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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II – JOSEANE SUZART

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA - FACULDADE DE DIREITO - 2018.2


MARIANA SOARES SANTOS
AULA 1 – 24/08/2018

Ubi emolumentum, ibi onus; uibi commoda, ibi incommoda (Quem aufere os cômodos (lucros) deve
suportar os incômodos ou riscos). Institutas de Gaio.

Arts. 421 a 435, CC/02.

ESTRUTURA CONTRATUAL
“Contraire”, entrelaçar, entrelaçar com o próximo. Direito romano observou pactos que davam origem a
estruturas jurídicas que davam origem ao contrato. Vínculo jurídico através do qual há aquisição de direitos, com o fim de
resguardá-los, transmiti-los, modificá-los ou extingui-los (Orlando Gomes – contrato). União de vontades. Toda a história
do Direito Romano traz a configuração do contrato com junção de animus, interesses. Com a sedimentação da indústria,
há surgimento de contratos padronizados.
Em 1960 o então presidente Kennedy fez um discurso histórico quanto a importância dos consumidores. Desde
então, contratos de adesão se alastraram na esfera consumerista e trabalhista. Contrato hoje, para ser elaborado entre dois
sujeitos, é praticamente algo inexiste. A veracidade dos vínculos, a liquidez e a sua dinamicidade são muito grandes. Hoje
estamos em uma sociedade totalmente volátil e descentralizada das questões territoriais que reverberam na
responsabilidade civil.
CONDIÇÕES DE VALIDADE DE CONTRATO
REQUISITOS ESSENCIAIS PARA SURGIMENTO DE VÍNCULO CONTRATUAL
Todo contrato, para que tenha validade, necessita basicamente de requisitos, que podem ser classificados em:
subjetivos, objetivos e formais. Na parte de negócio jurídico, vimos esses requisitos, mas se fará uma revisão.
SUBJETIVA
Diz respeito às pessoas envolvidas na pactuação. Precisamos ter sujeitos capazes. ‘’Estatuto do deficiente” –
incapazes externando a sua vontade. Manifestação, legitimação (outorga de casamento, por ex.), capacidade. Quem são,
quais pretensões e se estão aptos.
Ou seja: questão da vontade do sujeito. Para o contrato ser formalizado, é preciso uma manifestação de vontade.
Ainda que o contrato de adesão seja elaborado pela outra parte, vamos concordar ou não. Gilmore elaborou a obra “A
Morte do Contrato”, porque chegou ao ponto que se não aceitarmos contratos de adesão ficaríamos sem luz e água.
Mesmo assim, é a teoria adotada pelo Brasil, pois se acredita que, mesmo assim, a vontade está sendo representada.
Há também legitimação, diferente de legitimidade. A legitimação diz respeito a uma condição subjetiva que
permite ao sujeito a prática de determinado ato no mundo do direito civil. Ex. expresso: outorga uxória. Autorização que
precisamos ter do esposo ou da esposa quando o outro cônjuge deseja vender um bem da estrutura matrimonia. Lei 8.254
(inquilinato): quando fazemos um contrato e alugamos um imóvel, naquele contrato é preciso saber se na condição de
inquilino pode-se fazer uma sublocação, porque muitas vezes o proprietário não admite.
OBJETIVO
Qual objeto está sendo lidado, analisado e discutido e pactuado? O objeto precisa ser lícito. Ex.: produto
pirateado, pode reclamar? Se está praticando contrato com base em algo de origem ilícita, não pode reclamar
juridicamente. Precisa ainda ser determinável/determinado. Deve ser possível. Há conotação econômica nesse objeto? E
no que tange aos direitos da personalidade: quanto vale o nome, imagem, honra, intimidade? Características dos seres
humanos. No caso de violação, tem que saber qual o valor. Tem que buscar cálculo com base na idade, emprego, classe,
etc. do sujeito.
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Sabendo que o objeto deve ser lícito, essa licitude vai ser analisada de modo mediato e imediato. Imediato: se
encontra a prestação, a atividade humana de fazer, não fazer ou entregar. O homem desprende energia para a prática
daquele ato. Sob o aspecto mediato, encontra-se o bem, móvel ou imóvel. O objeto, além de lícito, precisa ser possível, e
essa possibilidade pode ser constatada no plano concreto e viabilizar o negócio jurídico e o contrato. Os arts. 243 e 252
tratam da determinação do objeto em si, porque se pode ter coisas certas, se está fazendo a compra de determinado item,
mas há também coisas incertas e futuras (ex. determinadas safras). O objeto deverá ser lícito, determinado ou
determinável e possível.
Se atribui, ainda, uma valoração econômica. Há aspectos difíceis de atribuir uma conotação econômica, mas para
o mundo do direito é necessário em determinadas situações pois é preciso essa ideia de quantificação para fins de
indenização.
FORMA
O Brasil adota a teoria/concepção para forma livre.
Art. 107. A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a
exigir.
Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à
constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o
maior salário mínimo vigente no País.
O Brasil adota o sistema consensualista (Pontes de Miranda). Se não há a regra, eu poderei ter a possibilidade de
assumir a forma que bem entender com o parceiro. Para os imóveis, há forma vinculada: escritura pública. Existem
negócios jurídicos baseados em formas específicas. Se queremos realizar compra e venda precisamos de escritura pública
por exemplo. A depender do tipo de negócio, pode ter forma específica prevista, ou formas livres. Pode-se criar
determinados institutos ou negócios jurídicos por formas livres.
Há, portanto, formas múltiplas: o negócio jurídico que pode seguir uma forma ou outra (ex. fundação). Há
determinados contratos que, a partir do valor, é preciso ter uma forma escrita. O art. 401 do CC diz que o valor envolvido
na negociação jurídica superior ao teto do salário mínimo precisa ter testemunhas para demonstrar aquela situação jurídica
naquela situação concreta. Apesar de o Brasil adotar a teoria consensual, é preciso notar o tipo de negócio jurídico
intitulado, portanto.
PRINCÍPIOS VETORES DOS CONTRATOS
AUTONOMIA DA VONTADE
Os sujeitos devem ser livres para decidir o que pretendem contratar. Infelizmente, no plano concreto, nem sempre
isso sucede. Se quer contratar energia, não há outra companhia senão a COELBA. Se o condomínio tem sistema de gás,
não há outra empresa senão a Bahiagas. Nossa autonomia pode ser restrita às vezes. A autonomia da vontade pode ser
vista no campo mercadológico sob a premissa de uma autonomia não autoritária, mas deve ser racional, sem deixar de
levar em consideração a outra parte, sujeito de direito, que merece respeito devido e necessário (Luigi Ferri).
Separação entre público e privado? Não mais. Direito Civil não é só aquele com quem eu celebro contrato ou
aquele que praticou ato ilícito e me gerou dano. Tudo o que fazemos traz consequências à sociedade. A ordem pública
deve sempre ser analisada e ponderada.
Ou seja, não é a autonomia privada de outrora através da qual, na revolução francesa ou no CC de Napoleão, que
o sujeito fazia o que queria sem se preocupar com os efeitos negativos da sua conduta. É lastreada na racionalidade, boa-
fé objetiva e função social do contrato. Existe uma obra civilista do italiano Ferri denominada “Autonomia Privada”:
passamos de uma etapa em que o sujeito fazia o que desejava, almejava, dentro de uma liberdade extremada para
alcançarmos a etapa no bojo da qual o sujeito ainda tenha essa vontade, embora a vontade seja estreitada. Não podemos
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esquecer que estamos dentro de uma sociedade. Há de se observar que o conceito de autonomia privada dentro da ótica da
autonomia privada precisa ser vista com racionalidade e baseada nesses pilares.
CONSENSUALISMO
O Brasil não adota teoria para formas fechadas, exceto para negócios jurídicos específicos e determinados.
Quando há forma: não é exigida, pode ser substituída e modificada a depender da natureza da situação concreta
vivenciada. Significa dizer que os sujeitos podem pensar em instrumentos variados, distintos, que podem ter formas que
serão objeto de deliberação entre eles, exceto para negócios jurídicos com forma prescrita. Ex.: compra e venda de
imóveis, tem que ter registro. Ou seja: o Brasil adota o sistema em que o sujeito adota a forma que achar pertinente. Há
contratos atípicos que não estão previstos no CC, mas que são de acordo com a vontade dos participantes.
RELATIVIDADE
Estipulação em favor de terceiros. Ex.: empresa fez contrato de seguro de vida para trabalhadores, ou contrato
de plano de saúde. Quem fez a contratação foi a empresa com a empresa/operadora de saude. O contrato é entre
empresa/seguradora, mas os beneficiados são os trabalhadores. O contrato pode ser estabelecido entre A e B, mas pode
trazer efeitos para determinados sujeitos que não estão nos polos da obrigação. Ex.: usuário da tim/vivo/oi/claro – essa
pessoa usuária do produto, não é a única. Noção de direito coletivo. A tradicional noção de que o contrato é entre A e B
não é mais tão certa, deve ser analisada.
Por quê, então, relatividade? Caio Mário dá um ex.: podemos fazer um contrato mediante estipulação em favor de
terceiro. Os exemplos acima ilustram que o contrato, embora estejamos dentro de um contrato, pode ter seus efeitos
reverberando para terceiros beneficiados. Outro exemplo: contrato com pessoa a declarar.
A relatividade contratual é vista diante dos interesses e direitos transindividuais. Quando formalizamos um
contrato com determinada operadora de telefonia, aquele contrato firmado não é feito exclusivamente para uma pessoa – é
escolhido também por demais outros sujeitos. Não há que se imaginar mais somente a noção de contrato somente entre A
e B, porque há contratos apresentados para demais pessoas ao mesmo tempo. Muitas vezes a providência em face da
publicidade independe de qualquer contrato firmado. Ex. se há um outdoor abusivo, não precisa de contrato para abrir
uma ação coletiva contra aquilo.
OBRIGATORIEDADE
Pacta Sunt Servanda: cumpra-se o contrato na forma que foi estabelecido. Esse princípio não foi pisoteado com
o surgimento do contrato de adesão, mas há de se observar se for detectada cláusula abusiva num contrato (não só nos
contratos dispensáveis, mas também aqueles indispensáveis como água e luz).
Contratação vem muito sob o aspecto verbal, assim como há o comportamento socialmente típico (ex.: do
ônibus, não fala nada com o cobrador nem motorista). Mas, se há acidente: há responsabilidade civil contratual. Prova?
Karl Larenz (ideia do comportamento socialmente típico). Dá para ler contrato com banco, mas dizer que quer mudar
cláusula? Não.
Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou
estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou
modificar substancialmente seu conteúdo.
Ninguém consegue sugerir nada. A obrigatoriedade: pacta sunt servanda – sirva-se do pacto estabelecido,
cumpra-se aquilo que foi pactuado.
FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO
Não olvidar da cláusula geral da boa-fé objetiva.
“Ubi homo ibi societas; ubi societas, ibi jus” – onde há homem, há sociedade; onde há sociedade, há Direito.

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Da mesma forma que função social da propriedade, princípio hoje visto como cláusula geral, vai exigir por parte
dos contratantes uma participação que não pode ser de forma egoística, é preciso ver até que ponto o conteúdo do negócio
jurídico vai ou não prejudicar a terceiro. Ex.: planos de saúde e a impossibilidade de fazer um contrato como pessoa física,
melhor visto abaixo.
Ao exercer determinada atribuição ou firmar contrato, não nos esqueçamos que estamos inseridos na sociedade e
aquele contrato vai trazer consequências para o meio social. Questão de uma pessoa que tem imóvel em determinado
bairro, outrem aluga e o locatário decide criar um bar com poluição sonora. Precisa avaliar os impactos sociais.
Trabalhista: demissão/conjunto de demissões, mesmo estruturado em premissas ilícitas/prejudiciais, haverá uma massa de
pessoas desrespeitadas.
A função social do contrato causa efeitos externos para o meio social. Na esfera consumerista: plano de saúde –
contratos coletivos, na maioria das vezes. Ninguém mais consegue fazer contrato individual. Isso pois as empresas
afirmam que possuem o direito de fazer contratação apenas por pessoa jurídica. Operadoras não querem contratar com
pessoa física por:
1) Reajuste (percentual não se aplica a contratos coletivos, só individuais – não há discussão entre PJ e
contratante, na prática);
2) Operadora tem mais interesse em receber pagamentos de PJ do que cobrar individualmente;
3) Lei 9.656/98, de planos de saúde, não veda a rescisão unilateral (diz que não quer mais e acabou, sem
justificar) para contratos coletivos, só para planos individuais.
Ninguém quer mais saber de plano individual, portanto. Nesse caso específico há desrespeito enorme quanto a
função social do contrato. A pessoa natural que quer contratar plano de saúde não consegue. Ou adere à falsa
coletivização ou parte para sistema público, ocupando a vaga de uma pessoa sem condições reais de arcar.
BOA-FÉ OBJETIVA X SUBJETIVA
Desde os gregos, Aristóteles afirma que o papel do ser humano deveria sempre ser pautado na boa-fé, ética,
probidade, bonus pater familie – bom pai de família, mas não só dentro da familia, em diversos círculos e ambientes
sociais. Boa-fé subjetiva é como ótica interna, elemento anímico, pensar, querer do sujeito. Ótica objetiva diz respeito a
se há falta de respeito as normas protetivas de trabalhadores, por exemplo, caso a ser punido na ótica objetiva. Problema –
despenca escada, trabalhadores se ferem, empregador diz que não foi responsabilidade dele, como verificar o animus
dele? Ele vai ter que ser responsabilizado e vai propor ação regressiva contra a empresa da escada.
A boa-fé objetiva estabelece-se interpartes: eticidade, respeito, probidade entre as partes. A função social do
contrato é vinculada à ética, mas produz efeitos e consequências para o ambiente social em geral. Boa-fé subjetiva é o
animus subjetivo, o animus de querer fazer alguma coisa, portanto.
Não dava mais para analisar o que o sujeito deseja do aspecto interno, pois se precisava de decisões sobre
conflitos existentes. Surge, então, a noção de boa-fé objetiva: quem vai tratar é o alemão Yosepa Esser, e o português
Menezes Cordeiro, que na sua tese de doutorado traz a questão da boa-fé.
Há a exemplificação do edifício no qual o Sol incide, gerando sombra. Edifício: obrigação principal. Sombra:
obrigações complementares/obrigações que se agregam aquilo que é principal. Ou seja, para Larenz, que elaborou esse
exemplo, o edifício seria a obrigação principal (haftung), e no final se formaria uma tríplice função, de controle,
interpretação e integração.
a. Controle: permitiria a avaliação da conduta desse sujeito, do proprietário que faz mal-uso do sujeito,
judicialmente não mais o fazer e indenizar o prejudicado.

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b. Interpretação: clareza maior nos contratos para a interpretação não ficar prejudicada. Arts. 351 e seguintes do
CC.
c. Integração: contrato de telefonia – o juiz observa que naquele contrato opta-se por um produto promocional,
um combo de acesso a internet, telefone fixo e celular. Naquele contrato não dizia até quando a promoção
iria, mas o consumidor acreditava que a promoção duraria um espaço de tempo razoável. A boa-fé objetiva
permite a integração daquilo, para verificar a concepção gerada do sujeito para que ele acreditasse que a
promoção seria válida dentro do espaço temporal.
A boa-fé objetiva está calcada na probidade, e com base nela estamos vinculados aos deveres anexos. Quando
compramos um aparelho eletrônico, eu recebo, tem o manual de instruções a vista ou de forma parcelada, e se tem um
vínculo, é preciso questionar.
A finalização do contrato não acontece somente com pagamento e recepção, há um prolongamento de informação
e garantia mesmo a posteriori.
A boa-fé traz funções de interpretar, integrar o contrato, e até mesmo reformar o contrato.
BOA-FÉ X FUNÇÃO SOCIAL
Qual a diferença? Boa-fé traz efeitos mais interpartes, enquanto função social traz consequências para a
sociedade como um todo. Enunciados 21 a 27 das Jornadas de Direito Civil.
21 - Art. 421: a função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, constitui cláusula geral, a impor a
revisão do princípio da relatividade dos efeitos do contrato em relação a terceiros, implicando a tutela externa do
crédito.
22 - Art. 421: a função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, constitui cláusula geral, que
reforça o princípio de conservação do contrato, assegurando trocas úteis e justas.
23 - Art. 421: a função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, não elimina o princípio da
autonomia contratual, mas atenua ou reduz o alcance desse princípio quando presentes interesses metaindividuais ou
interesse individual relativo à dignidade da pessoa humana.
24 - Art. 422: em virtude do princípio da boa-fé, positivado no art. 422 do novo Código Civil, a violação dos deveres
anexos constitui espécie de inadimplemento, independentemente de culpa.
25 - Art. 422: o art. 422 do Código Civil não inviabiliza a aplicação, pelo julgador, do princípio da boa-fé nas fases pré e
pós-contratual.
26 - Art. 422: a cláusula geral contida no art. 422 do novo Código Civil impõe ao juiz interpretar e, quando necessário,
suprir e corrigir o contrato segundo a boa-fé objetiva, entendida como a exigência de comportamento leal dos
contratantes.
27 - Art. 422: na interpretação da cláusula geral da boa-fé, deve-se levar em conta o sistema do Código Civil e as
conexões sistemáticas com outros estatutos normativos e fatores metajurídicos.
Além disso, arts. 167 a 170 – regulação contratual e boa-fé.
Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma.
§ 1o Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:
I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou
transmitem;

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II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira;
III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados.
§ 2o Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado.
Art. 168. As nulidades dos artigos antecedentes podem ser alegadas por qualquer interessado, ou pelo Ministério
Público, quando lhe couber intervir.
Parágrafo único. As nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer do negócio jurídico ou dos seus
efeitos e as encontrar provadas, não lhe sendo permitido supri-las, ainda que a requerimento das partes.
Art. 169. O negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação, nem convalesce pelo decurso do tempo.
Art. 170. Se, porém, o negócio jurídico nulo contiver os requisitos de outro, subsistirá este quando o fim a que visavam as
partes permitir supor que o teriam querido, se houvessem previsto a nulidade.
VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM
Comportamento contraditório é vedado. Não dá para agir de uma forma, e depois passar a se comportar de
forma distinta de posição anterior.
SUPRESSIO
Ao exemplo de: leva algo para lavanderia, que tem regra que diz que se não pegar em tantos dias não vai
devolver. Se não aparecer, perde direito.
SURRECTIO
Acrescentar. Ex.: empresa que começa a distribuir os lucros de forma distinta da estrutura estatutária. Mais
adiante, um dos sócios questiona – mas isso foi executado por muito tempo e nunca foi questionado.
QU CO
Cesar, imperador romano. Exceção do contrato.
ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL
Cumpriu parte, mas ficou faltando determinado percentual. Ex.: não pagou novembro e dezembro em escola,
há lei 9.870/99 que garante à escola que esta não renove matricula para o ano seguinte se não pagou. STJ começou a
aplicar o entendimento de que houve adimplemento da maior parte e, assim, não rescindiu o contrato. Financiamentos,
alienação fiduciária – situações em que isso acontece bastante.
CLASSIFICAÇÃO
É uma mescla da classificação de Orlando Gomes e Caio Mário. São classificados sob oito aspectos: (1) efeitos;
(2) formação; (3) execução; (4) agente; (5) modo; (6) forma; (7) objeto e (8) designação.
1. EFEITOS
BILATERAIS
Compra e venda, parceria, transporte, depósito. São os mais constantes.
UNILATERAIS
Doação gratuita ou com um ônus, encargo (condição).
PLURILATERAIS
Vários sujeitos ao mesmo tempo. Consórcio, sociedade, existência de várias partes.

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GRATUIDADE/ONEROSIDADE
GRATUITOS
Sem contrapartida onerosa. Não há cobrança.
ONEROSOS
A maior parte dos contratos.
Comutativos: compro algo e pago o valor correspondente. Prestação e contraprestação.
Aleatórios: não temos certeza sobre determinados efeitos a serem produzidos. Ex: seguro; não obstante é pago
determinado valor, não se sabe se irá utilizar esse valor.
- Por natureza: seguro de saúde. Às vezes passamos o ano do plano de saúde inteiro sem fazer uso,
porque não se sabe quando o sujeito vai ter as condições normais de saúde afetadas. É um contrato aleatório por essência.
- Acidental: é um contrato aleatório por acidente. Uma empresa contrata outra empresa situada em outro
continente para trazer uma determinada carga em um navio. Espera o contratante que a carga chegue dentro da
normalidade. Contudo, há um risco daquela carga sofrer alguma espécie de avaria ao ser transportada. Não é ínsita ao
contrato a ocorrência de um dano, mas o transporte dessa carga está exposto a um determinado risco.
2. ADESÃO/QUANTO A FORMAÇÃO
PARITÁRIOS
Partes discutem quando a estrutura. O sujeito discute as premissas contratuais. Hoje são maiores os de adesão.
ADESÃO
Conceito no art. 54 da lei 8.078/90 – elaborado por uma parte de forma unilateral, padronizada, standardzada, ou
fruto de autoridade. Autoridade: ato de autoridade, ex. – pegar ônibus e empresa concessionaria que está prestando serviço
de concessão por meio de ato de autoridade. Pode ser elaborado por pessoa jurídica de direito privado ou publico que atua
mediante aval do direito publico, ou de direito privado.
TIPO
Chega numa loja e pede um formulário de contrato que quer alugar a casa/prestação de serviço doméstico – você
pegou o modelo e se utilizou, você não elaborou. Modelo na internet: contrato tipo. Algo previamente elaborado, não
participei da elaboração. São formulários previamente elaborados, que surgem principalmente a partir dos estudos de
Nessiné (autor italiano) e de Genovesi (outro autor italiano).
3. EXECUÇÃO
INSTANTÂNEA
Comprei café na cantina, estou consumindo. Execução instantânea. Paguei, recebi, usufrui.
DIFERIDA
Para receber em data futura. Firma contrato e aguarda cumprimento para data posterior, mais adiante. Está
diferindo, prolongando a conclusão do contrato.
SUCESSIVO/EM PRESTAÇÕES
Quando faz contrato de plano de saude não é só para hoje ou amanhã, via de regra. Arcam com as carências,
inclusive. São de trato sucessivo ou prestações, pois estão tendo ali prestações continuas e constantes. São prestações
contínuas, realizadas através de diversos atos, o instrumento contratual não se exaure em um único momento.

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4. AGENTES
PERSONALÍSSIMOS/BASEADOS NA PESSOA/INTUITO PESSOA
Show de Ivete Sangalo. Compra ingresso para show por causa do cantor em específico. Contrato feito por conta
do sujeito, é ele que leva à contratação.
IMPESSOAIS
Pouco importa quem presta a atividade, mas que ela seja executada. Não leva em consideração a pessoa que
realiza a transação, mas objetiva o cumprimento de determinada prestação.
INDIVIDUAIS
Continua existindo. Entre A e B. Contrato de trabalho feito com um trabalhador, por ex.
COLETIVOS
Cada vez mais vínculos coletivos são estabelecidos. Entre a e diversas outras pessoas no polo considerado b. Ex.:
escola que presta serviço, a, e contratantes – grupo de alunos daquela escola. São contratos que apresentam aspectos que
extraem para a coletividade como um todo; dizem respeito a diversas pessoas ao mesmo tempo.
5. MODO PORQUÊ EXISTE
ACESSÓRIO/ADJETO
O de cartão de credito, por ex. Há possibilidade por trás da compra e venda existir outro vínculo jurídico. Se eu
faço uma compra numa loja e, ao invés de pagar em dinheiro, pago em cartão de crédito, há dois vínculos contratuais: o
vínculo principal, que é a compra e venda, mas por trás da estrutura fundamental há o contrato acessório, que é o contrato
de cartão de crédito.
DERIVADOS/SUBCONTRATOS
Alugo imóvel, locatário pode sublocar quarto? A depender do contrato, sim. O contrato com o estudante –
subcontrato. Dentro de um contexto é possível outros vínculos contratuais também.
6. FORMA
SOLENES/FORMAIS
Podem ser solenes/formais, ex.: contrato de compra e venda de imóvel. Tem forma específica estabelecida, tem
que ser feito necessariamente por escritura pública.
TÍPICO
Previsto na legislação.
ATÍPICO
É possível criar outros contratos – quando criamos, tem forma livre. Atípicos: não estão na lei, tem diversas
formas para a sua estruturação. Contrato atípico que envolve imóvel ou transferência de imóvel, não da para criar a não
ser aquele já previsto em lei.
Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste Código.
LIVRES/DIVERSOS
Qualquer forma, verbal, etc. Forma do contrato de forma variada, distinta, ou múltipla (instituição de uma
fundação por escritura pública ou por atos inter-vivos, ou mortis causa).
CONSENSUAIS/REAIS
Alguns criticam essa classificação. Real – que envolvesse bem ou coisa, se tem algo, um bem que está sendo
disponibilizado (móvel ou imóvel), que visualiza de fato que, além da vontade, há uma prestação de dar algo. Consensual
– só vontade? Real – coisas, bens imóveis ou moveis. Consensuais: aqueles de aspectos não visíveis sob a ótica material.

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PROPTER REM
Em obrigações que se fundam em direitos reais. Acompanham a coisa principal. Se vinculam a coisa. Casa –
IPTU. Apartamento – condomínio. Veículo – IPVA.
7. OBJETO
PRELIMINARES
Previstos no CC nos arts. 462 a 466.
Art. 462. O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os requisitos essenciais ao contrato a ser
celebrado.
Art. 463. Concluído o contrato preliminar, com observância do disposto no artigo antecedente, e desde que dele não
conste cláusula de arrependimento, qualquer das partes terá o direito de exigir a celebração do definitivo, assinando
prazo à outra para que o efetive.
Parágrafo único. O contrato preliminar deverá ser levado ao registro competente.
Art. 464. Esgotado o prazo, poderá o juiz, a pedido do interessado, suprir a vontade da parte inadimplente, conferindo
caráter definitivo ao contrato preliminar, salvo se a isto se opuser a natureza da obrigação.
Art. 465. Se o estipulante não der execução ao contrato preliminar, poderá a outra parte considerá-lo desfeito, e pedir
perdas e danos.
Art. 466. Se a promessa de contrato for unilateral, o credor, sob pena de ficar a mesma sem efeito, deverá manifestar-se
no prazo nela previsto, ou, inexistindo este, no que lhe for razoavelmente assinado pelo devedor.
Ex.: o sujeito, principalmente na aquisição de imóveis, quer fazer uso do FGTS ou quer um financiamento ou
empréstimo, e para facilitar essa compra ele elabora um instrumento preliminar para que depois ele venha a fechar o
negócio. Ele não é tão solene, mas ele tem que ter a estrutura basilar, os itens fundamentais do contrato. Isso é muito
utilizado em contrato de compra de imóveis.
DEFINITIVOS
Não pressupõe uma formulação anterior para depois se ratificar. É realizado de modo direto e imediato.
8. DESIGNAÇÃO
TÍPICOS
Enumerados no Código Civil. Normalmente, quando se tem o contrato nominado, já se tem toda a estrutura, todas
as regras necessárias para que esse contrato seja formalizado. Não significa que todo contrato nominado seja
essencialmente típico (pode ter uma inovação), mas em regra o são.
ATÍPICOS
Não estão no CC e podemos criar. São aqueles cujas regras são formuladas pelas partes, desde que não
desobedeçam aos pressupostos gerais da contratação.
MISTOS
Pego Uber. Contrato de transporte, mas nem toda a regulamentação do Uber está no CC. Atualmente há lei que
autorizou a presença da atividade de prestação de serviço de transporte por particulares mediante remuneração. Típico, de
transporte, com algo que não está na lei. Ou seja: pegam uma parte de uma estrutura contratual, e outra parte.

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COLIGADOS/UNIÃO DE CONTRATOS
Obra de construção/incorporação imobiliária, contratos que se unem e são distintos. Um faz levantamento, outro
faz incorporação, etc. estruturas coligadas/união de contratos. Obras públicas: tabém ocorre, empreiteiras, empresas que
fornecem materiais, etc.
CONTRATOS DE ADESÃO
Art. 54 da lei 8.078/90 – elaborado por uma parte de forma unilateral, padronizada ou surge de deliberação de
autoridade publica por permissão, concessão ou autorização. Se implanta a partir da revolução industrial.
Padronização, unilateralidade, standardzação e muitas pessoas sendo afetadas pela contratação.
Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação
mais favorável ao aderente.
Ou seja, cláusulas ambíguas ou contraditórias serão pro aderente – porque não participou da elaboração. CDC –
não é só ambígua ou contraditória, toda e qualquer cláusula.
Nulidades que envolvem cláusulas que excluam renúncia - toda cláusula contratual num contrato de adesão que
diz que a outra parte renuncia seus direitos é considerada nula; nulidade de pleno direito.
Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito
resultante da natureza do negócio.
Devem ser observadas de ex oficio.
Enunciados 171 e 172 das Jornadas tratam dos contratos de adesão.
171 - O contrato de adesão, mencionado nos arts. 423 e 424 do novo Código Civil, não se confunde com o contrato de
consumo.
172 - As cláusulas abusivas não ocorrem exclusivamente nas relações jurídicas de consumo. Dessa forma, é possível a
identificação de cláusulas abusivas em contratos civis comuns, como, por exemplo, aquela estampada no art. 424 do
Código Civil de 2002.

CONTRATOS
OBJETOS DO CONTRATO
Pacta corvina – herança de pessoa viva. Art. 426. Objeto ilícito.
Art. 426. Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva.
Espécies de contratos previstos no Código Civil: há uma regra sobre possibilidade de contratos atípicos (art. 425),
o objeto do contrato tem que ser lícito (ex.: pacta corvina – a herança de pessoa viva não pode ser objeto de nenhum
contrato).
FORMAÇÃO DOS CONTRATOS
Para surgir, o contrato precisa de uma proposta.
Art. 427. A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do
negócio, ou das circunstâncias do caso.
Ex.: se faz uma proposta para vender um carro usado. Ela é obrigatória, em regra. Mas ela pode deixar de ser
obrigatória da própria natureza do negócio e das circunstâncias que permeiam o caso. Mas, de repente, quem quer
comprar o veículo verifica que ele não é de propriedade do sujeito. A própria situação complexa mostra que a pessoa que
tenta vender algo que não lhe pertence pode fazer com que aquela proposta não seja mais obrigatória.
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Art. 428. Deixa de ser obrigatória a proposta:
I - se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita. Considera-se também presente a pessoa que
contrata por telefone ou por meio de comunicação semelhante;
Fala-se para a pessoa uma proposta e ela não confirma, é óbvio que a proposta não foi aceita.
II - se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do
proponente;
É claro – a pessoa está em outro estado, país, cidade, não se estabeleceu um prazo, mas decorrido determinado
lapso temporal a pessoa não responde, isso demonstra falta de interesse.
III - se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do prazo dado;
A pessoa está em outro local, se dá um prazo para manifestar, não manifestou, a proposta não é mais obrigatória.
IV - se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra parte a retratação do proponente.
Mandou o sujeito a resposta dizendo que concorda, mas, imediatamente, ou até antes, chega à sua comunicação
dizendo que não quer aceitar a proposta – então a proposta não é mais obrigatória.
Art. 429. A oferta ao público equivale a proposta quando encerra os requisitos essenciais ao contrato, salvo se o
contrário resultar das circunstâncias ou dos usos.
Parágrafo único. Pode revogar-se a oferta pela mesma via de sua divulgação, desde que ressalvada esta faculdade na
oferta realizada.
Art. 430. Se a aceitação, por circunstância imprevista, chegar tarde ao conhecimento do proponente, este comunicá-lo-á
imediatamente ao aceitante, sob pena de responder por perdas e danos.
Permite que a oferta ao público seja revogada desde que se use a mesma forma de divulgação. Ex.: estou
vendendo meu imóvel, mas após isso não quero mais vender. No entanto, se sair um encarte no supermercado: a
impressora X, que custava 900 reais, por 600 reais – e as pessoas vão lá comprar. No supermercado, o funcionário diz que
foi um erro. Se for um erro crasso, por exemplo, impressora que era 900 custando 9,99, pode corrigir o preço – mas se não
for um erro crasso, tem que vender pelo preço que anunciou.
Puffing: quando se tem uma oferta na publicidade, e há algo que pode gerar uma expectativa no sujeito, mas na
sua racionalidade o sujeito pode saber que aquilo não pode ser garantido pelo fornecedor.
Art. 431. A aceitação fora do prazo, com adições, restrições, ou modificações, importará nova proposta.
Art. 432. Se o negócio for daqueles em que não seja costume a aceitação expressa, ou o proponente a tiver dispensado,
reputar-se-á concluído o contrato, não chegando a tempo a recusa.
Art. 433. Considera-se inexistente a aceitação, se antes dela ou com ela chegar ao proponente a retratação do aceitante.
Art. 434. Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida, exceto:
I - no caso do artigo antecedente;
II - se o proponente se houver comprometido a esperar resposta;
III - se ela não chegar no prazo convencionado.
Art. 435. Reputar-se-á celebrado o contrato no lugar em que foi proposto.
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Oferta vincula o ofertante quando se tratar de consumo, direito das relações de consumo. O CC e os advogados
usam o art. 429 – oferta ao publico somente equivale a proposta verdadeiramente quando encerra os requisitos do
contrato. Panfletos não integram contrato, então a oferta não vincularia. CDC – qualquer papel, publicidade, encarte,
panfleto vincula sim. O art 429 do CC não é aplicado literalmente nas relações de consumo. A oferta ao público somente é
válida quando encerra os requisitos do contrato, ou seja, quando tem a estrutura contratual toda ali inserida, e pode ser
revogada. Já no CDC: o princípio da vinculação é tão forte que não precisa fazer o contrato todo estruturado na proposta
que vai obrigar o fornecedor.
Como forma o contrato? Uma proposta e uma aceitação. Os contratos podem ser entre presentes ou ausentes.
Entre presentes: chega e faz proposta para doar um livro à B. Contraposta: doação com encargo, doa, mas para ajudar
colegas em pesquisa. Aceita a proposta entre presentes se a resposta é imediata ou se é apresentada no prazo estipulado
entre os presentes – daqui a 2h você dá o seu aval.
Entre ausentes: precisa observar regras do CC. Art. 428 – se for entre ausentes, será verificada se tem prazo
estipulado, se sim, haverá desvinculação da proposta, deixa de ser obrigatória se for entre ausentes e apresentar prazo,
sujeito para o qual foi direcionado descumpra o prazo. Porque foi estabelecido. Entre ausentes sem prazo: art. 428 – se
decorrido tempo suficiente sem resposta, proposta considerada rechaçada/rejeitada.
Entre pessoas ausentes – sujeito concorda com o proposto, mas em seguida nega e diz que não quer, deixa de ser
obrigatória se remetida à aceitação chega junto ou antes a sua postura de rever/rejeitar aquilo. Contrato estabelecido entre
consumidores por telefone/internet é entre presentes ou entre ausentes? Entre ausentes, para proteção do consumidor. I
do 428 considera contrato entre presentes aquele feito por telefone ou instrumento semelhante, WhatsApp, redes sociais,
etc. Cuidado. Se quiserem proteger o consumidor, não vão aceitar como contratos entre presentes aquele por
telefone/WhatsApp.

ACEITAÇÃO DA PROPOSTA

CONHECIMENTO TARDIO DO PROPONENTE

Todas as vezes que estivermos dentro de conjuntura em que chegar tarde a resposta dizendo que quer a
contratação, o que recebeu a resposta, quem fez a proposta, pode dizer que não vai mais fazer a contratação se comunicar.
Art. 430 do CC não se aplica às relações de consumo. Ou seja: se você manda para o proponente a sua resposta e ele
recebe sua resposta, mas ela demora a chegar, não por culpa sua, mas por causa da greve dos correios por ex., o
proponente ao recebe-la, se ele não quiser dar cumprimento ao contrato ele tem que avisar para você, pois caso contrário
arcará com perdas e danos na esfera civil.
Na esfera consumerista, se ele manda a aceitação e chega atrasada pela greve dos correios, é diferente (“vai dar
problema, porque não é culpa do consumidor a greve dos correios”).

ACEITAÇÃO FORA DO PRAZO E NOVA PROPOSTA

Art. 431. Quando há uma aceitação – há uma proposta para A com prazo de 10 dias. Ultrapassados os 10 dias, se
ele apresenta seu consentimento fora do prazo, já se constitui uma nova proposta.

NEGÓCIO EM QUE NÃO SE UTILIZA A ACEITAÇÃO EXPRESSA

Contratante que faz contrato com o outro sem esperar um sim expresso – é a aceitação implícita. Isso não se
aplica à esfera consumerista. Toda empresa que vende revista usa o art. 432. Se o negócio for daqueles que o costume
permite a aceitação que não seja expressa, pode simplesmente fingir que obteve a aceitação sem querer saber. Revista
termina ao cabo de 1 ano e as editoras renovam sem perguntar, alegando isso. Não – é preciso ouvir o consumidor e saber
se ele quer.

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Contratos entre ausentes exigem cuidado maior. Entre ausentes, aceito todas as vezes que a aceitação é expedida.
Expediu, não precisa esperar chegar lá, considera-se o contrato firmado. Exceções – antes da aceitação chegar, a
retratação chegue antes ou ao mesmo tempo, e aí não é considerada a aceitação formalizada. Ou – há necessidade de se
esperar chegar lá aceitação para a outra parte tomar conhecimento.
Existem duas teorias acerca da aceitação: quando a aceitação é, de fato, considerada formalizada?
a. Teoria da informação ou cognição
A aceitação é formalizada quando o proponente é informado, conheceu o conteúdo da aceitação (receber, ler e
interpretar).
b. Teoria da declaração ou agnição
b.1. Teoria da mera declaração: basta o sujeito ter declarado – não se examinando se houve expedição ou não.
b.2. Teoria da expedição: deve haver declaração e remessa (expedição).
b.3. Teoria da recepção: deve haver declaração, expedição e recepção.
O Brasil faz uma mescla. Quando diz que a aceitação foi remetida, ou houver ao mesmo tempo ou até antes a
chegada da retratação, não será mais obrigatória a proposta – ênfase à recepção. O proponente se comprometeu a
esperar/receber a resposta – nessa situação específica vai ser na modalidade de recepção, não só declaração/expedição.
AULA 2 – 31/08/2018
CONTRATO PRELIMINAR
No Direito Romano, havia possibilidade de alguém se apresentar e afirmar a vontade de contratar, mas não em
caráter definitivo. Por não ter dinheiro, ter dúvida, não ter certeza... Surge, então, a noção de contrato preliminar, ou
promessa. Essa estrutura atravessou os séculos e hoje fazemos uso dessa espécie de estrutura contratual. A sua
justificativa é que muitas vezes a pessoa não tem certeza se vai conseguir financiamento, a obtenção de um empréstimo,
ou a possibilidade de acesso a alguém da família para colaborar com uma parte.
Art. 462. O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os requisitos essenciais ao contrato a ser
celebrado.
Assim, seu conceito é contrato que vai nos possibilitar, de acordo com o art. 462/CC, as tratativas iniciais acerca
do instrumento contratual. Não é somente dizer que quer comprar o imóvel ofertado – é preciso um documento que
contenha os instrumentos basilares da futura compra, exceto quanto à forma. Num contrato de compra e venda de um
imóvel precisamos de uma escritura pública, e que para o contrato preliminar, nós não vamos suscitar essa escritura
pública; contudo, há que se ter a necessidade de nós registrarmos no cartório competente.
O contrato preliminar tem a mesma estrutura do contrato definitivo, a diferença é que não há seu fechamento,
confusão. No caso do registro, que é necessário para que haja alienação de um imóvel, esse registro poderá ser feito
posteriormente. O contrato preliminar foi tratado por Orlando Gomes, que quando comentou o CC, destinou um dos
volumes para a parte contratual. Trouxe uma concepção romana de que o contrato preliminar é instrumento através do
qual temos as premissas iniciais referentes a um vínculo jurídico que se inicia, ainda em caráter provisório, para alcançar,
em etapa posterior, a sua conclusão.
Art. 463. Concluído o contrato preliminar, com observância do disposto no artigo antecedente, e desde que dele não
conste cláusula de arrependimento, qualquer das partes terá o direito de exigir a celebração do definitivo, assinando
prazo à outra para que o efetive.
Parágrafo único. O contrato preliminar deverá ser levado ao registro competente.
No que tange aos efeitos do instrumento contratual (art. 463), entendemos que se uma das partes não cumprir o
que está estabelecido naquele pacto provisório, a outra parte poderá ingressar em juízo e suscitar que a autoridade
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judiciária determine o cumprimento do que fora previamente discutido e pactuado. Os efeitos vão estar presentes no art.
463 do CC; e se houver uma parte inadimplente, a outra parte prejudicada pode ir para a justiça sim.
Art. 464. Esgotado o prazo, poderá o juiz, a pedido do interessado, suprir a vontade da parte inadimplente, conferindo
caráter definitivo ao contrato preliminar, salvo se a isto se opuser a natureza da obrigação.
A parte prejudicada, diante da inexecução ou do descumprimento, pode dizer que não quer mais fazer o contrato.
E desfazer aquela estrutura contratual inicialmente estabelecida, cominando com o pagamento de perdas e danos.
Art. 465. Se o estipulante não der execução ao contrato preliminar, poderá a outra parte considerá-lo desfeito, e pedir
perdas e danos.
O que acontece no Brasil: muitas pessoas fazem um contrato preliminar para a aquisição do imóvel e não
registram para evitar despesas maiores – diante da situação de muitas pessoas formalizarem a contratação e não
formalizarem o registro, o STJ, através do enunciado sumular 239, tem entendido que não obstante o registro não tenha
sido efetivado será possível demonstrar-se através de outros instrumentos probatórios que o contrato preliminar foi
firmado.
Isso porque muitas pessoas estavam entrando na justiça, tornou-se uma situação repetitiva, de firma que não
obstante o registro não tenha sido feito, se outros forem passíveis de comprovação, de demonstração que aquela pessoa
fez de fato o contrato preliminar, será possível a obtenção dos efeitos esperados.
Quem tem interesse na contratação, caso o outro não formalize, pode ir para a justiça e pedir ao juiz que determine a
conclusão ou a formalização do contrato. Muitas pessoas firmavam esses contratos, não registravam e, quando queriam
buscar a proteção devida, havia questionamento quanto a isso. Eis que surge a súmula 239, que tem a previsão de que
mesmo o contrato não estando registrado, é possível a exigência quanto ao seu cumprimento.
Súmula 239, STJ - O direito à adjudicação compulsória não se condiciona ao registro do compromisso de compra e
venda no cartório de imóveis.
Há enunciado das Jornadas de Direito Civil, 30, que versa sobre a mesma temática.
A disposição do parágrafo único do art. 463 do novo Código Civil deve ser interpretada como fator de eficácia perante
terceiros.
Se o contrato não tiver sido registrado, ainda haverá o direito de buscar a efetivação desse contrato dito provisório
e considerado preliminar.
Art. 466. Se a promessa de contrato for unilateral, o credor, sob pena de ficar a mesma sem efeito, deverá manifestar-se
no prazo nela previsto, ou, inexistindo este, no que lhe for razoavelmente assinado pelo devedor.
A situação tratada é de quando há um credor e um devedor. Se o contrato for unilateral, o credor, sob pena de
ficar sem efeito, deverá manifestar-se no prazo previsto ou, inexistindo esse prazo, ele for razoavelmente assinado pelo
devedor. Ele precisa externalizar seu propósito. Se há promessa de contrato unilateral (ex.: doação), se é de uma parte só a
predisposição de doar um bem, é preciso que a outra parte se manifeste se concorda ou não, seja no prazo estabelecido
pela outra parte ou, se não tiver prazo, dentro de uma conjuntura de um prazo razoável.
O enunciado 30 das Jornadas também vai nesse sentido, tratando da eficácia perante terceiros – se não houver o
registro, o contrato preliminar, em regra, não produz os efeitos esperados, mas diante do enunciado sumular 239, se
provas outras existirem, que não seja o próprio registro, será possível essa demonstração no plano concreto.

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CONTRATOS ALEATÓRIOS
“Alea jacta est” – Julio Cesar, ao se banhar, fez uso da expressão em questão, descrita por Santos Justos e José
Carlos Moreira Alves; as águas do rio nunca são as mesmas de outrora com o passar da água.
Essa expressão veio a ser utilizada para caracterizar os contratos aleatório – são aqueles contratos que não temos a
certeza absoluta acerca do cumprimento de determinada prestação. A própria significação do termo “alea” demonstra que
é algo que não temos a segurança de como e quando vai acontecer.
O termo mor de contratos aleatório são os seguros. Isso porque não se sabe se o evento sinistro (morte, doença,
assalto, incêndio, inundação) vai acontecer, mas procuramos nos precaver.
As coisas se modificam, se transformam. Por isso observamos que, desde Teixeira de Freitas, século XIX, já se
questionava a possibilidade de termos contratos aleatórios, quais sejam, aqueles que não temos certeza atinente ao
cumprimento do seu objeto. Existem, a partir daí, duas expressões muito bem definidas no Direito Romano e no CC. Uma
delas é a que nós denominamos de emptio spei e outra emptio speratae.
Emptio spei é aquilo que não se sabe se existirá ou não. Diz respeito a uma coisa que pode ocorrer ou aparecer
ou não, existência ou não do bem jurídico, uma coisa que pode acontecer ou aparecer ou não.
Emptio speratae, por outro lado, é aquilo que sabemos que vai existir, mas não temos certeza quanto a
quantidade. Diz respeito a quantidade da coisa que pode ser aquela que é a que você está esperando ou não; ou qualidade
do bem jurídico, da coisa que você aguarda ou não.
Ex.: Teixeira de Freitas traz o ex. de A que faz contrato com B para que este faça pescaria, há previsão no
contrato de que talvez não se pegue peixe nenhum. Se não pegar peixe nenhum, ainda assim o valor da pescaria será pago.
Podemos ter ainda situações envolvendo coisas em risco. Ex.: contrata determinado maquinário que vai
ser transportado por pequena embarcação de outro país. No contrato, há possibilidade, previsão de possibilidade, de
ocorrência de risco e que a coisa se perca ou se deteriore. É possível um contrato com essa natureza, e pode assumir esse
risco. Se a outra parte de forma dolosa já sabia que a coisa não existia ou seria afetada no trajeto e fez acreditar que teria
acesso a coisa, o contrato tem que ser resolvido e analisado judicialmente para indenizar a pessoa.
Contratos aleatórios são possíveis e cabíveis, geralmente encontrados em planos de saúde e seguros em geral no
nosso dia-a-dia, mas é preciso observar o respeito à boa-fé.
Art. 458. Se o contrato for aleatório, por dizer respeito a coisas ou fatos futuros, cujo risco de não virem a existir um dos
contratantes assuma, terá o outro direito de receber integralmente o que lhe foi prometido, desde que de sua parte não
tenha havido dolo ou culpa, ainda que nada do avençado venha a existir.
São contratos que não se caracterizam pela comutatividade – não dá pra ter certeza se o evento que se espera vai
acontecer ou não.
Art. 459. Se for aleatório, por serem objeto dele coisas futuras, tomando o adquirente a si o risco de virem a existir em
qualquer quantidade, terá também direito o alienante a todo o preço, desde que de sua parte não tiver concorrido culpa,
ainda que a coisa venha a existir em quantidade inferior à esperada.
No que tange as consequências ou efeitos, sobretudo na coisa em quantidade menor e ausência de culpa do
alienante, cabe esse artigo.
Não temos dúvidas quanto a possibilidade de haver contrato que versa sobre algo que por ventura pode não
ocorrer, ou vir em quantidade menor. Se o outro não sabia, ou agiu de forma dolosa, e é possível provar, pode haver a
busca de indenização.

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É possível fazer contrato com alguém até mesmo de parceria – faz plantação, o que colher, dividem. Não sabe,
entretanto, quantas frutas terá direito/acesso. Quando o contrato diz respeito a quantidade, dentro da estrutura contratual,
há de forma expressa a previsão de que ainda que não haja uma quantidade elevada, é possível que o contrato seja
mantido e que as partes recebam determinado valor previamente pactuado.
Quando se trata de emptio speratae, se não existir nada, a outra parte não vai pagar nada. O CC garante. Mas é
possível que as partes não tenham a certeza do quantum, do número.
Em resumo: se a quantidade for menor, se a outra parte agir de forma pautada na boa-fé, quem solicitou a
plantação vai pagar. Se for aleatório, por serem objeto dele coisas futuras, tomando o adquirente a si o risco de virem a
existir em qualquer quantidade, terá também direito o alienante a todo o preço, desde que de sua parte não tiver
concorrido culpa, ainda que a coisa venha a existir em quantidade inferior à esperada.
Parágrafo único. Mas, se da coisa nada vier a existir, alienação não haverá, e o alienante restituirá o preço recebido.
Ou seja, no caso de perda total da plantação, é preciso verificar: aquele que solicitou a plantação se comprometeu
a pagar a plantação mesmo que nada fosse entregue? Se houver cláusula nesse sentido, ele tem que pagar, mas geralmente
não tem.
Art. 460. Se for aleatório o contrato, por se referir a coisas existentes, mas expostas a risco, assumido pelo adquirente,
terá igualmente direito o alienante a todo o preço, posto que a coisa já não existisse, em parte, ou de todo, no dia do
contrato.
Falamos aqui de coisas existentes expostas a risco. Pode A fazer um contrato com B para transportar determinada
mercadoria, sendo que essa mercadoria está exposta a risco? Chegando a mercadoria aqui sem nenhuma avaria, tudo bem.
Mas e se ela, chegando aqui, se apresentar avariada, danificada, ou totalmente perdida? Como se resolve a situação de A,
que contratou B, para trazer mercadoria?
Se é feito um contrato de uma coisa exposta a risco, o adquirente está assumindo o risco e é obrigado a pagar,
desde que não haja, por parte de B, uma postura dolosa, negligente ou imperita. Por mais que A diga “B, traga. Eu assumo
os riscos de você trazer a mercadoria” – tendo B uma postura dolosa, ele vai assumir o preço da mercadoria mesmo assim.
Há, no plano concreto, no entanto, a demonstração que uma das partes não agiu de boa-fé.
Art. 461. A alienação aleatória a que se refere o artigo antecedente poderá ser anulada como dolosa pelo prejudicado, se
provar que o outro contratante não ignorava a consumação do risco, a que no contrato se considerava exposta a coisa.
Aqui, por outro lado, trazemos a hipótese de anulação do negócio. Se a mercadoria posta em questão
anteriormente, após transporte de risco, apresentar avaria ou se perder, o que ocorre? Se pauta no mesmo sentido:
adquirente está assumindo o risco desde que seja um contrato de coisa exposta a risco e não haja, por parte de B, conduta
dolosa, negligente ou imperita.
EVICÇÃO (ART. 441-446)
CONCEITO (ART. 447)
Art. 447. Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção. Subsiste esta garantia ainda que a aquisição se
tenha realizado em hasta pública.
Existe/ocorre desde os tempos mais remotos humanos. Fazer negocio com aquilo que não pertence a gente,
infelizmente ocorre durante toda a história da humanidade. É preciso uma conduta humana pautada na lealdade, como
trazia Aristoteles – mas ainda é praxi um sujeito tentar fazer transações com bens que não lhe pertencem ou que são
objeto de litígio. De acordo com o conceito trazido por Orlando Gomes, Eduardo Spínola e o pensamento francês, evicção
é o instituto através do qual procura-se proteger os interesses e direitos dos contratantes afetados em razão de negociações
envolvendo bens litigiosos ou alheios. Vendeu, doou, emprestou, permutou, fez parceria com bem que não pertence a
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pessoa, gera evicção. Ou, quando a coisa é litigiosa: pode ser que no futuro venha a pertencer a pessoa, mas não dá pra
mentir quanto ao estado atual. Só pode disponibilizar de itens da sua propriedade de fato. Não dá pra dispor de algo que
não lhe pertence.
A evicção constitui instituto através do qual nós vamos constatar que o contrato comutativo (contrato em que nós
visualizamos obrigações recíprocas), que envolverá uma coisa litigiosa ou alheia. Essa coisa litigiosa ou alheia pode ter
sido adquirida em hasta pública. Digamos que estamos visualizando um leilão na justiça do trabalho onde está se
alienando um bem de um empregador que não cumpriu com suas obrigações laborais e a justiça o obrigou a usar seu bem
para pagar um débito de um empregado. Aquele bem, ao ser ali vendido em hasta pública, se a posteriori há a
comprovação de que se tratava de um bem litigioso alheio, há a incidência do instituto da evicção. Agora, nunca teremos
evicção se a coisa for própria. Podemos até ter vícios, outros problemas, outras questões, mas não teremos a evicção. Para
a caracterização da evicção teremos que constatar a coisa litigiosa (aquela que não sabemos ainda qual será o seu destino e
qual será a sua definição da sua propriedade ou coisa alheia baseada em um título que demonstre cabalmente que a coisa
pertence a terceiro).
No que tange aos efeitos da evicção, esta pode ser total ou parcial. Ex.: imaginar uma fazenda/terreno – é vendido
por A para B, dois civis. Quando B vem a tomar conhecimento de que o terreno pertence a outra pessoa, ou está sendo
discutido judicialmente. Não é evicção total, mas parcial. Pode descobrir ainda que não só um trecho, mas toda a área é
objeto de litígio/não pertence a alienante. A depender do tipo de evicção, total ou parcial, pode ter efeitos distintos.
POSSIBILIDADE DE REFORÇO, DIMINUIÇÃO OU EXCLUSÃO DA RESPONSABILIDADE PELA EVICÇÃO
POR CLÁUSULA EXPRESSA (ART. 448)
Art. 448. Podem as partes, por cláusula expressa, reforçar, diminuir ou excluir a responsabilidade pela evicção.
É possível que A, ao formalizar o contrato de compra e venda com B, coloque lá no papel uma cláusula dizendo
que não se responsabiliza se posteriormente alguém aparecer dizendo que é dono da coisa.
Na esfera consumerista o mesmo não se aplica. O vendedor não pode se escusar do dever de garantir a existência,
qualidade e entrega do bem no caso consumerista.
EXCLUSÃO DA GARANTIA E RISCO DA EVICÇÃO (ART. 449)
Art. 449. Não obstante a cláusula que exclui a garantia contra a evicção, se esta se der, tem direito o evicto a receber o
preço que pagou pela coisa evicta, se não soube do risco da evicção, ou, dele informado, não o assumiu.
Na esfera cível é possível uma cláusula que exclui a responsabilidade daquele que está do lado do contrato que
concerne ao bem. Contudo, a outra parte se não aquiesceu, não concordou com aquela situação, vai ter direito de ter
acesso ao valor do bem. Essa pessoa não concordou ou sequer pensou na possibilidade de esse bem ser objeto de litígio.
Essa cláusula de reforço da evicção, existe um posicionamento doutrinário de que o máximo que a pessoa poderia
reforçar é o dobro do preço da coisa.
Essa possibilidade de diminuir ou excluir de acordo com o posicionamento doutrinário precisa ser visto no campo
concreto com muito cuidado, mesmo na esfera cível. Aí ele vai nos trazer o posicionamento de Maria Helena Diniz
mencionada por Flávio Tartuce.
Ao se tratar de evicção por ser de extrema gravidade, é muito complicado um dos contratantes dizer que não se
responsabiliza. O CC diz que pode, mas vejam que ao mesmo tempo que se o outro não concordou ou sequer cogitava que
a coisa pertencesse a terceiro ou fosse objeto de conflito na justiça, que ainda assim essa pessoa teria o direito de receber o
valor da coisa.

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DIREITOS DO EVICTO (ART. 459, I A III)
Se a evicção é total ou parcial considerável, tem direito a receber o dinheiro de volta, tem direito a indenização,
perdas e danos, além das benfeitorias úteis e necessárias. Inclui custas judiciais, honorários de advogados, etc.
INDENIZAÇÃO DOS FRUTOS QUE TIVER SIDO OBRIGADO A RESTITUIR
Se o sujeito compra determinado terreno, faz plantação, investe naquilo e simplesmente não tem como fazer a
colheita, ele vai ter direito. Como quantificar isso no plano concreto? Vai para a perícia. Vai ter que buscar no plano
concreto o que em termos de frutos deixou o adquirente, também denominado de evicto, ter acesso.
INDENIZAÇÃO PELAS DESPESAS DOS CONTRATOS E PELOS PREJUÍZOS (ART. 453)
O contrato de compra e venda pressupõe registro. Qualquer outro também. Muitas vezes, para a elaboração de um
contrato, as partes pedem a elaboração de um terceiro expert, experiente, que tenha conhecimento técnico, que tenha
conhecimento específico sobre a matéria. Tudo aquilo que envolver o contrato e que seja realmente característica de
despesa, vai ter que ser objeto de tratamento para a resolução da situação concreta.
Tem que verificar se quem fez a benfeitoria foi quem adquiriu ou quem vendeu. Quem adquiriu: paga a ele. Se foi
quem vendeu, tem que analisar essa situação prévia, mas também analisando se houve má-fé – se fez benfeitoria sabendo
que o imóvel não era dele, não vai ser ressarcido.
Se as benfeitorias são de quem vendeu e não de quem comprou, essa pessoa tem direito a parte que ela
melhorou/produziu. Ex.: quem vendeu construiu poço, se essa pessoa vendeu e depois deu a evicção, esse valor será pago
para quem fez a benfeitoria. Se for de má-fé, não conta.
CUSTAS JUDICIAIS E OS HONORÁRIOS DO ADVOGADO POR ELE CONSTITUÍDO
O profissional envolvido num processo desse tipo vai ter que ter um pagamento adequado e, aquele que termina
por perder o bem, precisa de fato de um profissional que represente seus direitos na justiça, ou através de uma tentativa de
arbitragem, mediação ou conciliação, mas normalmente as pessoas procuram um profissional que faça o acompanhamento
da sua demanda e que identifique os pontos principais dos casos em apreço e custas judiciais também.
O PREÇO DO BEM NA ÉPOCA EM QUE SE EVENCEU
O alienante é aquele que vende, o sujeito que adquire é o evicto. O evictor é o terceiro que é aquele que quer ter
de volta o objeto. São três expressões que são usadas na prática.
É preciso observar qual o valor do bem. Se eu adquiro um bem hoje, daqui a um tempo acontece a evicção, o
preço tem que ser atual: há valorização e desvalorização.
O PROBLEMA DA COISA ALIENADA DETERIORADA
Se há incêndio foi natural e não provocado, vai observar. Foi pelo adquirente? Foi caso fortuito ou forca maior?
Ou terceiros?
É possível que a coisa em mão do adquirente sofra deterioração. Se o adquirente não agiu de forma dolosa, o juiz
aprecia. Se agiu de forma culposa, se o evento decorreu de falta de diligência, imperícia e imprudência, o juiz mantém o
valor nesses casos. A postura do adquirente em termos de deterioração de bem vai depender do seu comportamento.
Art. 451. Subsiste para o alienante esta obrigação, ainda que a coisa alienada esteja deteriorada, exceto havendo dolo do
adquirente.
Pelo terceiro passar pelo constrangimento de ter o bem que lhe pertence nessa situação, ele vai ter indenização.
Mesmo que ele consiga o bem de volta, ele passa pelo constrangimento. Existe o dano extra rem e o dano circa rem. O
extra rem é o dano para além da coisa.

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VANTAGENS AUFERIDAS PELO ADQUIRENTE (ART. 452)
O valor da vantagem vai ser deduzido da quantia que ele tiver que dar para o alienante. Se quem comprou o bem e
houve deterioração, ao ex.: sujeito que coloca vários gados para pastar, faz casa, os animais estão gerando sujeira e
desgastando a parede. Se pagou indenização diante daquilo que foi desgastado na edificação, no momento em que ele
buscar a recepção do valor que ele tem direito, essa situação será vista. Tá colocando o animal para pastar: traz vantagens,
e isso tem que ser analisado. Se está em um espaço que esta sendo utilizado e se desgasta, se a pessoa sofrer prejuízo
porque o bem vai ser tomado/retirado, tem que observar o prejuízo que ela gerou diante daquilo. Quem vai pagar o
dinheiro para essa pessoa é o alienante, via de regra, que vai querer parar e avaliar. “Vou devolver o dinheiro, mas ele
também desgastou a parede, fez isso, aquilo, etc”
AS BENFEITORIAS NECESSÁRIAS OU ÚTEIS (ART. 454)
Art. 454. Se as benfeitorias abonadas ao que sofreu a evicção tiverem sido feitas pelo alienante, o valor delas será levado
em conta na restituição devida.
As benfeitorias podem ser úteis ou necessárias. As benfeitorias úteis são aquelas importantes para elevar o
funcionamento do bem. Há situação concreta: B pode fazer benfeitorias necessárias ou úteis - no momento em que se
estabelece a devolução do valor, essas benfeitorias são consideradas. Se elas forem feitas pelo alienante, no momento em
que A devolver o valor para B, o juiz faz uma contabilização abatendo o valor dessas benfeitorias que não foram
abonadas.
- Não abonadas serão pagas pelo alienante;
- Se feitas pelo alienante, o valor delas será levado em conta na restituição devida.
EM CASO DE EVICÇÃO PARCIAL, PODERÁ O EVICTO (ART. 455)
Art. 455. Se parcial, mas considerável, for a evicção, poderá o evicto optar entre a rescisão do contrato e a restituição da
parte do preço correspondente ao desfalque sofrido. Se não for considerável, caberá somente direito a indenização.
- Optar entre a rescisão do contrato e a restituição da parte do preço correspondente ao desfalque sofrido;
- Se não for considerável, caberá somente direito a indenização.
Se a evicção não for uma evicção total, ao exemplo de um imóvel que vai ser vendida e aparece evictor clamando
que um trecho o pertence. O adquirente pode resolver tudo no acordo, mas se as partes não aquiescerem, teremos que
cumprir o que está em sede legal. O adquirente pode dizer que não quer o imóvel, quer a rescisão e a devolução do valor
que pagou e indenização? Não. Todas as vezes que a evicção for parcial e não for considerável (afete a essência do bem),
o sujeito não pode pedir rescisão contratual, mas tão somente indenização. Se B diz a A que não quer mais o terreno, se A
concordar, tudo bem – se não concordar, o CC garante que não tendo a evicção total, mas parcial, o adquirente não pode
pedir rescisão, mas a indenização. Parte considerável não tem definição legal.
Parcial: tem que observar se a parte afetada é considerável ou não. Se não afeta as funcionalidades e
características economias do terreno – se é parcial e não é considerada como considerável/relevante, o sujeito prejudicado
pela conjuntura da evicção pode só pedir indenização, mas não pode pugnar a rescisão do contrato, isso na esfera cível. Na
esfera consumerista é outra história – no CDC prevê-se o direito de rescisão do contrato, perdas e danos e indenização.
Considerável: não é dimensão, é a utilidade do pedaço para o sujeito. Trecho considerável não é somente sob a ótica
física, geográfica, biológica, mas também numa conjuntura a ser analisada. Às vezes tem que contratar perito para analisar
e dizer se o espaço é considerável ou não.
EXIGÊNCIAS PARA O EXERCÍCIO DO DIREITO DE EVICÇÃO (ART. 456)
- Notificação do alienante imediato acerca do litígio ou qualquer dos anteriores (Lei n. 13.105/2015): esse item,
previsto no CC, foi eliminado pelo NCPC. Antes se exigia que o adquirente notificasse imediatamente o alienante acerca
do conhecimento do litígio.
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- Não atendendo o alienante à denunciação da lide: sendo manifesta a procedência da evicção, pode o adquirente
deixar de oferecer contestação, ou usar de recursos – esse segundo item fica prejudicado, pois o código falava em
notificação e verificação de qual seria a postura do alienante em termos de conhecimento daquilo.

DA EXTINÇÃO DO CONTRATO
Cabe, antes de tudo, fazer uma curta revisão quanto aos quatro aspectos oriundos da boa-fé objetiva.
a) venire contra factum proprium: é o comportamento contraditório. Teremos com exemplo uma situação de
uma relação contratual em que o devedor, embora no contrato esteja previsto a data 30 de cada mês para o pagamento da
prestação, o credor aceita o pagamento em outra data (dia 05). Aí o credor entra na justiça alegando que o devedor paga
sempre atrasado e ele quer juros, porque ele aceitava o pagamento no dia 05, que é um lapso temporal razoável. De modo
idêntico, se ele aceita o pagamento fora do local (art. 475 - fala que o local do contrato é onde está nele firmado, mas se o
contrato de locação for feito em salvador e o imóvel está situado em feira de santana, mas o locador aceita o pagamento
em feira de santana, mesmo estando em salvador. Se surge um conflito alegando que o pagamento está sendo feito fora do
local, é um comportamento contraditório, pois se mostra que aceita-se aquela compostura e questiona-se de modo
contraditório).
b) supressio: quando você perde o direito de exercer determinada faculdade jurídica diante da sua inação. A
doutrina nos apresenta como exemplo o fato de o sujeito levar determinado item para lavar em uma lavanderia. O prazo
para a entrega é de 15 dias. Decorridos 120 dias o sujeito não aparece para pegar. Temos no contrato que a empresa não
tem obrigação de manter aquele item ad eternum. Aí, ao cabo de 6 meses a pessoa volta querendo o item e a lavanderia
diz que não tem como manter o item por tempo indeterminado.
c) surrectio: Ao contrário do supressio, seria acrescer um direito. Temos um exemplo de uma sociedade
empresarial em que existem regras para obtenção de lucros. São regras estatutárias. De repente, as regras são
desconsideradas, porque um sócio estava passando por uma situação financeira o porque quiseram e no plano fático
modificaram. A partir do momento em que há uma alteração no plano fático, o cumprimento daquelas regras, pode-se
questionar em juízo o surgimento de um direito por parte de determinados sócios no sentido de aquisição de lucros mais
vantajosa.
d) Tu quoque: “até tu, Brutos?”. Brutos era filho de sua amante quando tramou o assassinato de César. César
olhou e disse “até tu, Brutos?” É parecido com o venire contra factum proprium. Carlos Roberto Gonçalves traz o seguinte
exemplo: um condômino sabe que não é correto fazer uso das áreas comuns para colocação de coisas que lhe pertencem.
Se ele faz uma reforma e coloca itens de construção numa área que não lhe pertence, mas coloca numa área comum. Outro
condômino faz o mesmo e compra um carrinho próprio e coloca na área comum. Aquele sujeito que fez uso da área
comum poderia reclamar do comportamento do outro se ele também usou a área comum? Ele poderia questionar uma
conduta que ele próprio praticou? Ele não, mas os outros condôminos sim.
DISTRATO
CONCEITO E FORMA (ART. 472 CC)
Art. 472. O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato.
Existem contratos cativos, de longa duração, que não são firmamos para um único momento, mas para um
período indeterminado. Plano de saúde é da esfera cível consumerista: seguros-saúde podem ser feitos para curta duração,
mas planos de saúde são de longa duração. O mesmo se aplica a energia elétrica, fornecimento de água, contratos
envolvendo saude, concessão de crédito, cheques, instituições financeiras. Pode haver a contratação durante tempo
indefinido.
O contrato pode ser pactuado ja prevendo um momento para a sua finalização. Na esfera consumerista ainda há a
questão da garantia, as partes podem realizar o que se chama de distrato – chegar a alguém e dizer que vai vender celular,

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mas de repente percebe que não quer vender naquele momento. Assim, concordam bilateralmente e a coisa é desfeita. Foi,
concordou e desfez estrutura contratual antes constituída. O distrato é instrumento para desfazer a estrutura contratual
independentemente de vícios ou problemas. Pode ser bilateral ou unilateral. Sendo unilateral, é preciso ter cuidado devido
para observar como vai ficar a situação da outra parte que não queria o distrato.
Ou seja, como terminar um contrato? É preciso compreender que o distrato pode ocorrer sem conflito entre as
partes, basta que ocorra da mesma forma que o contrato.
Tem que verificar a situação da outra parte, pois se ela tiver se preparado de forma que vai gerar prejuízo, tem que
observar. O distrato também é chamado de resilição. Se a resilição for unilateral, tem que ter denuncia de notificação a
outra parte. A notificação não precisa ser escrita, pode ser por correspondência eletrônica, por telefone, etc. tem que haver
denuncia formalizada, provar que avisou a pessoa.
Se uma das partes fez investimentos consideráveis, só vai ter efeito a resilição unilateral se tiver transcorrido
prazo compatível com a natureza e o vulto dos investimentos. Se as duas combinam, não há problema, há distrato
bilateral. Se tem distrato unilateral, tem que observar a situação com cuidado. Resilição/distrato não implica vício,
descumprimento do contrato – é apenas vontade, animus de não querer manter a estrutura contratual.
RESILIÇÃO UNILATERAL
PERMISSÃO EXPRESSA OU IMPLÍCITA LEGAL (ART. 473)
Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera mediante denúncia
notificada à outra parte.
Pode ter contrato com previsão de que será resolvido diante de determinada situação/circunstância. Essa cláusula
torna a resolução rápida, de pleno direito. Essa resolução pode estar lá de forma tácita, não de forma clara, direta,
expressa. Nesse caso há necessidade de interpelação judicial.
A pessoa pode fazer a resilição mediante permissão expressa no contrato ou por previsão legal a depender da
situação concreta. Se procura saber se a outra parte concretizou investimento consideráveis para o cumprimento do
contrato.
Ex.: contrato de parceria, que pode ser agrícola, pecuária, etc., de varias modalidades. Um sujeito se junta com
outro para desenvolver atividade – pode ter cláusula expressa de que ao cabo de 1, 2 anos o contrato será desfeito. Se é
expresso, não precisa que um parceiro se dirija ao outro por instrumento formal para informar que o contrato está desfeito.
Se não há essa cláusula, tem que haver interpelação judicial.
INVESTIMENTOS CONSIDERÁVEIS PARA A EXECUÇÃO CONTRATUAL (PARÁGRAFO ÚNICO, ART. 473)
Parágrafo único. Se, porém, dada a natureza do contrato, uma das partes houver feito investimentos consideráveis para
a sua execução, a denúncia unilateral só produzirá efeito depois de transcorrido prazo compatível com a natureza e o
vulto dos investimentos.
Se procura verificar no plano concreto se a outra parte fez investimentos consideráveis para a execução contratual.
É uma forma sem conflito. Se X compra livros na livraria e tira xerox, não dá pra cancelar um grupo de estudos
previamente pactuado. Terá que parar junto com X para ajudá-lo e orientá-lo a produzir um artigo.
Não se fala de rescisão ou resolução nesses casos. Se há lesão ou estado de necessidade, a pessoa vê que a outra
parte foi levada a contratar diante de uma situação desvantajosa, o termo usado é rescisão. Há o termo, também,
resolução, encontrado nos arts. 474 e 475.
CLÁUSULA RESOLUTIVA
CONCEITO E ESPÉCIES (ART. 474 CC)
Art. 474. A cláusula resolutiva expressa opera de pleno direito; a tácita depende de interpelação judicial.
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CLÁUSULA RESOLUTIVA EXPRESSA

A depender do tipo de cláusula, se adota postura distinta. Ela opera de pleno direito. A pessoa pode resolver sem
interpelação.

CLÁUSULA RESOLUTIVA TÁCITA

Se não estiver escrita de modo direto e extensivo. Depende de interpelação judicial.


POSICIONAMENTO DA PARTE LESADA PELO INADIMPLEMENTO (ART. 475)
Art. 475. A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o
cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos.
Essa cláusula é usada quando de alguma forma há, por parte do outro, um comportamento que não nos agrada.
Não é lesão ou estado de necessidade, mas é o caso da outra parte não realizar algo da estrutura contratual.
Pode adotar dois comportamentos: exigir que seja desfeito ou exigir na justiça que a outra parte cumpra.
A parte lesada pode pedir resolução se não preferir exigir o cumprimento. Cabe, em ambos os casos, indenização
por perdas e danos. A cláusula pode ser voltada para aspecto temporal ou outros, mas pode ainda ser oriunda o
inadimplemento contratual. Pode haver resolução por: cláusula temporal ou descumprimento. Nessa hipótese de
descumprimento, a outra vai sofrer prejuízos materiais e morais e terá direito a indenização.
A resolução do contrato consumerista não pode ser assim, por meio de cláusula resolutiva. A rescisão unilateral é
vedada em relações consumeristas.
EXCEÇÃO DO CONTRATO NÃO CUMPRIDO
CONCEITO (ART. 476 CC)
Art. 476. Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o
implemento da do outro.
Nos contratos bilaterais a pessoa não pode exigir algo que não foi cumprido.
CONCLUSÃO DO CONTRATO E DIMINUIÇÃO PATRIMONIAL DA PARTE OBRIGADA AO CUMPRIMENTO
DA PRESTAÇÃO (ART. 477 CC)
Art. 477. Se, depois de concluído o contrato, sobrevier a uma das partes contratantes diminuição em seu patrimônio
capaz de comprometer ou tornar duvidosa a prestação pela qual se obrigou, pode a outra recusar-se à prestação que lhe
incumbe, até que aquela satisfaça a que lhe compete ou dê garantia bastante de satisfazê-la.
Os arts. 476 e 477 dizem que contrato bilateral exige cumprimento de obrigações de ambas as partes – não dá pra
exigir que uma parte cumpra se a outra não o faz. Se depois de concluído o contrato, sobrepõe diminuição no patrimônio
de uma das partes, a outra parte pode se recusar a cumprir o que ela deve a não ser que haja alguma garantia de que o
outro que está com o patrimônio afetado vai pagar o devido. Ex.: A vende carro a B como civil, e parcela; em determinado
momento, sujeito que esta pagando as parcelas fica desempregado. A pode ficar preocupado se ele vai continuar pagando,
então pode haver amigável ou judicialmente alguma forma de garantir que as parcelas vincendas serão sanadas/quitadas.
Enunciados das jornadas de Direito Civil: estão no plano de aula.
Alguns enunciados: 548 JDC – trata violação do dever contratual e prova do fato causador do dano. 31 - perdas e
danos e imputabilidade causada pela resolução; 361 - adimplemento substancial.

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RESOLUÇÃO POR ONEROSIDADE EXCESSIVA
CONCEITO E REQUISITOS (ART. 478)
Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente
onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o
devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação.
É de extrema relevância. O sujeito teve o desemprego, passou por problema de saúde – ele pode ir para a justiça
revisar, reestruturando ou refazendo ou desfazendo o contrato. Não há como exigir que a parte cumpra a prestação
inicialmente pactuada, se ela passa por situações imprevisíveis. Essa teoria (da imprevisão) surgiu durante a primeira
guerra mundial.
Em 1906 havia companhia de gás que disponibilizava o gás para prefeitura e para as pessoas. Vem a primeira
guerra mundial e essa companhia de gás teve que aumentar o preço do produto. Surgiu, pela primeira vez, a discussão
sobre a modificação da estrutura contratual em razão de aspectos imprevisíveis ou extraordinários. É a teoria da
imprevisibilidade. Foi reconhecido que, no caso de contratos estendidos no tempo, por conta de aspectos impensáveis e
extraordinários, estes sejam revisados. O que o art. 478 quer dizer é: se houver fator inesperado, é possível a sua
reestruturação. É a situação de sujeito que está pagando financiamento, há morte na familia/desemprego, fatores
inesperados e imprevisíveis, pode questionar e pedir revisão contratual, pois a lei garante que é melhor evitar acabar com
o contrato e tentar modificar para buscar equilíbrio.
Muitas vezes o contrato tem a base objetiva afetada por questões que não são aquelas que caracterizam
imprevisão ou fato extraordinário. Quando isso acontece? Ex: quando a pessoa tem um contrato de cartão de crédito e não
paga a fatura completa ou parcial? Essa pessoa que deve no cartão 500 reais e que ao cabo de espaço temporal passa a
dever 5.000 reais. Se o sujeito não paga, ele enfrenta juros galopantes. Ele indo à justiça, pode a autoridade judiciária
punir o sujeito que não pagou ou realizar o cálculo alterar o valor que de modo arbitrário passou de 500 para 5000? O CC
fala de fatos extraordinários e imprevisíveis.
Os alemães criaram a teoria da base objetiva do negócio jurídico. Ela foi elaborada por Oertman e foi
aperfeiçoada pro Karl Larenz. Ele diz que quando o contrato tem sua base desestruturada, independente de examinar o que
queria a parte ou o que aconteceu com ela, é possível que o poder judiciário pode reavaliar a base contratual, não deixando
de punir, mas que essa conduta seja levada em observação usando a proporcionalidade, adequação e razoabilidade. É a
onerosidade excessiva ou vantagem exagerada. Essa teoria surge na Segunda Guerra mundial com o surgimento da
sociedade massificada consumerista. Isso foi positivado no CDC, por exemplo, no art. 6o, V. O que pontua é o
desequilíbrio da relação.
AULA 3 – 14/09/2018

ASPECTOS HISTÓRICOS E INTRODUTÓRIOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL

Honeste vivere, alterum non laedere suum cuique tribuere (viver honestamente, não ofender
ninguém, dar a cada um o que lhe pertence). Ulpiano.

Máxima do Direito Romano que não era obedecida, uma vez que vigorava a vingança privada, a vindita. Durante
a chamada Lei de Talião (olho por olho, dente por dente), tudo o que era feito era recebido na mesma ordem fático. Com
os Códigos de Ur e Manur, há preocupação de quem detinha o poder de começar a interferir para haver a possibilidade de
um ser humano não eliminar o estado vital do outro, mas isso foi muito difícil. Com a Lei das XII Tábuas houve certa
progressão, mas é no direito romano que se encontra as premissas basilares da responsabilidade civil a ser estudada.
Na primeira etapa/fase do Império Romano, já havia preocupação entre ser separada a conjuntura de algo que diz
respeito ao crime, infrações criminais, dos chamados delitos cíveis. Numa segunda etapa há presença marcante de
Justiniano com o chamado Corpus Juris Civilis. Havia necessidade de humanizar as relações. O sujeito que não pagava o
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outro era simplesmente uma persona non grata, escravizado - não só ele, mas também a sua familia. Na terceira etapa, no
direito romano, há influência marcante da Lex Aquilia. Daí responsabilidade aquiliana: necessidade cada vez maior de
progressão.
Com a queda do Império e ascensão da Igreja vem a patrística com Santo Agostinho, e escolástica com São
Tomaz de Aquino, que comentaram as premissas de uma responsabilidade baseada na culpa. Propunham que se
observasse o sentimento/vontade/desejo da pessoa ao cometer comportamento reprovado pela sociedade e pelo direito. O
direito canônico traz o sedimento quanto a necessidade de verificar o porquê, qual o animus presente no comportamento.
Com o Renascimento, observamos a presença de inúmeros filósofos, sociólogos, que contribuem para a
transformação da estrutura inicial da responsabilidade civil. A presença de dois grandes: Grotius e, mais adiante, Samuel
Pufendorf, além de Kant (crítica da razão pura – prática e necessidade de não querermos fazer ao outro o que não
desejamos para a nossa pessoa, família; além do Imperativo Categórico de Kant).
Há uma preocupação com a responsabilidade civil que deixa de estar centrada em uma pena para o ser humano,
na sua escravização ou morte, mas para uma análise da sua conduta sob ótica subjetiva. Em determinado momento da
história, na Idade Moderna, da razão, o homem passa ser visto como ser racional. Ao invés de buscar o pensamento
cristão, havia a necessidade de algo, ainda que direito natural, para justificar a punição. Havia ainda necessidade de
separar o fruto do descumprimento contratual e de outras situações que geravam dano, mas eram decorrentes de ilícitos
cometidos, não descumprimento contratual.
Na Idade Contemporânea, há objetivação da responsabilidade civil. Houve um caso célebre: num primeiro
momento em que se cogita e se decide com base na objetivação ocorreu que uma carruagem transportando pessoas e
cartas guiadas por um cocheiro sofreu acidente. O cocheiro cai, cartas caem no chão e as pessoas sofrem lesões corporais.
Há trabalhador lesado e fregueses do cocheiro também, além de pessoas que tiveram suas cartas danificadas. Como
resolver esse problema de acordo com a responsabilidade que se baseia em elemento subjetivo? O que o proprietário da
carruagem queria? Ele não teve zelo? Qual foi o mote, a ratio, que deu origem a situação concreta? A Câmara dos Lordes
resolveu responsabilizar o proprietário da carruagem independentemente de saber se ele deu origem a situação ou quem
revisou a carruagem, ou seja lá o que for: o trabalhador precisava ser protegido assim com o freguês, cliente.
Há, então, a vertente objetiva da responsabilidade. Em 1904, há tratamento de questões polêmicas não
examinando o elemento interno da pessoa. O trabalhador merecia respeito, assim como cliente/freguês. Nesse sentido,
houve ainda colaboração de Raymond Salleilles, Louis Josserand, Georges Ripert e René Savatier, já na primeira metade
do século 20, discorrendo sobre a relevância da objetivação da responsabilidade civil. Isso porque trabalhadores estavam
morrendo à mingua, além de envenenamentos por comidas com qualidade indevida, resultantes da situação da Revolução
Industrial e o desenvolvimento tecnológico. Mais adiante, em 1947, Boris Stark, outro escritor, traz a necessidade de
haver responsabilização objetiva.
No Brasil Colônia e Império se copiou a estrutura portuguesa, sem críticas ou questionamentos. Há alvará em
1628 com certa novidade. O Código de Processo Penal, que traz reflexos cíveis, colabora com os estudos de Teixeira de
Freitas, que em 1867 traz colaboração relevante com esboço do nosso Código Civil. O Brasil foi copiando as premissas
portuguesas, basicamente.
FUNÇÕES DA RESPONSABILIDADE CIVIL
O objetivo é restabelecer o status quo anterior. Se alguém me bate, preciso de remédio, tratamento, ficar bom,
deixei de trabalhar, perdi tempo, etc. O status quo anterior não permite recomposição em algumas situações, à exemplo da
barragem de Mariana. A responsabilidade civil se volta para função reparatória, ressarcitória, compensatória.
Se alguém bateu no meu carro, como ele ficou? Se um contrato foi descumprido, como vou lidar com esse
descumprimento e seus efeitos negativos? No CC/02: 186 e 187, mas também artigos outros, 927 e a partir deste, para
compreender essa função reparatória, compensatória.
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Há responsabilidade civil para punir/sancionar? Existem questionamentos. Nos EUA se admite essa vertente
punitiva; no Brasil, existem doutrinadores que defendem esse entendimento como próprio, e outros que afirmam que essa
função de sanção/pena é típica do direito penal, e não da parte civil.
Para Joseane: há dano moral coletivo, que é forma de fazer que empresas que desrespeitam trabalhadores/meio
ambiente sejam obrigadas a pagar fundo federal/estadual/municipal para proteção do trabalho/meio ambiente, para sentir
em termos monetários para procurar não mais continuar agindo incorretamente. Além da função compensatória, defende
uma função sancionatória e punitiva. Ainda, função pedagógica: ou preventiva, ou dissuasória. Fazer com que quem agiu
indevidamente, ilícita, de fato respeite as premissas vigentes/normativas/principiológicas, e para que seja desmotivado,
procure observar a necessidade de melhorar. Todos os contratos, se descumpridos, geram prejuízos. Também toca familia,
sucessões, reais, etc.
DIREITO GREGO
No Corpus Juris Civilis a oração veio nas Institutas de Gaios (tentando organizar o direito romano) e também no
digesto (compilado dos entendimentos dos jurisconsultos romanos de casos notórios). A frase é de Ulpianos, jurisconsulto
romano. A noção básica é de que ninguém pode lesar ninguém. Como impedir que alguém lese alguém? Se viver
honestamente, se não lesar ninguém e se der a cada tribo/conjunto de pessoas, o que for seu. Essa noção está presente em
todas as sociedades, uma noção de solidariedade, as pessoas têm que construir laços sociais para permitir que a estrutura
social se perpetue e as pessoas possam viver.
No direito grego há algo relacionado, ideia de tó dikaión – justiça tem que ser feita para evitar danos (blábes). Os
danos da sociedade não podem passar impunes, eles precisam de algo que torne possível um ressarcimento, que era
oriundo da justiça ter que ser feito. Essa ideia grega era aplicada em três planos:
1) nomos: decisões individuais.
2) ifismas: decisões colegiadas.
3) noção de instância superior: nova instância de julgamento.
Essa justiça que tinha de ser feita se transformava nessas três vias de resolução de conflitos.
Diante do estudo histórico é possível dividir o dano em duas formas, vias, espécies.
1) dano oriundo de acordos da época que eram descumpridos;
2) dano oriundo do kaos, acaso, da causalidade.
Da aplicação desse primeiro, havia ainda o direito em relação ao contrato. Do segundo, faziam referência a uma
noção de não ter ligação com a pessoa que lesou, mas diante do acaso que causou lesão decorrente de conduta minha, há
vinculo estabelecido.
DIREITO ROMANO
No direito romano, a divisão continua entre a responsabilidade decorrente da vontade e responsabilidade
decorrente do acaso. Quando se vê o danmun, já na época do digesto, pode ser decorrente de maleficium ou de um
delictum ou decorrente de nexum. Mesma lógica dos gregos: nexum era espécie de acordo (não era bem contrato, era
pactum) no qual se obtinha um crédito. Não era muito comum – o comum era trabalhar. Quando isso ocorria, recorriam ao
nexum, sob influência da cultura indo europeia, ligavam totens familiares, além de testemunhas. Os brasões ficavam com
o credor, que estabelecia um dia para devolução, ou haveria escravidão.
Por conta de pressões sociais, em 326 A.C, foi editada uma lei (lex preteria papirium) – estabelecia, dentre outras
coisas, em seu núcleo, que os créditos pecuniários pegos pelo devedor não tem que ter nexo com o seu corpo, mas nexo

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com algo chamado de bona debitorius (conjunto de bens débitos de alguém). Responde com os bens pelo o que fez de
errado, por isso a palavra responsabilidade.
Kelsen, ao estudar o direito romano, sob influência do seu professor, identifica isso e diz que com a noção de
sistema jurídico, é possível sempre haver um casamento entre um direito e um dever. O direito tem que ser correlacionado
com um dever, e um dever sempre atrelado a um direito, é uma noção sistêmica. Qualquer conduta com a necessidade de
ter consequência jurídica, ou vai ser direito ou vai ser dever. Kelsen diz que o dever tem que estar conectado a uma
responsabilidade e também com uma sanção, assim há estrutura de sistema jurídico, ideia de que um conjunto de normas
estabelecidas em contexto social de forma que toda conduta tem consequência jurídica de direito ou de dever. A garantia
que o dever vai ser cumprido tem que vir da responsabilidade ou da sanção.
A ideia era que se abdicaria do direito ao corpo do devedor em troca da conexão do “direito” e do “débito”. Toda
vez que houver lesão decorrente de contato simular ao nexum, toda vez que houver direito decorrente de contrato, há
conexão do direito ao débito, e isso vai garantir, porque vai ter atrelado a essa conexão uma ação que vai dar direito a uma
tutela jurisdicional.
De maneira mais bem resumida, o direito romano pode ser dividido em três fases:
Primeira Etapa – É nessa primeira etapa do direito romano, uma etapa anterior ao Código de Justiniano, que passa
se então a se tentar estabelecer a composição pecuniária em substituição de modo obrigatório a essa situação de devolver
o outro com a mesma moeda e com a mesma forca física e violência. Não havia ainda uma divisão entre crime, como o
que falamos hoje, e esses atos injustos que poderiam até decorrer até do crime, mas muitas vezes na esfera civil temos
conduta que não são crimes, mas que nos geram lesões e danos, nos causa prejuízos sob o aspecto material e moral.
Segunda Etapa – Etapa do próprio corpus iuris civilis Justiniano. O fortalecimento do que chamamos de gérmen
da responsabilidade civil surge com ele, mas é com a chamada lex aquilia ou lex poetelia papiria que nós vamos de fato
detectar o nascimento de necessidade ainda de natureza romano de nós não separarmos, porque o direito não existe de
forma separada, as áreas jurídicas que estão cada vez mais interligadas, nós precisamos definir o que seria crime na
realidade e o que seria no plano real uma conduta que embora não fosse criminosa gerasse também danos. E é dentre os
romanos que notamos o surgimento das expressões, ex maleficio e ex stipulatio. O que seria esses dois? O ex stipulatio
seria na verdade algo vinculado ao descumprimento de um acerto entre a e b, algo que foi estipulado, um contrato ou um
pacto anterior. E o ex maleficioseria aquela que estaria junta não a um contrato, mas a um comportamento que vai
desrespeitar o outro embora não associado a negócio jurídico. E ai nós poderíamos dizer que o crime, o resultado com
efeito na esfera civil ou não, ainda que não fosse crime considerando-se uma infração penal, poderia ter outras condutas
que fossem causar danos para outrem, mas não está vinculado a um contrato.
Terceira Etapa – etapa posterior ao Corpus Juris Civilis de Justiniano.

ESPÉCIES DE RESPONSABILIDADE CIVIL E OS PRINCÍPIOS REGENTES


A responsabilidade civil pede que se entenda que o direito privado não está apartado do direito publico. É preciso
a presença do poder público/Estado acompanhando todas as vicissitudes e problemáticas da vida humana. Todo ato de um
indivíduo vai reverberar em outrem ou na sociedade como um todo. Logo, há importância nessa crítica. Há uma distinção
da responsabilidade civil diante de outras dimensões jurídicas de responsabilidade.
Há a penal/criminal e a administrativa/política. Essa disciplina: responsabilidade civil. A seara criminal traz
reflexos da esfera cível – se alguém comete um delito, pode ter prejuízos materiais e morais no campo cível. Art. 975 –
previsão de que a responsabilidade civil é independente, não se atrela, a seara criminal, mas o que ficar decidido na esfera
criminal, sua comprovação de materialidade ou autoria, traz reflexos aqui. Ex.: cartéis de combustíveis são crimes, mas
podem ensejar danos cíveis, pois consumidores são afetados. O que fica provado penalmente pode ser aproveitado na
esfera cível se prejuízos materiais e morais forem detectados.

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Responsabilidade penal se volta para a paz social, e a busca de punição de quem comete delito/crime é em termos
de sanção, punição. Na esfera cível se busca a reparação, pode ter o viés punitivo, mas acima de tudo há o viés
compensatório, e também voltado para prevenção. Quem comete crime: não transmite para herdeiros os efeitos dessa
condenação. Cível: reparação se transmite com a herança. Se há debito e o autor já faleceu, a herança vai ser utilizada
parar arcar com os valores da indenização.
A responsabilidade administrativa: há responsabilidade civil do estado. Os atos/atividades desenvolvidas pelo
poder público podem corresponder a atos intraneus – problemas internos do estado/união/municípios com seus próprios
funcionários, não estudaremos. Mas atos extraneus, que trazem consequências para a coletividade de forma direta através
do exercício do poder de policia, isso estudaremos, pois são serviços (por permissionárias que não atendem aos
pressupostos da lei de concessões) ou do exercício do poder de polícia. Serviço de saúde: pode não se amoldar aos
padrões constitucionais também, isso estudaremos. Aspecto político: infrações de natureza política a serem cometidas
pelos chefes do executivo, legislativo – não analisaremos. Responsabilidade civil quanto a prestação de serviços
essenciais e exercício do poder de policia – esses estudaremos.
Responsabilidade civil pode ser examinada de acordo com determinados aspectos.
FUNDAMENTO
RESPONSABILIDADE SUBJETIVA
É aquela que se volta para o animus do sujeito, para o elemento interno. Para o elemento psicológico. Ele vai avaliar
se houve imprudência, imperícia e negligência, que serão estudados de formas mais especificas posteriormente.
Sistema dual foi adotado. A responsabilidade pode ser subjetiva ou objetiva. A subjetiva: se intensifica depois da
Segunda Guerra Mundial, conflitos ambientais, trabalhistas, consumeristas. Não abdicamos da responsabilidade subjetiva,
nem o CC/16 nem o CC/02, que contempla a objetivação da análise dos deveres decorrentes. Não eliminamos a
responsabilidade subjetiva.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA
Não examina o elemento interno, mas o comportamento. Se a roda da carruagem soltou, pouco importa se o dono
da carruagem queria que acontecesse ou não. Se ele foi diligente ou não. Os trabalhadores e os fregueses terão que ser
indenizados, os que estavam pagando para as cartas serem levadas também. Mas isso não seria injusto? Não podemos
olvidar que o problema ocorreu. Esse dono poderá ingressar, se descobrir o culpado posteriormente, com ação regressiva,
mas naquele momento os mais frágeis que são os trabalhadores e fregueses terão que ser indenizados, precisam de
resposta.
Eu entro em estabelecimento comercial e despenca um lustre na minha cabeça, eu vou parar para avaliar de quem
foi a responsabilidade? O sujeito que foi internado teve que pagar com tratamentos caros, com remédios, precisa da
reparação imediata, não dá para ficar discutindo a culpa, tem que resolver o problema.
DEVER JURÍDICO VIOLADO/FATO GERADOR
De acordo com o fundamento jurídico ou dever jurídico violado, pode ser extracontratual, chamada de aquiliana ou
em sentido estrito (antigamente era rudimentar, não tinha contrato, essa é a responsabilidade em sentido estrito, que não
depende de contrato, mas sim da prática de comportamento ilícito/antijurídico)
EXTRACONTRATUAL (AQUILIANA/EM SENTIDO ESTRITO)
CONTRATUAL/NEGOCIAL
Contratual é uma nomeação criticada por alguns doutrinadores que preferem negociais, porque vimos que atos
bilaterais também são geradores de responsabilidade civil, como no direito real, nas questões possessórias. É a
responsabilidade civil que tem como fato gerador um negócio jurídico.

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PRECONTRATUAL
Responsabilidade antes do contrato. Existe essa responsabilidade civil porque muitas vezes estamos buscando
adquirir produto ou contratar serviço e precisamos de informações claras e precisas sobre aquilo ali. Hoje em dia, o direito
à informação possui tripé, segundo Canotilho - o direito de ser informado acerca dos itens que estão no mercado, o direito
de informar (dizer o que desejamos), e há ainda o direito de nos informar (de perguntarmos e sermos respondidos).
Por isso a importância acerca da responsabilidade pré-contratual. Tem como fato gerador uma situação pré-
negocial.
DIFERENÇA ENTRE EXTRACONTRATUAL E CONTRATUAL
É obvio que todo negócio jurídico vai gerar consequências no universo do direito, mas temos às vezes situações
que sequer A mantém ou manteve contato com B. A pode simplesmente estar transitando e sequer conhece B, e o animal
de B de forma surpreendente ou porque B não zelou por manter a cancela de sua casa devidamente fechada, sai e ataca A.
Qual foi o contato entre A e B antes do evento danoso? Qual o negócio que estamos visualizando ali? Nenhum. Por isso
precisamos entender que responsabilidade civil pode estar baseada em negócio jurídico ou não. Paulo Gomes trabalhou
sobre a responsabilidade civil extracontratual muito bem.
RESPONSABILIDADE POR ATO PRÓPRIO
Como o próprio nome diz se trata da responsabilidade civil em que o sujeito é responsabilizado pelo seu próprio
ato.
RESPONSABILIDADE DO FATO OU DA CONDUTA DE OUTREM
Ocorrem em casos como no de situações dos pais com relação aos filhos, dos tutores, dos curadores, dos
empregadores, porque o empregador vai ser responsabilizado por ato do empregado, podendo depois entrar com ação
regressiva. Ocorre no caso da sublocação também. Pergunta sobre se a evicção entra nesse contexto: A evicção gera
efeitos na responsabilidade civil, mas não é esse caso de responsabilidade civil por fato de outrem, porque quem fez foi o
próprio responsável.
Diferença entre tutela e curatela – os pais exercem pátrio poder, mas pode em determinado caso perder o seu
pátrio poder ou ter ele suspenso. Nessa hipótese específica, o sujeito frágil precisa de um tutor. Ou se ambos os pais
vierem a falecer, e o incapaz necessitará de tutor. Já a imagem do curador volta para colaborar, auxiliar, quem sofre de
problemas de ordem psíquica ou física, o sujeito portador de alguma anomalia psíquica, o sujeito com alguma deficiência
visual, entre outras situações. A responsabilidade civil pode ser por fato de outrem, e o sujeito que possuir a ligação
jurídica com esse outrem, por ter uma responsabilidade jurídica em relação a este, será responsabilizado. Há uma ligação
jurídica entre o agente do fato e o responsabilizado.
RESPONSABILIDADE GERADA PELA COISA
Teixeira de Freitas com a teoria do corpo neutro, carros irregularmente estacionados, por si só não será
responsabilizado - dono que responde por algo atinente a coisa. O dono tem que cuidar do cão, carro, etc., para que estes
não causem conduta que danifiquem algo/alguém.
Coisa também envolve animal. Então o sujeito é fazendeiro e um gado sai, o animal vai para a estrada e causa
acidente. Ou então ataca uma pessoa que passa. Quem praticou o ato não foi o proprietário, mas sim o animal, mas ele
será responsabilizado.
Outra situação é se deixo meu veículo estacionado e, por algum motivo desconhecido, ele simplesmente se
desloca e vem chocar com outro veículo ou atinge outra pessoa, a responsabilidade será do proprietário. E como resolver
situações em que, por exemplo, temos pessoas dirigindo carros que não são proprietárias e causam acidentes? Veremos
em aula específica como a doutrina e a jurisprudência se apresentam. Existe assim uma noção a cerca da responsabilidade
civil que concerne às pessoas envolvidas.

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Há ainda analise, de Bruno Miragem, que traz analise da responsabilidade civil de acordo com o dever jurídico
violado:
1) Dever de não causar danos
Nesse ponto não se tem dificuldade de compreensão. Nós temos dever de não causar danos, regra basilar da
máxima latina, o dever de segurança e de proteção. No momento que se verifica um avião contendo mais de 80 pessoas,
sofrer acidente, a falta de cuidado que teve no caso, se vê que o dever de segurança é fundamental.
2) Dever de segurança
Mesmo que você se predisponha a transportar alguém sem cobrar nada você assume pelo zelo, segurança e vida
daquela pessoa. Não podemos agir de forma irresponsável. Temos que zelar, por exemplo, também pela segurança da
fachada do nosso imóvel, porque nós seremos responsabilizados.
3) Dever de proteção
Nós somos seres sociais que vivemos em comunidade que temos que cumprir dever de cuidado e proteção
sempre. Quem traz isso é o professor Bruno Miragem que é um dos maiores consumeristas do país, ganhando o premio
jabuti com sua obra inclusive. Essa disciplina se aplica em várias questões.
Dois últimos: alguém passando por shopping, não entrou, não comprou, mas aconteceu explosão, essa pessoa é
considerada consumidora. Art. 17 do CDC – o objetivo maior, nesse campo, é proteção e segurança. Mesmo que o sujeito
não tenha adentrado, é considerado consumidor pois precisa ser respeitado. Necessidade de procurarmos responsabilizar o
agente causador, ainda que ele não tenha causado lesão a um sujeito consumidor padrão, mas a uma categoria considerada
consumidor by standard.
MODELOS
Existem três grandes modelos jurídicos da responsabilidade civil.
MODELO FRANCÊS
Baseado no Código de Napoleão, art. 1382 – “falta”, responsabilidade civil baseada no elemento subjetivo. O
código civil napoleônico de 1804, no artigo 1382, traz uma noção de falta (faute) ampla incorporada no nosso direito.
Porque nós vamos estudar que é a omissão, imprudência, negligência e imperícia que causa dano para outrem, será
responsabilizado pelas omissões. Embora hoje tenhamos a responsabilidade civil objetiva, já na França também temos
entendimento nesse sentido, nós também assim atuamos.
MODELO ALEMÃO
Ao invés de trazer uma noção de faute ampla, no parágrafo 823 do seu código civil, ele traz 4 bens essenciais:
vida, saúde, segurança e propriedade. Ninguém consegue sobreviver sem esses bens, inclusive propriedade, sem roupas,
sem comida. Eles detalhadamente falam de determinados bens. Muito do que temos aqui é extraído dos alemães, quem
primeiro mencionou a boa-fé objetiva foi Yussef Cahali, que é da Alemanha, por exemplo.
MODELO INGLÊS
Baseado em common law que traz necessidade de exame constante dos precedentes. Encontrado nos EUA e na
Inglaterra. A diferença desse modelo para os demais é a existência do common law, sem regras escritas, um sistema de
precedentes. Tendem mais a noção de falta ampla do que a especificação de bens como fazem os alemães. Tem
precedentes, responsabilidade aquilina, pré-negocial, negocial.
BRASIL
O Brasil adotou um sistema vinculado a uma estrutura normativa do conceito de ato ilícito, mas não uma
conformação presa nas normas apenas. O direito vai além das normas. Dworkin – preocupação com princípios alem das

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leis. Brasil adota sistema escrito, mas os princípios têm importância, assim como precedentes que trazem vertente mais
parecida com o sistema do common law.
PRINCÍPIOS
É preciso entender que a responsabilidade civil está pautada em princípios:
DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
Não é algo da contemporaneidade ou pós modernidade. Em 1486, Pico de la Mirandola trata da importância de
tratar o ser humano como ser que merece o devido tratamento/respeito; em 1919 com a constituição de Weimar. Muito
antes disso, gregos. Hoje é um princípio constitucional.
SOLIDARIEDADE
É um dos pilares da responsabilidade civil, pois pode responsabilizar vários sujeitos pela concepção da
responsabilidade solidária, mas também essa solidariedade precisa ser vista por ótica comunicacional trazida por
Habermas e Reale.
A solidariedade não vai estar presente tão somente na ótima filosófica e histórica, mais também jurídica. Às vezes
uma pessoa comete um ato, e esse ato pode ser respondido por outra pessoa. A responsabilidade civil pode ser vista por
ato próprio ou por ato de terceiro, e quando um filho menor comete uma conduta e ela é respondida pelos seus pais,
também é uma faceta da solidariedade. É visto outro aspecto da solidariedade quando compramos um produto que
apresenta um vício num estabelecimento comercial; e podemos responsabilizar não somente o comerciante, mas também
o fabricante.
PREVENÇÃO
Prevenção não se confunde com precaução. Por que a responsabilidade civil está centrada nesse princípio? Porque
vivemos numa sociedade de risco.
Nós estamos tendo acesso a diversos itens no mercado de consumo, e as nossas relações interpessoais são
marcadas pela possibilidade de estarmos até, mesmo sem querer, invadindo a privacidade alheia. Toda a facilidade em
termos telecomunicações e contatos na tecnologia fazem também com que o ser humano seja colocado em situação de
risco.
Prevenção diz respeito àquilo que já estamos detectando estudos que revelam a existência da possibilidade de um
mal ocorrer – se há uma detetização em uma residência, já se sabe que os elementos químicos utilizados podem causar
danos para os indivíduos da residência, razão pela qual dentro da ótica da responsabilidade civil, do princípio da
prevenção, há que se ter informação prévia, de ter toda uma instrução que a pessoa que contrate seja advertida sobre os
malefícios que podem ser causados.
Por que precaução? Muitas vezes não temos a certeza científica de que determinada atividade ou produto cause
um dano, malefício ao ser humano, mas vamos encontrar numa resolução da década de 75 da Comunidade Econômica do
CREA afirmando que quando não se tem uma certeza absoluta acerca das consequências deletérias de uma atividade ou
de um produto, nós precisamos ter a preocupação de adotarmos as cautelas necessárias para evitar os danos posteriores.
Se não se tem certeza dos malefícios, não se fala no princípio da prevenção, mas da precaução.
REPARAÇÃO INTEGRAL
No Brasil, não se tem uma tabela, dizendo: se acontece isso, o sujeito tem direito a x, se acontece aquilo, o sujeito
tem direito a y. O que preconiza o CC e o CDC é que a reparação seja total, que ela englobe aspectos referentes ao dano
material, ao dano moral e até mesmo pode-se falar também do dano estético. Temos também o dano moral coletivo,
também chamado de dano social. Não temos, portanto, uma limitação prévia acerca dessa reparação.

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Súmula 227 – PJ pode sofrer prejuízo moral. A cumulação entre prejuízos materiais e morais não é mais
questionada agora, no pós CF/88. Antes isso não era aceito no Brasil. Hoje falamos em desvio produtivo do sujeito,
questão da perda de tempo; danos materiais, morais, individuais e coletivos, etc.
CLÁUSULA GERAL DA BOA-FÉ OBJETIVA
Para alguns é princípio, tratada por autor alemão, Esser – hoje, Antônio de Menezes Cordeiro. Há ainda a boa-fé
de Klaus Larenz, e o clássico exemplo do edifício e da sombra – os deveres anexos, colaterais, auxiliares. Não é só
obrigação principal, o chamado dever, mas também a responsabilidade diante do dever que não é só entregar ao
trabalhador o salário e colocá-lo em local insalubre, é constranger o trabalhador, assediar, etc.
Essa cláusula exerce três funções: interpretação, controle e integração.
PRESSUPOSTOS BASILARES/REQUISITOS PARA APLICAR A RESPONSABILIDADE CIVIL
CONDUTA
Pode ser ação ou uma omissão.
RESULTADO
Precisa ter dano sempre? E se abrir lata de extrato com rato dentro? O dano, dentro da estrutura clássica da
responsabilidade civil, sempre foi exigido; hoje, existem situações em que o constrangimento e não o aspecto material é
só levado em consideração
NEXO DE CAUSALIDADE
Aquele entre a conduta, ação/omissão e o resultado. Esse nexo é o chamado nexo de causalidade, que terá aula
específica. Tem que ter entre a conduta e o dano um liame, e esse liame jurídico precisa ser avaliado pelo poder judiciário
com muito cuidado – não pode haver uma precipitação pelo magistrado.
NEXO DE IMPUTAÇÃO
Exame da exteriorização da conduta e também o grau de compreensão e até mesmo de vontade do sujeito – a
responsabilidade no Brasil não é apenas adotada sob o viés objetivo, não pode desprezar a chamada responsabilização
subjetiva, conforme examinaremos
CONDUTA
ANTIJURIDICIDADE
Isso significa aquilo que vai de encontro, confronta o direito – premissa de que todo ato ilícito é antijurídico, que
é verdade, mas nem todo ato antijurídico pode ser considerado ilícito. Mas às vezes causa dano, a exemplo de legitima
defesa, estado de necessidade. Para evitar perigo, ou até mesmo situação que é preciso se proteger ou outrem, e gerar
dano. Há incêndio, quebra porta para salvar pessoas, não é ato ilícito, mas gerou prejuízo. Há algo que vai de encontro
com o que se presume de não causar prejuízos a outrem.
Qual a diferença entre antijuridicidade e ilicitude? São conceitos elementares. Nós podemos afirmar que todo ato
que vai de encontro ao que seria justo, que não esteja previsto no ordenamento jurídico como um todo, é um ato
antijurídico. Todo ato ilícito, é aquele que iria de encontro à lei em si, ao ordenamento jurídico, às regras basilares. Todo
ato ilícito é antijurídico, mas nem todo ato antijurídico – qual seja, que causa um problema para a esfera alheia – é ilícito.
Aí se fala de legítima defesa, estado de necessidade, exercício regular de direito, etc. São exemplos típicos de situações
que geram um problema para outra esfera, são considerados antijurídicos, mas não são considerados ilícitos. A noção de
ilicitude tem a ver com um ato que vai de encontro ao Direito, também, e que vai afetar a esfera jurídica alheia – mas nem
todo ato considerado antijurídico é considerado ilícito.
CULPABILIDADE
Quando nos atemos à culpabilidade, observamos a representação do sujeito mental em termos daquilo que ele está
praticando.
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IMPUTABILIDADE
Analisamos se o sujeito tinha a maturidade/estrutura em termos de compreensão (idade, condições mentais) de
compreender os efeitos e consequências do ato praticado ou omissão verificada.
Qual a diferença entre culpabilidade de imputabilidade? Quando falamos de culpabilidade falamos do elemento
que diz respeito à concepção do sujeito acerca da prática de determinado ato, determinada conduta ou determinada
omissão. Esse sujeito agiu de forma dolosa ou culposa. Já na questão da imputabilidade, vamos verificar as questões
físicas e psíquicas daquele sujeito para verificar se ele pode responder pelos danos cometidos. O sujeito é maior de idade,
menor de idade, apresenta um transtorno psíquico, psiquiátrico? Tivemos uma alteração recente no CC em relação ao
estatuto da pessoa com deficiência – hoje, a tendência é de respeitar cada vez mais essas pessoas, e lhes permitir uma certa
autonomia para que esses sujeitos possam se posicionar perante a vida dentro das suas possibilidades.
ATO ILÍCITO
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos
pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.
Não é só crime. Há atos ilícitos de acordo com os arts. 186 e 187 do CC, que são caracterizados por conduta, ação
ou omissão voluntaria, ou postura negligente, imprudente ou imperita. Não é só violar a lei – muitas vezes temos o art.
187 que nos traz conduta, postura, que vá de encontro com os fins sociais, aos fins econômicos, à própria boa fé,
costumes. Dentro da história da responsabilidade civil, José de Aguiar dias, autor mais clássico, tem obra específica de
responsabilidade civil utilizada até hoje. Alvino lima, professor da USP, no início do séc 20. Wilson Melo e Silva.
Ex.: pai que briga com o filho e o proíbe de visitar o túmulo da mãe que fica na mansão da familia – desrespeito
aos costumes/fins sociais. Ex.2: proprietário pediu para ser enterrado com o quadro de um pintor famoso – isso é viável?
O quadro é da pessoa, mas e a finalidade social?
Abuso do direito (art. 187) traz controvérsia muito grande pois, logo a priori, no final do séc. 18 e início do 20,
pergunta-se se há abuso de direito se a pessoa tem o seu direito objetivo. Sim, há: o direito previsto na lei pode estar de
encontro ou violar o direito objetivo, então o abuso de direito está caracterizado.
Ex: chaminé, pode abrir dentro da própria casa? Sim. Mas a minha autonomia privada não pode se confundir com
autonomia que não respeite aspectos atinentes a vida em sociedade (respeito ao fim social). É possível ter o direito
garantido, mas não devemos e precisamos exercê-lo, materializá-lo, de forma que não gere para outro ou para a
comunidade prejuízos considerados infundados. A responsabilidade civil não se prende apenas as normas, mas também e
principalmente aos princípios.
Abusa do direito aquele que, embora titular por prerrogativa, ultrapassa os parâmetros da razoabilidade, da
normalidade (Raymont Saleilles). Embora um sujeito tenha um direito previsto no ordenamento jurídico, um direito
subjetivo, no momento em que esse sujeito concretiza no plano real determinada ação ou comete ato referente à omissão,
se vai de encontro ao sujeito objetivo, se ultrapassa os limites, logo, é possível o abuso do direito (Louis Josserand).
O enunciado 37 prevê que o abuso de direito precisa ser examinado não mais só pela ótica subjetiva, mas também
ter um critério objetivo finalístico, uma vez que muitas vezes é difícil saber porque determinado sujeito age daquela
forma. Embora não se despreze o elemento psíquico, há de se observar a exteriorização do comportamento do sujeito no
meio social.
Enunciado 37 – Art. 187: A responsabilidade civil decorrente do abuso do direito independe de culpa e fundamenta-se
somente no critério objetivo finalístico.

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CAUSAS DE JUSTIFICAÇÃO
Art. 188. Não constituem atos ilícitos:
I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;
II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente.
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente
necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo.
Existem atos antijurídicos e não ilícitos, mas que causam prejuízos para outrem.
Legítima defesa, de acordo com o art. 25 do CP, ocorre quando o sujeito se depara com uma injusta agressão,
atual ou iminente, e ele faz uso dos meios moderados e admissíveis para se defender.
Exercício regular de direito se constitui nas situações em que a pessoa procura exercer a sua faculdade, seu direito
subjetivo. Se o faz dentro da regularidade, proporcionalidade, normalidade, então esse sujeito está agindo de acordo com o
ordenamento jurídico e no exercício regular do seu direito.
Estado de necessidade, por sua vez, ocorre quando há perigo atual, e sabe perfeitamente que, para resguardar a
própria vida ou a de terceiros, precisará agir de modo que vai acabar causando um determinado dano.
Pode haver uma situação onde A em face de B se defende, em risco atual ou iminente. A pode causar um dano
para B, ou para uma coisa de C, diante de um perigo considerado atual. A solução, nesses casos, está nos seguintes
artigos.
Art. 929. Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188, não forem culpados do perigo, assistir-
lhes-á direito a indenização do prejuízo que sofreram.
Pode responsabilizar, nesse caso, A que arromba a porta de B para impedir que o incêndio destrua a casa: se ele
vai além do fundamental para prevenir e coibir aquilo, se ele vai além do necessário na sua ação, ele pode ser
responsabilizado.
Art. 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa do terceiro, contra este terá o autor do dano
ação regressiva para haver a importância que tiver ressarcido ao lesado.
Quem causou o incêndio foi C – B entrou na justiça contra A, para que este pague pela ação que gerou o dano. A,
entretanto, tem direito a propor ação regressiva contra C.
Sujeito, funcionário da prefeitura, faz análise da casa da pessoa para ver se tem foco de mosquito da dengue. Pode
fazer isso, mas precisa do aval da pessoa. Se entra e se esbarra em pote, alguma coisa, vai gerar responsabilidade, exceto
se demonstrar que não agiu com o intuito de causar dano/que não foi além, não excedeu, o que ele dispunha para executar
a sua atividade.
Há foco em casa fechada, pode arrombar e entrar? Se agir em estrito cumprimento do dever legal, sim, mas se
houver excesso, vai observar o tipo de excesso. Se tem alguém tentando matar outrem, e terceiro tenta apartar e quebra
carro de terceiro sem querer. Deve observar o contexto concreto, pois a depender da configuração pode atribuir a
responsabilidade até a quem começou a agressão. Art. 23 e 24 do Código Penal – essas situações trazem consequências
aqui.
O NEXO DA IMPUTAÇÃO
Imputar é observar qual a concepção, grau de representação sobre a situação concreta considerada contrária ao
direito. Sob o aspecto subjetivo, temos o dolo e a culpa para analisar. O dolo diz respeito à representação que o sujeito

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tem a possibilidade de fazer na sua mente. Uma representação acerca da sua conduta e, também, do resultado que pode
advir.
No que tange a culpa, ela se volta para uma situação em que não há uma representação como poderia-se observar no
dolo. Ela termina gerando um dano para outro, quer seja pela falta de cuidado, pela falta de observação de diligênicas
mínimas ou ainda por descumprir aspectos atinentes a sua profissão. A doutrina traz uma série de classificações. Culpa no
grau mais grave, culpa leve, culpa levíssima – aspectos doutrinários. Quando examinamos a culpa, vamos verificar como
ela se configurou na situação concreta e qual a compreensão do sujeito diante dela. Aspectos essenciais a serem analisados
são a imprudência, negligência e imperícia.
1) Imprudência: descuido, precipitação. Há um elemento objetivo que é a falta de cuidado, e um elemento subjetivo
que é a despreocupação com a exteriorização da conduta (José de Aguiar Dias).
2) Negligência: ausência de atuação necessária para evitar situação danosa. Há uma falta de cuidado que está mais
próxima a uma conduta omissiva.
3) Imperícia: vinculada a falta de conhecimento técnico, formação, para desenvolver certas atividades. São aspectos
atinentes a uma profissão, atividade e ofício que foram desprezados. Um conceito poderia ser o exercício de
atividade sem conhecimento técnico para isso.
“Culpa normativa” diz quanto a objetivação da responsabilidade civil.
DOLO E GRADAÇÃO DA CULPA
CULPA GRAVE
Confunde-se com a própria culpa na esfera criminal: sujeito vai dirigir, passa sinal vermelho, atropela e mata
alguém.
CULPA LEVE
Sinal amarelo, dever de diligência/cuidado muito específico – pessoa responsável, agiu culposamente, mas de
forma leve – vai andar de bicicleta, atropelou alguém que caiu e ralou o joelho.
CULPA LEVÍSSIMA
Culpa aquiliana.
PRESUNÇÃO DA CULPA
Temos responsabilidade objetiva, que não estudamos o elemento subjetivo, anímico. Porém, ainda que existam
situações de responsabilidade objetiva, a jurisprudência tem trazido a presunção de culpa. Exemplo típico: situação dos
médicos. Responsabilidade dos médicos, remunerados, quando pagamos plano de saude e sofremos acidente, é subjetiva.
É subjetiva pois entendeu o legislador que escolhemos o profissional, então há relação intuito personae (embora a gente
normalmente pegue qualquer um), mas a responsabilidade é subjetiva nos casos de acidente. STJ tem trazido julgados em
que há presunção de culpa quando o médico, profissional da área de saúde, não traz prova referente a sua atuação de
forma devida.
RISCO COMO CRITÉRIO DA IMPUTAÇÃO DA RESPONSABILIDADE
Em 1839 tivemos um problema na França que envolveu uma máquina a vapor. Um trabalhador desenvolvia uma
atividade e em razão de vício na máquina, alguns trabalhadores sofreram lesões corporais. Sergio Cavalieri e Bruno
Miragem discutem isso. A partir daí se discutiu risco na atividade. Existem atividades que necessariamente envolvem
risco. O CC de 2002 no art. 931 fala as atividades que envolvam riscos se não reguladas por leis especiais, suscitarão a
aplicação da responsabilidade objetiva. Aí nós vamos encontrar, por exemplo, situações envolvendo trabalhadores,
envolvendo consumidores, envolvendo também atividades nucleares e questões ambientais inseridas nessa questão.
Risco envolve saber que a objetivação da responsabilidade civil surgiu diante dos riscos e problemas ocorridos
com meio ambiente, trabalhador, consumidor. Não se esquecer do sistema dualista (objetiva/subjetiva) – nosso CC não
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abandona a avaliação da culpa, mas coloca, também, a responsabilidade objetiva. A doutrina traz algumas espécies de
risco.
TEORIA DO RISCO PROVEITO
É a mais aceita. Toda vez que vai ao mercado, ou como patrão ou como fornecedor ou como prestador de serviço
público, se há retorno econômico a obrigação é zelar pela saude, segurança, precaução e prevenção (tem certeza que pode
acontecer). É o resultante da atividade econômica desenvolvida no âmbito mercadológico em que o sujeito coloca
determinado item para ser ofertado, objetivando lucro. Se inserirmos no mercado equipamento e se prestarmos um
serviço, objetivamos uma remuneração e um retorno econômico – então assumimos o risco atinente que possa ser causado
por esses objetos. Máxima do quem espera o lucro, assume o ônus.
Art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei especial, os empresários individuais e as empresas respondem
independentemente de culpa pelos danos causados pelos produtos postos em circulação.
TEORIA DO RISCO EXCEPCIONAL
Mais aplicável a questão nuclear. Art. 21 da CF, XXIII, a necessidade de muito cuidado na esfera nuclear. Risco para
além do normal. É uma atividade de responsabilidade objetiva e de risco com aspectos que exigem cuidado ainda maior,
para além da normalidade.
TEORIA DO RISCO PROFISSIONAL
Teoria mais restrita, que diz respeito a quem exerce determinadas atividades/profissões, que devem seguir os
parâmetros. Ex.: cirurgias estéticas. É categoria criada pela doutrina só sobre o aspecto abstrato.
TEORIA DO RISCO CRIADO
Não tem aplicabilidade muito grande, pois as outras teorias desembocam em algo que criamos e ensejamos na
realidade concreta. Se deseja um retorno um retorno econômico, assume e cria um resultado. Não há diferença – as causas
de exclusão da responsabilidade civil são aplicadas.
REGRAS DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA NO CODIGO CIVIL

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou
quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de
outrem.
Segundo o enunciado 378 das Jornadas de Direito Civil, a responsabilidade de danos causados pelos riscos não é
de responsabilidade objetiva somente na área consumerista. Se o sujeito apresenta seu carro, sem ser fornecedor, se o
carro for passado com vícios e causar danos, será responsabilidade objetiva.
Art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei especial, os empresários individuais e as empresas respondem
independentemente de culpa pelos danos causados pelos produtos postos em circulação.
É a responsabilidade por danos causados por produtos.
Art. 927 e 931. Melhores que o CDC. A responsabilidade objetiva em razão do risco da atividade (927) e
responsabilidade objetiva em razão de danos causados por produtos (931). Mais vantajosos pois, no art. 13 do CDC, há
previsão de que se compra um determinado produto em supermercado, e tem algum problema de saúde decorrente, de
acordo com o CDC se o produto tem a identificação do fabricante, não se responsabiliza o supermercado.
Para acidentes de consumo, a responsabilidade do comerciante é subsidiária. Vai responsabilizar o supermercado
se o produto não tiver identificação do fabricante ou se o supermercado não conservou de forma devida aquele item. Fora
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da validade, comeu e passou mal: CDC – acidente de consumo, responsabiliza supermercado, se conservou, fabricante.
No Código Civil: coloca comerciante no polo passivo, sim. Isso vale para acidentes de consumo, que colocam em risco
saúde e segurança. Responsabilidade solidária.
RESPONSABILIDADE PELO FATO DE TERCEIROS
FILHOS
Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:
I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia;
Filhos que cometem atos contrários ao direito, os pais respondem. No que tange pais separados, divorciados,
existem enunciados das jornadas de direito civil da JF e neles constam informações de que mesmo os pais sendo
divorciados ou separados, estando o filho sobre a guarda de um deles, o outro ainda é responsável – mesmo sem haver
guarda compartilhada, a responsabilidade deve ser aplicada aos dois. O Enunciado 41 fala que se o filho foi emancipado
voluntariamente pelos pais, ainda assim eles respondem. Se tivermos causas de emancipação que foram causas outras (ex.
casamento, concurso público), é diferente. Se os pais viajam e deixam a criança com outra pessoa, é possível aplicar a
responsabilidade a todos, havendo a previsão de responsabilidade solidária.
TUTELA E CURATELA
II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições;
Tutores e curadores: tutela aplica-se para casos em que pais tem seu pátrio poder destituído ou já tenham falecido.
Curatela – para pessoas que não conseguem expressar a sua vontade de forma a não suscitar proteção. Estatuto da pessoa
com deficiência: alterações nos art. 3 e 4 do CC. Quem responde pelos atos do pupilo/tutelado é o tutor/curador.
Responsabilidade objetiva.
RELAÇÃO DE EMPREGO
III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir,
ou em razão dele;
Empregador e empregado: o empregador responde pelos atos do empregado, pois este atua como uma longa
manus do empregador. Existe enunciado sumular, 341 do STF, tratando sobre responsabilidade objetiva do patrão em
razão de atos cometidos pelo empregado.
HOTEL E ESTABELECIMENTO DE ENSINO MEDIANTE REMUNERAÇÃO
IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de
educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos;
Há relação de consumo e responsabilidade do estabelecimento hoteleiro. Hóspede que bate em outros, criança que
comete bullying. Com o CC, os estabelecimentos também têm responsabilidade.
PARTICIPAÇÃO GRATUITA DO PRODUTO DO CRIME
V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia.
Questão de grande polêmica. Se um sujeito furta um carro ou assalta subtraindo determinado bem,
compartilhando esse produto com outro – mulher e filhos, por exemplo – está compartilhando o produto do crime.
Havendo uma ação de responsabilização no campo cível, é possível acionar todos, o meliante e os membros que
utilizaram o produto do crime. Produto do crime é diferente de proveito do crime. Ex. (Cavalieri): mulher que é casada
com assaltante, que vende itens frutos do assalto e usa o dinheiro para dar comida à família. Não é produto do crime mais,
agora é proveito.

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RESPONSABILIDADE EM RAZÃO DO FATO DA COISA
A coisa em si não tem raciocínio, por isso José de Aguiar Dias, baseando-se em Pontes de Miranda, preconiza que
não se pode atribuir ação e conduta a animal e coisa, mas o proprietário é responsabilizado.
Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou força
maior.
Havendo um cachorro, por exemplo, a pessoa deve assumir o ônus de zelar para que ele fique devidamente no
local seguro. Se o cachorro atinge a alguém, aplica-se esse artigo e teremos a responsabilidade do proprietário do animal.
Se a vítima der causa ou concorrer, não haverá responsabilidade. Não há exclusão de responsabilidade se não houver
culpa da vítima ou força maior. O dono do animal deve zelar para que ele não cause malefícios a outros. Se não sabe
quem é dono, responsabiliza o poder público, a não ser que prove que foi por culpa exclusiva da vítima em ambos os
casos.
Art. 937. O dono de edifício ou construção responde pelos danos que resultarem de sua ruína, se esta provier de falta de
reparos, cuja necessidade fosse manifesta.
O dono da casa/edifício responde pelos danos da ruína se essa provier da falta de reparos, cuja necessidade era
manifesta. Edifício caindo aos pedaços: tem que fazer as reformas, pois se cair alguma coisa do prédio, é responsabilidade
do dono. A responsabilidade é objetiva, e é ação de actio de effusis et dejectis. Ou seja: cai coisa da sua casa, ou do
prédio, ou do quer que seja, hotel, seja lá, e tem alguém passando – vai responsabilizar o proprietário. Exceto se souber
quem do edifício ou hotel lançou aquilo. Se não tiver como identificar, é do estabelecimento.
O Enunciado 55 trata do condomínio – não identificando o proprietário, o condomínio responde pelo ato;
descobrindo posteriormente quem foi o vizinho que fez, entra-se com ação regressiva. Enunciado 447 – diz respeito as
associações; acontecendo um problema por algo lançado e não descobrindo o responsável, a agremiação será responsável.
Art. 934. Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver pago daquele por quem pagou,
salvo se o causador do dano for descendente seu, absoluta ou relativamente incapaz.
No que tange as ações de regresso, muitos defendem que a culpa não deveria ser do
hotel/condomínio/agremiação. A ação de regresso está muito clara nesse artigo, de forma que aquele que ressarcir o dano
causado por outrem pode reaver o que tiver pago. Essa ação não será admissível se o responsável foi descendente absoluta
ou relativamente incapaz.
AULA 4 – 21/09/2018

A REPARAÇÃO DO DANO E OS PRIVILÉGIOS CREDITÓRIOS NA RESPONSABILIDADE CIVIL


O DANO INJUSTO COMO INDENIZÁVEL
O dano nada mais é do que uma lesão a interesses juridicamente protegidos ou tutelados. Essa dimensão exige
certeza e atualidade. Não pode simplesmente acreditar que teria a possibilidade de haver o dano (certeza). A atualidade,
por sua vez, não despreza a perda de uma chance. A depender da situação, a pessoa pode perder a oportunidade de ganhar
e não se tinha certeza sobre isso. Ex.: advogado contratado que perde prazo, cirurgião que faz cirurgia de miopia em um
olho só, caso do Show do Milhão, pessoa que viaja para fazer concurso público e o vôo sofre um atraso.
ESPÉCIES DE DANOS QUANTO AO SEU CONTEÚDO
Podem ser patrimoniais e extrapatrimoniais – sendo que aqueles não podem ser vinculados somente à coisa.
DANOS PATRIMONIAIS
Pode estar vinculado à pessoa, apesar do nome – exemplo dos lucros cessantes. Podem ser vistos sobre duas
óticas.

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PREJUÍZOS ECONÔMICOS (DANOS EMERGENTES)
Se a pessoa está dirigindo um carro na rua e uma pessoa danifica o carro, há prejuízo econômico expresso. Se a
pessoa fica com o carro parado durante um espaço temporal e fica sem trabalhar, a pessoa tem outros prejuízos por aquilo
que deixou de receber e deixará de receber pela ausência do carro – são estes os lucros cessantes.
LUCROS CESSANTES
É usada a teoria da diferença desenvolvida pelos portugueses. Deve-se saber o que se tem hoje e o que se deixará
de ter por causa do prejuízo que foi causado, vide o exemplo acima.
DANOS EXTRAPATRIMONIAIS
Nem sempre estarão vinculados à pessoa. Podem estar vinculados a uma coisa e a um sentimento. Ex.: objeto de
valor deixado por um parente de alguém que é danificado. Há um sentimento grande vinculado a um objeto – podem dizer
respeito a pessoas inconscientes. Ex.: nascituro, pessoas acometidas por um estado grave de doença. Os danos
extrapatrimoniais foram estudados pela primeira vez por Otto Von Gierke. Danos extrapatrimoniais tratam de bens
irrenunciáveis.
ALCANCE DO SIGNIFICADO DE DANOS EXTRAPATRIMONIAIS
Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não
podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária.
São valores intransmissíveis e irrenunciáveis. Temos a questão da vida, integridade física, integridade e
estabilidade psíquica, intimidade, imagem, nome e honra.
ESPÉCIES DE DANOS EXTRAPATRIMONIAIS
DANOS MORAIS EM SENTIDO ESTRITO
Abrange constrangimento, humilhação, situação vexatória. Não se confunde com o simples aborrecimento.
DANO ESTÉTICO
É o “enfeiamento” permanente ou não, mas ninguém é obrigado a ficar com lesão mesmo depois de cirurgia
plástica. Pouco importa se é visível ou não. Essa pessoa terá o direito de obter a indenização. É possível cumular o dano
moral com o dano estético. Há dois enunciados, um do CJ e o 387 do STJ que admite a cumulação de dano moral e
estético.
STJ - Súmula 387 É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral.
DANO CORPORAL À SAÚDE
DANO À IMAGEM
Pode ser vista sobre as óticas objetiva e subjetiva.
DANO PATRIMONIAL ORIUNDO DE LESÃO A INTERESSE OU BENS COLETIVOS
O dano moral coletivo não se confunde com o dano moral individual. Quando entramos com ação individual, o
dinheiro a ser pago é para a pessoa – em ações coletivas, as indenizações podem ser pedidas para sujeitos em geral, e
podemos pedir o dano moral coletivo. É aquele que diz respeito aos valores da sociedade que foram aviltados. Ex.:
incêndio de Santa Maria, caso da barragem em Mariana.
Mesmo que não tenhamos sofrido danos, a sociedade fica triste nessa situação. Esse dano difuso ou social diz
respeito a valores honoríficos da sociedade – diz respeito a uma coletividade indeterminada. Esse valor vai a fundo federal
relativo ao tema. Esse dano moral coletivo serve para a técnica de desestímulo à conduta, por isso se assemelha ao
punitive damage do sistema norte-americano. Isso faz com que a pessoa, na sociedade de risco, não volte a agir dessa
forma. Antonio Junqueira de Azevedo criou a noção de que dano social é igual ao dano moral coletivo.
Enunciado 192: cumulação de danos materiais, morais e estéticos.
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Enunciado 494: transmissão de danos através da herança (sujeito que morre atropelado, seus herdeiros pordem
buscar a reparação – também está no CC, art. 443).
Enunciado 456: danos morais causados pela ótica coletiva.
DANO EXTRAPATRIMONIAL DA PESSOA JURÍDICA
Empresa pode sofrer dano moral. Existe enunciado sumular e das jornadas nesse sentido.
OUTRAS CLASSIFICAÇÕES DE DANO
DANOS DIREITOS E INDIRETOS
Os indiretos são quando alguém morre e os filhos sofrem a dor e ficam sem ter alimentos porque o pai ou a mãe
morreu. São danos por “ricochete”.
DANOS CERTOS E EVENTUAIS
Somente os danos certos são os indenizáveis.
DANOS ATUAIS E FUTUROS
Podem ser danos futuros por conta do princípio da precaução. Ex.: transgênicos. Se não temos certeza de que
pode ocorrer o dano, é necessário adotar medidas necessárias para informar a população.
DANOS INDIVIDUAIS E COLETIVOS
A REPARAÇÃO DO DANO NA RESPONSABILIDADE CIVIL
CONSIDERAÇÕES GERAIS
A reparação é um gênero do qual a indenização é espécie.
CONTEÚDO DA INDENIZAÇÃO EM MATÉRIA DE DANOS PATRIMONIAIS E EXTRAPATRIMONIAIS
A reparação pode ser através da devolução da própria coisa, da mesma forma e nas mesmas condições. Pode ser
ainda por meio da prestação de uma atividade, ou por um montante/numerário.
SOLIDARIEDADE PELO PAGAMENTO DA INDENIZAÇÃO
A regra basilar do CC/01 é que a reparação pressupõe um autor. Havendo mais de um autor, nós temos a
incidência da solidariedade.
Art. 942. Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem ficam sujeitos à reparação do dano
causado; e, se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderão solidariamente pela reparação.
Parágrafo único. São solidariamente responsáveis com os autores os co-autores e as pessoas designadas no art. 932.
Os bens pertencentes ao autor da ofensa serão utilizados para fins de reparação do dano, mas se nessa ofensa tiver
outros coautores, eles participarão em conjunto.
INDENIZAÇÃO PELO INADIMPLEMENTO DA OBRIGAÇÃO
Art. 234. Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se perder, sem culpa do devedor, antes da tradição, ou pendente a
condição suspensiva, fica resolvida a obrigação para ambas as partes; se a perda resultar de culpa do devedor,
responderá este pelo equivalente e mais perdas e danos.
Se observa que toda obrigação que envolve presença de coisa, aquele que está com a coisa, o devedor ou qualquer
outro sujeito que se predispõe a tomar conta do objeto, precisa zelar por ele. Na hora da entrega da coisa, ou de se
devolver, se a coisa não mais existe precisa analisar a conduta do sujeito que cuidava da coisa.
Art. 235. Deteriorada a coisa, não sendo o devedor culpado, poderá o credor resolver a obrigação, ou aceitar a coisa,
abatido de seu preço o valor que perdeu.

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Regra basilar do direito das obrigações, que se aplica a estrutura do direito civil como um todo. Houve animus de
lesar o outro, houve falta de cuidado ou não?
Art. 236. Sendo culpado o devedor, poderá o credor exigir o equivalente, ou aceitar a coisa no estado em que se acha,
com direito a reclamar, em um ou em outro caso, indenização das perdas e danos.
Art. 247. Incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor que recusar a prestação a ele só imposta, ou só
por ele exeqüível.
Ao exemplo de contratar cantor que diz que não vai cumprir obrigação, porque não quer ou porque não está com
aptidão física. Diante do fato que ele deixa de cumprir, vai também se aplicar na parte de responsabilidade civil.
Art. 315. As dívidas em dinheiro deverão ser pagas no vencimento, em moeda corrente e pelo valor nominal, salvo o
disposto nos artigos subseqüentes.
O exemplo da baiana de acarajé que tentou pagar a escola da filha, onde a mensalidade era de R$ 100,00, em
moedas, e se recusaram a receber o dinheiro. Foi instaurado procedimento apuratório, pois não se pode negar a recepção
de dinheiro, a moeda corrente. Isso também está previsto na Lei de Contravenções Penais. No caso do transporte coletivo
há regra baseada em decreto da prefeitura que diz que tenho que ter dinheiro trocado – precisa analisar sob o aspecto
econômico, não podemos achar que estamos sempre corretos. Se o sujeito pode se esforçar para levar o dinheiro trocado,
ok, mas é preciso verificar como se interpreta isso no caso concreto.
Há ainda medida provisória quanto aos descontos para pagamentos à vista. STJ já havia deliberado que não pode
cobrar preços distintos para venda à vista e a prazo. Até agora não há texto escrito.
Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem, além do que
ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar.
Trata do lucro cessante. Extremamente importante. As perdas e danos englobam o que o sujeito efetivamente
perdeu, mas também o que deixou de lucrar, o famoso lucro cessante. Ex.: parou de trabalhar porque carro foi atingido por
outro veículo e precisa ficar parado – vem a teoria da diferença, trazida pelos portugueses, que leva em conta além da
perda patrimonial também o que ele deixou de receber. Deixou de trabalhar por uma semana, quinze dias, um mês.
Quanto teria aferido? Qual o prejuízo para os vencimentos daquele sujeito?
DOS JUROS DEVIDOS SOBRE A INDENIZAÇÃO
Juros podem ser moratórios:
Art. 406. Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou quando provierem
de determinação da lei, serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos
devidos à Fazenda Nacional.
Se não previstos no contrato ou em lei, se aplica a Lei de Usura (Decreto 22.626/33), mas se usa um por cento que
corresponde ao mesmo percentual utilizado pela Fazenda Pública para cobrar seus créditos, que está lá no CTN no artigo
161.
Existem ainda os juros remuneratórios ou legais. Não há parâmetro no Brasil, apesar da modificação do art. 192,
3, da CF que diz que não se pode admitir juros reais superior a 1% ao mês, ou seja, limite de 12% ao ano.
A mora pode ser ex re ou ex persone. A diferença é que a primeira não precisa avisar da mora, e na segunda
necessita de aviso.
Art. 397. O inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu termo, constitui de pleno direito em mora o
devedor. (Vide Lei nº 13.105, de 2015) (Vigência)
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Parágrafo único. Não havendo termo, a mora se constitui mediante interpelação judicial ou extrajudicial.
Se a obrigação é positiva e líquida, se sei o valor, ela vai se constituir no momento que a obrigação venceu. Se eu
tenho uma obrigação ilíquida, não sei o montante que vai cobrar, precisa de uma interpelação judicial para poder começar
a cobrar – é o caso da ex persone.
Art. 398. Nas obrigações provenientes de ato ilícito, considera-se o devedor em mora, desde que o praticou.
Assunto do semestre passado: a partir do momento da prática do ato ilícito, começa a contar os juros e os outros
acréscimos do momento em que o ilícito se realizou, se concretizou.
Por mais que o direito do consumidor, a Lei 8078/90, seja um conjunto normativo constituído por convicções de
ordem pública e sociais, nós não podemos interferir na monta, na deliberação, na liberdade do mercado porque o Brasil é
um país capitalista. Mas uma vez que o consumidor entrou com representação contra o Sam‟ s Club porque só vende para
o associado por valor melhor e quem não é não tem acesso ao produto. O fato de estabelecer como premissa comercial
que você vai vender mais em conta para quem tenha com você uma relação de reciprocidade, é uma opção sua, e o
consumidor pode procurar o mesmo produto em outros espaços.
CORREÇÃO MONETÁRIA DO VLAOR DA INDENIZAÇÃO
ENUNCIADOS IMPORTANTES
Enunciado do STF 490 – para fixação da indenização, para reparação do dano, pode utilizar o salário mínimo
como referência, como um patamar para a fixação, mas não é uma obrigação.
Enunciado do STJ 313 – quando alguém causa dano para outrem, a fixação da indenização pode se dar através
de acordo extrajudicial ou por meio de ação, medida judicial. Se o que deve uma indenização demonstra fragilidade
quanto ao cumprimento do pagamento e às prestações estabelecidas, é possível que haja fixação de capital ou caução
fidejussória. Pode exigir, o que sofreu o dano, o pagamento do montante integral, mas também vai depender da situação
do que cometeu o dano. Você não pode impor para B que causou dano A que pague valor integral se ele não tem
capacidade econômica. Mas é possível, dentro da possibilidade que B pode descumprir o pagamento, prever a constituição
do capital. Isso está decidido e sumulado no STJ. Fulano atropelou meu esposo, será que ele vai pagar pensão pela morte a
vida toda? E se em determinado momento ele não puder? Então pode esse capital ser instituído.
CAUSAS DE REDUÇÃO DA INDENIZAÇÃO
DESPROPORÇÃO ENTRE DANO E CULPA
Tange aos enunciados 46, 380 e 457 das Jornadas de Direito Civil – a redução da indenização tem caráter
excepcional.
Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.
Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir,
eqüitativamente, a indenização.
A indenização mede-se pela extensão do dano, ou seja: se causa dano Y, tem que ter indenização correspondente
a Y. No parágrafo único diz que se houver desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, pode o juiz diminuir a
indenização equitativamente (caráter excepcional da redução da indenização). Um exemplo do professor Sergio Cavalieri
e de Carlos Roberto Gonçalves, é um no qual ambos trazem no sentido de sujeito humilde que guia a sua bicicleta e acaba
esbarrando em carro luxuoso, danificando o carro. O dano é grande, superior, mas desproporcional à negligência ou falta
de cuidado do sujeito. O juiz pode, então, verificar que pelo animus e pela capacidade econômica não se poderia
estabelecer indenização elevada.

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Quando se trata de responsabilidade objetiva, contudo, não se aplica o art. 944 – é o que trazem os enunciados.
Seria o caso de responsabilidade não lastreada no elemento subjetivo, mas dados da realidade concreta, não vinculadas ao
elemento subjetivo.
CULPA CONCORRENTE DA VÍTIMA – CAUSALIDADE CONCORRENTE
Cabe o enunciado 458 das Jornadas de Direito Civil: grau de culpa do ofensor e do dano. No caso de a vítima
contribuir para o dano, tem que ser algo apreciado pelo judiciário. Se tem pessoa que, correndo, não observa sinal que está
ali fechado e termina sendo atropelado, temos que levar em consideração não só a conduta de quem atropelou, mas de
quem sofreu o dano.
Exemplo de Bruno Miragem diz a respeito de sujeito embriagado e em alta velocidade, o veículo bate em poste e
ele vem a óbito porque o airbag não funcionou. Não pode dizer que a morte se deu apenas pelo mal funcionamento do
equipamento, é preciso levar em consideração a conduta do sujeito.
Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em
conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano.
Ou seja: não podemos esquecer que, no caso concreto, temos que analisar a postura do autor e também a de quem
sofre o dano. Fabricante do veículo está errado, mas a vítima também contribuiu. É preciso definir o nexo de causalidade,
quem gerou e porquê o evento danoso negativo foi de fato engendrado.
INDENIZAÇÃO EM CASO DE HOMICÍDIO
Se houve apenas tentativa, então vai arcar com os custos do tratamento da vítima. Se não sobreviveu, se houve
homicídio consumado, então pagará gastos com funeral e luto da família. Além disso, há ainda a questão da prestação de
alimentos – que deve ser apreciada em caso concreto, levando em consideração as condições do sujeito que morreu. Era
alguém que ajudava efetivamente no sustento da família? Era marido? Esposa? Se fosse idoso, aposentado, ele contribuía
ao sustento da família de alguma forma?
O juiz também deve observar a condição econômica da vítima.
Enunciado 491 do STF – morte de filho menor que ainda não produz trabalho, mas um dia irá produzir, mesmo
sendo criança que ainda não está produzindo para ajudar a família. De acordo com a condição socioeconômica da família
e cultura, o juiz estabelece um parâmetro e arbitra o que traria de positivo em aspecto econômico para a família o sujeito
que morreu.
Enunciado 560 CJF – dano ricochete (ou dano indireto) já é previsto pelo artigo 941.
Art. 941. As penas previstas nos arts. 939 e 940 não se aplicarão quando o autor desistir da ação antes de contestada a
lide, salvo ao réu o direito de haver indenização por algum prejuízo que prove ter sofrido.
INDENIZAÇÃO POR LESÃO OU OFENSA A SAÚDE
Pessoa não morre, mas sofre lesão em sua incolumidade física ou psíquica. O ofensor tem que pagar o tratamento
da vítima, remédio, hospital, exames, os lucros cessantes (Teoria da Diferença – a partir do momento que sofri aquela
lesão, deixei de ganhar algo, esses valores que deixei de ganhar terão que ser arcados) e outros prejuízos sofridos, como
no caso de um dano estético.
A pessoa foi atropelada ficou com uma lesão. Às vezes a incapacidade para o trabalho é temporária, mas mesmo
assim tem que ser levada em consideração, pode ser inabilitada em caráter definitivo para uma atividade. No caso de
pianista que perde dedos de uma das mãos, ele não vai mais poder continuar exercendo a sua atividade. Aí a doutrina diz
que ele pode desenvolver outra atividade, isso reduziria ou acarreta diminuição do valor da indenização? Não. Porque ele
era pianista, não pode obrigar a escolher outra profissão diferente e dizer que isso não afeta a sua sobrevivência. Esse
entendimento vem desde José de Aguiar Dias, mesmo que possa exercer outra profissão, modelo com dano estético como
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exemplo, o juiz precisa apreciar não minorando a indenização. Qual era a atividade desenvolvida naquele momento
especifico tem que ser analisada.
Lei 9.656/98 – traz situações nas quais o plano de saúde não é obrigado a custear o tratamento, mas não está
elencado nem em caso de homicídio ou lesão praticada por terceiros, só em catástrofes, por exemplo.
Às vezes o próprio profissional da área de saúde pode causar dano para o sujeito, algo a ser visto mais à frente.
INDENIZAÇÃO EM CASO DE LESÃO INCAPACITANTE PARA O TRABALHO
Em alguns casos, pode haver a efetiva incapacidade para o trabalho – não consegue mais executar o ofício que
estava encarregado antes. Não confundir a indenização previdenciária, paga pelo INSS, com a ser paga pelo ofensor.
Súmula 229 do STF – Não se deve levar em consideração o dinheiro que a previdência vai pagar para aquela
pessoa que ficou incapacitada, com o montante devido pelo ofensor. Pode ter direito a indenização paga pelo INSS, mas o
empregador, por exemplo, no caso de acidente de trabalho, não deixa de estar obrigado. Seu direito a indenização não
pode ser ignorado por poder realizar outra atividade.
INDENIZAÇÃO EM CASO DE VIOLAÇÃO DA POSSE
Nos casos de usurpação ou esbulho, como será feita a indenização? Se furtei ou peguei sem autorização algo de
terceiro, tem que devolver. Se terceiro deixou de realizar algo por falta do objeto pego, poderá então ter o pagamento de
lucros cessantes.
Art. 952. Havendo usurpação ou esbulho do alheio, além da restituição da coisa, a indenização consistirá em pagar o
valor das suas deteriorações e o devido a título de lucros cessantes; faltando a coisa, dever-se-á reembolsar o seu
equivalente ao prejudicado.
Parágrafo único. Para se restituir o equivalente, quando não exista a própria coisa, estimar-se-á ela pelo seu preço
ordinário e pelo de afeição, contanto que este não se avantaje àquele.
Ademais, pode acabar perdendo o objeto do terceiro, passando a ser preciso reembolsar através de item
equivalente. Se houve perda e não é possível reembolso de equivalente, pode ser algo com estimativa pelo preço
ordinário, o valor médio, mas alguns determinados itens tem um preço de afeição elevado, algo que um parente deu, por
exemplo. Neste caso, o CC/02 diz que o preço de afeição não pode ser superior ao preço de mercado. A doutrina, como
José de Aguiar Dias, Martinho Neves e Wilson Melo da Silva afirma que é preciso interpretar o CC/02 e levar em
consideração que as vítimas às vezes tinham valor grande, mas não correspondente ao valor de mercado. Assim, há
contrapartida em termos de analisar esse valor de mercado e o de afeição.
Enunciado 561 do CJF.
INDENIZAÇÃO NOS CASOS DE CRIME CONTRA HONRA
Questão da calúnia (imputação a outrem da prática de crime), difamação (aspectos atinentes à vida da pessoa que
não se deseja que sejam expostos, podem ser inclusive verdadeiros, mas a vítima não seja que sejam explicitados) e injúria
(desrespeito, algo propalado ou podendo ser o solavanco, empurrão, no caso da injúria real – é desrespeitar a
individualidade).
Mesmo que não se apresente prejuízo material, pois é difícil de difícil comprovação por esse meio, pode ter por
parte do poder judiciário a análise de quais foram os danos extrapatrimoniais sofridos, como no caso do dano moral.
Art. 953. A indenização por injúria, difamação ou calúnia consistirá na reparação do dano que delas resulte ao ofendido.
Parágrafo único. Se o ofendido não puder provar prejuízo material, caberá ao juiz fixar, eqüitativamente, o valor da
indenização, na conformidade das circunstâncias do caso.

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INDENIZAÇÃO POR OFENSA À LIBERDADE PESSOAL
Art. 954. A indenização por ofensa à liberdade pessoal consistirá no pagamento das perdas e danos que sobrevierem ao
ofendido, e se este não puder provar prejuízo, tem aplicação o disposto no parágrafo único do artigo antecedente.
Parágrafo único. Consideram-se ofensivos da liberdade pessoal:
I - o cárcere privado;
II - a prisão por queixa ou denúncia falsa e de má-fé;
III - a prisão ilegal.
COBRANÇA DE DÍVIDA
Existem algumas disposições importantes nesse sentido no CC/02.
Art. 939. O credor que demandar o devedor antes de vencida a dívida, fora dos casos em que a lei o permita, ficará
obrigado a esperar o tempo que faltava para o vencimento, a descontar os juros correspondentes, embora estipulados, e
a pagar as custas em dobro.
Ou seja: não pode cobrar dívida antes do vencimento, sob pena de ficar obrigado a esperar o tempo que falta.
Além disso, vai abater quaisquer juros que venham a incidir no cálculo da dívida, e se houver ação judicial proposta pelo
devedor, chateado pela cobrança antes do tempo, as custas serão arcadas pelo credor que agiu de forma irresponsável ou
se atrapalhou, mas ninguém será obrigado a pagar antes do tempo.
Art. 940. Aquele que demandar por dívida já paga, no todo ou em parte, sem ressalvar as quantias recebidas ou pedir
mais do que for devido, ficará obrigado a pagar ao devedor, no primeiro caso, o dobro do que houver cobrado e, no
segundo, o equivalente do que dele exigir, salvo se houver prescrição.
A cobrança maior ou a exigência de valor que já foi pago causa dano perceptível, dano moral pelo
constrangimento e dano material porque às vezes vai ter que contratar advogado, procurar órgão público, etc. – tudo isso
precisa ser avaliado pelo juiz.
Se houver cobrança de dívida já paga, aquele que cobrou será obrigado a pagar em dobro o que já havia sido
pago, quitado, por parte do devedor. E, se houver cobrança maior, essa parte referente ao que excede, caso venha a ser
paga pelo devedor, terá que ser devolvida. Muitas vezes a pessoa acaba pagando para depois contestar, apenas para não
incidir em inadimplência.
Art. 941. As penas previstas nos arts. 939 e 940 não se aplicarão quando o autor desistir da ação antes de contestada a
lide, salvo ao réu o direito de haver indenização por algum prejuízo que prove ter sofrido.
Havendo cobrança em dívida já paga ou valor maior ao que era devido, propondo o credor uma ação contra o
devedor pedindo dinheiro que já foi pago ou dinheiro a mais do que deve ser quitado, o art. diz que se o credor desistir da
ação em face do devedor antes da sua citação, não serão aplicadas penalidades referentes ao pagamento em dobro, ou a
devolução daquilo que tem sido cobrado a mais.
Na esfera consumerista, ainda que o credor desista ação antes de o devedor ter se manifestado, não se admite esse
instrumento como se fosse uma desistência eficaz. É muito mais uma avaliação de toda a situação do consumidor em
termos da configuração moral do bojo no qual está inserido.
No caso de cobrar novamente e cobrar a mais conjuntamente, em reação ao que já foi pago a devolução é em
dobro. Em relação ao que é maior, o CC/02 diz que devolverá o que excedeu, mas não em dobro. No CDC, art. 42, tem
que pagar em dobro os dois – é uma concepção mais intensa que a do art. 941 do CC/02.

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A FIXAÇÃO DO DANO MORAL
Traz a questão da indústria do dano moral e a ideia de que todos querem entrar na justiça para receber
indenização. Atualmente, situações que os sujeitos não querem aceitar como mero aborrecimento são qualificadas como
dano moral. Sergio Cavalieri, lastreado em Caio Mário da Silva Pereira, Silvio Rodrigues e Washington de Barros
Monteiro vai dizer que o juiz tem que analisar primeiramente o caso em concreto, levando em consideração quem é
aquele sujeito que está sofrendo o dano, qual o ambiente sócio econômico do sujeito, etc.
O dano moral tem função reparatória, mas para além disso ele também tem uma vertente, mesmo que criticada
por alguns, punitiva e pedagógica. O processo tem funções jurídicas, sociais e administrativas que não podem ser
olvidadas. É preciso um processo civil que ajude, permita julgamento rápido e eficiente. O NCPC/15 traz a necessidade da
fundamentação em todas as decisões do magistrado, então no que concerne ao dano moral, há trabalho envolvido.
Ao propor ação de danos morais, é necessário apresentar o valor pretendido e o motivo por que está pedindo. Sob
o aspecto moral, é importante que se faça uma petição bem feita. Tem que estar tudo muito bem intercalado, com aspecto
jurídico e pedido preciso e claro.
Não se pode olvidar da vedação ao enriquecimento ilícito. Esse é um instituto muito antigo. Está no ocidente há
muito tempo – ninguém pode ter enriquecimento por atos que lesam outras pessoas. Vem para manter pacificação social.
É verdade que há função ressarcitória, de indenização – esse instituto veda o enriquecimento ilícito por um lado, o
proveito da pessoa que age/tem conduta criminosa para obter proveito, mas também protege e traz forma de ressarcimento
e indenização a pessoa que foi lesada em decorrência dessa conduta criminosa.
O CC/02, nos seus arts. 955 a 965, apresenta regras interessantes que não encontramos nos livros de
responsabilidade civil no que diz respeito à questão do pagamento. Quando há devolver solvente, quando o que causou o
dano tem dinheiro para pagar a indenização, não há maiores questionamentos. Entretanto, quando a pessoa está
insolvente, não tem dinheiro, dá preferência a determinados sujeitos por motivos legais.
Existem títulos legais preferenciais, que são chamados créditos reais e os privilégios. Existem situações nas quais
algumas pessoas físicas ou jurídicas possuem preferência, e no meio da discussão sobre quem vai pagar a indenização e
quem tem dinheiro ou não, precisa saber a quem pagou primeiro.
CRÉDITOS REAIS
Inclui hipoteca, penhor e anticrese. Hipoteca: diz respeito ao direito real na coisa alheia que envolve imóvel, até
que tenha sido quietado ele fica submetido ao crivo desse direito real que é exercido frequentemente pelo banco. Penhor é
a questão de joias, pega dinheiro emprestado, parcela o pagamento e ao cargo da quitação pega a joia de volta, bens
móveis. Anticrese ocorre quando se dá um bem a ser administrado por outrem, que colherá os seus frutos.
PRIVILÉGIOS
Podem ser gerais ou especiais. Os especiais dizem respeito a uma coisa específica, já os ferais dizem respeito a
aspectos variados que veremos. Qual credor tem preferência – aquele sob o aspecto real ou o que tem privilégio? O CC/02
traz a resposta.
Art. 961. O crédito real prefere ao pessoal de qualquer espécie; o crédito pessoal privilegiado, ao simples; e o privilégio
especial, ao geral.
Então, tendo um credor lastrado em direito real, este terá preferência. Primeiro em face do outro credor – o
privilégio especial, por sua vez, predomina em face dos gerais.
Art. 964. Têm privilégio especial:
I - sobre a coisa arrecadada e liquidada, o credor de custas e despesas judiciais feitas com a arrecadação e liquidação;

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II - sobre a coisa salvada, o credor por despesas de salvamento;
III - sobre a coisa beneficiada, o credor por benfeitorias necessárias ou úteis;
IV - sobre os prédios rústicos ou urbanos, fábricas, oficinas, ou quaisquer outras construções, o credor de materiais,
dinheiro, ou serviços para a sua edificação, reconstrução, ou melhoramento;
V - sobre os frutos agrícolas, o credor por sementes, instrumentos e serviços à cultura, ou à colheita;
VI - sobre as alfaias e utensílios de uso doméstico, nos prédios rústicos ou urbanos, o credor de aluguéis, quanto às
prestações do ano corrente e do anterior;
VII - sobre os exemplares da obra existente na massa do editor, o autor dela, ou seus legítimos representantes, pelo
crédito fundado contra aquele no contrato da edição;
VIII - sobre o produto da colheita, para a qual houver concorrido com o seu trabalho, e precipuamente a quaisquer
outros créditos, ainda que reais, o trabalhador agrícola, quanto à dívida dos seus salários.
IX - sobre os produtos do abate, o credor por animais.
Primeiro ponto: coisa salvada é exemplificada na situação onde alguém tem no seu imóvel um animal, e o credor
verifica que há um incêndio no imóvel do insolvente e, por isso, ajuda a salvar o animal. O CC/02 diz que esse credor terá
privilégio especial diante da coisa que ele salvou, se perder ou não animal, ele vai ter privilégio em relação a essa coisa.
Ou seja: privilégio vinculado a coisa que foi salva.
Outro exemplo tange as benfeitorias. Aquele que de alguma forma tem feito benfeitoria em prol do devedor
insolvente, no momento que for apurada a situação debilitada do devedor, a benfeitoria pode ser vendida – pode ser
destinada, de alguma forma o crédito dessa benfeitoria.
Se o devedor insolvente tem o imóvel e o credor de alguma forma investiu com matérias na reforma, tem também
privilégio sob aquele imóvel que ele investiu de alguma forma, atuou para melhoria e para aperfeiçoamento.
O credor de sementes que foram destinadas ao devedor para que este faça a sua plantação, também é uma
situação, bem como o autor de obras, por exemplo, se a editora não paga para ele – as obras na mão da editora podem ser
retiradas por decisão judicial pelo autor.
Os privilégios gerais, por sua vez, se encontram no art. 965.
Art. 965. Goza de privilégio geral, na ordem seguinte, sobre os bens do devedor:
I - o crédito por despesa de seu funeral, feito segundo a condição do morto e o costume do lugar;
Aquele que paga pra enterrar criatura que está devendo, que não tem dinheiro para pagar, essa pessoa vai ter
direito para receber pagamento no primeiro plano.
II - o crédito por custas judiciais, ou por despesas com a arrecadação e liquidação da massa;
III - o crédito por despesas com o luto do cônjuge sobrevivo e dos filhos do devedor falecido, se foram moderadas;
Quem ajuda a alimentar a mulher daquele devedor falecido insolvente, ou o próprio esposo da mulher falecida
insolvente, tem que receber o seu pagamento em terceiro plano.
IV - o crédito por despesas com a doença de que faleceu o devedor, no semestre anterior à sua morte;
Os privilégios gerais dizem respeito a situação da morte do devedor insolvente – as custas judiciais envolvendo
essa pessoa, da manutenção de quem sobreviveu, da família daquele que morreu e do tratamento da doença dessa pessoa.
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V - o crédito pelos gastos necessários à mantença do devedor falecido e sua família, no trimestre anterior ao
falecimento;
VI - o crédito pelos impostos devidos à Fazenda Pública, no ano corrente e no anterior;
VII - o crédito pelos salários dos empregados do serviço doméstico do devedor, nos seus derradeiros seis meses de vida;
VIII - os demais créditos de privilégio geral.
Inclusive, antes do empregado doméstico, o CC/02 aquele que pagou para manter cônjuge, para enterrar, para
arcar com as despesas necessárias do óbito.
AULA 5 – 28/09/2018

TEORIAS SOBRE O NEXO DE CAUSALIDADE NA RESPONSABILIDADE CIVIL


NEXO DE CAUSALIDADE
CONCEITO
Nexo de causalidade não se confunde com o nexo de imputação. Uma coisa é examinar o querer do agente, se
agiu de forma imprudente, se quis o resultado, se assumiu as consequências decorrentes daquele resultado – isso é nexo de
imputação. Outra coisa é analisar no plano concreto o que causou o resultado, e aí vem o nexo de causalidade.
Como chegamos à conclusão que um fato/ação/omissão gerou resultado? É algo que vem sendo discutido desde a
Grécia. As colocações feitas por Aristóteles, dentro da sua lógica, queriam saber o que constitui causa e o que pode ser
fator responsável para obter resultado. Ele analisava a causalidade a partir de uma lógica abstrata, e procurava em termos
de matéria. Ele dizia que todo resultado, de alguma forma, está vinculado a um liame lógico que o antecederá. O que
causa, por exemplo, uma planta a morrer? Quais os fatos que podem gerar moléstia? Sob a ótica formal e material.
Mais a frente: São Tomaz de Aquino. Quando aduz que a culpa é importante para não infligirmos penalidades
extravagantes diante dos seres humanos. Logo, há forte contribuição dele. Stuart Mill, Kant, todos esses. Hoje: juiz é
confrontado com situação em que o sujeito está dirigindo o veículo, bate, veículo com seguro, adentra justiça para acionar
seguro para pagar o valor. Pergunta: como conceder o que a pessoa está pedindo se estava fazendo uso de bebidas
alcoólicas? Há nexo de causalidade entre conduta do sujeito na ação de beber e o resultado culposo, que é o acidente?
Com danos para o veículo e para a própria pessoa? A importância da causalidade é inquestionável.
O nexo de causalidade é o crivo lógico jurídico que vai permitir a identificação do que de fato causou
determinado evento danoso.
Eduardo Spínola, ao comentar o CC/16, diz que causa é elemento propulsor que vai gerar alteração na forma
como enxergamos, em termos materiais e psíquicos. Há ainda dano moral, situações que envolvem o aspecto anímico do
sujeito, a concepção que ele tem de si, além de aspectos considerados estéticos. Logo, dá para cumular material com
moral.
Condição não se confunde com causa. Causa engendra, dá origem ao resultado. Condição, por outro lado, é todas
as circunstâncias, aspectos adjacentes, que circundam a causa para dar origem ao resultado. Causa é aquilo que o
professor José de Aguiar Dias diz que é responsável pela geração de um resultado – já as condições são aspectos que
circundam a situação concreta e que vão permitir também gerar um resultado, mas não é a causa deste.
A DUPLA FUNÇÃO DO NEXO CAUSAL
O nexo de causalidade, para Bruno Miragem, apresenta dupla função. Tem sua função denominada de
“preenchedora” e uma função fundamentadora. A função fundamentadora diz respeito a identificação de quem seja o
autor – é através da análise da causa que deu origem ao resultado que vamos saber quem foi o autor. A função
preenchedora vai dizer respeito a uma análise extensa do dano. Se não descobrir qual foi a causa que deu origem àquele
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resultado em específico, vai ter dificuldade de saber até que ponto as consequências negativas geradas podem ser
atribuídas ao suposto autor, então não é algo simples.
Assim, não é matéria fácil, mas o juiz diariamente se depara com a questão do nexo causal, vínculo que dará
origem a necessidade de estabelecer reparação do plano cível.
CONCAUSAS/CAUSAS QUE SE AGLUTINAM/CONCORRÊNCIA DE CAUSAS
CAUSAS COMPLEMENTARES (CONCAUSAS)
Bruno Miragem diz que não iniciam ou interrompem a situação concreta, mas a reforçam no aspecto plural. São
interdependentes e se somam. São as chamadas concausas verdadeiras. Carlos Roberto Gonçalves dá o exemplo de 4
rapazes em um veículo, todos bebendo. Um, guiando, depois passa para o outro, revezando, para chegarem ao local. No
decorrer do caminho, em alta velocidade, o carro é lançado fora da pista e ocorre acidente. Um deles morre. Qual foi a
causa que originou o acidente? Não tem como identificar quem foi responsável de fato, pois são fatores que apesar de
serem independentes, terminam se agregando. São valores independentes, mas que se intercalam e reforçam o resultado
morte. As causas podem apresentar configurações distintas.
É diferente de causas cumulativas, por ali tem vários fatores gerando a situação concreta. Empresa que lança
detritos, outra que lança químicos, aqui – não conseguimos visualizar quais aspectos de fato geraram o evento trágico.
Nessas, as causas são independentes, mas estão interligadas de tal forma que o magistrado não consegue verificar qual
ensejou o resultado considerado desastroso/trágico. No momento da sentença, o juiz não vai dizer que tipo de causa foi,
mas os operadores do direito têm que compreender a dificuldade para estabelecer o que causou o resultado.
CAUSAS CUMULATIVAS OU CONCORRENTES
São causas variadas, mas que a gente também não consegue identificar quem foi o verdadeiro causador. Ex.:
acidente ocorrido em Mariana na barragem. Dá para saber, tem como identificar, quais fábricas ou qual fábrica/indústria
causou de forma direta aquele acidente? Não sabemos. Quais fatores específicos para aquela conjuntura trágica? Não
temos. São vários fatores que se agregam, se somam para produção do resultado. São causas concorrentes e cumulativas,
porque todas que estão inseridas nessa conjuntura serão responsabilizadas. É uma hipótese de responsabilidade civil
objetiva coletiva.
CAUSAS ALTERNATIVAS
Ex.: sujeito passando por hotel, recebe um vaso na cabeça e sofre dano. Ou o item foi lançado por alguém que pode
ser identificado ou que foi identificado ou, não sabendo quem foi o sujeito responsável, vamos responsabilizar o hotel/PJ.
Podemos responsabilizar quem visualizamos como responsável pelo ato ou então, se não for possível, vamos atribuir a
responsabilidade a pessoa jurídica. Caso de torcedores também, que foi lesado e não sabemos quem causou. Se não tem
como identificar, então vai para a torcida organizada. Por último: entidade responsável pela estruturação do certame. Ex.:
antiga arena fonte nova e seu acidente. Também é chamada de disjuntiva. Se identificar teria a possibilidade de propor em
solidariedade contra condomínio e contra quem lançou, mas são causas alternativas/disjuntivas.
TIPOS DE CONCAUSAS
CONCAUSAS PREEXISTENTES
Sujeito que recebe pancada de outro, mas não foi pesada, sem a intenção de matar. Ex. de Sérgio Cavalieri – o que
sofre a porrada tinha fragilidade craniana e sofre traumatismo craniano. Ou, outro exemplo dele, um hemofílico ou
diabético que é atropelado. Uma coisa é observar a ação de quem gerou o dano, outra é observar uma consequência que se
agrave por condição antecedente.
CONCAUSAS SUPERVENIENTES
A atropela B, B vai para o hospital, lá adquire infecção hospitalar pois não recebeu cuidado devido no seu
tratamento. Ou, A atropela B que pede socorro - a SAMU demora e B vem a óbito.

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TEORIAS DO NEXO CAUSAL OU RELAÇÃO DE CAUSALIDADE
Teorias diversas e múltiplas, mas existem três de grande relevância para entender o sistema vigente no Brasil.
TEORIA GENERALIZADORA
Termo que gera crítica: amplia demais a possibilidade de examinarmos as causas. Também denominada Teoria da
equivalência das causas ou dos antecedentes, ou Teoria de condição sine qua non. Teoria desenvolvida na esfera criminal,
pelo alemão Von Buri, se baseando muito em teoria naturalística da situação real e permitindo ao juiz que, de alguma
forma, se chegue ao verdadeiro causador do dano. Ex. Sérgio Cavalieri: A atropela B, que tinha contrato com C para
apresentação de piano. O prejuízo gerado por C também reverbera em E, D e F, que fariam filmagem, venda do bilhete
dos ingressos e divulgação. Ainda é preciso levar em consideração os consumidores que adquiriram ingresso para assistir
à apresentação. Por essa teoria, o juiz teria que apreciar todos esses prejuízos causados para chegar à identificação, bem
como analisar se haveria nexo de causalidade entre a conduta de A em face de todos os outros. É uma teoria muito
criticada e que não é adotada pelo Brasil.
A margem de discricionariedade do juiz é muito grande nessa teoria, pois acha vários aspectos como possíveis
para o final observado. Ex.: farmácia que teve explosão e morreram trabalhadores, enfermeira, técnicos. Porque explodiu?
Foi ausência de projeto de prevenção de combate ao pane do corpo de bombeiros? Alguém deixou estufa ligado a
eletricidade de forma irregular? Houve descumprimento do projeto de prevenção? Existiu caso fortuito ou forca maior?
Para essa teoria, todas as possíveis causas são consideradas de importância similar e deixa para o juiz uma margem de
discricionariedade muito grande. Há equivalência: todos os antecedentes são considerados importantes. Por ser muito
ampla, muito geral, não é adotada pelo Brasil.
TEORIAS INDIVIDUALIZADORAS
Existem várias, mas é preciso focar em duas: teoria da causalidade direta e imediata e teoria da causalidade
adequada.
TEORIA DA CAUSALIDADE DIRETA E IMEDIATA
Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os
lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual.
Foi criada por Botier, é muito importante. Existem divergências, mas a maior parte da doutrina brasileira entende
que o Brasil adota a causalidade direta e imediata, por causa desses dois termos do art. 403 do CC/02. Alguns criticam
porque existe o dano ricochete. Quando A mata B, quem sobre os danos são os filhos, a esposa, então como pode utilizar a
expressão causalidade direta e imediata? Não seria a mais adequada nessa situação em específico.
Essa teoria é denominada ainda de Teoria da interjunção do nexo causal. Ex.: tira o projeto de prevenção, se ele
existisse, o evento teria acontecido? Se foi a estufa, se a estufa estivesse regular, o resultado teria acontecido? Por ela,
vamos interrompendo a cadeia até não chegarmos mais a um resultado positivo. O resultado precisa ser adequado.
TEORIA DA CAUSA PRÓXIMA (CAUSA DERRADEIRA)
Francis Bacon que desenvolve o método dedutivo. Não é utilizada, porque não é sempre a causa mais próxima
que dá origem da causa principal. Uma análise cronológica nem sempre é satisfatória.
TEORIA DA CAUSA EFICIENTE
E muito parecida com a teoria generalizadora na equivalência com antecedentes, é usada na esfera criminal, mas
não satisfaz o campo cível. Examina tempo e observa fatores referentes a quantidade, o que causou sob aspecto
quantitativo o resultado, e sob o aspecto qualitativo. É bem rechaçada.
TEORIA DA CAUSALIDADE ADEQUADA
Criada por Von Barr e Von Criss. Analisa sob aspecto positivo e negativo – no negativo, afasta tudo aquilo que
não se verificou na realidade.
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TEORIA DO ESCOPO DA NORMA JURÍDICA VIOLADA
Rappel. Também não resolve, pois toda vez que alguém causa dano para outrem está violando norma, seja
jurídica ou princípio. Sua interpretação tem que ser além da visão positivista.
TEORIA DA AÇÃO HUMANA
Extremamente criticada. Criada por Soler, que dizia que tudo que é causado tem contribuição humana. O animal,
a coisa, podem gerar dano. Reafirmava Pontes de Miranda que o animal irracional e que a coisa por si não responde, mas
o seu dono será responsabilizado – ou seja, nem sempre há ação humana. É preciso enxergar a responsabilidade não
atrelada de forma especifica a um ato humano.
OUTRAS TEORIAS
TEORIA DO EQUILÍBRIO DE BIDING
Aplicada na esfera criminal.
TEORIA LAST CLEAR CHANCE (PERDE DU CHANCE)
Não é abandonada, mas só traz a análise da perda da chance, e não das outras situações.
EXCLUDENTES DA CAUSALIDADE
CULPA DA VÍTIMA
A própria vítima pode ser a pessoa que não observou orientações, informações, e por isso vem a sofrer dano.
Existem diversas situações na esfera consumerista, por exemplo. Na trabalhista também, o patrão diz que tem que usar
equipamento e ele não atende. Na esfera ambiental, o governo não ajuda, mas também acabamos não contribuindo. Se
subdivide entre exclusiva e concorrente.
CULPA DE TERCEIROS
Diz respeito a terceiros em contexto que pode gerar determinado dano. Ex.: enfermeira que ministra medicamento
fora dos padrões estabelecidos pelos padrões médicos. Conduta exclusiva dessa profissional, e não de quem fez a
prescrição.
CAUSA FORTUITA/FORÇA MAIOR
Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se
houver por eles responsabilizado.
Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou
impedir.
Ha diferenciação no podium. São situações necessárias e inevitáveis. A doutrina traz uma série de considerações.
Alguns dizem que caso fortuito é inevitável e imprevisível, força maior pode até ser prevista, mas não se pode resistir, são
ações da natureza, atos ou situações que são inesperados e que não temos como evitar. O caso fortuito pode ser visto sob a
ótica interna e externa. Se o caso fortuito for externo, vai eximir a responsabilidade. Se for interno, vai haver
responsabilidade do autor.
Súmula 489, STJ. Estabelece que as instituições financeiras são responsáveis pelas fraudes que ocorram no seu
sistema – sujeito tem conta, aparece criminoso, pega o limite todo, de acordo com esse enunciado, os usuários do sistema
financeiro não têm como se prevenir. Se provar que deu senha, não zelou. Mas se não deu a senha, e a pessoa comprou
com o seu cartão, não deu “causa”. Fraudes bancárias via internet banking é caso fortuito interno, a instituição deve ser
responsabilizada, portanto.
Art. 734. O transportador responde pelos danos causados às pessoas transportadas e suas bagagens, salvo motivo de
força maior, sendo nula qualquer cláusula excludente da responsabilidade.
Ou seja: na questão de transporte de passageiro, há responsabilidade civil objetiva.
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Súmula 187, STF: transporte público é responsável pela segurança do sujeito transportado dentro do que pode
fazer para evitar a questão. Assalto: empresa não seria responsável. Além disso, a responsabilidade contratual do
transportador pelo acidente com o passageiro não é elidida por culpa de terceiro, contra o qual tem ação regressiva.
FALTEI AULA 6 - 26/10

RESPONSABILIDADE CIVIL NAS RELAÇÕES DE CONSUMO


Artigos do CDC: Art. 1º a 3º (conceito de consumidor e fornecedor), 8º a 27 (resp. civil nas relações de consumo), art. 29
e 81.
ASPECTOS INTRODUTÓRIOS
Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo
nas relações de consumo.
Quem pode ser consumidor? O conceito de consumidor previsto no CDC é um conceito que vai exigir como
premissa essencial um pagamento, remuneração. Os estudantes da Universidade Federal da Bahia possuem direitos
como cidadãos a estudar. É diferente do aluno de Universidade superior particular. O aluno bolsista, com crédito
educativo, tem relação consumerista ainda assim com a faculdade, mas não com o banco que lhe faz o empréstimo – se
rege por relações administrativas, por ex. Uma relação de crédito não é uma relação consumerista, é uma relação
regida pelo direito administrativo e pelo direito constitucional. O sujeito que está pagando do próprio bolso é consumidor
– a relação entre ele e a faculdade, mesmo que ele não esteja pagando de forma direta permanece como uma relação
consumerista, mas os problemas que ele venha enfrentar através do crédito educativo, ele terá que resolver através da
aplicação do direito constitucional e do direito administrativo.
Essa remuneração é sempre vista? Quando se compra passagens aéreas através das milhas são consumidores?
Sim. Há que se ressaltar que a remuneração muitas vezes é indireta – na utilização de milhas para aquisição passagens
pagamos de forma indireta (são resultantes de taxas, encargos, comissões que nós pagamos às instituições financeiras para
ter acesso ao cartão de crédito). Na caderneta de poupança, também há relação de consumo, uma vez que você não está
pagando, mas o seu dinheiro está à disposição da instituição financeira.
O sujeito vai fazer um teste drive – ele não está pagando nada, ele adentrou no veículo e foi fazer uma avaliação
desse veículo. Se ocorrer um acidente, além do art. 27, há o art. 29, segundo o qual se considera consumidor todo aquele
exposto às práticas comerciais do mercado.
Art. 29. Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores todas as pessoas determináveis ou
não, expostas às práticas nele previstas.
A remuneração é importante – em regra vai definir se é relação de consumo ou não, mas existem relações
que a exposição desse sujeito às práticas comerciais do mercado o faça consumidor também. Em resumo,
consumidor é aquele que adquire ou utiliza produto ou serviço disponibilizado no mercado. E por que é aquele que
adquire e utiliza? Porque consumidor não é somente aquele que comprou e pagou, mas é também aquele também que está
na nossa casa, que recebe o pão que nós compramos para tomar café, é o parente que está na nossa casa, é o filho, é o
esposo, é a esposa, por isso não é só aquele que utiliza, mas aquele utiliza e que consome o produto. É aquele que recebe o
presente que nós compramos.
Shopping de Osasco, década de 80 – pessoas estavam no âmbito do shopping, comprando, não comprando ou
pessoas que estavam nas adjacências do shopping (saindo ou sequer querendo entrar). Ocorre uma explosão e um incêndio
no shopping. Todas as pessoas já citadas foram atingidas. As pessoas que estavam dentro do shopping são consumidoras,

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e as que estavam fora também, porque o art. 17 CDC trata do consumidor por comparação (“considera-se consumidor
também as vítimas do evento”).
Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento.
A ratio legis desse dispositivo legal é fazer com que o fornecedor atue com responsabilidade, cuidado e zelo. Há
decisões várias no STJ reconhecendo a existência do consumidor por equiparação. Em resumo, ser consumidor é ser
aquele sujeito que é a pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza o produto como destinatário final . O que é ser
destinatário final? A expressão destinação final significa que, para ser consumidor, a pessoa física ou jurídica precisa tirar
do mercado o produto ou serviço e exaurir a sua substância, essência, sem reutilizá-lo para dar origem a outras relações de
consumo. Consequentemente, consumidor jamais será agente econômico em termos de revender, reutilizar, para dar
origem a outros bens que são vendidos no mercado.
Empresa pode ser considerada consumidora? Pode, desde que ela não utilize aquele produto ou serviço para
realização de suas atividades. Se ela compra água para revender, ela não é consumidora, mas se ela compra água para os
seus funcionários utilizarem, ela pode ser considerada consumidora. EUA e Europa não consideram pessoa jurídica
consumidora, mas o Brasil fez essa opção, de admitir empresa consumidora desde que haja destinação fática e
econômica (finalismo). Porque finalismo? Significa dizer que se tem que avaliar o fim, o porquê, as razões pelas quais
aquela pessoa, física ou jurídica, quis adquirir o produto ou serviço.
(Pergunta) O que seriam as vítimas do evento? Uma coisa é ser consumidor padrão. Consumidor padrão é
aquele que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. Esse é o consumidor padrão. Consumidor
por equiparação (uma das hipóteses do art. 17) são aqueles que não queriam estar ali, não tinham pretensão de
qualquer relação comercial com aquele fornecedor, mas foram atingidos.
Fora o exemplo clássico de Antônio Herman de Vasconcellos e Benjamin, ministro do STJ, e um dos autores
dessa parte do código: Um caminhão, transportando botijão de gás está transitando por uma avenida. Há uma explosão.
Pessoas que estavam nos arredores, que não pediram gás, que não queriam fazer a contratação são atingidas. Essas
pessoas são consideradas consumidoras por equiparação através do art. 17. Foi uma forma que o legislador
infraconstitucional utilizou para fazer com que o fornecedor pense “estou no mercado, preciso agir com responsabilidade,
preciso ter o cuidado devido não somente com aquele que compra o meu produto ou contrata os meus serviços, mas
também com o ser humano”.
Por isso, então, vida, saúde e segurança são os bens primordiais valorizados não somente pela lei 8.078/90,
mas também pela Constituição Federal e pelo ordenamento jurídico como um todo.
(Pergunta) O Brasil hoje, com o novo Código de Processo Civil adota a teoria dinâmica da distribuição probatória.
O que é essa teoria? Todo mundo sabe que as regras clássicas da distribuição probatória são as seguintes: “Ao autor
compete demonstrar os fatos constitutivos do seu direito. Ao réu, os fatos impeditivos, modificativos e extintivos”. A lei
8.078/90, na década de 90, vai trazer para o consumidor, antes de qualquer outro diploma legal, a possibilidade de
inversão probatória. Então esse foi um dos grandes avanços. Essa lei também, antes do Código de Processo Civil anterior
contemplar, trouxe dois institutos fundamentais: a antecipação de tutela, que primeiro veio em prol do consumidor e
depois foi incorporada no Código de Processo Civil, e a chamada tutela específica, que é algo que diz respeito àquilo que
você de fato deseja.
Às vezes o consumidor quer o produto, não quer a indenização. São alguns aspectos à responsabilidade objetiva.
Em 90 estávamos vivenciando o CC/16 que não trazia de forma expressa, embora a doutrina já defendesse a possibilidade,
a objetivação da responsabilidade. São aspectos considerados importantes para a proteção desse sujeito que embora não
seja considerado consumidor padrão, venha a ser atingido por um acidente de consumo. O conceito de consumidor não é
tão simplório, exige raciocínio, atenção, e uma visão de natureza crítica.

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E quem é que pode ser fornecedor?
Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes
despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.
§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.
§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza
bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.
Pessoa física ou jurídica, nacional ou estrangeira, a própria família, o espólio, a massa falida – a figura do
fornecedor é multifacetária. O poder público pode ser considerado consumidor? Quando é que se tem uma relação de
consumo entre o sujeito interessado e o poder público? Na sociedade pós-moderna, contemporânea, o Estado procura se
eximir de disponibilizar serviços e produtos de forma direta.
Mas o sistema de telefonia, de telecomunicações, é uma relação de consumo? Sim, pois todo mundo paga.
Quem presta esse serviço não é o Estado de forma direta, mas são empresas autorizatárias. O serviço de transporte
coletivo também apresenta natureza consumerista – a remuneração é através de tarifa. As empresas que prestam
esse serviço são empresas concessionárias – a água que se consume, a energia elétrica.
O fornecedor pode ser uma pessoa física, pode-se ter um vendedor ambulante, pode-se ter um vendedor de
produtos, pode ser uma pessoa jurídica, e pode ser de direito privado ou de direito público , e é aqui que se mais
encontra essas dúvidas, porque há várias empresas que prestam serviços e desenvolvem atividades mediante a chancela do
Estado (poder público).
Importa compreender que atividade significa não a prática de atos isolados, mas a de atos continuados e
habituais. Assim, não é considerado fornecedor quem celebra um contrato de compra e venda, mas aquele que
exerce habitualmente a atividade de comprar e vender. Dessa forma, o conceito de fornecedor está intimamente ligado
à ideia de atividade empresarial. O CDC consagrou a responsabilidade objetiva do fornecedor.
No sistema atual, tanto a responsabilidade pelo fato do produto ou serviço (incolumidade econômica) como a
oriunda do vício do produto ou serviço (vícios por inadequação) são de natureza objetiva, prescindindo do elemento
culpa a obrigação de indenizar atribuÍda ao fornecedor.
A ATUAÇÃO DO PODER PÚBLICO
Para ser relação de consumo, qual é a remuneração que é utilizada ou é vista nessas situações em que nós temos
uma pessoa jurídica de direito privado chancelado pelo poder público? Todos esses casos mencionados, água, telefonia,
transporte, energia elétrica são remunerados através da tarifa ou preço público. E aquelas situações em que nós, cidadãos,
ou pessoas jurídicas do Estado, que sejam remuneradas através de impostos, essas relações podem ser consideradas
relações consumeristas? De jeito nenhum. Nunca podemos dizer que a relação que uma determinada pessoa e o
Estado, se regida por um tributo, imposto, será relação de consumo. Se houver pagamento de contribuição de
melhoria também. E as taxas? É tributo também.
Em regra, não suscita a aplicação do CDC, mas algumas taxas, como por exemplo, o esgotamento sanitário, as
taxas que nós pagamos de prevenção e combate ao incêndio é considerado também uma remuneração de natureza
consumerista. Para ser relação de consumo há o pagamento de tarifa ou preço público. Impostos ou contribuição de
melhoria jamais acarretarão a aplicação do CDC. Quanto as taxas, podemos ter situações, como a taxa do esgotamento
sanitário que exigem a aplicação do CDC.
O serviço de natureza pública para ser considerado também de natureza consumerista exige mensuração. Quanto
você utilizou de água na sua residência é diferente na da de outrem. Os serviços públicos consumeristas trazem a
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característica uti singuli, que é aquilo que se pode medir. Já o que chamamos de uti universi, é aquilo que não
conseguimos mensurar.
Você se inscreve num concurso através do pagamento de uma taxa. Essa taxa dará origem a uma relação
consumerista? Não dará origem a uma relação consumerista, então é por isso que se tem que avaliar a situação concreta e
verificar qual o entendimento da doutrina e principalmente do Superior Tribunal de Justiça.
Em uma cooperativa, a relação entre o cooperado e uma cooperativa é uma relação de consumo? O cooperado
pega um empréstimo na cooperativa. Existe uma lei específica, a Lei do Cooperativismo, que estabelece direitos e
deveres do cooperado em face da cooperativa.
Não existe a possibilidade de relações de consumo quando o sujeito pretenso consumidor faz parte da
mesma estrutura do suposto fornecedor. Consumidor é uma figura que está fora, apartada de quem nós imaginamos
ser fornecedor. Da mesma forma o associado. Ex.: A é associado de uma associação qualquer. Essa associação presta
aulas de natação, tanto para os seus associados quanto para pessoas da comunidade que querem pagar. O associado não
paga e o sujeito da comunidade que não é associado paga o valor concreto. A pergunta que se faz é, estando na piscina, A
e B, sofrendo algum acidente, em razão do uso exagerado de algum produto químico, B é consumidor, porque está
pagando e não faz parte da associação. A não é consumidor porque é abrangido pelo Código Civil.
E o condomínio? O condomínio é formado por vários condôminos – a condômina está insatisfeita com o síndico.
Ela pode dizer que paga o condomínio, mas apesar de pagar o condomínio, não quer dizer que é consumidora. Há
uma lei específica que é a lei de Condomínios (lei 4.591/64) e essa lei assegura os direitos dos condôminos. O condômino
está dentro da estrutura do condomínio, se o condômino quer questionar algo perante essa estrutura que ele faz parte
ele vai para o direito civil e vai utilizar essa lei. O condomínio como um todo, no entanto, pode ser consumidor
perante a EMBASA, a COELBA, outra pessoa física ou jurídica contratada para prestações de serviços para a aquela
pessoa jurídica.
Então, nós temos um conceito de consumidor que é padrão, que é aquilo aquele utiliza ou adquire produto ou
serviço como destinatário final. Tem-se o conceito por equiparação, do artigo 17 do CDC, as chamadas vítimas do evento.
Tem-se o artigo 29, que trata das práticas do mercado, e tem o que acontece no dia, porque é consumidor também a
coletividade. Ninguém pode dizer que o plano feito com as operadoras de telefonias é único, o plano é o mesmo feito com
outras pessoas, padronizado. Daí decorre os conceitos que vocês devem saber de processo coletivo. Há interesses que
podem ser difusos, coletivos e individuais homogêneos.
Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente,
ou a título coletivo.
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:
I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível,
de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;
II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza
indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma
relação jurídica base;
III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum.
O interesse difuso é aquele que, de acordo com o CDC (art. 81), que é mais um artigo que vai ser trabalhado, é
aquele que a gente não sabe quem foi afetado. Por exemplo, de um outdoor afixado com publicidade abusiva; não se
sabe quantas pessoas viram, crianças, idosos, e essa publicidade é mentirosa ou abusiva.

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Há diferença entre aquilo que é enganoso e o que é mentiroso. Mentiroso é aquilo que mesmo que
parcialmente, é inverídico. Abusivo é aquilo que não é mentiroso, mas afeta os valores da sociedade. Para se tomar
providência em relação a essa publicidade, os entes legitimados para as ações coletivas não precisam esperar pessoas
aparecerem para reclamar. Interesses difusos são aqueles em que não é preciso esperar pessoas aparecerem para
reclamarem – não precisa de um contrato, são circunstâncias fáticas, que estão na base. E, quando o autor da ação
coletiva (Ministério Público, PROCOM, CONDECOM) entra na justiça e pede a prestação jurisdicional, essa prestação
jurisdicional retira a publicidade ou a refaz, não se divide esse bem jurídico, essa prestação jurisdicional, não se partilha
entre os supostos interessados porque nem sabemos quem são esses interessados, e isso é um interesse, é um direito
difuso.
Existem ainda pessoas que fizeram uso do produto e se sentiram afetadas com a publicidade abusiva, e vão querer
entrar na justiça. Quando se entra com uma ação coletiva na justiça pedindo para refazer a publicidade ou retirá-la, não
vamos perder a oportunidade também de pedir ao juiz que estabeleça indenização para essas pessoas que foram
afetadas. Essa indenização se trata de interesse individual homogêneo, porque a pessoa que foi afetada por essa
publicidade enganosa é um ser humano complexo inserido em um contexto diversificado. Eu posso me sentir lesada de
uma forma, a outra pessoa de outra forma, mas sob o aspecto difuso não precisa ninguém aparecer para adotarmos
providências.
No Brasil, as ações coletivas só podem ser propostas por instituições, um cidadão sozinho não pode. Em
determinadas situações temos um contrato na base – um contrato de adesão, mas na situação coletiva, há um grupo,
categoria, ou classe. Um oficial da justiça pode começar a investigação de ofício, mas se precisa de um contrato. No
interesse coletivo há contrato de adesão. Quando a gente entra na justiça e pede ao juiz que a TIM seja obrigada ou
condenada a manter o preço prometido, garantido, o juiz, ao conceder a prestação jurisdicional, da mesma forma ele não
vai dar um pedacinho dessa prestação jurisdicional de forma partilhada para cada uma. A ação afeta todo mundo de forma
igual, então se volta o preço volta para todo mundo.
Qual a diferença do âmbito difuso para o coletivo? No âmbito difuso não precisa ter um contrato, tem
circunstâncias fáticas. No interesse coletivo há o contrato há o contrato de adesão. Na situação coletiva nós
identificamos um grupo, categoria ou classe. O promotor de justiça ou outro agente legitimado não precisa que alguém
apreça lá para reclamar, pode agir de ofício, começar a investigação e adotar as providências devidas. No momento que
ele pede a providência judicial é para o grupo, categoria ou classe. É diferente do para o interesse difuso, que é
para qualquer pessoa.
Interesse individual homogêneo, segundo Ada Pellegrini, são interesses individuais mesmo. Essas pessoas que
são afetadas ao reajuste e a negativa de acesso sofrem danos, da mesma forma por alguém afetado pela publicidade
negativa. Os promotores não vão hesitar em proteger as pessoas que precisam ser indenizadas sob o aspecto material ou
moral, ou que sejam protegidas pelo devolução dos valores que pagaram de forma indevida. Os interesses são
individuais porque cada um sofre de forma distinta. O dano causado pela origem coletiva e difusa, embora tenha
uma origem comum, em cada um tem sua individualidade – cada um tem seu dano, que precisa demonstrar e
comprovar. São individuais porque diz respeito a sujeitos distintos, são homogêneos porque a origem comum é
fruto de um aspecto coletivo ou difuso.
Em uma ação coletiva não se pode esquecer-se de pedir o dano moral coletivo – esse dano moral coletivo não se
confunde com a indenização de interesse individual homogêneo. O aspecto individual homogêneo está intrincado,
resulta de uma estrutura coletiva ou difusa de violações, mas vai estar ligado a você pela questão da sua individualidade
que diz respeito ao direito que você precisa ter de volta, ou o dinheiro para recompensar os prejuízos materiais ou morais
que você sofreu. A situação é sempre a mesma – o direito individual homogêneo sempre vai resultar do interesse, do
direito coletivo ou difuso violado. Pode-se ter até mesmo na mesma ação os três interesses envolvidos.

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Ex.: pode-se ter uma publicidade enganosa com cláusula contratual envolvida e não se perde a oportunidade de
pleitear os aspectos individuais homogêneos. O consumidor pode levar a questão coletiva para os órgãos
competentes, só não pode começar uma ação coletiva.
PROTEÇÃO DA VIDA, SAÚDE E SEGURANÇA
O Brasil adota a chamada teoria da qualidade dos bens de consumo. Essa expressão é uma expressão belga
desenvolvida por um autor belga chamado Bourgognie e trazida para o Brasil por Antônio Herman de Vasconcellos e
Benjamin, que foi quem escreveu a parte do CDC referente a esse assunto. Quem compra o produto ou contrata o
serviço quer o atendimento de suas necessidades, com qualidade, e seja aquilo que se acreditou através da oferta,
da publicidade. A regra basilar do CDC é a proteção da vida, da saúde e da segurança. Nos art. 8º até 10 vamos ter as
seguintes regras: primeiro, não colocar no mercado produto ou serviço perigoso ou nocivo. O que é perigoso ou nocivo?
Um piloto, a priori, não aparenta ser perigoso, mas se haver substância tóxica sem informação para o consumidor, pode
causar alergia.
Art. 8º Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos
consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os
fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a seu respeito.
Parágrafo único. Em se tratando de produto industrial, ao fabricante cabe prestar as informações a que se refere este
artigo, através de impressos apropriados que devam acompanhar o produto.
Art. 9º O fornecedor de produtos e serviços potencialmente nocivos ou perigosos à saúde ou segurança deverá informar,
de maneira ostensiva e adequada, a respeito da sua nocividade ou periculosidade, sem prejuízo da adoção de outras
medidas cabíveis em cada caso concreto.
Art. 10. O fornecedor não poderá colocar no mercado de consumo produto ou serviço que sabe ou deveria saber
apresentar alto grau de nocividade ou periculosidade à saúde ou segurança.
§ 1º - O fornecedor de produtos e serviços que, posteriormente à sua introdução no mercado de consumo, tiver
conhecimento da periculosidade que apresentem, deverá comunicar o fato imediatamente às autoridades competentes e
aos consumidores, mediante anúncios publicitários.
§ 2º - Os anúncios publicitários a que se refere o parágrafo anterior serão veiculados na imprensa, rádio e televisão, às
expensas do fornecedor do produto ou serviço.
§ 3º - Sempre que tiverem conhecimento de periculosidade de produtos ou serviços à saúde ou segurança dos
consumidores, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão informá-los a respeito.
DEVER DE INFORMAÇÃO DO FORNECEDOR
O que diz o CDC é que não se deve colocar produto ou serviço perigoso ou nocivo de forma extremada no
mercado – contudo, produtos industrializados devem ser acompanhados das informações necessárias acerca da sua
utilização. O fornecedor tem o dever de informação. É preciso que o fornecedor seja bem acompanhado – é preciso
escolher as informações essenciais para prestá-las à coletividade. O CDC, embora trate de relações entre privados, tem
uma vertente pública clara: art.1º do CDC diz lá “trata-se de microssistema de ordem pública e interesse social”. Porque
microssistema? Porque no CDC há regras de direito material e processual. Porque de de ordem pública? Porque a
presença do poder público é exigida constantemente. Então os órgãos de proteção ao consumidor devem ficar atentos
verificando se as informações vão ser prestadas, e se não forem, precisa-se convocar os fornecedores para que eles
prestem informações e melhorem o atendimento à população.

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ESPÉCIES DE PERICULOSIDADE
O professor Antônio Herman afirma que a segurança é um conceito relativo, de tal forma que é possível
enxergarmos três espécies de periculosidade:
a) PERICULOSIDADE INERENTE: Diz respeito à própria estrutura do produto ou essência do serviço.
b) PERICULOSIDADE EXAGERADA: como no exemplo clássico, o fato de brinquedos com partículas
pequenas sejam vendidos para crianças pequenas, demonstrando uma irregularidade. É aquela que demonstra uma
irregularidade – a falta de informação, mesmo de um objeto perfeito, gera uma periculosidade extremada.
c) PERICULOSIDADE ADQUIRIDA: Diz o CDC que o fornecedor, após colocar um produto ou serviço no
mercado, se ele tomar conhecimento que aquele item de consumo apresenta vícios ou irregularidades, ele tem que
comunicar aos consumidores e aos órgãos públicos competentes – é o chamado recall, regido pela portaria 487/2012
do DPDC, Departamento de Proteção de Defesa do Consumidor vinculada à SENACON, Secretaria Nacional do
Consumidor. É o órgão público federal que elabora a política nacional das relações de consumo. Como o recall é feito?
Há a seguinte premissa – tem que avisar aos consumidores e aos órgãos públicos e, se os fornecedores não adotarem
essas providências, o poder público pode obrigar eles a tomá-las. Há três planos de atendimento exigidos:
(1) plano de mídia: o fornecedor tem que apresentar para saber se os órgãos públicos concordam;
(2) plano de atendimento: leva o objeto onde, que horário?
(3) plano de demonstração: demonstra para os órgãos públicos competentes quantas pessoas ele
atendeu, quantos objetos foram recepcionados e captados.
A periculosidade adquirida vai exigir providências inseridas na portaria.
VÍCIOS NOS PRODUTOS E SERVIÇOS
OS VÍCIOS POR INSEGURANÇA (DEFEITOS)
Todo mundo fala de defeito. A expressão, o termo, a palavra defeito não é algo que a gente possa usar
usualmente. Defeito é um termo utilizado tão somente para os chamados vícios por insegurança que são aqueles
afetam nossa saúde, segurança ou vida, assim como a incolumidade física e psíquica. Os outros casos que nós
chamamos de defeito, por exemplo, quando, a curto prazo, o sapato soltou um pedaço, são vícios por inadequação. São
aqueles que não atendem nossas expectativas econômicas de qualidade, mas não colocam nossa vida, saúde e
segurança em risco.
A INCOLUMIDADE ECONÔMICA
No caso de incolumidade econômica, o bem-jurídico protegido é a vida, saúde ou segurança do consumidor
(incolumidade físico-psíquica). Visualiza-se o acidente de consumo, também denominado de responsabilidade pelo fato
do produto ou serviço. O elemento básico é a carência de segurança e capacidade para provocar danos do produto
ou serviço. A condição negativa, por sua vez, é a obrigação ser de não fazer (não colocar no mercado produto perigoso
ou nocivo), isso lastreado na segurança. O regime jurídico é da responsabilidade civil, o mais rígido. O rol é dos
responsáveis pelos danos, sendo menor. Os limites temporais são os da responsabilidade civil, aplicando-se a prescrição.
Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço
prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua
autoria.
Parágrafo único. Vetado.
Ou seja, prescrição de cinco anos para reclamar. A prestação jurisdicional é diferenciada.

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Art. 102. Os legitimados a agir na forma deste código poderão propor ação visando compelir o Poder Público
competente a proibir, em todo o território nacional, a produção, divulgação distribuição ou venda, ou a determinar a
alteração na composição, estrutura, fórmula ou acondicionamento de produto, cujo uso ou consumo regular se revele
nocivo ou perigoso à saúde pública e à incolumidade pessoal.
§ 1º - Vetado.
§ 2º - Vetado.
O regramento penal, por sua vez, é mais abrangente.
Art. 63. Omitir dizeres ou sinais ostensivos sobre a nocividade ou periculosidade de produtos, nas embalagens, nos
invólucros, recipientes ou publicidade:
Pena - Detenção de seis meses a dois anos e multa.
§ 1º - Incorrerá nas mesmas penas quem deixar de alertar, mediante recomendações escritas ostensivas, sobre a
periculosidade do serviço a ser prestado.
§ 2º - Se o crime é culposo:
Pena Detenção de um a seis meses ou multa.
Art. 64. Deixar de comunicar à autoridade competente e aos consumidores a nocividade ou periculosidade de produtos
cujo conhecimento seja posterior à sua colocação no mercado:
Pena - Detenção de seis meses a dois anos e multa.
Parágrafo único. Incorrerá nas mesmas penas quem deixar de retirar do mercado, imediatamente quando determinado
pela autoridade competente, os produtos nocivos ou perigosos, na forma deste artigo.
Art. 64. Deixar de comunicar à autoridade competente e aos consumidores a nocividade ou periculosidade de produtos
cujo conhecimento seja posterior à sua colocação no mercado:
Pena - Detenção de seis meses a dois anos e multa.
Parágrafo único. Incorrerá nas mesmas penas quem deixar de retirar do mercado, imediatamente quando determinado
pela autoridade competente, os produtos nocivos ou perigosos, na forma deste artigo.
No caso dos vícios por inadequação, relaciona-se com a proteção do patrimônio do consumidor, a qualidade
esperada, a expectativa do consumidor. Há a chamada responsabilidade por decorrência de um vício. Se trata da
carência de aptidão ou idoneidade que afeta a adequação ou produto ou serviço. Tem condição positiva: colocar no
mercado produtos ou serviços com qualidade (adequação). O regime jurídico é mais brando, e o rol dos
responsáveis abrange todos os fornecedores. Há incidência da decadência, e o art. 26 traz os prazos dos vícios
redibitórios.
Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em:
I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não duráveis;
II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos duráveis.
§ 1º - Inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva do produto ou do término da execução dos
serviços.
§ 2º - Obstam a decadência:
I - a reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor perante o fornecedor de produtos e serviços até a
resposta negativa correspondente, que deve ser transmitida de forma inequívoca;
II - Vetado.
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III - a instauração de inquérito civil, até seu encerramento.
§ 3º - Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento em que ficar evidenciado o defeito.
No plano processual não existem maiores singularidades. Quanto ao regramento penal, a previsão se encontra
no art. 70 em diante do CDC.
Art. 70. Empregar na reparação de produtos, peça ou componentes de reposição usados, sem autorização do
consumidor:
Pena Detenção de três meses a um ano e multa.
Há a verificação de acidente de consumo, também denominado responsabilidade pelo fato do produto ou
serviço. Há a condição negativa – porque diz a lei que não se pode colocar no mercado produto ou serviço perigoso ou
nocivo, a obrigação é de não fazer. Verifica-se a prescrição – o art. 27 do CDC estabelece o prazo de 5 anos para que
possamos reclamar. Os vícios por inadequação são os vícios que não atendem a expectativa do consumidor, a
qualidade esperada, mas não colocam nossa saúde ou vida em risco. No vício de inadequação há responsabilidade
em decorrência de um vício. A condição é positiva – colocar no mercado produtos e serviços de qualidade, atender o
que o consumidor espera, atender as expectativas legítimas geradas. Há a incidência da decadência (os prazos estão no
art. 26 – se for produto durável: 90 dias, produto não durável: 30 dias contados a partir de quando recebemos a coisa ou
serviço para os vícios visíveis, mas para os vícios ocultos é de quando o vício for visto).
O termo “defeito” não deve ser utilizado de modo amplo, de acordo com o senso comum, porque defeito diz
respeito à vício por insegurança, e dá origem à responsabilidade pelo fato do produto ou serviço ou acidente de
consumo. O vício que nos chamamos de defeito, no nosso dia a dia, trata-se de vício por inadequação, que embora não
afete a nossa vida, saúde e segurança, não atende à nossas expectativas econômicas, legítimas do consumidor.
Resumo feito pelo livro de Carlos Roberto Gonçalves:

Responsabilidade pelo fato do produto e do serviço Responsabilidade por vícios do produto ou do serviço
Responsabilidade objetiva. Responsabilidade objetiva.
Deriva de danos do produto ou serviço – também Se relacionada ao vício do produto ou serviço, e se
chamados de acidentes de consumo. assemelha aos vícios redibitórios – quando o defeito
torna a coisa imprópria ou inadequada para o uso a
que se destina, há o dever de indenizar.
Extrínseca. Intrínseca.
Para efeitos de indenização, é considerado fato do A responsabilidade decorre dos vícios inerentes aos
produto todo e qualquer acidente provocado por bens ou serviços, estando o evento danoso in re ipsa
produto ou serviço que causar dano ao consumidor, (ou seja: dano moral presumido, independente da
sendo equiparadas a este todas as vítimas do evento1. comprovação de abalo sofrido pela vítima).
Envolve danos materiais e pessoais. Dano moral in re ipsa.
É defeituoso o produto que não revele a segurança Envolve bens ou serviços fornecidos que podem ser
que se poderia esperar, levados em consideração sua afetados por vícios de qualidade que os tornem
apresentação, o uso e o risco que razoavelmente dele impróprios ou inadequados ao consumo a que se
se presume e a época em que foi introduzido no destinam ou lhes diminuam o valor, bem como os
mercado2. Também se considera defeituoso produto decorrentes da disparidade com as indicações

1
Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento.
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que contenha informações insuficientes ou constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem
inadequadas sobre sua utilização e risco3. ou mensagem publicitária4.
A responsabilidade principal é exclusiva do O consumidor pode reclamar ao fornecedor imediato
fabricante/produtor/construtor/importador, o do bem/serviço ou comerciante, bem como pode,
comerciante só responde, subsidiariamente, quando querendo, acionar o comerciante e o fabricante em
os responsáveis principais não forem identificados ou litisconsórcio passivo.
quando não conservar adequadamente o produto5.
Há direito de regresso na medida da participação no Há direito de regresso contra os demais responsáveis,
evento danoso àquele que indenizar o prejudicado mas não se prevê a denunciação da lide, uma vez que
quando havia outros devedores solidários (art. 13). esta acarretaria demora ao consumidor6.
Constatado o vício, pode o consumidor exigir a
substituição das partes viciadas que, não ocorrendo no
prazo máximo de trinta dias, dá ensejo a exigibilidade,
à escolha do consumidor, de substituição do produto
por outro, restituição imediata da quantia paga ou
abatimento proporcional do preço 7. As alternativas
passam a ter exigibilidade imediata se a restituição
puder comprometer a qualidade/características
essenciais do produto8.

2
Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência
de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem,
fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas
sobre sua utilização e riscos.
§ 1° O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera, levando-se em consideração as
circunstâncias relevantes, entre as quais:
I - sua apresentação;
II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi colocado em circulação.
3
Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com
relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o
contrato que vier a ser celebrado.
4
Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou
quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por
aqueles decorrentes da disparidade, com a indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária,
respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas.
5
Art. 13. O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo anterior, quando:
I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados;
II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou importador;
III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis.

6
Art. 88. Na hipótese do art. 13, parágrafo único deste código, a ação de regresso poderá ser ajuizada em processo autônomo, facultada
a possibilidade de prosseguir-se nos mesmos autos, vedada a denunciação da lide.
7
§ 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:
I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso;
II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;
III - o abatimento proporcional do preço.
8
§ 3° O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 1° deste artigo sempre que, em razão da extensão do vício, a
substituição das partes viciadas puder comprometer a qualidade ou características do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de
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Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de
qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o
valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com a indicações constantes do recipiente, da embalagem,
rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor
exigir a substituição das partes viciadas.
§ 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua
escolha:
I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso;
II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;
III - o abatimento proporcional do preço.
§ 2° Poderão as partes convencionar a redução ou ampliação do prazo previsto no parágrafo anterior, não podendo ser
inferior a sete nem superior a cento e oitenta dias. Nos contratos de adesão, a cláusula de prazo deverá ser
convencionada em separado, por meio de manifestação expressa do consumidor.
§ 3° O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 1° deste artigo sempre que, em razão da extensão do
vício, a substituição das partes viciadas puder comprometer a qualidade ou características do produto, diminuir-lhe o
valor ou se tratar de produto essencial.
§ 4° Tendo o consumidor optado pela alternativa do inciso I do § 1° deste artigo, e não sendo possível a substituição do
bem, poderá haver substituição por outro de espécie, marca ou modelo diversos, mediante complementação ou
restituição de eventual diferença de preço, sem prejuízo do disposto nos incisos II e III do § 1° deste artigo.
§ 5° No caso de fornecimento de produtos in natura, será responsável perante o consumidor o fornecedor imediato,
exceto quando identificado claramente seu produtor.
§ 6° São impróprios ao uso e consumo:
I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos;
II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou
à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou
apresentação;
III - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a que se destinam.
Art. 19. Os fornecedores respondem solidariamente pelos vícios de quantidade do produto sempre que, respeitadas as
variações decorrentes de sua natureza, seu conteúdo líquido for inferior às indicações constantes do recipiente, da
embalagem, rotulagem ou de mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:
I - o abatimento proporcional do preço;
II - complementação do peso ou medida;
III - a substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo, sem os aludidos vícios;
IV - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos.
§ 1° Aplica-se a este artigo o disposto no § 4° do artigo anterior.

produto essencial.
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§ 2° O fornecedor imediato será responsável quando fizer a pesagem ou a medição e o instrumento utilizado não estiver
aferido segundo os padrões oficiais.
Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes
diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes da oferta ou
mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:
I - a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível;
II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;
III - o abatimento proporcional do preço.
§ 1° A reexecução dos serviços poderá ser confiada a terceiros devidamente capacitados, por conta e risco do
fornecedor.
§ 2° São impróprios os serviços que se mostrem inadequados para os fins que razoavelmente deles se esperam, bem como
aqueles que não atendam as normas regulamentares de prestabilidade.
Na prova da OAB desse ano deu problema porque caiu uma questão envolvendo uma TV. A consumidora levou a
TV para casa e, chegando a sua residência, a televisão explodiu. Ela sofreu uma lesão corporal. Muita gente que
respondeu a prova colocou que se trata de vício por insegurança ou defeito. Tá certo, mas se esqueceram que normalmente
quando ocorre um vício por insegurança, dificilmente no dia seguinte ou logo após aquele equipamento vai servir. Então o
professor Antônio Herman Vasconcellos e Benjamin afirma que o vício de segurança, em regra, pode até ser que a TV
funcione depois da explosão. O vício por segurança ou defeito normalmente traz também ínsito um vício por
inadequação. Não podemos dizer o contrário, porque o vício por inadequação não pressupõe um defeito, mas um vício
por insegurança ou defeito normalmente vai acarretar também um vício por inadequação. Os candidatos que não se
atentaram para esse aspecto tiveram sua pontuação extremamente reduzida.
DEFEITOS OU VÍCIOS POR INSEGURANÇA
Estão elencados do art. 12 até o art. 17/CDC.
Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente
da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto,
fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem
como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.
§ 1° O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera, levando-se em
consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:
I - sua apresentação;
II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi colocado em circulação.
§ 2º O produto não é considerado defeituoso pelo fato de outro de melhor qualidade ter sido colocado no mercado.
§ 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando provar:
I - que não colocou o produto no mercado;
II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste;
III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
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Art. 13. O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo anterior, quando:
I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados;
II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou importador;
III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis.
Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado poderá exercer o direito de regresso contra os demais
responsáveis, segundo sua participação na causação do evento danoso.
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos
causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou
inadequadas sobre sua fruição e riscos.
§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em
consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:
I - o modo de seu fornecimento;
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi fornecido.
§ 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas.
§ 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:
I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa.
Art. 15. (Vetado).
Art. 16. (Vetado).
Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento.
Esses defeitos podem estar presentes no projeto que dá origem ao produto na sua concepção, mas o defeito pode
estar não no projeto mas sim na fase de execução. Há o engenheiro que elabora o projeto, e se há um problema nesse
projeto, vamos enfrentar um produto defeituoso. Se o projeto está ok, nós podemos ter problemas em relação a sua fase de
materialização. É possível na execução, na fabricação, na construção, na montagem dos componentes daquele produto.
Mas, muitas vezes o projeto está ok, a execução está ok, mas há também a possibilidade de termos uma fórmula, inserida
no projeto ou não, que não corresponda a o que é esperado.
No medicamento, por exemplo, o médico pode passar uma fórmula correta que a farmácia de manipulação
concretize de forma indevida. Ou o médico pode passar também uma fórmula indevida, inadequada. E a execução
acompanhar suas orientações. A noção de defeito é muita noção muito ampla. Nós podemos também ter defeitos na
apresentação do acondicionamento. Isso é de extrema relevância. Há uma garrafa com água, ela pode estar perfeita na
sua essência, mas se o seu acondicionamento, se essa embalagem plástica trouxer, por exemplo, substâncias químicas
indevidas a substância na parte interna vai ser afetada. Muitas vezes o problema não está na essência, mas na embalagem.
Tudo isso tem que ser observado pelo fornecedor.

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Há outro ponto de extrema relevância que é a informação. O direito das relações de consumo prioriza por
excelência a informação. Se eu tiver um produto que estiver perfeito para todos nós, mas não informar que contém
lactose, alguém que tem intolerância vai passar mal, e essa pessoa tem o direito de reclamar. São os elementos que
precisamos examinar quanto ao produto defeituoso:
(1) Inexistência da segurança que se espera;
(2) Precisa-se olhar a apresentação: o consumidor também tem deveres;
(3) Verificar os usos e riscos esperados;
(4) À época da colocação: ninguém vai acreditar que um produto vendido há 30, 40 anos atrás vá ser o mesmo
produto de hoje, porque a forma de utilização, os resultados esperados são distintos – e um produto de melhor qualidade
não significa dizer que o produto anterior seja defeituoso.
SERVIÇO DEFEITUOSO
O que é um serviço defeituoso? Falta segurança. Para que nós possamos identificar um serviço como defeituoso,
nós precisamos verificar também o modo de seu fornecimento. Se eu contrato um serviço de dedetização, eu preciso saber
como ele vai ser executo, quais são os riscos que podem ser causados para a minha família, se eu posso permanecer em
minha residência ou tenho que sair, etc. À época do fornecimento: Um serviço hoje prestado é diferente de 30 anos atrás.
A técnica evolui e a ciência também. E novas técnicas introduzidas no mercado facilitam e melhoram as condições
referentes à nossa segurança. Quanto aos responsáveis pelo poder de indenizar, a responsabilidade é solidária,
envolvendo aqueles que estejam jungidos ao caso concreto. Só que nesse ponto específico, o Código Civil é melhor que o
CDC. Por que melhor? Porque estudamos no art. 927 e 931 que todos aqueles que lidam com atividades que podem
colocar em risco os sujeitos são responsabilizados em caráter objetivo e solidário. Segundo Carlos Roberto
Gonçalves, o art. 931 tem aplicação restrita aos poucos casos em que a atividade empresarial não configurar relação
de consumo – assim, reserva-se o CC, muito mais abrangente, a aplicação de sua cláusula geral nas demais relações
jurídicas, contratuais e extracontratuais.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou
quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de
outrem.
Art. 928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de
fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes.
Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá ser eqüitativa, não terá lugar se privar do necessário o
incapaz ou as pessoas que dele dependem.
Art. 929. Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188, não forem culpados do perigo, assistir-
lhes-á direito à indenização do prejuízo que sofreram.
Art. 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa de terceiro, contra este terá o autor do dano
ação regressiva para haver a importância que tiver ressarcido ao lesado.
Parágrafo único. A mesma ação competirá contra aquele em defesa de quem se causou o dano (art. 188, inciso I).
Art. 931. Ressalvados outros casos previstos em lei especial, os empresários individuais e as empresas respondem
independentemente de culpa pelos danos causados pelos produtos postos em circulação.

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Se, então, um comerciante vende uma televisão que termina por explodir na sua residência, se nós aplicarmos o
Código Civil nós podemos acionar o fabricante e o comerciante. Mas, se nós formos aplicar o CDC, art. 13, diz que: “ o
comerciante é responsável subsidiário (...)” e não solidário, “e ele será responsabilizado para acidentes envolvendo
produtos apenas em três situações: i) se o produto for anônimo, (...)”. O que é produto anônimo? Chega-se no
supermercado e compra-se um kg de carne. Não se sabe quem cortou o boi, quem trouxe e quem embalou . É um
produto anônimo. Tem que responsabilizar, em caso de acidente de consumo, o comerciante. “ii) produto mal
identificado” (...); às vezes eu compro um item que tem o responsável pela fabricação, mas não se tem o endereço, CNPJ,
e se pode acionar o comerciante; “iii) a má conservação de produtos perecíveis.” Se o supermercado pega um iogurte e
qualquer outro item que ele deva manter devidamente refrigerado e não o faz, ele também será responsabilizado – isso de
acordo com o CDC.
Se nós usarmos o Código Civil, que é melhor nesse caso, mesmo diante da má conservação, podemos
acionar o supermercado e o fabricante. Mesmo diante de um produto identificado de forma precária, podemos acionar o
comerciante e o fabricante. Porque o Código Civil nos traz a responsabilidade solidária e objetiva para todos os
integrantes da cadeia de fornecimento. Já o CDC, quando for acidente envolvendo produto, estabelece a
responsabilidade subsidiária do comerciante.
A responsabilidade para acidentes de consumo é objetiva, mas no art. 14 § 4º do CDC traz para os profissionais
liberais responsabilidade subjetiva.
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos
causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou
inadequadas sobre sua fruição e riscos. [...]
§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa.
Se eu vou, contrato um dentista para fazer um serviço ou vou para um médico para fazer um procedimento
cirúrgico, ou contrato um arquiteto, ou contrato um engenheiro para a realização de um serviço, havendo um acidente de
consumo, por que para esses profissionais a responsabilidade será lastreada na culpa? Uma das respostas é que a
obrigação é de resultado. Contudo, profissional liberal é aquele que está regido por um conjunto normativo específico
(Ex.: Médico tem conselho regional, federal, etc). Uma segunda observação: quando você escolhe esse profissional,
geralmente você escolhe porque alguém te indicou, o plano de saúde disponibilizou, mas a gente procura alguém que
tenha certo grau de confiança. Trata-se de uma relação jurídica intuito personae, que você escolhe porque algo lhe atrai,
porque você tem observado no serviço prestado por esse profissional uma certa qualidade.
O médico, quando você contrata, ele não garante que 100% vai te curar. A obrigação dele é obrigação de meio,
para fazer que você fique bem. Mas se pergunta: e o engenheiro? O arquiteto? Que você contrata para fazer serviço na sua
residência, porque é subjetiva? A justificativa trazida pela doutrina, e aí tem um livro muito interessante do professor
Oscar Truks, que escreve sobre a responsabilidade dos profissionais liberais na esfera consumerista, e o professor afirma
isso, que o código valorizou nesse ponto específico, o serviço prestado por profissional liberal, a opção de escolha que
você fez.
Nessa seara falamos de direito do regresso pois é possível que o consumidor não proponha uma ação contra
todos os integrantes da cadeia de fornecimento. O consumidor, às vezes, propõe uma ação contra somente um deles.
Digamos que uma pessoa foi e comprou um chocolate e passou mal, e viu que tinha alguma condição imprópria naquele
chocolate. Na hora de entrar com a ação ele resolveu propor ação apenas contra o fabricante. Condenado o fabricante, ele
verifica que foi o transportador que não zelou pelas condições de transporte daquele produto. O fabricante tem direito de
entrar com uma ação regressiva contra o transportador, mas o direito das relações de consumo não admite no processo
a chamada denunciação da lide.

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Por que não admite? Porque se você entra com uma ação contra o fabricante, e ele disse que não é responsável e
chama o transportador, o consumidor pode não ter uma resposta positiva. Não é como se fosse contra a denunciação da
lide. Mas é para evitar a balbúrdia processual, a demora para o consumidor. Mas o Código garantiu o direito de regresso
daquele que foi condenado a pagar a indenização para se voltar perante o responsável verdadeiro e pedir de volta o
dinheiro que teve que pagar.
VÍCIOS POR INADEQUAÇÃO
Ele não se confunde com vícios redibitórios – não se utiliza essa expressão na área consumerista, os vícios
redibitórios são específicos da esfera civil. Existem algumas nuances que diferenciam esses vícios:
(1) Os vícios redibitórios exigem a presença de dois sujeitos que não são consumidores, mas sujeitos que
estão enquadrados no direito civil, até mesmo no direito empresarial.
(2) Defeitos ocultos na coisa na área redibitória são mais difíceis de demonstrar, e na seara consumerista de
forma muito clara o defeito pode ser expresso ou pode ser oculto.
(3) Na esfera redibitória nós exigimos sempre uma relação contratual entre os sujeitos, e na esfera
consumerista (art. 29/CDC) “são também consumidores os expostos às práticas comerciais”. Aquela exigência do contrato
na base, na esfera consumerista não é cobrada como se faz na esfera civilista.
(4) Vícios pequenos na esfera civil são mais difíceis de provar, na esfera de defesa do consumidor pequenas
inadequações são passíveis de reclamações, porque se paga por algo que precisa que atenta o que se espera. Vícios
supervenientes também são protegidos, mas são mais difíceis de demonstração. No ramo consumerista, de acordo
com a vida útil do bem, é possível questionar vícios ocultos à posteriori.
E ainda por fim, os mecanismos reparatórios na esfera civil são mais restritos. Na esfera consumerista há uma
proteção mais intensa para a parte interessada. Nós temos três tipos de vícios por inadequação: os vícios por
qualidade, por quantidade e vícios em razão dos serviços não qualificados.
VÍCIOS POR QUALIDADE
Versam sobre produtos impróprios para o consumo. Vamos encontrar as seguintes hipóteses:
a) Produtos com a qualidade vencida são produtos impróprios para o consumo.
b) Produto deteriorado.
c) Produto nocivo à vida e à segurança (produto defeituoso também é produto com vício de inadequação).
Art. 39, inc. VIII/CDC: todo e qualquer produto colocado no mercado tem que atender às normas técnicas
vigentes.
Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: (Redação dada pela Lei
nº 8.884, de 11.6.1994)
[...] VIII - colocar, no mercado de consumo, qualquer produto ou serviço em desacordo com as normas expedidas pelos
órgãos oficiais competentes ou, se normas específicas não existirem, pela Associação Brasileira de Normas Técnicas ou
outra entidade credenciada pelo Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Conmetro);
Acha-se na ANVISA, no IBAMETRO (instituto da Bahia) ou IMETRO (instituto nacional). E se não tiver regra
específica? Quando não existir norma editada pelo poder público tem que seguir as normas técnicas baixadas pela
Associação Brasileira por Normas Técnicas (ABNT). Não é uma pessoa jurídica de direito privado? Tem que seguir como
parâmetro.

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Há também o caso de disparidade de informação. Compra-se um produto acreditando que poderia fazer uso de
forma tranquila. O produto está perfeito, mas o consumidor tem alguma intolerância (açúcar, sal, etc). Informação é
pedra angular na seara consumerista. Produtos com valor diminuído: se eu comprar em uma liquidação um vestido, e
chegar em casa e perceber que o produto está viciado, pode reclamar? O fato de o produto ter o seu valor diminuído em
razão de uma promoção não aniquila o direito do consumidor perante um vício de inadequação. A obstaculização
da função essencial do produto é algo inadmissível. É preciso avaliar a proporção e informação dada para o consumidor.
O uber: o uber não é ruim para a população, mas qualquer transporte, se abrem esse transporte para qualquer
pessoa interessada, esse transporte precisa ser regulamentado. Não deve haver a coibição do uber, mas uma
regulamentação. Se não houver acompanhamento, o serviço pode passar a ser um serviço inapropriado, pois pode haver
um desvio ou desrespeito ao cidadão, gerando danos a ele materiais e morais.
O que fazer em face de um produto impróprio? O que fazer? Há o prazo de 30 dias para produtos não
duráveis, e temos 90 dias para produtos duráveis. Contamos os 30 dias a partir do momento que recebemos o produto
se o vício é visível, ou 30 dias a partir do momento que o vício oculto aparece se ele não é observável facilmente. Se o
produto é durável, nós temos 90 dias, contados da mesma forma.
Assim, em resumo, o direito de reclamar por vícios aparentes caduca em trinta dias para bens não duráveis,
e em noventa, no caso dos duráveis, iniciando-se a contagem do prazo decadencial da entrega efetiva do produto .
Se tratando de vícios ocultos, o prazo decadencial se inicia quando ficar evidenciado o defeito.
Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em:
I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não duráveis;
II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos duráveis.
§ 1° Inicia-se a contagem do prazo decadencial a partir da entrega efetiva do produto ou do término da execução dos
serviços. [...]
§ 3° Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento em que ficar evidenciado o defeito.
Além disso, há possibilidade de, não sanado o vício, ser pedida a restituição da quantia paga pelo consumidor,
monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos – abrangendo, por evidente, o dano emergente e o
lucro cessante.
Mas, quando a loja manda nós irmos na assistência técnica, e de lá o funcionário diz que precisa deixar o produto
por 30 dias para ver se vai resolver o problema. De onde são esses 30 dias? Não tem nada a ver com os 30 dias já
mencionados. Esses 30 dias estão na realidade previstos no art. 18 § 1º do CDC. É o prazo que o legislador assegurou
para o fornecedor examinar o que está acontecendo com o seu produto e lhe dar a resposta. Depois dessa resposta,
aí você pode adotar uma providência.
Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de
qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o
valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com a indicações constantes do recipiente, da embalagem,
rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor
exigir a substituição das partes viciadas.
§ 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua
escolha:
I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso;

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II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;
III - o abatimento proporcional do preço
O consumidor tem que ficar esperando 30 dias? Uma senhora portadora de câncer de pulmão faz uso de um
aparelho para respirar. A família leva o aparelho para a assistência técnica e lá foi dito que após os 30 dias apresentaria
uma resposta. O CDC é expresso: todas as vezes que o produto for essencial, não exige que se espere 30 dias. Ou
troca o produto, ou devolve o dinheiro da pessoa ou se a pessoa quiser ficar com o produto com avaria, dá o
abatimento.
§ 3° O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 1° deste artigo sempre que, em razão da extensão do
vício, a substituição das partes viciadas puder comprometer a qualidade ou características do produto, diminuir-lhe o
valor ou se tratar de produto essencial.
O que é produto essencial? O celular é fundamental. Ninguém consegue ficar hoje sem celular, notebook, sem
determinados equipamentos que na vida contemporânea são considerados de extrema relevância? Sendo um produto
essencial, ou se aquele produto, mesmo tendo uma pecinha substituída, ele não funcionar da forma devida, não deve se
impor a espera de 30 dias.
Tem muitas lojas que estão estendendo esse prazo de espera de 30 dias sem perguntar ao consumidor se ele aceita.
O CDC traz a observação que a ampliação desse prazo não pode ser superior até 180 dias e só pode ocorrer se o
consumidor concordar.
§ 2° Poderão as partes convencionar a redução ou ampliação do prazo previsto no parágrafo anterior, não podendo ser
inferior a sete nem superior a cento e oitenta dias. Nos contratos de adesão, a cláusula de prazo deverá ser
convencionada em separado, por meio de manifestação expressa do consumidor.
Pode ser reduzido para 7 ou ampliado até 180. Se eu ficar esperando 30 dias, e sofrer danos materiais e morais
nesse período? Pode-se reclamar, porque embora a lei diga que eu deva aguardar 30 dias se não for produto essencial, se
eu sofro prejuízos porque o item de consumo não está me permitindo desenvolver minhas atividades, pode-se pedir
indenização.
Quais são as opções para o consumidor? Se chega na loja, o sapato soltou um pedaço, e a loja diz que vai voltar
pra fábrica. Se não concerta, diz que pode trocar por outro produto. Quem tem que escolher é a loja ou o consumidor? A
lei é expressa, nós temos as seguintes opções: pode-se pedir para substituir se quisermos; se não tiver o produto igual,
pode pedir outro para ser trocado. Se for um produto de preço mais elevado, da o dinheiro que tá faltando, ou pode
escolher um produto com o valor menor e receber de volta a parte da maior. Escolhe-se também qual produto que se
quiser de volta. Se não quer substituir o produto, pode-se pedir para devolver o dinheiro. Ou pode dizer que fica o
produto, mas quer o abatimento. Tudo isso sem prejuízo das perdas e danos.
Pode-se dizer que seria injusto. Mas tem um sujeito com um produto com problema, o produto vai para a
assistência técnica, ele espera 30 dias, normalmente não se respeita esses 30 dias, ultrapassam os 30 dias, você telefona,
você se estressa, você gasta com transporte, sua gasolina, e em determinado momento chega o produto. O produto foi
consertado, ou não, mas você escolheu a substituição ou a devolução do valor. Tudo isso diz respeito ao dano circa rem –
aquilo que diz respeito à coisa. Ao redor disso se encontra uma esfera que não pode ser desprezada pelo poder judiciário
que é o dano extra-rem (rem é coisa), que é o tempo perdido, o constrangimento, o estresse, e isso não deve ser
desprezado.
(Pergunta) Quando se diz perdas e danos se engloba os danos materiais e os danos materiais envolvem os danos
emergentes e lucros-cessantes. Aquilo que de fato me prejudicou. Deixei de receber valores (lucros-cessantes). O dano
moral passa por todo o constrangimento que você passa – se foi bem atendido na assistência técnica, se o serviço de

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atendimento pelo telefone foi satisfatório, ou não foi. Foi mero aborrecimento o fato de eu ir quatro, cinco vezes na
assistência. É obrigatória a assistência técnica na cidade que o consumidor comprou o produto? O CDC não diz nada, só
diz no art. 21 que o fornecedor é obrigado a apresentar peça de reposição. Muitas vezes não tem nem assistência técnica, e
aí precisa telefonar para outro Estado. Perdas e danos engloba tudo isso. Muitos juízes tem a postura no sentido de achar
que situações mais simplórias, situações que são comuns no Brasil, o desrespeito, são caracterizadas como mero
aborrecimento. Para Joseane, o atendimento ineficaz, não pode ser considerado mero aborrecimento.
Hipóteses nas quais podemos não esperar os trinta dias:
a) Se o produto é essencial.
b) Se o produto tem uma parte substituída e venha a afetar as suas características.
c) Produto que mexe na sua estrutura (ex. obra artística) pode ter o valor diminuído.
Como fica a responsabilidade dos integrantes da cadeia de fornecimento? Você chega na loja e fala que o produto
da com problema – a loja não quer nem saber, manda direto para a assistência técnica. A regra prevista no CDC é que
vícios envolvendo a qualidade de produtos, todos os integrantes da cadeia de fornecimento são solidariamente
responsáveis. Todos.
Art. 19. Os fornecedores respondem solidariamente pelos vícios de quantidade do produto sempre que, respeitadas as
variações decorrentes de sua natureza, seu conteúdo líquido for inferior às indicações constantes do recipiente, da
embalagem, rotulagem ou de mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:
Agora, há uma exceção, que é o chamado produto in natura.
§ 5° No caso de fornecimento de produtos in natura, será responsável perante o consumidor o fornecedor imediato,
exceto quando identificado claramente seu produtor.
Chega na feira e compra 1 kg de tomate ou cebola. Aquele produto não passou por industrialização. O CDC diz
que “se faltar qualidade no produto in natura, o responsável será aquele que realizou a venda”. É ele porque é ele que
está assumindo o papel de apresentar o item, que não é industrializado. Ele é o responsável direto porque é ele quem faz a
pesagem e a apresentação perante a você.
VÍCIO POR QUANTIDADE
Maquiagem de produtos: muitas vezes se compra um item cujo peso não está de acordo com o que está sendo
vendido. Acontece muito com ovos de páscoa. Foi descoberto um esquema de congelamento do frango, em que o frango é
congelado excessivamente para o gelo pesar mais. Todas as vezes que se tiver a falta de conformidade com a
informação referente ao peso do produto com aquilo que está no recipiente, na embalagem, ou na mensagem
publicitária, é vício em razão da quantidade.
É preciso observar que tem produtos que pela própria natureza pode apresentar uma pequena redução. Se pegar
uma embalagem, hoje, de ameixa seca, amanhã ela vai estar com uma quantidade menor. Isso acontece pela natureza do
bem, não é vício de quantidade, isso decorre da essência do bem.
Os órgãos de proteção e defesa do consumidor devem ficar atentos porque através de ações coletivas, nós
podemos exigir o dano moral coletivo, e suscitar que o poder judiciário obrigue as empresas a respeitar o peso informado.
Sob a ótica coletiva isso é importante, mas na ótica individual isso não é tão significante (medir papel higiênico, por
ex.).
Quais são as hipóteses para o consumidor? O consumidor pode pedir para substituir; pode pedir também que haja
a devolução do dinheiro ou até mesmo o abatimento. E a responsabilidade é da cadeia de fornecimento. Há uma
observação: se você compra um determinado produto e a medição ou peso for feito de forma direta, imediata na sua
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frente, o responsável será aquele que fez a medição. Se eu vou em uma loja para comprar 2 metros de tecido, e a pessoa
pega um metro que tenha 80 cm, a responsabilidade segundo o CDC não vai ser e quem fabricou o tecido, mas daquele
que praticou a fraude porque fez uso do metro irregular.
§ 2° O fornecedor imediato será responsável quando fizer a pesagem ou a medição e o instrumento utilizado não estiver
aferido segundo os padrões oficiais.
Da mesma forma: vou numa feira, vou num mercado, compro 1 kg de linguiça, de calabresa para a feijoada. A
balança está fraudada. A responsabilidade será dos fabricantes? Será a responsabilidade direta do sujeito, da pessoa que
fez a pesagem. Mas não podia propor uma ação contra os fabricantes no caso de responsabilidade solidária? Pode, mas o
CDC traz essa ressalva porque mercadinhos, supermercados, feirantes, devem agir de forma correta, usando devidamente
itens para pesagem e medição de forma correta. Pode até colocar o fabricante, mas talvez o juiz não aceite – a
responsabilidade direta é do comerciante, porque está na lei expressamente dito isso.
VÍCIOS DE QUALIDADE NO SERVIÇO
A mesma teoria vista na aula passada, teoria da qualidade dos bens de consumo, se aplica aos serviços.
Ninguém vai querer contratar um serviço que não esteja condizente com a qualidade objetivada pelo consumidor. Se o
serviço estiver viciado, pode estar
(1) em razão de um defeito, e aí nós teremos um acidente de consumo, ou
(2) inadequado, que não coloca em risco a saúde do consumidor, mas coloca em risco a incolumidade
econômica. A sua adequação não se coaduna com o que o consumidor espera. E esse sujeito vai buscar sua proteção pelo
Direito.
O que se fazer com uma pessoa não satisfeita com o serviço? Ela pode pedir para refazer do serviço, através de
ação ou acordo. Ou então, ela aceita o serviço viciado, mas com um valor menor do que o originalmente pactuado. No
entanto, é possível também que o mesmo sujeito pense da seguinte forma: não quer o serviço já prestado, estou
insatisfeito, não quero mais a reexecução, e agora quer que seja feito por terceiro. Se o consumidor adentrar com um
pedido judicial e peticionar ao juiz que seja o fornecedor forçado a arcar com os custos e despesas referentes a um serviço
prestado por um terceiro, o fornecedor condenado vai ter que fazer.
Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes
diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes da oferta ou
mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:
I - a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível;
II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;
III - o abatimento proporcional do preço.
§ 1° A reexecução dos serviços poderá ser confiada a terceiros devidamente capacitados, por conta e risco do
fornecedor.
§ 2° São impróprios os serviços que se mostrem inadequados para os fins que razoavelmente deles se esperam, bem como
aqueles que não atendam as normas regulamentares de prestabilidade.
Não se esqueçam das noções de dano circa rem e extra rem. O consumir fez um acordo com o fornecedor, ele
aceitou reexecutar o serviço. Resolveu o dano atinente à coisa em si, contudo aquilo que circunda a coisa – o tempo
perdido (desvio produtivo do consumidor), o tempo no telefone, o estresse com o funcionário, pedindo para que
determinado aspecto seja avaliado, então esses fatores têm que ser considerados também.

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Já trouxemos a noção de serviço, e afirmamos que serviço público pode ser também de natureza
consumerista. Em quais situações? Qual é a remuneração que pode ensejar a aplicação do CDC aos serviços públicos?
Não são impostos, não são contribuições de melhorias. Taxas, algumas – saneamento básico, de prevenção de combate
ao incêndio. Preço público? Sim. Tarifa? Sim. Serviço de telefonia, transporte, serviço de água e de energia elétrica
apresentam natureza consumerista.
Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de
empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.
Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas
jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste código.
E o que exige o art. 22 do CDC? Que o serviço público deverá ser adequado. Temos adequação no nosso país?
Os serviços públicos atendem nossas necessidades? Além da adequação, está no art. 22 a questão da segurança. Veem-se
constantemente pessoas que se submetem ao transporte público de passageiros e sofrem acidentes. Modicidade: tem
cabimento a tarifa do transporte urbano de Salvador corresponder a R$3,60? Um serviço muito mais caro que outras
unidades federativas, que não é seguro, adequado, nem eficiente? O próprio CDC estabelece que havendo
desconformidade do serviço com a lei, o contrato de concessão poderá ser cassado. E isso nem sempre acontece. Quantos
anos se passaram havendo desvios de recursos públicos?
Pode o serviço público, considerado essencial, como água e energia elétrica, ser suspenso? Ser interrompido?
Digamos que você viaja, esquece-se de pagar a conta, a fatura de energia elétrica e de água, quando chega à residência,
está cortado. Ou, não pagou porque não quis pagar, ou porque houve um equívoco; a pergunta é: é cabível, na
contemporaneidade, a suspensão de um serviço essencial? Até 2002 o STJ não concordava com a suspensão ou
interrupção, porque ninguém consegue viver sem água como deveria. De 2002 para cá, o STJ passou a permitir a
suspensão com base numa análise econômica do direito, ao verificar que as concessionárias simplesmente, ao se
depararem com uma conta inadimplente, não suspendiam mas transferiam aquele valor em aberto para a massa de
contratante adquirente. Então, nós terminávamos arcando com aquilo ali. O STJ começa a admitir desde que três
requisitos sejam obedecidos:
1) Que o consumidor seja notificado com antecedência.
2) Com a possibilidade de parcelar o valor devido.
3) Se o consumidor integra uma classe econômica mais desfavorecida, que você tenha acesso à chamada tarifa
social.
E se for um consumidor, pessoa jurídica, uma escola particular, uma creche ou hospital? É um problema
suspender o fornecimento de energia elétrica ou de água numa escola. Ainda é mais complicado para um hospital – uma
pessoa que paga plano de saúde ou diretamente a um hospital para estar ali. Sem falar nos hospitais e escolas públicas. O
que STJ tem definido? Não existe um posicionamento uniforme, quem tiver defendendo o hospital público ou privado,
creche ou escola, vai lá e pinça uma decisão do STJ no sentido de que seria incabível essa suspensão porque prejudicaria
várias pessoas. Quem tiver defendendo a concessionária vai lá e pesquisa uma decisão do STJ dizendo que é possível essa
suspensão.
Para Joseane, embora ela acredite que o hospital, a escola e a creche particulares devam arcar com suas contas,
deve-se pensar nos outros sujeitos que estão pagando, que estão usufruindo do serviço, e por muitas vezes
irresponsabilidade do estabelecimento vão ficar sem acesso ao produto. O certo é que a concessionária entre com uma
ação contra o hospital ou escola, mas não suspenda o fornecimento. Quem tem que avisar o consumidor que o nome dele
vai ser negativado? É a loja, é o fornecedor ou o banco de dados? Quem tem obrigação é banco de dados. Existe súmula
do STJ. A própria lei não obriga a loja, o fornecedor que está sofrendo com a inadimplência.
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GARANTIAS DOS BENS DE CONSUMO
Há duas espécies de garantias:
a) GARANTIA LEGAL: Art. 26/CDC. O prazo para reclamar da compra de um equipamento eletrônico é 90
dias. Conta-se esses 90 dias a partir de quando o cliente recebe o produto. Se o vício for oculto, conta-se a partir de
quando o vício emergir. É preciso averiguar para reclamar esse vício a vida útil do aparelho.
b) GARANTIA CONTRATUAL: O prazo de garantia é 1 ano, por exemplo. Garantia legal não se confunde com
garantia contratual. Ninguém consegue entender qual que vale: a garantia legal ou contratual. 1 ano se passou, e depois de
1 ano percebeu-se um vício. Estava sendo utilizado de acordo com o manual de instruções (de entrega obrigatória, art.
50/CDC). Esta garantia contratual não é obrigatória, mas se optar o fornecedor por disponibilizá-la, ela precisa ser
uniforme para outras pessoas.
Há três correntes para resolver essa situação:
a) Com base no art. 446/CC:

Art. 446. Não correrão os prazos do artigo antecedente na constância de cláusula de garantia; mas o adquirente deve
denunciar o defeito ao alienante nos trinta dias seguintes ao seu descobrimento, sob pena de decadência.

b) Com base no art. 50/CDC: A garantia contratual é complementar à legal e será conferida mediante
termo escrito.

Art. 50. A garantia contratual é complementar à legal e será conferida mediante termo escrito.

Parágrafo único. O termo de garantia ou equivalente deve ser padronizado e esclarecer, de maneira adequada em que
consiste a mesma garantia, bem como a forma, o prazo e o lugar em que pode ser exercitada e os ônus a cargo do
consumidor, devendo ser-lhe entregue, devidamente preenchido pelo fornecedor, no ato do fornecimento, acompanhado
de manual de instrução, de instalação e uso do produto em linguagem didática, com ilustrações.

c) Com base no STJ: As garantias somam-se.


Se a gente segue o art. 446, primeiro tem que levar em consideração o que está escrita na garantia contratual para
depois fazer uso dos prazos da garantia legal.
Se levar em consideração o 50/CDC, primeiro sigo os prazos da garantia legal para depois usufruir a garantia
legal.
A professora Cláudia Lima Marques, a maior autoridade no assunto, ela afirma muito categoricamente: compra-se
uma geladeira, e tem dizendo na garantia contratual que se apresentar problemas nas partes emborrachadas ou metálicas, o
consumidor pode substituir o produto em 6 meses. O consumidor comprou a geladeira, houve problema na parte
emborrachada (ou metálica), e usa a garantia contratual. Agora se, nesse prazo, o sujeito comprou a geladeira e
apresenta problema no motor, utiliza-se a garantia legal. Você vai usar o que for melhor para você. E aí vem a
problemática atinente da garantia estendida. Nós pagamos mais caro por algo que não conhecemos porque achamos que é
a parte contratual somente que vale e acreditamos que pagar um valor maior é benéfico. O art. 39, inc. I do CDC veda a
venda casada.
Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: (Redação dada pela Lei nº
8.884, de 11.6.1994)

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I - condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem
justa causa, a limites quantitativos;
Além dos prazos, do art. 26, há o prazo de 5 anos para questionarmos a ocorrência de acidente de consumo.
Os prazos do art. 26 são decadenciais, os do art. 27 prescricional.
Tem no CDC alguma coisa que diga que esses prazos possam ser interrompidos? Tem, no CDC se usa o termo
obstar. Art. 26. “podem ser obstados”. Uma parte da doutrina entende que obstar seria suspender. Suspende-se o que
transitou anteriormente, transcorreu. Se a gente opta por interromper a gente desconsidera o que transcorreu e a partir do
momento que a vigência do prazo volta a tramitar, a gente conta de novo.
Professora Cláudia Lima Marques, assim como o professor Antônio Pinto Monteiro que nós devemos usar o
termo “obstar” como interromper. E o que obsta a fluência dos prazos anteriormente mencionados? Duas situações.
(1) Quando o consumidor reclama (enquanto espera a resposta do fornecedor);
(2) Quando é instaurado o inquérito civil – somente o MP possui o condão, a atribuição constitucional de
instaurar o inquérito civil. Parece com o inquérito policial, só que o inquérito policial é apenas o delegado na esfera
criminal. O inquérito civil diz respeito à investigação titularizada pelo MP para investigar aspectos que atinjam a
coletividade (em qualquer esfera).
Por fim, cabe não esquecer que a indenização derivada do fato do produto ou do serviço não pode ser excluída
contratualmente, isso por previsão legal do CDC.
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e
serviços que:
I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos
e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos. Nas relações de consumo entre o fornecedor e o consumidor
pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis;
AULA 7 – 09/11

RESPONSABILIDADE CIVIL NO CONTRATO DE TRANSPORTE


Contrato de transporte se rege nos arts. 730 a 756, são 26 disposições onde estão inseridos comandos para que nos
norteiem quanto ao nossos traslado enquanto pessoas e a movimentação de coisas. Pode dizer respeito a pessoas e as
coisas, bens.
No que tange a responsabilidade do transportador quanto aos empregados, esta será derivada de acidente de
trabalho, e havendo qualquer dolo ou grau de culpa do empregador, poderá ser pleiteada contra ele uma indenização pelo
direito comum. Quanto a terceiros, é uma responsabilidade extracontratual, objetiva na modalidade do risco
administrativo, uma vez que transporte coletivo é serviço público, transferido às empresas mediante concessão ou
permissão. O CDC equipara a consumidor todas as vítimas do sinistro, no caso de quem sofre as consequências de
acidente de consumo.
Para Carlos Roberto Gonçalves, não há incompatibilidade entre o CC e o CDC, visto que ambos adotam a
responsabilidade objetiva do transportador, só elidível perante a prova de culpa exclusiva da vítima, da força
maior e do fato exclusivo de terceiro, uma vez que tais excludentes rompem o nexo de causalidade.
CONCEITO
Art. 730. Pelo contrato de transporte alguém se obriga, mediante retribuição, a transportar, de um lugar para outro,
pessoas ou coisas.

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Art. 732. Aos contratos de transporte, em geral, são aplicáveis, quando couber, desde que não contrariem as disposições
deste Código, os preceitos constantes da legislação especial e de tratados e convenções internacionais.
Segundo Orlando Gomes o contrato de transporte constitui instrumento jurídico por intermédio do qual
temos assegurada a transferência de uma pessoa de um espaço geográfico para outro, ou de determinada coisa,
mediante assunção de direitos e obrigações ou deveres. É crucial a presença da remuneração para a caracterização do
contrato de transporte regido por essas disposições. Assim, é instrumento através do qual, desde décadas passadas até
a contemporaneidade, há o traslado remunerado de pessoas ou coisas.
Para Carlos Roberto Gonçalves, contratos de transporte constituem típicos contratos de adesão em que as partes
não discutem amplamente as suas cláusulas, como no modelo tradicional. Entretanto, no caso de um acidente no trajeto
em que o passageiro acabe ferido, há configuração normal de inadimplemento contratual, que acarreta com a
responsabilidade de indenizar nos termos do Código Civil.
O transportador assume uma obrigação de resultado, qual seja, transportar o passageiro são e salvo, e a
mercadoria sem avarias, ao seu destino. A não obtenção desse resultado importa o inadimplemento das obrigações
assumidas e a responsabilidade pelo dano ocasionado. Não se eximirá da responsabilidade provando apenas ausência de
culpa – incumbe-lhe o ônus de demonstrar que o evento danoso se verificou por força maior, culpa exclusiva da
vítima ou ainda por fato exclusivo de terceiro.
A obrigação tacitamente assumida pelo transportador de conduzir o passageiro são e salvo ao local de destino se
denomina cláusula de incolumidade.
Contratos de dar carona/informais é outra espécie contratual, seria doação se o colega não cobra nada. É preciso
ter em mente que a remuneração não se caracteriza pelo dinheiro, mas através de contraprestação distinta. Pode
dizer ao colega que dá carona para casa se fizer pesquisa por ele. É remuneração indireta, imbuída no pacto que está
gerando com o colega. O contrato feito de forma gratuita, sem remuneração, trata-se de doação. Há responsabilidade sim
apesar de ser doação, precisa agir com responsabilidade e zelo, respeitando os postulados da necessidade de preservar a
incolumidade física e psíquica do sujeito. O transporte gratuito, benéfico, não traz vantagem ao transportador. É a ele
que o contrato não favorece. Portanto, só deve ser responsabilizado, em caso de acidente, por dolo ou culpa
gravíssima, ficando exonerado de qualquer responsabilidade em caso de culpa leve ou levíssima. Não constituem
transportes gratuitos aqueles que, a despeito do transportador nada cobrar, tem algum interesse no transporte do
passageiro (Gonçalves).
Art. 736. Não se subordina às normas do contrato de transporte o feito gratuitamente, por amizade ou cortesia.
Parágrafo único. Não se considera gratuito o transporte quando, embora feito sem remuneração, o transportador auferir
vantagens indiretas.
CLASSIFICAÇÃO
Segundo Paulo Scartezzini, ministro do STJ, tem obra específica acerca dos contratos de transporte, que trata de
transporte, turismo, e afirma ele que os contratos de transporte podem ser classificados de acordo com três aspectos
essenciais: quanto ao objeto, quanto ao meio de transporte utilizado para realizá-lo e o terceiro com base na área
geográfica.
OBJETO
PARA FAZER MOVIMENTAÇÃO DE PESSOAS

PARA FAZER MOVIMENTAÇÃO DE COISAS

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MEIO DE TRANSPORTE
AÉREO

TERRESTRE

MARITMO OU HIDROVIÁRIO

Para cada um desses meios de transporte tem normas federais, estaduais e municipais. Terrestre pode ser
intermunicipal e, a depender, pode precisar usar normas específicas.
ÁREA GEOGRÁFICA
URBANO
INTRAMUNICIPAL
INTERMUNICIPAL
INTERESTADUAL
INTERNACIONAL
Existem situações, por exemplo, nas quais é preciso resolver problema porque estava saindo da BA e indo para
outro estado, tem que ver as regras da agência reguladora encarregada. Agência Nacional de Transportes Terrestres
(ANTT). BA: AGERBA. Dentro da cidade: ARSAL (Agência reguladora e fiscalizadora dos serviços públicos de
Salvador).
Quando se discutia se o Uber devia ser aprovado ou não, Joseane acredita que o CC ja tinha resposta desde 2002:
independentemente do CDC, no art. 731 está regra de que toda atividade de traslado tem que passar pelo crivo da
autoridade publica, ou pela concessão, ou permissão ou autorização.
Art. 731. O transporte exercido em virtude de autorização, permissão ou concessão, rege-se pelas normas
regulamentares e pelo que for estabelecido naqueles atos, sem prejuízo do disposto neste Código.
Inevitavelmente traz riscos e exige remuneração, por isso precisa de acompanhamento, ainda que a intervenção
estatal seja exercida sem gerar prejuízos a quem gosta da atividade.
TEORIA DO DIÁLOGO DAS FONTES
Veio da Alemanha, com Erik Jaime, que verificou que o mundo caminhava através do surgimento dos
microssistemas (leis esparsas que adotam aspectos do Direito Civil – ex.: lei para proteção do trabalhador, lei para
proteção dos deficientes, criança e adolescente). Ele desenvolveu a premissa de que deve haver o diálogo entre as fontes
normativas, que não devem existir de forma apartada, independente e conflituosa. Ele traz a necessidade de estudar
sempre, ao verificar no caso concreto, se ao redor da situação existem diplomas e se esses diplomas devem ser aplicados e
de que forma. Daí a teoria é aplicada em diversos ramos do conhecimento jurídico e na seara dos transportes.
A importância da atividade faz com que apliquemos a qualquer problema de transportes o CC, o CDC, a lei de
cessões e concessões. Transporte aéreo doméstico: Código Brasileiro da Aeronáutica, que utiliza a teoria da
responsabilidade objetiva, visto que impôs responsabilidade ao transportador como decorrência do risco da sua
atividade, somente podendo este exonerar-se nas hipóteses fechadas previstas em lei.
Lei da ANAC, também, por exemplo, obriga a realizar pagamento pela bagagem – inclusive algo que fere o CDC,
pois pode ser configurada com venda casada. O contrato do transporte de pessoa traz ínsito o dever de levar a
bagagem, algo previsto no CC – mas que vai de encontro com a previsão da ANAC. É esse diálogo que é fundamental
para que se possa resolver um problema com base no diálogo entre as fontes.
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Ricardo Lorenzetti: autor argentino, quando encontramos serviços ou atividades no mercado a simetria é
observada por dois pontos, sendo um deles o poder do sujeito de escolher (questão fática, técnica, liberdade de
escolha).
CONTRATO DE TRANSPORTE CUMULATIVO
Art. 733. Nos contratos de transporte cumulativo, cada transportador se obriga a cumprir o contrato relativamente ao
respectivo percurso, respondendo pelos danos nele causados a pessoas e coisas.
§ 1o O dano, resultante do atraso ou da interrupção da viagem, será determinado em razão da totalidade do percurso.
§ 2o Se houver substituição de algum dos transportadores no decorrer do percurso, a responsabilidade solidária
estender-se-á ao substituto.
Art. 756. No caso de transporte cumulativo, todos os transportadores respondem solidariamente pelo dano causado
perante o remetente, ressalvada a apuração final da responsabilidade entre eles, de modo que o ressarcimento recaia,
por inteiro, ou proporcionalmente, naquele ou naqueles em cujo percurso houver ocorrido o dano.
Ônibus que leva a determinado local, a partir dali outro transporte leva. Como funciona isso? São pessoas
jurídicas distintas, apartadas? Pouco importa – se são da mesma empresa, se são de empresas que atuam em consórcio,
coligação, no transporte cumulativo a responsabilidade será solidária e objetiva. Pouco importa se o problema foi
causado por uma empresa e não por outra. Se acionar todo mundo, se condenar todos os envolvidos, façam parte da
mesma pessoa jurídica ou não, eles que se resolvam depois com possíveis ações de regresso. Os prejuízos da pessoa,
entretanto, tem que ser resolvidos de forma integral.
Assim, de forma resumida, o dano resultante do atraso ou interrupção da viagem será determinado em razão da
totalidade do percurso, e se houver substituição de algum dos transportadores no decorrer do percurso, a
responsabilidade solidária se estenderá ao substituto.
CONTRATO
PESSOAS
Tem no CC previsão expressa de proteção a pessoa e a coisa. A bagagem que leva na mão, pode precisar abrir,
bem como pode o fornecedor pedir para apresentar declaração acerca do que contem a bagagem. O CC admite isso.
Porém, tem que analisar como a declaração foi pedida: houve algum tipo de discriminação? Tem que ver a situação
concreta e avaliar as circunstâncias fáticas.
Art. 734. O transportador responde pelos danos causados às pessoas transportadas e suas bagagens, salvo motivo de
força maior, sendo nula qualquer cláusula excludente da responsabilidade.
Parágrafo único. É lícito ao transportador exigir a declaração do valor da bagagem a fim de fixar o limite da
indenização.
Para Gonçalves, o contrato de transporte de pessoas abrange a obrigação de transportar a bagagem do passageiro
ou viajante. O transporte de bagagem é acessório do contrato de pessoa, de modo que o viajante, ao contratar o
transporte, pagando o bilhete de passagem, adquirirá o direito de transportar, consigo, sua bagagem, e o condutor assumirá
a obrigação de fazer esse transporte. A partir da interpretação do parágrafo único, se entende que o valor declarado
determinará o montante a ser pago – e no caso de não fazer essa exigência, entende que não poderá pretender
limitar o montante da indenização.
Não elide a responsabilidade do transportado por culpa de terceiros – se estou no ônibus e levo pedrada, o
dono do ônibus tem que responder. Se acontece problema, ainda que causado por terceiro, o proprietário, gestor do
transporte, tem que responder e tem direito a entrar com ação regressiva contra o terceiro.

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Segundo o art. 734, excludente de responsabilidade do transportador são apenas os acontecimentos naturais,
e não os fatos decorrentes da conduta humana. Vem a diferenciação entre fortuito interno (ligado à pessoa, ou à coisa,
ou à empresa do agente) e fortuito externo (força maior, ou Act of God). Somente o fortuito externo, isto é, a causa
ligada à natureza, estranha à pessoa do agente e à máquina, exclui a responsabilidade deste em acidente de veículos. O
fortuito interno, não.
Segundo Carlos Roberto Gonçalves, tem se entendido que estouro de pneus, quebra de barras de direção e outros
defeitos mecânicos em veículos não afastam a responsabilidade do condutor, porque previsíveis e ligados à
máquina.
Art. 735. A responsabilidade contratual do transportador por acidente com o passageiro não é elidida por culpa de
terceiro, contra o qual tem ação regressiva.
Súmula 145, STJ – No transporte desinteressado, de simples cortesia, o transportador só será civilmente responsável por
danos causados ao transportado quando incorrer em dolo ou culpa grave.
Súmula 187, STF - A responsabilidade contratual do transportador, pelo acidente com o passageiro, não é elidida por
culpa de terceiro, contra o qual tem ação regressiva.
Súmula 161, STF - Em contrato de transporte, é inoperante a cláusula de não indenizar.
Assim, ocorrendo um acidente de transporte, não pode o transportador pretender eximir-se da obrigação de
indenizar o passageiro, após haver descumprido a obrigação de resultado tacitamente assumida (a questão da cláusula de
incolumidade), atribuindo culpa ao terceiro. Deve, primeiro, indenizar o passageiro, depois discute a culpa pelo
acidente, na ação regressiva movida contra o terceiro.
A regra é não isentar a responsabilidade do transportador diante de ato causado por terceiro. Muita gente
tem tomado conhecimento a respeito. Assédio dentro de transportes coletivos constituiriam fortuito interno, tem que se
responsabilizar. A questão do assalto é um pouco mais sensível, visto que seria fortuito externo segundo últimas
decisões. Seria responsabilidade do Estado – não deveria entrar com ação contra a empresa, mas contra Estado que
não está zelando pela segurança. Não há ainda decisão definitiva do STJ. Ex.: caso em que assaltante entra como
passageiro, e aí rouba – pode ser entendido como fortuito interno, pois cabia a empresa ter maior zelo para evitar isso.
O entendimento jurisprudencial majoritário tem sido que assalto à mão armada em interior de ônibus, embora
se pudesse ter meios de evita-lo, equipara-se à força maior, isentando de responsabilidade o transportador, visto que o
dever de prestar segurança pública ao passageiro é do Estado, não se podendo transferi-lo ao transportador.
ATRASOS
Art. 737. O transportador está sujeito aos horários e itinerários previstos, sob pena de responder por perdas e danos,
salvo motivo de força maior.
O entendimento é que o transportador responde pelo atraso no transporte aéreo, indenizando o passageiro
que tinha confirmação de reserva. Perda da chance, prejuízos materiais se envolvem, mas tem que analisar abusos.
Pode até haver justificativa plausível, mas não pode ignorar o fato da programação, do investimento da viagem. O CC diz
que pode o consumidor rescindir o contrato de transporte, podendo pedir restituição do dinheiro que foi pago,
embora isso não seja respeitado em diversas companhias aéreas. “No-show” - prejuízo da empresa. Overbooking: se
ocorrer, se for colocado em outro voo o problema estaria solucionado, embora na prática isso não se verifique – não se
verificando, deverá haver a indenização pela prática. Resolução 400/16: revogou a anterior, tem sido questionada, MPF
entrou com ação contra. Essa resolução traz a questão dos prazos para reclamação: 7 dias para reclamar sobre algum
vício no serviço, vilipendiando o CPC.

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DEVERES
Art. 738. A pessoa transportada deve sujeitar-se às normas estabelecidas pelo transportador, constantes no bilhete ou
afixadas à vista dos usuários, abstendo-se de quaisquer atos que causem incômodo ou prejuízo aos passageiros,
danifiquem o veículo, ou dificultem ou impeçam a execução normal do serviço.
Parágrafo único. Se o prejuízo sofrido pela pessoa transportada for atribuível à transgressão de normas e instruções
regulamentares, o juiz reduzirá eqüitativamente a indenização, na medida em que a vítima houver concorrido para a
ocorrência do dano.
É preciso respeito às normas regulamentares. Se sofrermos acidente, tem que averiguar a nossa participação e
contribuição para tanto. É preciso observar a conduta da vítima também para chegar à conclusão se houve colaboração
dela ou, de alguma forma, participação. Precisa ter a conduta de não gerar incomodo para passageiros, ou danos aos outros
ou ao veículo de transporte, bem como nao gerar obstáculos para a realização do serviço. Criou-se para o viajante
obrigação de velar pela sua própria segurança.
Assim, o entendimento do CC no art. 738 significa que a culpa concorrente da vítima constitui causa de
redução do montante da indenização pleiteada, em proporção ao grau de culpa comprovado nos autos. Os tribunais
não poderão mais aplicar o CDC, sendo vedada a condenação de empresas de transporte a pagar indenização
integral às vítimas de acidentes, em casos de culpa concorrente destas. As excludentes possíveis são motivo de força
maior, culpa exclusiva da vítima e fato excludente de terceiro.
DIREITOS DO TRANSPORTADO
Art. 739. O transportador não pode recusar passageiros, salvo os casos previstos nos regulamentos, ou se as condições
de higiene ou de saúde do interessado o justificarem.
Art. 740. O passageiro tem direito a rescindir o contrato de transporte antes de iniciada a viagem, sendo-lhe devida a
restituição do valor da passagem, desde que feita a comunicação ao transportador em tempo de ser renegociada.
§ 1o Ao passageiro é facultado desistir do transporte, mesmo depois de iniciada a viagem, sendo-lhe devida a restituição
do valor correspondente ao trecho não utilizado, desde que provado que outra pessoa haja sido transportada em seu
lugar.
§ 2o Não terá direito ao reembolso do valor da passagem o usuário que deixar de embarcar, salvo se provado que outra
pessoa foi transportada em seu lugar, caso em que lhe será restituído o valor do bilhete não utilizado.
§ 3o Nas hipóteses previstas neste artigo, o transportador terá direito de reter até cinco por cento da importância a ser
restituída ao passageiro, a título de multa compensatória.
Pode rescindir transporte antes, na esfera do transporte aéreo há normas prejudiciais. Assim, mesmo depois de
iniciada a viagem, segundo entendimento de Gonçalves, tem o passageiro a possibilidade de desistir do transporte,
sendo-lhe devida a restituição do valor correspondente ao trecho não utilizado, desde que provado que outra pessoa
foi transportada no seu lugar. O usuário que não embarcar não tem direito ao reembolso do valor da passagem, salvo se
for comprovado que outra pessoa foi transportada no seu lugar, sendo-lhe restituído o valor do bilhete não utilizado.
Nessas hipóteses, o transportador terá direito de reter até 5% da importância a ser restituída ao passageiro, a título de
multa compensatória. Tem direito a indenização por prejuízos morais e materiais sofridos.
Art. 741. Interrompendo-se a viagem por qualquer motivo alheio à vontade do transportador, ainda que em conseqüência
de evento imprevisível, fica ele obrigado a concluir o transporte contratado em outro veículo da mesma categoria, ou,
com a anuência do passageiro, por modalidade diferente, à sua custa, correndo também por sua conta as despesas de
estada e alimentação do usuário, durante a espera de novo transporte.

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Assim, se houver interrupção da viagem, ainda que por evento imprevisível, há obrigação do transportador de
concluir o transporte em veículo de mesma categoria ou, no caso de concordância do passageiro, de categoria diferente –
mas às suas custas. Deve o transportador ainda arcar com as despesas de estada e alimentação do passageiro durante a
espera de novo transporte (caso das companhias aéreas).
Se não pagar, pode reter a bagagem como “pagamento”.
Art. 742. O transportador, uma vez executado o transporte, tem direito de retenção sobre a bagagem de passageiro e
outros objetos pessoais deste, para garantir-se do pagamento do valor da passagem que não tiver sido feito no início ou
durante o percurso.
É algo permitido pelo CC, portanto. Para parte da doutrina, é resquício da autotutela, desde 1916.
COISAS
O transporte de coisa traz nuances importantes, como a caracterização da coisa. Sempre que quer mandar algo, o
CC traz como regra basilar a identificação da coisa: qual natureza, o que é, qual o valor, peso, quantidade.
Art. 743. A coisa, entregue ao transportador, deve estar caracterizada pela sua natureza, valor, peso e quantidade, e o
mais que for necessário para que não se confunda com outras, devendo o destinatário ser indicado ao menos pelo nome e
endereço.
Quem vai transportar pode ser obrigado a indenizar em razão de danos causados a coisa. Transportador
pode pedir para ver a coisa, abrir caixa, pacote, saco.
Art. 744. Ao receber a coisa, o transportador emitirá conhecimento com a menção dos dados que a identifiquem,
obedecido o disposto em lei especial.
Parágrafo único. O transportador poderá exigir que o remetente lhe entregue, devidamente assinada, a relação
discriminada das coisas a serem transportadas, em duas vias, uma das quais, por ele devidamente autenticada, ficará
fazendo parte integrante do conhecimento.
Transportador pode escolher não levar. Segundo o CC, pode haver negativa em face da coisa transportada se
ela apresentar risco para a saúde de quem vai realizar o translado, se coisa a ser transportada danificar o veículo ou se
for coisa ilícita.
Art. 746. Poderá o transportador recusar a coisa cuja embalagem seja inadequada, bem como a que possa pôr em risco
a saúde das pessoas, ou danificar o veículo e outros bens.
Art. 747. O transportador deverá obrigatoriamente recusar a coisa cujo transporte ou comercialização não sejam
permitidos, ou que venha desacompanhada dos documentos exigidos por lei ou regulamento.
É direito do transportador pedir que discrimine, mas também é seu direito e dever verificar se na estrutura
traslada não há itens ilícitos.
DIREITOS DO TRANSPORTADOR
No exemplo de o cliente dizer que dentro de uma caixa tem violão, mas depois descobre objeto ilícito – ou seja,
mentira. O transportador pode entrar com ação contra o cliente por informação inexata/falsa, no prazo decadencial
de 120 dias.
Art. 745. Em caso de informação inexata ou falsa descrição no documento a que se refere o artigo antecedente, será o
transportador indenizado pelo prejuízo que sofrer, devendo a ação respectiva ser ajuizada no prazo de cento e vinte dias,
a contar daquele ato, sob pena de decadência.
Não esquecer que o transportador pode recusar por periculosidade.
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OBRIGAÇÃO
Art. 748. Até a entrega da coisa, pode o remetente desistir do transporte e pedi-la de volta, ou ordenar seja entregue a
outro destinatário, pagando, em ambos os casos, os acréscimos de despesa decorrentes da contra-ordem, mais as perdas
e danos que houver.
Art. 749. O transportador conduzirá a coisa ao seu destino, tomando todas as cautelas necessárias para mantê-la em
bom estado e entregá-la no prazo ajustado ou previsto.
Art. 750. A responsabilidade do transportador, limitada ao valor constante do conhecimento, começa no momento em
que ele, ou seus prepostos, recebem a coisa; termina quando é entregue ao destinatário, ou depositada em juízo, se
aquele não for encontrado.
Art. 752. Desembarcadas as mercadorias, o transportador não é obrigado a dar aviso ao destinatário, se assim não foi
convencionado, dependendo também de ajuste a entrega a domicílio, e devem constar do conhecimento de embarque as
cláusulas de aviso ou de entrega a domicílio.
De quando recebe até a entrega. Transportador não tem obrigação de informar ao destinatário que chegou,
nem de levar onde está, o contrato tem que ter previsão sobre isso. Nisso se aplica o CDC, diante do direito à
informação? Pelo diálogo das fontes, aplica o CC e o sujeito tem que ler o contrato e entender a sua previsão.
Para Gonçalves, a responsabilidade contratual do transportador pressupõe a formação de um contrato de
transporte, de modo que afasta essa responsabilidade quando se trata de um passageiro clandestino.
Quando o transportador recebe a coisa, há mescla de transporte com depósito, pois tem que zelar até chegar
ao destino previsto.
Art. 751. A coisa, depositada ou guardada nos armazéns do transportador, em virtude de contrato de transporte, rege-se,
no que couber, pelas disposições relativas a depósito.
Se o transportador chega ao local e não sabe se o destinatário é ele mesmo, deve o transportador entrar em
contato com remetente. Pergunta se entrega ou não. Ou então: destinatário não aparece, pergunta se é pra entregar pra
quem está lá. Remetente tem que autorizar, ou então devolve. Os custos da devolução são do remetente.
Art. 753. Se o transporte não puder ser feito ou sofrer longa interrupção, o transportador solicitará, incontinenti,
instruções ao remetente, e zelará pela coisa, por cujo perecimento ou deterioração responderá, salvo força maior.
§ 1o Perdurando o impedimento, sem motivo imputável ao transportador e sem manifestação do remetente, poderá
aquele depositar a coisa em juízo, ou vendê-la, obedecidos os preceitos legais e regulamentares, ou os usos locais,
depositando o valor.
§ 2o Se o impedimento for responsabilidade do transportador, este poderá depositar a coisa, por sua conta e risco, mas
só poderá vendê-la se perecível.
§ 3o Em ambos os casos, o transportador deve informar o remetente da efetivação do depósito ou da venda.
§ 4o Se o transportador mantiver a coisa depositada em seus próprios armazéns, continuará a responder pela sua guarda
e conservação, sendo-lhe devida, porém, uma remuneração pela custódia, a qual poderá ser contratualmente ajustada ou
se conformará aos usos adotados em cada sistema de transporte.
Entrega a quem indica, ou a local indicado. O contrato tem que ser lido para saber o que está sendo estipulado
ali.
Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em:

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I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não duráveis;
II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos duráveis.
Chegando a mercadoria ao destinatário, ele tem que verificar, se achar que não está regular, tem o prazo para
reclamar. O prazo de reclamação diante de acordo com o CDC para bens não duráveis é de 30 dias, para bens
duráveis, 90 dias. Esses prazos são contados a depender do tipo de vício: no caso de vício visível, no momento que
recebe; no caso de vício não visível, quando percebe.
Art. 754. As mercadorias devem ser entregues ao destinatário, ou a quem apresentar o conhecimento endossado, devendo
aquele que as receber conferi-las e apresentar as reclamações que tiver, sob pena de decadência dos direitos.
Parágrafo único. No caso de perda parcial ou de avaria não perceptível à primeira vista, o destinatário conserva a sua
ação contra o transportador, desde que denuncie o dano em dez dias a contar da entrega.
O CC diz sobre prazo de 10 – fica o prazo especial do CDC no caso de relação de consumo, se for contrato
entre empresários ou dois civis, fica o prazo estipulado pelo CC.
Se no decorrer do trajeto ocorre inundação, por ex., e o transportador não consegue passar adiante. O que o
transportador pode fazer é entrar em contato com o remetente, que será avisado, podendo vender a coisa para
protege-la a depender do gênero da coisa. Se for gênero alimentício perecível, por exemplo. Se não foi o
transportador que deu origem a situação, pode vender sim, muitas vezes precisa até vender. Depois da venda,
deposita o saldo em juízo. Se for algo não perecível, pode fazer depósito judicial até esperar como fazer depois.
Art. 755. Havendo dúvida acerca de quem seja o destinatário, o transportador deve depositar a mercadoria em juízo, se
não lhe for possível obter instruções do remetente; se a demora puder ocasionar a deterioração da coisa, o transportador
deverá vendê-la, depositando o saldo em juízo.
Ação de regresso pode ser demandada nos próprios autos da ação proposta por quem sofreu o dano.
Quanto a viagens internacionais, cabe observar a Convenção de Varsóvia, se acontecer problema indo ou de lá pra
cá, como atraso ou extravio, Europa tem tabela dizendo quanto se recebe, criando um teto limitador de indenização, o
que vai na contramão do CDC, que preconiza que havendo danos causados aos consumidores, o fornecedor deve
indenizá-los em sua integralidade. O Brasil não aceitava isso, teve decreto de 1931 que aplicava a reparação integral.
Infelizmente nos últimos anos o STJ e o STF passaram a entender que a convenção de Varsóvia tem que ser
aplicada, apesar da jurisprudência entender que tratados internacionais não se sobrepõem à CF. A Convenção de
Varsóvia entende que há uma responsabilidade subjetiva, com culpa presumida, do transportador aéreo, embora em
tribunais, na interpretação, tenham entendido que há responsabilidade objetiva ao transportador, não elidível nem
pela força maior. O fato do passageiro, seja concorrente ou exclusivo, pode atenuar ou elidir a responsabilidade do
transportador.

RESPONSABILIDADE CIVIL NOS CONTRATOS DE SEGURO


CONCEITO
Art. 757. Pelo contrato de seguro, o segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo
do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados.
Parágrafo único. Somente pode ser parte, no contrato de seguro, como segurador, entidade para tal fim legalmente
autorizada.
O contrato de seguro traz, de um lado, o interessado, do outro lado, a seguradora. Através do contrato de seguro
tem-se uma obrigação de garantia de um interesse legítimo: pode ser referente à pessoa ou coisa contra riscos
predeterminados mediante o pagamento do prêmio (mensalidade paga).
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ASPECTOS GERAIS
A seguradora não despreza o aspecto subjetivo, ou seja, quem deseja contratar. As peculiaridades de quem
deseja o seguro devem ser consideradas – analisando, assim, o risco objetivo ou subjetivo.
O mutualismo é a base econômica do seguro – é um fundo. Ao firmar seguro, paga-se, assim como várias
pessoas também. A seguradora vai recebendo e formando aquele fundo, assim, quando ocorre o sinistro, a seguradora não
vai pagar o valor pago por A de forma específica para pagar os custos – vai tirar o montante desse fundo. Por isso, a noção
de solidariedade – o seguro gera uma massa, fundo, e a solidariedade vai estar presente, pois o dinheiro que se paga para
o carro ter o seguro não é recebido de volta, compondo o fundo mútuo.
Os sujeitos contratuais são:
a) SEGURADO: que pode ser consumidor, ou não. Tem-se seguros como consumidores, mas uma empresa pode
ter um seguro para uma carga e ser transportada (não se constando consumidor).
b) SEGURADOR: só pode ser entidade legalmente autorizada (pelo próprio conceito do CC, art. 757, parágrafo
único). Pessoas jurídicas não autorizadas não podem adentrar no mercado, oferecendo seguros.
Quanto a prova do seguro, há previsão no CC.
Art. 758. O contrato de seguro prova-se com a exibição da apólice ou do bilhete do seguro, e, na falta deles, por
documento comprobatório do pagamento do respectivo prêmio.
Assim, ocorre por meio de exibição de apólice (contrato) ou bilhete do seguro, bem como documento
comprobatório de pagamento (acontece muito no seguro de saúde). O sujeito, muitas vezes, faz o contrato de seguro e
não recebe a apólice, podendo exibir o bilhete do seguro e, caso, não o tenha também, documento comprobatório de
pagamento.
A apólice do contrato de seguro também tem previsão no Código.
Art. 759. A emissão da apólice deverá ser precedida de proposta escrita com a declaração dos elementos essenciais do
interesse a ser garantido e do risco.
A apólice é declaração dos elementos essenciais do interesse de que se quer a proteção, além da indicação do
risco – esse contrato deve ser claro, sempre.
Art. 774. A recondução tácita do contrato pelo mesmo prazo, mediante expressa cláusula contratual, não poderá operar
mais de uma vez.
A recondução tácita do contrato é garantida apenas uma única vez, visto que protege o próprio segurado assim,
já que às vezes o objeto do seguro já foi alterado. Por isso, é preciso que depois da primeira renovação o segurado seja
ouvido.
Quanto ao co-seguro, este se opera diante da indicação do segurador administrador e representante.
Art. 761. Quando o risco for assumido em co-seguro, a apólice indicará o segurador que administrará o contrato e
representará os demais, para todos os seus efeitos.
Ex.: A firma um contrato de seguro com S1, porém a empresa comunica que participam também da contratação
S2, S3 e S4. O seguro feito por A é do valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais), acontecendo um imprevisto, o co-seguro
garante que cada empresa dessa fica responsável pelo pagamento de uma parte do valor.
DEVERES DO SEGURADO
Art. 762. Nulo será o contrato para garantia de risco proveniente de ato doloso do segurado, do beneficiário, ou de
representante de um ou de outro.
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Art. 763. Não terá direito a indenização o segurado que estiver em mora no pagamento do prêmio, se ocorrer o sinistro
antes de sua purgação.
Art. 764. Salvo disposição especial, o fato de se não ter verificado o risco, em previsão do qual se faz o seguro, não
exime o segurado de pagar o prêmio.
Art. 765. O segurado e o segurador são obrigados a guardar na conclusão e na execução do contrato, a mais estrita boa-
fé e veracidade, tanto a respeito do objeto como das circunstâncias e declarações a ele concernentes.
Art. 766. Se o segurado, por si ou por seu representante, fizer declarações inexatas ou omitir circunstâncias que possam
influir na aceitação da proposta ou na taxa do prêmio, perderá o direito à garantia, além de ficar obrigado ao prêmio
vencido.
Parágrafo único. Se a inexatidão ou omissão nas declarações não resultar de má-fé do segurado, o segurador terá
direito a resolver o contrato, ou a cobrar, mesmo após o sinistro, a diferença do prêmio.
Art. 767. No seguro à conta de outrem, o segurador pode opor ao segurado quaisquer defesas que tenha contra o
estipulante, por descumprimento das normas de conclusão do contrato, ou de pagamento do prêmio.
Art. 768. O segurado perderá o direito à garantia se agravar intencionalmente o risco objeto do contrato.
Assim, deve ter comportamento probo e haverá nulidade contratual diante de risco doloso, deve haver o
pagamento pontual do prêmio e a ocorrência de sinistro antes da purgação, entendendo que, havendo atraso, perde
a garantia. O pagamento do prêmio tem que ocorrer mesmo em caso de não verificação do risco, deve haver respeito à
boa-fé e não pode mentir/omitir circunstâncias (escondendo informações, quer seja sobre a coisa ou sobre a pessoa) –
caso o faça, há perda da garantia e obrigação ao prêmio vencido. Se não resultar de má-fé tal conduta, o segurador terá
direito de resolver o contrato ou a cobrar, mesmo após o sinistro, diferença do prêmio.
AGRAVAMENTO DO RISCO
Art. 769. O segurado é obrigado a comunicar ao segurador, logo que saiba, todo incidente suscetível de agravar
consideravelmente o risco coberto, sob pena de perder o direito à garantia, se provar que silenciou de má-fé.
§ 1o O segurador, desde que o faça nos quinze dias seguintes ao recebimento do aviso da agravação do risco sem culpa
do segurado, poderá dar-lhe ciência, por escrito, de sua decisão de resolver o contrato.
Assim, há possibilidade de resolução do contrato. A eficácia da resolução se dá após 30 dias da notificação, e
há restituição da diferença do prêmio.
DIMINUIÇÃO DO RISCO
Art. 770. Salvo disposição em contrário, a diminuição do risco no curso do contrato não acarreta a redução do prêmio
estipulado; mas, se a redução do risco for considerável, o segurado poderá exigir a revisão do prêmio, ou a resolução do
contrato.
Assim, não acarreta na redução do prêmio, porém, sendo considerável, o segurado pode exigir revisão do
prêmio ou resolução do contrato.
COMUNICAÇÃO DO SINISTRO
Art. 771. Sob pena de perder o direito à indenização, o segurado participará o sinistro ao segurador, logo que o saiba, e
tomará as providências imediatas para minorar-lhe as conseqüências.
Parágrafo único. Correm à conta do segurador, até o limite fixado no contrato, as despesas de salvamento conseqüente
ao sinistro.

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Assim, a regra é que o segurado deve fazer a comunicação logo que o saiba, vigorando a ideia da comunicação
imediata – isso para que se possa tomar as providências imediatas para minorar consequências negativas. Despesas
de salvamento consequentes ao sinistro são por conta do segurador.
PAGAMENTO DO PREJUÍZO
Art. 772. A mora do segurador em pagar o sinistro obriga à atualização monetária da indenização devida segundo
índices oficiais regularmente estabelecidos, sem prejuízo dos juros moratórios.
Mora do segurador: atualização monetária e juros moratórios.
Art. 773. O segurador que, ao tempo do contrato, sabe estar passado o risco de que o segurado se pretende cobrir, e, não
obstante, expede a apólice, pagará em dobro o prêmio estipulado.
Conhecimento do risco pelo segurador – acarreta em pagamento em dobro.
Art. 775. Os agentes autorizados do segurador presumem-se seus representantes para todos os atos relativos aos
contratos que agenciarem.
Caso de obrigação do pagamento em dinheiro.
OBRIGATORIEDADE DA COMUNICAÇÃO
Art. 787. No seguro de responsabilidade civil, o segurador garante o pagamento de perdas e danos devidos pelo
segurado a terceiro.
§ 1o Tão logo saiba o segurado das conseqüências de ato seu, suscetível de lhe acarretar a responsabilidade incluída na
garantia, comunicará o fato ao segurador.
VEDAÇÃO DO RECONHECIMENTO DA RESPONSABILIDADE PELO SEGURADO
Art. 787. No seguro de responsabilidade civil, o segurador garante o pagamento de perdas e danos devidos pelo
segurado a terceiro.
§ 2o É defeso ao segurado reconhecer sua responsabilidade ou confessar a ação, bem como transigir com o terceiro
prejudicado, ou indenizá-lo diretamente, sem anuência expressa do segurador.
No seguro de responsabilidade civil o segurador garante o pagamento de perdas e danos devidos pelo
segurado ao terceiro. Ex.: A tem um seguro com B, acontece de A bater no carro de C – A deve comunicar a seguradora.
Não se permite que A, mesmo que saiba que está errado, reconheça de forma expressa a sua responsabilidade. Isso foi o
problema se resolverá entre a seguradora e C. Evita o enriquecimento ilícito e o prejuízo desmedido para a
seguradora. Dessa forma, há proibição de confissão da ação.
Parece estranho, pois nesse caso específico, saímos de uma espécie de seguro e passamos para outra espécie.
Podemos ter o seguro em prol da coisa que lhe pertence e pode ser feito seguro de responsabilidade civil em face de
danos que a pessoa venha causar a terceiros. Por isso, no seguro de responsabilidade civil a pessoa garante o
pagamento de perdas e danos devidos ao terceiro pelo segurado. Aqui, a pessoa faz um contrato de seguro para o caso de a
pessoa causar danos para terceiros.
Qual a interpretação desse parágrafo? Temos o segurado e a seguradora. O segurado causa um dano para alguém.
Digamos que esse alguém seja B. No §2º é defeso ao segurado reconhecer ou confessar responsabilidade na ação proposta
por B, bem como transigir com B ou pagar diretamente a B. Se esse sujeito gera um dano para aquele, o CC diz que a
pessoa não pode reconhecer a responsabilidade sem anuência da seguradora para evitar o conluio entre o segurado
e a seguradora. Por isso a regra parece estranha, mas estamos falando de outra espécie de seguro. É o seguro de
responsabilidade civil em face de terceiros.

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Assim, é defeso transigir com o terceiro prejudicado ou indenizá-lo diretamente, sem anuência expressa do
segurador. Intentada a ação contra o segurado, dará este ciência da lide ao segurador. Subsistirá a responsabilidade
do segurado perante o terceiro, se o segurador for insolvente.
PAGAMENTO DA INDENIZAÇÃO
SUB-ROGAÇÃO DO SEGURADOR
O segurador se sub-roga com relação aos direitos que estariam ali envolvidos.
Art. 786. Paga a indenização, o segurador sub-roga-se, nos limites do valor respectivo, nos direitos e ações que
competirem ao segurado contra o autor do dano.
Essa regra se aplica ao seguro de dano. Temos a responsabilidade civil em face do seguro de dano e temos
agora a responsabilidade civil perante terceiros. Essa regra aqui que fala que havendo pagamento da indenização pela
seguradora, ela sub-roga-se nos direitos daquela situação concreta. Se aplica a responsabilidade civil do seguro de dano,
pois a seguradora se sub-roga contra o autor do dano.
Situação em que há seguradora e o segurado e tem alguém, B, que vai causar um dano para o carro/casa do
segurado. A seguradora vai pagar o valor do dano gerado por B. Ele causa um dano para o bem do segurado. A
seguradora paga ao segurado o valor do dano e se sub-roga no direito de cobrar o valor do dano a B . Por que a
gente não aplica aqui? Quando a gente faz esse tipo de contrato aqui temos uma seguradora e o segurado. Este causa o
dano para B que é a vítima. Quando a seguradora paga o valor de B, ela não se sub-roga em nada, pois ela está
pagando algo atinente á conduta do segurado.
A seguradora sub-roga-se em face de terceiro, mas se for parente de segurado, cônjuge, ascendente, descendente,
filho, avó, avô, mãe do segurado, não vai haver sub-rogação, pois deve-se observar as regras do direito de família.
CONTRATO DE SEGURO DE COISA
SEGURO DE DANO
Art. 778. Nos seguros de dano, a garantia prometida não pode ultrapassar o valor do interesse segurado no momento da
conclusão do contrato, sob pena do disposto no art. 766, e sem prejuízo da ação penal que no caso couber.
Assim, a garantia prometida não pode ultrapassar o valor do interesse – qual seja, o valor da coisa.
Art. 779. O risco do seguro compreenderá todos os prejuízos resultantes ou conseqüentes, como sejam os estragos
ocasionados para evitar o sinistro, minorar o dano, ou salvar a coisa.
Quando a abrangência.
Art. 780. A vigência da garantia, no seguro de coisas transportadas, começa no momento em que são pelo transportador
recebidas, e cessa com a sua entrega ao destinatário.
Seguro de coisas transportadas: a vigência dessa garantia começa no momento em que as coisas são recebidas
pelo transportador, cessando no momento em que chega ao destinatário.
Art. 784. Não se inclui na garantia o sinistro provocado por vício intrínseco da coisa segurada, não declarado pelo
segurado.
Parágrafo único. Entende-se por vício intrínseco o defeito próprio da coisa, que se não encontra normalmente em outras
da mesma espécie.
Se trata do vício intrínseco, aquele que não se inclui se não declarado pelo segurado.

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CONTRATO DE SEGURO DE PESSOA
ESPÉCIES
SEGURO DE VIDA
O primeiro é o seguro de vida, pois sabemos que o ser humano tem certeza que vai morrer. Pode ter prazo
limitado ou ser por toda a vida. Quando for fazer esse seguro, a pessoa quer deixar o valor que fique para alguém ou quer
fazer um seguro que tenha essa vigência enquanto viver? Deve-se olhar no contrato. Temos o direito de ser informados.
Temos o direito de ser informados e temos o dever de se informar. Os italianos afirmam hoje a despersonalização do
contrato, porque quem é que sabe que, no momento de fazer o contrato, a pessoa foi informada que o contrato era restrito
a acidentes de trânsito? O fato de ele viajar muito, no momento da realização do contrato, foi dito. A pessoa com outro
problema vai a óbito. É preciso saber como o seguro foi feito, quais as informações prestadas. É possível ir para a justiça.
Depende do teor do diálogo. A pessoa pediu um contrato mais amplo e depois veio tomar conhecimento que o conteúdo
era restrito.
Assim, se categoriza em seguro de vida por prazo limitado ou seguro de vida por toda vida do segurado.
Art. 796. O prêmio, no seguro de vida, será conveniado por prazo limitado, ou por toda a vida do segurado.
Parágrafo único. Em qualquer hipótese, no seguro individual, o segurador não terá ação para cobrar o prêmio vencido,
cuja falta de pagamento, nos prazos previstos, acarretará, conforme se estipular, a resolução do contrato, com a
restituição da reserva já formada, ou a redução do capital garantido proporcionalmente ao prêmio pago.
SEGURO DE ACIDENTES PESSOAIS
Seria o caso de acidentes pessoais. Pode ser estipulado por:
POR PESSOA FÍSICA EM PROL DE UM SUJEITO OU INDIVÍDUOS
Pode ser uma pessoa física, qualquer um, o pai ou a mãe, para ele ou para outra pessoa, indicando os
beneficiários. Pode ser feito contrato para as filhas da pessoa. Pode ter um contrato de seguro a depender o que queira a
pessoa para os seus parentes.
POR PESSOA FÍSICA OU JURÍDICA EM PROVEITO DE GRUPO (ART. 801)
Art. 801. O seguro de pessoas pode ser estipulado por pessoa natural ou jurídica em proveito de grupo que a ela, de
qualquer modo, se vincule.
§ 1o O estipulante não representa o segurador perante o grupo segurado, e é o único responsável, para com o segurador,
pelo cumprimento de todas as obrigações contratuais.
§ 2o A modificação da apólice em vigor dependerá da anuência expressa de segurados que representem três quartos do
grupo.
Podemos ter uma empresa como a COELBA que tem contrato de seguro de vida assim como contrato referente a
acidentes pessoais para seus funcionários e funcionários aposentados. É possível que seja uma pessoa física, mas podemos
ter uma pessoa jurídica. Pode ser só empresa? Podemos ter uma associação e uma fundação para os vinculados da
associação ou os que façam parte da fundação. Se a pessoa pede demissão, para o seguro de vida ou de acidentes
pessoais, se a pessoa se aposenta, vai depender do que está na apólice. Em regra, perde. Mas se a pessoa sai da
empresa, acaba o benefício. Se for plano de saúde, a professora defende que é inconstitucional o artigo da lei do plano de
saúde que versa quanto ao fato de que a pessoa quando é demitida perde o plano de saúde. Seguro de vida não afeta
nada da herança. Ele não pode ser usado para o pagamento da dívida daquele que morreu.

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OBRIGAÇÕES DO ESTIPULANTE
ÚNICO RESPONSÁVEL PERANTE O SEGURADOR
A gente tem uma empresa e ela fez um seguro de vida ou para acidentes pessoais para seus empregados que são
vários. Ele é responsável perante o segurador. A seguradora não pode cobrar dos empregados, em caso de
inadimplemento. Ela vai ter que entrar com uma ação contra a empresa, contra o estipulante. Lembremos da
chamada estipulação em favor de terceiros. A empresa estipula em nome de terceiros segurados, mas o único responsável
perante o segurador para o pagamento é a empresa. Se a empresa tiver inadimplente pode ocorrer perda do montante
referente ao sinistro. E aí? O que fazer? Temos decisões dos tribunais que reconhecem que o terceiro não tem nada a ver
com aquilo. A seguradora paga o valor referente ao seguro de vida e depois entra com ação contra o estipulante
cobrando o dinheiro. Mas também há decisões em sentido contrário, dizendo que o beneficiário acaba perdendo.
MODIFICAÇÃO DE CONTRATO
É preciso solicitar a anuência de ¾ o grupo. Outro problema que aconteceu com a COELBA. Muitos idosos
procuraram o MP, questionando que tinha um seguro de vida feito pela Coelba em prol dos funcionários e que houve
modificação na apólice através de um acordo entre Coelba e a seguradora. Em caso de modificação do contrato, deve
haver anuência de ¾ dos beneficiários. Capital segurado: liberdade de estipulação.
Art. 789. Nos seguros de pessoas, o capital segurado é livremente estipulado pelo proponente, que pode contratar mais
de um seguro sobre o mesmo interesse, com o mesmo ou diversos seguradores.
Quanto posso dizer que minha vida vale? É diferente, pois aqui posso fazer inúmeros seguros. Posso fazer mais
do que um seguro para a coisa desde que o seguro total não ultrapasse o valor do mercado . Aqui há a liberdade
quanto à estipulação desse capital. Posso inclusive ter mais de um seguro de vida com a mesma seguradora.
REEMBOLSO DE DESPESAS HOSPITALARES/TRATAMENTO MÉDICO/CUSTEIO DAS DESPESAS DE LUTO E
DE FUNERAL (ART. 802)
Art. 802. Não se compreende nas disposições desta Seção a garantia do reembolso de despesas hospitalares ou de
tratamento médico, nem o custeio das despesas de luto e de funeral do segurado.
Temos o segurado e a seguradora. O segurado sofre um atentado e morre. Quem causou isso foi B, quem tem que
pagar os valores do tratamento médico enquanto o segurado tiver vivo, o luto e o funeral? B. O seguro não é destinado
para isso. O dinheiro é usado pelo segurado para outros fins e não para isso. Quem vai ter que pagar é o causador do
dano e nesse caso aqui é B. É o outro ponto polêmico. Possibilidade de contratação de mais de um seguro sobre o mesmo
interesse, com o mesmo ou diversos seguradores.
SEGURO SOBRE A VIDA DE OUTROS
OBRIGATÓRIA DECLARAÇÃO DE INTERESSE
Art. 790. No seguro sobre a vida de outros, o proponente é obrigado a declarar, sob pena de falsidade, o seu interesse
pela preservação da vida do segurado.
Parágrafo único. Até prova em contrário, presume-se o interesse, quando o segurado é cônjuge, ascendente ou
descendente do proponente.
Quando se faz um seguro para a família, marido, filho, o código civil pede que se declare o interesse de preservar
a vida da pessoa.
PRESUNÇÃO: CÔNJUGE, ASCENDENTE OU DESCENDENTE DO PROPONENTE
Quando se trata de marido, mãe, filho, a presunção existe, mas se tratando de um parente, realmente, precisa-se
registrar na apólice.

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SUBSTITUIÇÃO DO SEGURADO
Art. 791. Se o segurado não renunciar à faculdade, ou se o seguro não tiver como causa declarada a garantia de alguma
obrigação, é lícita a substituição do beneficiário, por ato entre vivos ou de última vontade.
Parágrafo único. O segurador, que não for cientificado oportunamente da substituição, desobrigar-se-á pagando o
capital segurado ao antigo beneficiário.
É feito um seguro hoje em prol da filha da pessoa, colocando no seguro “caso venha a falecer, minha filha será
beneficiada”, mas no decorrer da contratação, pretendo substituir minha filha. Posso substituir se eu avisar ao
segurador. Se não aviso, vamos enfrentar um problema.
AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO DO BENEFICIÁRIO
Art. 792. Na falta de indicação da pessoa ou beneficiário, ou se por qualquer motivo não prevalecer a que for feita, o
capital segurado será pago por metade ao cônjuge não separado judicialmente, e o restante aos herdeiros do segurado,
obedecida a ordem da vocação hereditária.
Parágrafo único. Na falta das pessoas indicadas neste artigo, serão beneficiários os que provarem que a morte do
segurado os privou dos meios necessários à subsistência.
CASO DE CÔNJUGE, COMPANHEIRO E HERDEIROS DO SEGURADO
Art. 793. É válida a instituição do companheiro como beneficiário, se ao tempo do contrato o segurado era separado
judicialmente, ou já se encontrava separado de fato.
Se a pessoa não indicar ninguém, quem vai receber é o cônjuge, ou companheiro, ou os herdeiros, de
acordo com a ordem de vocação hereditária.
Parágrafo único. Na falta das pessoas indicadas neste artigo, serão beneficiários os que provarem que a morte do
segurado os privou dos meios necessários à subsistência.
Se a pessoa que morre não tiver ninguém, o CC pede para que dê o dinheiro para a pessoa que sobrevivia de
acordo com o que ganhava a pessoa que faleceu.
NULIDADE DE TRANSAÇÃO PARA PAGAMENTO REDUZIDO
Art. 795. É nula, no seguro de pessoa, qualquer transação para pagamento reduzido do capital segurado.
Não pode haver algum pacto entre segurada e segurador ou entre terceiros para reduzir o valor . Qualquer
conchavo nesse meio o CC considera como nulo. Isso pois a boa-fé deve estar presente.
LICITUDE DO PRAZO DE CARÊNCIA EM SEGURO DE VIDA
Art. 797. No seguro de vida para o caso de morte, é lícito estipular-se um prazo de carência, durante o qual o segurador
não responde pela ocorrência do sinistro.
Parágrafo único. No caso deste artigo o segurador é obrigado a devolver ao beneficiário o montante da reserva técnica
já formada.
Pode se estabelecer um prazo de carência, o CC é expresso.
NÃO INCIDÊNCIA DE DÍVIDAS DO SEGURADO
Art. 794. No seguro de vida ou de acidentes pessoais para o caso de morte, o capital estipulado não está sujeito às
dívidas do segurado, nem se considera herança para todos os efeitos de direito.
Assim, não envolvendo a herança, nem tampouco dívidas.
Em caso de suicídio nos 2 anos iniciais, se configura a hipótese de ausência de direito.
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Art. 798. O beneficiário não tem direito ao capital estipulado quando o segurado se suicida nos primeiros dois anos de
vigência inicial do contrato, ou da sua recondução depois de suspenso, observado o disposto no parágrafo único do
artigo antecedente.
Parágrafo único. Ressalvada a hipótese prevista neste artigo, é nula a cláusula contratual que exclui o pagamento do
capital por suicídio do segurado.
A pessoa não recebe nada. Isso é justo? Sergio Cavalieri diz que não obstante o CC estabeleça, se o juiz quiser
aplicar essa regra de forma pura, de forma positivista, sem uma análise sobre o aspecto crítico, o juiz pode. Ele traz
decisões de diversos lugares do Brasil, muitos tribunais, incluindo os do Rio de Janeiro mostrando que é possível se
averiguar se aquela morte foi premeditada ou não. Não havendo demonstração de premeditação, mesmo o CC
estabelecendo os 2 anos, é possível estabelecer que a seguradora pague. É complicado, pois há muita gente com
depressão. O STJ ainda não pacificou a questão.
MORTE OU INCAPACIDADE DIANTE DE UTILIZAÇÃO
Art. 799. O segurador não pode eximir-se ao pagamento do seguro, ainda que da apólice conste a restrição, se a morte
ou a incapacidade do segurado provier da utilização de meio de transporte mais arriscado, da prestação de serviço
militar, da prática de esporte, ou de atos de humanidade em auxílio de outrem.
A seguradora não pode se eximir da responsabilidade de aplicar o pagamento do valor do seguro em caso de
morte ou acidentes pessoais envolvendo uma dessas hipóteses:
a) meio de transporte mais arriscado. A seguradora não pode se negar a fazer o contrato se a pessoa fizer uso de
transporte mais arriscado.
b) prestação de serviço militar. Ela não pode se negar para alguém que preste serviço militar ou PM ou que seja
do corpo de bombeiros.
c) prática de esporte. O sujeito que pratica artes marciais ou quaisquer outras atividades desportivas, esse sujeito
não pode ser excluído do sistema de seguros, mas o valor do premio vai ser avaliado com a situação.
d) atos de humanidade em auxílio de outrem. Aquelas que viajam de forma frequente, que são da cruz
vermelha, aquelas que trabalham com auxílio em guerras, batalhas, em comoções, em situações que vocês observam que
aquele sujeito que não pode ser excluído.
SUB-ROGAÇÃO
IMPOSSIBILIDADE DE SUB-ROGAÇÃO
Art. 800. Nos seguros de pessoas, o segurador não pode sub-rogar-se nos direitos e ações do segurado, ou do
beneficiário, contra o causador do sinistro.
Parece estranho, pois ato de renovação em face do seguro envolvendo dano. No caso do seguro de pessoa que
mata a outra e a seguradora paga o seguro para os indicados da apólice, quem pode entrar com uma ação? A
responsabilidade civil tem dano ricochete. São os herdeiros que podem entrar.
SEGURO OBRIGATÓRIO
DPVAT é um seguro obrigatório, estabelecido na lei. Essa lei estabelece o seguro obrigatório, que é aquele que
envolve determinadas atividades que envolvem risco. Ex: se pego um avião porque trabalho para um empresa ou se estou
trabalhando em uma construção, a construtora ou incorporadora deve contratar um seguro não só para os trabalhadores,
mas para aqueles que estão passando por ali. São os chamados transeuntes.

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Empréstimos e bens dados em garantia de empréstimos ou financiamento de pessoas financeiras. Ex: pessoa quer
um empréstimo da Caixa econômica e dá como garantia a casa dele. Necessariamente ele está num seguro obrigatório,
pois ele está lidando com financiamento perante instituição público com apresentação de bem como garantia.
O seguro obrigatório envolve todo imóvel construído. A parte de construção civil toda. Serviço de
transporte, transporte terrestre, transporte aéreo, todo tipo de transporte envolve seguro obrigatório. Carro tem que
ter DPVAT. Temos o Decreto lei 73/66 que estipula as regras nacionais do sistema nacional de seguros privados.
ESPÉCIES (ART. 20, DECRETO-LEI 73/66 E ART. 788 CC)
Art. 788. Nos seguros de responsabilidade legalmente obrigatórios, a indenização por sinistro será paga pelo segurador
diretamente ao terceiro prejudicado.
Parágrafo único. Demandado em ação direta pela vítima do dano, o segurador não poderá opor a exceção de contrato
não cumprido pelo segurado, sem promover a citação deste para integrar o contraditório.
a) danos pessoais a passageiros de aeronaves comerciais
b) proprietário de aeronaves e do transportador aéreo
c) construção de imóveis em zonas urbanas
d) bens dados em garantia de empréstimos ou financiamentos de instituições financeiras pública
e) obrigações do incorporador e construtor de imóveis;
f) garantia do pagamento a cargo de mutuário da construção civil;
g) edifícios divididos em unidades autônomas;
h) incêndio e transporte de bens pertencentes a pessoas jurídicas, situados no País ou nele transportados;
i) crédito à exportação;
j) danos pessoais causados por veículos automotores de vias terrestres e por embarcações;
l) responsabilidade civil dos transportadores terrestres, marítimos, fluviais e lacustres, por danos à carga
transportada.
AULA 9 – 23/11/2018

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO


ASPECTOS GERAIS
Estudamos no início do curso que a responsabilidade civil do Estado está atrelada a questão do exercício do poder
de polícia dos chamados atos de império. Os contratos firmados entre administração pública e aqueles que lhes prestam
serviços não iremos falar, mas questões de fiscalização, desapropriação, servidões e outros aspectos referentes a
atuação do Estado com a comunidade/público nos interessam. Historicamente, na fase inicial da história da
humanidade, com o Estado, o Estado era inicialmente considerado irresponsável: “o Estado sou eu”, afirmavam os reis
e imperadores. Vigorava o princípio da irresponsabilidade absoluta do Estado (The King can do no wrong). O rei não
errava, havendo a total irresponsabilidade do poder público. Entretanto, observamos com o passar do tempo, um
questionamento da população sobre a máxima de que o Estado seria irresponsável, visto ser detentor de poder político e
nos cobrar impostos e prestar serviços como saúde e educação.
A partir da irresponsabilidade, surge a teoria da responsabilidade subjetiva do servidor, e não do Estado.
Saímos da irresponsabilidade total para enxergarmos o Estado como responsável, mas não enquanto pessoa jurídica
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estatal, mas o servidor. Não resolvia o problema: os servidores não tinham dinheiro, podiam ser responsabilizados,
mas não adiantava nada – e os cidadãos continuavam prejudicados.
Chegamos então a responsabilidade subjetiva do Estado: passa a ser analisado por ótica de postura negligente,
imprudente e imperita. Era muito difícil provar que o Estado estava errado. Em 1876, surge o arresto branco, que
foi uma decisão da França no sentido de que o Estado deveria ser responsabilizado por ter permitido que fabricas
fossem instaladas em povoados e gerasse poluição e prejuízos para a população. Surge pela primeira vez uma decisão
voltada para a responsabilização do Estado, mesmo que por ótica subjetiva, havendo necessidade de provar.
Em 1944, nos EUA, encontramos a primeira decisão do sistema norte americano entendendo que o Estado
deveria ser responsabilizado mesmo que a posteriori fizesse ação de regresso contra o servidor, mas não poderia
quedar-se inerte. Em 1946, vem o sistema inglês, na Câmara dos Lordes, que reconhece a responsabilidade civil estatal
diante de práticas consideradas indevidas.
A partir da década de 60 vem a responsabilização objetiva. Acidentes envolvendo pessoas, cidadãos, no que diz
respeito ao próprio Estado (cavando poços, confeccionando estruturas para estradas, etc.). Vem a teoria do órgão, de Otto
von Gierk. Os órgãos existem, preenchidos por seres humanos, mas a execução das atividades por essas pessoas está
interligada com o ente maior, que é o poder público que pode depois cobrar do servidor/agente, mas deve ser
responsabilizado.
É a partir dessa teoria que se entende que a ação de indenização, proposta pela vítima, pode ter como sujeito
passivo o próprio agente público ou mesmo o Estado. Isso porque age aquele como elemento ativo do órgão de um
mecanismo moral, cuja formação e exteriorização da vontade depende dele para atuar.
O Brasil, na etapa colonial, copia a estrutura legislativa de Portugal, bem como a irresponsabilidade do
Estado. A partir do momento que temos a primeira Constituição, de 1824, já há preocupação de buscar atribuir
responsabilidade ao poder público. A de 1891 avança um pouco reconhecendo a responsabilidade do Estado voltada
para o ente abstrato, e não de forma objetiva. A de 1946 tem o art. 194 estabelecendo a responsabilidade do Estado não
de forma objetiva, mas de modo mais específico. A responsabilidade objetiva, art. 37, paragrafo 6 da CF/88.
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também,
ao seguinte: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)
[...] § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão
pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o
responsável nos casos de dolo ou culpa.
Não é somente funcionário público concursado, mesmo os atos cometidos por aqueles em cargos temporários,
estágios probatórios, funções temporárias em nome do Estado: suscita a responsabilização do poder público. Não se
exige comportamento culposo do funcionário – basta que haja o dano, causado por agente do serviço público agindo
nessa qualidade, para que decorra o dever do Estado de indenizar. Essa responsabilidade abrange as autarquias e as
pessoas jurídicas de direito privado que exerçam funções delegadas do Poder Público, como as permissionárias e
concessionárias de serviço público.
Diz Gonçalves que a CF adotou a teoria da responsabilidade objetiva do Poder Público, mas sob a modalidade
do risco administrativo. Desse modo, pode ser atenuada a responsabilidade do Estado, provada a culpa parcial e
concorrente da vítima, e até mesmo excluída, provada a culpa exclusiva da vítima. Em outras palavras, o Estado
responde sempre perante a vítima, independentemente de culpa do servidor, respondendo este perante o Estado
em se provando que procedeu culposa ou dolosamente. Entretanto, isso não quer dizer que o Estado é responsável

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em qualquer circunstância, aplicando-se no que couber, as excludentes de responsabilidade, podendo a culpa da
vítima afastar ou diminuir essa responsabilidade.
Pode estar vinculada a atos do poder legislativo, executivo e judiciário. Atos legislativos: temos omissões, a
falta de lei, a falta de norma, pode acarretar na responsabilização do Estado. ex.: proteção de dados pessoais, não
tinha lei antes, havia omissão de normas protetivas para situações relativas a isso. Ex.2: greves de servidores públicos, não
temos legislação. Parlamentares: possuem imunidades, mas a depender da postura desses sujeitos, no art. 23 da CF/88, e
58 também, previsão de responsabilização pelos seus atos e palavras.
Lei inconstitucional: agência nacional de saúde complementar; havia exame importante que não era regulado por
norma ou resolução que obrigasse as operadoras a custear esses exames. Havia, então, por parte da agência reguladora e
por parte do legislativo, uma omissão. Ou, havendo resolução permitindo que não custeiem, pode pleitear
inconstitucionalidade. A lei quando traz efeitos abstratos/amplos, dificilmente vamos poder questionar a sua
inconstitucionalidade, mas existem leis que podem trazer efeitos concretos. Lei em 97 determinando a obrigatória
aquisição do kit de primeiros socorros nos carros. Vem resolução 42/98 – empresa importou milhares de kits e a resolução
não manteve a obrigatoriedade. A empresa que fez a importação propôs ação contra a União alegando que sofreu
prejuízos concretos porque importou os kits diante da obrigatoriedade. STF: não haveria responsabilidade do
Estado, e que era possível estabelecer obrigatoriedade para conduta e a posteriori ocorrer modificação.
Sob a ótica ampla, é possível questionar a inconstitucionalidade, mas é mais difícil quando há lei de prefeito x da
cidade y, designando pessoas que passaram em concurso – na concretude, é mais fácil questionar a falta de harmonização
com a CF ou CE. Em resumo, o Estado responde civilmente por danos causados aos particulares pelo desempenho
inconstitucional da função de legislar.
Assim, existe responsabilidade do Estado por:
a) COMPORTAMENTO COMISSIVO: os danos são causados pelo Estado. A responsabilidade do Estado
é objetiva, ou seja, para que esta ocorra, basta o nexo causal entre a atuação e o dano por ela produzido. Não
se cogita de licitude ou ilicitude, dolo ou culpa.
b) COMPORTAMENTO OMISSIVO: aqui, a responsabilidade do Estado é subjetiva, ou seja, requer
procedimento contrário ao Direito, doloso ou culposo. Estado responde por omissão quando, devendo agir,
não o fez, incorrendo no ilícito de deixar de obstar àquilo que podia impedir e estava obrigado a fazê-lo.
No que tange o poder judiciário, quando a doutrina (Carlos Roberto Gonçalves) trata disso, não podemos
esquecer do MP também. Podemos ter atos gerais mas também atos privativos dos magistrados. Dentre os atos privativos
dos magistrados temos as sentenças, que finalizam a lide/processo. Decisões interlocutórias são as decisões não definitivas
que tratam de aspectos preliminares do processo. Como se responsabiliza o magistrado? Existem erros in judicando, que
são os que tratam de aspectos referentes a matéria, ao conteúdo da decisão. Existem erros in procedendo, prazos
extrapolados, por ex. Se o juiz erra, art. 37 parágrafo 6, responsabilidade objetiva do Estado.
Assim, a antiga tese de irreparabilidade do prejuízo causado pelo ato judicial danoso vem, aos poucos,
perdendo terreno para a da responsabilidade objetiva, que independe de culpa do agente, consagrada na CF.
Há autor francês que diz que a falha pode ser por falta do serviço público ou então por serviço público
prestado de forma ineficiente, e que gera prejuízos para a população (Paul Duer). Assim, existem pessoas que caem em
bueiros, passam em buracos e perdem pneus. Existem sistemas de serviço público educacional e de saúde ineficaz. Vírus,
viroses, sarampo, desrespeito de médicos no serviço público. Caso do ar condicionado que pegou fogo: responsabilidade
objetiva da União. Pontes, viadutos que desabam.
Para Joseane, o Estado não tem responsabilidade subsidiária. Há nova lei, código dos direitos dos usuários de
serviços públicos. Empresas de água, energia elétrica, etc.: se agem de forma arbitrária, o Estado deve agir.
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A doutrina de Carlos Roberto Gonçalves afirma que o policial, ainda que não em serviço, se tem porte de arma
e age de forma indevida ainda que a paisana, a responsabilidade é do Estado. Bala perdida: tem que responsabilizar
o Estado, que tem dever de segurança.
Os serviços prestados por notários e tabeliões, para obter registros ou documentos. Se há fraude, tratamento
ruim, algo que prejudique: a responsabilidade, nesse caso, segundo cf art. 236, há lei de 94. 8935, que traz art. que
estabelece que a responsabilidade desses profissionais é objetiva e pessoal.
Art. 236. Os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público.
(Regulamento)
§ 1º Lei regulará as atividades, disciplinará a responsabilidade civil e criminal dos notários, dos oficiais de registro e de
seus prepostos, e definirá a fiscalização de seus atos pelo Poder Judiciário.
A pergunta que se faz é se essa lei é satisfatória ou poderia também responsabilizar o Estado. O que o cartório
cobra seria tributo, segundo jurisprudência: então, como a responsabilidade é objetiva e pessoal e não pode
responsabilizar também o Estado?

RESPONSABILIDADE CIVIL BANCÁRIA


Temos sistema financeiro nacional. Podemos falar em resoluções do Conselho Monetário Nacional executadas
pelo Banco Central. O sistema financeiro é composto pelas seguintes entidades:
1) Conselho Monetário Nacional, que edita a política nacional sobre finanças;
2) Banco Central do Brasil, agente gestor da política;
3) Banco nacional de desenvolvimento econômico e social;
4) Banco do Brasil, que serve como fornecedor, mas atua como agente do tesouro nacional; e,
5) Instituições públicas e privadas do ramo.
Bancos surgem na Idade Média, na Itália, quando as trocas passaram a ficar retidas nos espaços dos feudos. Com
a queda dessa etapa, quando há a situação da presença da burguesia, revolução francesa, iluminismo, voltam as trocas e
surge em Florença bancas que ficavam nas praças em que as pessoas trocavam moedas e recursos naturais. Sérgio Covero,
autor brasileiro, traz sobre isso. Cartão de crédito, 1930, EUA. Cartões de credenciamento são, para alguns, prévia dos
cartões de crédito.
É possível falar em um contrato financeiro, quando se chega num banco para abrir conta ou tomar empréstimo.
Seu conceito, de contrato bancário, tem três concepções. A subjetiva ou subjetivista que defendia que eram aqueles
configurados com a presença do banco: isso não resolvia, porque banco faz outros contratos, tem energia elétrica, água,
telefone, etc., e isso não é contrato bancário. O banco estar presente não configura. Vem a concepção objetiva ou
objetivista: contrato bancário é o que envolve crédito, embora caibam críticas: o banco pode não dar crédito, pode
estar depositando dinheiro. Vem a terceira concepção, mista ou sincrética, contrato bancário é todo contrato jurídico
que tem presença de instituição financeira (não só banco, seguradora, empresas de cambio) e há aporte financeiro
(banco passando para pessoa, ou pessoa levando para o banco). Não envolve dinheiro necessariamente sempre, pode
envolver documento, joia, etc.
Podem as operações serem passivas quando alguém faz uma caderneta de poupança. Uma operação ativa é
aquela através da qual há aporte financeiro do banco para você, cartão de crédito, débito, conta corrente, cheque
especial, empréstimo, financiamento, o banco que está dando determinado montante. Uma operação acessória ou neutra
é a que não envolve necessariamente dinheiro, ex.: escola, banco para cobrar boletos, receber pagamentos dos alunos.
Quer trocar real por dólar, banco pode fazer isso. Quer guardar joia, custodiar documento. Operações neutras.

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Os principais problemas envolvendo as instituições financeiras são as práticas abusivas, dentre os demais a
seguir.
1) Inadimplência: por parte de quem não paga e do governo, principalmente. Questão do
superendividamento: problema estrutural, não conjuntural. Para ser superendividado, a pessoa deve estar
de boa-fé. Quem passa perna em empresa porque não quis ou porque quer lesar, não pode ser considerado. É
preciso que a pessoa não tenha condições de arcar com despesas essenciais para a sua sobrevivência
(água, energia, educação, transporte, etc.). Brasileiro está cada vez mais endividado, o que não quer dizer
superendividado. Há projeto de lei com plano de atuação para que todos os credores sejam chamados ao
mesmo tempo para discutir as dívidas do devedor. No Brasil só temos insolvência civil. Brasil copia sistema
norte-americano mesclado com o Francês. Brasileiro é malvisto, pretensos inadimplentes. O principal
problema é a inadimplência.
2) Informação e transparência: haver tabela com informação de tamanho pequeno e sem clareza, não adianta
nada. A redação deve ser clara e o banco deve ser transparente. Existe a situação de cobranças arbitrárias
ainda.
3) Desrespeito ao equilíbrio contratual e à boa-fé : já estudamos a teoria da imprevisão, quando temos fato
extraordinário como o caso do atraso salarial e do desemprego, art. 373 e 478 do CC. Pode haver
inadimplência porque atrasou mesmo, ou por qualquer outro motivo. Na Alemanha surge teoria da base
objetiva do negócio jurídico, que pode ajudar a examinar a onerosidade excessiva ou vantagem exagerada.
O Brasil tinha artigo 192, parágrafo 3, que limitava os juros reais ou remuneratórios a 1% ao mês, tinha total
de 12% ao ano. Hoje: 400% ao ano, ano passado quase 500 – o art. foi modificado pela emenda constitucional
40. Não se trabalha mais com cheque. Há súmula 596, STF (As disposições do Decreto 22.626/1933 não se
aplicam às taxas de juros e aos outros encargos cobrados nas operações realizadas por instituições públicas
ou privadas, que integram o Sistema Financeiro Nacional), que afirma que não aplicamos a lei da usura
(decreto 22.626/33) aos bancos. O STJ, com o enunciado 382 (A estipulação de juros remuneratórios
superiores a 12% ao ano, por si só, não indica abusividade) entende que juros acima de 12% também são
admissíveis. Capitalização de juros: é algo que pode? São os juros sobre juros, juros compostos. Na prática,
não existe juros simples. Art. 591, CC (Art. 591. Destinando-se o mútuo a fins econômicos, presumem-se
devidos juros, os quais, sob pena de redução, não poderão exceder a taxa a que se refere o art. 406,
permitida a capitalização anual.): Permite juros compostos desde que não seja inferior a um ano. A
proibição é inferior a um ano, mas depois de um ano pode. Comissão de permanência: está dentre essas
situações. Pode ocorrer. Há autor, Márcio de Mello Casado: bom na questão dos bancos. Questão de juros:
Pedro Scanone. Comissão de permanência: valor cobrado para continuar usando o serviço do banco.
Multa de mora não pode ser superior a 2%. Enunciado 294 STJ (Não é potestativa a cláusula contratual
que prevê a comissão de permanência, calculada pela taxa média de mercado apurada pelo Banco Central
do Brasil, limitada à taxa do contrato.): entende como admissível a comissão de permanência. O 296 do
STJ (Os juros remuneratórios, não cumuláveis com a comissão de permanência, são devidos no período de
inadimplência, à taxa média de mercado estipulada pelo Banco Central do Brasil, limitada ao percentual
contratado.) diz que a comissão de permanência não pode ser somada com juros remuneratórios, mas
pode com juros moratórios. Enunciado 30, STJ (A comissão de permanência e a correção monetária são
inacumuláveis.): comissão de permanência não pode somar com correção monetária. STJ, súmula 381
(Nos contratos bancários, é vedado ao julgador conhecer, de ofício, da abusividade das cláusulas.), se o
consumidor vai até o juizado para reclamar de banco com cláusula abusiva A, a B está interligada e para
resolver o problema o juiz tem que julgar a cláusula B, o juiz não pode. Súmula 297 (): aplica-se o CDC aos
bancos. Enunciado 381: o juiz não pode de ofício examinar cláusulas apontadas pelo consumidor. O CC
diz que questões de nulidade podem ser examinadas de ofício, assim o enunciado vai contra a legislação.
Dinheiro que está no banco, o banco usa como quer, se estiver devendo no cartão de crédito ou título de
capitalização, paga como quer.
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II – JOSEANE SUZART
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4) Juros extorsivos e demais encargos
5) Apropriação indevida de valores: banco se apropria de valores . Está no instrumento contratual. Problema
fundamental: venda casada. Obrigado a contratar seguro ao abrir conta. Questão de fraude: STJ – qualquer
rombo na conta bancária a responsabilidade é objetiva. Sempre? Pode até depois tentar demonstrar que o
sujeito disponibilizou senha, mas hackers e estelionatários virtuais fizeram com que se passasse a entender
que a responsabilidade dos bancos é objetiva.
6) Modificação e/ou rescisão unilaterais: pode o banco cancelar a sua conta, por não cumprir exigência,
por estar devendo. Mas o aviso é necessário. Informação é fundamental para haver relação mais equilibrada
em relação a instituições financeiras.
Visto que se aplica o CDC as relações contratuais bancárias (vide súmula 297, STJ), a responsabilidade dos
bancos, como prestadores de serviços, é objetiva. Além disso, o CDC não admite cláusula de não indenizar –
indenização derivada do fato do produto ou serviço não pode ser excluída contratualmente, caso exista, será considerada
abusiva e, portanto, nula.
AULA – 30/11/2018

RESPONSABILIDADE CIVIL NA ÁREA DA SAÚDE


ERROS MÉDICOS
É preciso compreender a saúde como direito por excelência: o poder público tem que disponibilizar o
atendimento para a população de forma gratuita. Esse atendimento não é satisfatório nem adequado na realidade, e no
estado da Bahia sequer temos leitos o suficiente. O direito a saúde é considerado o bem por excelência. Sem a saúde,
nenhum outro direito faz sentido. No art. 194 estabelece-se na CF que 15% dos recursos da união deverão ir para a área
da saúde, o que não ocorre na prática. Lei 8080: estabeleceu SUS.
ASSISTÊNCIA A SAÚDE COMPLEMENTAR
A iniciativa privada também pode oferecer saúde, e atuar. Saúde privada. Existem questões como plano de
saúde, uma pessoa física, natural, não pode criar. Há lei federal 9.656/98, a LPS, lei dos planos de saúde. De acordo com
essa lei, para criar um plano de saúde, precisa haver pessoa jurídica autorizada pelo poder público através da agência
nacional de saúde suplementar. Essa PJ tem que ter lastro financeiro para a atuação, para não fechar do nada e deixar
os consumidores à mingua.
Assim, um plano de saúde é um fundo mútuo: todo mundo paga todo mês, mas nem todo mundo usa todo mês,
consequentemente forma-se arcabouço monetário que serve de lastro para que quando alguém precisa de
consulta/tratamento, este seja disponibilizado. Planos de saúde são contratos cativos de longa duração. Assim, vem a
característica da longevidade.
Plano de saúde pode ser criado por sociedades, filantropias, associações, autogestões (ex.: Petrobrás, Camed, etc.
– pessoas jurídicas criadas por empresas para o atendimento à saúde dos seus próprios funcionários na ativa,
aposentados e dependentes). Há enunciado 608 do STJ no qual se entende que não devemos aplicar o CDC às
autogestões.
Súmula 608, STJ – Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos de plano de saúde, salvo os
administrados por entidades de autogestão.
Isso porque a autogestão surge não por empresa outra que lança no mercado o plano de saúde, mas uma estrutura
criada para funcionários de uma empresa. Autogestões, para serem criadas como plano de saúde, não precisam
atender requisitos tão rigorosos. Há participação do usuário nas deliberações da autogestão – em tese.
Isso não significa que não podemos aplicar o CC e a lei de planos de saúde, que é a lei 9.658/98.

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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II – JOSEANE SUZART
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Há diferença entre plano individual (pessoa física faz com o corretor) e plano coletivo (que pode ser
empresarial, aquele que uma empresa resolve contratar o plano de saúde, não criar, pois isso seria autogestão, para os seus
funcionários; pode haver plano coletivo quando associação ou fundação traz para os seus integrantes o atendimento à
saúde suplementar aos seus integrantes).
Essa lei é de 98, e há situação específica e complicada para quem tinha plano antes disso até hoje. Quanto aos
planos subscritos antes de 98, houve ADI 1931, através da qual a confederação das entidades que congregam planos de
saúde queria que se afastasse a aplicação dessa lei, e o STJ e o STF não reconheceram a incidência retroativa da lei.
CDC, CC: aplicar a lei de forma analógica para não deixar as pessoas que pagam o plano há muito tempo sem proteção.
Planos de saúde possuem vicissitudes, aspectos específicos.
Outra observação diz respeito ao período de carência do plano: o prazo de atendimento é de 24h para
urgência e emergência, antes de 24h pode ir para a justiça e pedir liminar. O princípio da dignidade da pessoa
humana precisa ser preservado. Urgência e emergência se diferenciam, para Arnaldo Rizzardo, urgência é situação que
envolva parto, gravidez, ou acidente de qualquer tipo, ao passo que emergência é toda e qualquer outra situação
que leve o indivíduo a necessitar de atendimento que não pode esperar por uma semana, quinze dias. Depende dos
procedimentos.
O caso de doenças preexistentes ao vínculo com o plano de saúde: lei de planos de saúde diz que a operadora
tem que preencher junto com o beneficiário carta, onde ele diz a verdade. A lei estabelece que para doença preexistente
não informada, além dos prazos de 24h para urgência e emergência, 300 dias para parto e 180 dias para procedimentos,
ficará 2 anos sem atendimento para aquele tipo de moléstia. Pode haver agravo: pagamento de complementação para
ter atendimento antes dos dois anos para situações que englobam essa moléstia. Operadoras não falam para os
consumidores sobre essa possibilidade, e quando falam, o preço é lá em cima.
Planos de saúde contratados pela empresa, estabelece no art. 30 que se sair da empresa pode: ter ajudado no
pagamento do plano (fica mínimo 6 meses e máximo 24 meses no plano). Idoso, também: trabalha 10 anos na empresa,
aposentando, fica com o plano. 9 anos: só pode usar o plano de saúde por pequeno período, depois, perde.
Problemas: negativa de cobertura é o principal. Para usuários de contratos antigos, as empresas negam
procedimentos simples. Empresas que fecham as portas do nada, ao exemplo de UNIMED, e outras: ANS tem a
possibilidade de decretar regime de fiscalização mais severo. Lamentavelmente a autarquia não cumpre o seu papel.
As empresas hoje não querem fazer plano individual. Isso porque nos planos coletivos a ANS entende que
há paridade entre operadora e pessoa jurídica contratante, enquanto nos individuais a ANS interfere. Outro fator é
a questão de poder haver rescisão unilateral, a lei de planos de saúde não veda a rescisão imotivada para contratos
coletivos, só para planos individuais. Além disso, operadoras preferem grandes contratos.
Além disso, há a questão do reajuste. Existe reajuste com base nos custos operacionais, com base na faixa etária e
sinistralidade.
1998: lei dos planos de saúde. Depois dela: lei 10743, estatuto do idoso. São dois marcos essenciais que
precisa saber. Quando foi o contrato, e o tipo (individual/coletivo).

Pré 1998 1998 Lei 10743


Custos operacionais X Plano individual: ANS Plano individual: ANS
P.C: “discussão” entre P.C: “discussão” entre
pj e plano pj e plano
Faixa etária x Resolução 06/98, do Resolução 62/03, da
CONSU – diz que ANS – os reajustes
depois dos 18, a cada serão não a cada dez

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10 anos haverá anos, mas a cada
reajuste com base na quatro anos; chegou
faixa etária aos 60, não pode mais
reajustar segundo o
estatuto do idoso
Sinistralidade SIM - Permitido Res. 23, reajuste Res. 23, reajuste
técnico técnico

RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA: MÉDICO E ESTABELECIMENTO


Lembrar que há necessidade principal de verificar que a obrigação médica é obrigação de meio, não de
fim/resultado, via de regra. Existe de resultado quanto a anestesistas, cirurgias estéticas, procedimentos e atividades
como exame de raio x, ressonância, ultrassonografia, etc.: espera-se resultado. Exceção: casos de reconstrução, não
tem como o médico garantir.
Erro médico x imperícia: Miguel Kfouri afirma que a diferença está na técnica. Na imperícia se tem técnica
correta e conduta incorreta, inapropriada, sem diligência. Erro médico tem técnica incorreta. Questão da aplicação
do botox. Quando o paciente veio a óbito, é dificílimo aferir. Precisa da atuação de um núcleo de perícia.
O dever de informar existe, e deve ser observado. Art. 34 do código de ética médica – médico tem que dizer.
A responsabilidade do médico não é objetiva, é subjetiva.
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos
causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou
inadequadas sobre sua fruição e riscos.
[...] § 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa.
Acidentes de consumo. Entretanto, STJ presume possibilidade de culpa e o médico tem que dizer como agiu,
e se não houve postura inadequada. Anestesista: obrigação de resultado, não significa que vai responsabilizar ele de
forma objetiva, a responsabilidade continua sendo subjetiva. Garante que o paciente não sentirá dor, não terá choque,
mas não dá pra garantir que vai continuar vivo. É uma obrigação intuitu personae, mesmo por plano de saúde, então há
nota particular que caracteriza esse liame entre médico e paciente.
Deve sempre haver consentimento do paciente, isso junto com o dever de informação. Carlos Roberto
Gonçalves traz caso de apendicite.
Iatrogenia são as doenças causadas enquanto efeito colateral de medicamentos.
O médico deve cuidar do sigilo profissional. Não esquecer da questão da perda de uma chance: perde a chance
de desenvolver outras habilidades. Dentistas: mesmas premissas. Profissionais de fisioterapia também. ANS não interfere
no valor dos honorários médicos. Lei 1.304 que alterou isso. Estabelecimentos privados: responsabilidade do médico
é subjetiva, mas provada a culpa do médico, o hospital também responde. Mesmo não sendo o médico contratado, se
só alugou espaço, continua sendo responsabilizado.

RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL


INTRODUÇÃO
Em 1954, houve pela primeira vez a Convenção sobre o mar, de Londres, com a preocupação quanto a proteção
ambiental. Em 1987, há relatório que relatava as dificuldades enfrentadas pela população mundial com o aquecimento
global. Em 97: protocolo de Kyoto. Na década de 70, 72, há convenção de Estocolmo. A partir daí o mundo começa a
discutir e deliberar sobre a questão ambiental. Assim, a partir de meados do século 20 começa a haver uma maior
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II – JOSEANE SUZART
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preocupação mundial com questões ambientais. CF/88: é responsabilidade da sociedade em geral cuidar do meio
ambiente.
Há concorrência entre União, Estados e municípios, art. 25, incisos 6, 7 e 8, quanto a edição de normas.
É preciso cuidado com as usinas nucleares, que estão regidas por lei específica. Lei 6453/77.
A professora usou Bruno Miragem para essa parte, e aponta quatro princípios essenciais
PRINCÍPIO DA PRECAUCAO
Não temos certeza, mas não sabemos se as consequências serão positivas ou negativas. Ex.: transgênicos. Fazem
mal ou não? Se não sabemos as consequências, temos que evitar, e manter o T nas embalagens.
PRINCÍPIO DA PREVENCAO
É aquilo que nós sabemos que causa malefício para o meio ambiente. “Pacote do veneno”: aumentar carga de
agrotóxicos na alimentação.
PRINCÍPIO DO POLUIDOR/PAGADOR
Lei 6.938/81 – estabelece a política nacional de proteção ambiental. Essa lei nos traz que quem polui deve ser
responsabilizado. Expressão reparação in situ: derrubou árvore, coloca outra no local; matou animal, funda procriação.
Nem sempre é possível, por ex., caso da barragem de Mariana. Nem sempre dá para restabelecer o status quo
anterior. José Pacheco Fiorillo: reparações nem sempre são feitas de acordo com o que havia antes. Nem sempre há
restabelecimento da situação anterior. Além disso, há a noção de ecossistema: tirar uma árvore é destruir todo um
ecossistema.
PRINCÍPIO USUÁRIO DO PAGADOR
Princípio que se relaciona com a pegada ecológica, mochila ecológica.
Existem três características importantes:
1) danos não são individuais, são transindividuais, difusos, que se difundem pela sociedade;
2) são, ainda, transgeracionais;
3) nexo de causalidade é difícil de ser provado. Não tendo uma noção de quem causou, vai responsabilizar
todos em caráter indenizatório.
SISTEMA NACIONAL
Conselho Nacional do Meio Ambiente, institutos federais como IBAMA, Chico Mendes. Além de órgãos
estaduais e municipais (lembrar que é competência concorrente). Há cadastro de informações ambientais brasileiro,
trazido pela lei, mas nem sempre os desmatamentos, queimadas, etc., são punidos e devidamente apurados e registrados.
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
Temos lei 9.985/00, que trata das unidades de conservação, sistema de unidade nacional de conservação.
Existem dois tipos: um tipo é a unidade de proteção permanente, o outro tipo é o de uso sustentável. A diferença de um
para o outro é que a permanente é aquela que não podemos ficar explorando, extraindo recursos, procurando estar
presente de forma livre. Normalmente podemos visita-las através de autorização para fins de pesquisa ou de
educação. As chamadas unidades de uso sustentável são aquelas que podem ser exploradas pelos seres humanos,
indivíduos, desde que haja respeito à natureza. Art. 8 da lei 9985/00 – traz exemplos de unidades de proteção.
CONCLUSÃO
Questão da avaliação de impactos ambientais: qualquer empreendimento, sendo criado, tem que ter exame
anteriormente acerca da natureza e da poluição sonora. Por isso a importância do chamado exame de impacto ambiental.
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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II – JOSEANE SUZART
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Código florestal brasileiro, lei de proteção a vegetação nativa, lei de proteção a fauna, lei da política nacional de
recursos hídricos, etc.
PALESTRA 01/12/2018

-RESPONSABILIDADE CIVIL NA CONSTRUÇÃO E INCORPORAÇÃO


Orlando Gomes tratou a respeito antes do CDC, se preocupando com contratos massificados em 72.
Posteriormente, demonstrou preocupação com a questão do morar, construir e ter resultado da construção entregue.
O direito à moradia passou a ser visto/inserido na CF/88 a partir da EC 26/00, como direito basilar do ser humano. Lei
6.755/79: trata do parcelamento do solo, e é preciso que a população conheça os principais aspectos dessa lei, pois para
ter apartamentos, edifícios, etc.: é preciso dividir o terreno. Orlando Gomes já dizia isso antes de a lei ser editada.
Parcelar o solo: dividir as glebas existentes e dar origem a um projeto para a construção, que poderá dar
origem a um loteamento ou a um desmembramento. Diferença essencial: no loteamento, temos a divisão das glebas,
mas criamos vias para circulação e equipamentos públicos (jardins, praças, etc.) – divide, mas inova.
Desmembramento é divisão da terra em glebas mas aproveita sistema viário, estrutura para circulação, já
existente. Por isso desmembra, parcela, retira, divide, mas aproveita o que já existe ali.
São requisitos para parcelamento do solo urbano: não se pode vender nenhum loteamento ou
desmembramento sem registro na prefeitura municipal. Compete aos promotores de justiça observar e acompanhar o
procedimento atinente ao registro. Caio Mário da Silva Pereira também tratou a respeito. Há previsão legal de que
loteamento e desmembramento (espécies do gênero parcelamento do solo) deverão disponibilizar aos consumidores
iluminação e tratamento de água. Quem pagará posteriormente é o consumidor, mas os equipamentos essenciais
devem ser disponibilizados por quem está fazendo esse parcelamento.
Na construção e incorporação precisa-se respeitar o ser humano que está pactuando, porque ele é menos
informado, menos preparado e que precisa de maior suporte.
O construtor assume uma obrigação de resultado, que só se exaure com a entrega da obra pronta e acabada a
contento de quem encomendou, feita por meio de trabalho regido por normas técnicas e imposições legais.
O gênero se chama contrato de construção, mas se desdobra em duas espécies: empreitada e administração.
CONSTRUÇÃO POR EMPREITADA
Desta, resultam obrigações recíprocas e podem vir a surgir responsabilidades para com terceiros. É uma obrigação
de resultado para com o empreiteiro, e ele deve garantir ao dono da obra, nos termos do trato, a solidez desta e a sua
capacidade para servir ao destino para que foi encomendada. A responsabilidade técnica pela solidez e perfeição da obra é
sempre pessoal e intransferível do profissional ao proprietário.
Art. 610. O empreiteiro de uma obra pode contribuir para ela só com seu trabalho ou com ele e os materiais.
Existem dois tipos de empreitada, portanto: as de mão de obra, nas quais o empreiteiro contribui apenas com o
seu trabalho (com os riscos correndo por conta do dono da obra, que foi quem forneceu os materiais), e as de material,
em que fornece também os materiais necessários à execução da obra (sendo os riscos por caso fortuito ao encargo do
empreiteiro até o momento da entrega do obra).
Art. 611. Quando o empreiteiro fornece os materiais, correm por sua conta os riscos até o momento da entrega da obra,
a contento de quem a encomendou, se este não estiver em mora de receber. Mas se estiver, por sua conta correrão os
riscos.
Art. 612. Se o empreiteiro só forneceu mão-de-obra, todos os riscos em que não tiver culpa correrão por conta do dono.

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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II – JOSEANE SUZART
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MARIANA SOARES SANTOS
Art. 613. Sendo a empreitada unicamente de lavor (art. 610), se a coisa perecer antes de entregue, sem mora do dono
nem culpa do empreiteiro, este perderá a retribuição, se não provar que a perda resultou de defeito dos materiais e que
em tempo reclamara contra a sua quantidade ou qualidade.
Assim, havendo dano ou perecimento da obra antes da entrega, sem que o dono esteja em atraso no
recebimento, e não tenha havido culpa do empreiteiro, este perderá a retribuição, caso não prove que a perda resultou
de defeito dos materiais e que reclamou da quantidade ou qualidade destes.
Art. 618. Nos contratos de empreitada de edifícios ou outras construções consideráveis, o empreiteiro de materiais e
execução responderá, durante o prazo irredutível de cinco anos, pela solidez e segurança do trabalho, assim em razão
dos materiais, como do solo.
Parágrafo único. Decairá do direito assegurado neste artigo o dono da obra que não propuser a ação contra o
empreiteiro, nos cento e oitenta dias seguintes ao aparecimento do vício ou defeito.
Concluída e entregue a obra, subsiste a responsabilidade do empreiteiro pela solidez e segurança da
construção.
CONSTRUÇÃO POR ADMINISTRAÇÃO
É aquela em que o construtor se encarrega da execução de um projeto, mediante remuneração fixa ou
percentual sobre o custo da obra, correndo por conta do proprietário todos os encargos econômicos do empreendimento.
Aqui, o construtor se responsabiliza unicamente pela execução técnica do projeto e é o proprietário quem custeia a
obra, somente conhecendo o seu preço a final. A remuneração do construtor consiste numa porcentagem sobre o custo
da obra.
Os materiais podem ser adquiridos pelo próprio dono da obra ou, a seu mando, pelo construtor-administrador que
vai atuar como preposto ou mandatário do proprietário. Aplicam-se, subsidiariamente, as regras sobre empreitada.
A RESPONSABILIDADE DO CONSTRUTOR
Pode ser contratual ou extracontratual.
CONTRATUAL
Decorre na inexecução culposa de suas obrigações. É a violação do contrato mediante a não execução da obra
ou execução defeituosa, inobservando as normas nele estabelecidas, o construtor responderá civilmente, como
contratante inadimplente, pelas perdas e danos com base nos arts. 389 e 402 do CC.
Construtor inadimplente somente se exonerará da responsabilidade contratual se provar que a inexecução total ou
parcial da obra resultou de caso fortuito ou força maior, mas o atraso de imóvel comprado na planta, em regra, não dá
ao comprador o direito de receber pagamento de dano moral da construtora responsável pela obra.
EXTRACONTRATUAL
É de ordem pública, diz respeito a responsabilidade pela perfeição da obra, responsabilidade pela solidez e
segurança da obra e responsabilidade por danos a vizinhos e a terceiros.
RESPONSABILIDADE PELA PERFEIÇÃO DA OBRA
Embora não consignada no contrato, é presumida em todo ajuste de construção como encargo ético-profissional
do construtor. É decorrente não só dos conhecimentos técnicos, mas também das noções de estética e arte.
Art. 615. Concluída a obra de acordo com o ajuste, ou o costume do lugar, o dono é obrigado a recebê-la. Poderá,
porém, rejeitá-la, se o empreiteiro se afastou das instruções recebidas e dos planos dados, ou das regras técnicas em
trabalhos de tal natureza.

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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II – JOSEANE SUZART
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Art. 616. No caso da segunda parte do artigo antecedente, pode quem encomendou a obra, em vez de enjeitá-la, recebê-la
com abatimento no preço.
É dessa responsabilidade que deriva a autorização de rejeição de obra imperfeita ou defeituosa ou a possibilidade
de receber com abatimento no preço, como acima descrito. Daí vem a importância do ato verificatório.
Art. 618. Nos contratos de empreitada de edifícios ou outras construções consideráveis, o empreiteiro de materiais e
execução responderá, durante o prazo irredutível de cinco anos, pela solidez e segurança do trabalho, assim em razão
dos materiais, como do solo.
Parágrafo único. Decairá do direito assegurado neste artigo o dono da obra que não propuser a ação contra o
empreiteiro, nos cento e oitenta dias seguintes ao aparecimento do vício ou defeito.
O prazo de um ano para reclamar dos defeitos inaparentes ou ocultos só abrange os que não afetam a
segurança e a solidez da obra, pois para estes há o prazo de garantia de cinco anos do art. 618.
Art. 615. Concluída a obra de acordo com o ajuste, ou o costume do lugar, o dono é obrigado a recebê-la. Poderá,
porém, rejeitá-la, se o empreiteiro se afastou das instruções recebidas e dos planos dados, ou das regras técnicas em
trabalhos de tal natureza.
Art. 616. No caso da segunda parte do artigo antecedente, pode quem encomendou a obra, em vez de enjeitá-la, recebê-la
com abatimento no preço.
Possibilidade de vícios redibitórios: possibilitam ao dono, no caso de defeito, enjeitar a coisa, redibindo o
contrato com perdas e danos, ou recebê-la, com abatimento do preço.
CDC também traz possibilidades no art. 20.
RESPONSABILIDADE PELA SOLIDEZ E SEGURANÇA DA OBRA
Concluída e entregue a obra, subsiste a responsabilidade do empreiteiro, durante cinco anos, pela solidez e
segurança da construção. Art. 618. O prazo de cinco anos é de garantia da obra – mas a ação por falta de solidez,
apurada no prazo ou período de garantia, deve ser ajuizada no prazo de cento e oitenta dias do surgimento do
defeito, sob pena de decadência do direito. A responsabilidade do construtor permanece não só perante o dono da obra,
como também perante quem o suceda na propriedade.
CONTRATO DE CONSTRUÇÃO E CDC
CC se aplica para disciplinar contratos entre particulares, que não configuram relações de consumo. A
responsabilidade das construtoras em geral (pessoas jurídicas) continua sendo objetiva, tanto pelo fato do produto
ou do serviço como pelo vício do produto ou do serviço, nos termos dos arts. 12, 14, 18 e 20 do CDC, bem como se
aplicando as excludentes do art. 25.
No caso de incorporações, respondem solidariamente o incorporador e o construtor.
AULA – 07/12/2018

RESPONSABILIDADE CIVIL DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO


Em 1958, na Alemanha, houve o chamado Mervisto, que tratou quanto a liberdade de expressão, artística. Houve
outro caso, o Luth. Esse último caso traz polêmica entre os judeus e um cineasta, que fez um filme, “Amada Imortal”, em
que retrata características dos judeus que foram questionadas como discriminatórias e desrespeitosas. Houve um outro
caso, na década de 70, sobre o direito ao esquecimento.

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DIREITO DAS OBRIGAÇÕES II – JOSEANE SUZART
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Jus comunicationes, direito a comunicações, ocorreu no século 16 pela primeira vez. John Locke e John Mill
falaram a respeito ainda, e em 1776, com a petição de direitos, e também em 1788 na declaração universal dos direitos do
homem. Reler art. 5, incisos IV e V, IX e XIV e 220 e 221 da CF.
No Brasil, Lei de 67, de imprensa, não foi recepcionada pela CF, por meio de ADPF. Apesar disso, os direitos
da personalidade têm caraterísticas como intransmissibilidade, irrenunciabilidade e indisponibilidade – com poucas
exceções possíveis, dentre as quais, limitações voluntárias (ex.: Big Brother). Além disso:
Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem
prejuízo de outras sanções previstas em lei.
Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge
sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau.
A partir desse artigo, se entende que foi consagrado o princípio da prevenção e da reparação integral de
danos, quanto aos direitos da personalidade.
O profissional da área de jornalismo possui deveres, sendo primeiro o dever de conhecimento e procedimento.
Houve situação com escola de SP, ou seja, jornalista precisa conhecer e verificar a informação. É preciso respeitar a honra
e a imagem pessoal, acima de tudo.
Além disso, há a questão de configurações lesivas a exposição de pessoas que estão figurando processos.
Biografia não autorizada: professora discorda. Não é porque é pessoa pública que precisa aceitar/suportar
abusos nesse sentido. STJ: é possível, sem que tenha havido aquiescência da pessoa.
Pessoas célebres: cantores, atores, modelos, etc. Pessoas públicas: que ocupam cargos ou funções pública,
não obstante estejam sendo acessadas pela mídia, são seres humanos e merecem respeito e limites.
Dever de pertinência e adequação temporal existe também.
Danos causados podem ser morais e materiais. Súmula 221 STJ, além da possibilidade de a pessoa jurídica
também sofrer abalo de natureza material e de credibilidade.
Súmula 221, STJ - São civilmente responsáveis pelo ressarcimento de dano, decorrente de publicação pela imprensa,
tanto o autor do escrito quanto o proprietário do veículo de divulgação.
Assim, o entendimento é que se responsabiliza não só os meios de comunicação, mas também os seus
prepostos, caso dos jornalistas e editores, pelos danos causados pela veiculação das informações. O entendimento
jurisprudencial, segundo Tartuce, é que a responsabilidade é subjetiva, mediante prova de dolo ou culpa.

RESPONSABILIDADE CIVIL DIGITAL


Lei de 2014, marco civil da internet. Questões das informações falsas. Lei 2018: proteção de dados pessoais –
veta todos os artigos que versavam sobre autoridade nacional. Nasceu inócua porque não tem quem acompanhe, segundo
a professora. Tem que responsabilizar quando causam no âmbito digital malefícios, como: discriminações, roubo de
dados, etc. Decreto 8.771 – questão da neutralidade da rede, que é não estabelecer padrões discriminatórios,
facilitando que empresa ou pessoa física possa ter acesso mais facilitado que outro. Assim, a participação na rede
tem que ser igualitária.
Marco civil da internet traz como fundamentos a escala mundial da rede (que, para Joseane, é piada, pois ou o
país manda na rede ou o sistema norte-americano), direitos humanos, personalidade e cidadania (não há respeito a
pluralidade e diversidade reais), liberdade de expressão, responsabilização dos agentes, dentre muitos outros. O marco
civil traz consigo conceitos básicos também, quanto a tipos de provedores, terminais, etc. Provedor de conexão: permite
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ter acesso a internet. Provedor de aplicação: traz conteúdo da internet, que podem ser produtos, vídeos, etc. Quando
contratamos internet, estamos contratando provedor de conexão. Entre seus objetivos estão a universalização do acesso
(empresas autorizadas pela agência reguladora para fazer essa universalização e não o fazem), além de outros, previstos
legalmente.
Há direito ao consentimento, à acessibilidade, exclusão definitiva de dados e a proteção das normas de
produção e defesa do consumidor.
Quanto tempo deve o provedor de conexão guardar dados? Art. 13: seis meses-um ano.
Como funciona responsabilizações de relações de consumo/contratações? E estímulos a suicídio e uso não
autorizados de imagens? Segundo o marco civil, art. 18: provedor de conexão não será responsabilizado (caso de
facebook, youtube, etc.). Art. 19: provedor de aplicação (quem colocou o vídeo) será responsabilizado se não tirar o
vídeo e a responsabilidade é subjetiva, tem que verificar culpa (negligência, imprudência e imperícia).
Tartuce entende que a responsabilidade é objetiva nos ambientes de internet, visto que oferece uma série de
riscos aos usuários. Mesmo nas relações que não sejam de consumo, a atividade habitualmente desenvolvida é capaz por
si só de ocasionar a responsabilidade por risco da atividade, dando causa a risco de danos a terceiros, aproximando-se
do regime de danos impostos aos fornecedores por meio do CDC.
Questão de compras: responsabilidade objetiva e solidária – marco civil da internet traz como postulado a
proteção e defesa do consumidor, assim, tem que observar o CDC. STJ: tem entendido que tudo que se passa na
internet, pessoas lá, são consumidores todos. Isso gera balbúrdia enorme. Quando é afetado com vídeo/informação,
não necessariamente é consumidor stricto sensu, é usuário. Apesar disso, usa o 18 e 19. Se todo mundo é consumidor, a
responsabilidade seria objetiva e solidária. Problema de todos serem consumidores: gera conflito de normas, se
aplicar CDC a responsabilidade é sempre objetiva e solidária, na contramão do marco civil de internet.
Problemas com compras na internet: decreto 7962/12 – se a pessoa não recebe, recebe com qualidade ruim, fora
do prazo, proteção está aí, não no CDC. Só temos esse decreto. Há projeto de lei 3514 que pretende atualizar o CDC.
Consumidor tem que ser bem informado, o contrato tem que estar no site. CNPJ do site e de quem está oferecendo
tem que estar disponível, bem como endereços e telefones. Há prazo de 7 dias para desistir sem motivos, isso contando
a partir de quando recebeu – direito ao arrependimento. Compras coletivas: não existem mais tanto. Atendimento
facilitado: suporte/contato.

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ADVOGADO


O mandato é uma das formas de contrato previstas no CC – impõe responsabilidade de natureza contratual
do advogado perante seus clientes.
Estatuto da OAB: advogado não pode fazer publicidade, apesar de existirem veículos específicos. O fato desse
estatuto não autorizar a publicidade genérica e expressa, isso inviabiliza o direito de o cliente mal atendido ser
considerado consumidor? É relação de consumo? STJ: em decisões mais recentes tem entendido que não se aplica o
CDC para essa relação, contudo, não há decisão unânime quanto a isso. A terceira turma tem perfil mais no sentido
de usar o CDC, a quarta, não.
O advogado não assume a obrigação de sair vitorioso na causa – são obrigações de meio as decorrentes do
exercício da advocacia, e não de resultado. Se as obrigações de meio são executadas proficientemente, não se lhe pode
imputar nenhuma responsabilidade pelo insucesso da causa. Professora: é uma obrigação de resultado em certas
situações. Entretanto, isso é uma análise casuística: ao exemplo da elaboração de um contrato, ou da minuta de uma
escritura pública.

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O advogado responde pelos erros de fato e de direito cometidos no desempenho do mandato, sendo que os
últimos devem ser revestidos de gravidade para resultar em responsabilidade do advogado. Um profissional
incompetente deve ser responsabilizado pelos prejuízos acarretados ao cliente. Assim, pode responder o advogado pelo
parecer desautorizado pela doutrina ou pela jurisprudência que induz o cliente a uma conduta que lhe causa
prejuízos. Perda de prazo constitui erro grave, e o advogado tem o dever de ser diligente e atento. Aguiar Dias acredita
que o advogado que, contra a opinião do próprio cliente, recusa um acordo proposto pela parte contrária, fica responsável
pela quantia que o cliente teria recebido. Carvalho Santos entende que não se deve exigir que o advogado recorra sempre
– exceto se forem instruções expressas do cliente.
Não é qualquer erro que dá causa à responsabilidade civil do profissional, proporcionando respectiva ação de
ressarcimento – é só quando ele for inescusável, patente, demonstrativo apenas de ignorância profunda, é que terá
justificativa o pedido de perdas e danos. A responsabilidade do advogado, a depender da gravidade do ato praticado,
extrapola a seara disciplinar (OAB e Código de Ética Profissional) e adentra a cível e penal. Entende-se que advogado
não pode ser responsabilizado civilmente pelos eventuais conselhos que deu, convicta e honestamente, ao seu
cliente, só porque não houve sucesso na ação que em seguida propôs, mas perdeu.
Escritório de advocacia pode colocar nome de um dos advogados/sócios. Nome de quem morreu, também. Cabe
relembrar que a exceção ao princípio da responsabilidade objetiva consagrado no Código de Defesa do Consumidor
aplica-se apenas ao próprio profissional liberal, não se estendendo às pessoas jurídicas que integre ou para as quais
preste serviço.
Advogado pode pedir adiantamento de parte dos honorários no percentual de 1/3. Advogado pode
renunciar, tendo que auxiliar o cliente por pelo menos 10 dias a mais. O advogado, ao chegar no fórum, e juiz
demora, tem que ficar por pelo menos 30 minutos, art. 7, XXII, aí pede certidão e vai embora. Advogado só pode ser
preso em flagrante por crime inafiançável e com representante da OAB, em sala reservada – com relação a
qualquer tipo de crime.
Responsabilização: perante o cliente. Art. 17 foi alterado – a responsabilidade do advogado é subsidiária,
primeiro responsabiliza o escritório, depois, o advogado. É algo positivo para o cliente, porque as vezes o escritório
tem como pagar melhor.
Carga horária: 4 horas por dia, 20 horas por semana, segundo o estatuto da OAB.
É relevante falar sobre situações em que há desídia ou retardamento na propositura de uma ação judicial, que
configuram perda de uma chance, simbolizando a perda da oportunidade de obter, no Judiciário, o reconhecimento e a
satisfação íntegra ou completa de seus direitos. Advogado que não apresenta recurso e ajuíza ação apenas depois do
prazo prescricional deve pagar pelos danos materiais causados ao cliente.
Conforme melhor doutrina, a indenização da chance perdida será sempre inferior ao valor do resultado útil
esperado. A teoria da perda de uma chance só pode ser aplicada aos casos em que o dano seja real, atual e certo, dentro
de um juízo de probabilidade, e não de mera possibilidade, porque o dano potencial ou incerto, no âmbito da
responsabilidade civil, em regra não é indenizável.
O advogado, como todo prestador de serviços zeloso e prudente, não deve sonegar informações ao cliente,
devendo mantê-lo atualizado sobre o andamento da lide. Pode, por isso, ser responsabilizado se, em virtude de sua
omissão, o cliente desistir da ação ou fizer um mau acordo.

RESPONSABILIDADE CIVIL AUTOMOBILÍSTICA


Lei 9.513: código nacional de trânsito, foi alterado 11 anos atrás, quanto a questão do bafômetro. Teoria do
corpo neutro, criada por Teixeira de Freitas. Século 19, TF: carro parado, estacionado, se, de repente, não foi
devidamente estacionado ou o freio de mão não foi devidamente acionado, o carro pode se deslocar, ou pode estar
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estacionado de forma errônea e alguém terminar batendo. Em ambas situações, a responsabilidade civil é do
proprietário. Estacionado de forma inadequada: quem vem dirigindo, tem que ter cuidado também. Assim, existem
decisões de responsabilidade do dono e de responsabilidade conjunta.

RESPONSABILIDADE CIVIL EM ACIDENTES DO TRABALHO


Na antiguidade, Plinius, o velho, foi o primeiro a se preocupar com os sujeitos escravos (não havia questão do
trabalhador) que lidava com a exploração de minérios. Pessoas que eram submetidas a condições sub-humanas. Quando o
trabalhador começa a existir, sendo assegurados determinados direitos, surge preocupação, principalmente depois da
revolução industrial, com essa questão. Ex.: trabalhador produzindo enlatados, cai em máquina, é triturado, corpo
misturado com carne, enlatados saem e são vendidos e consumidos (The Jungle).
1906: ato do presidente Roosevelt voltado para a proteção do trabalhador na produção de carne e outros
alimentos.
1919: OIT, para tratar dessa categoria mais tarde. O respeito ao trabalhador surgiu pela necessidade de fazer com
que esse ser humano para viver e continuar produzindo.
“A sociedade do risco”: situação dos trabalhadores no mundo, apresenta necessidade de proteção do ser
humano como sujeito que vende a sua mão de obra, é alienado, concepção da ideologia da força física sendo
utilizada e manipulada ao ponto que sequer consiga refletir a respeito.
Brasil: primeira norma a respeito foi o código comercial de 1850, que traz uma pequena abordagem dos
problemas envolvendo os acidentes no comércio. CF/91: remissão pequena. CC/16: responsabilidade civil. 1918: projeto
de lei voltado para proteção dos trabalhadores, mas se passaram mais de 30 anos porque a CLT só surge em 1943. A OIT
edita convenção 134, em 70, tratando da CIPA: comissão que avalia a questão dos acidentes do trabalho. Quando ocorre
acidente do trabalho, precisa ter seguimento/atender essa convenção da década de 70.
Hoje: lei 8213/91, foi uma luta muito grande. Era para o trabalhador urbano, apenas, depois, se voltou para
os acidentes de trabalhadores rurais.
Acidente do trabalho pode envolver tanto simples lesão ou a morte do trabalhador. Quando falamos de lesão
ou perda ou redução da capacidade, não significa algo permanente, o trabalhador pode ficar em caráter
temporário impossibilitado do exercício de determinadas atividades. Está no art. 22 dessa lei: nem sempre acontece
dentro do trabalho, pode acontecer em decorrência do trabalho. Ex.: trabalhador que sai cumprindo a ordem do chefe
para entregar, ou se se predispõe, se acontece em decorrência do trabalho, será acidente do trabalho. Mesma situação
quando viaja para/em razão da empresa. Entre o percurso casa/trabalho, também.
Doença profissional x doença do trabalho: art. 20 da lei 8213/91 – a doença profissional é aquela produzida
ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar de determinada atividade. São também tecnopatias: doenças
produzidas ou desencadeadas pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade. LER: só um tipo de
atividade? Não, qualquer pessoa pode ter. Não é doença profissional, é do trabalho. Doença profissional:
saturnismo, trabalho com chumbo, e silicose, trabalho com sílica. Quem trabalha com barulhos intensos, também pode
ter doença profissional, com perda ou diminuição auditiva. No local de trabalho: alguém entra e agride, a responsabilidade
é do empregador, bem como bombas. Responsabilidade objetiva do empregador – incêndios, desabamentos, etc. Entre os
dois, quanto a responsabilização, depende da situação específica de cada um.
Essa lei diz respeito não a cargos públicos, que tem estatuto específico, mas os não regidos pela estrutura da
administração pública. Porém, na lei, do estatuto do servidor público, existem normas que tratam da segurança do
funcionário público e o ambiente em que exerce suas atividades.

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Ação acidentária: art. 19, II. Dinheiro do acidente do trabalho: pode vir do INSS e de indenização. Ex.: autora que
trata de acidente do trabalho é Maria Helena Diniz, os outros não tratam a respeito. Pessoa que toca piano, tem lesão em
acidente de trabalho, pode fazer outra coisa – mas não pode forçar o trabalhador a realizar outra atividade que não a
anterior. A responsabilização envolve não somente que pode fazer outra coisa, tem que ver a situação do trabalho que era
desenvolvido. Ler arts. 19, 20 e 21. Art. 7, XXVIII, CF – pagamento do seguro não exclui a indenização.

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