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Características do feudalismo

Sociedade feudal
Uma das causas da queda do Império Romano do Ocidente foi a invasão bárbara. Os povos que
estavam fora dos limites do grande império atravessaram as suas fronteiras e adentraram no
território, alcançando Roma. A capital do império foi saqueada pelos bárbaros. Essa ação
violenta e a desestruturação do Império Romano fizeram com que os moradores das cidades
fugissem para o campo em busca de proteção e trabalho.

Nessa transição entre a queda do Império Romano, ocorrida no século IV d.C., e o início da
Idade Média, observa-se a ruralização da Europa, ou seja, as cidades perderam suas forças para
o campo. Os senhores feudais, os donos dos feudos, tornaram-se poderosos por conta da
valorização as terras. Enquanto os imperadores concentravam poderes nos tempos de domínio
romano, no feudalismo, o poder foi descentralizado nas mãos desses senhores donos das terras.

A Igreja Católica se fortaleceu nesse período ao fazer alianças com os reis bárbaros que
instalaram seus domínios na Europa. Dessa forma, os povos pertencentes a esses reinos foram
convertidos ao cristianismo, e o papa se tornou poderoso não somente nos assuntos celestiais,
mas também políticos. Iniciava-se a tradição, que se estendeu até o século XIX, dos papas
coroarem os novos reis, uma cerimônia que marcava a aproximação da Igreja com o poder
político.

O clero se tornou uma classe social poderosa e atuante na formação da mentalidade medieval. A
crença se baseava na força divina contra o maligno e na negação do fiel sobre os prazeres
mundanos em busca da salvação da sua alma. A cultura clássica ficou guardada nos mosteiros
para ser preservada das invasões, e os monges copistas tiveram papel importante na reprodução
desses escritos.

A ruralização europeia promoveu o fortalecimento dos nobres. A nobreza era formada pelos
senhores feudais, por cavaleiros que garantiam a segurança dos feudos e por outros donos de
terras. Nessa classe social se desenvolveu a fidelidade entre suseranos e vassalos. Os suseranos
eram aqueles que concediam terras e outros favores aos vassalos, e estes, em troca, deveriam
retribuir o favor quando solicitados. Essa fidelidade era uma característica dos povos bárbaros e
que foi incorporada nas relações sociais feudais. Fazia-se uma cerimônia para tornar público o
acordo firmado.

Ao contrário da Idade Antiga, quando a mão de obra era escravizada, durante o período
medieval, a mão de obra era servil. Os servos eram a maioria da população e originários
daqueles que fugiram das invasões bárbaras e se abrigaram nos feudos. Em troca de moradia e
proteção, os servos trabalhavam para os senhores feudais e para a sobrevivência deles mesmos e
de suas famílias. A eles cabiam inúmeras exigências, cobranças sobre os usos dos utensílios
pertencentes ao senhor feudal, a entrega de parte da produção, o dízimo para a Igreja.
A sociedade feudal era rural, estruturada nos feudos, e a minoria que estava no topo da pirâmide
social (nobres e clero) era sustentada pela classe de maior tamanho e a única que trabalhava, a
dos servos. Era uma sociedade estamental, que não permitia a mobilidade social, conforme um
ditado da época: “Existem aqueles que lutam (nobres), aqueles que rezam (clero) e aqueles que
trabalham (servos)”.

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Cavaleiros em batalha durante o feudalismo.


Os cavaleiros eram nobres que guerreavam durante a Idade Média.
Economia feudal
A economia durante a Idade Média era basicamente agrária, o que não significa afirmar que o
comércio tenha desaparecido. Durante a Antiguidade Clássica, o mar Mediterrâneo foi o
principal local do comércio marítimo. Com a expansão árabe a partir do século VII d.C., o
Mediterrâneo foi conquistado por esse povo, e os europeus ocidentais não tinham alternativa a
não ser a agricultura. Além disso, com a fuga das cidades para o campo, a terra se valorizou.

A prática agrícola exigia cuidado com a terra. Para isso, os servos que trabalhavam nela
utilizavam instrumentos como o arado e a força dos animais domesticados. Uma técnica para
manter a fertilidade do solo era a rotação das terras. Enquanto uma porção do terreno era
utilizada, a outra porção ficava de repouso e era utilizada na plantação seguinte, enquanto a
utilizada anteriormente ficava de repouso. Com isso, aumentou-se a produção e,
consequentemente, a população.

Política feudal
No início do período medieval, os reis germânicos tentaram manter a unidade territorial do
Império Romano. Os reis germânicos eram chefes políticos e militares, pois atuavam à frente
dos seus soldados em momentos de guerra. O poder secular estava ligado ao poder religioso, por
isso a Igreja Católica tinha grande influência na política medieval. Com a queda do império
carolíngio, a unidade territorial se desfez e o poder se descentralizou entre os senhores feudais.
Cada feudo se autogovernava, estabelecendo sua própria política.

Concessão de terras
Com a ruralização da Europa, as terras se valorizaram e se tornaram moedas de troca. O rei
carolíngio, Pepino, o Breve, cedeu grande quantidade de terras para a Igreja Católica, mais
especificamente na região central da Península Itálica. Surgiam assim os Estados Pontifícios,
que eram territórios pertencentes ao papa e que vigoraram até a Unificação Italiana, em meados
do século XIX. O atual território do Vaticano, em Roma, é o que restou desses Estados e só foi
reconhecido pelo governo italiano após a assinatura do Tratado de Latrão, na década de 1920.
A doação de terras não se restringiu apenas aos monarcas da Alta Idade Média. Quem obtivesse
algum terreno fazia questão de doá-lo ao clero no intuito de que tal ação seria retribuída na
eternidade. Dessa forma, de doação em doação, a Igreja se tornou dona de uma grande
quantidade de terras durante o período medieval. Se ela já detinha o poder espiritual, também
exercia enorme poder sobre a terra.

Outra forma de concessão de terras era mediante acordos de fidelidade. As relações sociais na
Idade Média eram caracterizadas dessa forma. O suserano era o proprietário de terra que a cedia
para um vassalo em troca da sua fidelidade. Essa concessão era feita mediante contrato
celebrado em evento público, com toda pompa e a presença de um bispo para assegurar a sua
validade e a sua execução.

Crise do feudalismo
A crise do feudalismo começou a partir do século XII, quando mudanças na sociedade europeia
colocaram em xeque as estruturas do feudalismo. As cidades voltaram a surgir após séculos de
abandono, desde os tempos das invasões bárbaras. Houve o aumento populacional ocorrido no
ano 1000, também chamado de “ano da paz de Deus”, por conta da queda significativa nas
guerras medievais. Com o aumento demográfico, a produção agrícola também se expandiu,
exigindo maior trabalho dos servos e o uso de técnicas mais avançadas para atender a demanda.

Outro fator que transformou a sociedade europeia foram as Cruzadas. Inicialmente eram
expedições religiosas que se dirigiam até o Oriente para resgatar os locais sagrados para os
cristãos e que estavam nas mãos dos islâmicos. No entanto, essas expedições ganharam outras
dimensões ao trazerem para a Europa Ocidental produtos orientais, como as especiarias.

O comércio retomava suas atividades após mais de um milênio de predomínio agrícola. O mar
Mediterrâneo voltava a receber expedições comerciais que interligavam o Ocidente com o
Oriente. As cidades italianas de Gênova e Veneza fizeram acordos comerciais com os islâmicos
a fim de manter a abertura do Mediterrâneo para essa nova onda comercial.

Surgia nesse contexto a burguesia, uma classe social formada por comerciantes que
enriqueceram com as trocas comerciais de produtos orientais. Ao redor dos feudos se formavam
as feiras, que faziam as negociações dos produtos; instalava-se os primeiros bancos para fazer as
conversões monetárias, e as moedas voltavam a circular no Ocidente.

Após séculos de domínio eclesiástico sobre a produção cultural, o período final do feudalismo
marcou a retomada o cientificismo, ou seja, da pesquisa científica no estudo sobre a natureza.
Temendo represálias da Igreja, muitos cientistas faziam seus experimentos às escondidas. O
humanismo começava a se fortificar na Europa, um movimento cultural que valorizava o ser
humano e toda sua potencialidade. Mesmo mantendo as temáticas religiosas, as produções
artísticas no final da Idade Média apontavam para as expressões de traços humanos na pintura e
escultura.
Essas mudanças na Europa Ocidental são chamadas de renascimento. O europeu da transição da
Idade Média para a Idade Moderna buscava fazer renascer os princípios humanistas que
caracterizaram a cultura clássica greco-romana. O teocentrismo, Deus no centro do Universo,
cedia lugar para o antropocentrismo, o ser humano como centro e principal medida de todas as
coisas.

A crise do feudalismo não foi apenas pela retomada dos valores greco-romanos. A peste negra
foi uma doença altamente infecciosa e que se alastrou por toda a Europa, matando 1/3 da
população. Com o excesso de trabalho e desejosos por sair dos feudos e mudar de vida nas
cidades, os servos de revoltaram contra os seus senhores, encerrando um período de mais de um
milênio de obrigações e apego à terra.

Os reis começaram a ganhar força política ao liderarem as tropas militares que abafaram as
revoltas servis e atuaram na linha de frente das guerras entre os primeiros reinos europeus,
como a Guerra dos Cem Anos, um conflito envolvendo a França e a Inglaterra. De chefes
militares, os reis ganhavam poderes políticos e começavam a se tornar monarcas absolutistas,
característica dos reinos modernos.

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