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Termo Idade Média – os preconceitos

Renascimento (XIV-XVI) [criou o termo Idade Média] e Iluminismo (XVIII) =


visão de Idade das Trevas, Dark Ages, Tenebrae, “longa noite de mil anos”. Estes
ainda enfatizam como a Idade Média seria um período entre duas crises – a crise do
século III e a crise do século XIV.

SE A TORTURA, A INTOLERÂNCIA, A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER E OS


CRIMES HEDIONDOS EXISTIRAM EM ROMA, E INFELIZMENTE AINDA EXISTEM
HOJE, POR QUE AINDA SE DIZ QUE ESSAS PRÁTICAS SÃO “MEDIEVAIS”?

Romantismo (XIX) = idealização da Idade Média, “encantada” – usa-se a Idade


Média para exaltar o nacionalismo, criado no século XIX. Os nazistas apropriaram-se
da visão romântica de Idade Média a ponto de Heinrich Himmler, chefe da SS
(Esquadrão de Proteção, responsável pelo extermínio de judeus) acreditar ser a
reencarnação de Henrique I (876-936).

Por que a Idade Média não são Trevas? Surgimento das religiões islâmica e
ortodoxa, o embrião dos futuros países europeus, das línguas modernas, as primeiras
universidades, os hospitais, as notas musicais, instrumentos como o alaúde e o
órgão, o canto polifônico, os bancos etc. Muitos avanços ocorreram na física, na
ótica, na astronomia, na alquimia, na medicina, na anatomia, na agricultura e na
filosofia. A própria ideia de uma Europa, com sua unidade e diversidade, é uma
criação medieval. A cultura greco-romana não se perdeu: os pensadores cristãos
utilizaram muitos elementos da filosofia greco-romana, especialmente Platão,
Aristóteles e os estoicos, para formular a teologia cristã. Os mosteiros conservavam
grandes bibliotecas.
É equivocada a afirmação de que a Idade Média foi o período mais violento e
intolerante da história. O século XX superou todos os outros nesse quesito. Além
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disso, é na Idade Moderna que a Inquisição atuou de forma mais intensa e morreram
mais pessoas em guerras de religião.

Veja, abaixo, trechos do livro História Medieval, lançado em 2019 pela


editora contexto, escrito pelo professor da USP Marcelo Cândido:
“A deposição do último imperador romano do Ocidente, em 476, não
significou o fim das tradições e das instituições romanas, da mesma forma que o
final da Antiguidade não trouxe consigo a regressão da vida econômica ou o
desaparecimento do Estado e das atividades comerciais. Os povos bárbaros não
conquistaram o Império, mas se integravam ao mundo romano, tanto pela
violência quanto por acordos pacíficos. É por isso que a expressão “invasões
bárbaras” caiu em desuso, tendo sido substituída por ‘migrações bárbaras’. (...) Os
reinos bárbaros mantiveram o latim como a sua língua oficial, assim como
preservaram as instituições e leis criadas no Império Romano tardio (...) A Idade
Média foi também uma época de expansão geográfica, política, econômica e
cultural. (...) Apesar da perda de quase toda a península ibérica para os
muçulmanos, no início do século VIII, a cristianização da Germânia, da
Escandinávia, das ilhas Britânicas, da Boêmia, da Polônia, da Hungria e da Croácia
integrou novos territórios àquilo que se convencionou chamar de Cristandade. As
cruzadas, a partir do século XI, fundadas na ideia de guerra praticada em nome de
Deus, foram um segundo momento dessa expansão (...) O Mediterrâneo funcionou
igualmente como um espaço de contatos culturais e de trocas comerciais entre
cristãos, judeus e muçulmanos (...) A agricultura medieval foi capaz de produzir
excedentes que alimentaram grandes circuitos comerciais, tanto no Mediterrâneo,
quanto no norte da Europa, e que foram responsáveis pelo desenvolvimento
urbano dos séculos XI, XII e XIII (... ) A repressão e a censura não impediram o
florescimento da literatura e das artes. Um bom exemplo foi o advento das
universidades (...) Em suma, nem tempo de decadência, nem época de ouro” p. 9-12.

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IMPÉRIO BIZANTINO (IV-XV)

 ORIGEM: Império Romano do Oriente.

2. CAPITAL: Constantinopla.

 LÍNGUA OFICIAL: Grego.

 ESTRUTURAS RELIGIOSAS:

 Cesaropapismo: No Império Bizantino, poder temporal e espiritual, a cruz e a


espada, estavam unidos. Em outras palavras, enquanto, no Ocidente, a Igreja Católica
afirmava-se como um poderio acima dos reis, no Oriente, o Imperador controlava a
religião cristã – no Oriente, ele era intérprete da religião, juiz e definidor de dogmas.

 Debates religiosos - Os Monofisistas (physis = natureza)


 (732-843): Movimento Iconoclasta: controvérsias sobre imagens e relíquias
religiosas
 768: Imperador perde poder de aprovar a nomeação do papa romano. Ele
perdeu também o poder de aprovar os reis bárbaros do ocidente.
 Cisma do Oriente: 1054: o Patriarca Miguel Cerulário, excomungou o Papa, Leão
IX; o Papa, em represália, excomungou o Patriarca. Era o Cisma do Oriente, que criou,
por um lado, a Igreja Católica Romana, encabeçada pelo papa em Roma, e, por outro,
a Igreja Ortodoxa Grega, encabeçada pelo Patriarca.

5. ESTRUTURAS POLÍTICAS

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 “Um só senhor, uma só fé”: rei basileus, isto é, possuía autoridade absoluta, e
isapóstolos, ou seja, divino, equivalente aos apóstolos.
 O trono estava aberto aos que tentassem: dos 107 imperadores bizantinos,
apenas 37 tiveram morte natural

 Justiniano (527-565):
I - Tentou reconstruir o antigo Império Romano
II - Revolta de Nike ou Nika
III - Igreja de Santa Sofia
IV - Corpus Juris Civilis (Corpo de Direito Civil)

6. ESTRUTURAS ECONÔMICAS E SOCIAIS

 Durante o período romano as regiões orientais não dependiam tanto da


escravidão; por isso, quando o Império Romano entrou em crise, no século III, elas
mantiveram certa pujança comercial.
 Comércio: da China, da Índia e do Ceilão chegavam várias mercadorias,
especialmente os tecidos de seda. Em seu território, desembocavam as principais
rotas comerciais da época. Seu território agregava também excelentes portos, em
Alexandria, Síria, Anatólia, Grécia, mar Negro e, sobretudo, Constantinopla.
 Decadência: decadência comercial do Império = a partir do século XII, com a
ascensão das cidades italianas (Gênova, Veneza e Pisa) – 4ª Cruzada se relaciona
com o Império Bizantino.
 Sociedade: no topo estava o imperador e sua família, abaixo uma ampla
burocracia com títulos nobiliárquicos, o clero e uma elite formada por ricos
fazendeiros, comerciantes, funcionários públicos e donos de oficinas. As camadas
intermediárias eram compostas por agricultores, pequenos comerciantes, artesãos e
o baixo clero. As camadas pobres eram compostas pela maioria da população
camponesa, servil ou escravos (embora não fossem maioria).

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 Pronoia: o Estado dava um lote de terra a algum nobre e ele poderia cobrar
impostos daqueles que moravam em suas terras. Em troca, o nobre deveria treinar os
camponeses para serem soldados do Império.

Leitura – Arte e Cultura


A cultura bizantina era herdeira da tradição helenística (adotando língua
grega e outros elementos culturais gregos mesclados com o mundo oriental), ao
mesmo tempo em que pretendia salvaguardar a herança romana (especialmente no
campo político-institucional, com o direito, diplomacia, política fiscal, organização
militar, concepção de supremacia do Estado) e baseava-se numa ortodoxia religiosa
cheia de verdades definitivas e transcendentes. A influência persa e islâmica,
posteriormente, também se mostra presente no mundo bizantino.
A filosofia sempre representou uma grande paixão na vida bizantina. No
século XI, a universidade de Constantinopla retomou e reconstituiu Platão. O
neoplatonismo de Psellos prosseguiu até o fim do império. Na geometria, astronomia
e matemática, predominaram os paradigmas gregos. Na medicina, ficavam os
elementos hipocráticos. A teologia permaneceu como uma ciência à parte,
recebendo influências do escolasticismo ocidental. Em termos lingüísticos, o latim
era muito pouco empregado: o grego – língua oficial – merecia todas as atenções. A
geometria, por sua vez, prosseguiu apenas em termos de cartografia. A grande
engenharia bizantina é lembrada pelos animais de bronze que rodeavam o trono
para impressionar os visitantes
A literatura primava-se pelos autores clássicos, permanecendo grega, erudita,
arcaica, imitativa e artificial. O destaque é a literatura teológica, uma das grandes
paixões do império cristão, e a literatura histórica. Os gregos, aliás, foram adaptados:
suas idéias apareciam em defesa da religião. A teologia ocidental era desconhecida
e desprezada.
A arte bizantina combinava o luxo, o misticismo e a exuberância orientais
com o equilíbrio, a fluidez e a sobriedade dos gregos. A clareza do objeto e intenções

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orientais triunfara, mas a delicadeza e a sofisticação clássicas também são
garantidas.
A arquitetura traz grandes transformações: sua maior glória é a Igreja de Santa
Sofia. Ela ostenta uma cúpula de 32 metros de diâmetro e 60 de altura, dando a
impressão de que está suspensa no ar. Artistas revestiram-na de mosaicos azul e
verde sobre fundo negro, com figuras geométricas ou animais e, destacadas cenas do
Evangelho e a imagem de Cristo. Justiniano, maravilhado com a obra, agradeceu a
Deus ser “digno de completar tão grande obra e ultrapassar o próprio Salomão”. A
presença abóbada é uma grande marca da influencia oriental sobre a arte bizantina.
O Palácio Imperial, por sua vez, reúne várias tendências arquitetônicas, por
ter sido muitas vezes reformado e acrescido.
A mais famosa expressão artística bizantina são os seus mosaicos, que

possibilitam grandes efeitos sem perder a simplicidade e a obviedade.


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O estilo artístico bizantino, segundo o qual as pinturas deveriam ser
exclusivamente religiosas, está submetido a normas fixas:

- Hieratismo (forma rígida e majestosa),


- Frontalidade (imagem só é representada de frente, buscando imagens rígidas,
rodeadas por anjos e com as dignidades centrais geralmente inexpressivas e,
portanto, intocáveis)
- Tricromatismo (azul, dourado e o ocre, normalmente)
- Isocefalia (cabeças com mesma altura),
- Isodactilia (dedos de uma mão do mesmo tamanho)
- Hierarquia dos espaços (das figuras mais sagradas para as menos sagradas).
- Romper com essas concepções artistas era um sacrilégio, acarretando na
punição do artista.

Autoria: Daniel Gomes de Carvalho

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