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Notação Científica e Ordem de Grandeza

O interesse das ciências é desenvolver um estudo atento da natureza. Como


acontecem os fenômenos observados? Quais são os processos envolvidos? Como é
possível desenvolver alguma tecnologia com base no fenômeno estudo? Mas, para que
essas e outras perguntas possam ser respondidas é essencial que se aplique e se
respeite a metodologia científica.
Com metodologia científica, estamos nos referindo a um conjunto de práticas,
formas de comunicação, linguagem específica, padrões de escrita e expressão que fazem
parte do fazer ciência. Claro que não será possível esgotar esse assunto aqui, mas
vamos falar sobre MEDIÇÕES, FORMA DE EXPRESSÃO DE UM RESULTADO e
UNIDADES DE MEDIDA.

Medições
Uma das principais práticas na Física é a medição. Medições cuidadosas e
precisas produzem os dados que serão posteriormente analisados e que, eventualmente,
serão importantes para o desenvolvimentos de novas teorias. Para se ter uma ideia de
sua importância, existe uma área específica em ciência que trata sobre técnicas e teorias
de medição, é a Metrologia.
Em ciências de maneira geral e em Física de maneira mais específica, aquilo que
se mede é chamado de ​grandeza​, o valor medido é o ​módulo​, ​intensidade ​ou
simplesmente ​valor ​da grandeza e a ​unidade de medida ​é a referência utilizada para
fazer a medição.
Digamos que em um experimento seja necessário medir a distância entre dois
pontos. A distância, é a grandeza sobre a qual se deseja informação. O físico
experimental, vai primeiramente selecionar o equipamento adequado para a medição, que
pode ser uma régua, uma trena, um medidor a laser ou um satélite em órbita, etc. Todos
esses equipamentos podem fornecer informações de distância, com alcances e graus de
precisão diferentes, é verdade, mas todos podem informar o valor da distância.
A seleção do equipamento passa também pela escolha da unidade de medida a
ser utilizada, alguns equipamentos permitem a leitura em mais de uma unidade de medida
e cada grandeza pode ser medida em um número grande de unidades de medida. A
distância entre dois pontos pode ser medida em milímetros, centímetros, quilômetros,
jardas, pés, anos-luz etc.
Perceba que cada unidade corresponde a apenas uma grandeza, mas cada
grandeza pode corresponder a muitas unidades. A unidade metros, por exemplo, mede a
grandeza distância e só, mas a grandeza tempo, por exemplo, pode ser medida em
segundos, minutos, meses, anos, eras etc.
Dessa forma, a estrutura básica para se expressar um resultado em física é
GRANDEZA = VALOR ​e ​UNIDADE DE MEDIDA​. Abaixo é exemplificada a expressão do
valor 20 na unidade metros por segundo para a grandeza velocidade.

É muito comum que se esqueça de expressar as unidades de medida, mas


lembre-se de que, em Física, as unidades de medida são tão importantes quanto os
valores, uma unidade de medida vai fornecer a referência a partir da qual se está fazendo
alguma medida.
As grandezas podem ser ​fundamentais​, aquelas que podem ser medidas de
maneira mais direta na natureza, ou ​derivadas​, quando são resultado de relações entre
outras grandezas. Comprimento ou distância entre dois pontos é um exemplo de
grandeza fundamental pois seu valor é obtido diretamente da natureza por meio de
diversos tipos de medições. Já a velocidade depende de que um determinado corpo se
mova por uma distância em um intervalo de tempo. Assim, a velocidade deriva da relação
de mudança de espaço pelo tempo, é portanto, uma grandeza derivada.
No momento de selecionar o equipamento adequado à sua medição, o físico
experimental deverá calibrar a ​precisão ​do equipamento. A precisão indica o quanto o
número medido está distante do número real. Se em uma fabricante de veículos for
preciso medir o tempo necessário para um carro parar, após os freios forem acionados, é
possível fazer essa medida com um relógio, mas pode ser que demore um tempo entre
perceber a parada e marcar os segundos dados pelo relógio, pode ser que meus olhos se
enganem quanto à posição dos ponteiros etc. Digamos que se meça o tempo de 3
segundos para a parada do veículo, dadas as possibilidades de imprecisão citadas é
preciso adicionar um possível desvio na medida. Digamos que o erro em questão seja de
1 segundo para mais ou para menos. Dessa forma mesmo que a medida feita tenha sido
3 segundos, o valor real está em algum lugar entre 2 e 4 segundos.

Por mais que se cuide dos fatores de erro,


para que influenciem pouco na medida, 1
segundo é um tempo grande demais
quando o assunto é tentar evitar acidentes.
É possível então trocar o equipamento de
um relógio para um cronômetro que
fornecerá o valor de tempo em centésimos
de segundos. Considerando as mesmas
possibilidades de erro a medida feita agora
é de 2,92 segundos, agora é possível
restringir a posição do valor real como
estando em algum lugar entre 2,89 s e
2,95 s. Se o equipamento for trocado para
um cronômetro óptico com precisão de
milésimos de segundos é possível medir o
tempo de freada em 2,918 segundos o que colocaria o valor real entre 2,912 s e 2,922 s
aproximadamente. Ainda não foi possível atingir o valor real, mas um aumento de
precisão coloca o valor medido muito mais próximo do valor real. Perceba que quanto
maior a precisão, em geral, maior será o número de casas depois da vírgula.
É também importante notar que o equipamento tem papel fundamental no nível de
precisão da medida feita. Medir uma distância em palmos, pode gerar uma imprecisão
muito grande. Usar uma régua é interessante se queremos saber se um sofá cabe no
espaço da sala. A régua possui divisões em milímetros o que nos permite uma precisão
de até 0,5 milímetro.
Veja que na imagem ao lado, olhando com atenção é possível indicar a medida de
4,75 cm aproximadamente. Como esses valores nos dão informação, dizemos que são
algarismos significativos, os dois primeiros são algarismos certos, não há dúvida de que a
medida da peça está acima de 4,7 cm e abaixo de 4,8 cm, mas o último algarismo é um
chute, um chute consciente claro, mas sobre o qual não é possível ter certeza.
Chamamos este de algarismo duvidoso, pois o valor da medida da peça pode ser 4,74 cm
ou 4,75 cm ou 4,76 cm. São todas medidas possíveis e obtidas a partir da mesma
observação.
Mas se for necessário uma precisão maior do que essa, será preciso lançar mão de
um equipamento que consiga medir
dimensões ainda menores. O
paquímetro é um equipamento que
permite um nível maior de precisão.
Com paquímetros é possível medir até
centésimos de milímetros, ou seja. Se a
medida anterior fosse feita com um
paquímetro, seria possível expressar o
resultado como 4,754 cm. Perceba que
agora, o número de algarismos
significativos aumentou, até o segundo
algarismo depois da vírgula temos um
alagarismo certo, enquanto que só o
terceiro será o algarismo duvidoso. Quanto maior a precisão, maior o número de
algarismos significativos.

Notação Científica
Muito bem, agora que você conhece a estrutura geral para se apresentar um
resultado, vamos olhar com mais calma para os valores e como representá-los.
Os fenômenos da natureza podem ser estudados por meio da matemática, e essa
matemática por vezes fornece valores que são razoáveis e está de acordo com nossas
percepções cotidianas. Dizer que algo mede 20 metros ou que uma cidade está a 300 km
de distância, não surpreende ninguém. Mas quando os valores estão muito fora dos
limites de nossa percepção, é muito difícil que o cérebro processe esses números.
Por exemplo, para estudar o Universo é necessário utilizar a luz e considerar suas
propriedades, como a velocidade. No vácuo, a luz percorre 300.000 quilômetros a cada
segundo. Isso é muito, mas as distâncias do Universo são tão grandes que é muito
comum utilizar anos-luz como unidade de distância, isso significa utilizar a distância
percorrida pela luz durante um ano, viajando à velocidade de 300.000 km/s. Bom um
ano-luz (1 al) é equivalente a 9.460.800.000.000 km. Para se ter uma ideia, a estrela mais
próxima de nosso Sol está a 4 al de distância, mas a grande maioria está bem mais
distante do que isso. Apenas nossa galáxia possui cerca de 105.700 al o que corresponde
a 1.000.006.560.000.000.000 km, e isso ainda é pouco. O Universo visível tem cerca de
13.000.000.000 de ano-luz de raio, o que em quilômetros seria um número tão absurdo
que nem vale a pena representar aqui.
Espero que tenha ficado claro que nosso cérebro tem dificuldade em processar
números tão grandes e que fazer contas com esses números seria também difícil, não só
para humanos, mas até mesmo para máquinas. Felizmente, desenvolveu-se a ​Notação
Científica​, que é uma forma de compactar a representação de números tão grandes
quanto os apresentados simplificando sua leitura e processamento.
A notação científica possui a seguinte estrutura; um número N , tal que 1 ≤ N < 10
multiplicado por uma potência 10n onde n é um número inteiro.
Primeiro vamos utilizar como exemplo a velocidade da luz 300.000 km/s. A ideia é
escrever esse número no formato de notação científica. Para que a primeira condição seja
satisfeita a vírgula precisará ser deslocada cinco casas para a esquerda de modo que
possamos ter o número 3 que está entre 1 e 10. A segunda parte consiste em contar
exatamente quantas casas a vírgula foi deslocada para então inserir esse valor no
expoente da potência de dez. Temos então que:

300.000 km
s
= 3 · 105 km
s
Perceba que o expoente da base de dez corresponde ao número de casas que a
vírgula foi deslocada e não ao número de zeros do número original. Considere a distância
em quilômetros para um ano-luz e veja a conversão para notação científica.

9.460.800.000.000km = 9, 46 · 1012 km

Mas nem só de números gigantes vive a natureza, também é preciso considerar os


números muito pequenos tais como o valor do diâmetro de um átomo que é de
0,0000000001 m. O cérebro humano possui igual dificuldade para processar números
muito grandes ou muito pequenos, por isso, é interessante poder escrever esse número
também em notação científica. Ficamos então com
0, 0000000001m = 1 · 10−10 m

Perceba que para obedecer à primeira condição da escrita em notação científica,


foi necessário agora que a vírgula se deslocasse para a direita, isso faz com que o sinal
do expoente seja agora negativo, indicando que o valor é muito pequeno.
É possível executar as operações matemáticas básicas com números em notação
científica. Para soma e subtração, é preciso garantir que as potências de 10 estejam com
o mesmo expoente. Veja o exemplo a seguir:

3, 24 · 108 + 4, 56 · 105
324 · 106 + 0, 456 · 106
324, 456 · 106
3, 24456 · 108

Perceba que durante a conta não é necessário sempre utilizar notação científica,
mas é importante que o resultado final esteja nesse formato. Note também que alterando
a posição da vírgula da primeira a segunda linha, foi alterado o valor do expoente na
potência de 10. Se a vírgula é deslocada para a direita, é preciso subtrair do expoente da
potência de dez a quantidade de casas que a vírgula foi deslocada. Se a vírgula foi
deslocada para a esquerda é preciso adicionar a quantidade de casas ao valor do
expoente da potência de 10. Só depois que o expoente da potência de 10 é igual nas
duas parcelas é que a soma do número N é realizada enquanto a potencia de 10 é
mantida.
Para multiplicação e divisão observe o exemplo abaixo:

3, 24 · 108 × 4, 56 · 105
3, 24 × 4, 56 × 108 × 105
14, 7744 · 1013
1, 47744 · 1014

Perceba que foi feita primeiro a multiplicação do número N e depois foi resolvida a
potência de dez obedecendo as regras de potenciação; no caso de multiplicação,
mantendo a base dez e somando os expoentes. Se fosse uma divisão, bastaria dividir os
números N e subtrair os valores dos expoentes da potência de dez.

Ordem de grandeza
Em Física é também muito interessante avaliar a ordem de grandeza de
determinados valores. A ordem de grandeza está relacionada ao valor da potência de dez
da notação científica, mas não só isso, é preciso também avaliar o número N .
Em um número representado como N · 10n , se N ≤ 3, 16 então a ordem de
grandeza do número será 10n , mas se N > 3, 16 então a ordem de grandeza será 10n+1 .
O valor 3, 16 é aproximado de raiz de 10, raiz de 10 é o mesmo que 10​0,5 e esse é
o valor médio do expoente entre 0 e 1. Ou seja 10​0 = 1. 10​1 = 10. O ponto médio entre 0 e
1 é 0,5, 10​0,5 é o mesmo que a raiz quadrada de 10 o que nos dá 3,16 como valor limite
de determinação da ordem de grandeza.

Unidades de medida
Embora já se tenha falado a respeito das unidades de medida, vale voltar ao
assunto para destacar mais alguns pontos importantes.
O uso de unidades de medida, embora muito importante para o desenvolvimento
da Física, só foi padronizado no final do século XIX pelo Bureau Internacional de Pesos e
Medidas, na França. Antes disso, cada país, as vezes cada região possuia um padrão
próprio. Durante o feudalismo, era comum que essas unidades de medida se referissem à
parte do corpo do senhor das terras. Uma polegada por exemplo dizia respeito ao
tamanho do polegar do senhor de determinada região, o problema é que ao mudar de
região, mudava-se de senhor, portanto o tamanho da polegada era outro. Essa falta de
padronização dificultava grandemente o comércio entre regiões diferentes, atrapalhava a
produção e o desenvolvimento científico.
Com a padronização das unidades, o Bureau Internacional de Pesos e Medidas
estabeleceu padrões internacionais para diversas unidades de medida importantes.
Estabeleceu por exemplo o metro padrão, que nada mais era do que uma barra de platina
que, por convenção, possuia 1 metro. Qualquer régua, ou equipamento de medida, em
qualquer lugar do mundo, deveria ser calibrado de acordo com esse metro padrão. O
Bureau estabeleceu esse padrão para diversas outras grandezas tais como massa,
temperatura, volume, velocidade, carga elétrica etc. O conjunto dessas unidades
relacionadas a grandezas específicas é chamado de ​Sistema Internacional de
Unidades ou S.I. De acordo com o S.I. cada grandeza possui apenas uma unidade de
medida correspondente, embora possam ser utilizadas outras unidades localmente,
qualquer trabalho internacional deve considerar as unidades do S.I.
Embora não esteja completa, a tabela abaixo apresenta algumas das principais
unidades do S.I. relacionadas às suas grandezas correspondentes. Lembre-se de que se
o exercício pedir as respostas em S.I. já é esperado que você saiba quais são as
unidades das grandezas específicas para apresentar essa resposta.

Para se ter uma ideia da


importância das unidades
de medida e do S.I., em
1999 uma equipe da NASA precisava enviar uma sonda para pesquisar a superfície de
Marte. Acontece que o equipamento havia sido projetado em S.I. mas o software estava
sendo alimentado com informações em cgs​1​. Resultado, no processo de entrada, o
equipamento apresentou comportamento inadequado devido às informações conflitantes,
explodindo na atmosfera do planeta vermelho e gerando um prejuízo de 125 milhões de
dólares.
Também é importante destacar que no caso de unidades de medida, é comum
utilizar prefixos, que são símbolos escritos junto ao símbolo das unidades e que possuem
um valor associado a eles.
No sistema internacional a unidade para medir distância é o metro (m), mas é
possível fazer uma medida de distância em ​quilo-​metro (km). Um quilômetro corresponde
a mil metros. No sistema internacional a unidade para massa é a grama (g), mas é
possível fazer uma medida de massa em ​quilo-​grama (kg) e um quilograma corresponde
a mil gramas. Em comum nesses dois casos foi a utilização do prefixo quilo (k) antes das
unidades, e quando isso foi feito passou-se para uma unidade que é mil vezes maior do
que a original, portanto, concluímos que o prefixo quilo (k) corresponde a 1000 = 10³.
Perceba que embora a potência de 10 seja utilizada aqui, não se está lidando com
notação científica, apenas com múltiplos de uma unidade de medida. Observe que os
prefixos podem ser utilizados em qualquer unidade em relação a qualquer grandeza pois
só indicam o múltiplo de uma unidade. A tabela abaixo mostra alguns prefixos e seus
valores correspondentes.

1
Sistema de unidades próprio dos EUA, cgs (centímetro, grama, segundo).
Para aprofundar:
- Documentário: “Precisão: A medida de todas as coisas”.

- TED-Ed: Por que o sistema métrico é importante - Matt Anticole​ (ligar legenda)
- Potências de 10

Bibliografia:
- SARKIS, N.; PIRES M. A. F.; GUADALUPE A. O. Física Pré-Vestibular (Poliedro) - Vol 1 - São José dos Campos, 2015.
- YAMAMOTO, K; FUKE, L. F.; Física para o Ensino Médio. Ed. Saraiva - vol. 1 - São Paulo, 2010.

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