Você está na página 1de 30

AULAS DE

TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL II

19 de Fevereiro de 2024

 Abuso do Direito
 TOMO V e II do TRATADO

ABUSO DO DIREITO

O abuso do Direito surge fixado nos termos do art.334.º CC, tendo sido amplamente
estudado pelo Prof. Menezes Cordeiro, quer atribui maior importância à boa-fé, em detrimento
dos bons costumes e dos fins sociais ou económicos, conceitos que se tornaram vazios de
conteúdo e inaplicáveis.

Alguns acórdãos aplicam o art.334.º invocando os bons costumes e os fins sociais ou


económicos, no entanto, como este foi aplicado por Menezes Cordeiro, o abuso do direito foi
compreendido como uma manifestação do princípio da boa-fé, isto é, o abuso do direito está
consumido no princípio da boa-fé.

Artigo 334.º
(Abuso do direito)

É ilegítimo o exercício de um direito, quando o titular exceda manifestamente os limites


impostos pela boa-fé, pelos bons costumes ou pelo fim social ou económico desse direito.

 É ilegítimo o exercício de um direito (…)


o “Ilegítimo” significa, neste caso, “ilícito”, isto é, “contrário
à lei.
o “Direito” inclui toda e qualquer “situação jurídica” – isto é, não se refere
apenas a direitos subjetivos ou situações ativas mas sim a qualquer
situação jurídica (direito ou dever). Deve-se ler “situação jurídica”,
portanto.
 (…) quando o titular exceda manifestamente (…)
o “Manifestamente“ - expressão que causa bastante incerteza, sendo que é o
reconhecimento por parte do legislador de que deve ser dada uma maior
discricionariedade ao intérprete aplicador.
 (…) os limites impostos pela boa-fé, pelos bons costumes ou pelo fim sociais ou
económico:
o “Boa-Fé” – referência à boa-fé objetiva: consiste no espírito do sistema
privado português, abrangendo os princípios nucleares do sistema jurídico.
 Terá um sentido diferente nos diferentes sistemas jurídicos dos
diferentes países, isto é, este conceito é preenchido à luz do
próprio sistema.
Opinião de Menezes Cordeiro:
o Formada através de uma análise da periferia para
o centro: através da análise de imensas decisões
de diversos tribunais de diversos sistemas jurídicos
identificou que a boa-fé, quase num sentido básico
de justiça, era invocada em várias situações-tipo
que, depois de ligadas, permitiram identificar, no
centro, a existência de fundos comuns – princípios.
 Princípio da Tutela da Confiança;
 Princípio da Primazia da Materialidade
Subjacente.
o “Bons costumes” – Rementem para as regras da moral social, familiar e
sexual dominante e códigos deontológicos.
 Permitem tribunais acompanhar a evolução da sociedade. A nossa
sociedade é uma sociedade amoral, em que é difícil identificar
uma moral dominante, sendo que a prática dos tribunais
demonstra isso. Este conceito é invocado em casos de prostituição,
por exemplo.
o “Fim social ou económico” – Invoca uma determinada construção
historicamente situada, associada à “causa” dos negócios jurídicos. No
Direito Português este conceito não é relevante – é um conceito vazio de
sentido.

Princípio da Tutela da Confiança

Composto por 4 elementos cuja verificação deve ocorrer de forma cumulativa:

 Situação de confiança
o Por exemplo: A e B são amigos. A cria a convicção de que B vai atuar de
determinada forma e depois volta atrás e, quando volta atrás, há um prejuízo.
A vai a tribunal – a primeira coisa a analisar é a situação de confiança – A tem a
expetativa (está convicta) de que B vai atuar der certa forma – análise subjetiva
relativa a B. Verificar se A está numa situação de confiança. A situação da
confiança: A e B – A cria a convicção de que B vai atuar.
 Justificação da confiança;
o O sistema, à luz da figura do declaratório normal, averigua se a confiança é
merecedora de tutela jurídica. Há alguma razão justificativa para A se
encontrar ao numa situação de confiança.
 Investimento da confiança;
o Se A está numa situação de confiança e esta se justifica mas se não há nada
relativo a dinheiro não é relevante para o direito civil. Há custos? Perdas? Se
não existir então o pressuposto não de encontra verificado.
 Imputação da confiança.
o A confiança para ser relevante do ponto de vista jurídico tem de ser imputada
a B – A tem de estar convencido de que B vai atuar de certa forma porque foi B
que criou essa convicação – se tal não se verificar então não é relevante.

Análise boa fé psicológuica


Merecdora de tutela jurídica.

Anaálise de boa fé ética.

Estes 4 elementos encontram-se nas várias situações tipo que se enquadram no princípio da
boa fé. Exemplos dessas situações:

Suppressio surrectio (Supressão e Surgimento): Além dos 4 elementos mencionados tem ainda
um 5.º elemento: passagem do tempo. Exemplo: A tem uma garagem que não usa e B, seu
vizinho, ao aperceber-se que A não usa essa garagem, usa-a para estacionar o seu automóvel.
Todas os dias A passa na garagem e vê, tendo conhecimento do que se passa. 10 anos volvidos,
A manda uma carta a B exigindo o pagamento da renda da garagem referente aos 10 anos.

SC – B achava que podia usar a garagem sem pagar.

JC – O declaratório normal acharia que B não teria de pagar renda – A tinha conhecimento e
nada dizia.

IC – A pediu a B dinheiro.

Imputação da confiança – A tinha conhecimento da situação – sabia que B a usava. A situação


de confiança em que B se encontra é imputável a A.

Passagem do tempo – Este elemento torna todos os outros 4 elementos mais robustos/ fortes
visto que, afinal, se passaram 10 anos.

A continua a ser proprietário da garagem, no entanto perdeu o direito de exigir juridicamente a


renda. – Supressio. B ganhou o direito de utilizar a garagem durante aqueles 10 anos –
surrectio.

Inalegabilidade Formal – MC afirma que tal não existe no direito português, no entanto, os
tribunais sempre afirmaram que sim. Situação clássica: contrato-promessa de compra e venda
de bens imóveis – A vai celebrar um contrato-promessa de compra e venda com B.

Para produzir efeitos relativamente a terceiros, é necessário que este tenha forma especial. A
refere tal aspeto a B que nega essa necessidade. Quando B requer o pagamento, A recusa-se
atendendo a falta da forma do contrato. Todos os elementos se encontram verificados.

Invocação da anulabilidade da forma – direito. A falta de forma, por não poder ser alegada pelo
agente, também não pode ser invocada pelo tribunal sob pena de esvaziamento do conceito.

“Bons costumes” – Rementem para as regras da moral social, familiar e sexual dominante e
códigos deontológicos – Permitem tribunais acompanhar a evolução da sociedade. A nossa
sociedade é uma sociedade amoral, em que é difícil identificar uma moral dominante, sendo
que a prática dos tribunais demonstra isso. Este conceito é invocado em casos de prostituição,
por exemplo.
“Fim social ou económico” – Vaz Serra e Antunes Varela referenciam este conceito. Associada à
“causa” dos negócios jurídicos. No Direito Português este conceito não é relevante – é um
conceito vazio de sentido.

A supressio surrectio agrupa uma das modalidades típicas do abuso do direito.

SUPRESSIO SURRECTIO

Posição de qualquer situação jurídica que, não tendo sido exercida em determinadas
circunstâncias e por um certo lapso de tempo, não mais possa sê-lo por, de outro modo, se
contrariar a boa fé.

A supressio tmem origem jurisprudencial.

23 de Fevereiro de 2024

Venire Contra Factuum Proprium – Temos um contrato de arrendamento que a lei estabelece
que é necessário, para haver obras naquele imóvel, que o snheopria dê a sua autorização –
para um arrendayário fazer obras tem de pedir autorização ao senhorio (art.1074.º CC)

Os requisitos da tutela da confiança encontram-se preenchidos: situação de confiança (o


arrendatário achava que podia realizar as obras), Justificação (o declaratário normal acreditaria
que existiam as condições para ocorrer a obra), XXXX, Imputação da confiança (o senhoria
acompanhou as obras).

Supressio – Difere da VCFP devido à passagem do tmepo.

Inegalibidade - não cumprimento das exigências formais.

PRINCÍPIO DA MATERIALIDADE SUBJACENTE

 Ao contrário do que se verifica relativamente ao Princípio da Tutela da Confiança não


se encontra bem sistematizado relativamente aos seus requisitos, visto que é mais
vago do que a Tutela de Confiança e, por outro lado, a figura tipo é também mais
simples.
 3 figuras:
o Tu quoque (“Tu também”): A ideia é a de que alguém que viola uma norma
não pode subsequentemente invocar essa violação para tirar daí um
benefício.
 Aparece em vários sistemas jurídicos distintos – é algo intuitivo pelo
que não necessita da verificação de tantos pressupostos.
 Situações:
 No âmbito do condomínio (propriedade horizontal) temos
uma ata de Assembleia Geral e um dos condóminos recusa-
se a assinar a ata e depois a Administração do condomínio
pretende executar a deliberação da reunião – o que este
condómino faz é invocar que tal não pode ocorrer por causa
da falta da assinatura.
 Desequilíbrio no exercício:
o 1.ª situação: alguém exerce um direito com simples
propósito de prejudicar outro.
o 2.ª situação: alguém exerce um direito, retirando dai
um benefício mínimo e causando um prejuízo
máximo.

 Art.58.º do CSC: exemplo legislativo de violação do princípio da materialidade


subjacente:
o São anuláveis as deliberações que: Sejam apropriadas para satisfazer o
propósito de um dos sócios de conseguir, através do exercício do direito de
voto, vantagens especiais para si ou para terceiros, em prejuízo da sociedade
ou de outros sócios ou simplesmente de prejudicar aquela ou estes, a menos
que se prove que as deliberações teriam sido tomadas mesmo sem os votos
abusivos;
o Os sócios podem fazer o que quiserem (votar como quiserem) mas não podem
fazê-lo se, ao votar, o seu objetivo for prejudicar a sociedade – limite ao
exercício do direito de voto.
 Chaminé falsa de
o Temos 2 terrenos: um de A e um de B. O A gosta de levantar zepelins no seu
prédio, mas o B não gostava que A passasse pela sua propriedade. A tem de
passar por B porque do outro lado do terreno existe uma montanha. B constrói
uma chaminé com um único propósito: impedir A de passar pela sua
propriedade. À luz do art.1305.º CC, B poderia fazê-lo: tem um direito de
propriedade sobre o terreno pelo que pode, efetivamente, construir a
chaminé. No entanto, B está a construir a chaminé com o único propósito de
prejudicar A.
o Para o Direito não basta o cumprimento formal da lei, impõe-se igualmente um
cumprimento material, isto é, das suas razões. – Princípio da Materialidade
subjacente.
o A tem o direito de usar, fruir e dispor da sua propriedade para dai tirar
benefícios.
o O que o abuso exige é que eu não exerça direitos para prejudicar terceiros –
ideia de socialização do direito privado – o direito de propriedade é limitado
pelo interesse das outras pessoas e, sobretudo, da comunidade.

Também são abrangidos casos em que o benefício é mínimo: se A produzisse pão nessa
chaminé obteria benefícios dessa construção: isso impede o abuso do direito? É necessária
uma análise caso a caso, analisando os benefícios de B e os prejuízos causados a A.

 Se A retirar benefícios então não há abuso de direito;


 Se A não retirar benefícios então há abuso de direito;
 Se A retirar pucos benefícios então há abuso de direito.
Consequência de abuso de direito

 A verificação de abuso de direito pode implicar Responsabilidade Civil: o


preenchimento do art.334.º CC na opinião do professor Pinto Oliveira fixa que sim: o
simples facto de estarem preenchidos os pressupostos de uma situação de abuso de
direito dá origem à responsabilidade civil. Por sua vez, o Prof. Menezes Cordeiro fixa
que sim: o abuso de direito não dá origem, diretamente, a responsabilidade civil – é
necessário verificar se a situação preenche os pressupostos da responsabilidade civil –
483.º e 788.º CC.
 Na maior parte das situações do VCFP: como o caso do arrendamento – o senhorio não
pode despejar o arrendatário com aquele argumento – ele pode encontrar outro
fundamento que resolva o contrato mas não pode usar aquele; No caso da garagem: o
proprietário continua a ter direito de propriedade sobre a garagem e pode expulsar a
outra pessoas – mas não pode pedir o pagamento de renda relativo aos 10 anos.

 Quando uma das partes não invoca a nulidade, o tribunal é obrigado a reconhecê-la. Se
o juíz está obrigado a conhecê-la,

 A consequência da inabilidade formal é: o juiz também não pode conhecer.

 Há uma falta de forma: pelo que não há eficácia externa. A forma tem como objetivo
proteger A contra terceiros.

O tribunal deve impor às partes a celebração do contrato com a forma devido e proteja os
terceiros que foram enganados. O que o sistema faz é subjetivar a proteção reconhecendo um
direito à pessoa que foi enganado: a que o contrato seja celebrado corretamente e contra
terceiros que invoquem o contrato para o prejudicar.

Consequência do caso chaminé

Tem como consequência: a solução do tribunal pode variar – deitar a baixo a chaminé, total ou
parcialmente; dar uma indemnização ao dono de zepelim. – análise casuística.

A e B celebram contrato de construção de piscina e fica no contrato que a piscina tem de ter
pelo menos 2 metros de profundidade. A piscina é contruída mas apenas com 1,5 metros de
profundidade, pelo que o contrato foi violado.
NEGÓCIO JURÍDICO
Os conceitos de pessoa, de coisa, de direito subjetivo, de obrigação e de negócio jurídico são
nucleares ao Direito Civil e, nesse sentido, encontram-se fixados na Parte Geral do Código Civil.

O conceito de “negócio jurídico” é particularmente recente na história do nosso direito civil,


sendo que as suas primeiras manifestações surgem antes de Savigny e depois este autor, com a
Pandectistica, desenvolveu-o.

Este conceito não é indispensável no modelo contemporâneo do Direito Civil, ao contrário do


que ocorre com os conceitos de “pessoa” e “direito”: este conceito é central no direito
português e alemão, mas não no direito italiano e inglês (em que o conceito nuclear é
“contrato”) ou no direito francês (em que o conceito nuclear é o “ato jurídico”).

Os italianos não seguiram este conceito porque consideravam-no um conceito demasiado


abstrato e porque negaram a sistematização em função da parte geral, pelo que adotaram o
conceito de “contrato”.

Este conceito encontra-se fixado no Código Civil português na medida em que foi esta a
escolha do professor Vaz Serra e Guilherme Moreira.

O nível de abstração deste conceito é atrativo para académicos e há uma adequadação da


ideia de negócio jurídico àquilo que se chama “jurisprudência dos conceitos” (identificação de
um conjunto de conceitos nucleares aos que tudo mais pode ser reecaminhado – conceito
guarda-chuva) e há uma adequação deste conceito à parte geral (quando Vaz Serra escolhe a
parte geral, a opção pelo Negócio Jurídico estava feita).

O negócio jurídico influenciou o desenvolvimento do pensamento académico.

O negócio jurídico, na perspetiva da autonomia privada do séc.XIX, enquanto perspetiva de


manifestação de vontade do ser humana, encontra-se adequado.

Existem 3 conceitos principais quando falamos em “negócio jurídico”:

 Factos Jurídico: Acontecimento real ou social ao qual o Direito associa efeitos jurídicos
(por exemplo: nascimento, que tem como efeito a atribuição de personalidade jurídica)
 Alguns acontecimentos são factos jurídicos dependendo do seu
acionamento de efeitos jurídicos.
o Factos Jurídicos Strictu Senso : Não estão dependentes de uma vontade
humana.
o Ato Jurídico: Facto jurídico cuja ocorrência está dependente de uma
manifestação de vontade humana, isto é, de uma decisão humana;
 Negócio Jurídico:
 Atos Jurídictos Strictu Senso:
 Tese Clássica: No NJ há intencionalidade enquanto que no AJ a
intencionalidade é irrelevante;
 Teoria da Escola de Lisboa: Desenvolvida pelo Prof. Paulo
Cunha, que discorda da tese clássica, afirma que no NJ há
liberdade de celebração (pratico os atos que quiser – apenas
decido se o pratico ou não) e de estipulação (relativo ao
conteúdo, determinando os efeitos jurídicos que serão
produzidos) (p.e.: contrato de compra e venda) e que no AT só
há liberdade de celebração (art.288.º - sou eu que decido se
confirmo, mas é a lei que define os efeitos).
 A teoria da Escola de Lisboa é a aplicada.

Além dos conceitos de:

 Contrato: Existia muita antes do negócio jurídico e do ato jurídico. Por exemplo: o
casamento é um ato jurídico, porque eu é que escolho se caso ou não mas, em relação
ao conteúdo do casamento, nomeadamente os deveres das partes, estes não podem
ser alterados (não se pode casar sem deveres de auxilio, por exemplo; embora se
possa escolher o regime dos bens, este não é relativo ao conteúdo da relação – só há
liberdade de celebração)
o Crítica: O casamento tem tanta dignidade que não pode ser considerado um
negócio jurídico.
o O contrato poder ser um negócio jurídico ou ato jurídico, sendo o seu
elemento histórico diferenciador consiste: em como é um encontro de duas ou
mais vontades. Este encontro pode ocorrer havendo apenas liberdade de
celebração (casamento) ou liberdade de celebração e estipulação (compra e
venda).
 Declaração de vontade: Savigny apresentava a manifestação de vontade como
sinónimo de negócio jurídico. Numa declaração de vontade há uma
manifestação/exteriorização de vontade de uma pessoa: A pergunta a B “queres
comprar o meu automóvel?” – proposta negocial, negócio jurídico e declaração de
vontade; A bate à porta de B e confirma o contrato de compra entre C, seu filho menor,
e B – declaração de vontade e ato jurídico (há liberdade de celebração, mas não de
estipulação).

 As declarações de vontade e os contratos podem ser AJ ou NJ consoante tenham liberdade


de celebração ou liberdade de celebração e liberdade de estipulação.

O conceito de contrato deve ser analisado autonomamente face ao conceito de negócio


jurídico, trabalhando com vários conceitos, que existem independentemente entre si.

 ART.295.º CC: Legislador manda aplicar o regime dos negócios jurídicos aos atos jurídicos.

MODALIDADES DE NEGÓCIO JURÍDICO

SINALAGMÁTICOS VS NÃO SINALAGMÁTICOS

Negócios Jurídicos Sinalagmáticos em cujo seio se encontrem situações jurídicas que são
exatamente opostas.
 Por exemplo: Contrato de Compra e Venda – as situações jurídicas de A e B estão em
espelho A tem o direito de exigir o preço e B tem o dever de pagar o preço ; A tem o direito a
exigir a entrega da coisa e B tem o dever de entregar a coisa.

MORTIS CAUSA

Os negócios jurídicos cujos efeitos jurídicos decorrentes da sua celebração estão dependentes
da morte.

 Por exemplo: Testamento.

NEGÓCIOS CAUSAIS VS ABSTRATOS

Os negócios jurídicos são causais ou abstratos em função da obrigação que está associada a
esse negócio jurídico.

01/03/2024

ELEMENTOS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS

Identificam-se três elementos:

 Partes: Averiguar: personalidade jurídica, capacidade jurídica e legitimidade.


 Objeto: Distinguir duas dimensões: objeto enquanto bem (que bem está a ser
transacionado? – prestações, animais, coisas corpóreas e incorpóreas, etc.) e objeto
enquanto conteúdo (que negócio está a ser celebrado? Compra e venda, por exemplo
– e depois as cláusulas desse negócio).
 Declaração de vontade: Exteriorização da vontade;
o Tem mais interesse nos negócios bilaterais, que envolvem mais do que uma
parte – tem de haver um consenso.

 Se faltar um destes elementos então não há negócio jurídico – verificação cumulativa.

No Direito Inglês, o exemplo clássico quanto ao consenso é: A e B celebram um contrato de


compra e venda de algodão e estabelecem a quantidade, qualidade e preço e combinam que o
produto seria transportado pelo navio X e chegaria a Londre via Bombaim; quando o negócio é
celebrado encontram-se dois navios com algodão a chegar a Londres via Bombaim;

Dois navios com o mesmo nome a ir de Bombaim para Londres e com a mesma quantidade e
qualidade de algodão. Não há contrato por falta de consenso.

Estes elementos encontram-se em todo e qualquer negócio, sendo que, cada negócio,
individualmente analisado, possuirá mais elementos.

DECLARAÇÕES

Art.217.º CC  A propósito das declarações de vontade, estas podem ser exteriorizadas de


forma expressa (quando a manifestação de contrato é finalisticamente dirigida a um fim
específico – p.e.: A pergunta a B “queres comprar o meu automóvel?” ao qual B responde
“sim!”) ou de forma tácita (declarações de vontade que evidenciam o sim/não mas a forma
como responde não é finalisticamente dirigida a dizer sim/não; p.e.:
Declarações tácitas – A vontade é clara (para o declaratório normal) mas não finalisticamente
dirigida a um fim específico.

As declarações expressas e declarações tácitas devem ser distinguidas do silêncio: para o


Direito quem cala, não consente. O silêncio não é “sim” nem “não” – é a inexistência de
qualquer declaração. O silêncio do ponto de vista dos seus efeitos (não da sua natureza, na
medida em que desta perspetiva o silêncio é a inexistência) traduz-se num “não”.

Art.218.º CC  O silêncio vale como declaração negocial, quando esse valor lhe seja
atribuído por lei, uso ou convenção.

Por exemplo:

 Art.923.º, n.º 2CC  A lei atribui ao silêncio o valor de “sim”.


 A e B combinam que, para o futuro, no âmbito de uma relação concreta, o silêncio
passa a valer como “sim”.

FORMA

Sempre que manifesto a minha vontade, tenho de fazê-lo de alguma forma, isto é, há sempre
uma forma, mesmo oralmente. Quando dizemos que o negócio está sujeito a uma forma
especial, é para determinar os negócios em que uma simples manifestação/declaração oral não
é suficiente para que o negócio seja realizado. A “forma” é, portanto, uma solenidade de forma
que declaração de vontade seja juridicamente relevante.

Existem razões para esta necessidade:

 Questão de solenidade – há determinados contratos/bens que têm uma relevância


social tão grande que, só em virtude dessa importância, o legislador exige uma forma
especial;
 Prova – há algum tipo de contrato que o legislador exige forma especial e esta forma
tem relevância provatória, de forma a provar que esse negócio foi celebrado;
 Ponderação/Reflexão do próprio.
 Questões de tesouraria - O legislador exige formas especiais, para isso receber
impostos. Permitir ao abrigo dessa burocracia, ganhar dinheiro.

MODALIDADES DE FORMA

 Forma com Propósitos Substantiva: A forma é exigida para a própria validade do


próprio negócio  art.220.º CC;
 Forma com Propósitos Probatórios:  art.364.º, n. º2 CC.

As formas podem ainda ter mais propósitos.

Art.219.º CC- Princípio do consensualismo

Art.220.º CC
FORMAS E FORMALIDADES

A “forma” respeita à declaração em si – p.e. A e B celebram o contrato de compra e venda de


um automóvel – se sim, é uma questão de forma, mas o legislador, nos art.303.º, faz depender
a validade de alguns negócios jurídicos de outros elementos.

Exigência de que o contrato seja celebrado na presença de duas testemunhas – Formalidade

O contrato X pode ser celebrado oralmente, todavia na presença de duas pessoas – não está
sujeito a forma especial, mas como a sua validade está dependente da manifestação de
vontade na presença de duas pessoas, está sujeito a formalidades.

A formalidade respeita a exigência formais, não respeitantes à declaração em si.

PROPOSTA E ACEITAÇÃO

O Código Civil, nos art.224.º e seguintes, não prevê todas as diferentes formas de celebrar
um negócio jurídico, sendo que o modelo paradigmático, seguido em diversos códigos, é a
proposta e aceitação. A negociação entre ausentes, positivada no nosso código civil, consiste
em: A transmite uma proposta a B por carta ou SMS; por sua vez, a negociação entre
presentes: ocorre frente a frente, ao telemóvel, etc. Esta distinção decorre da forma como
proposta é apresentada: na negociação entre presente é feita de forma imediata e a sua
receção também é imediata.

No caso da negociação entre ausentes há uma proposta que não é seguida de imediato por
uma aceitação.

O Código Civil trata do modelo de proposta e aceitação, mas não trata da “negociação” dos
negócios unilaterais (como é o caso dos testamentos), nem o processo de negociação entre
presentes, nem a contratação eletrónica. Mesmo entre ausentes, o que está no CC é uma
simplificação da realidade prática.

O legislador positiva esta modelo visto que é este modelo que suscita mais dúvidas: o que é
uma proposta? Durante quanto tempo fico vinculado a tal proposta?

O modelo de resolução típico:

 Tem de haver uma proposta:


o Proposta: declaração de vontade (alguém exterioriza a sua vontade) e negócio
jurídico (facto social ao qual o Direito associa efeitos, sendo uma manifestação de
vontade humana e liberdade de celebração e estipulação):
o Para ser juridicamente relevante tem de ter 3 elementos:
 Completa - em abstrato, tem de se verificar quais os elementos
indispensáveis para o negócio e averiguar se estes se verificam na
proposta;
o Por exemplo: uma proposta de contrato de compra e venda tem de
incluir o preço e o objeto (art.833.º CC)
 Se, no exame, uma proposta de compra e venda não
mencionar o preço, considera-se que a mesma está
incompleta;
 Inequívoca - regular uma intenção inequívoca de contratar;
o “Queres comprar o meu automóvel por €20.000?” – proposta
inequívoca
o “Se fosse vender o meu automóvel por €20.000 estarias
interessado em comprar?” – proposta não inequívoca.
 Formalmente suficiente - deve revestir a forma requerida para o negócio

 A partir de que momento passa esta proposta a ser vinculativa (produz efeito)?

 Eficácia: vinculação ao conteúdo da proposta


o Do ponto de vista técnica, a partir do momento em que faço uma proposta
negocial, passo a encontrar-me numa situação de sujeição e emerge na esfera
jurídica do destinatário um direito potestativo;
o Art.230.º, n.º1 CC – fico sempre vinculado ao seu conteúdo, mas com a
particularidade de não poder voltar atrás).
 Por exemplo: A escreve uma carta a B, perguntando se quer comprar o seu
computador por €500.
o Quando é que esta proposta se torna eficaz? Quando o A escreve a carta?
Quando a coloca no marco de correio? Quando a carta entra no correio de B?
Quando B vai buscar a carta?
 Teoria da Exteriorização: Quando A escreve a carta;
 Teoria a Expedição: Quando A coloca a carta no correio;
 Teoria da Receção: Quando entra na esfera jurídica de B, isto é, quando
entra no correio de sua casa;
 Teoria do Acolhimento : Quando B vai buscar a carta ao correio;
 Teoria do Conhecimento: Quando B lê a carta;
o Nos termos do art.224.º. n.º1 CC, quando chega ao seu poder (teoria da
receção) ou é dele conhecida ( A envia a carta a B e A avisa B de que este vai
receber uma carta sobre determinado conteúdo, embora a carta ainda não
tenha chegado a caso de B).
o Art.224.º, n.º2 CC: Por exemplo: Vai-me ser enviada uma carta sobre
determinado conteúdo e eu ameaço o carteiro de forma a que este não
coloque a carta no meio correio;
o Art.224.º, n.º3 CC: Por exemplo: Colocam a carta no meu correio e depois
destroem o meio correio, roubando a carta – a carta foi recebida mas sem
culpa minha não posso ter acesso ao seu conteúdo.

 Qual a duração da proposta factual? A partir de que momento a proposta deixa de ser
vinculativa?

 Alguém morre pelo caminho? Há alguma contraproposta?

 Tem de haver uma aceitação:


o Principio do consensualismo – nos negócios entre ausentes, apenas se tem
como proposta completa ou uma aceitação inequívoca, se eu souber qual é a
capacidade financeira da outra parte; se tal não se verificar, não há uma
proposta negocial efetiva;
o Quando coloco um automóvel à venda num jornal, mencionando todos os
aspetos, nos tribunais ingleses, a partir do momento em que se dá aceitação
o Inequívoca e em tempo;
o A aceitação, ao contrário da proposta, começa a produz imediatamente efeitos
– princípio do consensualismo.

Art.228.º CC – duração da proposta factual – tem de ser conjugado com o art.279.º, relativo
aos prazos;

Há uma proposta feita no dia 1, através de carta entre ausentes, onde não é fixado prazo;
quanto tempo uma carta demora a chegar? Elemento indicativo por parte do CTT – 3 dias
úteis, mas não tem de ser assim – a partir do momento em que ela chega, tenho 5 dias para
resolver;

Art.279.º CC – na contagem de qualquer prazo, não se considera o dia, a partir do qual o prazo
começa a contar;

Art.228.º CC – 5 dias.

 Se no final do dia 12 não chegar a carta, já não está vinculado – até ao final do dia 12 ainda
está vinculado, a partir da meio noite do dia 13 já não está

1; 2; 3; 4; 5; 6; 7; 8; 9; 10; 11; 12

Entre a proposta e a aceitação pode acontecer uma contraproposta – art.233.º CC – começa-se


a contar os prazos do início.

Se algum deles morrer pelo caminho – art.226.º e art.231.º CC.

Art.228.º e art.279.º CC

Em condições normais, o CTT demora 3 dias.

Se a carta foi enviada no dia 1, em condições normais chega no dia 4.

123 45678 9 10 11  Aplicam-se dias corridos (para efeitos de exame).

CONTRATAÇÃO AUTOMÁTICA E CONTRATAÇÃO ELETRÓNICA

É necessário verificar em concreto qual o modelo implementado pela empresa da máquina. É o


processo mecânico que determinará .O contrato tem se por concluído quando o produto
sai/fica encravado.

Propostas dirigidas a um destinatário qualificado, nos termos do art. A proposta tem-se por
efeic
Quando a proposta é dirigida ao pública, sem destinatário determinado, aplica-se a teoria da
exteriorização – quando a proposta é exteriorizada de forma bastante, passo a estar vinculado
a essa proposta. Por exemplo: “Compro as ações do banco CGD”. O art.225.º CC não é relativo
a ofertas ao público, mas sim a destinatários concretos que são desconhecidos.

As propostas dirigidas aos públicos não se confundem com convites a contratados. Por
exemplo: A coloca um anúncio no jornal e dizer que está a vender o seu carro. É necessário ter
em consideração os regulamentos aplicados (no Ebay, OLX, etc.). Sem saber não é possível
tomar efetivamente uma posição.

As propostas se tiverem os 3 requisitos (formalmente suficientes, inequívocas e completas)

Não se confundem com convites a contratar – não há vinculação a um determinado contrato.

Relativamente às contratações eletrónicas depende dos regulamentos das plataformas.

CULPA IN CONTRAHENDO

O art.227.º CC fixa a culpa in contrahendo, sendo, em conjunto com o abuso do direito, uma
das faces mais visíveis do princípio da Boa Fé.

A existência de deveres pré-contratuais é dúbia: como se pode ter DPC antes de celebrar um
contrato? Não faz particular sentido no âmbito da autonomia privada. Os deveres pré-
contratuais são deveres que as partes têm na formação e negociação do contrato podem ter 3
origens:

 Contratual: as próprias partes dizem que na negociação futura ficam vinculadas a


determinados deveres;
 Legal específica: diploma específico que impõe a determinadas partes certos deveres –
típico do Direito Civil Regular (direito dos seguros, direito do consumo, etc.);
 Legal genérica: fixada no art.227.º CC, que tem uma aplicação transversal ao sistema.

O que significa ter de atuar de boa-fé? Isto é, estar sujeito ao princípio da boa-fé no processo
de formação do negócio? Através da análise de casos, chegou-se a um conjunto de deveres
impostos às partes:

 Dever de Informação
o Ativos: a própria parte tem de prestar informações mesmo que essa
informação não lhe seja exigida;
 Em princípio não têm de existir (no Direito Civil), sendo, no entanto,
típicos do Direito Civil regular;
 Por exemplo: Se A vende um carro com um pequeno risco a B não tem
o dever de mencionar; no entanto, se A vende um carro com um
motor estragado a B, tem o dever de mencionar  Trata-se de uma
informação central para a própria utilização do bem que está ser
negociado;
o Passivos: no âmbito da negociação de determinado contrato as partes estão
obrigadas a responder aos pedidos de informação que lhe são dirigidos e
responder com verdade;
o Art.227.º - em situações limites
 Dever de Lealdade
o Do ponto de vista prático, existe quando se tiver preenchido os pressupostos
das figuras do Abuso de Direito – há dever de lealdade quando se criar uma
situação de confiança;
o Exemplo paradigmático: Interrupção inesperadas das negociações  A negocia
com B; tudo indica que o contrato vai ser celebrado; pode uma das partes à
última hora arrepender-se? Sim!
 Dever de Segurança
o Exemplo: A está a passear no centro comercial e cai-lhe uma coisa na cabeça.
o Art.500.º CC – Se se prova que a culpa é do funcionário, o objetivo não é
colocar uma ação contra o funcionário mas sim a empresa: invoca o art.500.º,
n.º1 CC – provo que o funcionário agiu negligentemente, verificam-se os
pressupostos do art.483.º CC e surge a obrigação de indemnizar.
o A SONAE só é responsável se se mostrar que quando escolheu o funcionário,
se mostrou negligente na sua escolha – única situação em que a SONAE seria
responsabilizada – alemão;
o Deveres de segurança- desenvolvidos especificamente pelos tribunais alemães
para responder à insuficiência do paragrafo do art.831.º CC;
o Em PT- Os DS são acolhidos pelo Prof.MC – os tribunais não o fazem – a maior
parte da doutrina defende que não existem DS e aplicam o art.500 e 483;
o Os DS só existem porque existe o art.831.º BGB, se tal não se verificasse, os
tribunais alemães não teriam desenvolvido estes deveres – que só surgem para
ultrapassar os limites do dito artigo. Os deveres de segurança são estranhos ao
Direito Português.
o NÃO HÁ DEVERES DE SEGURANÇA – EXAME
o Prof.BMC – Não existem DS – os tribunais não os mencionam;
o Art.483.º, art.227.º CC

No âmbito da Ciência Jurídica Alemã, depois de terem sido desenvolvidos estes deveres,
identifica-se 5 situações típicas em que se coloca a aplicação do art.227.º CC:

 Vulnerabilidade pré negocial;


 Contração ineficaz;
 Tutela da parte mais fraca;
 Irresponsabilidade por atos de terceiros;
 Interrupção inesperada.

CLÁUSULAS CONTRATUAIS GERAIS

Há algumas formas de formação do contrato não previstas no Código Civil, sendo uma delas
as cláusulas contratuais gerais, que é algo da DL 446/85 de 25 de outubro de 1985

A definição aparece no art.1.º do dito decreto-lei, tendo as cláusulas contratuais gerais como
características: pré-elaboração, indeterminação e rigidez (e natureza formularia, geralmente).
Este modelo de contratação é usado em sociedade e XXX de comércio jurídico, sendo feito
para rentabilizar a contratação: a minuta, isto é, o conjunto das cláusulas contratuais gerais é
previamente elaborado por especialistas (juristas), sendo igual para todas as pessoas – permite
diminuir preços e uma maior rapidez. Trata-se de um modelo para rentabilizar a contratação.

Ex.: a EDP periodicamente revê as suas CCG - entrou em vigor em 2000 que correspondiam
aquela que a EDP usava em 2000. Um negócio assim celebrado é um contrato, não lei das
empresas; para cada contrato temps de ver quais as cláusulas que aquela pessoa aceitou.

Estes contratos, celebrados segundo CCG, por serem contratos, são acordos e, por
conseguinte, formam-se através do acordo entre duas pessoas – o utilizador das cláusulas
contratuais gerais e a outra pessoa. Não se consideram incluídas no contrato clausulas que
apareçam depois da assinatura ou que venham a ser alteradas. Um negócio celebrado segundo
cláusulas gerais contratuais é um contrato e, por conseguinte, não uma lei. Dessa forma, para
cada contrato é necessário atender às CCG que a outra pessoa aceitou.

Quando à formação do negócio, trata-se de um exemplo do Direito regulado: impõe aos


utilizadores das cláusulas um conjunto de deveres especiais na contratação relativamente ao
artigo 227.º:

Art.5.º: o utilizador das cláusulas tem dever de comunicação integral do negócio:

Art.6.º fixa um dever de informação, pelo que o utilizador das CCG deve esclarecer o que for
necessário: quer o que for perguntado, quer o que reclamar informações adicionais (contratos
celebrados com bancas e seguradoras que têm cláusulas que não acessíveis ao homem
médio).Existe um acréscimo de diligência relativamente ao art.227.º CC.

Art 5.º, n.º3 fixa o ónus da prova de cumprimento, que impende sobre o utilizador das CCG –
difícil de demonstrar quando as CCG são fornecidas em papel – quando a pessoa só consegue
aceitar.

Art.8.º - Se existir violação destas regras, a consequência, fixada no art.8.º, é a exclusão das
CCG em causa do contrato, que subsiste, ao contrário daquilo que surge fixado no art.227.º que
fixa para a violação uma obrigação de indemnização.

Apesar do utilizador das CCG não pretender que a contraparte negoceia, pretendendo antes
um “sim” ou “não”, não é impossível nem ilícito negociar CCG, sendo que o art.7.º fixa que as
cláusulas especificamente acordadas prevalecem sobre quaisquer cláusulas contratuais gerais,
mesmo quando constantes de formulários assinados pelas partes. Existe liberdade de
estipulação, o que não costuma existir é poder negocial. – art.7.º , que se aplica em qualquer
caso. Se existirem negociações individualizadas, ainda que apenas numa CCG, prevalece o
acordado.

Surge fixado que no art.1.º, n.º2, que este regime é ainda aplicável aos contratos rígidos:
contratos que não estão pré-elaborados, que não dirigidos a um número indeterminado de
pessoas, mas quem propõe não está disposto a negociar.

Tem normas especiais para a interpretação e integração de lacunas – art.10.º e art.11.º.


Este contrato traz particularidades quanto à sua celebração e também quanto ao seu
conteúdo.

Exemplo de Direito Regulado - O legislador percebeu o desequilíbrio entre o poder negocial das
duas partes e, por isso, interveio no conteúdo do negócio visando proteger a parte mais fraca –
o aderente/não utilizador das CCG.

Limitação paras contratos segundo CCG e contratos rígidos – O legislador construiu um sistema
complexo:

Art.15.º e 16.º: é proibido celebrar negócios com CCG em que o conteúdo das CCG seja
contrário à boa-fé (objetiva)

B.F - Constitui um limite ao conteúdo das cláusulas – algo que não existe no CC

Art.16.º - concretização da boa-fé

Art.17.º a 23.º

Consagração de concretizações especiais em relação ao 15.º e 16.º

É possível haver violação do BF sem aplicação de uma destas normas (embora estas possuam
grande amplitude). Por exemplo: Um contrato de seguro desportivo em que nas condições
contratuais gerais se exclua a falta de desporto violento, sendo o contrato celebrado por um
praticante de boxe. – se a seguradora não cobria esta parte não devia ter celebrado o contrato
– violação da boa fé.

Art.17.º e seguintes:
Cláusulas absolutamente proibidas e cláusulas relativamente proibidas.

Empresário – pessoa que atua na sua área de especialização

Consumidor – todos aqueles que não são empresários – conceito subsidiário

Nos casos dos negócios celebrados com empresários, apresentar um conjunto de proibições
menos severos – o empresário tem maior poder negocial por perceber

RELAÇÕES COM

Aplicam-se todas as proibições, quer as que se destinam aos consumidores, quer as que se
destinam as empresários.

Absolutas – aquelas que se surgirem num contrato é nula.

Relativas – dizem respeito a CCG que podem, ou não, ser proibidas consoante o quadro
negocial padronizado – tem a ver com o tipo negocial celebrado no caso concreto –

Em cada alínea dos artigos que fixam as proibições relativas há sempre um conceito
indeterminado – as palavras são palavras que se têm de densificar atendendo ao tipo negocial
em causa – p.e.: é razoável o vendedor de um automóvel que garante o funcionamento de um
automóvel durante 2 anos, mas apenas de ninguém abrir o motor do carro – coisas com grande
complexidade, pelo que é razoável a exigência de ser o único a mexer no mesmo.

Estes conceitos permitem-nos, se conjugados com o tipo negocial, permitem-nos concluir se,
naquele tipo de negócio, uma determinada CCG é proporcional ou não, XXXX – densificação
dos conceitos indeterminados atendendo ao tipo negocial.

O regime da nulidade vem previsto no art.

Redução -art 14.º , que tem uma válvula de segurança – b.f. objetiva.

Esta lei previu uma figura: ação inibitória, art.25.º e seguintes. Esta ação destina-se, sistema
próprio de tutela de consumidores ou de interesses difusos. Art.26.º - legitimidade ativa
coletiva – o objeitva da ação não é resolver um caso concreto, mas sim proibir CCG em
abstrato, proibir uma ou outra CCG ou então um conjunto de CCG. Art.33.º - sanção. Art.32.º .

DL 123 2023, de 26 de dezembro – Institui um sistema de controlo administrativo das CCG,


sendo que ainda não está em vigor – PRETENDE-SE UM CONTROLO AMDNISTRATIVO DE
VALIDADES DAS CCG – sistema de proteção da “parte fraca”, que não negocia as CCG,
limitando-se a aceitar.

CONTEÚDO DO NEGÓCIO JURÍDICO


O conteúdo do negócio jurídico responde à revelação por ele desencadeada, tratando-se do
conjunto das regras que são aplicadas àquele negócio jurídico. Esse conjunto das regras
também se encontra em negócios jurídicos mais simples como uma proposta negocial.

O conteúdo do negócio jurídico pode ter origem na vontade das partes ou no direito
positivado. As regras que se aplicam a determinados negócios jurídicos vão diferenciar e o
conteúdo do negócio jurídico pode resultar da autonomia privada ou da decisão soberana do
legislador.

Nem tudo o que se aplica ao um negócio jurídico por imposição do legislador corresponde ao
conteúdo no negócio. Dessa forma, é necessário distinguir a legislação que regula aquele
negócio jurídico e a legislação que se aplica na decorrência do negócio jurídico, mas que não
faz parte ao seu conteúdo.

Quando se pensa no conteúdo que resulta da lei é necessário distinguir:

 Elementos voluntários
 Elementos normativos
o Elementos supletivos: são aplicados se as partes nada disserem relativamente
a determinada matéria;
o Elementos disjuntivos: não podem ser afastados pelas partes.

 Como distinguir conteúdo supletivo e conteúdo disjuntivo no âmbito da autonomia privada?

 Quais são os interesses que estão a ser protegidos?


o Se o objetivo de uma determinada norma é proteger interesses de terceiros
então não pode ser afastada pelas partes – norma injuntiva;
o Se o objetivo de uma determinada norma é proteger a parte mais fraca então
não pode ser afastada pelas partes – norma injuntiva.

 Podem as partes afastar a obrigação de informação? ART. 227.º CC –

Por outro lado, o conteúdo não se confunde com o objeto, na medida em que o primeiro
corresponde à regulação aplicada ao negócio jurídico e o segundo corresponde ao bem. No
entanto, há uma doutrina clássica, particularmente na Escola de Coimbra, que menciona o
objeto imediato, que é o conteúdo, e o objeto mediato, que é o bem.

Art.280.º CC  O objeto tem de ser possível, lícito e determinável, sendo que este artigo se
aplica tanto ao conteúdo (objeto imediato) como ao objeto (objeto mediato). Por outro lado, o
negócio tem de estar de acordo com a ordem pública e os bons costumes.

 Possível: tem de ser fática e legalmente possível;


o A impossibilidade pode ser objetiva, relativa ao objeto do negócio, ou
subjetiva, relativa aos sujeitos do negócio;
o A impossibilidade pode ser temporária ou definitiva – o que é possível agora
pode não ser daqui a uns meses/anos;
o A impossibilidade pode ser efetiva ou meramente económica;
o A impossibilidade pode ser:
 Inicial: no momento em que é celebrado o negócio jurídico, conteúdo
e objeto são impossíveis – art.280.º CC;
 Xx
 Determinável:
 Licitude:
o Licitude em sentido lato, que é o cumprimento da lei:
o Licitude em sentido estrito:
o XXX
o Ilicitude quanto aos resultados
o Ilicitude quanto aos meios
o Ilicitude quanto ao fim;
o Tudo isto poderá ser relevante atendendo àquilo que as partes combinaram.
 Bons Costumes: moral social, familiar e sexual dominante (construção clássica e
tradicional)
o Os negócios e vida está sujeita a uma moral dominante, atualmente não se
verifica nas sociedades ocidentais e liberais – não entanto continuam a existir
resíduos da mesma na jurisprudência, sobretudo no que toca aos contratos de
prostituição, que são considerados imorais;
o De acordo com os tribunais, a “moral dominante” será o conceito dominante
em cada momento histórico – o conceito de bons costumes, ainda tendo
resquícios relativos à moral sexual dominante tem assumido um pendor
relevante a nível patrimonial;
o Também os códigos deontológicos e a ética dos negócios vêm dar corpo aos
bons costumes – forma de trazer o conteúdo típico da boa-fé para o art.280.º
CC;
 Ordem Pública: conjunto das normas e princípios injuntivos, isto é, conjunto das
normas e princípios que não podem ser afastados pelas partes.

Estes cinco elementos apresentam, no entanto, sobreposição.

 A boa-fé encontra-se nas disposições relativas às cláusulas contratuais gerais, por que razão
não é a boa-fé um critério para averiguar a validade de um negócio?

Parte do conteúdo que, noutras situações, iriamos reconduzir à boa-fé, aqui reconduzir-se-á à
ordem pública e aos bons costumes. Entende-se que a jurisprudência terá preenchido o
conceito de bons costumes com os princípios da tutela da confiança e da primazia da
materialidade subjacente. Entende-se, desta forma, que o significado de “bons costumes” é
relativo. Se a boa-fé corresponde aos princípios nucleares do sistema e se não forem
mencionados, os tribunais foram obrigados a preencher o conteúdo da ordem pública e bons
costumes como contendo esses princípios.

USURA

A usura é considerada um vício, mas também uma malformação do negócio jurídico.


Encontra-se fixado nos arts. 282.º, 283.º e 284.º CC.

O art.282.º CC trata-se de um artigo que levanta problemas de interpretação e aplicação, na


medida em que possui elementos objetivos e subjetivos.

ELEMENTOS SUBJETIVOS ELEMENTOS OBJETIVOS


 No que toca ao usurário, isto é,  Promessa/Concessão de benefícios
quem se aproveita: excessivos e injustificados;
o Exploração de uma o Está subjacente uma ideia
determinada situação de de equilíbrio negocial – o
vulnerabilidade da vítima; Direito só intervém quando
 No que toda à vítima: o desequilíbrio for tão
o Situação de inferioridade e expresso que este deva
de fraqueza; intervir para repor o
 Elemento não equilíbrio;
taxativo: podem o A ideia do legislador é
existir outras proteger a parte mais fraca
situações não que poderá ser explorada
previstas neste quanto à sua fragilidade.
artigo;

Nos termos do art.282.º CC, os negócios usurários são anuláveis, esta solução é, no entanto,
muito crítica, sobretudo, por Menezes Cordeiro, visto que coloca o ónus da prova, isto é, a
necessidade de provar que existiu um negócio com estas características, na vítima. Coloca o
ónus ao lesado de invocar e provar, sendo que a anulabilidade é de conhecimento oficioso.

Menezes Cordeiro propõe a modificação do negócio jurídico usurário de forma a restabelecer


o equilíbrio negocial. Falamos aqui no Princípio do Aproveitamento do Negócio Jurídico que
possui a sua expressão no art.283.º CC - redução por via da equidade.

O art.282.º e os elementos devem ser interpretados de forma única, isto é, têm uma
natureza unitária. Interpretamos este artigo dentro de um sistema imóvel – se um requisito for
de tal forma intensa, pode ser-se menos exigente no preenchimento dos outros.

Por sua vez, o art.284.º CC prevê a usura criminosa, o que altera o prazo de caducidade,
fixado no art.287.º CC: se existir crime, embora haja o prazo de um ano, o prazo não termina
enquanto o prazo criminal não prescrever. Surge uma relação entre direito civil e direito penal.

Este instituto também se aplica aos negócios jurídicos unilaterais.

CLÁUSULAS NEGOCIAIS TÍPICAS

Existem várias e, efetivamente, surgem cada vez mais na prática, no entanto, podem
apontar-se cinco cláusulas negociais típicas clássicas, sendo as mesmas a condição, o termo, o
módulo, o sinal e a cláusula penal.

 CONDIÇÃO (ART.270.º A 277.º CC): A sua fixação sujeita a eficácia do negócio jurídico à
verificação de um facto futuro e incerto, sendo que as partes estão sujeitas às regras
da boa-fé. Possui várias modalidades, sendo as mais relevantes:
o Condição Suspensiva: Sujeita o início da produção de efeitos do negócio
jurídico à verificação de um facto futuro e incerto, isto é, até lá existe negócio
jurídico, mas não produção de efeitos;
 Por exemplo: A dá a B o seu carro quando esta fizer 18 anos;
o Condição Resolutiva: Sujeita o fim da produção de efeitos à verificação de um
facto futuro e incerto, isto é, elebro um negócio se e quando acontecer a facto
futuro e incerto – o negócio termina
o Causais: Trata-se de um facto alheio à vontade das partes – sismo, incêndio,
etc.
o Potestativas: Exercício da vontade de uma das partes -

A doa o carro a B se B utilizar a coisa – Doação sujeita a condição resolutiva (se deixar de usar
deixa de haver doação)

o Momento certo:
o Momento incerto:
o Automáticas:
o Exercitáveis:
o Impróprias. Não são verdadeiras condições visto que falta sempre algum
requisito (p.e.: A doa o seu carro a B quanto este fizer 18 anos. B já fez 18
anos.). Tendem a corresponder a TERMOS.
o Impossíveis (p.e.: A doa o seu carro a B se este passar 5 horas sem respirar);
o Necessárias: (p.e.: A doa a sua biblioteca a B quando C morrer.)
o Legais (p.e.: convenção antenupcial só ocorre se existir casamento)
o Inválida – aplica-se a teoria da unidade – esta cláusula implica a nulidade do
negócio – art.271.º a 274.º CC – boa-fé objetiva – tutela da confiança e
materialidade subjacente; art.275.º CC – perde o elemento da incerteza/o
legislador sanciona atuação contra a boa-fé.
 TERMO: Semelhante à condição, mas o facto é certo – subordina a produção de efeitos
de um negócio jurídico à verificação de um facto futuro e certo – art.278.º CC;
o A dá o seu carro a B no dia 20 de março de 2024;
o Art.1443.º CC
o Art.279.º CC – Contagem dos prazos – MC quando se refere à duração da
proposta contratual aplica o art.279.º CC e existe uma discussão quanto à e):
quanto a sábado? – Em 1966 os tribunais estavam abertos ao sábados, isto é,
era um dia últil – elemento literal (só feriado e domingo) e elemento atualista
(sábados, feriados e domingos).
o Atuação de BOA FÉ- 272.º
 MODO (OU ENCARGO): Regra geral aparece nos negócios gratuitos, tratando-se,
latamente, de uma obrigação que pode ser de conteúdo patrimonial ou não
patrimonial – obrigação a cargo de quem beneficia – NÃO SUBORDINA A PRODUÇÃO
DE EF À VERIFICAÇÃO DA OBRIGAÇÃO;
o No modo os efeitos são produzidos, o beneficiário é que tem uma obrigação –
p,.e: A doa à Biblioteca da FDUL os seus livros desde que a FDUL crie uma sala
com o seu nome – quando FDUL adquire os livros tem a obrigação de colocar o
nome numa sala;
o Adquire-se independentemente da vontade.
o Art.965.º CC
 SINAL: Costuma aparecer em contratos onerosos. Quantia para eu segurar a minha
posição – faz-se um ajuste ao preço final a pagar
o Art.442.º CC -
o Se o contrato não for cumprido, a consequência é a perda do sinal – o valor
que se deu é perdido e, por outro lado,
 CLÁUSULA PENAL: Pena convencional - Pena pelo meu incumprimento - se incumprir
um negócio sei que tenho de pagar X até ao cumprimento
o Compulsória: Função dissuasora
o Compensatórias: Função indemnizatória para cobrir eventuais danos do
lesado;
o Art.809.º e seguintes, CC.

AULA DE 22/03/2024

INTERPRETAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO

A interpretação do negócio jurídico não se regula pela interpretação da lei, que surge fixada
no art.9.º CC. Isso não significa, no entanto, que não se verifique um paralelismo entre a
interpretação do negócio jurídico e da lei.
Quando falamos da interpretação do negócio jurídico de uma perspetiva abstrata há três
possibilidades:

 Interpretar com o sentido que é dado pelo declarante;


 Interpretar com o sentido que é dado pelo declaratório;
 Interpretar com o sentido que é dado pelo declaratório normal.

Por exemplo: A e B celebram um contrato de compra e venda de uma margarida. B entrega a A


uma porquinha.

 Sentido do declaratário normal: Margarida = Flor;


 Sentido do declarante: Margarida = Porquinha;
 Sentido do declaratário: Margarida = Comida.

Esta matéria surge fixada no art.236.º CC, que possui três partes:

 “A declaração negocial vale com o sentido que um declaratário normal, colocado na


posição do real declaratário, possua deduzir do comportamento do declarante”:
o Surge como princípio geral – sentido objetivo;
o Declaratário normal – Típico daquele negócio, habituado ao mesmo (“pessoa
comum” no caso da compra de um café, mas não no caso de um negócio de
construção de um centro comercial, por exemplo, na medida em que o homem
comum nada percebe desta área)
o A partir deste princípio, Menezes Cordeiro elenca elementos:
 Letra: o texto, portanto, quer seja oral ou escrito;
 Textos circundantes: em contratos mais complexos temos definições,
preâmbulos, anexos, etc. - tudo isto deve ser tido em atenção;
 Antecedentes: Espécie de “trabalhos preparatórios” numa analogia
face aos textos legislativos – são relevantes, mas têm fragilidades que
decorrem da interpretação da vontade das partes ao alterarem certos
preceitos;
 Contexto da prática negocial: Sobreposição com os textos
circundantes, na medida em que o contexto está relacionado com a
forma como o negócio é aplicado.
 Num contrato público, que segue uma série de pressupostos, o
candidato A ganha e executa aquele se contrato de
determinada forma, verificando-se posteriormente que a
interpretação e aplicação do negócio é errada, ainda que o
tenha feito durante 10 anos – é relevante;
 Fim: Para que é que as partes celebraram aquele contrato? Se as
partes celebraram aquele contrato para atingir determinado fim (p.e.:
construir um centro comercial) e esse fim não é atingido então pode-
se depreender que a interpretação não está a ocorrer da forma certa;
 Eventuais elementos jurídicos extra-negociais: Princípios que
sustentam esse sistema jurídica;
 Por exemplo: Princípio da boa-fé, declaração universal dos
direitos do Homem, …
o Desta forma, se um negócio causar dois sentido
diferentes atende-se àquele que respeitar estes
princípios;
o Estes elementos encontram-se em negócios particularmente complexos, sendo
que não se verificam em todos os negócios (nomeadamente negócios mais
simples);
 Sempre que o declaratário conheça a vontade real do declarante, é de acordo com ela
que vale a declaração emitida;
o Por exemplo:
 A e B combinam que Margarida significa porquinho – as partes já
sabem o que estão a comprar;
 “A declaração negocial vale com o sentido que um declaratário normal, colocado na
posição do real declaratário, possua deduzir do comportamento do declarante, salvo se
este não puder razoavelmente contar com ele”:
o Temos um consumidor, A, que vai celebrar um contrato com a Vodafone, sendo
que proposta não é feita por esta, mas é sim A que pega nas CCG da Vodafone
e as apresenta – o conteúdo é elaborado pela Vodafone mas quem a apresenta
é o António – situação para um declarante, A, não é razoável atribuir o sentido
que deveria ser atribuído, na medida em que A não escreveu as CCG nem tem
conhecimentos para tal – A não surge como exemplo do declaratário normal
porque não percebe o que está a fazer;

O legislador escolher, como princípio base, o sentido decorrente da interpretação do


declaratário normal. Sendo que admite exceções.

Art.237.º CC

 Há uma discussão teórica de saber se os contratos devem ser justos, isto é,


intrinsecamente equilibrado – do ponto de vista histórico, os ramos entendiam que as
prestações não deveriam ser iguais, sendo que, posteriormente, por influência do
direito canónico, se entendia que os contratos deveriam ser justo e que, por
conseguinte, a prestação e a contraprestação tinha de ser igual;
 Só se recorre a este artigo quando não for possível esclarecer qual o sentido do
negócio;

Art.238.º CC: as partes podem convencionar que “porquinho” ´= “margarida”. Afastamento ou


não correspondência exige uma maior fundamentação.

Art.239.º CC: Quando as partes nada dizem aplica-se os regimes supletivos

A compra uma garrafa a B – aplica-se o regime da compra e venda, não caindo no art.239.º CC.

O facto de uma matéria não ser trata não significa que haja uma lacuna. Em algumas situações
a ausência de conteúdo traduz-se numa invalidade do negócio.
AULA DE 05/04/2024

VICIOS DA VONTADE

O negócio jurídico corresponde a uma manifestação da autonomia privada, a uma


manifestação de vontade em que o próprio, através da sua liberdade, decide o que diz e o que
faz.
No âmbito da formação do negócio possuímos dois momentos distintos: o momento interno,
em que a vontade é formada, e o momento externo, em que a vontade é manifestada.

A vontade pode sofrer um vício em ambos estes momentos: por exemplo, a vontade pode ser
malformada porque fui enganado (e, nesse sentido, tenho uma perceção da realidade que não
corresponde à efetiva) ou então ainda que a vontade esteja bem formada, a vontade
exteriorizada não corresponde à interiorizada.

A vontade pode ter sido perfeitamente formada, contudo no momento de exteriorização há


algum problema, não correspondendo uma com a outra.

Existem, portanto, vícios relativos à formação da vontade e vícios relativo à exteriorização da


vontade. A pessoa formou mal a sua vontade ou exteriorizou-a de forma errada: por que razão
tal é relevante para o Direito?

Quando comparamos o direito inglês ao romano germânico encontramos diferenças enormes


relativamente aos vícios e vontade. Exemplo clássico do acórdão inglês da venda da casa a um
senhor que a casa não tinha teto – ele não foi ver a casa e foi enganado – o direito inglês
admitiu a falta do comprador mas no direito romano germânico tal não se verificaria.

A necessidade de, no âmbito do direito civil, a ciência jurídica voltar a fazer aquilo que se
fazia ao longo dos séculos: verificar se os avanços nos ramos jurídicos especiais devem ser
trazidos para o centro. Guilherme Moreira saltou por cima do código civil e trouxe os vícios de
vontade dos alemães e italianos e aplicá-los.

Pegar em vícios de vontade positivados no CC e fazer uma leitura atualista integrando-os.

Ler o art.280.º CC relativamente às cláusulas dos bons costumes, para dizer que determinada
prática tem como consequência

Invocar o artigo 280.º CC, nomeadamente a cláusula relativa aos bons costumes, para dizer
que uma determinada prática tem como consequência a nulidade do negócio jurídico.

No direito do consumo, uma insistência é suficiente para se considerar falta de liberdade: não
é coação. No âmbito da proteção de dados, pode-se voltar a trás.

Só temos uma hipótese: pegar em vícios de vontade já positivados no código civil

Há várias formas de apresentar os vícios de vontade.

É possível trazer alguns casos do direito do consumo e da proteção de dados para o direito
civil.
COAÇÃO ABSOLUTA

Art.246.º CC  A declaração não produz qualquer efeito, se o declarante (…) for coagido pela
força física a emiti-la.

Alguém é coagido pela forma física a emitir uma declaração. No âmbito do direito civil os vícios
são relevantes quando relativos aos negócios jurídicos. A declaração não produz qualquer
efeito.

O que caracteriza esta coação física: há uma total ausência de vontade. As situações-tipo ao
qual se aplica este artigo é:

Alguém pega na minha mãe e assina o contrato;

Estamos num leilão e alguém levanta o meu braço.

Não há vontade do próprio, nunca pensou sequer o contrato – há uma ausência de vontade da
pessoa que exterioriza a vontade.

Quando estudamos a coação absoluta e a coação moral com meios físicos.

É difícil estabelecer quais são os elementos da coação absoluta.

COAÇÃO MORAL

Art.255.º CC

Ameaça: manifestação de um sujeito que está associada à produção de um mal, isto é, de um


prejuízo;

É uma ameaça em relação ao quê ou a quem? “Ou me vendes o teu telemóvel por 5€ ou levas
um estalo!” – ameaça “Ou me vender o teu telemóvel por 5€ ou parto o teu computador!”.

A ameaça pode ser relativa à outra parte negocial como ao seu património. A ameaça pode ser
só em relação ao próprio e ao seu património? Ou também inclui terceiros? Inclui-se apenas
terceiros relevantes? O legislador resolve este problema no art.255.º2 CC.

ilicitude da ameaça: Este elemento, me certa medida, é relativamente artificial – algumas


ameaças são lícitas – art.255.º/3 CC.

Por exemplo: “Ou me pagas o que deves, ou levo-te a tribunal!”.

dupla causalidade da ameaça: é necessário que a ameaça cause medo e que esse medo seja
determinante para a celebração do negócio ou declaração de vontade. É necessária uma
verificação cumulativa dos dois elementos.

finalidade de extorquir uma declaração negocial:


Quando se resolve um caso prático de coação moral têm de se verificar os 4 elementos –
verificada a cação moral o art.256.º CC fixa a anulabilidade.

Casos

António é conhecido por se muito violento e sempre que alguém não faz o que António quer,
António dá-lhe uma tareia. Um dia, A pergunta a B se não quer comprar o cavalo dele por um
preço qualquer. B, conhecendo a fama de A, aceita. Mais tarde, A devido a um problema de
saúde torna-se mais calmo e B leva o caso a tribunal afirmando a coação.

Uma ameaça apode ser expressa ou tácita: “vendes-me o teu computador por 5000€? Hoje
vi a tua filha!” - ameaça tácita.

Vício de vontade da Influência indevida

Está positivado no direito português desde, pelo menos, 2008, na legislação referente às
práticas comerciais desleais. O vicio da influência

O empregador pergunta ao trabalhador se pode usar a sua fotografia para colocar no site da
empresa. O empregador, com receio de ser despedido aceita mas depois vem a tribunal
afirmar que apenas aceitou por ter medo de perder o seu trabalho. Se se verificar um
desequilíbrio das posições

Nos direitos anglo-saxónicos, a influência desta figura sempre existiu: os tribunais ingleses
desenvolveram porquie a coação medieval era muito restritra, sendo muito difiicl prova-la.

 Demonstra-se a existência de um desequilíbrio entre as partes;


 Demonstra-se que uma das partes tem uma grande influência sobre a outra – pode ser
uma influência positiva;
 Demonstra-se que essa situação de influência é exercida.
 Que é exercida para a pessoa que exerce a posição de influência retirar um benefício
inadequado.

Podemos trazer isto para o código civil? Como interpretar a coação moral de forma a incluir
isto? O problema está no n. º3: o temor reverencial aproxima-se da figura da influência
indevida.

António é professor de Bento e pergunta-lhe:” compra-me este computador por 5000€?” –


Bento apenas aceitou, sabendo que estava a ser enganado, pela influência do professor.

Os alemães têm resolvido este problema invocando os bons costumes. É uma solução. No
entanto, qual o sentido de a influência ser nulidade e a coação moral ser anulabilidade?
O que significa o termo referencial?

O caminho de incluir a influência indevida através dos bons costumes tem uma consequência
esquisita.

Fazer uma interpretação extensiva da coação moral de forma a incluir o vício da influência
indevida com os avanços da periferia do nosso direito e direito civil.

AULA DE 12/04/2024

SIMULAÇÕES

Vício de vontade que tem muita expressão na ordem jurídica portuguesa e, no geral, nos
países latinos. No âmbito da simulação não há teses alemãs na ciência jurídica alemã, sendo
que os italianos estudaram muito mais sobre elas. A figura da simulação não é muito relevante
na ciência jurídica alemã.

A e B celebram um contrato de CV de bem imóvel mas A não sai da casa e paga todas as contas
da casa. A simulou a venda do bem imóvel a B de forma a que o seu filho não adquira a casa.

O contrato é uma doação – A ofereceu o bem imóvel a B. Mas, na realidade, trata-se de um


contrato de compra e venda: B pagou €300.000 pelo imóvel.

Do ponto de vista histórico, esta figura não era conhecida, a nível sistemático, pelo direito
romano. Do ponto de vista histórico, o elemento interessante é que durante o período
medieval, até Savigny, havia uma grande aproximação da simulação à fraude à lei.

Para Savigny, o elemento distintivo da simulação era a divergência entre a vontade real
(escondida) e a vontade exteriorizada (dissimulada). Savigny afastou a simulação da fraude à
lei.

A simulação está fixada nos art.240.º a art.243.º CC., sendo que os seus requisitos são:

 Existência de um acordo entre declarante e declaratário – facto simulatório;


o Elemento distintivo da simulação;
 Divergência entre a vontade declarada e a vontade real;
 Intuito de enganar terceiros;
o Não é necessário prejudicar alguém – há engano, mas pode não haver
qualquer dano;
o No entanto, se se comprovar uma simulação, mas ninguém for prejudicado,
pode o Direito obrigar à restruturação? Sendo que isso leva prejuízos?

Simulações
 Absoluta: A divergência de vontade está numa contradição direta com o que se diz - As
partes conjeturam uma mudança quando na realidade o status real se mantém
inalterado.
o Por exemplo: Vontade declarada é a celebração do contrato de compra e
venda e a vontade real é a não celebração do contrato de compra e venda;
 Consequência: Nulidade;
 Relativa: A divergência de vontade não está numa contradição direta com o que se diz;
o Objetiva: Quando respeitar ao objeto ou ao conteúdo – divergência quando ao
bem ou quando ao conteúdo entre a vontade real e a vontade declarada;
o Por exemplo: A e B simulam celebrar um contrato de doação quando celebram
efetivamente um contrato de compra e venda;
o Distingue-se em:
 Total: divergência entre os contratos que se simulam e os que se
pretendem;
 Por exemplo: Dizem que celebram uma doação quando
celebram um contrato de compra a venda;
 Parcial: divergência entre uma cláusula simulada e a cláusula
pretendida;
 Dizem que o valor do negócio é €3.000 quando é, na verdade,
€4.000;
o Subjetiva: Quando respeitar aos sujeitos – interposição fictícia de pessoas;
 Por exemplo: Foi celebrado um contrato com pessoa X, sendo na
realidade pessoa A.

É celebrada uma doação – as partes dizem que querem uma doação; mas, na verdade,
celebram uma compra e venda, na medida, em que, por debaixo da mesa, as partes trocaram
quantias monetárias  Consequência: nulidade.

Art. 241.º CC: a doação é nula, mas reconhece-se que se celebrou o contrato de compra e
venda (à luz do Direito, portanto).

2. A compra e venda está sujeita a forma especial (art.875.º CC): se a forma não for seguida o
negócio é nulo – o legislador diz que se tiver natureza formal, ele só é válido (reconhecimento
por parte do Direito) se tiver a forma admitida por lei.

 Divergência doutrinária:
o Teoria da Forma da Declaração: consegue-se retirar da declaração
exteriorizada que as partes pretendiam a compra e venda? Se sim, está
respeitado o art.241.º/2 CC – do contrato de doação retira-se se as partes
queriam compra e vender?
 Resultado prático: esvazia o art.241.º/2 CC – num contrato de doação
nunca se encontrar uma declaração de vontade é no sentido de
compra e vender;
o Teoria da Forma do Negócio: A forma para a doação de bens imóveis é
(art.947.ºCC) é escritura publica ou documento particular autenticado – se há
uma coincidência entre a forma do que foi simulado e aforma do que foi
dissimulado então salva-se o negócio – comparação do art.875.º CC e art.947.º
CC;
o Teoria Ratio da Forma: Não basta haver uma coincidência formal entre o
art.875.º CC e o art.947.º CC – é necessário verificar se os propósitos que
exigem a forma no art.875.º CC são iguais aos propósitos do art.947.º CC – se
sim, salva-se os negócios,
 Não interesse a forma, mas sim a substância- o cumprimento formal
não basta, sendo necessário uma coincidência material (através da
verificação de uma coincidência de propósitos) – ideia de
materialidade subjacente;
 Neste caso, os propósitos são iguais (publicidade, impostos, …)
então valida-se o negócio.
 Tese defendida por BMC e MC.

Há apenas um negócio de compra e venda: a única diferença é que as partes dizem que o
preço é 4000€ quando na verdade é 5000€ - a solução jurídica é a mudança da cláusula –
reconhecimento do valor real/escondido. SOLUÇÃO JURISPRUDENCIAL.

Art.243.º CC  A nulidade proveniente da simulação não pode ser arguida pelo simular contra
terceiros de boa-fé.

 Problema: preferências legais –


 A e B fazem uma simulação objetiva parcial relativamente à compra e venda de uma
herdade: aquela herdade foi vendida por €500.000 quando, na realidade, foi vendida
por €1.000.000. Um dos vizinhos da quinta, C, tendo preferência legal, apresenta
proposta de €500.000. Como é um terceiro de boa-fé, a simulação não lhe é oponível –
Carlos compra a herdade. A partir do momento de que B saiba do valor real, deixa de
poder preferir pelo €500.000 – deixa de poder exercer aquele direito;

Você também pode gostar