispos​ Padres​ Com a crise política e económica do Império
Romano, estes povos dirigiram-se para sul em busca
de riquezas, solos férteis e climas mais amenos.​
Ocuparam os territórios definidos pelas antigas
Eram provenientes Eram estruturas administrativas das províncias romanas e
da nobreza.​ provenientes do mantiveram os seus regimes monárquicos e as suas
povo.​ estruturas económicas baseadas na agricultura.​
Dirigiam a Igreja
Dirigiam os Adotaram o latim como língua oficial, converteram-se
e as dioceses.​
Administravam as mosteiros e as ao Cristianismo e aceitaram a Igreja Cristã como
propriedades e os paróquias.​ única autoridade religiosa e cultural.​
bens da Igreja.​ Fundaram as Em síntese, estes povos:​
Tinham privilégios Ordens
eram guerreiros, belicosos e bons cavaleiros;​
junto do rei e da Religiosas.​
nobreza.​ Viviam em contacto estavam em constante conflito com povos vizinhos
com o povo.​ como forma de conquistar novos territórios e
aumentar o seu poder;​

tinham a guerra como principal ocupação das chefias


militares, em função da qual impunham o seu poder
na sociedade;​

garantiam os privilégios e favores atribuídos pelo


rei, através das suas vitórias e conquistas.​
Perante a diversidade cultural dos povos germânicos A geografia monástica da
(leis distintas, diversas tradições, costumes e Europa
religiões), a Igreja Cristã teve um papel de
unificação política, económica, social e cultural da Igreja Cristã converteu-se num fator de coesão
Europa.​ política, social e cultural de toda a Europa.​

Entre os séculos V e X, a Christianitas converteu-se Durante a Idade Média, quer no Ocidente quer no
numa vasta comunidade de povos vinculados à fé Oriente cristão, o monaquismo foi o principal
cristã.​ instrumento de cristianização do mundo rural.
A partir dos mosteiros organizaram-se vastas
comunidades religiosas que promoveram campanhas
Influências do Cristianismo:​
de batismo e cristianização dos povos

a espiritualidade Desempenho dos mosteiros:


o humanismo, de mística dos cultos evangelizar e doutrinária;​
raízes no orientais, a crença em
Helenismo, factos místicos, como dirigir os rituais litúrgicos e as obrigações
desenvolveu o o nascimento e a religiosas (a Eucaristia, celebração da morte e
fascínio pela ressurreição de Jesus ressurreição de Jesus Cristo);​
forma, a imagem Cristo, os milagres, a
visível do espírito;​ vida depois da morte prestar ajuda e proteção às populações;​
no Reino dos Céus, a
devoção religiosa e a eram centros difusores de costumes, de valores e
crença nos Santos (os de cultura (desenvolvimento das artes e letras).​
que se distinguiram
pela sua obra
admirável em nome de Durante a Idade Média, o monaquismo foi o
Deus). principal instrumento de cristianização do mundo
rural, onde se encontrava a maior parte da
população.​
Os mosteiros situavam-se em locais isolados,
afastados dos aglomerados populacionais (vilas e
aldeias) e eram totalmente autónomos e
autossuficientes.​
Os monges viviam em absoluta solidão, recolhimento
e clausura, praticando a ascese e dedicando-se ao
trabalho, na realização de tarefas diárias para a
subsistência e manutenção do mosteiro.​
S. Bento de Núrsia (480-543) fundou a A Abadia e a Igreja de Cluny foram os maiores
Ordem Beneditina e criou a Regra (em complexos monásticos da Cristandade.​
529), segunda a qual os monges deviam:​
Um grande pátio central – o claustro –
praticar a ascese e a vida contemplativa;​ distribuía as dependências essenciais a uma
obedecer aos votos de pobreza, silêncio e clausura monástica:​
castidade;​
a igreja e a sala do capítulo para as reuniões;​
dedicar-se ao trabalho, à oração e à
o refeitório, a cozinha e as despensas;​
meditação;​
as celas dos dormitórios;​
assistir os pobres e hospedar os peregrinos;​
as oficinas, a enfermaria, os estábulos;​
promover o ensino e a leitura da Sagradas
a escola dos noviços, o scriptorium e a livraria.
Escrituras.​
O pensamento monástico cluniacense regeu-se
exclusivamente pela vida litúrgica (serviços
litúrgicos e orações), desvalorizando o trabalho
Até ao século X o monaquismo expandiu-se por
manual.​
toda a Europa com a construção de centenas de
mosteiros e abadias, seguindo a Ordem Beneditina.​ A Ordem de Cluny exerceu grande poder e
Em 910, considerando que tinha havido um desvio em influência nos meios políticos e teve um papel ativo
relação à Regra beneditina, foi fundada a Ordem de na difusão do Românico, o estilo artístico
Cluny (um mosteiro situado na Borgonha, França), predominante na época.​
com a implementação de um conjunto de reformas:​
A partir do século XI registam-se várias
renovação da pureza litúrgica;​
alterações na Europa:​
isolamento absoluto da comunidade monástica;​
desenvolvimento económico, aumento da produção
consagração dos monges a uma vida de total
e crescimento da população:​
dedicação a Deus.​
renascimento urbano, fixação das populações nas
cidades;​
A partir do século X a Ordem de Cluny tornou-se no
ressurgimento do comércio.​
maior centro monástico da Cristandade:​
Simultaneamente, uma vaga de renovação
construiu mais de 1500 mosteiros e integrou cerca espiritual percorre a Europa com as
de 10 000 monges;​ evidências seguintes:​
possuía vastas terras e riquezas e foi protegida crítica às ligações da Ordem de Cluny com o
por reis e senhores feudais;​ poder político;​
constituiu um dos mais importantes centros de crítica à opulência, riquezas e ostentação da
poder da Idade Média.​ Igreja.​
Em 1115, São Bernardo funda a Ordem de
Cister a partir da Abadia de Claraval,
propondo:
o retorno às origens da Ordem Beneditina:
recolhimento, oração, humildade, pobreza e
austeridade;​
maior rigor na vida monástica centrada no
trabalho manual.

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