Referência: Dutra, Crysman. Uma breve história da filosofia
analítica. Sapere aude, Belo Horizonte, v. 9, n. 18, jul./dez. 2018, pp. 506-514. A filosofia analítica
A filosofia analítica é um evento recente na
cronologia histórica da filosofia, o seu início data dos primeiros anos do século XX: esse período é caracterizado por grandes transformações que ocorreram no campo da lógica. Foram esses desenvolvimentos e mudanças no modo de compreensão da lógica no interior da filosofia que originaram a ampla corrente que designamos como filosofia analítica. A filosofia analítica
Desenvolvida ao longo do século XX, a
filosofia analítica caracteriza-se, principalmente, por uma profunda renovação da metodologia filosófica e inauguração de uma nova forma de conduzir os estudos filosóficos: de modo geral, a filosofia analítica designa uma corrente da filosofia contemporânea que reivindica um modo de fazer filosofia diferente daquele consolidado pela tradição filosófica geral. A filosofia analítica
Em termos geográficos, a filosofia analítica
predomina no mundo anglo-americano. É dominante em países de língua inglesa e na tradição filosófica ligada a eles, contrastando com uma outra tradição filosófica chamada, em oposição, de “filosofia continental”, baseada majoritariamente em autores franceses e alemães, de direcionamento dialético, existencialista ou fenomenológico. A filosofia analítica
Com Russell e Moore, na Inglaterra, a
filosofia analítica nasce em oposição direta à filosofia do idealismo alemão, principalmente o hegelianismo. O surgimento da filosofia analítica marcou, portanto, uma nova divisão entre modos de se fazer filosofia. Os próprios filósofos analíticos forjaram o termo filosofia continental para referir-se às várias tradições filosóficas procedentes da Europa Continental, principalmente da Alemanha e da França. A filosofia analítica A filosofia analítica nasce do sentimento de repúdio face ao idealismo alemão, sobretudo diante das fontes bibliográficas de Kant e Hegel. O último foi o maior alvo de ataque do primeiro período da filosofia analítica. Russell e Moore tiveram contato nos primeiros anos de formação com o Idealismo alemão e, posteriormente, romperam drasticamente, por considerar que a metafísica hegeliana é uma forma de obscuridade e que trata de pseudoproblemas; enquanto a filosofia que surgia na Inglaterra, desencadeada pelo seu rompimento, era marcada pela clareza e atenção à normativa lógica. Justamente essa divisão que dá combustível à rixa entre os filósofos analíticos e continentais na filosofia contemporânea. A filosofia analítica A filosofia analítica nasce do sentimento de repúdio face ao idealismo alemão, sobretudo diante das fontes bibliográficas de Kant e Hegel. O último foi o maior alvo de ataque do primeiro período da filosofia analítica. Russell e Moore tiveram contato nos primeiros anos de formação com o Idealismo alemão e, posteriormente, romperam drasticamente, por considerar que a metafísica hegeliana é uma forma de obscuridade e que trata de pseudoproblemas; enquanto a filosofia que surgia na Inglaterra, desencadeada pelo seu rompimento, era marcada pela clareza e atenção à normativa lógica. Justamente essa divisão que dá combustível à rixa entre os filósofos analíticos e continentais na filosofia contemporânea. A filosofia analítica
A filosofia analítica caracteriza-se, de modo geral,
pela valorização da clareza e precisão argumentativa, utilizando-se da lógica formal, análise conceitual e, principalmente, de métodos inspirados nas ciências exatas, em especial da lógica matemática. Tem suas raízes num movimento conhecido como positivismo lógico do século XX e os expoentes da filosofia analítica são os filósofos Bertrand Russell, Gottlob Frege e Ludwig Wittgenstein. A virada linguística
Entre o século XIX para o século XX, a filosofia
passou por uma nova e profunda transformação, a qual nos referimos como “virada linguística”, justamente, sob a influência de Frege, Russell e Wittgenstein. Esse novo modo de fazer filosofia foi motivado pela hipótese de que a lógica desenvolvida nesse período poderia ter consequências filosóficas gerais e ajudar na análise de conceitos e no esclarecimento das ideias. Filosofia analítica e lógica
A atividade filosófica foi amplamente redefinida e
passa a ser considerada basicamente como um método lógico de análise do pensamento. Em seguida, com os autores do Círculo de Viena, além dos positivistas lógicos, a filosofia passou a ser vista como método de análise da ciência, ou ainda uma tentativa de descrever conceitos que construíram o esquema conceitual. No intuito de dissipar qualquer vestígio de metafísica, os filósofos do Círculo de Viena, Carnap o mais conhecido, pretenderam unificar as ciências naturais em torno de uma linguagem logicamente perfeita. Gottlob Frege (1848-1925) A lógica simbólica de Frege se contrapõe ao sistema do silogismo aristotélico, pois os conceitos de sujeito e predicado são substituídos pelos de argumento e função. Tal empreendimento também se constitui numa tentativa de reduzir os axiomas da matemática à lógica simbólica. A lógica simbólica ou matemática aplicada à linguagem traduz, com o auxílio do método lógico-matemática, as frases de nossa linguagem natural em outras que espelhem mais adequadamente a estrutura lógica efetiva de nossas expressões. O grande contributo de Frege para a lógica matemática foi a criação de um sistema de representação simbólica para representar formalmente a estrutura dos enunciados lógicos e suas relações, e a contribuição para a implementação do cálculo dos predicados. Ao contrário de Aristóteles, que procurava identificar as formas válidas de argumento, e as assim chamadas “leis do pensamento”, a preocupação básica de Frege era a sistematização do raciocínio matemático, ou dito de outra maneira, encontrar uma caracterização precisa do que é uma “demonstração matemática”. Frege havia notado que os matemáticos da época frequentemente cometiam erros em suas demonstrações, supondo assim que certos teoremas estavam demonstrados, quando na verdade não estavam. Para corrigir isso, Frege procurou formalizar as regras de demonstração, iniciando com regras elementares, bem simples, sobre cuja aplicação não houvesse dúvidas. O resultado que revolucionou a lógica foi o desenvolvimento do cálculo de predicados (ou lógica de predicados). Frege encontra submetida a atividade de pensar, o que de melhor pode a lógica lhe oferecer é uma base sólida para a invenção de modos de formulação simbólica de proposições mais aptos que os oferecidos pela linguagem comum a permitir, no curso das demonstrações, o discernimento das articulações lógicas envolvidas. Em si mesmos independentes, segundo ele, de como se possam, e mesmo de que se possam, exprimir lingüisticamente, os conteúdos das proposições aritméticas (como, de resto, os de quaisquer proposições verdadeiras ou falsas) intervêm, contudo, na esfera do pensar e do julgar humanos indissoluvelmente atados a roupagens simbólicas. Bertrand Russell (1872-1970) Com o advento da física de Einstein e da geometria não euclidiana, o sistema kantiano ficou em xeque e os filósofos passaram a procurar um modo de justificar os fundamentos da matemática e da lógica. Para Russell, as relações e propriedades da matemática são dedutíveis da lógica. Assim, todo o conhecimento que se dispõe acerca das verdades da matemática é analítico, ou seja, são proposições verdadeiras em virtude das definições dos termos. De acordo com Russell, a filosofia analítica tem mais qualidades da ciência do que da própria filosofia produzida anteriormente, uma vez que na filosofia analítica incorpora-se a matemática e poderosas técnicas lógicas, chegando-se a resultados definitivos. Isto acontece pois filósofos analíticos atacam os problemas um de cada vez, provando ou refutando hipóteses sobre aspectos específicos do mundo, da linguagem ou da mente humana. O mesmo não acontece com os filósofos que Russell chamou de “construtores de sistemas”, aqueles que desenvolveram sistemas complexos para explicar o funcionamento do mundo, estes precisavam construir de uma só vez uma teoria que explicasse todo o universo, caso um único item fosse refutado pelos fatos ou por outra teoria, todo o sistema desmoronaria. O mesmo não acontece com a filosofia analítica, quando uma tese é derrubada ou refutada, a filosofia analítica avança com esta conclusão. Russell elaborou algumas das mais influentes teses filosóficas do século XX, e, com elas, ajudou a fomentar uma das suas tradições filosóficas, a filosofia analítica. Dentre essas teses, destacam-se a tese logicista, ou da lógica simbólica, de fundamentação da matemática. Segundo Russell, todas as verdades matemáticas - e não apenas as da aritmética, como pensava Frege - poderiam ser deduzidas a partir de umas poucas verdades lógicas, e todos os conceitos matemáticos reduzidos a uns poucos conceitos lógicos primitivos. Ludwig Wittgenstein (1889-1951) Wittgenstei foi fundamental para a virada linguística da filosofia. Isso porque uma das ideias presentes no seu primeiro trabalho (Tractatus Logico-Philosophicus) é de que os problemas filosóficos surgem de uma falta de compreensão da lógica da linguagem. As ideias formuladas no Tratactus, destinadas a elucidar a essência da lógica e do mundo, bem como os fundamentos da matemática. Essa tarefa, na perspectiva de Wittgenstein, fornece a capacidade de resolução dos problemas da filosofia que são, em última análise, problemas originados pelo mau uso da linguagem, cujos pressupostos epistemológicos são obtidos mediante o atomismo lógico de Russell.