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Idade Média SÉCULO V A XV

A historiografia divide o período em dois


momentos:
A LT A I D A D E M É D I A BAIXA IDADE MÉDIA

• Séculos V ao X • Séculos X ao XV
• Início: desagregação do Império • Fim: tomada de Constantinopla pelos
Romano turcos
Idade Média, Idade das Trevas
• Média – aquilo que está no meio.
• No meio de quê? No meio da Antiguidade e da Idade Moderna.
• Os pensadores da Idade Moderna, principalmente os ligados ao movimento do
Renascimento artístico e cultural, se inspiravam nos antigos, gregos e romanos.
• Consideravam como cultura valiosa aquilo que produziam, e o que havia sido produzido
pelos antigos. Os séculos que separavam esses dois momentos foi caracterizado como de
retrocesso, atraso, “escuridão” cultural, sob a alegação de que a Igreja, ao dominar todas as
esferas da vida das pessoas, teria impedido o avanço do pensamento, da politica e das artes.
Guerras, fome, pestes...
Esses episódios
também acabaram por
dominar a
caracterização da Idade
Média
• Historiadores como Marc Bloch irão
apontar a complexa organização social das
novas aldeias ou burgos, com a instalação
planejada de castelos, for>ficações e casas
Durante muito tempo, de camponeses; difusão de técnicas rurais

essa abordagem foi e artesanais, etc.

apoiada por
historiadores. É somente
a partir do século XX que
ela será revisada:
Idade Quando pensamos em Idade Média – tanto na sua datação, quanto
na sua caracterização -, estamos pensando em acontecimentos
Média, ocorridos no que hoje conhecemos como Europa.

onde? Mas o mundo ia muito além da Europa – que, aliás, naquele


momento, não passava da periferia do mundo mulçumano.

Tinha uma população relativamente pequena e estava cada vez


mais isolada das principais rotas de comércio, que passavam pelo
Mediterrâneo.

No mundo muçulmano, a Matemática, a Astronomia e as


tecnologias náuticas eram bem mais desenvolvidas que na Europa.
Para além da Europa...

Mundo Árabe

Império Bizantino (ou Império Romano do Oriente)

Reinos Africanos

Reinos Chineses

Impérios Americanos (maias, astecas)


A ideia de Europa, tal como
conhecemos hoje, começa a se
formar na Idade Média
Por que estudar a Idade Média?

Com estudo da Idade Média


Muitos elementos sociais e políticos podemos compreender a matriz de
da atualidade tiveram sua fundação nossas atuais redes urbanas, o
na Idade Média – o historiador sistema de ensino, incluindo o
Hilário Franco Jr., afirma que a Idade sistema universitário, e até mesmo
Média pode ser compreendida formas de comportamento, como a
como o período de nascimento do forma como nos relacionamos
Ocidente. amorosamente e constituímos
família.
ALTA IDADE
MÉDIA
séc. V ao X
O território ocupado corresponde
Mapa do hoje a 49 Estados nacionais;
Império Em 117, sua extensão era de
Romano no 6.500.000 km2;
momento de
maior Nesse mesmo período, a população
estimada era de 88 milhões.
expansão –
ano 117
No início do século
III, essa estimativa
populacional já havia
caído para 26
milhões
Na história, as datas
• Em 395, o Império romano é dividido em duas partes: a ocidental, com sede em Roma, e a
oriental, com sede em Constantinopla (hoje Istambul, Turquia).
• A desagregação do Império romano do ocidente, datada de 476, é o marco adotado para
designar o fim da Idade Antiga e início da Idade Média.
• Contudo, durante toda a Idade Média, o Império romano oriental continua a existir – o
Império Bizantino -, que se mantém unificado até 1453. É a tomada de Constantinopla pelos
turcos nessa data, e a queda do Império Bizantino, que marca o fim da Idade Média, e início
da Idade Moderna.
Os bárbaros
• O termo “bárbaro” surgiu na Grécia por volta do século VI a.C, designando inicialmente
todos os não gregos – o estrangeiro.
• Com o tempo, barbárie passou a servir de contraponto à civilização, e foi incorporado em
várias situações distintas, sempre para nominar o “outro”.
• Os romanos incorporam essa palavra a seu vocabulário, para dizer dos que não eram no
mundo greco-romano.
• Contudo, para os romanos, os “bárbaros” poderiam ser integrados ao Império – durante
alguns períodos, vários povos foram “romanizados”. Bárbaros passaram a ser aqueles que
resistiam à romanização.
Imigrações Os povos bárbaros não
conquistaram o Império, mas se

bárbaras integraram ao mundo romano,


tanto pela violência quanto por
acordos pacícos.

É por isso que a expressão


“invasões bárbaras” caiu em
desuso.
A instalação dos bárbaros no Império Romano –
séculos IV a VI
• Crise no Império Romano: para sustentar os gastos administrativos imperiais, a moeda foi
desvalorizada e os impostos aumentados, gerando revoltas.
• Sucessivas epidemias assolaram a bacia do Mediterrâneo, piorando ainda mais as condições
de vida em grandes extensões do Império.
• Há uma fragilização do Império, favorecendo investidas estrangeiras.
Por que imigravam?

Conitos entre povos


bárbaros – os hunos, por
Como resposta à
exemplo, conhecidos Em busca de melhores
própria expansão
por sua violência, terras.
romana;
avançaram por diversas
vezes para o ocidente;
As relações entre o Império e os bárbaros

• Quando dos primeiros confrontos entre os bárbaros e o Império Romano, algumas inciativas
pacicadoras foram tomadas. Muitos imperadores irão recorrer a tratados para lidar com
esses povos.
• Constantino (272-337), por exemplo, após vencer os godos, assinou com eles um tratado
pelo qual estes passavam a receber subsídios e o direito de praticar o comércio nas
províncias romanas; em troca, comprometiam-se a fornecer soldados ao Império.
• A partir do século III, com a crescente necessidade de fortalecer seu exército, Roma irá
negociar com frequência com os povos bárbaros – instalando, inclusive, muitos deles dentro
das fronteiras do Império.
Assim, apesar da existência de
inúmeros choques violentos, não
podemos deixar de considerar que
vários grupos bárbaros foram
incorporados ao mundo romano.
Um
parêntesis: o O Cristianismo se tornou a religião
cristianismo ocial do Império Romano no nal do
século IV.

A conversão de vários povos bárbaros


ao cristianismo indica a inuência
exercida por Roma e a vontade de se
estabelecer alianças por parte das
elites bárbaras.
Outras influências

Por outro lado, povos


Vários chefes bárbaros na
bárbaros também se uniram
Germânia e Escandinávia
com o objetivo de se
adotaram o título de rei
defenderem dos ataques
(rex), em uma inuência
romanos, dando origem a
direta de Roma;
grupos como os francos.
A queda de Roma – ano 476
• No século V, o poder de fato do Imperador abrangia somente a região da atual Itália
• O Imperador à época, Rômulo Augusto, foi deposto por Odoacro, príncipe germânico que
havia sido incorporado ao Exército romano.
Odoacro depõe Rômulo
Augusto, mas mantém o vínculo
com o Imperador do Oriente,
que o presenteia com o título
romano de patrício
Ou seja... • A entrada dos reinos bárbaros no território que hoje conhecemos
como Europa não representou uma mudança radical em relação ao
Império Romano, no que diz respeito tanto à língua ocial, às leis, às
práticas administrativas ou mesmo à composição social de suas elites.

• Escavações recentes revelam, inclusive, incorporação de ritos


funerários próprios do Império Romano pelos novos reis bárbaros.
Os reinos bárbaros
• Reino dos Godos – ano 418 – criado a partir de um tratado (depois se dividem em godos do
oeste, os visigodos, e os godos do leste, os ostrogodos)
• Reino dos Burgúndios – ano 456 – criado a partir de um tratado. Será anexado pelos francos
em 534.
• Vândalos – ano 439 – norte da África – integraram-se as elites de origem romana e
mantiveram as características da administração imperial.
Reino dos • A fundação do Reino dos Francos data do reinado de Clóvis (481-511).

Francos • Região da antiga Gália.

• Unica diversos povos francos.

• Empreendeu ações militares que receberam o apoio de


Constantinopla. Seu avanço e sucesso militar possibilitou a fundação
da dinastia merovíngia (século V ao VIII)
Clóvis se converte ao catolicismo no início do século VI, o
que garantiu a ele o apoio da Igreja católica.

O apoio de Constantinopla e do papado possibilitou a


signicativa expansão territorial da Reino dos Francos –
seu domínio chegou a se estender por quase toda
Europa Ocidental.
Império Carolíngio – 800/888
• Em 751, Pepino, o breve, depõe o último rei merovíngio e faz-se eleger rei numa assembleia
de aristocratas.
• Esse “golpe de estado” se dá com a benção do Papa, rearmando o caráter cristão do Reino
Franco.
• Com a morte de Pepino, o breve, em 758, assume o trono Carlos Magno – coroado como
Imperador pelo Papa Leão III.
• Suas expedições expansionistas são bem sucedidas, reconstituindo parte considerável do
Império Romano Ocidental.
Renascimento Carolíngio
• Período de reavivamento das artes e da literatura, especialmente sob o reinado de Carlos
Magno;
• Fundaram-se escolas, com ensino de retórica, gramática, aritmética, geometria, astronomia e
música.
• Várias obras da Antiguidade greco-romana foram preservadas, em grande medida pela
atuação da Igreja (mosteiros, monges copistas, etc).
• Mudanças linguísticas como, por exemplo, a adoção de letras maiúsculas e minúsculas.
O Iconoclasmo - a Igreja do Ocidente (influenciada pela cultura germânica)
versus Igreja do Oriente (ortodoxa, apega aos valores do mundo clássico)

Esse desacordo leva a um


Os cristãos do Oriente se
rompimento entre as duas
opunham veementemente
Igrejas, e os carolíngios
ao culto de imagens
aproveitam o momento
(iconoclastas), prática
para retirar a Igreja de
comum aos cristãos do
Roma da influência de
Ocidente.
Constantinopla.
Declínio do Império Carolíngio
• Após a morte de Carlos Magno em 814, e durante o reinado de seu filho, Luís, o Piedoso
(778-840), teve início uma série de disputas no interior dos carolíngios, que conduziu a uma
guerra civil e conflitos com a Igreja.
• Isso, aliado às dificuldades de administração de um grande império, ao fortalecimento da
aristocracia senhorial, e a intensificação dos ataques normandos (vikings), acabaram
provocando um colapso da unidade imperial.
Não se pode negar, contudo, a
importância do Império Carolíngio para
formação de duas ideias fundamentais
para o período:

1. A ideia de Cristandade - povos


diferentes unidos por uma crença
comum

2. A ideia de Europa, com um sentido


politico e religioso.
Nesse momento,
bárbaros passaram
a ser todos aqueles
não cristãos.
Mesmo com o declínio do Império Carolíngio, a
Cristandade Oriental sobrevive, graças à constituição de
uma cultura fundada em torno da doutrina e dos ritos
cristãos, aos quais aderiram não somente as elites, mas
também as camadas subalternas.

Essa cultura se desenvolveu e se espalhou, em em grande


medida, graças a vasta criação de mosteiros durante o
Renascimento Carolíngio.

A Igreja, que teria o monopólio do saber durante toda a


Idade Média, garantiria não só a educação formal das
elites, mas também a educação cristã de vastas parcelas da
população.
Povos homogêneos?
• Existem vertentes históricas que buscam criar uma ideia de homogeneidade dos povos
bárbaros – buscando neles unidade étnica, a partir das quais se teriam constituído as
modernas identidades europeias.
• Os termos “francos”, “burgúndios”, “lombardos”, “visigodos”, etc, não correspondiam a
grupos étnicos homogêneos em sua composição ou origem.
• A suposta unidade vinha mais da percepção romana – o olhar que iguala todos.
• Com o passar do tempo, foram criadas “mitos de origem”, que pretendiam reforçar a
legitimidade desses reinos.
Um exemplo: escavações
arqueológicas na fronteira
da Germânia (de onde
migraram os francos), não
encontraram nenhum sinal
de cultural material que
fosse específica ou comum a
todo o território.

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