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SEGUNDO PERÍODO ROMANO

Transicao do Rex e das Gentes para a Republica


Nos finais do século VI a.C., os Romanos expulsaram Tarquínio, o Soberbo, e os seus filhos de
Roma, e passaram a ser governados por 2 chefes em cada ano: praetrores ou consules.

Os 3 últimos reis de Roma (Tarquínio Prisco, Sérvio Túlio e Tarquínio, o Soberbo) ao


introduzirem formas de governo despótica e tirânica limitaram o poder dos patres que
reagiram.

Tratavam-se de usurpadores do poder, tiranos e déspotas, que recorriam a meios meios


violentos contra as leis aplicáveis. Dessa forma, foram combatidos pelos romanos em nome da
liberdade e da República. Em 510 a.C. Tarquínio, o Soberbo, é derrubado, estabelecendo-se
uma espécie de República aristocrática dominada pelo Senado (agora constituído por 300
membros) e pelos comitia curiata.

Em 504 a.C., o expansionismo etrusco sofre um sério revés com a derrota de Arunte, filho de
Porcena, na batalha de Arícia, frente aos gregos do Cumas chefiados por Aristodemo. Refiro o
facto pelos efeitos que teve na economia romana até aqui em expansão. A derrota limitou a
possibilidade de comércio, que já estava nas mãos dos plebeus e determinou um regresso a
uma economia de base agrícola com inevitável retorno a uma estrutura de poder assente na
propriedade fundiária. Os patrícios ansiavam por isso, os plebeus não queriam voltar ao
estatuto de trabalhadores agrícolas subordinados.

A queda da monarquia surge associada ao enfraquecimento do poder militar dos etruscos na


consequência da sua derrota em Cumas, pelos gregos de Siracusa, em 474 a.C., colocando um
ponto final na tentativa etrusca de conquistar a Campânia.

O que se seguiu não foi uma forma organizada de governo ou a instituição de um regime
republicano com características estáveis e instituições funcionais. Manteve-se o Rex apenas
para as questões religiosas (rex sacrorum).

A transição da monarquia para a república não se deu de forma automática, nem contínua ou
consistente. A República não surgiu de uma revolução ou de um projeto político a concretizar a
curto prazo, mas sim gradualmente.

O poder vitalício e monocrático de um rei não poderia voltar a ser admitido pelos romanos,
dessa forma, dá-se a implantação de instituições destinadas a evitar a concentração ilimitada
de poderes em uma só pessoa.

Primeiro, existir um praetor maximus como chefe supremo do exército com os mesmos
poderes militares do rei (ditador) normalmente acompanhado pelo chefe da cavalaria
(magíster equitum).

A instabilidade social e as guerras constantes determinaram que pelo menos entre 445 e 367
a.C. o poder fosse exercido por magistrados (primeiro 3 e depois 6) com natureza militar (os
tribuni militum). Em 367 a.C. começa a exercer funções políticas 2 cônsules na sequência das
Leges Liciniae Sextiae, que criaram essas magistraturas.

Política e militar, o rei é substituído por magistrados eleitos com mandatos limitados no
tempo designados para alguns autores como cônsules, para outros pretores ou,
provavelmente, desde logo cônsules para o poder político e pretores para o poder militar e
judicial.

Esta situação resultava da partilha do imperium absoluto e vitalício do rei por vários
magistrados eleitos (colegialidade), cada um com o poder de anular as decisões do outro. Estes
magistrados possuíam mandatos de tempo fixo (um ano) e poder-se-lhe-ia pedir
responsabilidades pela forma como tinham exercido as funções, isto é, prestar contas aos
eleitores.

Os magistrados eram praticamente designados pelos seus antecessores. A partir do século V


a.C. a sua eleição é feita pelo povo mas limitava-se a sufragar a proposta feita pelo magistrado
que convoca a Assembleia.

Os 300 senadores, de início nomeados vitaliciamente pelos magistrados supremos, e, depois,


a partir do final séc. IV a.C. pelo censor para mandatos de 5 anos, ganham mais poder político,
poder este que não possui contornos definidos. Após a queda do último rei esse poder do
Senado está fundado sobretudo na maior estabilidade dos mandatos dos senadores, que
duravam cinco anos, face aos mandatos dos magistrados, que duravam apenas um ano.

As assembleias populares comícios decúrias centúrias e tribos exerce um poder crescente


embora fragmentado.

Os romanos não tinham consciência de viver num regime político que era uma República que
substituíra uma monarquia, que é uma diferença entre viver sobre reis e sobre magistrados.
Entende-se, no entanto, que os romanos sabiam e sentiam as diferenças. No que toca à
qualificação diferenciada de regimes políticos na fase da República romana pelos que viviam
nessa República, existem sinais suficientes para acreditar que não existiu essa consciência
política comum. Por outro lado, entenda-se que só no fim do século 18 o conceito de República
caracteriza com exclusividade um regime político não monárquico que assenta o poder na
soberania popular.

A MITOLOGIA ROMANA

A mitologia romana está muito ligada à fundação da cidade e à história primitiva romana,
marcando os elementos específicos da identidade romana, isto é, do que é ser romano e da
sua expressão jurídica mais saliente: o ius civile.

Mitologia e religião influenciaram a criação interpretação e aplicação do Direito nas origens


de Roma. Quanto à religião, além da existência de deuses e espíritos alegóricos para quase
tudo, os romanos eram muito supersticiosos. Os augúrios eram interpretados para saber o que
ia acontecer em praticamente tudo o que faziam. Os vaticínios dos oráculos e dos adivinhos
eram levados muito a sério. O futuro era perscrutado nas vísceras dos animais, nos voos das
aves, nas forças da natureza.

A religião romana tinha 5 esferas bem diferenciadas: a familiar, a local, a ocupacional, a


pública e a mística. Na evolução histórica podemos assinalar 5 etapas cronológicas: o animismo
primitivo, a religião arcaica, a fase helenística, o culto imperial e o cristianismo.

Relativamente à religião pública geral o culto envolvia os 12 deuses do Olimpo com relevância
para a tríade romana original: Júpiter, o Deus supremo, Marte, Deus da guerra, e Quirino, Deus
da prosperidade, sendo posteriormente substituída, a partir do século V a.C., pela tríade
capitolina, isto é, Júpiter, Juno e Minerva.

Nos cultos e rituais públicos assumem particular importância os auspícios (auspicia). Os tipos
principais de auspícios são: o voo das aves e os fenómenos celestiais.

O sumo sacerdote era o Rex Sacrorum. Os sacerdotes estavam reunidos em conselhos


(flamines). Os pontífices, isto é, os sacerdotes públicos, supervisionavam as práticas religiosas
sob orientação do pontifex maximus.

O objetivo da religião, eminentemente ritualista, era atingir a pax deorum, cumprindo


contrato com os deuses: os homens faziam sacrifícios orações ofertas e sacrifícios aos deuses e
estes protegem-nos. É uma coisa essencialmente prática sem profundidade espiritual.

A DEFINIÇÃO DAS FRONTEIRAS DE ROMA E O “SER ROMANO”

A autodefinição de Roma e a sua origem identitária, no plano humano e político, vem da


definição de um território pelo traçar de limites ou terminus. As regras a que obedecem a
expansão territorial de Roma e a aquisição e a perda da cidadania romana revelam a dimensão
identitário da fronteira, onde termina Roma.

Da urbs itálica de Rómulo (sendo o pomerium uma linha imaterial concretizada com a
edificação das defesas da cidade, onde terminam os auspicia urbana) à orbis terrarum de
Augusto, da fixidez do muro à flexibilidade do limes, da terra Italia ao imperium romanum sine
fine está presente a terra habitada em que assenta o povo numa organização política da cidade
(civitas) para uma dimensão do império. A linha que separa os cidadãos romanos dos outros e
que muda o imperium dos magistrados de civil para militar, da aplicação do Direito para a
possibilidade do arbítrio.

Os romanos partem do seu presente para construir as origens da sua cidade. Dão-lhe religião
e cultura etrusca também pela maior vetustez e partem do centro para a periferia; da fossa
circular (mindus) no centro da cidade (urbs) para a periferia (além do circuitus urbis),
transformando, pela ritualidade sacra, um espaço natural em espaço político, cultural e social.

A monumentalidade dos marcos imperiais de demarcação no Rio Tibre, das pedras


decoradas como sinais de terminus, com a simbologia de suporte ou alicerces da cidade de
Roma sou a prova da importância política da fronteira. Já nas colónias civitates e províncias são
estradas, aquedutos, marcos com inscrições, rios, montanhas ou outras referências naturais a
fazer a separação administrativa dos territórios para o controlo político e militar.

OS PATRÍCIOS E OS PLEBEUS

Os primeiros romanos eram os proprietários rurais, designados patricii, que, em caso de


guerra, integravam a cavalaria (equites), base do exército, e a massa popular, conhecida por
plebs. Os dois grupos viviam separados e os plebeus em relação de dependência com os
patrícios.
Em 445 a.C. o tribuno Gaio Canuleio propôs a abolição do dever de patrícios e plebeus
casarem dentro do grupo respectivo, através da Lex Canuleia, como parecia resultar das duas
últimas tábuas da Lei das XII Tábuas. Foi a abolição desta proibição de casamentos mistos que
permitiu o início da homogeneização da comunidade romana e da paridade política e jurídica
entre patrícios e plebeus. Os filhos destes casamentos (iustae), com ascendentes plebeus,
podiam participar do sacra gentilícios e tomar os auspícios públicos, abrindo lhes assim as
portas ao exercício do imperium.

Logo, até à Lex Canuleia, os casamentos entre pessoas dos dois grupos eram proibidos.
Normalmente os patrícios cuidavam diretamente das propriedades, com os familiares e os seus
escravos e, as parcelas de terreno que não conseguiam explorar diretamente concediam in
precarium aos plebeus, que se tornavam seus protegidos ou clientes.

Os clientes eram um grupo subordinado à gens, constituído por pessoas expulsas de outros
grupos, pobres desamparados, pequenos proprietários rurais sem suficiente para subsistirem,
etc. Os clientes eram a principal fonte de poder externo da gens. No plano jurídico as formas
de adquirir a condição de cliente eram a deditio – a submissão voluntária de um grupo familiar
ou político a uma gens -, a applicatio – a submissão de um estrangeiro à proteção da gens – e a
manumissio - instituto pelo qual o escravo deixava de o ser.

Não podemos identificar automaticamente, e desde o início de Roma, clientes e plebeus já


que gens e plebs foram grupos com origens e funções sociais e económicas muito diferentes.
Basta lembrar que nas guerras entre patrícios e plebeus os clientes se mantiveram fiéis à sua
gens participando dos cultos religiosos (sacra) e partilhando do nomen gentílico.

A fidelidade (fides) da clientela à sua gens de pertence étnico-religiosa mantinha-a a próxima


do seu patronus, chefe da gens a que pertencia, envolvendo este (patronus) num dever de
proteção ao cliens de valor superior ao que tinha para com os seus cognati.

Por que os romanos consideravam os laços de fidelidade entre patronus e cliens de natureza
sagrada, a violação dos laços de proteção pelo patronus podiam levar à aplicação da pena de
morte (consecratio capitis). Foi a mudança das condições económicas e sociais em Roma com o
consequente reequilíbrio de poderes que determinou uma erosão paulatina da organização
gentílica e assim uma desvalorização institucional da gens que desarticulou clientela,
contribuindo para uma aproximação entre clientes e plebeus, na proteção comum que
requeriam aos patrícios. Este sistema de organização da comunidade criou complexos vínculos
de direitos e deveres na vida económica política e social e militar de Roma entre patrício
(patronus) e plebeu (cliente/colonus). Na Lei das XII Tábuas ficou registada esta relação de
tutela jurídica assente na proteção e assistência como deveres do patrício e de obediência e
colaboração como deveres do plebeu.

Estes vínculos protetivos que ligam chefe aos seus apoiantes como forma de organização
comunitária ficaram na via política romana até à queda de Roma na antiguidade, perduraram
na história e mantêm-se. Organizados em gentes unidas por cultos comuns, os patrícios tinham
uma primitiva organização comunitária da terra que foram perdendo com a institucionalização
da propriedade privada.

Roma adotou, por influência grega, a tática hoplite no plano militar dando prioridade a
infantaria plebeia e secundarizando a intervenção da cavalaria, recrutada entre os patrícios.
Isto determinou a ascensão da Plebe e atribuiu uma brecha na superioridade social, política,
religiosa e militar do patriciado, nos finais do século VI a.C.
A organização militar do exercitus centuriatus permitiu a Roma iniciar a sua expansão,
submetendo as gentes latinae e introduzir importantes reformas políticas internas que
limitavam o seu papel na Península Itálica, sendo apenas mais uma entre outras cidades. Foi
transposto o pomerium e as gentes quiritárias adquirem importância.

Logo, não se pode deixar de considerar a ampliação do território, as alterações no exército


em mobilização permanente e os problemas novos que eram suscitados requerendo soluções
criativas e inovadoras, como elementos essenciais da necessidade de uma transformação
política.

A luta dos plebeus pela paridade na ocupação de cargos e pela igualdade no acesso aos
recursos tem agora condições para ser efetivada com fortes possibilidades de vitória.

A luta política entre os dois grupos chegou a um impasse com os plebeus no Monte Capitólio
e os patrícios no Monte Aventino. A necessidade de um acordo era óbvia. As cedências mútuas
determinaram a constituição de um decenvirato, que tinha como objetivo a governação da
cidade e a busca na Grécia de um modelo político de organização da comunidade romana que
permitisse a vivência das diferenças, sem violência, através da intervenção do jurídico.

No modelo vigente antes da República, os escravos, mesmo que fossem libertados, e os


estrangeiros estavam privados de direitos. As palavras usadas na lei das 12 tábuas são
relevantes no seu conteúdo jurídico: a palavra para designar o estrangeiro é a mesma que
nomeia o inimigo – hostis; só mais tarde, com a divulgação do commercium, o estrangeiro
passa a ser designado como peregrinus, isto é, aquele que atravessa o campo – per agrum.

A família era a unidade base da organização social romana e caracterizava-se pela união
sanguínea entre os seus membros, pela ligação a culto religiosos específicos, diferentes dos
demais (sacra) e pela sujeição comum ao poder absoluto (manus, mancipium) do pater
famílias.

O pater famílias garantia a unidade da família que se mantinha mesmo após a sua morte pelo
caráter progressivamente institucional dos laços familiares em torno do Consortium ercto non
cito, isto é, os filhos, após a morte do pater familias, preservam em comum todo o património
herdado e passam a explorá-lo em conjunto, formando o consórcio familiar.

Era ele que geria o fundo familiar, administrava as propriedades da famíli, decidia da
admissão de novos membros e da saída dos que estão (além da adrogatio – sucessão entre
vivos em que uma família inteira passava para a potestas de outro pater – e da emancipatio –
negócio jurídico que permitia ao filius familiae romper todos os laços com a família de origem
adquirindo o estatuto de pessoa autónoma, isto é, sui iuris, com plena capacidade de gozo e de
exercício de direitos) e cuidava do sacra familiae.

Ter capacidade de gozo de direitos em Roma pressupunha ter os três status que integra a
personalidade jurídica: status libertatis (isto é, ser livre), status civitatis (isto é, ser livre e
cidadão romano) e status famíliae (isto é, ser livre, cidadão romano e chefe de uma família
autónoma, no sentido de não estar subordinado ao poder de ninguém).

Ora a pressão plebeia foi debilitando as bases religiosas e políticas em que os Tarquínios
assentavam o seu poder real. até a revolta de Bruto e de Colatino que derruba a monarquia.
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA

Dois efeitos imediatos podem retirar desta situação: A tensão social aumenta com os plebeus
numa situação de revolta para evitar o regresso à posição que tinham antes da expansão
comercial, O governo dos “magistrados”, embrião do região republicano, é obrigado a uma
guerra de expansão no Lácio para conquistar terras para a agricultura.

Mas não eram estas as únicas ou mesmo as principais dificuldades deste período de transição.
Até aqui em Roma, tinha beneficiado da hegemonia etrusca e vivia em paz. O fim da expansão
da Etrúcia coloca Roma em rota de colisão com outros povos, deixando de estar resguardada
pelo “guarda-chuva” dos etruscos, tem de defender-se. Aumenta a insegurança e instabilidade,
voltando o poder militar a ser determinante para a política.

Roma efetua alianças com outros povos e garante a estabilidade da fronteira de forma a poder
com cuidar da principal ameaça: Os etruscos. A paz conseguida com a Etrúria em 474 a.C. fora
sempre precária. A derrota frente aos Gauleses determinou uma nova insegurança,
encorajando latinos e etruscos a atacarem de novo Roma.

A necessidade de mobilização constante do exército e o papel indispensável da Plebe na defesa


militar de Roma obrigaram a rever o retorno às estruturas políticas ancestrais, comparecer,
resultar na diminuição do comércio que permite aos plebeus um modo de vida digno e aroma,
aliviar as tensões sociais internas. O poder militar dos plebeus, possibilitado pelas guerras
constantes em que Roma se viu envolvida, atenuou a vingança Patrícia e determinou a
manutenção das emergentes estruturas do poder republicanas.

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