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Curso de Filosofia
“Por muito tempo a História Política gozou de enorme prestígio, deixando em plano bem
inferior os outros tipos de produção historiográfica.” (p. 01)
“Desde então, nessa sua nova roupagem, a História Política não se preocupa mais em
descrever dinastias, reinados e batalhas. Ela coloca a ênfase em dois principais campos de
estudo, o papel do imaginário na política e as relações entre nação e Estado.” (p. 01)
“Percebeu-se, assim, que a vida política está carregada de símbolos, de metáforas, de ritos.”
(p. 01)
“A partir do século XII. Somente então nação passou a ter caráter também geográfico e
político. Evolução semelhante, ainda que inversa, tiveram país e pátria., palavras com sentido
inicialmente apenas geográfico, e que ganharam significado político e afetivo no século XII.”
(p. 02)
“O melhor desenvolvimento dessa metáfora foi de João de Salisbury, por volta de 1159, no seu
famoso Policraticus: a comunidade política (res publica) é um corpo do qual o rei é a cabeça,
o Senado o coração, os juízes e governadores de províncias os olhos, ouvidos e língua, os
guerreiros as mãos, os arrecadadores de impostos e fiscais o ventre e o intestino, os
camponeses os pés. Na realidade medieval, o Estado típico era, portanto, um reino.” (p. 03)
“As reformas políticas de Diocleciano e Constantino repuseram em mãos imperiais um grande
poder, porém suas reformas sociais e econômicas indiretamente e a longo prazo anularam
aquela recuperação. Os latifundiários não só se tornavam mais ricos como passavam aos
poucos a ter atribuições estatais dentro de suas propriedades.” (p. 04)
“O que explica esse fracasso do Império Carolíngio e, portanto, a passagem, mais uma vez,
para a pluralidade política? Em primeiro lugar, o fato de o Império não ter unidade orgânica,
assentando-se sobre dois princípios contraditórios: o universalismo das tradições romana e
cristã e o particularismo tribal germânico.” (p. 07)
“O papa, precisando de ajuda para superar problemas na Itália central, buscou seu apoio.
Enfim, Oto I conseguiu reunir todas as condições para ser coroado imperador pelo pontífice”
(p. 08)
“Apenas o papa poderia coroar um imperador, mas não estava interessado na existência de um
que fosse forte, pois ele próprio tinha pretensões universalistas, considerando-se o legítimo
herdeiro do Império Romano.” (p. 09)
“A partir disso, fica fácil entender a coroação de Carlos Magno do ponto de vista eclesiástico.
A Igreja, depositária do título imperial, entregara-o ao rei franco por serviços prestados,
podendo, portanto, retomá-lo e atribuí-lo a quem quisesse. Contra isso é que Carlos Magno
associara, em vida, o filho à coroa imperial, garantindo-lhe o título independentemente da
concordância papal” (p. 09)
“Um exemplo está nos interesses comerciais venezianos, que alteraram o rumo da Quarta
Cruzada (1202-1204), apesar de o movimento cruza dístico ter sido lançado pela Igreja 100
anos antes para colocar a nobreza feudal sob controle eclesiástico.” (p. 10)
“Ao promover a unção de Pepino, em 751, a Igreja justificara o poder monárquico. Em parte,
isso ocorrera por circunstâncias, já que o papa necessitava do apoio franco contra os
lombardos.” (p. 10)
“Esse contratualismo presente nas atitudes mentais da Idade Média tinha originado nos
séculos XII-XIII uma grande variedade de agrupamentos com determinados interesses a
defender, das corporações de ofício às universidades, das comunidades juramentadas
burguesas às heresias.” (p. 10)
“A formação dos reinos germânicos em nada alterou a essência daquele processo. Naquela
economia fundamentalmente agrária, os monarcas remuneravam seus servidores e guerreiros
com terras, às quais se concediam muitas vezes imunidades. O detentor da terra desempenhava
ali o papel de Estado, taxando, julgando, convocando. Foi assim que a dinastia Merovíngia se
enfraqueceu de tal forma que cedeu lugar à família latifundiária dos Carolíngios.” (p. 13)
“Se de um lado as comunas negavam o mundo feudal, de outro o prolongavam, pois nele
tinham nascido e a ele não poderiam se opor completamente.” (p. 15)
“Tais eram os personagens no palco político medieval. Mas como contracenaram nos seis
séculos da Idade Média Central e da Baixa Idade Média? Sabemos que os poderes
universalistas (Igreja e Império) estavam em choque constante, porque pela própria natureza
do que reivindicavam — a herança do Império Romano — somente um deles poderia ter
sucesso. Assim, ambos fracassaram, permitindo a emergência de poderes particularistas
(feudos e comunas) e nacionalistas (monarquias).” (p. 15)
“A Igreja buscou comandar a nobreza feudal por meio das Cruzadas, mas perdeu o controle da
situação e saiu desgastada. Tentou impor seus valores nas comunas e apenas acelerou o
surgimento de heresias. Ao contrário do nacionalismo, o particularismo feudal não era
irredutível ao universalismo eclesiástico, já que o cristianismo funcionava como elemento
cimentado daquela infinidade de microestados.” (p. 16)
“Na perspectiva das monarquias, guerras nacionais significariam, entre outras coisas, a
submissão e o controle definitivos da nobreza feudal. Na perspectiva desta, as guerras
monárquicas poderiam ser o caminho para restabelecer seu poder e controlar o próprio
Estado. Deste duplo ponto de vista, a Guerra dos Cem Anos foi também o grande conflito
feudal da Idade Média.” (p. 17)