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‘Teoria II

19/02/2024

Abuso do Direito

Artigo 334º CC

“É ilegítimo o exercício de um direito, quando o titular exceda manifestamente os


limites impostos pela boa fé, pelos bons costumes ou pelo fim social ou económico
desse direito.”

O modo que o artigo 334º é compreendido, é à luz do Menezes Cordeiro + Doutrina +


Jurisprudência.

Face à interpretação de Menezes Cordeiro a parte bons costumes ou pelo fim social ou
económico desse direito ficou fazia. Menezes Cordeiro vem dizer que o abuso do direito
é um mecanismo relativo à boa fé.
Por vezes alguns acórdãos referem os bons costumes.
O abuso de direito, na nossa jurisprudência, é a basicamente a manifestação do princípio
da boa fé.

Dissecação do artigo

Ilegítimo ⟶ (legitimidade ou ilicitude?) a interpretação deve considerar que é ilícito,


contrário à lei.

Direito ⟶ interpretada de forma extensíssima, não é apenas direitos subjetivos, não são
apenas situações jurídicas ativas, todas as situações jurídicas (ativas/passivas,
direitos/deveres) cabem no âmbito de aplicação do 334.

Manifestamente ⟶ no ponto de vista da aplicação é uma expressão caótica. Expressão


que atribui, por parte do legislador, um reconhecimento que deve ser dado ao intérprete/
aplicador para ter uma maior discricionariedade na tomada de decisão.
Vantagem: permite ao intérprete / aplicador agilizar de forma mais fina a solução
concreta.

Função económica e social ⟶ tem um peso nos trabalhos preparatórios, essencialmente


a função social que é sublinhada. Está associada à causa dos negócios jurídicos. No
direito português, enquanto conceito relevante desapareceu. Foi aproveitada pela ciência
jurídica, mas atualmente é essencialmente vazia.
Bons costumes ⟶ moral, social, familiar e sexual dominante.
Vivemos numa sociedade amoral, e por isso é difícil encontrar uma moral dominante, os
próprios tribunais mostram isso, os bons costumes continuam a ser invocados. Mas
como a sociedade é amoral e consumista, o bom costume tem evoluído nesse sentido
também (280).

Boa fé ⟶ espírito do sistema privado português / abrange os princípios nucleares do


sistema jurídico. Muitos consideram e imputam um sentido ético, em que a boa fé age
quase como injusto que viola o direito natural, o sentido do povo – Menezes Cordeiro
nunca disse isto, apresentou a boa fé sempre num sentido formal, a boa fé, tem
diferentes sentidos nos diferentes ordenamentos jurídicos.
A boa fé em teoria, pode permitir afastar todo o conteúdo de Menezes Cordeiro. À luz
do sistema, o professor encontra dois princípios, substantivos do princípio da boa fé: a
tutela da confiança e a primazia da materialidade subjacente.
Menezes Cordeiro, chegou a estes princípios, pela forma que a ciência jurídica evolui há
2000 anos.

venire contra factum proprium

exercício de uma posição jurídica


em contradição com uma conduta
antes assumida ou proclamada pelo
agente

A ciência jurídica evolui da periferia para o centro, tem sido tendencialmente assim. Na
análise a milhares e milhares de decisões, de diferentes países, com sistemas políticos
diferentes, começou-se a identificar a boa fé num sentido quase básico de justiça, era
invocada em várias situações.
A boa fé é invocada a prepósito da venire contra factum proprium, quando alguém
constrói uma torre apenas para prejudicar terceiros, quando alguém convence outro que
não é necessário uma forma especifica de um contrato e depois vem reclamar que não
foi feito da forma correta.
Essas situações tipo, são depois ligadas, e permite analisar o(s) fundo(s) um por um,
estes dão origem aos princípios.
Quando identifico os princípios do meio, tudo fica integrado.

Tutela da confiança

Elementos (podem ser encontrados nas situações tipo que se funda o principio da
confiança):

Situação de Acreditar que está numa situação de confiança.


confiança
Justificação da Elementos objetivos capazes de provocarem, em abstrato uma crença
confiança plausível. O sistema à luz universal do declaratário normal, vai fazer
uma triagem entre as convicções que merecedoras de proteção
jurídica e as que não são. Nem toda a confiança é merecedora de
proteção jurídica, apenas a justificável. *
Investimento da No direito civil interessa essencialmente o dinheiro,
confiança Há algum custo?
Imputação da A confiança para ser relevante no ponto de vista jurídico, tem de ser
confiança imputada.
*Gralha – Menezes Cordeiro diz que a situação de confiança deve ser avaliada à luz da
boa fé subjetiva ética e, portanto, não se analisa apenas se está convicto, mas também se
a convicção é justificada. Ora, quando atribuímos à situação de confiança o conteúdo de
boa fé subjetiva ética, estamos a basearmos na sua ? e, portanto, das duas uma ou se diz
que a situação de confiança é uma analise apenas de boa fé subjetiva psicológica, na
justificação de confiança verifica-se se é merecedora de proteção jurídica ou se dizemos
que é de boa fé subjetiva ética a justificação de confiança desaparece e passo a ser
apenas ?

Caso prático:

A cria a convicção a B que vai atuar de determinada forma e depois volta atrás. E
quando volta atrás há um prejuízo e B vai a tribunal e diz: não pode ser, foi me criada a
convicção, ele está a voltar atrás, é uma situação abusiva de venire contra factum
proprium.

1ª coisa a analisar – situação de confiança: bento tem a espectativa, está confiante de


que A vai atuar de determinada maneira. Analise subjetiva à pessoa de B

Justificação da confiança – o declaratário normal considera que B tem razão para se


encontrar numa situação de desconfiança.

Investimento da confiança – se B não fez qualquer investimento, se gastou / perdeu


dinheiro porque A mudou de opinião, não tem interesse

Imputação da confiança – está numa situação de confiança porquê? Ah foi a mulher /


filho de A que criou essa convicção.

Situações tipo

 venire contra factum proprium – no sei seio tem duas figuras:

- Suppressio surrectio – supressão e surgimento


Particularidade em relação aos 4 elementos? Tem um 5º elemento: a passagem do
tempo.

Tribunal: muitas vezes faz referência à passagem do tempo

Caso prático:

A tem uma garagem que não usa e B seu vizinho ao aperceber-se que a garagem não é
utilizada, estaciona lá o automóvel, leva para lá uma série de caixas. Todos os dias A
passa pela garagem, vê que B tem lá o automóvel e nada diz. Chegam a falar. Passam se
10 anos, A envia uma carta a B dizendo: quero que me pagues 10 anos de renda.

Situação de confiança: B acha que pode usar garagem sem ter de pagar nada.

Justificação de confiança: é uma confiança justificada visto B usava a garagem à vista


de toda a gente, o declaratario normal colocado na situação do B acharia justificável não
pagar qualquer renda, considerando a envolvência.
Investimento da confiança: A querer o dinheiro.

Imputação da confiança: seria diferente se todos os vizinhos soubessem que B usa a


garagem, mas A não soubesse, mas A sabia e falava com B. B encontra-se numa
situação de confiança imputável.

Elemento extra que trás muita confiança aos tribunais: passagem do tempo – torna os
outros elementos mais robustos e a relação de confiança é mais forte.

A não perde o lugar na garagem, não deixa de ser proprietário, perde é o direito de
exigir a renda.

- Inalegabilidade formal
Situação clássica: contrato promessa de compra e venda imóvel

Caso prático:

A vai celebrar um contrato de promessa de compra e venda imóvel e para e todos e


alguns efeitos externos a terceiros é necessário proferir uma forma especial e quando ao
celebrar este contrato B interroga: não é preciso uma forma especial? E A nega com
certeza. mais tarde quanto B quer beneficiar A diz que é preciso a forma.

Situação de confiança: B acha que é preciso forma

Justificação de confiança: é justificada

Investimento da confiança: há uma perda

Imputação da confiança: fortíssima por A que depois volta atras com a sua palavra

(só falta os efeitos que isto causa)

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