A nova forma política das monarquias A nova posição de superioridade dos reis manifestou.se com a assimilação do tratamento de majestade que havia sido monopólio exclusivo dos imperadores. Os novos monarcas manobraram prudentemente para impor sobre um determinado território o seu poder supremo. O processo foi largo e esteve ladeado por um proporcionado corpo doutrinal e por uma nutrida implantação de manifestações propagandísticas. O questionar da autoridade papal As hostilidades entre o Papado e o Império foram intensas e obstinadas desde o século XIII, mas a partir daquela época, ambos os poderes universais entraram em decadência. A soberania universal do Papa foi também questionada pelas monarquias. O prestígio e a autoridade do Papado diminui a partir do século XIV. Todos os tratados (Concílio de Constanza e vários tratados assinados com reis) supuseram para as autoridades civis o assumir fiscal do clero e o controlo dos nombramentos eclesiásticos. Estes tratados foram revistos ao longo dos séculos seguintes com efeito de aumentar as prerrogativas do rei sobre os assuntos do Clero. Em pouco tempo os monarcas conseguiram amplas atribuições sobre o clero nacional. Nos territórios luteranos a estabilização da igreja se fez com a rutura da autoridade de Roma. O declínio das pretensões universalistas do clero Período medieval: imperadores consideravam-se os legítimos sucessores dos imperadores romanos, conceção universalista. Os conflitos dos séculos XIV e XV e a debilidade do Exército, cada vez com menos pretensões universalistas e mais identificado com a nação alemã, puseram de manifesto a natureza dos novos poderes: os reis soberanos. Introduziu-se a doutrina jurídico-política uma série de fórmulas que manifestavam a ideia de que o monarca não reconhecia ninguém superior dentro do seu território (reges superiorem non recongnoscensentes) ou que o reu era um imperador no seu reino (rexe st imperator inregno suo). Desenvolve-se um processo de «imperalização» da figura do rei que se revelou como a apropriação de uma série de símbolos e atributos até agora só do imperador:
Utilização do título de majestade
A adaptação do direito romano às ambições centralistas do monarca A representação pictórica do rei com vestidos e ornamentos imperiais Sacralização do rei como Vicarius Christi A doutrina da origem divina do poder real desenvolve-se em todas as cortes europeias, mas com especial relevância em França. O rei por graça de Deus, reeditou a saturação simbólica das coroações, atribui poderes taumatúrgicos e luta pela consequente formação da forma de governo absolutista. O controlo dos poderes locais Por detrás das pretensões universais (papais ou imperiais) a monarquia tinha que fazer face à fragmentação do poder feudal. O aparecimento de novos poderes citadinos dentro dos reinos provocou a criação de formas de governo mais completas: Cortes, dietas, parlamentos, estados gerais. Estas assembleias o monarca convocava com alguma regularidade os representantes do clero, da nobreza e das cidades para tratar assuntos do governo do reino e para aprovar impostos extraordinários. Por meio destas medidas, pôde-se manifestar a consciência da unidade nacional e o apoio da nova e dinâmica sociedade burguesa ao rei, em que foi assumiu poderes até serem monopolizados pelos senhores feudais. A ascensão por parte do monarca do poder público e supremo sobre um território conforme o conceito de soberania e, consecutivamente, a ideia de estado. Durante a Época Moderna, a capacidade que os reis demonstraram para controlar estas assembleias determinou o grau de absolutismo que conseguiram impor aos diferentes territórios que compunham a sua monarquia/ o seu reino. (França, deixou-se de convocar os Estados Gerais; Espanha; Inglaterra – Monarquia dos Tudors) O Novo príncipe Maquiavel, em 1513, reconhece Fernando de Aragão como um “Novo Príncipe”, estava fazendo as suas profundas convicções republicanas frente às efetivas potencialidades de um monarca soberano com princípios absolutistas. O fundamental de um príncipe, da sua virtude, para Maquiavel, era conservar o Estado – essa capacidade governo e de liderança. Ele pretendia que o príncipe construísse as estruturas administrativas e que governasse sem escrúpulos. Não olhar a meios para atingir os fins, era o ideal de Maquiavel. (resumo – Studocu). (Floristán) O Monarca descrito por Maquiavel utiliza um princípio moral político e socialmente operativo, que enganava a sua imagem perante os seus súbditos e o prestigiava perante os outros príncipes, a religião e a palavra dada, não vacilava em colocar em prática. Estas ideias, que também estão noutras obras do autor, ameaçaram o conceito de razão do estado e o conhecido axioma «o fim justifica os meios». Configurações estatais e identidades múltiplas As grandes monarquias do século XVI não eram só compostas ou segmentadas institucionalmente e politicamente, mas também étnica, cultural e linguisticamente. Pátria e Nação. Naturais e estrangeiros O «sentimento nacional» que se encontra em distinguir o «natural» do «estrangeiro», sem exaltar-se o primeiro e rebaixar o segundo. Assim, as literaturas do Renascimento difundiram uma geografia de estereótipos nacionais que permitia a cada nação distinguir-se, comparar-se e glorificar-se. A propaganda que acompanha as guerras e rivalidades abundava em calúnias e insultos. Os sentimentos de ódio e aversão aos estereótipos dos «outros» não era evidente nos fatores desencadeantes de guerras, mas uma vez iniciado o conflito as ferramentas propagandísticas ao serviço dos poderes políticos amplificavam-se e difundia tudo aquilo que contribuía para aumentar a separação e a animosidade com a «nação inimiga», insuflando os sentimentos de contra identidade. Identidades, contra identidades e identidades múltiplas As sociedades europeias das monarquias compostas do renascimento caracterizavam-se por ter identidades múltiplas e lealdades compartidas. Podia existir um patriotismo local, um patriotismo jurisdicional ou senhorial, um dinasticismo ou então podia existir um sentimento de identidade coletiva ligada a uma «nação política», cujas instituições, leis e privilégios, juntamente com a língua e uma história compartilhada, constituíram as suas referências fundamentais. Num mundo político em que a rebelião estava condenada, a defesa da pátria converteu-se numa arma efetiva de apoio político-moral frente ás tendências absolutistas, centralizadoras e assimilistas das «novas monarquias». No início da Época Moderna, o sentimento nacional só esteve presente, de forma consciente, em determinadas elites sociais capazes de uma certa organização da memória histórica e de uma valorização política dos elementos institucionais, jurídicos e linguístico-culturais próprios, nos quais se diferenciavam e enalteciam perante outras. Com o passar do tempo, estas identidades nacionais foram-se universalizando socialmente, difundindo-se por meio de contactos e relações promovidas por elementos tão diversos como guerras, a expansão do comércio, os relatos das viagens ou a maior circulação de livros e de notícias a partir da invenção da imprensa. As guerras constituíram um fator primordial na mobilização e extensão destes sentimentos étnicos e consciências nacionais. Durante as guerras e a consequência delas, as identidades nacionais adquiriram uma força e volume, pois, por um lado, multiplicaram a distância que separava psicologicamente os nossos e os outros e, por outro, forneceram mitos e recordações para gerações futuras que se alimentaram da experiência subjetiva da diferença. Fronteiras Durante o século XVI a cartografia desenvolveu-se. Os mapas e os atlas converteram-se, para os monarcas e estadistas, em símbolos de poder e instrumentos para as suas estratégias políticas e militares. Os mapas também serviram para a compreensão racional da localização dos indivíduos num território definido e para a identificação deste. Os territórios políticos não tinham uma definição linear. As fronteiras, mais que fixas, eram elásticas. Havia uma continuidade linguística, jurisdicional, reivindicações territoriais com muitas disputas. Convém assinalar também o desenvolvimento da cartografia e da geografia contribuiu a afirmação das identidades nacionais. As corografias renascentistas criaram ideias de comunidade e solidariedade entre os habitantes de um determinado território Nos textos dos geógrafos havia uma interpretação e uma apropriação do «espaço» sobre o qual construíram uma geografia económica, física e humana e fazem parte de um coletivo. Cultura, história e língua Todos os poderes esforçaram-se por criar símbolos e referências culturais. A arquitetura, as artes visuais, a história, o teatro ou a música converteram-se em instrumentos de propaganda e legitimação, assim como em ferramentas que modelaram patriotismos e identidades. A história e o os historiadores tiveram um papel muito importante na confirmação das consciências sociais. A justificação do «presente nacional» por meio de um passado idealizado e mitificado, era algo recorrente entre os cronistas e historiadores do Renascimento. E com a difusão dos valores culturais do humanismo produziram uma revalorização do mundo antigo. Muitos humanistas e eruditos entraram em batalhas para vincular a antiguidade, religiosidade e proezas históricas da sua nação, proclamando a sua superioridade a respeito de outras comunidades. O renascer da história antiga servia a causa nacional. A língua também foi um fator essencial. O século XVI presenciou ao impulsionamento das grandes literaturas nacionais europeias, em que os autores tomaram atitudes de defesa e de glória à sua língua e a sua identidade linguística. Estruturas do Estado A afirmação do poder monárquico teve como principais ingredientes o desenvolvimento de órgãos centralizados de governo e de justiça, de uma burocracia de funcionários, de instrumentos de política externa (diplomacia e exército) e de fazenda e de finanças que tinham que fazer frente aos crescentes custos de conflitos bélicos. Pode-se afirmar que a situação de quase guerra permanente foi o fator principal que estimulou o aparecimento de estruturas essenciais aos estados modernos europeus. A corte e os órgãos do governo central As cortes europeias que se formaram no início da época Moderna surgiram a partir da evolução da «casa real» medieval. A corte era o cenário natural de exibição do poder real. As cerimónias festivas, religiosas, protocolares que se celebravam na corte, junto com normas de etiqueta cortesã que a regiam, eram meios e instrumentos para oferecer uma representação do poder real de acordo com as suas pretensões de soberania. Por outro lado, a corte era como um centro de governo da monarquia. Nela estavam localizados os órgãos da administração central, mas a casa real e a corte eram também cenário de contacto e transição entre a coroa e as elites políticas. A corte serviu para “domesticar” a aristocracia, mas também serviu de bastão para esta pressionar e pactuar com o poder real. Principais cortes europeias: Londres, Paris, Madrid e Viena A reformalização do poder real teve uma correlação institucional na potencialização e desenvolvimento dos órgãos de administração centralizados. Em muitas monarquias o tradicional conselho real foi subdividido em várias instituições ou conselhos, uns destinados a atender aos assuntos do governo e justiça dos territórios que os integravam, outras a ocupar-se de departamentos específicos, como a fazenda. Os conselhos eram órgãos administrativos de carácter colegial em que participavam, na sua maioria, juristas que exerciam funções de aconselhamento para que o monarca tomasse as decisões de governo e, em certa medida, estes conselhos podiam ser considerados como o embrião dos futuros ministérios. A burocracia Desde os finais do século XV, as «novas monarquias» europeias desenvolveram planos de ordenamento administrativo, formulados com «pretensões estatais» e expandiram as suas burocracias. Cabe relembrar que este processo não foi só a ampliação ou extensão territorial do aparato burocrático, mas também o sentido e os objetivos que a ele se outorgavam. A partir da hegemonização do rei, se aspirava a integrar os poderes estatais mais ou menos autónomos. Administração real: Foi dado o instrumento de poder às mãos dos monarcas, mas os nobres, exigiram que os altos funcionários do estado fossem elegidos nas suas linhagens. Por outro lado, os cargos ou ofícios que desempenhavam estes servidores do rei estavam impregnados de elementos do mundo feudal. Além de constituir uma fonte de rendimento, a venda de cargos ampliou a base social do poder monárquico, pois permitiu a promoção e a participação nas esferas de poder de muitos membros da pequena nobreza e das burguesias em ascensão. É incontestável que a burocracia de vendas contribuiu para reforçar o poder real. A diplomacia Desde o Renascimento, os estados, tiveram que atender às necessidades de relação impostas por uma conceção do mundo internacional, em que a figura do estado, apresentava-se incerta num sistema de pluralidade estatal. Como consequência disto, os jogos de alianças, ligas, cercos ou balanças de poder adquiriram uma intensidade e uma complexidade sem precedentes. Assim, as relações exteriores aos estados experienciaram, desde o século XVI, uma ampliação na ordem política. O instrumento foi a diplomacia. (começa com os italianos) Tipos de embaixadores: Embaixadores residentes: serviam os interesses do seu príncipe numa corte estrangeira, cujo trabalho era procurar informação, influenciar o processo de tomada de decisões políticas, etc. Embaixadores de carácter extraordinário: chegar a acordos ou fechar tratados, levando desde a corte do seu príncipe instruções e procurações detalhadas por este. A diplomacia supunha uma condução de informação, um instrumento de negociação e uma peça necessária no planeamento e execução das empresas bélicas. A diplomacia aparece pela sua própria essência, ligada ao regime do Estado Moderno. Além da «diplomacia oficial», as monarquias desenvolveram uma rede de agentes, espionagem, correspondentes e confidentes que cumpriam uma variedade de serviços para os seus governos. Estas atividades não se desenvolveram só no estrangeiro, mas também dentro dos próprios países, já que os jogos de poder e as diversas fações aconselhavam a particar uma vigilância de tipo interno. Exército
Os séculos XVI e XVII foram séculos de enormes conflitos.
Esta época fortaleceu-se entre a ação da guerra e a estrutura do Estado, pois a construção e a manutenção de grandes exércitos desenvolveram tesourarias e sistemas financeiros, órgãos de administração e de governo. Assim, com o aumento continuado dos instrumentos de força, o estado tendeu a administrar, controlar e monopolizar os meios efetivos de coesão no seu território. O crescimento do tamanho dos exércitos foi devido a inovações táticas e estratégicas que primaram as concentrações massivas de tropas e foi possibilitado por uns estados que iam incrementando as suas capacidade de mobilização, organização, aprovisionamento e remuneração a fim de dispor de forças semelhantes. Fazenda e finanças Os estados da Época Moderna requeriam um sistema permanente de rendimentos para fazer frente ao crescente gasto gerado pelas suas administrações, redes diplomáticas, centros cortesãos e pelas suas empresas bélicas. Disto resultou a necessidade de incrementar políticas económicas e mecanismos de extração e circulação de recursos monetários que havia nos seus órgãos de governo. A urgente necessidade das grandes monarquias de aumentar as suas remessas chocou com as limitações destas. Em primeiro lugar, era do tipo político-ideológico pois na Idade Média havia a doutrina de que o monarca se devia contentar com as rendas que recebia do seu próprio património e com os ingressos inerentes á sua condição de soberano, o resto dos ingressos devia ser aprovado pelas assembleias representantes estatais e deviam ver se devia haver ou não um direito real e uma negociação contractual. Em segundo lugar, estados e monarquias tinham uma limitação jurídica, pois as existências de privilégios fiscais de todo o tipo restringiam a base social impositiva (que pagava impostos). Finalmente, existia uma limitação administrativa, pois o desenvolvimento do aparato burocrático mostrava-se insuficiente para exercer a cobrança das fontes de receitas e consecutivamente as monarquias tiveram que descentralizar ou privatizar muitas destas funções. Apesar das várias diversidades, os monarcas impulsionaram políticas que tinham um objetivo comum: ampliar a sua capacidade fiscal, tentando fugir dos obstáculos constitucionais que limitavam a extração de recursos ou estabelecendo novos impostos que encarregassem o consumo e as atividades económicas em expansão. Assim, para mitigar as carências de dinheiro , os monarcas recorreram a expedientes não tributários: venda de terras e de ofícios, manipulações monetárias, petições ao papado para participar nas rendas da instituição eclesiástica ou a apropriação delas. Tudo foi insuficiente. Assim, as monarquias viram-se obrigadas a recorrer ao crédito e a entrar em conexão com a banca privada internacional. A dinâmica do endividamento levou muitas monarquias à bancarrota e também á reconversão da dívida a curto prazo em dívida consolidada a longo prazo. Esta maior imbricação entre capital privado e finanças públicas, também creou um emaranhado de interessrd que estreitou laços entre os soberanos, o capitalismo cosmopolita e as elites sociais compradoras dos títulos em dívida pública.